quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Consciência: A luz de toda manifestação

A Verdade é a própria Luz de toda manifestação, e sempre falo da Verdade como sinônimo de Consciência. Quando há Consciência, a Verdade está presente, e Consciência é muito mais do que estar consciente. Para alguns, essa noção de Consciência é a de estar consciente, em oposição ao estado de desmaio ou de sono profundo, por exemplo, os quais chamamos de “estados de inconsciência”. Não é nesse sentido que uso essa palavra. Consciência, para mim, é a Luz de toda manifestação, e isso está além de estar consciente ou inconsciente.
Vocês acreditam que alguém em sono profundo, ou em desmaio, está inconsciente porque lhe falta Consciência, mas isso não é verdade. Essa Consciência é anterior a “estar consciente” e, naturalmente, anterior a “estar inconsciente”. É bastante difícil aceitar, na mente, que não existe inconsciência. Há somente essa Consciência! Quando a mente não tem ciência de algo, você chama isso de inconsciência. Isso é um assunto bastante interessante... Em sono profundo, o que você chama de “estar inconsciente” é a mente estando não ciente da experiência do mundo. Contudo, a Consciência sempre está presente, além dessa ciência ou não ciência do mundo.
Toda a manifestação é a expressão dessa Consciência, mas Ela é anterior à percepção dessa manifestação. Noutras palavras, a Verdade nunca deixa de ser O que Ela é. Ela nunca desaparece no desmaio, no sono profundo ou na morte. Ela nunca deixa de ser O que é: Consciência. Então, vocês precisam parar de se assustar com essa noção sobre a morte, com o desaparecimento do corpo ou da noção do mundo, acreditando que tudo acabou, pois, nessa Consciência, que é a Verdade, nada teve início e nada termina.
Essa Consciência, a Verdade que Você é, é imutável, não está sujeita a mudança. Apenas a experiência da mente é de mudança, e é isso que você chama de “estar consciente”, mas não tem nada a ver com a Verdade. Quando você acorda pela manhã, esse “estar consciente” amanhece, mas essa Consciência não precisa do “estar consciente”. Essa Verdade que Você é, está além desses estados de vigília, sono, sono profundo, inconsciência ou consciência (nesse sentido de “estar consciente”).
Quando você acorda pela manhã, tem esse estado chamado de "consciência", que é quando você percebe o corpo, o mundo, a mente. Porém, isso tudo são apenas aparências nessa experiência mental, onde os sentidos (audição, visão, tato, olfato, paladar) estão a serviço da mente. Esses sentidos também fazem parte da mente, do sonho, assim como esse mundo que você percebe, mas repito: isso são apenas aparências, nada disso é Você, o que Você é. Identificar-se com qualquer uma dessas experiências termina dando essa noção, essa sensação, de uma identidade individual, separada, que é a base do medo, de toda busca, todo sofrimento, toda confusão, e esse é o estado da mente egoica. É tão claro isso que ninguém, em sono profundo, tem qualquer preocupação de deixar de estar vivo, da possibilidade de perder a vida, morrer. Não há medo em sono profundo, porque não existe o “sonho” criado por esse sentido de separação, em que há essa ilusão de uma identidade presente.
Essa é mais uma fala para ver se você consegue soltar essa preocupação psicológica com essa identidade tão apavorada, assustada. Quando você está sob efeito de uma anestesia, toda essa experiência de “ser alguém” começa a diminuir, diminuir, até desaparecer completamente e, depois disso, não há nenhuma falta, não há nada assustador, preocupante. Isso mostra que essa chamada “consciência” é algo muito transitório, vem e vai com a mente. Quando a mente está presente, os sentidos estão trabalhando bem, e aí está o que você chama de “vida consciente”. Quando isso é interrompido pela anestesia, desmaio ou sono profundo, fica tudo em paz.
Todo esse senso de existência é somente uma aparência. Quando você sai do sono profundo, do desmaio ou da anestesia, que aqui é se tornar consciente do corpo, da mente e do mundo, fica muito claro que algo existia antes, estava lá, antes dessa experiência de estar consciente, senão isso não seria possível. Ou seja, não seria possível você estar consciente agora se antes já não houvesse uma Consciência. Isso é muito básico: você está voltando e, se está voltando, é porque estava em algum lugar.
Participante: E onde estávamos?
Marcos Gualberto: Você é O que é, e é aqui que você esteve, está e estará. É apenas a presença da mente que está chegando e partindo, não Você. Isso é fascinante, de grande beleza! Por isso que eu disse que essa Consciência é a Luz da manifestação. Agora ficou mais claro. A Consciência, que é a Verdade, é anterior a toda manifestação, é a Luz dessa própria manifestação. É belíssima a Compreensão disso! Mesmo acompanhar isso de uma forma intelectual é bastante interessante. Você não pode deixar de ser O que Você é, assim como Você não vem a ser o que não é. Noutras palavras, Você nunca nasceu, portanto não pode morrer. É tremendo isso tudo, é algo de grande beleza!
Participante: Quando a gente toma anestesia, não tem nada, desaparece tudo. Como você vive nesse mundo, se relaciona, toma decisões, sendo esse Nada?
Marcos Gualberto: A partir dessa Natureza Essencial, dessa Fonte, que é Algo não conceitual. Esse senso de presença consciente surge, essa sensação de ser e de experimentar surge, e é isso que, por si só, funciona no mundo. Não é necessária a ilusão de uma identidade presente para que essa presença consciente e essa sensação de ser estejam aí trabalhando, funcionando. Então, aqui, nessa descoberta da Meditação, de sua Essencial Natureza, que é essa Consciência e a Luz de toda a manifestação, quando Isso está presente, essa ilusão do sentido de separação fica dispensada.
Você, como Consciência Absoluta, como Real e Verdadeira Luz dessa manifestação, é anterior a ser e a não ser, anterior ao corpo e ao mundo, ao manifesto e ao não manifesto, da dualidade e da não dualidade. Vocês acham que o Sol conhece a sua própria luz? O Sol é luz absoluta, mas ele não conhece sua própria luz. Essa Consciência Absoluta é Absoluta Realidade. Aqui, estou usando o Sol como figura de linguagem, mas somente no sentido de que ele não necessita de sua própria luz e não tem ciência dela. Essa Consciência Absoluta está além do conhecer e do não conhecer, e é nesse sentido que eu comparei essa questão da luz do Sol, não no sentido de estar consciente ou não, mas no sentido de não necessitar de luz, porque ele já é pura luz.
Você em seu Ser, como Consciência Absoluta, é a pura Luz, é a Luz da própria manifestação, então é imperecível. São apenas o corpo e o mundo que desaparecem; é a mente, a ideia “eu sou”, que desaparece. Você é, e isso é a Luz de toda a manifestação, a Consciência não conceitual. Essa Realidade está além de todas as características, expressões, definições. Despertar para essa Natureza Essencial, que é essa Identidade Essencial, é se descobrir se movendo no Reino do Absoluto, onde os fenômenos não têm toda essa importância que a mente egoica procura dar.
Sua Natureza Essencial é anterior a essa “consciência de ser”. Simplificando a coisa: há Algo em você que conhece essa sensação de estar consciente, de estar presente, mas o que Você é, está além dessa sensação, e é isso que estou dizendo. Esse Algo é sempre incognoscível, indefinível, indescritível, inominável. Então, há uma certa tentação de acreditar que esse Natural Estado de Ser é um estado de paz e felicidade, que aqui é o contrário de conflito e guerra, do ponto de vista da mente, mas o Estado Natural está além dessa “paz” e dessa “felicidade” que a mente imagina. Tudo que a mente conhece é por contraste e experiência. Se ela imagina a paz, a felicidade, é com base na sua experiência de conflito e guerra, então isso ainda não é a Verdade. Essa não é a Paz, a Felicidade, e assim vale para o Amor, pois o que a mente conhece como “amor” é sensação, prazer.
O que a mente conhece é sensação, e todos esses estados são objetivos, vêm e vão, aparecem e desaparecem. Por exemplo, você está feliz hoje e amanhã já estará triste; está em paz agora, mas daqui a pouco acontecerá algo e você perderá isso rapidamente. Isso é tudo o que você conhece. Contudo, O que Você é, está, evidentemente, além de tudo isso, além desses estados. Em algum momento, em Satsang, pode haver uma ressonância, algo apontando para essa Dimensão, porque existe um certo contato, mas logo a mente volta e ocupa de novo o espaço dela, então começa a traduzir, interpretar tudo, de forma objetiva e subjetiva. Isso é automático e tudo que a mente sabe fazer é viver de experiências.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 27 de Abril de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Um belíssimo jogo

