quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

O que Buda descobriu?

Vamos lá! A pergunta é: "O que Buda descobriu?".

O que Buda descobriu? Buda descobriu a Verdade! A direta, natural e simples Verdade do seu próprio Ser! Isso foi o que Buda descobriu! Você está aqui também para esse Descobrimento.

Então, a aventura de Buda, essa aventura de Autodescoberta, é a sua aventura. Portanto, abandone o seu interesse por Buda, coloque o seu foco, o seu interesse real, em Si mesmo.

Você não pode encontrar algo além do que Buda encontrou quando você encontra a Si mesmo.

Então, é importante você focar nisto, focar nessa Verdade, na Verdade do seu Autoencontro. Esse Autoencontro é a Constatação do que Você é, portanto não se trata de algo que você irá realizar estudando a vida de Buda, ou estudando a vida de Ramana, ou estudando a vida de Jesus. Aqui, se trata de você "estudar a si mesmo". Esse "estudar a si mesmo" é investigar a Verdade daquilo que se passa aqui e agora dentro de si próprio. E, quando você olhar para dentro, vai conseguir ver, a princípio, aquilo que Buda, a princípio, viu nele mesmo: um movimento de inquietude, um movimento interno de perturbação psicológica. A mente vive nessa condição, essa é a condição da mente egoica.

Então, quando você olha para dentro de si mesmo, o que você percebe é essa desordem psicológica, é essa confusão psicológica, é esse movimento de inquietude, é esse movimento de pensamento. Com esse movimento, você se confunde, se identifica e se perturba. Então, é importante você, primeiro, olhar e ver em si mesmo isso, aquilo que se passa agora, aqui. Enquanto não houver silêncio interno, quietude interna, não haverá Verdade! E o movimento da mente é, todo ele, de inquietude; é, todo ele, de conflito. Essa é a natureza da mente egoica.

A nossa ênfase na importância da Meditação – e foi esse o caminho de Buda – é essencial! É necessário descobrir o que é Meditação. Meditação carrega uma beleza, nela mesma, extraordinária! A Meditação lhe dá uma Visão Real de Si próprio. Essa Visão Real de Si mesmo é a Visão de Buda, é a Visão do Cristo, é a Visão de Ramana. Então, para essa pergunta "o que Buda descobriu?", a única resposta é a resposta dessa Autodescoberta. Se você descobre, em Si mesmo, a Verdade, você sabe o que Cristo veio revelar, o que Ramana veio revelar e o que Buda veio revelar.

Então, o seu trabalho é o trabalho da Constatação dessa Quietude, desse Silêncio, da ausência desse falso centro. Reparem, Buda não tocava na palavra "Deus", diferentemente de Ramana, de Cristo... Mas todos eles apontavam sempre para a mesma direção, para a direção da Verdade. A própria palavra não é a Verdade. A palavra "Verdade", a própria palavra, não é a Verdade. A palavra "Deus" não é Deus. Então, a resposta a isso está na Revelação do seu próprio Ser, Naquilo que seu próprio Ser revela. Então, essa Revelação é a Revelação de Ramana, é a Revelação de Buda, é a Revelação de Cristo e é a sua Revelação.

Então, nossa ênfase nesses encontros é lhe mostrar que a Felicidade é possível nessa Realização, e apenas nessa Realização, na Realização da Verdade, da Verdade que Você é, da Verdade que Você traz agora, aqui.

Então, esse é um encontro Consigo mesmo, portanto a figura do Guru é só uma figura. A Realidade do seu Ser é a Realidade Divina, é a Realidade de Deus, é a Realidade da Verdade, ou qualquer nome que você queira dar para Isso.

O ponto é: encontre o que Ramana encontrou, o que Buda encontrou e o que Cristo encontrou. Então, você terá a Revelação da Verdade, e essa Verdade é o fim da confusão, é o fim do sofrimento. Essa Verdade é a única! Essa Verdade é a Verdade Divina!

Dezembro de 2021
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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Como sair do sofrimento?

Alguns têm feito a pergunta "como sair do sofrimento?", "como ir além do sofrimento?", "como parar de sofrer?".

Veja, o sofrimento tem muitos aspectos. Há diversas formas de sofrimento, e, basicamente, o sofrimento é conflito. Toda forma de conflito se apresenta como sofrimento.

Agora, há uma diferença entre a dor, aquela dor que é física, e o sofrimento em si mesmo. Nós não podemos confundir dor com sofrimento. Aquela dor psicológica, sim, é sofrimento, mas essa dor física, ligada ao corpo, não é necessariamente sofrimento; é apenas dor.

Se estamos falando, aqui, de sofrimento, estamos falando dessa característica psicológica, daquilo que envolve essa identidade separada, esse senso pessoal de uma identidade presente, esse "eu". Então, quando falamos de sofrimento, estamos falando do sofrimento do "eu", do sofrimento desse "mim", dessa "pessoa".

Então, aqui a questão é: quem é você? O que é, basicamente, essa "pessoa"?. Se nós queremos encontrar o fim para o sofrimento, precisamos descobrir que verdade existe na "pessoa", qual é a realidade da "pessoa", o que é a "pessoa", basicamente.

Na verdade, a "pessoa" é um conjunto de memórias, um conjunto de lembranças. Com uma boa dosagem de imaginação, você tem a assim chamada "pessoa".

Esse "sentido de pessoa" é uma ilusão, e a base do sofrimento é essa ilusão da "pessoa". Se estamos trabalhando para o fim do sofrimento em nós mesmos, precisamos descobrir qual é a Verdade sobre quem somos. Uma vez que você perceba que esse "eu" é um conjunto de imagens, um conjunto de memórias, algo baseado numa autoimagem, uma imagem engendrada pelo pensamento, é possível um trabalho de desconstrução dessa falsa autoimagem baseada no pensamento.

Isso acontece por um trabalho de autoinvestigação, de rendição, de desistência dessa ilusão. É aqui que o trabalho de autoinvestigação, meditação e rendição acontece.

Então, o trabalho de Realização da Verdade sobre quem Você é representa o fim dessa complexidade psicológica, dessa ilusão da autoimagem, com todas as suas lembranças, memórias. Isso é o fim para o sofrimento!

Então, como ir além do sofrimento? Simplesmente, abandonando a ilusão dessa falsa identidade, deixando isso cair, deixando isso desparecer. Para que isso seja possível, para que isso aconteça, essa Consciência precisa estar presente, essa Atenção precisa estar presente. Então, o trabalho de autoconhecimento – e, aqui, a palavra "autoconhecimento" não é no sentido de conhecer o "eu", mas sim no sentido de tomar ciência do que representa esse "eu" – é algo fundamental.

O seu trabalho de Autorrealização é o trabalho de descarte dessa ilusão, da ilusão desse sentido de uma identidade separada resolvendo, fazendo escolhas, decidindo, apegada, se confundindo com experiências de pensamentos, de sentimentos, de sensações, de percepções... O abandono dessa falsa identidade é o abandono do sofrimento, é o abandono desse "eu", desse "mim", dessa ilusão, da ilusão da separatividade. Isso é o fim para o sofrimento! Essa é a forma de liquidarmos essa questão, de forma definitiva, completa.

Dezembro de 2021
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sábado, 25 de dezembro de 2021

O Reconhecimento da Verdade

A pergunta muito comum… essa é uma pergunta que as pessoas fazem: "Quem é Deus?".

Veja, o reconhecimento do seu próprio Ser é o reconhecimento da Verdade de Deus! Não há qualquer separação entre Você e a Realidade. Seu Ser é a Realidade Divina, seu Ser é essa Realidade de Deus.

Então, o que tem acontecido é que, por um longo tempo, você vem se identificando com uma imagem que você traz de si mesmo. Uma imagem que cresceu com você. Então, desde a infância, você vem trazendo essa imagem, você vem cultivando essa imagem. É a imagem da pessoa que você acredita ser.

Então, você tem uma ideia sobre quem você é, do que é o mundo, do que é a vida, e também faz uma ideia de quem é Deus.

Não é possível o reconhecimento da Verdade, dessa Verdade de Deus, sem esse claro reconhecimento da Verdade sobre quem Você é. Então, o ponto aqui é "quem sou eu?" e não "quem é Deus?".

A pergunta "onde Deus está?" é respondida quando você se encontra. Se você reconhece a Verdade sobre Si mesmo, sobre Si mesma, você tem a Verdade de onde Deus está. Por isso, é necessário um trabalho nessa direção. Esse trabalho é o trabalho de Autoconhecimento, de Autorrealização. Apenas esse trabalho lhe dá essa Visão: a Visão de Deus, que é a Visão de Si mesma, de Si mesmo, quando você está inteiramente livre dessa presunção – porque é uma presunção isso – de uma identidade separada, de ser alguém em toda essa manifestação, alguém separado, alguém único, alguém exclusivo, alguém particular.

A Vida é um Todo, é uma Totalidade, e, nessa Totalidade, Aquilo que prevalece é a Realidade Divina, que é a Realidade de Deus. Essa é a Realidade do seu Ser!

O seu sofrimento, toda a sua miséria, toda a sua complicação de vida está assentada nessa arrogância, nessa identificação equivocada com esse falso centro, com esse falso "eu", com essa imagem que você tem de si mesmo, de si mesma. Isso não é real, isso não é Você, essa não é a Realidade Divina!

Então, a resposta à pergunta "quem é Deus?" se encontra na resposta à pergunta "quem sou eu?".

Ramana Maharshi apresentou essa pergunta ao mundo, nos mostrando que essa é a resposta que podemos ter a respeito de onde Deus está. Então, Deus está onde nós Somos O que Somos; é onde Deus pode ser encontrado! Essa é a Verdade sobre Mim, essa é a Verdade sobre Deus, essa é a Verdade sobre Você, essa é a Verdade sobre Ramana Maharshi, essa é a Verdade sobre a Vida!

Dezembro de 2021
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quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Tudo é impermanente

O que nós estamos querendo lhe propor, em Satsang, é a vivência do seu Estado Divino, a vivência do seu Estado Real. Esse Estado Real, eu tenho chamado de Estado Natural.

Veja, tudo o que você experimenta é impermanente. Não há permanência alguma em nenhuma parte. Não existe nada permanente! Tudo é impermanente! Os estados que você vivencia são impermanentes, então isso não pode ser parte de sua Natureza Verdadeira, de sua Natureza Real.

Tudo aquilo que você vivencia em sua experiência, como um entidade separada, se mostra impermanente. Naturalmente, porque nenhuma dessas experiências faz parte do que Você é.

