segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O Espaço de sua Natureza Essencial

Satsang é uma oportunidade para aquele que já descobriu que a Paz não pode ser encontrada externamente, que essa procura constante por experiências objetivas não pode produzir um resultado real. Não é possível encontrar a Paz, a Liberdade e a Felicidade em experiências externas.
Você não pode se sentir completamente Livre, Realizado, em plena Felicidade, não pode viver essa Presença Divina, porque esse movimento interno da mente o impede. Os pensamentos e sentimentos aí estão produzindo estados internos de conflito. Para se livrar desse conflito, você vai à procura de uma experiência externa, objetiva. Na verdade, ao fazer isso, qualquer experiência que você tiver será apenas uma experiência dentro dessa crença, dentro da mente, ainda; ela irá apenas refletir um estado da própria mente. Isso irá apenas confirmar que você continua sendo uma entidade separada, que “você” está dentro da experiência como uma entidade separada.
Então, é um assunto que não se resolve. Esse assunto de se sentir separado, com certeza, não é nada pacífico, feliz, dentro da Liberdade; é algo aprisionado, que está dentro de uma prisão. Isso porque oculta a sua Natureza Divina, oculta a verdadeira Paz, Liberdade e Felicidade.
Assim, toda experiência que você tiver, estará sempre dentro da própria mente, nunca estará além dela. Portanto, essa forma de busca não resolve esse sentido de separação. Essa Real Presença, que Você é em seu Ser, é a própria Liberdade, Felicidade, Paz. Posso ilustrar isso como um espaço no qual você vê algumas coisas. Elas estão ali naquele espaço, mas ele mesmo não pode ser visto, apenas as coisas. Os objetos podem ser vistos em um determinado espaço, mas ele não pode ser visto. Na verdade, quando o espaço está sendo ocupado, é que ele não pode ser visto mesmo, porque é como se ele estivesse ausente e somente os objetos presentes. É bem interessante essa ilustração, pois os objetos somente podem estar presentes porque há um espaço anterior aos objetos.
Então, toda a sua experiência pode ser somente a experiência de objeto e não de espaço. Toda a sua experiência humana, toda história desse personagem aí, que tem um nome, um corpo, um conjunto de experiências, tudo isso é apenas parte desses objetos nesse Espaço. O Espaço, em si, não tem história, não tem corpo, não tem situações, conflitos, dramas, não tem experiência. O Espaço está sempre livre e permanece não conhecido; não é algo que você consiga identificar. O Espaço é aquilo que pode identificar você, mas você não pode identificá-Lo. Ele identifica esse corpo, esse nome, essa história, mas tudo isso não pode identificar esse Espaço, porque Ele é anterior a tudo isso.
Quando falamos de Liberdade, Felicidade, Paz, de Realização Divina, estamos falando desse Espaço. Esse Espaço é algo sem nascimento e sem morte, é algo que não sofre agitação. Se você tem uma sala, pode mudar os móveis, mas o espaço não mudará. Isso é exatamente o que acontece com você. Seus estados internos estão mudando, mas esse Espaço não muda, não pode ser agitado pelas atividades, ou seja, as atividades e a agitação podem acontecer, mas o Espaço continuará intacto, absoluto, sem mudanças. O Divino em Você é algo assim. A Presença da Realidade de Deus, dessa “Coisa” desconhecida, que não tem nome, forma, corpo, história, é algo assim. Essa Presença Divina permite que tudo aconteça! Pode parecer estranho ouvir isso, mas não tem nenhum problema com a agitação. O que estou dizendo é que, quando você se vê perturbado, desorientado, assustado, temoroso, infeliz, nada disso toca esse Espaço!
Tudo o que você tem aprendido na vida com aqueles que estão à sua volta, dentro dessa sociedade, dessa cultura, através da relação com “pessoas”, nesse mundo que você aparentemente nasceu, ou acredita ter nascido, foi viver em agitação, viver agitado. O conflito, o medo e o sofrimento são essa agitação. A história dessa “pessoa”, desse personagem aí, que tem um nome, é essa agitação – uma agitação no Espaço, não uma agitação do Espaço. Basicamente, o sentido do ego, o sentido de separação, é agitação, e essa é a forma comum, “normal”, de se conhecer a experiência. No entanto, essa Presença permanece a mesma, e permite que tudo apareça dentro Dela, sem escolha, sem preferência.
A mente fica agitada, o corpo fica agitado, o mundo parece estar agitado, mas esses são objetos nesse Espaço. Então, não existe nenhuma necessidade de você procurar uma experiência pacífica, feliz ou de amor, porque essa procura é o próprio afastamento desse Espaço, que já está pleno, completo. Em Si mesmo, Ele é Paz, Amor, Liberdade, Felicidade! Então, não existe a necessidade desse movimento. Na verdade, ele não é somente desnecessário como também sustenta, ainda mais, a ilusão de que é possível se encontrar algo agitando-se, e tudo que você pode encontrar agitando-se é mais agitação.
Em outras palavras, em estado de conflito, o seu movimento é para o conflito. Em estado de medo, o seu movimento é para o medo. Estando confuso, você pode agir somente de forma confusa, não pode agir de outra forma, então a sua ação será confusa. Se você estiver agitado, a sua ação nascerá dessa agitação. Então, não há necessidade dessa procura, pois ela é completamente desnecessária e contraproducente.
Outro ponto aqui é que você não precisa de nenhum conhecimento especial para tomar ciência de sua Natureza Essencial, desse Espaço que permanece livre dessa agitação. Saber que Você é Isso, e assumir esse Saber, é suficiente. Quanto mais você permanece cônscio de Si mesmo, desidentificado desse movimento de agitação que a mente produz, mais se revela a Verdade de sua Natureza Essencial, que é Paz, que é Felicidade, que é Amor, que é Liberdade.