A vida é um belíssimo jogo! Se você vê isso com clareza, é assim que ela parece: uma grande peça, um grande jogo, onde a Consciência desempenha todos os papéis. Aqui, o fato é que “você” desempenha papéis e está nesse jogo sem conhecer a sua Identidade Verdadeira, então ele se mantém oculto. Às vezes, como parte dessa grande peça, existe um Reconhecimento de sua Natureza Verdadeira, e estar em Satsang é a grande oportunidade para Isso.
Agora mesmo, estamos vivendo uma problemática mundial, pois estamos numa verdadeira guerra, na nossa “Terceira Guerra Mundial”, contra um exército invisível de vírus. Essa é uma problemática de saúde do planeta, mas não conseguimos encarar isso como um jogo, uma peça, uma representação divina. Na mente, você vê isso como um terrível drama, porém, quando o Show é visto, não é essa a visão. Quando o Show não é visto, tudo isso é encarado como um drama, e por quê? Porque você costuma desempenhar papéis sem conhecer sua Natureza Verdadeira, sua Real identidade.
Quando esse envolvimento com os papéis acontece e não se sabe que isso é um Show, isso tudo é levado muito a sério, então temos o drama, o pesado drama da vida. O seu envolvimento como um personagem nessa peça, ou nesse Show, sem o Reconhecimento da Verdade, é algo levado muito a sério. Todos os dramas da vida parecem surgir da falta desse Reconhecimento, ou seja, todo o seu problema é somente da “pessoa”. Em outras palavras, a ideia da “pessoa” é a inconsciência sobre o Show.
Quando se percebe o personagem, ele não desaparece, é apenas reconhecido como tal; não acontece um flash de luz e ele desaparece. Alguns imaginam a Iluminação como algo assim, um flash de luz, e é por isso que existe essa “iluminação” em massa acontecendo ao redor do planeta. É claro que aqui estou sendo irônico, porque isso é somente parte do drama da egoidentidade, pois o ego não se ilumina, mas pode se ver, se imaginar, “iluminado”. Por exemplo, há pessoas que vestem trajes laranja, ou colocam algum tipo de roupa especial, carregam na mão um japamala, que é uma espécie de terço de contas, deixam a barba crescer ou raspam a cabeça por completo, e “se iluminam”. Como isso está acontecendo ao redor do mundo, essas pessoas começam, também, a fazer discípulos e a ensinar a eles as “verdades espirituais” que elas conhecem. Isso, também, é parte de um papel que o personagem pode representar, sem ter a mínima consciência de que está numa representação e completamente inconsciente de Si mesmo.
Existe, porém, um outro aspecto desse Show, que é quando há um claro Reconhecimento da Verdade sobre Si mesmo, e é provável que esse aparente personagem continue a levar o que parece ser uma “vida comum”. Não é necessário que esse aparente personagem conte a outros que não existe nenhum personagem real e que esse Show também não é real, mas somente uma representação teatral, uma grande brincadeira divina. No entanto, há também a probabilidade de ele começar a comunicar Isso. Agora, estamos falando do Sábio, do Ser Realizado, não mais daquele que está se enganando e, naturalmente, enganando outros, sem nenhuma consciência dessa inconsciência.
Todos acompanham isso? Está claro? Então, a Liberdade é Algo singular, é o Reconhecimento do Show. A Consciência se reconhece como parte do Show e como a produtora dele todo, nesse ou naquele mecanismo humano − esse é o Real Despertar. O Desperto, o Ser Realizado, o Sábio, pode comunicar Isso a outros, ou não, e se esses outros recebem de verdade essa comunicação, também podem chegar a esse Reconhecimento, a esse mesmo Despertar.
Outro ponto aqui sobre essa peça, esse jogo, é que isso tudo está acontecendo sem um propósito espiritual ou evolutivo, como a mente gosta de fazer parecer. Para a mente, tudo tem que acontecer dentro de um propósito evolutivo, espiritual, ou de qualquer outro propósito que ela queira criar. Contudo, essa peça não tem propósito, é somente um entretenimento cósmico, uma festa sagrada, divina! A Consciência Suprema, a Verdade Divina, Deus, ou outro nome que você queira dar para o Autor de tudo isso, está em um entretenimento cósmico, um entretenimento fenomênico, autoproduzido.
Nesses dias, chamei isso de “uma piada cósmica que Deus está contando para Si mesmo”, mas só não lhe disse como é que Ele acha graça disso... Ele acha graça quando você pode rir disso! Então, é um entretenimento para fazê-lo rir, mas você pode rir somente se Acorda e vê o jogo, a peça, ou seja, quando consegue ver o entretenimento divino acontecendo. Se isso não acontece, no lugar disso você vê um drama. É difícil você aceitar a realidade disso tudo, porque não tem os olhos da Consciência para ver o que acontece. Na mente, o que chamamos agora há pouco de “Terceira Guerra Mundial” é encarado como um horror, mas não é visto assim sob os olhos da Verdade.
Há somente Deus fazendo tudo, quer sua mente compreenda isso e aceite ou não. Não há nada fora dessa Consciência, ou, em outras palavras, não existe nada acontecendo fora dessa Vontade Divina − essa é a visão do Sábio, do Ser Realizado. O fato é que tudo isso é um grande jogo divino, sendo que Você é esse jogo e não existe nenhuma existência separada Disso que Você é, de sua Natureza Verdadeira, Real. A beleza desse encontro chamado Satsang, que significa encontro com a Realidade, com a Verdade, é a possibilidade de conseguir perceber o jogo, o que está por trás, e a beleza de tudo isso. É um jogo fascinante! Nascer e morrer faz parte dele, mas é difícil perceber isso.
Estamos tratando em Satsang da Vida como Ela é, não como você, em sua mente, acredita que deveria ser. A Vida é sem todo esse conteúdo de pensamentos, é algo além de todos os conceitos, crenças, ideias, julgamentos, opiniões, de toda essa noção de justiça e injustiça, de verdade ou ilusão. O Florescimento da Verdade sobre Si mesmo, a Constatação da Realidade, do Show, do jogo, os Sábios chamam de Liberação. Isso é o fim da ilusão desse sentido de dualidade “eu e o mundo”, “eu e o outro”, “eu e a vida”, “eu e o divino”, porque isso não tem espaço na Realidade, é apenas um espaço de representação, de teatro, de Show, o que, em última instância, não é real.
É difícil acolher isso como sendo real, porque sua perspectiva de realidade é a da experiência da mente. Porém, a Vida está além do pensamento, da imaginação e de todos os conceitos que a mente possa produzir. Identificar-se ilusoriamente com um personagem é se confundir com uma crença, pois esse “eu” é um senso psicológico imaginário, apenas uma aparência, uma aparição na Consciência. Sua vida ilusória está assentada nessa base falsa, na crença desse “eu” psicológico, dessa identidade psicológica, dessa fantasia. Estar se identificando com esse “eu”, com esse senso psicológico de uma identidade, é estar se confundindo com uma imaginação.
Eu quero convidar você a permitir a Vida ser O que Ela é. Então, ao invés desse esforço para se livrar desse drama, que aqui é essa ideia de que você pode morrer contaminado pelo coronavírus, quero convidá-lo a se livrar desse esforço, livrando-se da ilusão de que você é “alguém”, que tem qualquer poder para controlar alguma coisa, como a vida ou a morte. Quando você está completamente livre do sentido do “eu”, da ilusão dessa identidade na experiência do viver, Você é um ser Realizado, Desperto, livre do sentido de separação.
Reparem que não estou falando de uma experiência. Agora há pouco, eu disse para você que alguns personagens podem se imaginar livres da ideia de serem “personagens”, mas continuar sentindo-se como tais. Você pode até ter um vislumbre de que não existe nenhum personagem presente, nenhuma identidade presente nessa experiência, mas toda experiência desse tipo vem e vai. Quando essa experiência, o vislumbre, está presente, surge a imaginação de se estar liberto, mas depois esse antigo “eu” volta e, nesse momento, fica claro que isso era somente uma crença também, mais uma experiência, e não é disso que estou falando.
Estou falando de Algo Real, que se assenta aí como seu Natural Estado de Ser, aqui e agora, não da “sensação de iluminação”, da “experiência de iluminação”, não da percepção temporária de que tudo isso é um grande Show, sem alguém presente aqui e agora. Não estou falando de uma experiência, mas sim de um mergulho irreversível, sem volta, onde o mergulhador desaparece no Oceano da Realidade.
Portanto, não se trata de um esforço para se livrar do pensamento ou da imaginação “eu sou alguém”, ou para se tornar “alguém iluminado”. Na realidade, é algo bastante perigoso o esforço para se “iluminar”, porque, ao se esforçar em direção a isso, você termina “se iluminando” mesmo. Ou seja, você cai noutra armadilha, pois antes era uma “pessoa sem iluminação” e, agora, é uma “pessoa iluminada” e continua inconsciente do Show, do jogo, porque ainda se confunde com um experimentador, com “alguém” presente aí. A Iluminação é o fim da ilusão de “alguém” presente, é a Consciência na Consciência, pela Consciência, em seu entretenimento divino, sua peça, seu jogo, onde não tem ninguém.
Então, Iluminação é permitir a Vida como Ela é, sem “alguém” dentro do Show, da peça, sem todo esse esforço para se livrar do “eu”, ou alcançar alguma coisa, sem esse estado que alguém chama de “iluminação”. É disso que estamos tratando em Satsang. Agora, neste momento de reclusão, cada um em sua quarentena, é uma oportunidade para se observar isso.
Esse descanso, ou essa rendição, essa entrega à Vida como Ela é, não acaba com a vida do corpo. A Vida continua a acontecer, mas ela não fica mais sobrecarregada pela complicação da imaginação, do pensamento. Eu chamo Isso de Estado Natural de Felicidade – a Vida, aqui e agora, sem toda essa representação imaginária que o pensamento produz, criando uma sobrecarga enorme de uma identidade falsa, ilusória, que é chamada de “eu”.
Nesse Estado Natural, não há mais a busca por algo, como paz, amor, felicidade, porque Paz, Amor, Felicidade e Consciência já estão aqui e agora, como a própria Vida! Estou falando de Você e de sua Natureza Verdadeira. Você é Isso, é Consciência, seja qual for sua aparência. Você pode ser gordo, magro, alto, baixo, não faz a menor diferença. Aqui, não estou falando daquilo que é aparente, mas Daquilo que está além das aparências. Você é Consciência!
As aparências podem aumentar, diminuir, mudar, se transformar, podem aparecer e desaparecer. Por exemplo, aparecem quando as crianças nascem e desaparecem quando as pessoas morrem, mas são somente aparências. As formas estão desaparecendo naquilo que chamamos de “morte”, nessa coisa que denominamos “guerra contra o vírus”, mas tudo se desenrola dentro dessa Consciência, dessa Realidade Suprema, e tudo isso é simplesmente a história da peça, do Show. Vou terminar dizendo isso: tudo o que você está vendo, tudo o que acontece, é apenas parte da história do Show, do jogo.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 27 de Março de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sábado, 21 de novembro de 2020