Sua Natureza Real é imutável! Os estados que você experimenta são mutáveis. As sensações, as percepções, as experiências, todas elas são mutáveis, enquanto que o seu Ser permanece sem ser tocado pela mudança.

O trabalho de Autorrealização é o trabalho da Constatação da Verdade imutável do seu Ser, da Realidade inatingível do seu Ser. Então, quando tratamos com Aquilo que somos, estamos lidando com Aquilo que é imutável, e quando estamos tratando com experiências, com sensações, com estados e percepções, estamos lidando com aquilo que muda, com aquilo que é mutável, com aquilo que é impermanente, com aquilo que não tem permanência.

Então, esse convite a esse trabalho interno é o convite à Constatação da sua Natureza Divina, de sua Natureza Real, de sua Natureza Imutável, porque somente esta Natureza Divina, que Você é, permanece quando tudo desaparece. Então, permaneça Naquilo que Você é. Permaneça Naquilo que não pode ser tocado pela mudança.

O pensamento é tocado pela mudança, o sentimento é tocado pela mudança, os estados – tristeza, alegria, prazer, dor – tudo isso é tocado pela mudança. Agora, Aquilo que Você é não muda, aquilo que Você é permanece imutável. Essa é a sua Natureza Verdadeira, essa é a sua Natureza Divina.

Permanecer nesse Espaço é permanecer no Silêncio do seu Ser. Essa é a Verdade de Deus sobre Você, sobre quem Você é.

Na Índia, eles chamam de Sat-Chit-Ananda – Ser, Consciência e Felicidade. Essa é a sua Natureza Divina! Permanecer aí é permanecer Naquilo que não muda. Tudo o mais é impermanente, apenas Isso permanece imutável!

Dezembro de 2021
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sábado, 18 de dezembro de 2021

A Presença de Ramana Maharshi

Aqui, nós nos deparamos com uma questão que eu gostaria de tratar com vocês. A questão é: quem é Deus? Isso para mim sempre foi uma questão, uma pergunta, sempre houve aqui dentro de mim um interesse muito profundo por isso.

Então, a Presença de Ramana Maharshi foi algo determinante para a resposta desta pergunta.

Uma coisa que todos nós vivemos é esse movimento interno de pensamentos acontecendo. Eles acontecem e você não tem qualquer controle sobre isso.

Algo que você não percebe, por falta dessa atenção sobre si mesmo, é que essa pergunta "quem é Deus?" ou "onde Ele está?" é respondida de uma forma direta, de uma forma objetiva, quando esse próprio movimento de pensamento é anulado, quando essa própria frequência de pensamento correndo dentro de você é constatada.

Em geral, nós funcionamos baseados em pensamentos. A nossa diretriz de personalidade está, toda ela, centrada no pensamento. Não há qualquer espaço para essa Constatação da Verdade, não há qualquer espaço para essa resposta "quem é Deus?".

Se por alguns momentos, por alguns instantes, nos livramos desse movimento, nós teremos essa direta resposta, porque a Verdade de quem é Deus é a Verdade de que nós somos.

Ramana Maharshi sempre propôs a pergunta "quem sou eu?". Então, quando aqueles que o procuravam em seu tempo e traziam questões, dilemas, conflitos, problemas, a pergunta que ele sempre fazia era essa: "Quem é você? Investigue, interrogue 'quem sou eu?'".

Isso porque, na resposta desse "quem sou eu?" você encontra a Verdade de Deus.

Deus é o seu Ser, Deus é a sua Natureza Divina.

Identificado com o movimento do pensamento, confundido com o movimento do pensamento, embolado com esse movimento do pensamento, você não se torna cônscio de Si, cônscio da Verdade que Você traz. Essa Verdade que Você traz é a Verdade impessoal, é a Verdade atemporal, é a Verdade intraduzível, indescritível, é a Verdade de Deus.

Então, a resposta para a pergunta "quem sou eu?" é a mesma resposta para a pergunta "quem é Deus?", e isso representa o fim de todo o conflito, de todo o sofrimento, de toda essa ilusão desse "eu" imaginário, desse "eu" como identidade separada.

Então, a Presença de Ramana Maharshi foi essencial. Ela tem sido essencial para aqueles que procuram a Verdade sobre Si mesmos.

Então, o Mestre é aquele que representa o fim de sua busca. Na Índia, eles chamam de Guru: é Aquele que vive completamente em seu Ser, diferente dessa vida egoica, dessa vida identificada com pensamentos, onde você está totalmente ocupado com expectativas sobre eventos futuros que, na verdade, podem acontecer ou não; preocupado e ocupado com lembranças e memórias do que aparentemente aconteceu a uma identidade particular e pessoal: esse "mim", esse "eu", o que não é real.

Não existe nenhuma identidade presente nessa experiência, na experiência da vida. Isso são crenças, nas quais nós fomos educados, nós fomos moldados, e estar preso a isso é estar aparentemente longe da Verdade de Deus, longe da Verdade de Si mesmo.

O que a Presença de Ramana, do Guru, lhe mostra, o que Ela o faz perceber, é que Você é um com a Vida, é que Você é um com a Realidade, é que Você é um com Deus. Então, sua visão é completamente alterada, esse modelo antigo é completamente destruído.

Falando particularmente do que aconteceu aqui, no momento em que você percebe que a ilusão de uma identidade não está mais, essa própria impressão de um "eu" desaparece. Então, não há mais esse "eu", não há mais esse experimentador, não há mais esse pensador, e isso representa uma unicidade com tudo, eu diria uma unidade com tudo. Isso é algo avassalador, isso é algo que transforma completamente toda essa visão. Essa particular visão cai e a Visão da Realidade se mostra.

Então, vem uma compreensão total de que tudo é uma só Realidade, e essa Realidade é a Realidade de Deus, essa Realidade é a Realidade do seu próprio Ser!

Nesse sentido, não há diferença entre Você e a Presença do Mestre, Você e a Presença de Ramana, você e a Presença de Deus.

Estamos diante de algo revolucionário! A compreensão de que se assentar na grama é algo que é parte de tudo o que está à sua volta, e de que esse se assentar na grama é a Vida, é toda a Vida, é toda a manifestação da Vida, é toda esta Presença da Vida, é toda esta Presença de Deus, é algo intraduzível, é algo que a palavra não comunica.

Assim, a resposta à pergunta "quem sou eu?", ou a resposta à pergunta "quem é Deus?" ou "onde Ele está?", é encontrada nesse momento, no momento em que esse assentar na grama acontece. Então, se abre algo inteiramente novo, algo, de fato, intraduzível.

Isso é o fim da ilusão de alguém presente que nasceu, de alguém presente que irá morrer.

Isso é o fim desse movimento interno de projeções com relação ao futuro, ou à ideia de se livrar de um passado.

Então, estamos diante Daquilo que nós poderíamos chamar de Amor, de Verdade, de Liberdade, de Paz. Então, estamos diante do Divino, diante de Deus, diante da Vida!

*Dezembro de 2021
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Torne-se ciente de si mesmo

Existe algo que eu considero interessante, de bastante importância para todos nós, aqui. Se você der um pouco mais de atenção a si mesmo, você irá observar isso: a mente é algo que está sempre ocupada. Na verdade, ela vive totalmente ocupada, ela vive carregada de expectativas.

São expectativas com relação a eventos futuros – na verdade, eventos que podem ou não acontecer–, e ela está sempre ocupada com o antigo movimento da memória. Isso é algo muito, muito comum.

O ponto é que não percebemos isso, não é algo com o qual entramos em contato direto, porque não estamos atentos a nós mesmos, não há essa auto-observação, essa observação desse movimento. Então, ficamos sempre prisioneiros dessas projeções: as projeções com relação a esse futuro imaginário e a esse passado, que também é imaginário. Então, o movimento da mente é sempre esse, é andar ocupada, é estar ocupada.

Neste trabalho de Autorrealização, aqui, é fundamental o reconhecimento dessa Verdade que Você é. Isso é algo que está fora desse antigo e velho movimento da mente, esse movimento de projeção do futuro e imaginação do passado. Então, é importante que você esteja se tornando ciente de Si mesmo, cônscio de Si mesmo, acerca de Si próprio. Esse é o objetivo!

A mente está sempre criando situações, ela está e estará sempre criando suas projeções. Isso é algo muito, muito comum. Todo movimento da mente é entre esse futuro desconhecido, imaginário, e esse passado aparentemente conhecido, mas que é só um peso de memória, de lembranças, que também é algo imaginário.

A única Verdade, a única Realidade, é o seu próprio Ser, o seu próprio Ser agora, aqui, mas você não toma ciência Disso, em razão de estar completamente absorvido por essas imagens, que são imagens que o pensamento está, o tempo inteiro, produzindo dentro de você.

Essa condição é de identificação, dessa egoidentificação. O que estamos procurando lhe mostrar nesses encontros é algo, na verdade, além de toda a descrição, além de todas as palavras. Portanto, é algo além de todo esse movimento da mente.

Estamos sinalizando, para você, a Verdade do seu Ser, a Verdade de sua Natureza Divina, e, enquanto essa identificação com esse movimento do pensamento permanece, você não tem ciência Disso, você não tem ciência dessa Verdade do seu Ser.

Então, essa visão que você faz de si mesma, que você faz de si mesmo, nessa relação com o mundo à sua volta, com outros, se toda ela está baseada nesse movimento, que é o movimento do pensamento, que é o movimento egoico, você não pode descobrir a Verdade do seu Ser, a Felicidade do seu Ser. Isso porque você está identificado, ou se identificando, constantemente com uma falsa identidade, com um falso personagem que o pensamento está produzindo, que o pensamento está dizendo que é você.

Portanto, a pergunta é: quem é você? É, na realidade, a mesma pergunta: "Quem sou eu?". Porque não estamos falando de um personagem, estamos falando de nossa Natureza Essencial, estamos falando da Verdade que somos.

Cada pessoa tem suas características, cada pessoa carrega sua personalidade, mas essa personalidade faz parte dessa memória, faz parte dessas imagens, faz parte dessas imaginações, faz parte dessas projeções. Então, passado e futuro são projeções dentro desse personagem, não é a sua Natureza Divina, não é a sua Natureza Real, essa não é a sua Identidade Real.

É disso que estamos tratando sempre em Satsang. Estamos sinalizando, para você, a importância do descobrimento da Verdade que Você é. Isso está além de um pensador, de um experimentador, está além da própria ideia de um observador ou de um fazedor.

Talvez, a sua pergunta seja: "Como isso se torna possível? Como é possível nos tornarmos cônscios Disso, cônscios dessa Verdade que somos, dessa Verdade que trazemos?".