Em geral, as pessoas não têm interesse nisso. Elas continuarão em suas procuras externas, continuarão agitadas, valorizando os objetos, sem ciência da Presença do Espaço. Assim, a inteligência comum, ou aquilo que é considerado inteligente nesse mundo, está exatamente nesse movimento para as realizações externas, nessa procura de uma experiência mais rica, mais profunda, mais significativa. Então, você termina seguindo os passos dos que obtiveram “sucesso”, das “pessoas bem-sucedidas”, mas, lembre-se de que “pessoas”, mesmo “bem-sucedidas”, continuam sendo “pessoas”. “Pessoa” é sinônimo de ilusão, a ilusão do sentido de uma existência separada, de uma identidade vivendo uma vida separada; é a insciência do Espaço.
Você precisa se perguntar até que ponto há algo aí dentro queimando, de verdade, por Isso, por essa Realização. O que estou lhe dizendo é que, quanto mais fundo, mais cônscio de Si mesmo, dessa Presença, dessa Realidade, que é esse Espaço, quanto mais Isso se torna claro, mais se revela essa qualidade de Silêncio, de Paz, de Liberdade, de Real Inteligência. Aqui, coloco a palavra “inteligência” de uma forma diferente daquela que tem sido compreendida pela grande maioria. Inteligência aqui é ciência dessa Realidade da não separação. Então, quanto mais você aprofunda em seu Ser, em seu Natural Estado, que é esse Espaço, que tenho chamado, também, de Consciência, mais se revelam esses atributos ou essas qualidades de sua Natureza Essencial. Assim, você está, de fato, tocado pela Graça, pelo Divino, por essa Presença, por essa Consciência, vivendo em Amor.
Agora, fica com você a função de se aplicar, se envolver, trabalhar isso. Esse é o propósito do nosso trabalho aqui: mostrar-lhe a importância de um profundo envolvimento com a Verdade Divina que Você traz, que Você é, que está aí dentro, dormindo, mas está aí.
Quando você assiste a um filme, vê coisas como tragédias, cenas impactantes, difíceis, duras, complicadas... Se você visse aquilo acontecendo com você, ficaria completamente sem chão, desesperado, mas, assistindo a um filme, você considera o filme. Porém, será que isso é tão diferente do que você chama de “sua vida” agora, neste momento? Será que as coisas que estão acontecendo com você realmente são reais? Aquilo lá é somente um filme, não tem nada a ver com você, mas as coisas que parecem acontecer a você não parecem um filme; parecem muito reais, bastante assustadoras. Então, é hora de descobrir esse Espaço – o Espaço de sua Natureza Essencial.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 15 de Junho de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

12º - Por que sem perguntas?

Somos condicionados, desde a infância, dentro do sistema da mente comum, então repetimos os mesmos padrões de aceitação da ambição, da agressão, da autoproteção desse “eu”, que começou a tomar forma quando ainda éramos crianças. Não somos ensinados, ainda quando pequenos, a duvidar desse sistema, com os seus deuses, heróis, crenças e comportamentos sociais; a questionar se há somente isso ou se podemos descobrir alguma coisa a mais, algo que não tenha sido inventado pelo homem, que não tenha sido criado pelo seu pensamento, um estilo de vida que não seja de imitação, pois todos estão sofrendo – isso é uma coisa comum a todo ser humano, basta olharmos à nossa volta.
Em toda parte, há egoísmo, ignorância, exploração, medo e desejo de vencer no mundo. Esta é a preocupação: superar, alcançar, conseguir o que estão nos dizendo que precisamos para estarmos completos e plenos. Isso é verdade? Mas, afinal, quem é você? A vida é somente isso? Alguns poucos decênios de prazer e dor, de desespero e aflição, de raros momentos de alegria e a maior parte do tempo de tristeza? Sempre estamos nessa rede de dualidade.
Como todos, vivemos sem perguntas que nos levem à libertação de tudo isso, ao real descobrimento de quem realmente somos, para além desse comum padrão de ignorância. Quando descobrimos o que somos, nossa vida se torna simples, natural e feliz, pois sabemos que não existe ninguém para ser protegido, nenhum “eu”. Somos internamente felizes, completos e bem-aventurados fora desse condicionamento, em nossa Real Natureza. O problema é que não temos ninguém para nos dizer isso e, se nos aparece alguém dizendo, não acreditamos que isso possa ser verdade.
*Este texto, escrito pelo Mestre Marcos Gualberto, compartilhando a visão do Sábio sobre a vida, foi veiculado pela primeira vez em 14 de outubro de 2010. Trata-se da décima segunda publicação deste blog, fazendo parte do acervo relativo aos primeiros anos deste trabalho, cujos textos, após terem sido mantidos offline nos últimos anos, serão republicados em série, de forma comemorativa pelos dez anos de criação deste blog, este que foi o primeiro canal da internet através do qual este trabalho tornou-se público. Para mais informações, acesse o nosso site clicando aqui.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

11º - O pecado original

Não estamos aqui para uma vida de violência, de contradição, aflição, estresse e medo, no entanto essa tem sido a maneira comum de viver do ser humano. Isso acontece como resultado da ignorância, da não compreensão de nós mesmos, de quem somos, de nossa Real Natureza, do nosso Verdadeiro Ser.
O pensamento tem produzido essa falsa identidade que assumimos, a qual chamamos de “eu”. Esse “eu” carrega um forte sentido de separação, isolacionismo e desejo de sobrevivência, que são a causa do medo, em suas diversas formas. Com sua forte insegurança, autodefesa e egoísmo, esse “eu” é violento, apegado e cheio de desejos.
No entanto, tudo isso é produzido pelo pensamento. Esse “eu” é uma ficção! Na realidade, ele não existe! A sua existência é a simples identificação do pensamento como a nossa “verdadeira consciência”; é a tomada do lugar da Consciência pelo pensamento que produz esse “eu”. Isso acontece logo nos primeiros anos de vida. No segundo ano de vida do bebê, começamos a ver esse sentido do “eu” surgindo. A Bíblia chama essa aparição de “a queda do homem”, “pecado original” ou “saída do paraíso”.