O Seu Coração é Deus

Não é a fala que importa em Satsang. A fala é uma forma de termos uma aproximação Daquilo que, de fato, importa neste encontro, que é esta Presença, esta Consciência, que não fala português, inglês ou qualquer outro idioma; sua linguagem é do Coração, do Silêncio.
Há algo presente em todos vocês que precisa estar em contato com a Realidade, e esse “algo presente” é o Coração. Quando, no Coração, esse contato não está presente, há uma dor. Todos vocês estão neste encontro porque há uma dor presente, há uma busca por esse contato com a Realidade. Sua Natureza Verdadeira é Felicidade, e é Isso que todos anseiam. Não existe nada que consiga colocar fim a essa dor a não ser o contato com a Realidade, que é o contato com a Felicidade.
O sentido de separatividade é a causa dessa dor. A falta desse contato com Aquilo que Você é, é a causa da dor presente, a dor da separatividade, a dor da ignorância. A mente egoica carrega essa dor e não consegue se livrar dela. Enquanto você mantém esse sentido de afastamento de Deus, da Verdade que você traz em seu próprio Coração, essa dor continua.
Você tem feito de tudo para abafar essa dor, para fazê-la desaparecer, mas isso jamais dará certo. Não adianta se casar, conseguir um marido, uma esposa, filhos, uma casa bonita, porque nenhuma realização externa pode colocar fim a essa “dor no Coração”. Somente Deus pode fazer isso! Por isso, alguns chamam essa Realização de “sua Verdadeira Natureza”, que é a Consciência da Realização de Deus.
Realizar O que Você é, essa Consciência, essa Presença... só Isso Apazígua, traz Quietude e Amor ao Coração, porque Isso é o fim da dualidade. A dor está toda no sentido de separação. Enquanto houver o sentido de separação, haverá alguma forma de medo – medo de perder o que ganhou, medo de perder a vida que você acha que é sua, e isso é sofrimento.
Esse imaginário "eu" está sempre procurando Paz, Felicidade e Amor do lado de fora, em objetos, em pessoas, em situações, em viagens, no entanto Isso jamais será encontrado nesse sentido de existência separada. A própria busca de Paz, Felicidade e Amor é o sofrimento.
Não há Sabedoria alguma em viver na mente. Viver na mente é muito estúpido! Não assumir a Verdade de sua Natureza Real é muito estúpido! Você está aqui, neste momento, para ser Sábio, para viver o Amor, a Liberdade e a Felicidade, e isso é sinal de Sabedoria. O estresse, a ansiedade, a segurança em objetos, em pessoas, em realizações externas, nada disso é sinal de Sabedoria, porque não há real segurança no lado de fora. A Vida é esse movimento de grande beleza, mas Nela não há nenhuma segurança. A mente estúpida, a mente egoica, está na procura dessa segurança e, por isso, tem esse movimento para fora. Isso é tudo o que ela conhece.
Nesse “sentido de separação”, não existe fim para essa busca, então o sofrimento permanece, também, sem um fim. Portanto, é necessário que aconteça o final dessa busca, e, quando isso ocorre, a mente retorna para a Fonte, que é o Coração, então essa Presença, essa Consciência, se apresenta como Real Inteligência e não há mais estupidez. Agora, não há mais medo, não há mais ignorância, não há mais dor. Essa busca de Paz, Felicidade e Amor no lado de fora, em objetos, em pessoas, no mundo, não está mais presente. O único lugar onde você repousa, descansa, em que você é real, é em Si mesmo, no Coração. O único Espaço onde você se reconhece como pura Realidade, pura Liberdade, como Aquilo que é Eterno, é no Coração.
Quando não há mais essa crença, quando o sentido de separação se dissolve, quando esse sentido de distância desaparece, o Amor está presente, a Verdade está presente, a Beleza está presente. Você está aqui para Realizar Isso! Você está aqui para ir além desse sentido de separação, dessa crença, dessa distância fictícia, dessa ilusória distância entre “eu e Deus”. O seu Coração é Deus, Ele não está no céu! Você nasceu para a Felicidade, nasceu para a Liberdade, nasceu para conhecer Deus, e conhecer Deus é se conhecer Nele!
A Revelação ou a Compreensão dessa Verdade produz o colapso da ilusão do sofrimento. Todos os conflitos dentro de você se projetam para fora, num mundo criado pelo pensamento. Todos os conflitos entre indivíduos, nações, comunidades, pessoas, tudo isso está assentado nessa ilusão do sentido de “alguém” presente, esse "eu", esse "mim". Não existe isso! Todos os conflitos estão dentro desse sonho chamado "sentido de separação". O sofrimento dessa aparente entidade presente se reflete em um aparente mundo externo – esse é o sonho, todo o pesadelo dessa egoidentidade, essa “dor no Coração”.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 15 de Maio de 2017 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Tudo é um grande jogo

Para mim, tudo é um grande jogo. Se a Vida é vista com clareza, você pode ver esse grande e maravilhoso jogo divino, e todas as representações, todos os papéis, fazem parte dele. Se você conhece e percebe Isso, todo sofrimento termina.
Porém, se não existe uma Compreensão direta do seu próprio Ser, de sua Natureza Real, esse jogo toma uma seriedade muito grande, que é quando há o envolvimento desse personagem que você acredita ser. Todos os dramas que você tem na sua vida possuem base nessa ignorância, nessa falta de reconhecimento do seu Ser Real. Então, se o jogo não é visto como ele é, você se vê como uma entidade separada, vivendo o drama da vida, dessa complexa existência. É assim que a mente encara a vida − um grande drama.
Os Sábios chamam isso de “ilusão da ignorância”. Ou seja, não falta a Compreensão, mas existe uma ilusão de se ignorar Isso. Se você ignora o Conhecimento, a Verdade, que é a pura Compreensão, você está vivendo na ilusão da ignorância, na ilusão desse desconhecimento, desse não reconhecimento. Por isso que podemos chamar isso de “ilusão da ignorância”, pois não há nenhuma ignorância.
É nessa ilusão da ignorância que o sentido de separação vive os dramas que ele mesmo produz, e é tudo imaginação, fantasia, falso. Isso não é real porque a sua Natureza Essencial é Sabedoria, Compreensão, Consciência, e esse é o maravilhoso jogo Divino – a Consciência “inconsciente de Si mesma”. A Consciência não pode estar inconsciente de Si mesma, no entanto, parece ser assim. É por isso que eu chamo isso de “jogo maravilhoso”. Essa é a visão do Sábio sobre isso tudo.
Então, você vem parar em Satsang para descobrir que Satsang já é a sua Natureza Real, mas você roda muito, caminha muito, até parar, e aqui está a brincadeira, está o jogo. Por isso a Verdade soa de forma paradoxal: não há o que ser encontrado, nada para se buscar, no entanto você não pode partir de uma crença desse tipo, porque acreditar nisso ainda faz parte da ilusão da ignorância. Não adianta você acreditar no que os Sábios dizem, pois isso será somente mais uma crença nessa ilusão da ignorância. É preciso investigação; uma cuidadosa, paciente e dedicada investigação disso tudo.
Essa investigação é mais que uma averiguação intelectual, é uma descoberta de todo esse truque, de todo esse jogo, dentro de si mesmo. Quando você descobre o jogo e sabe que tudo isso é ele, não há mais drama. Contudo, se você não o descobre, não há nenhum jogo, então tudo continua sendo somente um drama, pois, para a mente egoica, tudo é um grande drama, tudo é contraditório, difícil e doloroso. Então, quando sua Natureza Verdadeira se torna óbvia, clara, esse personagem, que você acredita ser, desaparece.
Algumas pessoas ao redor do mundo colocam aquelas roupas laranjas, praticam diversas formas de exercícios, que eu chamo de práticas espirituais, mas isso é apenas um personagem vestido de laranja e, agora, fazendo alguma coisa. Ou seja, um personagem continua presente. Não dá para se livrar da ilusão da ignorância através de práticas esotéricas, místicas ou espiritualistas, ou através de muita leitura, muitos estudos, já que dessa forma o personagem continua presente. Se esse personagem não é visto, o jogo não é reconhecido, então ele não desaparece, apenas modifica seu modo de trabalho, de operação. Assim, antes ele tinha uma vida ordinária, comum, mundana, e agora ele tem uma vida espiritual, santa, envolvida com as práticas, com as virtudes, com a espiritualidade.
Essa fala não se trata de um ataque às práticas da espiritualidade, estou apenas dizendo que isso não é suficiente. Aliás, isso pode se tornar um grande impedimento, porque uma coisa é o “ego viciado”, outra coisa é o “ego virtuoso”. Então, assim como existe o “ego viciado” e o “ego virtuoso”, existe o “ego mundano” e o “ego espiritualizado”, e o jogo continua. Ou seja, você é o seu jogo! Toda essa “história de sua vida” termina acontecendo dentro desse jogo, ou ele próprio é essa “história de vida”. Dessa forma, a Vida não pode ser O que Ela é, porque há sempre resistência, há sempre uma ilusão presente, tentando mudar, moldar, alterar, modificar, rejeitar a Vida, o que se apresenta. Então, nunca há um descanso. Você nunca descansa na Vida como Ela é.
Você é Consciência, e o que quer que esteja presente, aparecendo nessa Consciência, é apenas o jogo Divino, e Isso é O que é, e está perfeito. Porém, o ego não encara dessa forma, a mente não vê dessa maneira. Então, como isso tudo pode ser visto? Não é possível reconhecer diretamente isso sem uma desidentificação desse movimento interno da mente, dessas ilusões que o pensamento cria. Sem essa desidentificação, você não pode ter esse reconhecimento do seu Ser Real.
Então, a vida mundana ou a chamada “vida espiritual” não têm relevância para essa Clareza, para esse Despertar, porque ainda são parte do jogo. Se a presunção é sempre de uma individualidade presente, mesmo que ela esteja melhorando, aperfeiçoando-se, tornando-se mais pacífica, mais humilde, mais virtuosa, a ilusão continua. Portanto, não adianta se espiritualizar, embora eu saiba que, no fundo, alguns de vocês tinham o sonho de se tornarem uma pessoa espiritualizada.
Lembro que, há mais de quarenta anos, havia essa ideia aqui também. Quando eu estava com dezessete ou dezoito anos, havia uma crença presente e um “eu” dentro dela. Eu acreditava que estava faltando espiritualidade ou espiritualização. Meu Guru apareceu cinco ou seis anos depois e aí ficou claro que não se tratava de me espiritualizar, de ser mais espiritual, pois eu já era bastante espiritual nessa época. Ser espiritual não é complicado, bastam alguns anos de prática.
Quando você nasce numa família religiosa, cresce aprendendo, desde o berço, como se tornar uma pessoa melhor, uma boa pessoa, que não fuma, não bebe, não tem vícios, então foge ou se separa do mundo, mas a questão não é essa. A vida espiritual termina impondo muitas condições, começa a mostrar o que é puro e o que é impuro, mas sempre para essa entidade separada. Então, ela se apropria de procedimentos, de algumas dietas, de cerimônias, de uma conduta sexual não reprovável, numa luta para alcançar o silêncio e a rendição ao Divino, a Deus. No caso, Deus pode ser muito bom, mas não resolve.
Depois você parte para a espiritualidade “mais avançada”: dieta vegetariana; celibato, sexualidade tântrica, práticas de meditação (meditação na luz azul, na chama violeta, etc.), contato com seres elevados, de outras esferas... Alguns gostam de astrologia, outros do tarô, de outros tipos de coisas, e tudo isso parece ser de elevada estatura espiritual. Alguns se dedicam ao mundo espiritual através da viagem astral ou do contato com outros planos, contatos de terceiro, quarto ou quinto grau, e por aí vai.
Tudo isso ainda é parte desse jogo e alguns passam a vida inteira ligados a isso, encantados com isso. Você compreende? Isso faz algum sentido para você? Nada disso resolve! Você precisa mesmo é de um mergulho em si mesmo, para um descarte da ilusão desse “eu”, seja ele mundano ou espiritual, viciado ou virtuoso, profano, pecador ou santo, de fala mansa e aparência religiosa.
Olhe para isso, ok? Vamos ficar por aqui!
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 25 de Junho de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Esse é o seu trabalho

