terça-feira, 17 de novembro de 2020

Esse é o seu trabalho

O livre-arbítrio é só uma crença, um pensamento. Em geral, você acredita que resolve as coisas, que faz as coisas, mas tudo apenas acontece. Desde o dia em que você nasceu até hoje, as coisas aconteceram por uma determinação Divina, e continuarão assim. Isso não vai mudar, as coisas continuarão acontecendo.
A crença, por exemplo, é que você hoje decidiu vir a esta sala; que encontrou um anúncio ou de alguma outra forma entrou em contato e descobriu este trabalho. A crença é que você encontrou, mas, na verdade, isso somente aconteceu. Você está respirando... É certo dizer isso? Você pensa, mas é certo dizer isso? Se você pensa, porque você não para de pensar? Se é você quem pensa, poderia dizer assim: “Vou ficar cinco minutos sem pensar”. Quem aqui consegue ficar cinco minutos, ou dois minutos, sem pensar? Há alguém que diga “eu vou olhar para o relógio e durante dois minutos não vou ter nenhum pensamento”? Experimente fazer isso. Tente fazer isso por um minuto, ou por trinta segundos. Você pode fazer isso?
Portanto, não é você quem pensa; o pensamento acontece. Você não está respirando; a respiração está acontecendo. Você não decidiu chegar a esta sala; isso também só está acontecendo. Dê outro exemplo de liberdade que você acredita ter... Quando deita para dormir, você dorme ou é o sono que acontece? Você já reparou que você não dorme quando quer, mas quando o sono acontece? Qual é a outra coisa que você faz? Não existe “você” fazendo nada! Acompanham isso direitinho? E quanto aos sentimentos, como a tristeza e a alegria? Você diz “eu vou ficar triste” e fica triste... É assim? Diz “eu vou ficar alegre” e fica alegre? Você decide emoções e sentimentos? A raiva, por exemplo, você decide ficar com raiva ou sem ela?
Então, onde está você? Você decide quando terá sede e fome? Eu quero saber o que você faz, o que decide fazer! Quantas vezes, durante o dia, os olhos abrem e fecham? Você está decidindo isso? Está decidindo fazer o coração bater? Qual é a pressão das batidas do seu coração, a velocidade da corrente sanguínea nas veias, nas artérias? Então, você decide ser feliz? Você vai ouvir um palestrante de autoajuda e ele o ensina a ser feliz, a manter o controle, a não entrar em depressão, em ansiedade, ou seja, a controlar o “seu presente” para alcançar o “seu futuro”. As pessoas pagam fortunas para ouvirem palestrantes de autoajuda e fazem tudo o que foi ensinado para serem felizes, porque basta decidir isso. É assim?
Você tem certeza que o palestrante também faz aquilo que ele está recomendando você fazer? Ele pode fazer? Você simplesmente decide “eu não vou entrar em depressão, em tristeza, em angústia”. É assim? Ou “eu não vou sentir dor, nem física, nem emocional, nem psicológica”. É assim que acontece?
Participante: Mas, quando estamos mais alerta, decidimos não reagir de certa forma diante de uma palavra provocadora, por exemplo. O estado de Consciência permite não agir cegamente. É uma escolha, não?
Marcos Gualberto: Consciência é Inteligência! A Consciência não escolhe! A Consciência não faz essa viagem imaginária com um personagem. É simples, e não se trata de uma escolha. A Inteligência, o Amor, a Liberdade e a Paz não fazem escolhas. A Paz é a ausência da escolha. A Liberdade é a ausência da escolha. Tudo que vocês aprenderam é falso! Você não tem a liberdade de ter paz quando tem Paz, e isso é Liberdade. Você não tem a liberdade de fazer escolhas, porque quando há Liberdade não há escolha. Então, quando há Consciência (e isso não é uma escolha), não há como agir cegamente.