O elemento que você tem aqui é esta atenção. Você não pode controlar isso que surge, mas pode se tornar atento a esse movimento. Essa atenção desmonta todo esse movimento. Essa atenção sobre si lhe mostra sua Natureza Verdadeira, desidentificada desse movimento, e, quando isso acontece, você está livre; livre dessa ideia que você tem de si mesma, de si mesmo; livre dessas imagens que você tem a respeito de si própria, de si mesmo. Uma vez que você esteja livre disso, você está livre de toda essa relação conflituosa com esse mundo que o pensamento tem produzido.

Veja, o problema não está no mundo, não está nas relações que você tem com a vida. O problema está na ilusão de alguém presente nisso, nessa ideia desse "mim", desse "eu". Porque essa relação com a vida é a própria vida com ela mesma. Não há esse "mim", esse "eu". Então, esse movimento, todo ele baseado no pensamento, é completamente ilusório, é algo que sempre coloca você numa condição de ilusão de tempo: é o passado ou é o futuro.

Então, há sempre essas ideias, há sempre essas crenças. Há sempre esse medo predominando, essa ansiedade, esse desejo, essa aflição de se tornar alguém, de se tornar alguma coisa diferente, de fazer algo, de construir algo, de se livrar de algo, e tudo isso são ideias, tudo isso são crenças, tudo isso são projeções do pensamento, é o pensamento se projetando, são ideias, dentro desse movimento, criando toda essa condição artificial.

Essa é a causa da miséria, essa é a causa de todo conflito interno, de todo sofrimento.

Você está aqui para descobrir a Verdade sobre quem Você é, a Verdade do seu próprio Ser, a Realidade Divina que Você traz, e isso é algo possível quando esse movimento é completamente desconstruído, quando essa dependência psicológica é desfeita. Quando isso é desfeito, a Verdade se manifesta. Então, a sua Liberdade é a Liberdade da constatação desse movimento. A constatação desse movimento é o fim dele.

Dezembro de 2021
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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

A ilusão do fazedor

A compreensão de que só há a Vontade Divina operando é extraordinariamente libertadora. Uma vez que você consiga acessar isso aí dentro de você, uma profunda aceitação da vida acontece, um profundo acolhimento de não resistência à vida acontece.

Não há uma pessoa fazendo as coisas. As coisas estão acontecendo em razão de um número grande de situações que se encaixam, e ali, entre essas situações, existe um elemento presente que pode parecer ser o responsável pelos acontecimentos, mas, na realidade, ele é só mais um dentro de todo um conjunto de incidentes e eventos que tornaram aquele acontecimento possível.

A Vida é maior do que a "pessoa", e é Ela que determina o que acontece. Você não pôde controlar o que aconteceu e não pode controlar o que está acontecendo e o que irá acontecer. Essa falsa identidade está presente porque se apoia e se sustenta numa base falsa: o pensamento.

Mas se você buscar a Origem do pensamento, se o seu olhar se dirigir à Fonte do pensamento, você verá que não existe uma entidade. Essa Fonte é a ausência dessa entidade. Então, essa falsa identidade, que se apoia em pensamentos, se sustenta numa base falsa, porque o pensamento mesmo não tem nenhuma base. O pensamento desaparece na Fonte. A Fonte é a Realidade, é a Verdade Suprema dos acontecimentos.

Essa Fonte é o Vazio, então a ação nasce desse Vazio. Então, toda ação é essa Vontade Divina, porque toda ação é esse Vazio em expressão. Agora, esse Vazio em expressão representa ações que o pensamento não consegue explicar.

O próprio pensamento, que cria a ilusão de uma identidade que é capaz de fazer ou não, é incapaz de explicar como as coisas acontecem. Então, você pode atribuir a si mesmo o poder de fazer as coisas, mas repare a ilusão disso: você não consegue ter o controle do resultado dessas ações. Você pode dizer "farei isso", e ainda que isso de fato aconteça, quando você olhar de perto, vai perceber que não é exatamente o que o pensamento tinha projetado.

Então, mesmo a ilusão de ser o autor das ações não dá a você a certeza dos resultados que o pensamento idealiza para aquilo.

Essa respiração, assim como o próximo pensamento que irá surgir para você, não está no seu controle, e qualquer ação que aparentemente você esteja fazendo não irá determinar o resultado que você espera; ela terá o resultado dela. Dentro desse jogo, você é só mais uma peça.

É muito desconfortável ouvir isso, que você não tem controle.

Nesses encontros, nós estamos aqui sempre mostrando que você pode, de verdade, descansar nessa rendição, nessa entrega, nessa confiança, até porque não há outra coisa que você possa fazer.

Você está sempre sendo, e sempre será, uma peça dentro desse grande jogo, com essa fantasia de poder fazer, de poder resolver, de poder acertar, de poder controlar.

Quando você entra aqui nessa sala, não são essas palavras que fazem algo funcionar para você, isso funciona em razão dessa Consciência, e não há alguém fazendo isso funcionar!

Como tudo na vida, tudo aqui é natural. O que a gente chama de ações são meras reações conduzidas e orientadas pela ilusão do pensamento. Então, essas ações que você acredita fazer e sobre as quais acredita ter controle são constituídas de meras reações condicionadas, meros condicionamentos.

A mulher faz uma maquiagem no rosto e sai… Você sabe, a maquiagem é uma forma de artificializar um pouco aquilo que está ali. O que está ali, como a própria palavra diz, é maquiado. Aquilo que é natural não pode ser visto quando foi maquiado, ou seja, foi mascarado. O que é a maquiagem? É uma máscara que se coloca no rosto para esconder defeitos. As suas ações, no ego, são algo parecido com isso. Você carrega a ilusão de que está fazendo algo enquanto O que é Real está por detrás disso.

Essas chamadas ações são maquiagens, todas nascidas dessa programação, desse condicionamento, desse pensamento. São como maquiagens que parecem esconder aquilo que é real. Então, todas as suas ações e reações, o que você faz, o que você sente, o que você pensa, o que você fala, o seu proceder, tudo é uma grande mentira. Não tem "você" nisso! O que está por detrás disso é uma ação dessa Inteligência, dessa Consciência. Você é uma fraude! Isso deixa alguns irritados, aborrecidos.

O problema com isso é a autolimitação. A Vida não carrega nenhuma limitação, mas essa mascaração, essa maquiagem, carrega. Parece ser a coisa mais natural, mas quando a mulher lava o rosto, aparecem todas aquelas marcas de expressão, está tudo lá. As ações da "pessoa" são algo assim, uma mascaração, uma maquiagem. Só há Deus por detrás de tudo! Só Deus é a Realidade e não há nada que você possa fazer que possa esconder isso.

Tem até uma expressão de Jesus no Evangelho, em que ele diz algo assim: "Tudo aquilo que é dito às escondidas, um dia será dito em cima de um telhado bem alto para todos ouvirem". Não há nada que esteja oculto que não venha a se revelar.

Nossas assim chamadas ações são maquiagens. Nossos bisavós, nossos avós, todos eles sofreram muito. Eles viveram como os pais deles, como os avós deles e agora é nosso tempo aqui, é a nossa geração. Total inconsciência, total identificação com a mente egoica, o velho modelo de uma falsa identidade, de um projeto de maquiagem, uma vida enraizada na mentira, no falso. A questão para você aqui é esta: é possível ir além disso?

*Transcrição de uma fala ocorrida em 19 de setembro de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sábado, 11 de dezembro de 2021

O segredo é testemunhar

Você sabe qual é o segredo? Testemunhar. Isso é algo muito simples, mas não é tão fácil. Você vai continuar sempre se confundindo com estados que surgem. Quando você se der conta, já terá sido capturado. Mas agora você tem essa base de trabalho, então, quando perceber que foi capturado, volte a testemunhar. Comece a olhar para si mesmo.

Você vai se embolar, se desembolar e se embolar… vai passar um dia inteiro embolado, aí à noite, antes de dormir, vai observar que está embolado e dirá "uau! Estou embolado!", então já começará a se desembolar.

Testemunhar! Testemunhar é o segredo! Se você não puder testemunhar a si mesmo, quem fará isso? Você é a única testemunha de um crime secreto. Se você não conseguir testemunhar o crime, ninguém vai testemunhar em seu lugar.

Meditação é uma coisa maravilhosa, porque não tem fraude aí, não tem como você usar de fraude para pôr fim a essa fraude do "eu". O que a minha experiência mostrou é que quanto mais identificado você está com o corpo e a mente, mais esses estados egoicos o controlam, e quanto mais você se desidentifica do corpo e da mente, mais esses estados perdem o poder de controlá-lo. Ou seja, a confusão é a identificação com a mente e o desconforto é a identificação com o corpo.

Momentos de desconforto são interessantes para você observar o corpo. Quando você sente uma dor física, também. Essa observação é uma ferramenta extraordinária para você trabalhar essa desidentificação. Eu descobri que quando você se identifica com o corpo, o desconforto aumenta, e quando você se desidentifica, ele diminui. O que vale para o corpo também vale para a mente.

Então, quando você se embola com pensamentos desconfortáveis, a confusão se instala. A identificação com a mente é confusão, e confusão é sofrimento. Identificação com o corpo é desconforto, e desconforto é sofrimento – esse é um psicológico desconforto que a mente traz para o corpo. Assim, o desconforto do corpo pode chegar a sofrimento mesmo, e isso é psicológico.

Você não é o corpo, você não é a mente! É quando isso tem uma valorização na experiência que se torna uma fraude. Foi muito tempo se embolando com o corpo e com a mente, foi muito tempo sem testemunhar os estados, se embolando com os estados, se confundindo com o corpo, se confundindo com a mente.

É por isso que as pessoas chegam num desespero psicológico interno extraordinário na hora da morte: tudo o que elas têm sobre quem são, sobre quem acreditam ser, é o corpo e a mente.

Ninguém testemunha isso! O ego vive numa dispersividade total, embolado com sensações. É um bom conhaque, um bom charuto, um bom uísque, uma boa sensação, um pedaço de chocolate na boca... é sempre alguma coisa! É uma identificação completa com estados de prazer e de dor que o corpo experimenta, e isso nunca é testemunhado.

É por isso que você se apega a sensações com facilidade. Você não desfruta das sensações, você se apega a elas. Você se agarra àquilo para que faça parte do repertório desse centro falso, desse falso "eu". Você fica apegado à sensação, não a deixa ir embora, e isso lhe dá uma identidade falsa.