O livre-arbítrio é só uma crença, um pensamento. Em geral, você acredita que resolve as coisas, que faz as coisas, mas tudo apenas acontece. Desde o dia em que você nasceu até hoje, as coisas aconteceram por uma determinação Divina, e continuarão assim. Isso não vai mudar, as coisas continuarão acontecendo.
A crença, por exemplo, é que você hoje decidiu vir a esta sala; que encontrou um anúncio ou de alguma outra forma entrou em contato e descobriu este trabalho. A crença é que você encontrou, mas, na verdade, isso somente aconteceu. Você está respirando... É certo dizer isso? Você pensa, mas é certo dizer isso? Se você pensa, porque você não para de pensar? Se é você quem pensa, poderia dizer assim: “Vou ficar cinco minutos sem pensar”. Quem aqui consegue ficar cinco minutos, ou dois minutos, sem pensar? Há alguém que diga “eu vou olhar para o relógio e durante dois minutos não vou ter nenhum pensamento”? Experimente fazer isso. Tente fazer isso por um minuto, ou por trinta segundos. Você pode fazer isso?
Portanto, não é você quem pensa; o pensamento acontece. Você não está respirando; a respiração está acontecendo. Você não decidiu chegar a esta sala; isso também só está acontecendo. Dê outro exemplo de liberdade que você acredita ter... Quando deita para dormir, você dorme ou é o sono que acontece? Você já reparou que você não dorme quando quer, mas quando o sono acontece? Qual é a outra coisa que você faz? Não existe “você” fazendo nada! Acompanham isso direitinho? E quanto aos sentimentos, como a tristeza e a alegria? Você diz “eu vou ficar triste” e fica triste... É assim? Diz “eu vou ficar alegre” e fica alegre? Você decide emoções e sentimentos? A raiva, por exemplo, você decide ficar com raiva ou sem ela?
Então, onde está você? Você decide quando terá sede e fome? Eu quero saber o que você faz, o que decide fazer! Quantas vezes, durante o dia, os olhos abrem e fecham? Você está decidindo isso? Está decidindo fazer o coração bater? Qual é a pressão das batidas do seu coração, a velocidade da corrente sanguínea nas veias, nas artérias? Então, você decide ser feliz? Você vai ouvir um palestrante de autoajuda e ele o ensina a ser feliz, a manter o controle, a não entrar em depressão, em ansiedade, ou seja, a controlar o “seu presente” para alcançar o “seu futuro”. As pessoas pagam fortunas para ouvirem palestrantes de autoajuda e fazem tudo o que foi ensinado para serem felizes, porque basta decidir isso. É assim?
Você tem certeza que o palestrante também faz aquilo que ele está recomendando você fazer? Ele pode fazer? Você simplesmente decide “eu não vou entrar em depressão, em tristeza, em angústia”. É assim? Ou “eu não vou sentir dor, nem física, nem emocional, nem psicológica”. É assim que acontece?
Participante: Mas, quando estamos mais alerta, decidimos não reagir de certa forma diante de uma palavra provocadora, por exemplo. O estado de Consciência permite não agir cegamente. É uma escolha, não?
Marcos Gualberto: Consciência é Inteligência! A Consciência não escolhe! A Consciência não faz essa viagem imaginária com um personagem. É simples, e não se trata de uma escolha. A Inteligência, o Amor, a Liberdade e a Paz não fazem escolhas. A Paz é a ausência da escolha. A Liberdade é a ausência da escolha. Tudo que vocês aprenderam é falso! Você não tem a liberdade de ter paz quando tem Paz, e isso é Liberdade. Você não tem a liberdade de fazer escolhas, porque quando há Liberdade não há escolha. Então, quando há Consciência (e isso não é uma escolha), não há como agir cegamente.
Você afirmou que “o estado de Consciência permite não agir cegamente”, mas eu estou contestando isso. Eu estou dizendo: quando há Consciência, não há nenhum agir, nenhuma ilusão, nenhum autor da ação fazendo qualquer coisa, portanto não há escolha. No ego, vocês vivem fazendo escolhas e tomando decisões, e tudo isso é falso. Não há naturalidade na mente egoica, porque não há Liberdade, não há Inteligência, não há Verdade, exatamente porque “se faz escolhas”. Na verdade, essas escolhas não existem, são imaginações do ego.
Participante: Eu decido querer dedicar uma atividade a Deus ou não? Eu decido por Deus?
Marcos Gualberto: Não! Consciência não decide isso, Ela assume isso, essa Verdade de que só há Deus. Compreendem? Onde houver a sua decisão, haverá confusão, dualidade, um gostar ou não gostar; não haverá Inteligência! Quando você diz “eu decidi”, que “eu” é esse? Esse “eu” é uma fixação, uma imaginação. A Consciência não decide, não faz. Repito: a Consciência não escolhe, não faz, não decide. A Consciência é Inteligência Absoluta!
Essa decisão é baseada em humores, e vocês estão desatentos a isso, vivendo de bom humor ou mau humor, e tem sempre um interesse por detrás dessas ações. Vocês tratam alguém muito bem, e não percebem que estão caindo numa cilada. Isso não é uma ação natural, porque não é um desdobramento dessa Consciência, que não age, que faz tudo, mas não age, e não está presa a resultados. No ego, vocês estão sempre presos a resultados, porque partem desse princípio equivocado da escolha.
Quando há Inteligência, porque não há escolha, não existe outro lugar para estar, a não ser com Deus. Se a Graça Divina está disponível, não existe outro lugar para você estar, a não ser diante dessa Graça. Isso não é uma escolha! Isso é Inteligência!
“Ah! Eu decidi não criar mais confusão”, você diz, mas daqui a pouco decide outra coisa. O mesmo que decide não criar mais confusão, daqui a pouco decide criá-la – é sempre o ego! Quando há Inteligência, não se cria confusão, mas isso não é uma escolha. Você diz “eu decidi ser feliz”... Gente, Felicidade não é uma escolha, Felicidade é Inteligência! Diz “eu decidi viver em paz”, mas isso não é uma decisão; viver em Paz é Inteligência Absoluta, porque a Natureza da Consciência é Paz. Viva na Inteligência, não viva na escolha, nas decisões. A decisão sendo tomada é uma ilusão sendo assumida, e isso dá sempre complicação.
Participante: Como diferenciar o que é ilusório do que é real?
Marcos Gualberto: Sendo real, não pensando. Pensando, planejando, escolhendo, você irá, sempre, optar pela ilusão. Para diferenciar o que é ilusório do que é real, seja real, e isso requer investigação do que não é real, e não a diferenciação entre o ilusório e o real, o falso e o verdadeiro – não é diferenciação, é investigação. É necessário investigar o que a mente produz dentro de vocês. A investigação vai lhe mostrar o quanto a mente egoica engana, o tempo todo, assumindo uma atitude, uma postura, um movimento, de equívoco. Essa investigação desperta a Inteligência, e isso é amor à Verdade, é devoção.
O meu trabalho com você é lhe mostrar o que é falso, não o que é real, e o seu trabalho é soltar o falso, e isso é devoção. Sem soltar o falso, não existe devoção; há somente uma coisa romântica pelo Mestre, pelo Guru, por Jesus, por Deus, por Krishna, por Buda… Esse romantismo não é real devoção. Real devoção é soltar o que é falso quando Cristo lhe mostra, quando Deus lhe mostra, quando o Guru lhe mostra, quando a Vida lhe mostra. Quando você se depara com um Ser Acordado, um Ser Realizado, Ele vai lhe mostrar o que é falso, somente isso. Ele vai dizer: “Olhe, isso aqui é falso”. Ele vai lhe dar a Graça, dar “olhos” para ver o que é falso, e dará poder a você para soltar aquilo. Agora, soltar é com você. Esse é o seu trabalho.
*Transcrição de uma fala realizada em um encontro intensivo on-line, através do aplicativo Zoom no dia 03 de Outubro de 2020 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco, clique aqui.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