Aqueles que se tornaram livres do mundo não acharam nada novo, mas apenas o caminho de volta ao paraíso. Eles descobriram que essa “queda” aconteceu dentro deles, assim, o retorno teria que acontecer dentro também. Essas palavras não são as mais adequadas para descrevermos Isso. Na verdade, nenhuma palavra que usarmos será adequada, pois todas as palavras são construções do pensamento, mas seu uso é inevitável em um blog ou em uma palestra.
Quando adentramos o paraíso, percebemos que apenas o Silêncio tem o poder real de comunicar Isso; não o silêncio externo, mas o Silêncio do Coração. É preciso sermos tocados por esse Silêncio enquanto ouvimos uma palestra ou lemos palavras em um blog. Se essas palavras são nascidas desse Silêncio, então carregam o poder de despertar esse Silêncio revelador.
Portanto, é necessária a constatação ou a investigação de nós mesmos, daquilo que se passa dentro de nós, desse sono, dessa inconsciência acerca de nós mesmos, do fato de que estamos lidando com o mundo externo com base em reações do pensamento. É disso que precisamos nos livrar, pois não há Consciência no espelho de nossas relações. Esse é o nosso pecado original, a causa de toda a miséria e sofrimento.
*Este texto, escrito pelo Mestre Marcos Gualberto, compartilhando a visão do Sábio sobre a vida, foi veiculado pela primeira vez em 13 de outubro de 2010. Trata-se da décima primeira publicação deste blog, fazendo parte do acervo relativo aos primeiros anos deste trabalho, cujos textos, após terem sido mantidos offline nos últimos anos, serão republicados em série, de forma comemorativa pelos dez anos de criação deste blog, este que foi o primeiro canal da internet através do qual este trabalho tornou-se público. Para mais informações, acesse o nosso site clicando aqui.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Meditação é devoção à Verdade

Eu vejo que é muito importante você dar atenção ao que temos colocado dentro desses encontros. Se digo que você, em sua Natureza Real, é Aquilo que, de forma inegável, sustenta o sentir, o pensar, o agir, você tem uma base para a autoinvestigação. Você é essa Presença inegável! Então, essa é uma base perfeita, e você parte para a investigação com ela. Você é sempre essa Presença inegável, completa, perfeita, radiante. Não importa o modelo do pensar, do sentir, do perceber ou do agir, isso somente pode estar presente nessa Presença que Você é, sempre!
Isso nunca está obscurecido ou ocultado pelo tempo, circunstâncias ou estados mentais. Todos vocês experimentaram, pelo menos uma vez na vida, ansiedade, tristeza, preocupação, ou alguma forma de medo, conflito ou desejo, mas, mesmo assim, nada disso pode obscurecer ou esconder a sua Natureza Essencial. Partir dessa base é um grande início, um grande começo. Você não é uma “pessoa”, essa limitada “pessoa” que acredita ser.
A beleza dessa Investigação, que é Meditação, está em reconhecer essa Presença que está presente, essa Consciência livre de todo esforço, do peso dessa contradição existente no pensar, no tomar decisões, no sentir, nos desejos internos, nas emoções e sentimentos. Então, a beleza desses encontros está em descobrir que é possível Você se reconhecer. Aqui, reconhecer-se significa reconhecer Aquilo que está presente aqui e agora, e não reconhecer “alguém” aí. Portanto, jamais parta desse princípio equivocado de que você pode saber quem Você é a partir de um conhecimento.
O conhecimento é um modelo de crença, de informação, e o que Você é não está dentro de um modelo. Como a Realidade, Aquilo que é, não está dentro de um modelo, você não pode saber nada sobre Si, mas pode descobrir o que Você não é. Você não é essa “pessoa”, não é essa limitação, esse sentimento, esse pensamento, essa percepção ou esse modelo de ação. Essa é a base real dessa Descoberta, dessa Revelação, quando então desaparece todo o sofrimento, confusão, ansiedade, esse modelo de esforço para vencer, esse medo de perder ou essa espera de mais dor e mais conflito, o que causa medo, sempre medo, medo, medo... Todo esse esforço desaparece nesse simples e direto Reconhecimento de sua Natureza Essencial.
Portanto, Isso não é um saber, mas uma Compreensão da Vida, como Algo presente aqui e agora, e não está separado do que Você é. Então, Compreender a Si mesmo é Compreender a Vida, mas não é saber algo sobre a Vida, como não é saber algo sobre quem Você é. Sua Natureza Verdadeira é Liberdade, Amor, Paz e Felicidade, o que a mente não conhece. A felicidade, a paz e o amor que a mente conhece são estados que vêm e vão, experiências que estão presentes ou ausentes, que são circunstanciais. Tudo o que você conhece é circunstancial, faz parte do conhecido, da mente. O que realmente Você é não pode ser conhecido, porque não faz parte da mente, não faz parte do tempo, não é circunstancial. Essa é toda a diferença do Despertar para o mero conhecimento sobre o Despertar.
Portanto, sua Compreensão direta da Verdade é sempre aqui e agora, de forma imediata. Você tem sempre essa Compreensão quando a mente não está presente julgando, comparando, avaliando, movida por esses estados ou por esse nível de esforço para se livrar de algo ou para ganhar algo. Reparem como isso é bem simples e interessante. Quando “você” não está, Você está! Quando seu mundo subjetivo, seu mundo conhecido, que se sustenta em estados mentais − no esforço, no fazer, no agir, no pensar −, não está, Você está, e, quando Você está, aí está a Liberdade!
Essa Liberdade não anula o pensar, o sentir, a percepção ou a ação; Ela só não tem “você”, ou melhor, tem somente Você! Ela tem Você como o Real, não “você” como “pessoa”, que é uma fraude, uma mentira, uma ilusão. Você é Paz, e esse é o sinal. Pergunte-me qual é o sinal de quando Você, em sua Natureza Essencial, está presente. O sinal de quando Você está presente é que não há tempo, conhecimento, comparação, julgamento, avaliações mentais, desejo ou medo. Então, Isso é Meditação, é Consciência, é o Despertar do seu Natural Estado de Ser!
