terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Conhecer Deus é ser Deus

Esses encontros, em Satsang, são as maiores oportunidades que você tem para uma aproximação Daquilo que Você é. Todos vivem num estado completamente de sono. Não é possível a Liberdade, não é possível a Felicidade, quando não sabemos quem somos. Tudo que a mente conhece é parte do tempo, e o tempo é algo que o pensamento constrói. Toda sua história é algo que o pensamento pode contar, portanto faz parte do tempo. O que faz parte do tempo não é eterno, não está além dele. Você precisa encontrar Algo que está além do tempo. Esse Algo além do tempo é a sua Natureza Verdadeira, a Fonte de permanente Felicidade, de incondicional Liberdade.
Satsang significa “encontro com a Verdade”, e a Verdade é Aquilo que está além do sonho. Tudo que todos buscam é Felicidade. A busca do Amor é a busca da Felicidade; a busca da Liberdade é a busca da Felicidade; a busca da Paz é a busca da Felicidade. Paz, Amor e Liberdade – essa é a Natureza do Ser, a Natureza da Consciência, a sua Natureza Verdadeira. Não importa o que você realize, porque, sem a Realização do que Você é, você vive em miséria. Não importa se você é famoso, se é muito rico, se tem filhos bonitos, uma esposa bonita, um marido bonito, mora numa casa bonita, tem uma casa de praia, dirige um carro importado… Tudo isso é muito confortável e bastante desejado. Mesmo assim, se você não sabe quem Você é, se ainda acredita que vai morrer, que vai deixar tudo isso aí, você é bastante miserável.
Somente quando reconhece sua Natureza Verdadeira, quando reconhece que nunca nasceu e que não pode morrer, você está diante da Felicidade, Daquilo que é Eterno, Daquilo que é atemporal. A Verdade é o seu Ser, e Isso é Deus! Ele não está no céu, não está em mesquitas, em templos, em igrejas. Deus está aqui e agora, como sua Natureza Real, como o seu próprio Coração. Esse é o seu templo, a única igreja que Deus frequenta. Tudo que a mente tem construído, as grandes catedrais, as grandes igrejas, lugares bonitos onde se colocam imagens sagradas, isso nada significa para Ele. O único Lugar onde Ele mora, que Ele visita, o tempo todo, de onde nunca vai embora, é o seu Coração. Se você não sabe quem Você é, não conhece Deus. Você pode ir a todos esses lugares, mas não conhece Deus.
Conhecer Deus é ser Deus! Quando você pode vê-Lo em Si mesmo, sendo Aquilo que Você é, sem qualquer separação, então você pode olhar para todos os lugares e ver que Ele está em toda parte; você vai ver que todos os lugares são a morada de Deus. Então, Deus mora nas igrejas, nas catedrais, mas Ele mora também numa pequena casinha, numa caverna. Ele é essa Presença em toda parte, mas você só pode saber disso, de uma forma direta, quando conhece a Si mesmo, quando está fora da mente, fora do sentido de separação, fora do ego, desse estado miserável de conflito que o pensamento produz, criando todo tipo de divisão, todo tipo de inimizade, porque, onde existe sentido de separação, existe conflito, existe guerra.
Quando você está Aqui, neste único Lugar, que é o Lugar de Deus, tudo está no lugar, porque não há conflito, então não há guerra, não há sofrimento, não há apego. Seu Estado Natural é Pura Consciência, que é Meditação. Meditação não é algo que você realiza por alguns momentos, quando está assentado, expulsando os pensamentos da cabeça, respirando de uma certa forma... Tudo isso pode fazer muito bem – tem estudos que comprovam a importância da prática da meditação, pois ela acalma, relaxa, traz um bem-estar físico, emocional –, mas não é disso que estamos falando. Estamos falando da Real Meditação, que é estar aqui e agora, sem conflito, sem ego, sem medo, sem desejo, sem sofrimento, sem escolha. Meditação é a Visão de Deus, de olhos abertos ou fechados, caminhando, comendo, conversando, lendo... Não tem nada a ver com a postura do corpo, mas com a postura do coração. É o seu coração que tem que estar assentado, não o corpo.
Por exemplo, agora, mesmo falando, este Estado é Natural. Isso é Real Meditação, Realização, que é Iluminação, que é o Despertar. A gente não separa! Se você for a um Mestre Zen e lhe perguntar se há alguma separação, eles são muito claros sobre isso: caminhar é Meditação, falar é Meditação, comer é Meditação, dormir é Meditação...
Quando você está identificado com a mente egoica, você não está em Meditação, você está em um estado de sono, de identificação com aquilo que é temporal. Você está identificado com pensamentos, com emoções, com sensações, com a história dessa “pessoa” que você acredita ser. O seu nome e toda a história que o acompanha, até este instante, nada disso é Você. Sua mente não é Você, o corpo não é Você. Tudo isso é um empréstimo – a Natureza lhe emprestou tudo isso, e você está se confundindo com isso.
Liberação, que é Meditação, é Sabedoria. Quando há Sabedoria, não há ilusão. Então, essa identificação com o corpo e a mente, e também com o mundo, com as experiências, tudo isso “cai”, porque nada disso é Real, nada disso é Sabedoria. Verdade, incondicional Liberdade, Amor, Consciência, Presença: Isso é Sabedoria! Você é Sábio, porque Deus é Sábio. Não há diferença entre Você e Deus!
A Bíblia diz que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Quando você se confunde com o corpo, você perde essa “imagem e semelhança de Deus”. Isso não tem nada a ver com o corpo! O seu corpo foi feito à imagem e semelhança dos seus pais. A imagem de Deus, a semelhança de Deus, é essa Consciência. Alguns chamam Isso de “Espírito”. Eu não uso essa expressão, porque a palavra “espírito”, em nossa cultura, está ligada à ideia de uma identidade dentro do corpo, e isso não é real. Não tem ninguém dentro nem fora do corpo.