Então, as pessoas ficam viciadas em chocolate, em sexo, em cocaína, em uísque, em comida, em bebida… Elas são o corpo – é assim que elas se veem, é assim que elas sentem sobre quem elas são, e isso é desesperador na hora da morte. Elas passaram a vida inteira pensando e sentindo, e agora se veem na iminência de perder isso tudo. O ego pressente que isso tudo vai desaparecer e ele se desespera. Tudo por quê? Porque essas pessoas não aprenderam a testemunhar a si mesmas durante a vida, a testemunhar o "crime", esse "crime" de se identificar com o que não são, vivendo em constantes estados mutáveis de ansiedade, estresse, nervosismo, cansaço, preocupação, medo, desejo, ansiedade, depressão...

Como não aprenderam a testemunhar esse "crime", esse personagem, essa falsa identidade, passaram a vida inteira se confundindo com o que não são, e isso é tudo que elas, como pessoas, têm.

Então, o que eu descobri foi isso, que quanto maior a sua identificação com a experiência "eu sou o corpo, eu sou a mente", maior o sofrimento, maior a confusão, maior o desconforto psicológico, emocional e físico também.

Uma coisa é você deixar o corpo cuidar dele, outra coisa é você colocar no corpo uma atenção desnecessária. Quando o corpo sente calor, ele se move; quando ele sente frio, ele se move. Se você ficar sentado por muito tempo, o corpo vai se sentir desconfortável e vai começar a se mexer, é só uma questão de você observar que o corpo vai buscar o caminho dele para o conforto, isso é natural.

Quando você está dormindo, o corpo se movimenta e você não está ali. Pergunte aos médicos e eles vão explicar para você por que isso acontece. Se o corpo ficar numa posição por muito tempo, ele queima, aquelas partes do corpo que ficam em contato com a superfície queimam, então o corpo sozinho vai buscar novas posições. A não ser que o corpo esteja sedado ou incapacitado, ele vai buscar posições para não se queimar, para não se machucar, para se autoproteger.

Então, uma coisa é o corpo buscar algo. Ele naturalmente tem esse movimento. Se ele sente frio, fome, calor, dor, ele naturalmente começa a buscar algo para encontrar alívio. Outra coisa é você dar psicologicamente uma identidade ao corpo, e é isso que acontece na identificação "eu sou o corpo".

Assim, quanto menor sua identificação com essa ideia "eu sou o corpo", mais o corpo busca o seu próprio caminho e menos sofrimento psicológico está presente aí, porque menor é a identificação com um centro falso, com esse falso "eu".

Nós não aceitamos que o corpo esteja sofrendo mudanças e esteja, de fato, caminhando para o fim. No ego, você está sempre tentando alguma coisa, interferindo, intervindo. Você faz isso com o uso de drogas, de substâncias químicas, de substâncias de excitação... É um misto de sofrimento psicológico e desconforto físico que o ego está sempre buscando diminuir, ignorar. Isso é sofrimento.

Fome, frio, calor, dor, prazer, tudo isso é inerente ao corpo. Você passou muito tempo acreditando que é o corpo e agora está tendo problemas. O problema agora é se desconectar dessa crença, soltar isso.

Na mente, acontece a mesma coisa. Você diz para si mesmo "fulano não gosta de mim". Você passou muito tempo com pensamentos desse tipo, esperando apreciação, sendo depreciado, sendo rejeitado. É uma coisa imaginária, mas é difícil se livrar da imaginação, porque na hora que ela acontece, ela se torna muito real, e a mente sempre busca algo para confirmar essa imaginação. É uma crença que não está só dentro de você, ela está no mundo à sua volta, então o mundo vai confirmar essa sua crença. Aí vem a rejeição, a tristeza, a depressão, o medo…

Então, se livrar disso é um trabalho. Esses estados mentais estão sendo criados e fortalecidos pelo pensamento, e você confia nisso. A questão toda é essa: você confia nisso! Isso é uma questão de condicionamento. Você foi educado, treinado, você tem prática nisso, em confiar em pensamentos. Você é bom nisso! Você é bom em acreditar no que o pensamento diz, mas é muito fraco em testemunhar.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 08 de setembro de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sábado, 4 de dezembro de 2021

Você é imutável!

Participante: Mestre, você sempre diz que o "eu", a "pessoa", é uma fraude. O que isso quer dizer? Que tipo de fraude é essa?

Marcos Gualberto: O que quero dizer é que você não deixa nunca de experimentar estados, mas Você não é nenhum desses estados. A fraude acontece quando você se confunde com um desses estados. É isso que quero dizer quando digo que você é uma fraude. Eu não estou falando do que Você é, estou falando do que você acredita.

Quando tratamos aqui da Autorrealização, estamos falando da Realização de sua Natureza Imutável, algo completamente diferente dos estados que você experimenta.

O que você experimenta não é imutável, está mudando o tempo todo, então isso não é a sua Natureza, não é sua Essência, sua Verdade. A única Verdade é imutável, e essa é a Verdade que é Você. Repare em seu corpo, ele está sempre mudando de posição, mas qual é a posição real dele? Não é uma boa pergunta? Uma hora você está em pé, em outra hora está deitado ou inclinado; uma hora está com a mão na cabeça, em outra hora com a mão sobre as pernas; em outro momento está com o braço estendido, com o braço encolhido, com a mão fechada, com a mão aberta, enfim… mas qual é a posição real do seu corpo?

Mesmo durante o sono, o corpo está mudando de posição. Não é isso que acontece? E a mente? Ela muda ou não muda de posições? Qual é a posição real da mente? Você não sabe a do corpo, mas deve saber a da mente. Esse é o ponto! Não há posição real para o corpo, assim como não há posição real para a mente.

A mente e o corpo mudam o tempo todo, então isso não pode ser Você. Você deve ser algo que não muda, e é isso o que os Sábios afirmam. Aqueles que Realizaram a Verdade sobre si mesmos dizem que Você é imutável, então não pode ser o corpo e também não pode ser a mente.

Então, vamos nos aproximar do que eu chamaria de Meditação. Meditação é o toque da imutabilidade do seu Ser. Com essa colocação, fica claro que eu não estou falando que o corpo entra em Meditação, que a mente entra em Meditação, estou falando que você Realiza a Meditação. Por isso que é impossível a Realização com qualquer técnica, porque técnica diz respeito a posturas.

Você aprende a respirar de uma determinada forma, você aprende a silenciar a mente... Você consegue até mesmo ordenar suas emoções pela respiração. Então, a postura da mente muda, a postura do corpo muda, mas Aquilo que Você é não muda. Meditação é Isso.

Então, quando eu digo "você é uma fraude", eu me refiro a qualquer ideia que você tenha sobre si mesmo, sobre si mesma, porque isso não trata Daquilo que é imutável, e sim daquilo que está mudando o tempo todo.

A mente está mudando de posição. Quando ela descansa, assim como o corpo, você está tranquilo; quando ela não descansa, você está estressado, está ansioso. Quando a mente está tensa, você experiencia o medo. Quando os pensamentos estão embaralhados, isso é um estado; é o estado no qual você experiencia a confusão mental.

Então, a mente está mudando de posição, e aí está a fraude. É esse "você" que é a fraude, aquilo que muda é a fraude. Uma hora a mente está cansada, outra hora está estressada, outra hora está ansiosa, outra hora está eufórica, no momento seguinte está com medo, no outro está confusa, no outro está sonhando, imaginando coisas boas, coisas ruins...

Quando você está psicologicamente em descanso, você diz "estou em paz", só que é uma paz que vai logo desaparecer, porque é a paz da mente, é só uma posição provisória até um novo telefonema, até um novo recado no WhatsApp, aí lá se vai a paz. É assim que a "pessoa" funciona, então ela é uma ilusão, isso não é Você.

Você pode testemunhar isso. Se você pode testemunhar essa mudança do corpo e da mente, então pode parar de se confundir com isso. Mas, se não faz isso, você se embola o tempo inteiro com esses estados, então não tem como Realizar seu Natural e Imutável Estado, além do corpo e da mente.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 08 de setembro de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

O processo de criação do ego

Como se desenrola o processo de criação do ego, desse falso centro, dessa identidade ilusória? Aquilo que é chamado de ego é uma imaginação, uma ficção, no entanto é uma ficção bastante real dentro dos próprios termos dela, para ela, nela própria. Aquilo que acontece na mente é muito verdadeiro para ela. A mente recebe um nome, um corpo, os quais ela diz serem dela. Chega até a dizer que tem uma alma! Ela se vê como um indivíduo, como uma entidade separada das demais entidades que ela também imagina existir.

Isso vai se confirmando nas decisões, nas escolhas, nas ações, nas consequências das ações, sendo algumas boas, dando frutos prazerosos, outras ruins, dando frutos amargos, dolorosos, e a mente vai chegando à conclusão de que, de fato, ela existe agindo, falando, pensando e por aí vai.

Aqui nós nos deparamos com uma dificuldade. Ela é imaginária, mas como acabei de colocar, é muito real em seus próprios termos. Esse falso ser, essa falsa entidade, se vê com inteligência para discernir entre o que é falso e o que é verdadeiro. Para ela, falso é aquilo que não condiz com seus gostos, e verdadeiro é aquilo que condiz com seus gostos, suas predileções, suas escolhas. Então, se algo condiz com o que essa "pessoa" aprecia, é verdadeiro; se não condiz, é falso. Se algo quebra, destrói ou empobrece a "pessoa", então é falso, mas se enriquece, fortalece, estabelece ainda mais o que a "pessoa" acredita, é verdadeiro.

Essa é a barreira, porque isso falsifica qualquer coisa. Qualquer liberdade, paz, amor, tranquilidade ou felicidade é falsificado por isso. Então, a pessoa tem paz? Tem, falsa. Tem felicidade? Tem, falsa. Tem amor? Tem, falso. É inteligente? Sim, de forma falsa.

Aqui está a barreira, porque dá para se viver assim, todos vivem assim, alienados da Real Inteligência, da Real Felicidade, da Real Paz, do Real Deus, que é Aquilo que não pode ser falsificado. Não estou dizendo que a pessoa não tem Deus. Tem! Ela tem paz, por que ela não teria Deus? Mas, também, é o Deus que ela quer aceitar, é o Deus que ela gosta de apreciar, que está dentro do contexto, o Deus que concorda com ela.

Aí vem você e diz assim: "Como posso realizar realmente essa Paz Verdadeira, essa Felicidade Verdadeira, essa Liberdade Verdadeira se não há rendição?".

Sim, você está certo! O ego não se rende! E por que ele não se rende? Porque ele não precisa, ele já tem tudo! Ele não precisa se render, ele já tem tudo o que precisa para ser "alguém". É claro, alguém miserável, mas ele não se vê assim. Ele se vê inteligente, em paz e feliz, do modo dele.