Você afirmou que “o estado de Consciência permite não agir cegamente”, mas eu estou contestando isso. Eu estou dizendo: quando há Consciência, não há nenhum agir, nenhuma ilusão, nenhum autor da ação fazendo qualquer coisa, portanto não há escolha. No ego, vocês vivem fazendo escolhas e tomando decisões, e tudo isso é falso. Não há naturalidade na mente egoica, porque não há Liberdade, não há Inteligência, não há Verdade, exatamente porque “se faz escolhas”. Na verdade, essas escolhas não existem, são imaginações do ego.
Participante: Eu decido querer dedicar uma atividade a Deus ou não? Eu decido por Deus?
Marcos Gualberto: Não! Consciência não decide isso, Ela assume isso, essa Verdade de que só há Deus. Compreendem? Onde houver a sua decisão, haverá confusão, dualidade, um gostar ou não gostar; não haverá Inteligência! Quando você diz “eu decidi”, que “eu” é esse? Esse “eu” é uma fixação, uma imaginação. A Consciência não decide, não faz. Repito: a Consciência não escolhe, não faz, não decide. A Consciência é Inteligência Absoluta!
Essa decisão é baseada em humores, e vocês estão desatentos a isso, vivendo de bom humor ou mau humor, e tem sempre um interesse por detrás dessas ações. Vocês tratam alguém muito bem, e não percebem que estão caindo numa cilada. Isso não é uma ação natural, porque não é um desdobramento dessa Consciência, que não age, que faz tudo, mas não age, e não está presa a resultados. No ego, vocês estão sempre presos a resultados, porque partem desse princípio equivocado da escolha.
Quando há Inteligência, porque não há escolha, não existe outro lugar para estar, a não ser com Deus. Se a Graça Divina está disponível, não existe outro lugar para você estar, a não ser diante dessa Graça. Isso não é uma escolha! Isso é Inteligência!
“Ah! Eu decidi não criar mais confusão”, você diz, mas daqui a pouco decide outra coisa. O mesmo que decide não criar mais confusão, daqui a pouco decide criá-la – é sempre o ego! Quando há Inteligência, não se cria confusão, mas isso não é uma escolha. Você diz “eu decidi ser feliz”... Gente, Felicidade não é uma escolha, Felicidade é Inteligência! Diz “eu decidi viver em paz”, mas isso não é uma decisão; viver em Paz é Inteligência Absoluta, porque a Natureza da Consciência é Paz. Viva na Inteligência, não viva na escolha, nas decisões. A decisão sendo tomada é uma ilusão sendo assumida, e isso dá sempre complicação.
Participante: Como diferenciar o que é ilusório do que é real?
Marcos Gualberto: Sendo real, não pensando. Pensando, planejando, escolhendo, você irá, sempre, optar pela ilusão. Para diferenciar o que é ilusório do que é real, seja real, e isso requer investigação do que não é real, e não a diferenciação entre o ilusório e o real, o falso e o verdadeiro – não é diferenciação, é investigação. É necessário investigar o que a mente produz dentro de vocês. A investigação vai lhe mostrar o quanto a mente egoica engana, o tempo todo, assumindo uma atitude, uma postura, um movimento, de equívoco. Essa investigação desperta a Inteligência, e isso é amor à Verdade, é devoção.
O meu trabalho com você é lhe mostrar o que é falso, não o que é real, e o seu trabalho é soltar o falso, e isso é devoção. Sem soltar o falso, não existe devoção; há somente uma coisa romântica pelo Mestre, pelo Guru, por Jesus, por Deus, por Krishna, por Buda… Esse romantismo não é real devoção. Real devoção é soltar o que é falso quando Cristo lhe mostra, quando Deus lhe mostra, quando o Guru lhe mostra, quando a Vida lhe mostra. Quando você se depara com um Ser Acordado, um Ser Realizado, Ele vai lhe mostrar o que é falso, somente isso. Ele vai dizer: “Olhe, isso aqui é falso”. Ele vai lhe dar a Graça, dar “olhos” para ver o que é falso, e dará poder a você para soltar aquilo. Agora, soltar é com você. Esse é o seu trabalho.
*Transcrição de uma fala realizada em um encontro intensivo on-line, através do aplicativo Zoom no dia 03 de Outubro de 2020 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco, clique aqui.

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