A Única Realidade, que faz todas essas aparições múltiplas, é a Realidade de Deus. Só há Deus! As diferenças são todas produzidas pela mente. Então, você vê muitos espíritos, muitos corpos, alguns materializados e outros desmaterializados, mas tudo isso são produções da mente, não são reais. A Única Realidade é Aquilo que não muda, é Aquilo onde tudo pode aparecer, tomar uma forma provisória e desaparecer. O que aparece e desaparece não é Real. Deus é a Única Realidade e tudo é a Sua morada. Ele mora em todas as aparições – essa é a brincadeira. É como uma tela de cinema. Imagine uma tela de cinema sem nenhum filme... Não tem graça! Deus é a tela e as imagens na tela, este mundo e o outro mundo, mas o outro mundo é tão irreal quanto este mundo.
As pessoas me perguntam sobre essa questão da morte, e eu tenho dito para elas que só pode morrer quem está vivo. Quem lhe garante que você está vivo? Quem lhe garante que você nasceu? Todas as noites você tem um sonho. Na primeira noite, você sonha que é casado e que tem vários filhos. Na noite seguinte, você sonha que é solteiro e não quer saber de namoradas. Na terceira noite, você sonha que é um macaco. Cada noite você sonha com uma história e com um personagem. Tem uma coisa interessante em todas essas 3 noites, ou em todas as noites que você sonha: você nunca tem dúvida de que está ali. A história pode ser outra, o corpo pode ser outro, mas sua única certeza é que você está presente. O “Eu sou” não muda, a história muda: “Eu sou” gorila, solteiro, casado, um homem, uma mulher, um macaco, uma borboleta… “Eu Sou” sinaliza Aquilo que é Imutável.
O único problema com você – e isso é a causa de todo sofrimento, de toda a miséria – é que você sai desse “Eu Sou”, aí começa a chorar por causa da história. Um filho morre e você chora, a mulher vai embora, foge com outro, e você chora. Você se confunde com a história. Se você é rico, se preocupa em perder o que acha que tem. Se você é pobre, quer ter o que acha que pode conseguir. Então, quando você se confunde com a história, quando você tem e não tem, você está sempre preocupado. Quando você tem, tem que segurar, tem que proteger. Se tem uma mulher, não pode deixar ninguém levá-la de você, então isso lhe dá uma grande preocupação.
A história sempre é sofrimento, nessa ilusão “eu sou o corpo”, nesse mundo, com essas coisas que “eu tenho ou gostaria de ter”. Você está sempre se confundindo com o corpo. Por quê? Porque você não se conhece. Você não fica com esse “Eu Sou”, quer algo além disso, e não é Feliz. Você não confia na Existência, quer fazer do seu jeito. Você já tem demais, mas você quer mudar o que tem; não é feliz ainda com o que tem. Alguns casam 5 vezes! Você tem um marido, tem uma esposa, tem alguma coisa, mas isso não basta, você quer mudar.
Então, a história é muito complicada, é muito infeliz viver nessa história. Reparem o que eu vou dizer: Ser Feliz não exige nada! Você não precisa de nada para Ser Feliz, mas tudo que você acredita ter, tem medo de perder ou deseja ter está causando um problema para você. Eu lhe recomendo deixar tudo, se desapegar de tudo, ficar sem nada. Quando eu digo “sem nada”, é psicologicamente; interiormente, ser pobre. Quando você não tem nada, aí você é milionário! Está claro isso? A Verdadeira Plenitude, a Verdadeira Liberdade, a Verdadeira Felicidade, está em Ser, Puro Ser!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 19 de maio de 2017, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Uma sala sem paredes

Enquanto existir o sentido de separação, a noção de um “eu” localizado dentro do corpo, com suas crenças e sentimentos, você não estará diante da experiência como ela se mostra, se apresenta – a pura experiência deste instante. Esse sentido de separação falsifica a experiência da Realidade. A experiência deste instante é a Realidade da Felicidade, da Liberdade, da Paz. O pensamento/sentimento é um véu, uma cortina sobre Isso. Quando se perde nessa identificação com pensamentos e sentimentos, você se afasta da Realidade presente, de sua Natureza Real, do seu Ser.
Este momento presente, que é a Realidade, é o momento do Amor e da Beleza, o momento de Deus, sempre. Este não é o momento da “pessoa”, a qual é somente uma crença, um condicionamento, algo no qual você foi educado para acreditar, ou seja, você acredita ser uma pessoa presente aqui, neste instante, mas não tem “pessoa” neste instante! A Consciência está presente, então o que temos neste instante é essa Presença-Consciência, mas não há “pessoa”. Os pensamentos sempre representam formas que estão no espaço. Assim, o pensamento, que é somente a imaginação das formas, dá “realidade” a um mundo pessoal, pois a “pessoa” precisa das formas – a forma de outras pessoas, de objetos e de todo tipo de imagem. Não há pensamento sem imagens, ele gira em torno de imagens, de formas. Quando chega, o pensamento sempre se aproxima com imagens.
Lembre-se de alguma coisa, agora, neste momento... Para isso você precisa de imagens. Pensamentos são imagens que estão no Espaço, e você não pode imaginar esse Espaço. O Espaço é um vazio sem forma, uma sala sem paredes, e não existem salas assim. Não se pode imaginar uma sala sem paredes – esse é o Espaço. Esse Espaço é a Presença-Consciência, sem forma, sem nome, sem história; é a Natureza da Realidade, de Deus, do Ser; é a sua Natureza Verdadeira e, assim sendo, Você nunca nasceu. Foram construídas algumas “paredes” e apareceu uma “sala”, mas o Espaço já estava lá, antes dessas “paredes”. O Espaço dentro é o mesmo Espaço fora. As “paredes” criaram uma ilusória separação entre dentro e fora, e não deram realidade ao Espaço, apenas criaram uma ilusória limitação.
Quando se identifica com pensamentos, sentimentos, emoções e sensações, você está impondo a si mesmo uma limitação – a limitação de ser “alguém”, uma entidade separada, uma “sala”. Então, você diz que não tem liberdade, pois se tornou prisioneiro de suas próprias crenças. O medo é algo autocriado, assim como o desejo e o sofrimento, e essas são as “paredes” que, aparentemente, limitaram e aprisionaram o Espaço. Na Realidade, o Espaço não é prisioneiro, mas a sensação ilusória é de prisão. Esse é o sentido de separação na ilusão de que o “meu espaço” é um e o “seu espaço” é outro; “eu e o mundo”, “eu e o outro”.