O medo desse Estado Natural

Você sabe andar de bicicleta? Para aprender, você começa com duas rodinhas atrás ou com alguém segurando você, porque senão você cai. Não é assim? Aquelas duas rodinhas têm que lhe dar esse apoio, porque você não tem equilíbrio ainda, nem pedalada suficiente. Andar de bicicleta é assim: zero velocidade, você cai; e velocidade requer pedaladas.
A dificuldade é pedalar quando você não tem equilíbrio. Sem pedalar, você não tem velocidade e, sem velocidade, você não tem equilíbrio, mas se você pedala sem equilíbrio você cai. Como o cérebro ainda não tem um registro da velocidade suficiente e da forma correta de pedalar, você tem que aprender a andar de bicicleta e, para isso, tem o apoio de alguém segurando ou daquelas duas rodinhas. Pode levar meia hora, duas horas, ou dois dias, mas dá para andar de bicicleta sem esforço, sem rodinha e sem ninguém segurando. O que isso tem a ver com Realização de Deus? É possível não cair mais nessa mente egoica, sem esforço, sem ninguém ou nada segurando, sem nenhum suporte.
Não podemos aprender a “andar na bicicleta” dessa Consciência plena e não dual sem rodinhas. Em geral, não podemos, porque nem todo mundo nasce como Ramana Maharshi. Quando nasce, a grande maioria de nós não é tão dotada de liberdade interna, de desapego de desejos, medos, a ponto de tocar nessa Dimensão. Não temos inclinação para isso. Não temos essa nostalgia, essa sede, esse anelo pela Liberdade. Mesmo que você tenha alguns vislumbres de alguma coisa fora da mente egoica, sua predisposição vai sempre afundá-lo novamente nesse “piloto automático”, e o seu “aviãozinho” continuará voando rasteiro, no mundo dos nomes, das formas, dos desejos, das imaginações, da ansiedade, da depressão, da ilusão.
Então, precisamos de rodinhas em nossa bicicleta, de um apoio nos segurando, enquanto aprendemos a dar as primeiras pedaladas, até que tenhamos coragem de acelerar. Em geral, apesar de toda essa segurança, há o medo de pedalar. Depois a coragem vem, mas as rodinhas ainda estão lá, ou tem alguém atrás para dar suporte. Colocando isso para você de uma forma muito simples: estar nessa Consciência não dual, desfrutar dessa Liberdade de não sofrer por não mais se iludir com invencionices dessa egoidentidade, não é uma coisa fácil, simples e natural para a grande maioria de nós, porque logo o “piloto automático” assume o “aviãozinho”.
A visão do Sábio, do Santo, o qual é extremamente raro, é clara, e é ela que nos inspira à Verdade. O Santo é aquele que tem o gosto da impessoalidade, da Consciência não dual, de viver sem a história e, com ele, “a bicicleta segue sem cair”. Os Santos ficam invisíveis, porque é algo extremamente raro reconhecê-los. O Santo é aquele que tem o gosto do Natural Estado, livre da “pessoa”, e é extremamente raro reconhecer a beleza desse Estado em alguém assim, porque ele fica invisível. Compreendem a dificuldade? Você pode viver por 30, 40, 50, 60 anos com um Santo morando dentro da sua casa, aquele que tem provado do gosto da impessoalidade, e, mesmo assim, não ser capaz de reconhecê-lo, de apreciá-lo.
Geralmente, nossas inclinações são para o mundo, então nos importa muito o fabricante do carro, o tamanho da casa, da piscina, a posição que assumimos, o destaque que conseguimos, a “pessoa” que somos. Então, o Santo, aquele que tem o gosto da Consciência, é extremamente raro. A grande maioria de nós não é tão dotada de Inteligência, precisamos de “rodinhas”, e parece que a nossa “pequena bicicleta” tem que “dar muitas voltas no quarteirão”, antes de ficar livre dessas “rodinhas”. Entretanto, isso não é realmente necessário, porque, segundo os Sábios, todo caminho, ou toda essa volta que se dá, gira em torno de entrar, residir, morar nessa Percepção de Pura Consciência. Isso não é estar em um carro importado, ou morar em uma casa muito grande, ou ser uma figura ilustre e importante dentro da sociedade, mas residir Lá, nessa Pura Consciência, onde o que se vê e aquele que vê estão desaparecidos.
Nessa Consciência Única, não existe um centro com uma circunferência, não existe um sujeito numa relação com coisas. Se não há centro, não há periferia, não existe nada para se ver, nem “alguém” para ver. Não há nenhum ego com uma estrutura tão organizada, preparada, assustada, complexa e difícil. O ego é um avião no piloto automático, sempre voando, fazendo sempre o mesmo voo de insatisfação, conflitos, dilemas, problemas, exigências e insatisfações eternas.
Voltando à bicicleta, quando não há mais a necessidade das rodinhas, desse suporte atrás, que é o ego, como uma estrutura organizada, ele se revela como uma construção falsa, vazia, ilusória, então ela é desmontada. Vocês têm muito medo desse Estado Natural porque acreditam que essa “construção” é a base da sanidade, e é bem típico dessa egoidentidade se sentir em sanidade. O ego tem medo de que essa estrutura entre em colapso. Em outras palavras, a “criança tem medo de perder as rodinhas”. Por isso há tanta resistência em você, pois não só não existe o risco de você ficar insano quando essa estrutura desabar, como descobre que a insanidade é exatamente essa estrutura de pé. No entanto, quando essa estrutura egoica entra em colapso, a Consciência Real, sem qualquer distração, dilema ou problema, aparece de forma autêntica, verdadeira. Insanidade é como se vive dentro dessa velha e antiga estrutura, quando não se sabe “andar de bicicleta”, quando se tem medo de “pedalar”.
Eu sei que alguns de vocês dizem para mim que já entenderam isso. Não! Você está vendo alguém “andar de bicicleta sem as rodinhas”, mas não significa que você entendeu isso. É como você ver alguém tocando um instrumento ou realizando uma representação cênica e, ao olhar, você diz “eu posso”, “eu já sei”, “eu faço”, “eu entendi como se faz”. Todos vocês sabem do que estou falando, de como rapidamente a mente assume posições de conclusão a partir de uma consideração superficial. Quando a mente vê algo sendo feito, ela diz “eu também sei”, mas, quando você coloca o candidato para fazer, na prática ele descobre que não sabe, porque foi iludido pelo entusiasmo, pelo desejo, pela simplificação.
Sim, é simples! Andar de bicicleta é simples, mas somente depois que se sabe. Antes, o seu cérebro não consegue fazer isso, ele não tem coordenação motora, nem a técnica e a habilidade. O ego é cheio de imaginação, por isso ele simplifica o que não é tão simples e diz “eu sei”, mas não sabe, porque não basta ver alguém fazendo e, de imediato, acreditar que pode porque deseja.
Aqui, comigo, você escuta isso e diz: “É tão simples o que ele diz, é tão real isso. Eu já entendi”. Não é verdade?
*Transcrição de uma fala realizada em um encontro intensivo on-line, através do aplicativo Zoom no dia 26 de Setembro de 2020 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco, clique aqui.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Qual é o segredo da Meditação?