Por isso que eu tenho colocado muito isto para você: você não vai encontrar nenhuma resposta, nenhuma experiência espiritual que consiga lhe dar uma resposta para Aquilo que está fora da mente. Por mais que se espiritualize, você estará sempre preso a tempo, espaço e circunstância; sempre terá que melhorar um pouco mais, terá o que aprender, o que adquirir ou do que se livrar, o que conquistar ou do que se afastar. Então, esqueça tudo isso! Esqueça a espiritualidade ou a espiritualização.
Seu Estado de Sanidade é o Estado Real de Santidade, o Estado livre do tempo, livre da mente. Os Santos vivem livres da mente! Eles não são pessoas espirituais, pois não há, absolutamente, “pessoa” no estado de Santidade, de Real Sanidade. Quando há Sanidade, não há “pessoa”, não há “alguém”. O Santo é Deus, é a Verdade, a Consciência, e Isso está fora do tempo. Então, a resposta não é encontrada na mente, não podemos encontrar Isso no mundo dela. “Você” não pode encontrar Isso, não há como encontrar Isso.
Portanto, não adianta você se espiritualizar, dedicar sua vida a práticas esotéricas, místicas, a rituais e cerimônias. Tudo isso pode até ter alguma utilidade, como a de fazer você um pouco mais focado, psicologicamente, em um propósito, mas mesmo esse propósito terá que ser abandonado em algum momento. Tudo isso terá que ser abandonado, porque tudo isso ainda faz parte do tempo, parte do conhecido, do conhecimento. Então, é sempre um círculo de frustração. Vocês têm pensado que há uma técnica para Isso, que a experiência espiritual lhes dará essa Liberdade, que Isso irá acontecer em razão de alguma técnica, de uma prática ou de um exercício esotérico, ritualístico, mas não é verdade, não é nada disso.
Seu real exercício é trazer Consciência para este instante e se desconectar do tempo psicológico, desse tempo que a mente cria com suas crenças, conclusões, deduções, comparações, julgamentos, avaliações e imaginações. Repare como tenho falado para você sobre essa questão da imaginação e que peso enorme isso tem aí dentro, pois você passa o seu dia imaginando e, naturalmente, cultivando o medo.
Será que existe alguma coisa que você precisa saber ou conhecer? É assim que o seu cérebro funciona, porque desde criança você tem esse condicionamento do “aprender”. Para você, tudo você pode aprender. Esse é um condicionamento cerebral – você sabe que, tudo o que “você” é hoje, você aprendeu. Contudo, o que “você” é não é O que, de fato, Você é, exatamente porque você aprendeu sobre isso. O que você aprendeu não lhe trouxe Liberdade, não lhe deu O que Você é. Tudo o que você conhece na vida veio a partir disso. Você um dia aprendeu tudo isso, inclusive aprendeu a “ser alguém”.
Então, o seu ciúme, sua inveja, seu despeito, seus medos e desejos vieram desse conhecimento que você adquiriu. Como parte disso, você tem o nome, a idade, a história, a cultura... Tudo isso são coisas aprendidas, ou seja, você aprendeu a “ser alguém”. Quando você aprende a “ser alguém”, você esquece a Verdade sobre O que Você é, a Verdade Daquilo que é, aqui e agora, essa Realidade, essa Consciência. Então, será que existe algo para se aprender? Não! Agora, existe um desaprender, e você precisa somente disso. Somente assim você volta para a sua Natureza Essencial, volta para Casa.
Meditação é o seu Estado Natural, enquanto que a imaginação é algo artificial, é esse movimento do pensamento, que ele mesmo constrói. A Meditação é a Verdade, enquanto que essa imaginação, ou essa construção do pensamento, não tem base real. O fato é que a Meditação não torna você apenas consciente da ilusão da imaginação, mas também da ilusão do tempo, do pensamento, do experimentador, do pensador. Então, não somente a imaginação é descartada, mas o pensamento e a experiência também. Por isso tenho dito que a Meditação é a chave para isso tudo.
Entretanto, Meditação também não se aprende. Você reconhece a Si mesmo como Consciência, como Meditação, e esse é o fim da imaginação. Portanto, não é algo que você possa aprender. Aliás, se você conhece meditação, você terá que desaprender isso, porque essa meditação não serve. Essa meditação não é O que Você é, mas algo que você aprendeu, que lhe foi ensinado, que você descobriu. Se você descobriu, estava oculta, escondida, e a Verdade não é algo assim.
A Sabedoria, a Felicidade, a Meditação, Deus, não é algo assim, que está escondido. É mais uma questão de esquecimento do que de algo oculto, embora a expressão “esquecida” − “Meditação esquecida”, “Consciência esquecida”, “Deus esquecido” − também seja inadequada. A Coisa está aí, mas não está sendo assumida; Ela não está oculta. Repito: a Coisa toda está aqui e agora, não está oculta, mas não está sendo assumida. Assim é a Meditação, é Deus, a Verdade, a Felicidade, a Realização.
Meditação é devoção à Verdade. Se não há devoção à Verdade, não há como a Meditação florescer ou ser constatada aqui e agora. Então, repare: não é uma questão de algo oculto, é apenas uma desatenção que faz com que Isso pareça estar esquecido, e Isso pode ser reconhecido somente quando há entrega, rendição, devoção. Eu vejo a devoção como rendição, a rendição como entrega, e a entrega como o acolhimento da Verdade, quando então a Meditação não pode permanecer “esquecida”. Se não há devoção, não há rendição, então não há Meditação. Contudo, é impossível a Meditação permanecer “esquecida” se a devoção estiver presente aqui e agora. Devoção é essa rendição à Verdade!
Se você diz “eu não sei onde está a Verdade”, eu concordo plenamente com você! Não é algo que você possa saber, porque Isso se apresenta quando há devoção, não quando há conclusão, dedução, especulação lógica, ou seja, entendimento intelectual.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 16 de Março de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Nossa ênfase está na Verdadeira Meditação

É bom estarmos juntos aqui. O que estamos trabalhando juntos é o fim da crença em uma existência separada. Há uma Realidade presente, e Ela não conhece a separação. É necessário esquecer completamente todos os conceitos, livrar-se de toda forma de crença. A vivência Disso é algo direto. Você vive diretamente Isso, não acredita ou deixa de acreditar Nisso; não se trata de crença nem de descrença. Por isso, nós chamamos Isso de “o fim da ilusão”, mas é necessário se livrar até mesmo do conceito de ilusão, pois ainda é uma crença.