E como ele se move? Basicamente, em conflito. Só que o conflito, para ele, já é o seu estado natural. Na verdade, é tão natural que ele se alimenta disso. Escute isso que eu estou dizendo para você. Você não pode pegar uma pessoa e levá-la para o paraíso, porque o paraíso será um inferno. Se você pegar o conflito (a pessoa) e colocar num espaço onde não há conflito, ele não vai ficar bem.

Então, a resistência é a base do ego, porque ele vive, basicamente, em conflito, algo que já se estabeleceu como o seu estado natural. Então, a maioria daqueles que vêm a Satsang não aprecia esse caminho, porque, nele, não tem como voltar para o seu antigo mundo. Esse é um caminho em que, a cada passo que você dá, o seu antigo mundo se dissolve e não se abre um novo.

Por isso que o Estado sem ego não é convidativo, porque Ele não lhe convida para alguma direção. É um convite ao caminho para o não caminho. Quanto mais você caminha, menos sente os pés e menor é o seu senso de direção, porque você não está indo a lugar algum.

O Estado sem ego não é um estado para se ver, se sentir, se realizar; é um não estado. Então, a maioria não pode apreciar Isso, precisa continuar no seu caminho, no caminho de ser "alguém", porque aqui é o caminho do não ser, aqui é o caminho da não guerra, do não conflito, da não pessoa.

É claro que esse conflito, essa guerra, essa pessoa é o sonho e, aqui, é preciso soltar o sonho, parar com a imaginação.

Como "pessoa", você não pode apreciar a Meditação, porque Ela é o fim da "pessoa". A "pessoa" não vai apreciar a Meditação, porque, Nela, a "pessoa" não está, não há mais o que aprender, o que saber, o que discutir, do que discordar ou concordar, não há mais a noção de falso ou verdadeiro. Como não há mais defesa de "direitos adquiridos", não existe mais medo do que é falso.

Você teme o que é falso quando tem "direitos adquiridos". Se você teme perder seus "direitos adquiridos", como, por exemplo, o "direito adquirido" de ser inteligente, isso lhe dá o medo de ser enganado, de poder ser enganado. Então, você tem algo a defender: a sua inteligência.

Esse "direito adquirido" de ser inteligente é só uma imagem que você tem de si mesmo. Quando há Real Inteligência, não há medo. Não existe nada falso para o Sábio. Para a Inteligência, não existe o que não seja Inteligência; para o que é Real, não existe algo que não seja Real.

Quando a Verdade clareia o que é chamado de falso, então não há mais nada falso. Ver o falso é a Verdade. Se você pode ver o falso, não há mais o falso, então não há medo, não há reatividade ao falso, e isso é Inteligência. Não há do que você se defender se você não tem inimigo, não há do que você se proteger se você não vê inimigo.

Não existe nada que seja falso se você está vendo a Verdade, então você não vai se proteger, nem sair correndo, nem se esconder. Isso é sinal de medo, de dúvida, o que é, basicamente, falta de Inteligência. Quando não há Inteligência, não se sabe o que é falso, porque não se vê, e, quando se vê, não há mais o falso.

Do que o ego tem medo? Dele próprio. Ele está assustado com ele mesmo, ele só é assustador para si próprio.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 23 de julho de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Como parar o pensamento?

Participante: Como parar o pensamento?

Marcos Gualberto: Você não para o pensamento, o pensamento desaparece quando deixa de ser apreciado. O que você não percebe é que existe um investimento, e ele dá vitalidade a um centro falso. Falo desse investimento no pensamento, em imaginações, em antecipações, em fantasias. Você vive fazendo esse investimento!

Você está muito habituado a investir na imaginação, na antecipação, nas crenças, nas ideias, na autoimagem que o pensamento forma sobre quem você é. Você investe muito nisso e, na razão em que faz isso, o pensamento não para, ele continua voltando.

É só um vício. É como gostar de beber. Você gosta de beber, aí continua bebendo e, quanto mais bebe, mais prazer tem, então você bebe mais, e mais prazer recebe… Você está viciado! Aí, você bebe até cair, até falar bobagem, até alguém levar você para a cama e lhe dar café amargo. Você sabe que o final vai ser esse, mas, mesmo assim, não para de beber, porque é um investimento, um prazeroso investimento. Com consequências, é claro. No dia seguinte você vai estar de ressaca, passando mal, vai tomar remédio, enfim… É um vício.

O pensamento também é um vício. Como parar o pensamento? Não tente! Ou tente e depois me conte se deu certo. Isso é como alguém que pergunta: "Como eu paro de beber?", e, enquanto faz a pergunta, leva o copo à boca de novo. "Como eu paro de beber?", e dá mais uma goladinha. Ela olha para a garrafa e diz "como paro de beber?", e já vai botando mais um pouquinho no copo, e continua perguntando "como paro de beber?".

Não tem como parar de beber, de fumar ou de pensar se todo seu movimento é centrado nesse interesse. Se você está tendo um movimento nessa direção, qualquer afirmação sua é apenas mais um blá-blá-blá, e não uma intenção real. Se você tem a intenção real de se livrar do pensamento, livre-se da imaginação, por exemplo. Pare de imaginar o futuro e o passado.

Participante: Como posso parar se o pensamento não me larga?

Marcos Gualberto: A pergunta está formulada de forma errada. A pergunta correta seria: "O que é estar livre dessa intenção do pensamento?" Você precisa se livrar da intenção do pensamento e não do pensamento, você precisa se livrar da intenção de beber e não da bebida.

Se você se livrar da intenção de beber, a bebida vai desaparecer. Se você se livrar da intenção de fumar, acontecerá um trabalho nessa direção, e aí vai perder o sentido levar o cigarro à boca. Se você descobrir sobre essa intenção de pensar, se você descobrir no que o pensamento está interessado – e você descobre isso apenas observando as bobagens que ele está criando dentro da sua cabeça – e se livrar dessa intenção de pensar, o pensamento desaparece.

Você não vai parar de pensar, o pensamento vai desaparecer porque ele não estará sendo alimentado. A prova dessa intenção de parar de pensar está na observação do movimento do pensamento. Se há intenção real de parar de pensar, você tem que observar os pensamentos. Se a sua energia estiver na observação dos pensamentos, toda energia do pensamento, em si, se modifica. A atenção sobre os pensamentos diminui seu volume, porque quanto menos você se identifica com o pensamento, menos ele aparece, e quanto mais você se identifica com ele, mais ele aparece.

Quanto mais você se identifica com pensamentos de tristeza, que produzem esse estado de tristeza, mais você vive depressivo. Quanto menos você se identifica com pensamentos dessa linha, que é a linha da tristeza, menos eles aparecem. Isso é matemática pura!

Mas a minha recomendação aqui é: livre-se de qualquer identificação. Não faça essas escolhas, "desses pensamentos eu gosto e desses eu não gosto", porque por detrás desse "gosto e não gosto" está o vício, a mania de pensar, e não é você pensando, é o pensamento tagarelando dentro da sua cabeça, porque não tem "você" também nesse processo.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 02 de julho de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

O perfume do Divino

O segredo de estar em Satsang é sentir o perfume do Divino, o perfume de Deus, é estar diante da Presença. Na Índia, eles chamam isso de darshan. Darshan é olhar para um Sábio, olhar para a Presença de Deus, é ficar enamorado Disso, encantado com Isso, deixando Isso fluir para dentro da gente.

Então, vocês têm que ter uma aproximação aqui em Satsang diferente de um encontro aí fora. Aí fora você vai ouvir um professor, e eu não sou um professor, definitivamente. Eu não tenho nada para lhe dizer que eu não seja, que é o que um professor faz. O professor diz tudo o que sabe, ele não diz nada do que ele é. Aqui é diferente, compreende? Deu para compreender o que eu quis dizer?

Tudo o que um professor diz é um conhecimento que ele adquiriu. Eu não falo de um conhecimento que adquiri, eu vivo Isso, eu sou Isso! Quem vive comigo sabe que eu não estou aqui como um professor, eu estou aqui compartilhando com você o que eu vivo no dia a dia.

Quando eu falo de Deus, eu falo Daquilo que eu sou, não de algo em que acredito. Quando eu falo do Amor, eu não falo de algo que está nos livros de poesia ou no desejo de alguém. Eu vivo o Amor!

Quando você está aqui, eu fico encantado com você, porque eu não posso deixar de amar aí Aquilo que eu sou, e é só o que eu reconheço em quem se apresenta diante de mim. Eu só vejo aí Aquilo que eu sou!

Meu Mestre me deu olhos para ver Aquilo que eu sou, e quando eu realmente consegui ver Isso – o que levou 21 anos –, não tinha mais o "eu" vendo.

Então, eu sou Isso, eu vivo Isso! Eu não ensino Isso, eu compartilho Isso! Isso é como um perfume, sabe? Eu não dou a você um papel para que leia sobre um perfume, eu pego o perfume e jogo em cima de você. Eu não falo assim "olha, está aqui. Eu quero dizer a você o que tem esse perfume. Ele é amadeirado, não sei o que, não sei o que…".

Eu não quero que você entenda como o perfume é feito, eu quero pegar o perfume e jogar em cima de você. O meu trabalho hoje com as pessoas é ajudá-las a ver O que elas são, porque elas já estão cansadas do que acreditam ser. Então, eu não quero que as pessoas se aproximem de Satsang para ouvir um professor, porque professor a gente tem em qualquer lugar, mas não em Satsang.

A palavra Satsang significa encontro com o Divino, encontro com o Ser, encontro com a Verdade. Se você vai a um Sábio, a um Ser Realizado, você vai se deparar com a Vida, com a Inteligência, com a Consciência, com o Amor, com Deus, com a Felicidade... Você vai se deparar com a Liberdade!

Para quem se aproxima, pode parecer que eu entenda de tudo. Eu não entendo de tudo, eu não entendo de nada! Eu só entendo de como Ser Feliz, e isso não é bem entendimento, é uma Compreensão direta, porque entender como Ser Feliz não ajuda. Ou você tem uma Compreensão direta Disso ou não tem.

Então, quando eu convido você a estar comigo, é para você descobrir Isso, não é para lhe ensinar alguma coisa. O meu ensino é: desaprenda! Desaprenda a ser infeliz, a ser egoísta, a ser arrogante, a se ver como uma entidade no controle, que sabe o que anda acontecendo, que pode evitar coisas que já estão determinadas pela vida a acontecer. Enfim, eu vou lhe mostrando que o seu sofrimento está em brigar com a vida, em tentar consertar o que não tem conserto, porque não precisa de conserto.