A minha pergunta para você é: qual é o segredo da Meditação? Por que falamos aqui tanto sobre Meditação? A todo momento você está ocupado com o pensamento, e isso está sempre produzindo estados em você. Você está envolvido com um número incontável de pensamentos! Quando há qualquer estado aí, você não está em seu Ser. Então, a Meditação é algo muito importante, porque é a ciência de como permanecer em seu Ser, livre de estados.
Você tem um número incalculável de pensamentos, por isso está sempre objetivando sua procura. Você torna um estado algo objetivo, a ser alcançado e, quando você o alcança, ele não é real. Assim, você alcança a “felicidade” e a “paz”, mas elas não são reais. Você precisa ver quando está afastado do seu Real Ser, precisa tomar ciência disso, e você está sempre afastado Dele quando encontra um estado que você objetivou, procurou e encontrou. Por isso a Meditação é muito importante − Ela é a presença do seu Ser sem um estado e uma objetivação.
Repare que você tem a mania de estar sempre pensando para realizar alguma coisa, e esse pensar é um real afastamento do seu Natural Ser, do seu Natural Estado. Em razão disso, eu digo que esse Estado Natural é Meditação, é Consciência!
Então, qual é o segredo que eu poderia lhe dar hoje, aqui neste encontro, sobre a Felicidade? Qual é o segredo da Felicidade? A Felicidade é estar aí, sem se mover para objetivações, resultados, ou seja, é estar sem se mover para pensamentos com o objetivo de encontrar estados. O pensamento constrói esses estados de “paz”, “alegria”, “liberdade”, “felicidade”, até o estado da “realização divina”, e trabalha em busca disso. Assim, quando acontece um único pensamento dentro de você, a sua inclinação já é objetivá-lo, e ele se torna a procura de um estado.
Então, Meditação é uma coisa muito simples de ser colocada em palavras, mas muito complexa de ser reconhecida, porque o pensamento não deixa. Meditação é a ausência desse movimento de objetivação, a ausência do pensamento na procura de alguma coisa externamente. Quando você está em seu Ser, não existe nenhuma busca! É simples constatar quando você está ausente de seu Ser: você está em algum estado.
Então, estou lhe dando aqui um segredo. Qual é o segredo dos Seres Realizados, dos Sábios? Eles não se envolvem com objetivações. Por isso, o desejo, que é a motivação de um estado, desaparece. A mente tem um vício de procurar estados. Como você não descobriu a beleza de estar em Si mesmo, o que faz? Vai ouvir música, assistir a um filme, passear, comer, etc., pois existem inumeráveis formas de a mente encontrar esses estados. A mente vai até meditar, pois a prática da meditação, que é ensinada e prescrita, leva o praticante a encontrar estados de relaxamento, e bem-estar.
Meditação não é um estado! Todas as vezes em que diz “estou feliz”, você não está na Felicidade, ou, quando você diz “estou muito alegre”, isso significa que você não conhece a Real Alegria, porque Ela não é um estado. “Estou muito feliz” significa que você está objetivando uma experiência emocional, está presente na objetivação dessa experiência. Isso é o mesmo que dizer “estou no momento de meditação” ou “estou no momento da consciência”, pois meditação não é um estado de momento. Assim, a Meditação, a Consciência, não pode ser objetivada!
Todos as vezes em que você estiver curtindo alguma coisa, isso não será a Felicidade. “Ah... Essa música é tão bonita!”, “esse filme é tão bom!”. Isso é uma experiência de estado, ainda está na objetivação, ou seja, o ego está nisso, então não há Consciência, Meditação, não há Ser. Acompanham isso? “Eu gosto muito de música”, “eu gosto muito de cinema”, “eu gosto muito de namorar”, é como alguém dizer “gosto muito de meditar, porque na meditação eu fico em paz” – essa é uma paz objetivada. Quando alguém diz “eu gosto da meditação porque ela me traz o silêncio”, esse é um silêncio realizado, que se alcança.
Seu Ser não é um silêncio que você alcança! Meditação, Felicidade e Consciência não são estados que você alcança, pois quando Isso está, “você”, a “pessoa”, não está. Percebe o truque? As pessoas se espiritualizam ou, em outras palavras, encontram estados para viver dentro deles. Isso significa que essas pessoas são egos espiritualizados. Meditação é Consciência, Consciência é Ser, Ser é Deus, e não se pode objetivar Isso, não se pode vivenciar tal objetivação. Objetivar é se separar – “você e a experiência”, “você e o estado”.
Esses estados são mutáveis, então não podem ser a Meditação. Não uso a palavra “meditação” no sentido em que as pessoas usam, como uma prática, pois, para mim, Meditação é Consciência, é Samadhi, ou seja, não tem nada a ver com um estado, porque não é Algo passível de ser objetivado. Deus não é passível de ser objetivado!
O hábito da “pessoa” é sempre estar à procura de estados para viver neles. Esteja consciente de quando você está longe do seu próprio Ser, que é quando você está em um estado. As pessoas às vezes escrevem para mim: “Estou muito feliz, Mestre. Acordei num profundo silêncio”, “Estou muito bem”, e eu digo que aquilo vai passar. Você diz “eu sinto o silêncio”, mas está objetivando a experiência; lá está “você”! “Eu sinto uma alegria tão grande quando escuto essa música” – essa é uma experiência egoica, prazerosa, romântica, de um profundo sentimento, que pode dar até muita inspiração, mas você está no ego. Isso não tem nada a ver com o seu Ser, pois Ele não é tocado.
Outra escreve: “Quando estou com um namorado, sinto uma paz tão profunda! É a mesma coisa do contato com o Divino pelo Tantra, quando faço sexo. Tenho uma experiência cósmica do êxtase no Tantra”. Isso é uma objetivação com os sentidos envolvidos, com a emoção e a sensação, com o “experimentador” presente. Não tem nada a ver com a Consciência, com a ausência do sentido do “eu”, é somente uma experiência de êxtase. Alguém tem a mesma experiência, ou algo semelhante, numa sala de concerto, ouvindo música clássica.
Por exemplo, quando seu time é campeão, você quase desaparece de tanta alegria, e isso é uma experiência, um estado. Quando seu filho nasce, é um êxtase, o mundo acaba, a alegria é tão profunda, a sensação é tão realizadora, mas é um estado objetivado e você precisa estar alerta, consciente. No momento em que você está consciente, você sabe que não tem “alguém” para saber. Quando há Real Felicidade, você não diz “estou em alegria”, “estou feliz”, e não pensa “estou em paz, em alegria”. Quando há Real Alegria, não há o pensamento, não há a objetivação da experiência.
Se “você” passa pela experiência, ela não é real. Aquilo que é Real não é uma experiência pela qual “você” passa, então não pode ser objetivado. A Real Meditação não é algo que você entra e sai; Consciência não é algo que você entra e sai; Paz não é algo que você entra e sai; Felicidade não é algo que você entra e depois sai.
Fique ciente do que se passa com você. Quando diz “eu gosto tanto disso”, isso é uma súplica, um pedido por mais, ou seja, aquilo já está indo ou já foi embora. É assim que a mente egoica se mostra. Portanto, fique atento e veja isso aí, o quanto a mente está, o tempo todo, objetivando a experiência na procura de sensações. Esse é o perfeito afastamento de Si mesmo, do seu próprio Ser.
A mente egoica é como um pequeno macaco, que pula de galho em galho para ver se tem uma nova sensação, uma nova experiência. Uma hora está em um galho mais alto, noutra em um mais baixo, mas ele não sossega em cima de um galho. Ele para um pouquinho, curte a paisagem e pula para outro galho, depois outro, depois desce e sobe correndo de novo. A mente egoica é como esse macaquinho saltitante, que pula de galho em galho, não sossega, e isso é o afastamento de seu Ser. Seu Ser não precisa de galhos, de novas paisagens, espairecer, se divertir; não precisa se preencher com uma excitação, encontrar alguma coisa que chama de “felicidade”, de “paz”, de “prazer”, de “satisfação”.
É fácil você perceber se está em seu Ser ou fora Dele. Fora do seu Ser, você está inquieto, com muita “fome”: fome de cachaça, de drogas, de comida, de sexo, de conhecimento espiritual... O seu Ser não precisa de nada! Seu Ser não se preocupa com família, com filhos, com cachorro, gato. Então, quando você diz “abençoe meus filhos”, “abençoe meu cachorro e meus negócios”, é o seu ego pedindo. Para o seu ego, ele estará abençoado se acontecer tudo de bom para os seus negócios, para o seu gato, para os seus filhos... Esse é o velho truque do ego.
*Transcrição de uma fala realizada em um encontro intensivo on-line, através do aplicativo Zoom no dia 07 de Junho de 2020 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco, clique aqui.