Participante: Por que o Espaço se deixou aprisionar?
Mestre Gualberto: Não há nenhuma prisão para o Espaço, porque Ele, de fato, não existe. Essas “paredes” são crenças, conceitos mentais, condicionamentos culturais, imaginações. O Espaço não é prisioneiro, e não existem paredes reais. Essas “paredes” têm “tijolos”, que são os pensamentos, sentimentos e as sensações. Quando você se identifica com pensamentos, as “paredes” são levantadas, e quando você confia neles, elas são fortalecidas. Quando você confia em sentimentos, as “paredes” recebem reforço, ou seja, é puro condicionamento, algo cultural. O ego é um produto cultural, social, resultado de educação. Vocês foram educados para serem miseráveis.
Neste mundo, quanto mais o ser humano estuda, mais estúpido ele se torna. É uma educação “ganha-pão”. Você estuda, mas o pensamento continua estúpido, estreito, limitado. Você estuda muito, mas as “paredes” continuam de pé – ciúme, inveja, desejo, medo, conceitos, preconceitos. É possível que você ganhe um pouco mais de dinheiro, porque estudou e, agora, pode comprar um carro de luxo. Você agora é rico, mas um rico miserável! Há o miserável pobre e o miserável rico. Quando eles morrem, um vai para debaixo da terra e o outro vai para um mausoléu. É uma grande diferença, não é?
*Transcrito de uma fala ocorrida em 05 de maio de 2017, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

O Despertar está além do esforço e do não esforço

A Verdade não é algo para ser obtido, necessariamente, com o esforço. Para nós, esse é o modelo, o padrão, porque tudo que temos na vida conquistamos pelo esforço. Tudo aquilo que você conseguiu ganhar foi pelo esforço, mas mesmo aquilo que você obtém pelo esforço, termina perdendo algum dia. A Realização é algo diferente disso. Geralmente, você pensa que tem que fazer algo a respeito, e o movimento deve ser completamente diferente disso.
Nós trazemos muito forte essa ideia de autoria e autonomia para realizar as coisas, e acreditamos que isso se aplica, também, à Realização da Verdade sobre nós mesmos. Assim, nos ocupamos com uma linha de ação para obter um determinado resultado e nos escapa que essa ação não é possível. Portanto, não podemos Realizar Aquilo que já somos, assim como não podemos fazer algo para destruir Aquilo que já somos. Repito: não podemos construir nem destruir Isso que já somos. Na verdade, Isso sempre esteve aí, sempre esteve com Você, sendo Você, e Você não pode se separar Disso que Você é! Você nunca conseguiu fazer isso e nunca conseguirá!
Então, que trabalho é proposto em Satsang, afinal, já que não podemos construir Isso? Nosso trabalho não é de construção, é de constatação, de tomada de consciência. Todavia, reparem a dificuldade: você não pode sair do sonho se deseja parar de sonhar. À noite, quando você está dormindo e tem um sonho, não é tão simples sair dele, até porque, enquanto o sonho acontece, você não sabe que está sonhando. Somente quando você acorda, a sua mente percebe que tudo aquilo era um sonho. Portanto, enquanto o sonho está acontecendo, você não tem consciência para acordar, não sabe que aquilo é um sonho e sai dele somente quando acorda.
Como você pode desejar parar de sonhar se não sabe que está sonhando? Essa é a dificuldade! No estado egoico, o estado comum da mente, você está perdido nessa identificação e não sabe que está “sonhando”. Para você, a vida é essa que você está levando. Assim, enquanto você estiver se vendo como uma “pessoa dentro do sonho”, sem saber que é um “sonho”, não há como escapar disso.
Alguém pode lhe dizer que você está sonhando, mas esse “alguém” está no seu “sonho” também. Esse “alguém”, que é somente um personagem do seu “sonho”, termina lhe dando preceitos, técnicas, práticas espirituais, para o “sonho” terminar. No entanto, a questão toda é que ele também está “dormindo”, mas está lhe dizendo como acordar; está no “sonho” falando para você como sair do “sonho”. Então, ele lhe diz que se esforce, siga essa doutrina ou outra, faça isso ou aquilo, e é exatamente isso que os sacerdotes, padres e gurus estão fazendo.
Temos esse extremo, em que alguns dizem para você se esforçar, pois assim “chegará lá”, nessa Realização, e, em outro extremo, temos aqueles que se propõem a falar para você que tudo isso é um sonho e que você não deve fazer nada. Então, de um lado temos aqueles que dizem: “Siga a espiritualidade”; e do outro, aqueles que dizem: “Você já é o Buda, não precisa de nada”. Assim, você termina acreditando que tem que fazer algo ou que não tem que fazer absolutamente nada, e vem tentando conseguir Isso, a Realização, de uma forma positiva, pela ação, ou de uma forma negativa, pela não ação.
Lembro que, algum tempo atrás, alguém me disse que havia descoberto que não precisava fazer nada. Ele me disse: “A Iluminação é como um raio que cai na sua cabeça”. Perguntei para ele: “Você vai esperar esse raio por quanto tempo, sem fazer nada?”.
Então, perceba o que estou dizendo para você: há uma tremenda ilusão em todo conhecimento que você adquire. O conhecimento não é suficiente, pois esse elemento de separação, que chamamos de “eu”, tem muito mais tempo que você. Esse seu cérebro tem somente 35 anos, ou 40 anos, ou 50 anos, mas a mente é muito mais velha que você. Os cientistas dizem que há cerca de nove milhões de espécies no planeta Terra. Nós, seres humanos, somos somente uma espécie, dentre nove milhões de espécies, e você se considera muito esperto – tem somente cinquenta anos e se sente mais inteligente do que a mente, com milhões de anos. Afinal, o que você sabe? Até onde vai o seu conhecimento?