Quando é que você vai compreender que a única coisa que você precisa é descobrir que a vida tem um modo de acontecer, o qual está dentro desse sonho, e que se você ficar livre dessa imposição do ego, você para de sofrer. Quando é que você vai compreender isso?

Quando é que você vai compreender que não vai controlar a vida do marido, da esposa, do filho, do neto, de ninguém, de nada, porque isso tudo está dentro do sonho Dele, dessa Consciência, de Deus, e que é Ele o Senhor de tudo isso e não você?

Enquanto você continuar sendo pedante, arrogante, acreditando que vai mudar o mundo, que deve mudar as pessoas e que tem o dever de fazer isso, você vai ficar perturbado, vai ficar sofrendo. Assim, você nem encontra a sua Felicidade e nem compartilha Isso com elas.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 10 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

O encontro com Bhagavan

Quando eu me deparei com meu Mestre, vi algo em seus olhos. Eu disse: "É ele! Era ele quem eu estava procurando!". Quando eu era criança, desejava ter um encontro com Deus. Eu fui criado em um ambiente religioso, meus pais eram religiosos. Eu fui criado em igreja, aprendendo a rezar, a orar, a jejuar, a ler a Bíblia… Eu aprendi com meus pais e com a religião que a única resposta para a vida era Cristo, era Deus, era a Verdade.

Mas aí eu olhava à minha volta e via que mesmo as pessoas religiosas ainda estavam complicadas. Apesar de rezarem e lerem muito a Bíblia, elas ainda tinham problemas. Eu dizia "mas não é possível, tem que haver um jeito de viver sem essa confusão em que essa turma vive". Inclusive meus pais ainda viviam assim, apesar de serem religiosos e tudo mais. Foi por aí, a minha caminhada foi essa.

Até que, quando eu tinha 24 anos, o meu Mestre apareceu. Foi quando me deparei com aquilo que eu procurava na igreja, que era encontrar, em alguém, esse espelho onde eu pudesse ver a Presença Divina, a imagem de Deus. Então, eu disse: "Olha, estou diante de um Sábio, de um Santo, de um Ser Realizado!". Eu não sabia o que era isso naquela época, mas eu fiquei encantado com seus olhos, seu sorriso, seu Silêncio. Sua Presença me tocou profundamente e eu fiquei encantado, apaixonado por ele. Eu disse "eu quero ouvi-lo, eu quero estar diante dele".

A coisa peculiar aqui na minha história é que o meu Mestre já tinha deixado a forma há mais de 30 anos quando eu me deparei com ele, então é uma coisa bem estranha. Só que ficou muito claro, nesse contato, que eu não estava diante de alguém que tinha morrido, eu estava diante do Divino, diante do Cristo, Daquele para quem fui ensinado a cantar, a orar… Daquele por quem a igreja me ensinou a clamar, a buscar. Então, quando eu me deparei com meu Mestre, vi que eu estava diante do Cristo, diante dessa Realidade, e isso mudou tudo, mudou tudo… Isso foi no ano de 1986.

Eu tinha 24 anos de idade, era casado, tinha uma filha de três anos, tinha meu trabalho, minha vida religiosa, era diácono da igreja, vivia dentro da igreja lendo a Bíblia, estudando, mas faltava um contato com Cristo. Eu conhecia apenas o Cristo das minhas orações e da leitura da Bíblia, mas eu não tinha um contato com o Cristo em um "ser humano", em uma "pessoa", de modo que eu pudesse dizer "aqui está!", e eu procurava isso na igreja.

Sabe aquela coisa de amor à primeira vista? Foi assim. Eu olhei para ele e fiquei encantado, e disse "é isso! Ele sabe, ele vê o que se passa dentro de mim, ele sabe o que estou buscando!", e tudo isso em silêncio. Esse foi o outro lado bem particular desse encontro: meu Mestre era a Presença do Silêncio!

Hoje, as pessoas perguntam "o que você via na foto do Ramana?", aí eu corrijo logo: não é uma foto! É uma foto para você, para mim nunca foi! E outra coisa: para mim não era Ramana, o que me vinha na época era "Bhagavan". Eu não sabia o que isso significava. Só fui descobrir algum tempo depois o nome dele. Era Bhagavan que vinha para mim: "Bhagavan, Bhagavan, Bhagavan, Bhagavan, Bhagavan…". Esse é um nome usado na Índia para aquele que vive em Deus.

Então, um Ser Realizado é chamado de Bhagavan ou Bhagwan, a manifestação de Deus numa forma. Aquele que Realizou Deus manifesta Deus. Era essa palavra que vinha para mim e eu não sabia o que significava. Algum tempo depois, eu fui encontrar essa palavra em livros indianos.

A Verdade é assim... A Verdade é a Verdade! Ela o encanta, o apaixona, o inebria, o embriaga, faz você dançar, sorrir, chorar… Ela o desafia, mexe com toda essa estrutura de mentira que você carrega ao longo de todos esses anos. Ela faz tudo isso!

*Transcrição de uma fala ocorrida em 10 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Hora de acordar!

Participante: Mestre, quando o senhor diz que nunca nascemos, está se referindo à forma?

Marcos Gualberto: Para efeito de comunicação, nós falamos de nascimento e morte, de consciência e matéria, mas eu vou exemplificar aqui o que quero dizer com "você não nasceu".

Você tem um sonho, certo? Nesse sonho, você vê o mundo. De onde veio esse mundo? Você entrou no mundo do seu sonho ou o seu mundo de sonho apareceu dentro de você? Você está dentro do sonho ou o sonho está dentro de você?

Vai ficar muito simples compreender isso. Vamos lá! Alguém pode responder isso? Quando acontece o sonho à noite, você entra naquele mundo ou aquele mundo surge dentro de você? Aquele mundo estava lá o esperando? Claro que não, não é isso? Não é o mundo que o espera, então, quando você sonha, aquele é o seu mundo, é o seu sonho. Você não está dentro dele, ele está dentro de você. Correto? Fácil de compreender isso, não é?

Agora, enquanto você sonha, você sabe disso? Não, também não! Você só sabe disso depois que acorda. Enquanto o sonho acontece, a crença ali não é de que aquele mundo é real e de que você está dentro dele? Você compreende o que eu quero dizer? Você jamais duvida, enquanto sonha, de que aquele mundo seja uma fantasia da sua cabeça, no entanto é. Você só sabe disso depois que acorda.

Então, você não nasceu, você está produzindo esse mundo. Você não está dentro dele, ele está dentro de você.

Deixe-me tentar colocar de uma forma bem simples para você. Quando as pessoas dizem que estão vivas, o que na verdade elas estão dizendo? Elas estão dizendo que estão em um sonho, mas que não sabem disso. E quando elas dizem "fulano morreu", o que elas estão dizendo? Elas simplesmente estão dizendo "fulano desapareceu do meu sonho, mas o sonho continua sendo meu". Então, aquele lá não nasceu e não morreu, só fazia parte do seu sonho.

Dessa forma, quando você lamenta e sofre por alguém ter morrido, você está no sonho lamentando a ausência de uma suposta entidade que você acredita que estava viva. Você está lamentando o desaparecimento de uma produção do seu sonho, e isso só é possível enquanto você está nesse sonho.

Então, os seus apegos todos estão dentro do seu mundo, algo que você está produzindo na ideia "eu sou alguém, eu estou vivo, eu posso morrer". Nada disso é Real, nada disso é a Verdade. A única Realidade em tudo isso é Aquilo onde tudo isso aparece, Aquilo que eu tenho chamado de Deus, de Consciência, de Presença, Aquilo que passa a ser assumido quando você desperta desse sonho.

Em algumas partes do mundo, como na Índia, eles chamam isso de Iluminação, que é quando não existe mais o sonho de ter nascido, de ver pessoas morrendo e de, também, poder morrer.

Participante: Por isso que esse termo "Acordado" descreve tão bem, né?

Marcos Gualberto: Sim. A palavra Buda significa "acordado". Quando existe o Acordar, tudo é só um show divino. Até agora eu estava dizendo que era você sonhando, mas agora eu vou melhorar isso, esclarecer melhor isso: não é você sonhando, esse sonho não é seu. Talvez seja um pouco diferente daquele sonho que você tem à noite, onde aparentemente você está produzindo aquilo tudo – eu disse "aparentemente", porque nem aquele sonho é seu. Aqui, esse sonho é dessa "Coisa" misteriosa, é um sonho divino acontecendo, não tem você nisso. Então, mais uma vez: você não nasceu, porque você não existe!

A dificuldade é a perspectiva da mente egoica, porque, para ela, nesse show não podem acontecer coisas ruins. Mas eu não conheço nenhum show, que seja realmente um espetáculo, que não tenha drama, comédia, tragédia, prazer e dor. Se é um show, tem que ter tudo isso!

Mas o problema com o ego é particularizar a experiência, acreditar que a experiência precisa ser do jeito que ele deseja para que ele seja feliz. Aqui está a miséria humana, o sofrimento humano, a ignorância, a base da vida dualista, separatista, em conflito. Esse é o modo de pensar, sentir, agir, falar, se mover, com base na perspectiva de uma entidade separada, particular, vivendo sua vida particular, tendo sua experiência particular e querendo tudo do seu jeito particular. Como haverá fim para o sofrimento dessa forma? Como haverá fim para a ignorância dessa forma?

O que eu quero lhe dizer é que não há preço para estar aqui olhando para isso. Ninguém aí fora lhe diz essas coisas, porque todos estão na mesma condição, todos estão vivendo sua vida particular, conflituosa, aborrecida, com breves momentos de prazer, satisfação, que logo se transformam também em confusão.

Ninguém tem interesse real em investigar isso, a não ser aqueles que têm aspiração a uma vida divina, a uma vida em Deus. Apenas os santos têm essa inclinação e, em geral, você não vive cercado por santos, mas por perturbados, que não têm nenhuma inclinação para o Divino.

Aqueles que estão dispostos a investigar isso são aqueles que compreenderam que a única coisa a se compreender na vida é a Vida, é Deus, é a Verdade. A única coisa que importa é realmente a Felicidade, a Paz. Isso é para aqueles que já estão desconfiados de que tem algo fora do lugar, algo que não está do lado de fora. Se não está fora, tem que estar dentro; se não é o mundo que está errado, então eles estão.

Então, esses já desconfiaram que a única medida a tomar, a única coisa que importa, é descobrir onde está Deus, onde está a Verdade, e isso é para santos, para aqueles que estão querendo ir além desse mundo, desse sonho, em que todos sofrem, em que todos vivem uma vida estreita, limitada, medíocre, perturbada, apegada, nervosa, estressada, aborrecida e estúpida.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 10 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

O chip cultural

Tudo o que a "pessoa" faz, faz em desordem, de uma forma confusa, baseada no desejo. Nós temos que investigar essa questão do desejo para você perceber a gravidade disso. Em geral, as pessoas não fazem isso, pois é típico da "pessoa" não ter consciência. Nós acreditamos que pessoas têm consciência, mas elas não têm. Pessoas têm reflexos, respondem automaticamente a estímulos.