Se você realmente estiver cansado da identificação com a história de um mundo externo, a partir desse momento você fica pronto para Realizar a Verdade sobre Si mesmo. Então, o primeiro passo é esse. Enquanto você estiver ainda muito encantado pelo mundo – e, aqui, me refiro a esse mundo psicológico, onde toda sua vida está centrada em uma falsa identidade – o conflito, o sofrimento e a ilusão permanecerão.
Então, se você esquece esse mundo psicológico, esquece também todas as crenças e descrenças, pois é isso que ele representa. Quando falamos de mundo, estamos falando de pensamento cultural, através do qual você foi educado. Aqui, esse esquecimento do mundo significa estar cansado da ilusão. O completo esquecimento da ilusão significa que nada é, nada existe, e isso é o que podemos chamar de Realização, a Realização de sua Natureza Divina, Essencial. É preciso tomar ciência de sua Natureza Essencial, não desse “você” que acredita estar aí ouvindo essa fala. Quando alguém o chama pelo nome, você responde: “Sim, eu estou aqui”. Porém, aí está a ilusão, porque Você está presente mesmo antes de alguém lembrar o nome dado a esse corpo, a essa forma. Você está presente mesmo antes de saber que está presente! Percebam como isso é interessantíssimo − a Realidade do seu Ser é anterior à ideia de ser “alguém”, à ideia de estar presente.
Você acha que está aí porque sabe responder “estou aqui”. Quando alguém chama seu nome, um pensamento surge, que é: “eu”. Alguém chama você e você diz “sim, eu estou aqui”, mas esse pensamento “eu” é a ilusão, porque Você é anterior a essa ideia “eu”. Acho que agora está bem claro para você o que chamei de “falsa identidade”, de “sentido do ‘eu’”. Repare que o sentido do “eu” é a ilusão de estar presente. Sem essa ilusão, Você já é essa Presença presente, mas não essa “pessoa” que você chama de “eu”.
Assim, a investigação sobre si mesmo tem que ter essa base, esse princípio. Ela tem que partir da aceitação do que está fora daquilo que a mente pode concluir, idealizar, acreditar. O que é seu, por exemplo, é somente uma crença − a crença de “alguém” presente. Por sinal, esse “eu”, a crença de “alguém” presente, é somente confusão, não conhece o Silêncio e a Paz. Assim, quando você diz “estou aqui”, está tratando de uma ilusão, ou seja, tudo o que você pensa, vê e percebe não é a Realidade. Contudo, tudo que você pensa, percebe e vê é devido à Realidade, que é anterior a isso. É simples e profundo... A Realidade é a base de tudo que existe!
Essa autoinvestigação não é a investigação do “eu”; é somente a autoinvestigação, a investigação da Realidade do não-eu. Essa autoinvestigação traz para você a descoberta de que não existe nenhum “eu” presente na experiência de ver, perceber, sentir, ouvir, falar, ou seja, em toda e qualquer experiência. Nossa ênfase está na Verdadeira Meditação, não no que a grande parte das pessoas chama de meditação. Você pode até passar por algumas fases preliminares do que você chamaria de meditação, até chegar a esse momento aqui.
Estamos tratando de algo muito sutil. Quando essa Verdade floresce, não há mais espaço para a ignorância, nem para a ilusão. Aqui, se descarta ignorância, ilusão e, pasmem, conhecimento também. Na Realidade, conhecimento e ignorância partem de um princípio de compreensão meramente intelectual, e isso não funciona aqui. É realmente difícil de compreender, mas, se você realmente investigar, inquirir, você vai obter Isso, esse Estado sem estado. Você experiencia sua existência em objetos e pensamentos, os quais estão dentro dessa percepção de “sonho”. Você, em seu Ser, está antes desses objetos e pensamentos, porque Você é a Realidade em Si mesma.
Para conhecer a si mesmo, você precisa de um espelho. Externamente, para ver sua face, como está seu rosto e como você vai aparecer para o outro, você precisa de um espelho. Então, você vai se conhecer pela aparência do seu rosto e verá o que isso representa para todos à sua volta. Esse espelho serve somente para isso – saber como você vai parecer ao outro. Assim, esses pensamentos, sentimentos, sensações e percepções, dentro de você, são apenas um “espelho”, para que você saiba um pouco sobre como se sente, como se parece para si mesmo e para o mundo externo, mas isso não é a Verdade. A Verdade é anterior a esse “espelho”, a essa aparência.
Você está aqui para descobrir Aquilo que Você é antes daquilo que o pensamento diz sobre o que são você, o mundo e o outro; antes que o espelho diga o que você é ou o que você parece ser. Esse é o Despertar da Inteligência, e Ela existe somente quando há essa Liberdade de estar fora do circuito da mente, porque a mente é essa limitação, essa aparência, esse “espelho”. Então, o seu interesse pela Verdade deve ser o de descobrir Aquilo que está além do que o “espelho” diz, além do que a mente diz, além da aparência, de toda ideia que você faz sobre si, de tudo que você tem e pode ter psicologicamente, porque são apenas ideias, conceitos, crenças.
Vou repetir para você: conhecimento, ignorância e ilusão desaparecem nesse não condicionado Estado, que é livre de todos os estados. Não se trata de intelectualmente compreender isso. Você precisa receber Isso fora do intelecto. A Real Liberdade, Paz, Felicidade e Inteligência estão dentro de Você, não do lado de fora. Então, você precisa esquecer toda experiência que tem de mundo e descobrir Aquilo que está em Você. Isso está fora dessa experiência psicológica do mundo. Portanto, o objetivo é descobrir o que é viver fora da mente, do modelo do conhecido, e lidar com tudo isso com a Liberdade dessa Inteligência, que não confronta, não entra em conflito, não está em atrito, não está lutando contra a Vida como Ela é.