O que estou dizendo para você é: não adie o momento dessa Realização. O seu tempo é muito curto e você não tem como realizar Isso fazendo o uso da capacidade desse cérebro. Apenas um percentual muito pequeno do cérebro funciona; os milhões de neurônios que você tem servem muito bem para o funcionamento dessa estrutura, desse mecanismo biológico, do corpo humano, mas isso não lhe dá nenhuma inteligência para ir além da mente, que continuará sempre muito mais sabida que você.
A questão aqui é que você precisa ir além da mente, mas você não sabe que está “sonhando”. Você nem mesmo sabe o quanto está identificado com a ilusão desse “sonho”, dessa crença de que você é uma “pessoa”. Isso tudo é a própria mente no controle. Você está se confundindo com o corpo, e nem mesmo percebe o quanto se confunde com essa crença de ser alguém dentro do corpo. Tudo é um “sonho”, no qual você não tem a mínima consciência do que está acontecendo, de que esse “sonho” está acontecendo.
A Realização é possível aqui e agora, e Ela não depende dessa sua inteligência, felizmente. Aqui, se trata de reconhecer a sua Real Natureza, que não é o corpo, não é a mente, que não vive nessa estrutura, nessa base criada pelo pensamento. A Realização é o fim da ilusão de “alguém” dentro desse “sonho”, e nenhum esforço ou não esforço pode lhe dar Isso. Um Elemento novo, que não está no “sonho”, não está “sonhando”, entra nesse “sonho”, e, por Sua Graça, um trabalho se torna possível. Deus vem, assume a forma de um personagem dentro do “sonho” e Desperta você. Tudo isso é um trabalho de Deus, um trabalho da Graça, mas é preciso Despertar. Então, o “sonho” termina e o “sonhador” desaparece, mas não é pelo esforço ou pelo não esforço, e sim pelo trabalho da Graça!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 09 de agosto de 2017, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Aqui você é um cientista e o laboratório está dentro de você

Nosso propósito, nesses encontros, é que você descubra a Verdade sobre Si mesmo. Esse é um trabalho paciente de observação de suas reações, daquilo que se passa aí dentro. O cientista vai ao laboratório e, utilizando-se de aparelhos e equipamentos, realiza experimentos. Ele faz todo um trabalho de investigação, levanta uma hipótese e vai atrás dessa confirmação. Você está em Satsang porque, também, já percebeu que alguma coisa parece que não vai bem, então levanta uma teoria e faz uma investigação.
O que temos de mais curioso nisso tudo é que toda sua estranheza com relação à vida é algo encarado pelos Sábios de uma forma muito mais simples. Para você, algo está errado, está fora do lugar, mas, para o Sábio, nada está fora do lugar e nada está errado. Você se sente com problemas, infeliz e sofredor. O homem Sábio se sente em Paz, em Liberdade, em Felicidade. Aqui, o laboratório da investigação não é uma estrutura física, uma construção; o laboratório está dentro de você, e você é o cientista. Qual é a natureza do “eu”? Quem é você? Por que você sofre? Quem está com problemas? Quem é infeliz? Quem foi abandonado, traído, perdeu o filho para as drogas ou para a morte? É isso que precisa ser investigado!
O Sábio diz que está tudo bem e está tudo no lugar, mas você olha para a sua vida e não pode concordar com isso. Você olha para a situação do país, a situação política, e não pode concordar com isso, com toda a corrupção e violência no mundo. Você diz que os presidentes, tanto o americano quanto o brasileiro, parecem ter alguns parafusos soltos na cabeça, parecem ser um tanto perturbados, e o Sábio diz: “Está tudo bem, tudo no lugar”. Você olha para a sua situação de saúde, para os relacionamentos íntimos e para sua situação financeira e diz: “Como posso ser feliz assim e dizer que está tudo bem?”.
Tem uma coisa que você não sabe e que os Sábios sabem (por isso é que eles são Sábios), e vou lhe revelar nesta noite. Quando você percebe as aparições apenas como uma manifestação, um fenômeno da mente, você está além desse fenômeno. Para sua informação, o mundo é apenas um fenômeno da mente, o que acontece nele é apenas uma manifestação do pensamento. O que você chama de “mundo comum a todos” ou “mundo particular” é apenas um pensamento, que se multiplica em muitos outros pensamentos; aparece esse pensamento e ele manifesta muitos outros pensamentos.
Quando você acorda pela manhã, o primeiro pensamento que surge é: “eu”. O “eu” surge, olha para o teto do quarto, para a cama, para o corpo, doente ou saudável, e tudo isso ele mesmo está construindo. Tudo isso gira em torno desse primeiro pensamento: “eu”. Essa manifestação fenomênica dos sentidos está na mente e não há nenhum mundo separado dela, e o Sábio, em seu laboratório, dentro de si mesmo, já descobriu isso. Quando você percebe que o mundo, o universo inteiro, é somente uma manifestação da mente, a partir desse momento você está além dela, não mais se confunde com o corpo e com as aparições em volta dele, que giram em torno dessa suposta entidade, porque isso é somente uma crença, a crença do “eu” e o “seu mundo”.
Neste instante, Você é essa Presença que está em toda parte e não está em lugar nenhum. Então, Você está além do nascimento e da morte, porque o nascimento e a morte são, também, somente um fenômeno do pensamento; está além da saúde e da doença, e além da crença de ser “namorada”, “esposa”, “filha”, “mãe”, “pai”, terminando, assim, os seus problemas de relacionamento. O seu problema de saúde também termina, porque não importa se o corpo está com dor de barriga ou se o pescoço está com torcicolo. Quando não há desejo, o problema da falta de dinheiro também termina, porque o dinheiro é um problema quando se tem muitos desejos. Nossas necessidades são muito simples, mas, como nossos desejos são muito complexos, precisamos de muito dinheiro.