sábado, 7 de novembro de 2020

A raiz dessa ilusão

A mente se vê como real e separa o corpo e suas experiências do próprio mundo. Ela cria a ilusão da separação entre aquilo que está ciente da experiência e a própria experiência. A mente “se esquece” da Natureza Real da experiência e cria essa dualidade, vendo-se como uma entidade separada da própria experiência do mundo. Ela se vê como o “eu” e vê o mundo como o “objeto”.
A raiz dessa ilusão é o esquecimento da Verdadeira Natureza da experiência. Quando você esquece que é Consciência, vê a si mesmo como uma entidade separada do mundo e de todas as experiências acontecendo; quando você esquece que é essa Presença, você se confunde com o corpo.
Para a mente, tudo que está acontecendo no mundo é algo separado dela. Ela vê objetos separados, vê a si mesma no corpo, e vê o mundo e as experiências separados do próprio corpo. Quando você esquece que é o próprio Ser, a própria Consciência, esse “eu” parece ter uma existência separada do mundo e das experiências do corpo. É como se uma marionete acreditasse que tem vida própria. A Consciência fica ocultada pela ilusão da mente, e isso é a dualidade.
Essa dualidade aparece com o sentido de existência individual, que é quando a mente confunde o reflexo com a realidade. É uma espécie de “pacote” que você assina embaixo: “Eu sou isso!”. Você assinou um contrato que diz: “Eu estou aqui, o mundo está lá e Deus está lá em cima”. Todo o universo, toda a manifestação, inclusive a presença do corpo e da mente, é um reflexo dessa Consciência, mas a mente diz que o corpo, o mundo e Deus são reais e que estão separados entre si.
Só pode haver os pronomes “eu”, “meu” e “minha” quando o reflexo está tomando o lugar da realidade, quando a mente se vê sendo real nas aparições. Ela se vê sendo real no corpo, como uma entidade que tem um nome e uma forma, proprietária de objetos móveis e imóveis. Então, há ela, o mundo e Deus em algum lugar por aí, sendo que Deus, para ela, é só mais um objeto imaginado.
É muito estranha essa condição de viver na dualidade, porque o “eu” pode perder isso tudo. O mundo é um reflexo da Consciência, mas o “eu” é uma imaginação da mente, e a mente toma esse reflexo como real para ela. Repare a confusão em que você está quando confunde O que é com o que a mente diz que você é.
Você não duvida que está aí assentado e que está dentro do corpo. É isso que a mente faz! Ela está tomando o reflexo como a realidade. O corpo assentado e as sensações aí são só um reflexo dessa Consciência, mas a mente pega esse “pacote” e assina embaixo: “Eu sou isso, esse corpo sentado, ouvindo o Mestre”, “Eu tenho assuntos para resolver, problemas para solucionar, coisas para fazer”.
Tudo que está acontecendo (o corpo assentado, as ações sendo tomadas, o pensamento acontecendo, a fala, a escuta) é apenas um reflexo da Consciência, mas a mente entra e diz que isso é a realidade. Ela se sente uma entidade separada, pensando, fazendo, agindo, experimentado objetos e o mundo todo. A dualidade sempre aparece com esse senso de separatividade. É um pacote perfeito, completo!
No momento em que você diz “eu sou isso”, necessariamente a mente vai dizer “eu não sou aquilo”, ou, no momento em que diz “eu tenho isso”, a mente vai dizer “eu não tenho aquilo”. Se ela diz que tem algo, então também diz “aquilo não é meu ainda, mas pode ser”. Dessa forma, surge o desejo, a ambição, a inveja, o medo.
Esse conceito de “meu” carrega o senso de dualidade e separação. Não existe nada que seja seu, porque não existe um “eu” aí, agora. Por aceitar esse “eu”, você sofre. Esse “eu” é apenas a mente tomando o reflexo como a realidade, uma imaginação que ela cria com o pensamento de uma entidade presente nesta experiência aqui e agora.
A mente faz isso há milênios! Ela impregnou completamente a máquina com essa imaginação, com essa crença. As células do corpo estão todas impregnadas com essa ideia de “estar vivo”, de “ser alguém”, de “ser algo separado”, de “ser sujeito”.
Você entende, agora, o que eu chamo de “Autoinvestigação”? Autoinvestigação é perceber como esse mecanismo, essa estrutura de “pessoa”, funciona aí dentro. Você vê essa mecânica funcionando e a desmonta; vê a mente tomando o reflexo pela realidade e não aceita mais. É como se fosse um ladrão com uma máscara que viesse roubá-lo. Ele está mascarado porque sabe que, se perder a máscara, não terá condição nenhuma de roubá-lo. Então, ele vem todas as vezes disfarçado e o rouba.
O seu trabalho é tirar a máscara desse “ladrão”, para ele parar de “roubá-lo”. Ele só faz isso porque está disfarçado e você está sempre desatento, cochilando, desapercebido quando ele chega. Todas as vezes que a mente egoica chega, ela toma o reflexo como a realidade e você é “roubado”, de novo, de novo e de novo. O que ela “rouba”? O Silêncio, a Paz, a Inteligência, a Alegria... Você não vai jamais ser feliz vivendo na dualidade.
Tudo é só um reflexo, mas você está tomando esse reflexo como realidade. Esse “ladrão” vem e está sempre roubando você. Que “ladrão” é esse? Ele tem uma máscara e está disfarçado, se chama “eu” e cria sensações, como a de “meu”, “minha”.
Estou dizendo para você que esse “ladrão” é apenas uma condição que a mente está produzindo dentro desse mecanismo, confundindo a imagem no espelho com a realidade; confundindo a experiência do corpo, do mundo, de emoções, sensações e percepções com a realidade. Ela criou o senso do “eu”, então existe o senso do “não eu”. O sentido de dualidade sempre carrega esse sentido de um “eu” e a outra coisa: “Ele é o meu namorado”, “O outro é o namorado da outra!”, “Isso é meu!”, “O mundo é maravilhoso!”, “O mundo é horrível, é ruim demais viver aqui!”, “Eu gosto muito de estar vivo!”, “Eu não suporto viver, tudo é muito sofrimento!”, “Eu amo a minha família!”, “Eu não sinto nada pela família dos outros!”, “Eu não posso morrer agora, porque tenho muita coisa para fazer ainda no mundo!”, “Eu quero morrer, não aguento mais viver, essa vida é muito dura, muito difícil!”.
Enquanto a mente estiver confundindo esse reflexo com a realidade – esse sentido de separação entre ela e a experiência do mundo, ela e a experiência do outro, ela e a experiência da família, vendo as diferenças entre nações, entre sistemas de justiça, de injustiça, políticos, e etc.–, essa confusão sustentará o sofrimento. Foi isso que chamei de “ser roubado pelo ladrão”. O “ladrão” está roubando a Paz, a Felicidade, o Amor e a Inteligência de sua Natureza Essencial.
*Transcrição de uma fala realizada em um encontro intensivo on-line, através do aplicativo Zoom no dia 10 de Maio de 2020 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco, clique aqui.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Você vive nesse jogo

Qual deve ser o seu trabalho? O que precisa descobrir? Você precisa descobrir apenas uma coisa: quem é você. Todo o interesse que você tem pelo mundo é um interesse ilusório, porque você não precisa descobrir o que é o mundo. Quando você está em uma sala com outras pessoas, todas elas estão presentes com uma percepção dessa sala. Fica claro que cada uma delas a percebe de uma forma, e o que vale para a sala, vale também para qualquer forma de percepção que você tenha do seu mundo. Então, onde quer que esteja, você está tendo uma percepção do mundo à sua volta, assim como as pessoas ali. Vamos tomar o exemplo da sala, com cinco pessoas tendo percepções sobre ela. É a mesma sala? Há uma única sala presente, mas há pontos de vista diferentes. Então, a sala é a mesma? E o seu mundo? É, de fato, o mundo? Você está vendo a mesma coisa que ele ou ela estão vendo? Você está vivendo no mesmo mundo deles? É o mesmo mundo?
Então, vamos ver como é construído esse sentido de separação. Qual é a estrutura do sentido do “eu” presente aí? Um particular ponto de vista. Você é a mesma pessoa para todos? Aquela pessoa que você conhece, todos a conhecem da mesma forma? Você se vê sempre como a mesma pessoa? Ponto de vista!
Então, como se constrói a ilusão do sentido de separação? Particularizando-se a experiência. Então, o que é esse falso “eu”, como ele é construído? Interpretação, particularização, ponto de vista, a escolha do que acreditar, do que sentir, do que perceber.
O que é a “pessoa”, o sentido do “eu”? A particularização da mente, a vaidade do pensamento que você “compra”. O mundo é um só, mas há vários pontos de vista, e quando você escolhe um deles, particulariza uma percepção e se contrai em si mesmo, vivendo assim o “seu mundo”, mas ele é falso. Cada um tem o seu próprio mundo e ele não condiz com a Realidade da Vida, com a Vida como Ela é.
Então, como se constrói a falsa identidade? Fazendo escolhas – escolhendo o que sentir, o que pensar, o que querer, o que não querer... “Eu quero a minha festa de aniversário!”, mas ninguém está interessado nele, porque cada um está preso em seus pontos de vista, cada um está vivendo em seu mundo privado. Mas, dentro de você, já está a expectativa do dia do aniversário. O que vale para o aniversário, também vale para qualquer forma de desejo. Chega o dia do aniversário e você, em seu mundo, está esperando muitos aplausos, muitas pessoas dizendo “parabéns” para você, mas eles não lembram de você. Você está contraído em seu mundo, esperando que o mundo o reconheça, mas as pessoas estão esperando a mesma coisa e isso é a contração da falsa identidade, do falso “eu”.
Você espera do marido, do filho, do patrão... Você está em seu mundo privado, querendo atenção, então você está em contração. Se está em contração, o mundo é hostil, porque ele não condiz com essa “sua realidade”. Isso é muito básico! Isso é seu falso “eu” diante da Realidade do “não eu”.
Então, mais uma vez: como se constrói essa identidade falsa? Ela é construída de pontos de vista, escolhas, ideias, da imagem que você tem de si, a qual você quer que seja vista por outros. Então, do que é construída? Ideias, imagens, crenças, escolhas, desejos, rejeições, predileções. Quando a ilusão é construída, o que isso causa? Contração. “A vida, o mundo, ele ou ela são hostis, tudo está errado! Eu tenho que terminar com tudo, porque não aguento esse sofrimento mais, essa contração!”. Isso é verdade? Você quer realmente terminar com isso? Não! Você quer mudar de objetos.
Você carrega esse “sentido do eu” desde criança, e isso ainda não terminou porque, na verdade, você nunca quis terminar com isso, porque significaria terminar com a ilusão do falso “eu”, terminar com as escolhas, com o que deseja que pensem sobre você. Você não quer terminar com isso! Você tem isso como algo normal, natural – viver sendo amado e desprezado, amando novamente e sendo desprezado novamente, ou querendo ser amado, mas sendo desprezado; querendo amar, mas não sendo aceito. Você vive nesse jogo!
Você se sente amado e, por isso, está tão feliz, mas, no momento seguinte, é rejeitado e fica tão triste! Uma hora está alegre, outra hora está triste; uma hora está feliz, outra hora está deprimido. Quando está deprimido, diz: “Eu não quero mais saber, vou acabar com isso agora; eu não quero mais saber dela, porque ela não vê como sou importante, bonito, maravilhoso… Preciso encontrar outra que me dê isso.” Ou você pode dizer: “Já fiz esses filhos todos e não tenho mais idade para ser mãe, mas, em outra vida, farei mais filhos, porque eles irão me amar. Esses aqui saíram com defeito de fábrica, mas da próxima vez irei acertar. Vou continuar nessa tarefa. Vou casar de novo, terei outro marido e ele vai ser aquele que irá me ver. Então, vou ter filhos com ele e serão maravilhosos! Um dia acontecerá!”. Você quer que os filhos, o marido ou o namorado mudem e apreciem-na. Você não quer se livrar do ponto de vista, quer apenas mudar de namorado, de filhos, de família, ou seja, quer mudar o ponto de vista.
Então, você quer se livrar do ponto de vista ou quer mudá-lo? Quer se livrar dessa relação que possui com essa ou aquela pessoa, com a família, ou quer se livrar da ilusão de um “eu” nessa relação? Você acha mesmo que o problema está na vida, no outro, no mundo?
Então, livre-se do mundo, do outro, mas tem que ser para valer, não pode ser para substituí-los. Você diz: “Minha vontade é acabar com tudo!”. Então, acabe com tudo mesmo e deixe o mundo em paz! Coloque uma “bomba” e “exploda” esse mundo! A questão é se livrar da ilusão de que você está presente na experiência. O problema não é a “sala”, mas o ponto de vista que cada um possui dela.
O que não está resolvido, dentro de você, é, de fato, a decisão de deixar de interferir com seus julgamentos, opiniões e crenças sobre a Vida e como Ela se apresenta.
Então, a “sala” é uma; a particular visão é múltipla. Aqui, você desiste e realmente acaba com isso quando se desfaz da fantasia de ser “alguém” na experiência de olhar a vida, o outro, o mundo. O meu trabalho é que você desconfie do que sente, do que pensa e do que escolhe. Sua relação com a vida deve ser objetiva, prática, inteligente! Se você cair na armadilha de tentar “sentir” o outro, o mundo e o que acontece, estará em uma viagem de um mundo subjetivo, egoico. Esse é o vício do ego – viver sentindo, pensando e tirando conclusões sobre a vida. Você descobre que, quanto mais sente a Verdade Divina, menos realidade dá ao sentir subjetivo dessa relação com o mundo.
Pessoas são muito sentimentais, muito românticas, sensíveis, nada práticas com relação à vida, e esse comportamento fortalece esse centro falso. Vocês precisam investigar isso em si mesmos, o quanto são românticos, sentimentais, sensíveis, precários, carentes, necessitados e pouco práticos. Vocês não são práticos com relação à vida e às demandas da existência; estão sempre cultivando um mundo subjetivo de crenças, sentimentos, emoções, experiências e sensações. Portanto, sejam práticos, objetivos. De outra forma, estarão presos à subjetividade psicológica da exigência de que o mundo, a vida e a “sala” sejam como vocês desejam.
Conseguem perceber o que estou dizendo? Quando digo que você é romântico, sentimental, sensível demais, não prático, não objetivo, consegue entender o que estou dizendo? Que existe dentro de você uma exigência com base em ideias, crenças, conclusões, desejos e escolhas?
*Transcrição de uma fala realizada em um encontro intensivo on-line, através do aplicativo Zoom no dia 07 de Junho de 2020 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco, clique aqui.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