Não importa o que esteja se apresentando no mundo, na vida, em seu corpo ou em sua mente. Descobrir e vivenciar algo fora dessa limitação é a Realização. Assim, a Realidade é a base de tudo. Então, agora, a partir daí, você não se impressiona mais com os objetos, com as percepções, com os pensamentos, com as sensações, porque Você sabe que a base de tudo é a Realidade, e não há mais medo! O medo permanece enquanto a mente permanece, com suas crenças, seus conflitos, seu futuro e passado imaginários − sempre a psicológica ideia de tempo, de prever o que pode ou não acontecer. A mente não tem controle sobre isso, o pensamento não sabe nada sobre o futuro, pois o que ele faz é criar a imaginação do amanhã.
A mente não controla nada, absolutamente nada! Nada é seguro, nada é certo, e essa é a Beleza da Vida! Essa Beleza é viver e acolher essa imprevisibilidade, sair do limite do conhecido, dessa condição psicológica de vida, dessa vida de aparência no espelho, da ideia de um experimentador presente, da ideia de “alguém” nessa autoimportância, nessa ilusão do controle. Tudo isso produz medo e o sustenta. Isso é a ilusão! Reparem que essa ilusão não tem realidade, isso é ignorância! Porém, essa ignorância também não tem realidade, pois está somente no imaginário da mente; é ela produzindo isso. Como eu disse agora há pouco: nem conhecimento, nem ignorância, nem ilusão se sustentam diante da Realidade. Essa dimensão de existência é viver na Consciência, não na mente, e Você é essa Realidade em Si mesma. Não existe nada fora dessa Realidade, somente Ela é! Há somente Consciência, Verdade, Deus!
Vocês conhecem a flor de lótus? Ela vive na água, mas não a toca, fica na superfície. Quando cai sobre ela, a água escorre e não se acumula. Então, parece que ela não suporta viver imersa, suas pétalas permanecem sempre fora da água. A água cai sobre ela e termina rolando… A flor, em si, não se deixa tocar pela água, não fica mergulhada nela. Quando você olha para flor de lótus, vê todo o corpo dela imerso, mas a flor, em si, fica sobre a água. Sempre que a água sobe, a flor cresce um pouco mais para não ficar imersa. Se o nível da água sobe um pouco, ela também cresce um pouco mais, para acompanhar o ritmo do lago, pois ela precisa estar sobre a água.
Ficou claro o que eu quis dizer? Viver nesse mundo sem a ilusão de estar vivo nele é Sabedoria, e Isso é Liberdade, é Felicidade. Porém, acreditar que está vivendo nesse mundo, que você é dele e que somente ele é a realidade, isso é esquecer a sua Natureza Verdadeira. Parece que a flor de lótus não esquece: ela está sempre fora da água, embora na água.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 20 de Maio de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

10º - Para que correr?

A cuidadosa investigação de nós mesmos tem sido uma ferramenta extraordinária e poderosa para o encontro com a nossa Verdadeira Natureza. As práticas religiosas e toda forma de comportamento moral que nos deram, embora cumpram um certo papel disciplinar, nunca foram suficientes para nos darem aquilo que acreditamos poder encontrar ali: profunda Paz, Amor Verdadeiro e Alegria Real.
Continuamos sempre a acrescentar a nós mesmos alguma coisa que não tínhamos. Essa tem sido a grande ilusão que nos foi ensinada por aqueles que, antes de nós e como nós, estavam procurando algo. Não percebemos que essa corrida nunca tem uma parada, muito menos um fim.
Todos estão nos dizendo que estamos na direção certa e que, no futuro, em algum dia, chegaremos lá. Pergunte a essas pessoas o que encontraremos lá; elas terão uma resposta na ponta da língua. Agora, pergunte se elas conheceram ou conhecem alguém que já tenha encontrado aquilo que elas imaginam poder encontrar, alguém que já parou de correr, que encontrou o fim de sua busca. A resposta é óbvia.
Não podemos encontrar a Verdade acumulando, nessa ilusória personalidade, todo tipo de informação, conhecimento e experiência. A Verdade Daquilo que buscamos ou procuramos não é parte do que pode ser conhecido intelectualmente ou experimentado emocionalmente, como fomos levados a acreditar, e o contrário também é perfeitamente verdadeiro. Aqueles que, como nós, um dia viveram essa ilusão da corrida e descobriram que ela era somente uma fuga desesperada do sofrimento, ao saírem dessa maratona, logo compreenderam que precisavam, em vez de acumular, jogar fora todo o acúmulo, esvaziar-se de todo conteúdo, para reconhecerem sua própria Consciência Divina.
O que estamos dizendo é que, no Agora, na clara Visão de quem somos internamente, além de todo esse conteúdo acumulado (materialmente, intelectualmente e emocionalmente), está a Verdade que buscamos, a Felicidade Eterna.
Como viver Isso? Agora, em seu Ser, não se confunda com o que se passa em sua cabeça. Pensamentos são apenas pensamentos! Não dê a eles uma vida que não têm, identificando-se com eles. Esse tem sido o comportamento insano do ser humano. Ele está se guiando pelo pensamento, então tudo que ele faz é com base no desejo e nos motivos criados pelo pensamento, o que gera ainda mais confusão e sofrimento.
Permita que sua Pura Consciência, “Algo” que está além de sua cabeça e, portanto, além dos pensamentos, possa aí Despertar. Descubra que entre os pensamentos há um espaço – entre dois pensamentos há sempre um espaço! Esse é o espaço do Silêncio da Pura Consciência, da Consciência Divina! Apenas se desidentifique dos pensamentos e você será Livre, ou melhor, conhecerá a Liberdade que sempre foi sua.
*Este texto, escrito pelo Mestre Marcos Gualberto, compartilhando a visão do Sábio sobre a vida, foi veiculado pela primeira vez em 12 de outubro de 2010. Trata-se da décima publicação deste blog, fazendo parte do acervo relativo aos primeiros anos deste trabalho, cujos textos, após terem sido mantidos offline nos últimos anos, serão republicados em série, de forma comemorativa pelos dez anos de criação deste blog, este que foi o primeiro canal da internet através do qual este trabalho tornou-se público. Para mais informações, acesse o nosso site clicando aqui.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Descubra Isso de forma direta!