Você está muito bem aqui, mas se passar um objeto de desejo diante dos seus olhos, haverá uma reação imediata acontecendo de forma automática aí dentro do cérebro, logo aquela imagem irá encontrar uma resposta reativa nas próprias células do cérebro. Esse estímulo é o que eu acabo de chamar de reflexo, e não é necessária nenhuma consciência para isso ocorrer.

Essa ação automática é algo semelhante a uma programação de um robô que tem bracinhos e executa atividades. Se você olha para aquele robô, você até diz que ele está vivo e tem consciência. Ele não tem nenhuma consciência, são estímulos gerados através de sensores especiais e uma movimentação de memória eletrônica programada ali.

O mesmo acontece com você. Você passa 30, 40, 50, 60 anos de sua vida com um chip implantado: o chip cultural, o chip educacional, o chip da tradição de família. Você aprendeu a ser invejoso, tem todos os trejeitos da sua avó, que era possessiva, ambiciosa, ciumenta, controladora, manipuladora… Não tem diferença nenhuma!

Não é necessária nenhuma consciência para se viver assim. Aí você olha para quase oito bilhões no planeta e fica admirado com tanta confusão, tanta desordem, tanto sofrimento e tanta miséria. Mas como ficar admirado com isso se a programação é a mesma, se todos estão usando o mesmo tipo de equipamento? Se você está repetindo a história da sua avó, que foi a história da sua tataravó, e se seus netos estão apenas repetindo a sua vida, isso é inconsciência, é um chip implantado, uma memória herdada. Eu tenho chamado isso de condicionamento.

O que eu estou tentando lhe dizer é que você aprendeu a sofrer porque você reage, vive nesse movimento de reflexo, de reação, de reatividade. Você aprendeu a posse, o ciúme, o controle, o desejo, o medo… Você se afastou da simplicidade de sua Natureza Essencial para se meter na confusão de um mundo em desordem, um mundo completamente perturbado.

Você perdeu o contato, se é que já teve em algum momento, com seu próprio Ser por acreditar que esta experiência presente é algo acontecendo para esse personagem que você acredita ser. Assim, você está completamente alienado de si mesmo, perdido nessa confusão.

Então, quando eu o convido a estar em Satsang, estou convidando-o a investigar a natureza real da experiência, a descobrir que você não é quem acredita ser e que todo esse sofrimento, essa confusão, essa "alegria" que você vive – que logo se mostra insuficiente e é substituída por uma situação nova que lhe causa perturbação –, tudo isso está aí porque você vive sem conhecer a natureza real desta experiência presente.

Isso pode e precisa ser investigado, e essa é a forma correta de se aproximar da vida. Você não vai se aproximar da vida se você não se aproxima de si mesmo, mas você não sabe quem você é se você não investiga a natureza da experiência presente. Isso, é claro, não é possível enquanto você continuar no mesmo modelo de crenças, de programação, de condicionamento, que todos à sua volta estão vivendo, inclusive, e principalmente, os que você considera os mais inteligentes.

Você precisa descobrir Aquilo que Você é fora da mente, do corpo e desse mundo onde você acredita ter nascido, estar vivendo e que irá morrer. Tudo isso são crenças.

Então, a pergunta fica sendo esta: qual é a natureza da experiência? Para quem ou para o que tudo isso está acontecendo? Hoje eu nem esperei vocês fazerem a pergunta. É sempre assim: ou eu começo falando ou você começa perguntando e me dando uma desculpa para eu dizer coisas aqui para você.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 10 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Qual é a realidade de sua experiência?

Se eu perguntasse a você "qual é a realidade de sua experiência?", qual seria sua resposta? Afinal, qual é a realidade da experiência presente, daquilo que está ocorrendo aqui?

Se a nossa disposição é para descobrir a Verdade, nós precisamos saber daquilo que acontece aqui. Então qual é a realidade? Qual é a verdade desta experiência?

Eu vejo uma tremenda confusão por aí, o que é típico da "pessoa". A "pessoa" vive em confusão porque está interpretando aquilo que acontece da maneira dela. Enquanto isso permanece, a confusão permanece, o sofrimento permanece, toda forma de miséria permanece.

Nós temos o conceito de que tem muita coisa acontecendo, para muitos sujeitos. Existem quase oito bilhões de pessoas no planeta – e esse é um conceito – e a vida está acontecendo para cada um de uma forma – esse é um outro conceito. Nós acreditamos piamente nisso e parece ser bastante lógico afirmarmos que é assim, mas isso é simplesmente uma crença, não existe nada para comprovar isso, é só uma interpretação que a mente faz da experiência presente.

Há somente uma experiência presente. A pergunta é: qual é a natureza desta experiência? Não existe nada para comprovar que a vida é diferente para cada um, porque não existe "cada um". "Cada um" é um conceito, é uma crença, é só uma ideia.

Então, não existe vida particular, não existem "pessoas". Aparentemente, cada organismo vivo neste planeta vivencia suas particulares experiências. A ideia é que existe uma inumerável quantidade de experiências acontecendo de forma particular para cada um. Isso é um pensamento.

Aqui, a única particularidade é de que cada organismo possui sua particular experiência. Mas essa experiência não é particular, essa experiência é única! A vida é algo que acontece de uma forma única, não existe essa multidão de "eus" com suas inumeráveis vidas.

Essas falas minhas podem soar muito estranhas, a princípio. Parece que você precisa adquirir uma certa familiaridade com a linguagem que eu utilizo, para poder ter uma aproximação, até mesmo intelectual, do que estou dizendo. E isso é fundamental, porque nós estamos envolvidos num conjunto enorme de condicionamentos, de crenças herdadas do nosso mundo, da nossa cultura, da nossa sociedade, das pessoas à nossa volta, e tudo que elas vivenciam é conflito em suas vidas, porque elas têm esse modo particular de vida, esse conjunto de crenças que as faz ver a vida de uma forma particular.

Então eu continuo perguntando para você: qual é a realidade desta experiência? Esses conceitos todos são pensamentos. Nós temos criado muitos "eus" e muitas vidas, então fica complicado você investigar a natureza verdadeira da experiência quando se coloca como uma entidade separada, particular, tendo uma experiência e uma vida próprias.

É preciso olhar a vida dentro de outra ótica. Não existem esses muitos "eus" nem essas muitas vidas, existe só uma Vida profunda, desconhecida, misteriosa, existe apenas uma Consciência, que não é individual, não é particular. Ela não tem um nome como Leo, Jefferson, Margarida e Eliana. Essa Consciência é a Realidade dessa Vida, a Vida é a Realidade dessa Consciência, e essa particularidade do personagem, que você acredita ser, é uma fraude! Essa é a perspectiva correta.

Se você conseguir se aproximar dessa forma, você poderá investigar a natureza real da experiência, e se o propósito é descobrir a Verdade sobre Si mesmo, você precisa partir desse princípio.

Você precisa ir além da cabeça, além da mente, além desse conjunto de ideias que você tem, que você adquiriu dos padres, dos políticos, dos pais, dos filósofos, dos livros, de toda essa cultura, que é um cultivo de equívocos.

Vivemos em uma sociedade estúpida, num mundo onde aqueles que nós consideramos os mais inteligentes, porque estão em proeminência, em destaque, em posição de liderança, são completamente pirados e perturbados psicologicamente, são muitos miseráveis, são "pessoas".

"Pessoa", para mim, sempre é sinônimo de confusão. Se você conhecer uma pessoa que não carregue desordem psicológica, conflito de alguma ordem, com certeza você não estará diante de uma "pessoa", você estará diante de um Buda, de um Cristo, de um Sábio.

Não fique aborrecido por ouvir isso, mas é assim. Eu sei que você conhece pessoas até "iluminadas", mas essa é uma contradição em termos, pois pessoas são perturbadas e não iluminadas. Quando há Iluminação, não há "pessoa", não há um senso de identidade separada, com uma vida particular, uma experiência particular, um mundo particular, preocupações particulares, desejos particulares e medos particulares.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 10 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

O que sustenta o apego?

Participante: Pode me ajudar a entender melhor o desapego?

Marcos Gualberto: Existem muitos que se preocupam com a palavra "apego", e aí temos o contrário disso, não é? O desapego. Em todas as minhas falas com vocês, eu dou uma pincelada breve nessa questão do apego, mas não fico preso a isso, porque eu não vejo que o problema esteja no apego.

O problema que eu vejo está em "alguém", no senso de um "eu" no controle. É isso que sustenta o medo. Se você vai além desse senso de um "eu" no controle, o que quer que esteja à sua volta não se torna um objeto de sua fixação. Esse "sentido do eu" é proprietário de pessoas, lugares, objetos e crenças (algumas são filosóficas, outras espirituais, outras políticas). A fixação nisso é a identidade do "eu"; é isso que sustenta o apego.

Os apegos estão em cima das imagens que esse falso "eu" constrói e vive controlando. As pessoas não estão dispostas a deixar isso. Isso não têm base real, mas as faz reais, faz com elas estejam vivas! Elas estão apegadas, elas estão no controle, elas estão vivas nisso! Então, a questão não é o apego, é a imagem que o ego constrói em torno de determinado objeto, porque ele fica vivo nessa relação. Isso não é natural, não é parte da Natureza Divina.

Assim, o apego não está nos objetos, mas no sujeito, na ideia "eu e aquilo que amo". Na verdade, são imagens, e não faz diferença se são mundanas, religiosas, filosóficas ou políticas. Existem dificuldades porque existem fixações de muitos anos, há muito investimento egoico nisso.

Eu quero que você compreenda melhor o senso desse "eu" apegado ao objeto que ele imagina amar, querer e possuir. É esse falso "eu" que está dando vida aos seus objetos queridos, a essas imagens queridas, a isso que ele protege. É nisso que ele está vivo!

Chegará o dia em que você decidirá deixar o controle, abandonar essas imagens, esses objetos, para descobrir Aquilo que está fora das imagens, dos objetos e do controle.

Ser Feliz significa Ser, só Ser. Este é o meu trabalho com você aqui: mostrar-lhe a beleza de Ser. Ser não tem imagem, não tem controle, não tem apegos, não tem crenças, não briga por algo, não defende algo. O meu trabalho é lhe ajudar a compreender a si mesmo, então o apego cai e, com ele, o medo de perder, o conflito, a briga por isso, a defesa disso. É só uma defesa de crenças, de imagens, de objetos.