Então, daqui a pouco você vai compreender essa postura do Sábio, quando Ele diz que está tudo bem e no lugar. Ele não se confunde com a mente, com o pensamento, com essa falsa identidade chamada “eu”. Como Você é essa Presença, está em toda parte e em lugar nenhum. Você é essa Onipresença Divina, está além da mente, do corpo e do mundo. Então, eu tenho uma boa notícia para você: todas as suas necessidades são muito simples e, nessa Onipresença, no seu Ser Real, todas elas são preenchidas, porque é Deus cuidando Dele mesmo. Deus não tem necessidades que Ele mesmo não possa suprir. Essa é a Visão do Sábio, por isso está tudo bem, tudo no lugar.
Tudo vem de dentro de Você: todo suprimento, toda provisão, toda completude, e isso é viver em Felicidade, sem sofrimento, conflito e medo. Porém, você tem estragado tudo, pois a sua mente estraga tudo e prefere viver em si mesma, no senso falso desse “eu”. Então, você pensa em resolver seus problemas financeiros, de saúde, de relacionamento, seus problemas pessoais, quer consertar a política no mundo, resolver o problema da injustiça social... Quando começa a se preocupar com tudo isso, você estraga tudo! Você quer fazer o trabalho de Deus! Todos estão querendo consertar um mundo que existe somente na cabeça deles.
O ego é o problema! Ele cria o problema e quer consertá-lo. O Sábio diz: “Seja feita a Tua vontade”, e relaxa. Porque Ele relaxa, todas as suas necessidades são supridas, todos os problemas desaparecem e todo o sofrimento também. Se você acredita que tem que fazer coisas humanas, resolver problemas de seres humanos, é porque você se vê como uma “pessoa”, e é por isso que você tem problemas. Deixe de lado essa crença, esse conceito, de ser uma “pessoa”, deixe isso para quem quiser acreditar que tem que fazer coisas e sofrer. Você nunca vai parar de sofrer enquanto acreditar ser uma “pessoa” no corpo, atendendo aos assuntos de ordem pessoal, seus ou dos outros.
Então, lembre-se: esse corpo apareceu nesse cenário, está desempenhando um papel e, daqui a pouco, ele vai desaparecer, vai passar, como tudo passa, mas você não tem nada a ver com isso. Você não tem nada a ver com o corpo, porque esse corpo não é seu. Você não tem corpo! Você não é o corpo, não é a mente, e isso vai passar, já está indo embora. Então, não brigue com o corpo, nem se agarre a ele. Deixe-o fazer o que ele veio fazer. Não reclame dele, nem o enfeite demais.
Esse é um assunto muito engraçado também, pois enfeitar o corpo é como pentear e maquiar um cadáver, já que a terra vai “comer” toda aquela beleza e ninguém vai ficar apreciando um cadáver. O ego é muito engraçado, ele tem que embelezar até a morte, para a morte ficar bonita, fazer de conta que ela não está acontecendo, mas está. A morte é o fim de tudo. Tudo vai passar, até você! Você também vai morrer! A morte é uma coisa muito bonita, do ponto de vista do Sábio, mas, do ponto de vista do ego, toda morte é uma coisa muito feia. O Sábio sabe que nada nasce, nada morre, mas a mente se desespera, diante da impossibilidade de continuar fazendo peraltices, maluquices.
Portanto, não interfira, não lute, não resista! Renda-se! Entregue-se! Vá além do corpo, da mente e desse sentido do “eu”, assim Deus cuidará de tudo. Essa é a descoberta do “cientista”, que é você, nesse espaço chamado Satsang, nesse “laboratório” que está dentro de você mesmo.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 10 de julho de 2017, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

A não dualidade não está no conhecimento

Um professor de Filosofia se dirigiu a um Mestre Zen e disse: “Eu quero descobrir o que é o Zen”. Assim, começou a cravar o Mestre com perguntas, de modo que terminava uma e já iniciava outra. O Mestre Zen fez um sinal com a mão para que ele parasse de fazer perguntas, foi até a cozinha, trouxe uma chaleira e disse: “Vamos primeiro tomar um pouco de chá”. Assim, colocou a xícara diante do professor e começou a derramar o chá nela, com o professor olhando-o atentamente.
O professor percebeu que a xícara estava praticamente cheia e que o Mestre Zen podia ter parado, mas continuou derramando o chá até transbordá-lo, e continuou a derramar o chá sobre o transbordamento. O professor de Filosofia, acreditando que o Mestre estava desatento, disse em voz alta: “Pare!”. O Mestre Zen parou e o professor continuou: “Já está cheia, até transbordou!”. Ao ouvir isso, o Mestre Zen disse, olhando para ele: “Você quer falar sobre o Zen? Você realmente quer descobrir o que é o Zen? Como isso pode ser possível se a sua ‘xícara’ está transbordando?”. O Mestre continuou: “Como você pode saber o que é o Zen se há tanto conhecimento aí, se você transborda conhecimento?”.
Essa é uma história muito conhecida, não é? Você entra numa sala como essa, mas não vem com a “xícara” vazia, vem com ela cheia. Você não vem a um encontro como esse para sentir, vem para saber. O mundo criado pelo pensamento é o mundo das palavras, dos conceitos, dos opostos, e o conhecimento disso é ignorância. Se você conhece a Si mesmo, não há mais ignorância – essa é a Real Verdade.
A não dualidade é a verdadeira Compreensão, e é sobre Isso que tratamos em Satsang. Quando não há dualidade, há completa Compreensão, e Isso não é algo intelectual, não é um conhecimento, é a natureza da Consciência, do Ser. Contudo, se você tem somente o conhecimento, é como o professor de Filosofia dessa história.
Deus não é um objeto, portanto não é um material de estudo. As pessoas vão a uma faculdade, fazem mestrado e doutorado sobre Deus, o que parece piada, mas não é. Hoje, você pode ter uma formação dessa e tornar-se um “doutor em divindade”. Como você pode ser “doutor” Naquilo que está fora da mente? Como você pode aprender sobre Isso, ser comunicado a respeito Disso ou comunicar Isso?
Tudo que a mente trata faz parte do mundo dos pensamentos, que é o mundo da linguagem e do conhecimento, o mundo dos opostos – eu e “não eu”, certo e errado, Deus e o diabo… Linguagem, conceitos, crenças, conhecimento, tudo isso é parte do mundo das ideias, desse mundo do “sonho”.