A constatação da Realidade traz o Despertar

Estar em Satsang, neste trabalho, significa sair do modelo comum. Esse modelo comum é a ideia de você estar aí e eu aqui, duas pessoas interagindo e trocando ideias. Sair desse modelo comum significa descobrir a Verdade sobre Si mesmo; a Verdade de que não há dois! A presença de “alguém” independente do outro, independente do mundo, é uma ilusão! Esse é o modelo que todos conhecem, em que fomos educados – o modelo de uma existência separada, de uma entidade separada. Assim, estes encontros são belas oportunidades para identificarmos a ilusão desse modelo.
A constatação da Realidade traz o Despertar, que é a visão da Vida como Ela é, livre do medo, do sofrimento, da confusão e, portanto, livre desse modelo comum de separação, de dualidade. Você presume que a “pessoa” não é uma coisa. Parece ser ofensivo dizer que a “pessoa” também é só uma “coisa”, mas toda relação que você tem com o mundo é uma relação com objetos; todo o seu interesse no mundo é em objetos. O que você chama de “pessoa” é uma ideia, uma crença, uma imagem que se tem de um organismo vivo, que você chama de “alguém”. Se você vê o mundo dentro da perspectiva de objetos – que é como você vê, a partir de imagens, o que está à sua volta – você termina imaginando coisas, pessoas, objetos e o mundo como algo separado. Então, você vive nessa multiplicidade e esse pensamento está presente aí. Não há Silêncio interno, não há Consciência, não há espaço para o fim de tudo isso, para o fim dessa ilusão, a ilusão desse modelo.
Em Satsang, você pode ir além dessa dualidade, dessa base da multiplicidade. É apenas a mente que separa tudo, que cria essa dualidade e, portanto, essa relação com objetos. Em seu Ser, em sua Natureza Verdadeira, você não conhece objetos. Seu interesse em objetos, ou a sua relação com o mundo nesse formato, é puramente mental. Por que tudo isso é importante? Porque enquanto você não se conhecer em sua Natureza Essencial, como Consciência, sua visão do mundo será completamente distorcida.
Há uma inquietude interna, em razão de toda essa confusão que o pensamento produz dentro de você. Você está vivendo pelo pensamento, pois foi assim que foi educado a viver. Uma vida baseada no pensamento é conflituosa, porque uma vida interessada em objetos é uma vida autocentrada. Não conseguir se ver é não conseguir ver o outro, o mundo, a vida, e essa é a visão de objetos. Todo o seu interesse está nesse autocentramento, nessa relação com objetos, em que o desejo e o medo estão presentes.
A pergunta é: “Quem é você?”. Descobrir o Silêncio da sua Natureza Real, que é a ausência dessa condição da mente, desse modelo de vida puramente mental, é o que estamos fazendo juntos, em Satsang. Enquanto fica envolvido nesse modelo de vida mental, você está sempre esperando algo novo acontecer, algum objeto novo chegar, para se completar. Ou você se reconhece como Consciência, ou vive nesse modelo de vida mental!
Todos vocês estão esperando alguma coisa para amanhã, talvez mais filhos, um novo casamento, uma nova casa, um novo emprego, abrir um negócio, serem amados, se tornarem ricos, pessoas famosas... Então, você estará sempre aguardando alguma coisa amanhã para ser feliz. É sempre algo que você deseja ou sonha. Aí está a estrutura do ego, desse “eu” falso, procurando um “alguém” para “ser alguém”. Você já teve quatro casamentos, agora vai partir para o quinto! Você não foi amado, mas agora será! Você vai encontrar a pessoa certa, morar na cidade certa, no país certo, terá mudanças em sua vida... As coisas não foram boas ontem, mas serão boas amanhã! É sempre uma relação de imaginação, fora da Realidade presente. Tudo isso porque você não sabe a Verdade sobre Si mesmo!
Talvez, em mais quarenta anos, você não consiga chegar lá, mas vai continuar tentando. Você quer continuar vivendo mais quarenta, cinquenta, sessenta anos dentro dessa procura, dessa busca. Aqui, eu quero convidar você para fora do tempo, fora desse modelo, desse círculo; fora do passado e do futuro. Você não deve estar feliz com o passado, senão não estaria nessa sala. Você está procurando ainda alguma coisa, sinal que não a encontrou. O seu modelo de vida é esse modelo do pensamento, da imaginação: Desesperança – passado; esperança – futuro.
Parece que todos são infelizes, porque estão à procura de alguma coisa. Quando está completo, feliz, realizado, você não procura mais! Mas o seu modelo, o seu condicionamento, é sempre da procura, da busca. Não importa se não foi feliz no passado, você acredita que será feliz no futuro. Porém, o seu futuro será como o seu passado se você não se compreender neste instante.
Essa procura fora resulta sempre em conflito, em outra forma de fantasia. Satsang é o final da ilusão dessa pessoa que estará sempre procurando algo, sempre tendo esperança no futuro e desesperançado com o passado. A natureza do ego, a natureza da mente, é sempre buscar a continuidade. O que estamos lhe propondo é conhecer esse “fogo”, essa “chama” da Liberdade. Isso é algo presente quando a ilusão se desfaz, desaparece. Quando você chega aqui eu lhe convido a Isso, e chamo Isso de “Algo Natural e Simples”. É sair de cena, deixar essa ilusão, abandonar esse personagem, a ilusão de ver a si mesmo e o mundo a partir dessa mente dualista, dessa mente separatista, dessa mente em conflito.
Você Realiza a Felicidade presente quando descobre que “você” não está aí. Não há mais procura, não há mais busca (nem de espiritualidade, nem de materialidade). Então, essa Inteligência Real está Presente!. Enquanto houver alguma forma de busca, haverá problemas.
Então, não é só o problema de alguém materialista, mas de alguém envolvido com a espiritualidade também. O que se chama de espiritualidade, afinal? É a conquista de um mundo fora deste! É sempre a ideia de conquistar, de alcançar, de chegar lá, de adquirir, de se tornar alguém especial. Você não é alguém do mundo, não é um materialista, agora você é uma criatura espiritualizada!
Isso tudo parece bastante estranho e até absurdo para ouvir pela primeira vez, mas a vida na mente é uma fraude! Enquanto os pensamentos estiverem presentes, circulando dentro da sua cabeça, produzindo imagens e dizendo que você pode realizar isso ou aquilo, você estará capturado pela ilusão, pelo senso do “eu”, pelo sentido de separação. Por isso tenho lhe dado advertências quanto à importância da Meditação. Essa ignorância fundamental precisa ser exposta! Esse modelo de relação com objetos precisa ser reconhecido! Agora, você conseguiu compreender: esses objetos podem ter a natureza da materialidade ou da espiritualidade, mas ainda continuam sendo objetos, projeções da mente, projeções do pensamento.
Participante: Mestre, minha cabeça é tão cheia que não consigo meditar!
Marcos Gualberto: Meditação não é cabeça vazia, Meditação é a ausência da cabeça! Quando não há cabeça, a Meditação está presente. Presença de cabeça é sempre presença de conteúdo. Cabeça é conteúdo! Onde a cabeça está, o conteúdo está. Esses pensamentos, esses sentimentos, essas emoções, são atividades motivadas por esse condicionamento, por toda a loucura dessa ilusão, desse sentido do “eu”, desse sentido de separação, e isso é a presença da cabeça. Tudo isso começa a desvanecer, pouco a pouco, nesse contato com sua Natureza Essencial, sua Natureza Divina.
Essa própria Consciência, que é sua Natureza Essencial, começa a se revelar, começa a lhe mostrar o que é Meditação. Não falo de uma prática, falo da aproximação do reconhecimento de que Você não tem uma cabeça, de que Você não é uma entidade separada em uma relação com o mundo. Toda essa inquietude, toda essa confusão interna, é algo presente nessa ilusão.
Todo pensamento, dentro de você, não é Você. Você é a Realidade onde o pensamento acontece! Não é o pensamento! Essa Realidade, onde o pensamento acontece, é essa Consciência, da qual estou falando, e Isso não está numa relação com o mundo, na dualidade “eu e o mundo”. Isso requer um trabalho, requer um envolvimento real de trabalho consigo mesmo.
A mente não vai abrir mão do lugar dela com tanta facilidade. Tudo o que você conhece sobre si mesmo é falso, é a mente conhecendo. O que Você é, você não pode saber; e o que você sabe, não é o que Você é. O que Você é, não pode e não precisa saber. O que Você não é, você sabe, e isso é completamente inútil, porque não é a Verdade.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 24 de Julho de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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