Será que isso está dizendo alguma coisa para alguém aqui na sala? Será que tem alguém ouvindo o que eu estou dizendo? Eu digo: "Olha, viver em Liberdade é viver livre de tudo que o escraviza psicologicamente, internamente e externamente". Aí, você diz: "Puxa, isso me interessa! Agora fiquei interessado, quero saber mais sobre isso. Explique o que é isso!". Então, eu começo a explicar e você diz: "Não, mas espera aí, não é bem assim… Eu quero a liberdade, mas não é essa aí que você está dizendo. Eu achava que ficaria liberto do sofrimento". Depois, eu digo: "Ah é? E o que você entende por sofrimento?". Aí eu já vejo você enroscado, porque você considera que o sofrimento está naquilo que aparentemente o faz sofrer e não naquilo que não parece escravizá-lo, mas o escraviza.

Comece a descobrir a importância de, psicologicamente, internamente, deixar tudo para mergulhar em seu próprio Coração, em seu próprio Ser. Nada é mais importante do que realmente viver incondicionalmente Livre. Isso significa, psicologicamente falando, deixar tudo desaparecer. Mas vou deixar isso acontecer a você. Vou esperar você me procurar, vou esperar você querer investigar isso comigo. Vou esperar você fazer perguntas e me dar todo o direito de resposta sobre isso.

É você que se predispõe a Isso, que se interessa profundamente por esse acesso à Realidade, à Verdade, a essa Natureza Divina.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 20 de março de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Não há um “eu” dentro nem fora

Participante: Mestre, às vezes não consigo distinguir claramente o "eu" de fora e o "eu" de dentro. Tem como clarear essa dúvida?

Mestre Gualberto: Pega o "eu" de fora e o "eu" de dentro e joga fora, aí clareia a dúvida. A sua dúvida está exatamente nessa tentativa de separar. Quem está nessa separação? Quem é esse que separa o "eu" de dentro e o "eu" de fora? Isso ainda é "você", é a "pessoa", é a mente. Você tem que jogar os dois "eus" fora, o de dentro e o de fora, e aí haverá Clareza. Haverá Clareza não porque um "eu" de dentro teve "clareza" e jogou o "eu" de fora para longe, mas porque não ficará nem o "eu" de dentro nem o "eu" de fora. Livre-se dos dois e, depois, se a pergunta ainda estiver presente, traga-a novamente.

Parece que se você se livra dos dois, fica só a Clareza. Só que não é a "clareza" de alguém, é só a Clareza. Clareza é o seu Estado Natural. Você é Clareza! Se existe essa dicotomia, se existe essa divisão, ela ainda é parte da dualidade.

Participante: Mestre, como saber que é Deus quem está realizando e não eu? Devemos estar em inércia?

Mestre Gualberto: É a mesma resposta. Quem é esse que fica sabendo quem está realizando, se é Deus ou não? Para quem é essa dúvida? Isso é como uma dúvida quanto à existência de um "eu" interno e um "eu" externo. Livre-se dessa ideia de um "eu" que possa saber e um "não eu" do qual você tem que se livrar. Livre-se dos dois.

Quanto à questão "devemos estar em inércia?", eu lhe digo que a inércia é impossível, pois a natureza sempre vai colocar esse organismo aí para fazer algo. Experimente ficar em inércia. Diga assim "eu não vou fazer mais nada", tome essa decisão e depois me diga quem tomou essa decisão e se ela foi cumprida. Inércia é impossível!

Aqui, a ênfase está em estar ciente do show, do que ocorre no palco, e não de parar o que está acontecendo nele. Isso é como estar ciente da tela onde o filme acontece, mas não parar o filme e deixar a tela em branco. A tela não vai ficar em branco, sempre haverá um filme passando nela. Tome ciência da tela e curta o show. O show não vai parar! Da mesma forma que não há como acontecer a inércia, não há como o espetáculo parar.

Esse show não está sendo produzido, dirigido ou colocado em cena por você. Há algo fazendo esse show acontecer. A sua liberdade está em tomar ciência dessa Consciência. A sua liberdade está em tomar ciência do palco e assistir ao show, inclusive interagindo sem nenhuma ideia como "estou fazendo, eu sou o fazedor, faço parte do show". Não existe isso, existe só o show e ele acontece no palco.

A Liberdade da Felicidade de Ser reside em não se separar, em não ter a ilusão da separação entre o que acontece e o "lugar" onde tudo acontece. Não há separação! É porque, misteriosamente, tudo que acontece nesse palco ainda é parte dele. Não há nenhuma separação, está tudo no lugar, está tudo certo e o show não vai parar.

É a mente egoica, separatista, conflituosa que quer se livrar das experiências para ter paz. Ela imagina uma paz fora das experiências e quer se livrar delas para ter essa paz – isso é parte da ilusão do conflito da mente.

O problema não está na experiência, não está no espetáculo, não está no que acontece, mas na inconsciência do palco, na resistência à presença do palco, à presença de tudo.

Então, o que é ver essa Consciência? É permanecer Naquilo que é, permanecer na Verdade. Essa é a Visão Divina, a Visão da Graça, a visão de Deus. Essa Graça, essa Presença, é algo que brilha claramente no que quer que esteja aparecendo. Ela é o fundo de toda experiência, de todo acontecimento. Ela é o palco, é a tela.

É que você esquece sempre o palco, a tela, e se envolve demais com o drama, com o romance, com a comédia, com a tragédia, com o que está acontecendo ou aparecendo. Aí você personifica, particulariza isso e, então, entra em conflito, entra em guerra e tem problemas – são problemas criados pela ilusão da separação. Assim, sua atenção está fora da Consciência, pois está presa ao objeto da experiência.

Você fica preso a um falso saber, a um falso entender, a um falso controlar, a um falso resolver, a um falso decidir, a um falso escolher… Ah, e isso é fator de estresse, claro! Então, você pensa muito, não come direito, não dorme direito, quer carregar o mundo nas costas, quer resolver todos os problemas de ordem particular. Você pensa em termos de uma entidade presente que tem que resolver as coisas, e isso é muito pesado.

Meu Guru sempre dizia: "Entregue para Bhagavan que Bhagavan cuida". Parece que é uma lição difícil para alguns de vocês pegarem rapidamente e, então, deixarem Deus cuidar de tudo, ou seja, caírem fora dessa condição precipitada, arrogante, de controle, de poder de resolver, de mudar as coisas, de capacidade de salvar "A", "B", "C" ou "D" do destino de cada um, enfim, essas fantasias todas que o ego tem.

Esse senso de responsabilidade, de consciência social, política, espiritual, moral… É tanta "consciência" que a Consciência real – que é ausência de conflito, de peso, a Graça Divina – está ausente. Dessa Consciência, ninguém fala! Ninguém fala para você "olha, a única Consciência possível é a da Presença de Deus, e é Ele que faz tudo, o show é Dele! Renda-se!" Então, há muita resistência.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 23 de junho de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Não perca a tela de vista

Participante: Mestre, é possível estar ciente no sono?

Mestre Gualberto: Não é possível a pessoa estar ciente, a pessoa é inconsciência sempre! A vigília, o sono e o sonho aparecem e desaparecem, mas sua Natureza Real não tem isso – Ela não aparece e desaparece. Então, quando você pergunta "é possível?", eu pergunto: para quem?

A Consciência jamais deixa de permanecer no lugar Dela. Na verdade, não está faltando Consciência em você, esse não é o problema. O problema é que essa Consciência em você está embolada com o sono, a vigília e o sonho. É como se Ela estivesse esquecida.

É como num filme, em que ninguém presta atenção na tela. Mas sem tela não há filme! A coisa mais evidente é a tela, mas ninguém dá atenção a ela. O seu problema é o interesse no filme, diferentemente do Sábio, daquele que está Realizado, pois todo o interesse Dele está na tela. Ele só observa o que acontece no filme, mas não esquece a tela.

Você foi condicionado a ficar com a representação, com a teatralidade, e não com a tela. Quando você vem a Satsang, o meu trabalho com você é lhe mostrar a tela. Eu lhe mostro a tela e depois digo: "Olhe, tudo vai acontecer aí, está certo? Então, não perca a tela de vista. Se você não perdê-la de vista, você vai sempre ver o que quer que esteja acontecendo ali como algo que vai passar, que não é eterno, que não é real, que é só uma representação cênica, um show".

Essa é uma perspectiva nova, eu lhe dou uma nova visão. Você considera real o que acontece. Para aquele que está Realizado, o "lugar" onde tudo acontece é real e o que acontece é só uma aparição.

Participante: Mestre, a Meditação está sempre presente?

Mestre Gualberto: Sim. A Consciência nunca está fora do seu lugar. Não está lhe faltando Meditação, o que está lhe faltando é a ciência da presença da Meditação, porque você está se identificando com uma quantidade enorme de aparições que não são você. Meditação é o seu Estado Natural, como Consciência.

A gente nunca separa Meditação de Estado Natural e Estado Natural de Iluminação. Isso é como perguntar "quando vou me iluminar?". Essa é uma pergunta que envolve tempo, então não pode ter realidade, porque ela coloca o funcionamento da representação teatral em ação. É a ausência dessa teatralidade que é Iluminação. É por isso que ninguém jamais se Ilumina, porque não existe alguém que possa, porque "alguém" é a representação teatral.

É como perguntar "quando irei tomar consciência de Deus?". Quando você colocar seus olhos Nele. Seus olhos estão voltados para experiências, acontecimentos, lugares, pessoas, pensamentos, sensações, medos, desejos… Como é que você pode ver Deus sem colocar os olhos Nele? Seus olhos estão na história, no personagem, nos cuidados, nas preocupações com assuntos que, absolutamente, não são reais, são assuntos do show, são assuntos da própria Consciência.

Coloque seu olhar na Consciência e você vai ver Deus. Isso é Meditação! A mente pode dizer "eu já alcancei, já estou Iluminado!". A mente pode dizer qualquer coisa! A mente pode fazer falas sobre Advaita, sobre não dualidade… Isso tudo é infantilidade. Estamos falando aqui da ciência direta da sua Natureza Essencial, e Isso é colocado à prova o tempo todo!

Uma pessoa embolada, se confundindo com o que acontece na tela, pode imaginar também algo fora dela, mas é só uma questão de tempo para ela perceber que ainda está dentro do circuito do tempo, dessa representação. Mas que seu Estado Natural é Meditação, Ele é; que seu Estado Natural é Inteligência, Ele é; que é ausência de sofrimento, de conflito, sim, Ele é.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 23 de junho de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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