Para não fazer o mal, várias organizações estão fazendo o bem, sendo humildes, e isso é louvável, pois é bem melhor fazer o bem. As organizações religiosas, espiritualistas e filosóficas estão na prática do bem, e isso é bom, não é ruim, mas “o ruim” e “o bom” estão no mundo dos opostos, na dualidade. Tudo que posso lhe mostrar é que esse mundo não é real, ou que esse mundo é somente a realidade da mente. O mundo das palavras, da linguagem, dos conceitos, é um mundo dualista e, na realidade, os opostos não existem; parecem existir, somente.
É como a luz e a escuridão. Para você, qual delas é real? Elas parecem existir, e de forma não simultânea – se você tem a luz, não tem a escuridão; se tem o preto, não tem o branco; se tem o negativo, não tem o positivo. Ou seja, quando você tem um, não tem o outro, mas isso só parece ser assim, porque, na verdade, um sempre contém o outro. Na razão em que a luz perde a sua intensidade, a escuridão toma seu espaço; na razão em que a escuridão perde sua intensidade, a luz toma o seu espaço. Então, uma aparece contendo a outra, sempre.
Em colorimetria, a ciência que estuda as cores, é muito claro isso, que não existem o branco e o preto. A soma de todas as cores é a cor branca, e, quando você tem o branco, você tem todas as cores. Todas as cores são derivadas do branco e todas elas precisam do preto, mas onde estão o preto e o branco?
As cores primárias da luz são azul, vermelho e verde. Dessas três cores você tira todas as cores, inclusive o preto e o branco, porque não existe branco nem preto. As cores, assim como as formas, são impressões de luz. É o seu cérebro que identifica essas impressões e as traduz como formas e cores. Então, das cores primárias, derivam todas as outras cores, não é isso? Nessa base, estão as fotos, imagens, vídeos, iluminação de peça de teatro, enfim, tudo está em cima dessas cores básicas, primárias, chamadas aditivas, porque misturadas em determinada proporção formam as cores secundárias, e a junção das três cores primárias, na proporção exata, forma a luz branca.
Isso está tudo no cérebro, é ele que vê e traduz isso, tanto as formas como a luz. Cor é apenas luz, assim como a forma. Esse é o mundo das imagens, das palavras, das formas, das cores, dos anseios, mas o que há realmente além do cérebro e do mundo da mente? O que significa falar da não dualidade, que é algo impossível de descrever, de colocar em palavras?
Aqui, não estamos falando de não dualidade como oposto da dualidade, não é no sentido de uma “antidualidade”. Quando usamos essa expressão, temos que compreendê-la como Aquilo que está além da dualidade, não como um oposto da dualidade ou até uma “antidualidade”. E onde é que isso nos toca? Isso nos toca Naquilo que está presente além do conhecimento.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 14 de novembro de 2020, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Você não é esse personagem que acredita ser

O que fazemos nesses encontros é nos aproximarmos da investigação da Verdade sobre nós mesmos. Todo o nosso interesse está na pergunta: “Quem sou eu?”.
Não podemos ver a Verdade assim como conseguimos ver uma árvore. Não podemos ter acesso à Verdade através dos sentidos. Os sentidos estão acessando experiências dos sentidos; elas fazem parte deles. Ouvir é algo que faz parte desse sentido da audição, assim como ver faz parte do sentido da visão. A Verdade não é algo limitado como uma experiência sensorial. Embora não exclua essa experiência, Ela é algo maior que isso.
Quando falamos da Verdade, estamos falando de uma experiência de Reconhecimento de nossa Verdadeira Natureza, do nosso próprio Ser. Somente assim podemos ter acesso à Verdade, que é acessar a nós mesmos, Aquilo que somos, e Isso está além da mente e do corpo com a sua capacidade de percepção sensorial.
Nosso Ser é a Verdade! É nesse Ser que essa Consciência está presente. Essa é a Consciência do nosso Ser, e é Nela que o mundo aparece, mas também é Nela que o mundo desaparece. Não só o mundo dos sentidos, mas também esse mundo psicológico, esse mundo interno de pensamentos, sentimentos, emoções.
Se o nosso trabalho aqui é acessar a Verdade sobre nós mesmos, precisamos ir além desse mundo – tanto desse mundo externo dos sentidos como desse mundo interno que é o mundo da mente. Dessa forma, podemos ir além da dualidade, além dessa crença de uma existência separada.
Toda complicação surge apenas para aquele que se vê assim, como uma entidade separada, que se vê em conflito, com problemas. E por quê? Porque ele está constantemente se confundindo com um personagem que acredita ser.
Isso seria semelhante a um ator teatral querendo sair de cena e tentando levar o personagem para sua vida real. Ele representou tão bem o papel no palco, estudou tanto tempo aquele personagem, que esqueceu quem ele era de verdade, esqueceu sua identidade verdadeira. A cortina se fechou, a luz do teatro se apagou, todos foram para casa e, agora, ele está no escuro do teatro. Esqueceu que tem casa também, esqueceu que aquilo era só uma peça teatral, esqueceu que tem família, que tem uma filha esperando em casa, uma mulher... Esqueceu, absolutamente, tudo! Ele só se lembra do personagem que acredita ser. Compreendem a confusão?
A sua vida está, exatamente, assim. A única diferença é que a luz do teatro não se apagou, as pessoas não foram embora e aqueles que estavam no palco continuam no palco, representando seus papéis também. Tudo é um grande teatro acontecendo, e todos esqueceram quem são. Todos à sua volta estão vivendo o mesmo drama, o mesmo problema. Todos estão dormindo, hipnotizados, sonhando.
Assim, todos estão se identificando com a história de um personagem, com suas crenças, com ficções políticas, cultura, educação, religião. Cada um vivendo o seu personagem: um é o presidente americano, o outro é o presidente da Coreia do Norte, o outro é o presidente do Brasil... Todos perturbados, mas esses são os papéis deles! Eles têm empregadas em suas casas. Elas lavam suas roupas, limpam as suas casas, fazem a comida para eles... A diferença é só de papéis. Eles parecem ter mais poder do que os seus empregados, mas, do ponto de vista Real, estão tão perturbados, confusos e desorientados quanto eles.