É inexplicável e indizível a oportunidade de se viver fora dos conflitos da mente, que são inumeráveis. A dificuldade da mente comum é aceitar sua autolimitação. Ela não vai abrir mão da autoconfiança e perceber sua limitação com facilidade. Dizer para a mente que ela é irreal é algo que ela não vai aceitar.
Quem é você quando acorda, caminha ou dirige um carro? Se você escutar uma voz lhe dizendo que isso é apenas uma aparência de um mecanismo em funcionamento, que tudo está acontecendo sem uma identidade presente, sua mente rejeitará isso de imediato. Ela não pode perceber com muita facilidade sua autolimitação, porque a própria estrutura de todas as suas crenças está na ilusão de uma identidade presente na experiência de falar, andar, dirigir um carro, e assim por diante.
Quando você estuda música, descobre que existe uma coisa chamada “centro tonal”, em torno do qual ela acontece. Da mesma forma, essa suposta identidade, que você acredita ser, carrega um centro em torno do qual acontece o movimento dela. Que centro é esse? É o que tenho chamado de “imaginação”. Essa falsa identidade acredita estar falando, caminhando, dirigindo, escolhendo, agindo, e, para que esse movimento exista, há a ilusão de um centro pessoal e particular. Esse sentido de uma individualidade separada, esse centro, é o que eu tenho chamado de “imaginação”.
Portanto, seus sentimentos, pensamentos, emoções, sensações e ações não são seus, não são de “alguém”. O que temos, na verdade, é o corpo e a mente funcionando, mas não há um centro particular e individual, embora haja um cérebro individual, com suas experiências aparentemente particulares. Você está funcionando, mas não tem uma entidade presente nesse funcionamento, o qual é todo da Existência, que tenho também chamado de Consciência.
Nosso trabalho, aqui, é para que você descubra Isso de forma direta. Não estamos lidando com mais uma ideia ou um conjunto de crenças. Isso aqui não é mais um conceito sendo colocado para que você acredite nele. Essa é a Visão da não dualidade, da não separatividade, na qual não há “pessoa”. Então, quando falamos de caminhar, falar, dirigir um carro, ou pensar, sentir, isso está acontecendo, mas não como o pensamento diz.
Sei que esse pensamento de ser uma “pessoa” é algo muito sutil. “Eu vi”; “eu existo”; “eu sou”; “eu tenho”; “eu faço”... Essas são expressões e descrições do pensamento sobre a experiência, mas são somente uma forma de crença. Isso tudo é somente esse “eu”, uma referência de justificativa para o que acontece. O ponto aqui é que a Existência não precisa de nenhuma justificativa para o que Ela mesma faz, porém, a mente precisa criar uma justificativa, e faz isso a partir de sua imaginação. Assim, ela cria um “eu” para sentir ou fazer, para ser herói ou vítima, para escolher, decidir, para ser responsável ou não, para se responsabilizar ou se livrar da culpa da responsabilidade.
Então, as coisas podem ir bem ou mal, mas haverá sempre essa ilusão de que estão acontecendo para “alguém” ou sendo feitas por “alguém”. Alguns chegam até a dizer: “Não sou eu que estou fazendo isso. Agora estou livre, não há nenhum ‘eu’”. Contudo, essas afirmações ainda são imaginárias. Agora, a crença é na não existência de um “eu”, enquanto antes era na existência de um “eu”, ou seja, o conceito ainda está presente. A verdade é que, se houver qualquer senso, grosseiro ou sutil, de um “eu”, ainda que você se proclame livre, realizado, iluminado, denomine-se “o Buda”, “o Cristo” ou “a Suprema Verdade”, essas denominações serão apenas mais ideias, mais conceitos e crenças.
Essa noção do “eu” é a suposição de que existe uma entidade à parte, separada da Realidade, da própria Existência, da Consciência. Depois que você consegue ver Isso, não pode mais jogar esse jogo. Esse é o jogo da ilusão conceitual, em que você pode estar de um lado − daqueles que creem na existência de uma entidade separada −, ou de outro − daqueles que não acreditam numa identidade separada −, porém, o jogo é o mesmo e continua. Existem muitos círculos, muitos lugares, onde essa questão da não separação ou da não dualidade é tratada, mas tudo ainda gira em torno desse jogo, porque isso não se resolve assim, já que a referência é sempre a crença, seja a crença em um “eu” ou em um “não eu”.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 13 de Abril de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

9º - O “Eu Sou” Livre

Existe uma Liberdade para todos nós, da qual tomamos conhecimento de forma direta quando aplicamos o nosso coração Nela. Não se trata, como muitos supõem, de algo a ser realizado ao final de um longo período de procura.
O que estamos dizendo, a princípio, parecerá estranho para uma mente treinada em sua ambição, que vive lutando para conquistar, que sempre acreditou no esforço de uma procura ambiciosa para realizar seus desejos.
No entanto, não é assim na Realização dessa Liberdade, pois não há nenhuma necessidade de procura ou busca para Isso. Primeiro, porque tudo aquilo que buscamos, do qual projetamos uma imagem, já faz parte do que conhecemos, é apenas parte de nossa ambição e, portanto, não é Real. A Real Liberdade não pode ser produzida pelo pensamento, pois não faz parte dele.
Em segundo lugar, essa Liberdade somente pode ter sua existência na Verdade de Deus, não na ideia sobre Ele, porque essa ideia é parte do pensamento, enquanto o Deus Real é Aquele em que vivemos, nos movemos e temos o nosso Ser. Então, abandone toda a busca, toda essa procura no exterior, pois a Verdade de Deus é a Verdade do nosso Ser.
Não podemos encontrar aquilo que nunca foi perdido. Já somos Livres desde o primeiro passo! Precisamos, sim, de uma fervorosa e ardente investigação em direção à Verdade que trazemos em nós mesmos, à Verdade de quem somos. Falo da investigação dessa ilusão da mente superficial, daquilo que acreditamos ser, nos recessos mais profundos do nosso coração, pois é ali que descobrimos quem realmente somos, descobrimos qual é o nosso Ser Verdadeiro.