Percebam que isso está acontecendo numa escala mundial, e já vem acontecendo a milhares, milhares, e milhares de anos. Na Índia, eles chamam isso de “Samsara”, que significa a roda da confusão, a roda da desordem, a roda do sofrimento. Isso acontece a todos! Se você não “acorda”, você também continua “dormindo”, e “dormir”, aqui, significa estar no Samsara, dentro dessa confusão; significa não saber a Verdade sobre Si mesmo, não saber quem Você é.
Se não sabe a Verdade sobre Si mesmo, você continua nesse modelo, então você nasce, cresce, se casa, tem filhos, se torna presidente da República, alguém importante e famoso, mas continua miserável, perturbado, desorientado, infeliz.
É necessário acordar! Só assim você poderá voltar para casa e, então, o teatro termina, Samsara termina, a ilusão de ser alguém termina, a ilusão da história desse personagem termina. Quando esse personagem termina, o sofrimento, o medo, a mediocridade e toda essa estupidez de querer consertar o mundo também terminam.
O Samsara não é um assunto seu, é um negócio de Deus, então deixe que Ele cuide disso tudo, dessa aparição, desse sonho. Isso é bastante paradoxal, porque Deus não tem nada a ver com isso, no entanto isso é um assunto Dele; isso não é um assunto seu, mas é totalmente um assunto seu! É paradoxal... Tem que acordar para ver isso! Esse teatro nunca existiu e você nunca existiu como personagem, mas tem que acordar para saber disso.
Quando você acorda, descobre que tudo isso é um grande jogo divino, uma grande brincadeira de Deus. Constatar isso é a Realização da Verdade sobre Si mesmo. Isso é ser Consciência, Felicidade, é conhecer a Si mesmo!
Saber por que nasceu, paradoxalmente, é saber que nunca nasceu!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 02 de junho de 2017, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

A Luz que ilumina a experiência

Nossa noção sobre a experiência que acontece é equivocada. Aquilo que está acontecendo neste instante está sendo visto de uma forma equivocada. Quando você vê algo acontecendo, acredita que é a sua mente que está abrigando isso, que é na mente que está acontecendo aquela ação, aquele acontecimento, assim como os pensamentos presentes, as sensações e as percepções. Na verdade, isso não está acontecendo na mente, mas na Consciência. Até mesmo esse elemento que acredita experienciar isso é apenas uma ideia acontecendo também na Consciência.
Por que começamos a fala dessa forma? Porque, em geral, você acredita que aquilo que ilumina a experiência é a sua mente. No entanto, essa sua mente também é algo presente nessa Consciência. Essa sensação de “mente pessoal”, de “alguém” diante da experiência, é uma ilusão. Você não é a mente, não é aquele que experimenta o que acontece. Você não é uma entidade separada, individual. É muito importante isso!
Toda confusão interna está acontecendo apenas porque você está confuso quanto à Verdade de que Você não é a mente, não é essa entidade presente produzindo e organizando os pensamentos. Os pensamentos que você tem e as experiências pelas quais você passa estão dentro dessa Consciência.
Quando você vê um objeto iluminado, a impressão é que ele tem uma luz particular, mas essa luz que incide sobre o objeto é a mesma luz presente em todo o espaço. Na verdade, quando você vê o objeto, você está diante dessa luz. Não é a luz de um específico objeto, é a luz que torna possível esse e todos os outros objetos em volta daquele ambiente serem vistos. Aqui, quando você tem pensamentos, percepções, sensações ou sentimentos, a ilusão é que tudo isso tem realidade em isso mesmo, mas, na verdade, tudo isso é possível porque a Consciência está presente; é a Consciência que torna possível toda essa experiência.
Essa é uma forma de nos aproximarmos dessa importante questão da desidentificação dessa entidade ilusória, desse “eu” que acreditamos ser. Se esse “eu”, essa sensação de “alguém” presente, é encarado como uma verdade, você está diante de uma ilusão. Esta experiência está acontecendo em razão da Consciência, e Ela é como a luz neste espaço, que torna possível os objetos serem vistos, mas ela não está vindo deles. Assim, os pensamentos que passam dentro de você, os sentimentos, as sensações, qualquer coisa que esteja acontecendo internamente ou externamente é resultado dessa Consciência presente, e essa Consciência é impessoal.
A ilusão comum é que há “alguém particular” vivendo isso – pensamentos, sentimentos, sensações, percepções, experiências –, mas não existe esse “alguém”. A Verdade é essa Consciência. Tudo que é experimentado é a Consciência, e é Ela experimentando tudo. Nada está sendo trazido de fora. Assim como os objetos não estão sendo vistos porque têm luz própria, e sim porque há uma luz sobre eles, nada está vindo de fora. Os pensamentos, as sensações, as percepções, as experiências são possíveis porque a Consciência está presente.
Você se vê como uma entidade separada, a mente se imagina como uma entidade presente no mundo – existe um mundo exterior e um “eu” interior –, e isso é pura imaginação! É como se os dois estivessem ligados e aparecessem juntos, mas isso não é verdade, essa não é a real experiência, essa é a imaginação sobre a experiência. Em nossa verdadeira experiência, como a Consciência que somos, não existe nenhum mundo externo e nenhum “eu” interior. Você tem presente o pensamento, o sentir, o ver, o ouvir, o saborear… Assim, as percepções e as sensações estão presentes, mas elas estão presentes nessa Consciência, e não na mente para um “eu” interior. É importante isso! Toda essa tagarelice interna que acontece em você, toda essa desordem emocional e psicológica está presente e sendo a cada dia confirmada porque você não está atento a essa Consciência. Você está se identificando e se perdendo na ilusão de estar vivendo, como uma entidade separada, a experiência desse “eu”.
Na razão em que você começa a observar a experiência, seja ela um pensamento, uma sensação, uma emoção, ou o ouvir, o olhar, você irá descobrir que isso não está separado dessa Consciência. Não há uma entidade presente vivendo isso! Então, quando isso ocorre, você começa a se desidentificar dessa suposta entidade pensando, sofrendo, vendo ou ouvindo. O fundo desses sentimentos que o ego conhece como tristeza, preocupação, angústia, mágoa, ressentimento, e por aí vai, é sempre a ilusão de uma entidade presente pensando, pensando sobre o passado ou sobre o futuro. Isso não é real! Nenhum pensamento é pessoal, nenhum sentimento é pessoal, assim como nenhuma sensação ou percepção é pessoal.
Quando um som é escutado, há todo um aparato tornando isso possível. Quando um pensamento acontece, existe um mecanismo que torna isso possível. Há uma forma disso acontecer. Reparem que todo pensamento é memória, você não conseguirá produzir um pensamento que não seja memória. Talvez você diga: “E se eu pensar sobre o futuro?”. Você não pode pensar sobre o futuro! O pensamento pode imaginar um futuro, mas você não pode produzir um pensamento. Nenhum pensamento você produz, ele é um evento acontecendo. Você não só não produz pensamentos como também não se livra deles. Isso deveria lhe mostrar que esses pensamentos não são seus, que não tem “você” presente.
Se eu lhe perguntar o que você irá pensar daqui a 2 minutos, você não terá a resposta, porque você, aí dentro, já percebeu que não produz pensamentos, eles só acontecem, e quando eles começam a acontecer, você também não consegue se livrar deles quando deseja, porque eles não estão sob o seu controle. E por que não? Porque pensamentos são aparições, fenômenos que surgem na Consciência, e há um aparato que torna isso possível: a memória. Pensamento é memória, que produz a imaginação do futuro e a recordação do passado.
Então, o seu sofrimento, a sua confusão, a sua desordem interna, não tem nada a ver com o que Você é. Na realidade, é uma desordem desse aparato, dessa mecânica, desse modo como esse mecanismo aí funciona. Não é Você! É uma desordem nesse corpo-mente.
Nessa Consciência, que é a sua Natureza Verdadeira, não há desordem, não há pensamentos, não há sensações, ou percepções, ou emoções. É como a luz que torna tudo visível. Compreender isso é fundamental! Todo esse desajuste interno é uma desordem do falso “eu”. Essa Consciência é a Realidade Única, é a Única “Coisa” real na experiência. Essa Consciência é a Realidade dessa Luz em todas as aparições. O que você está vendo e sentindo sobre o mundo – e aqui, quando eu digo “mundo”, me refiro às suas relações, àquilo que você está vendo e sentindo sobre o outro – não é a representação real dele. O que você está vendo e sentindo é uma representação de uma imagem, de uma ficção, de uma imaginação.
Por que será que os Sábios, esses Seres Realizados de todos os tempos, usaram sempre a palavra “Amor” para denotar essa Realidade Absoluta? Porque Amor é o nome que podemos dar à experiência livre da interpretação, das imagens, do “outro”, Aquilo que poderia ser chamado de “não alteridade”, o que significa que não há o “outro”. Amor é essa Consciência – Ela merece essa palavra! “Não há outro” é a não alteridade, é a Consciência. Isso é Amor! Amor é Paz, Liberdade, Felicidade...
Você não pode viver essa Realidade do Amor se está nessa confusão interna; se não está esclarecido sobre essa Realidade da Consciência, que é Você; se ainda se identifica com emoções, pensamentos, percepções e sensações. Esse é o estado comum da “pessoa”. A “pessoa” é a desordem, a confusão, o sofrimento, a noção do “outro”, a noção de alteridade, a ilusão do “outro” presente.
Aquilo que pode lhe revelar a Verdade dessa Consciência, dessa Verdade, desse Amor, dessa não alteridade, é a Meditação. Você em seu Estado Natural é Consciência! A minha recomendação para você é que descubra o que é viver livre dessa condição de desordem psicológica. Em outras palavras, descubra o que é viver livre da mente, de tudo que ela representa. Descubra o que é viver livre desse falso “eu”, desse sentido de egoidentidade. Então, você estará nesse Espaço, que é o seu Espaço, de Pura Consciência. De outra forma, tudo é loucura.
Sua Natureza Real não conhece sofrimento, mas sua condição artificial de vida, assentada nessa ignorância sobre a Verdade de Si mesmo, é o que sustenta o sofrimento, aquilo que você chamaria de infelicidade. Portanto, nosso trabalho juntos é para que você tome ciência Disso, da Verdade que Você é, Daquilo que Você traz como sua Verdadeira Natureza, sua Identidade Real.
Assim, essa Libertação da mente egoica, do sentido desse falso “eu”, é algo possível quando termina essa representação ilusória da Realidade. Isso é o fim para essa autoimagem, para essa falsa imagem, para essa representação desse mundo imaginário que o pensamento produz, para essa interpretação que você tem com base nessa imagem. Há algo mais para se dizer? Eu lhe recomendaria parar de pensar, então essa perturbação desaparece.
Você tem uma casa e não a limpa, então, com o tempo, ela vai ficando empoeirada. Primeiro, uma impureza delicada e não tão aparente. Depois essa impureza se torna uma sujeira, ainda não tão aparente, que facilmente se disfarça. Depois essa sujeira se torna mais pesada e, com o passar do tempo, insetos começam a se sentir muito à vontade morando com você. Primeiro as formigas, depois as baratas, depois os ratos encontram também um espaço para eles como hóspedes na sua casa, e a coisa vai ficando cada vez mais grave.
Quando não há espaço, porque não há pureza (pureza é limpeza) interna, seu cérebro se torna um hospedeiro também, de emoções, sentimentos, sensações, pensamentos. Eu lhe recomendo uma faxina rápida! Existem aqueles que não conseguem nem mesmo se aproximar do que estamos falando aqui, tem uma grande dificuldade até de acompanhar uma fala dessa. Soa tão abstrato, tão fora do senso comum deles! Por que será que isso acontece? Porque não há ressonância. E por que não ressoa? Por falta de uma faxina. Em geral, o ego é muito barulhento, desordeiro e empoeirado.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 21 de setembro de 2020, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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