Descobrindo, pela autoinvestigação, nosso Ser Real, nosso verdadeiro “Eu Sou”, passamos a viver livres do pensamento e, portanto, livres do tempo. Esse “Eu Sou” é Livre, não conhece nenhuma forma de preocupação, ansiedade, desejo e sofrimento.
*Este texto, escrito pelo Mestre Marcos Gualberto, compartilhando a visão do Sábio sobre a vida, foi veiculado pela primeira vez em 11 de outubro de 2010. Trata-se da nona publicação deste blog, fazendo parte do acervo relativo aos primeiros anos deste trabalho, cujos textos, após terem sido mantidos offline nos últimos anos, serão republicados em série, de forma comemorativa pelos dez anos de criação deste blog, este que foi o primeiro canal da internet através do qual este trabalho tornou-se público. Para mais informações, acesse o nosso site clicando aqui.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Encontrando a Paz, a Felicidade e a Liberdade!

Esperar uma experiência positiva é uma posição completamente falsa, porque nunca houve nenhuma experiência negativa. Você fica na expectativa de que o mundo sofra uma mudança para encontrar sua felicidade, sua paz, mas isso é completamente sem sentido. Por exemplo: você age ou tenta agir inteligentemente, como se soubesse o que deve fazer para evitar o sofrimento. Você não entende que, quanto mais você estuda ou aprende sobre o que deve fazer, mais limitada sua vida se torna.
Todos seus interesses são da mente, e todos os seus momentos – felizes e infelizes – são apenas como experiências de sonho. Quanto mais você se move dessa forma, mais se aproxima dessa forma humana de existir, e você sabe como é a “pessoa” − ela não deixa de “ser pessoa”. Por isso, tenho enfatizado a importância de você se desligar de suas reações, porque elas são sempre premeditadas pela crença. Isso não tem nada a ver com uma Vida Divina, mas, sim, com esse modelo sofrido, conflituoso, que é “ser uma pessoa”.
Jesus costumava dizer: “Não se ocupem com o que vocês irão viver amanhã, com o que irão comer, ou vestir, ou para onde irão”. Por que ele dizia isso? Você acha que a minha insistência é muito forte quanto à necessidade de você sair dessa história, dessa imagem, desse personagem de marido, filho, esposa, mãe, e acha que isso é muito difícil, que ouvir isso é muito duro. No entanto, enquanto você estiver interessado nessas coisas, continuará somente nelas. Isso é como alguém literalmente sonhando e interessado demais no que está acontecendo no sonho. Quando você sonha e o sonho não é bom, você fica doido para sair daquela situação. Porém, quando o sonho é bom ou agradável, você quer continuar naquilo. 
A dificuldade com que a gente se depara aqui é que, para o ego, o agradável é o desagradável, então você não se move para ir além desse “sonho”. No fundo, você ama ser mãe, pai, marido, filho, namorado, ser “gente”, mas não percebe que amar isso é carregar sempre o medo. Você pensa: “Eu posso existir, viver, estar vivo, ir ao trabalho, alimentar a minha criança, levar meu filho para escola, tomar decisões, ser amado, aceito...”. Porém, cada uma dessas posições tem a posição contrária. Você fará todas essas coisas, mas, quando não puder fazer alguma delas, vai haver muita dor, muito sofrimento. Você tem essa forte sensação de que a vida é continuar lutando, mas, quando não conseguir mais lutar, você vai se sentir deprimido, sozinho, em solidão, em sofrimento.
O problema realmente não está no fazer, mas na ideia de que “você” está presente nisso. Você pensa: “Eu nasci para um grande propósito, tenho uma grande missão, farei grandes coisas. Por isso, eu tenho que lutar, tenho que batalhar muito até ter a completa vitória”. Essa é a postura da mundanidade, do modelo de ser miserável.
Assim, você não encontra beleza, encontra luta, somente. No que as pessoas pensam? Sobre o que elas conversam? O que é a vida para elas? Agora, é o caso da nomeação de um novo ministro da Saúde, as atitudes do Presidente, o coronavírus, o lockdown... Para as pessoas, a vida é isso, somado à particularidade de meia dúzia de filhos, netos e aqueles que estão em volta delas. Todos estão tratando dessas “histórias” tão importantes para eles.
Então, você se depara com Buda, com Jesus Cristo, e eles dizem: “Não ocupe sua mente com o amanhã, com o que você irá comer, vestir, se estará vivo ou não no próximo final de semana”. Eles são de outro planeta? Será que, de fato, eles são de outro mundo? Ou será que eles somente parecem estar neste mundo, mas não estão nesse “sonho” em que você acredita estar? Eles não pensam: “Eu existo!”, “Eu sou!”, “Eu farei!”, “Vou realizar coisas amanhã!”, “Quero construir uma grande história!”. Eles compreendem que não estão aqui para fazer.
Contudo, olhem as pessoas à sua volta. Elas estão com medo, porque têm decisões que ainda não tomaram e desejos que não realizaram. É assim: primeiro, o desejo era ter dois filhos e, agora, é criá-los, porque ainda não são adultos; depois, o desejo será de ver os filhos deles e, após isso, viver muito para poder ver os filhos dos filhos deles. Porém, chegou o coronavírus e elas escutam o som das ambulâncias passando... Cada vez que as escuta, alguma coisa lá dentro é afetada e elas veem a própria morte sendo cantada por uma sirene de ambulância. Eu não sei se vocês entendem o que estou dizendo… Tem pessoas em volta de vocês ficando deprimidas ao ouvir o som de ambulância passando.
Então, ser uma “pessoa” não é uma coisa gratificante. Passar por esses mesmos caminhos antigos, pisar os mesmos passos, dar as mesmas passadas na mesma direção, parece-me não ser uma coisa muito boa. Não pegue esses pensamentos como “O que eu deveria comer?” ou “O que eu deveria fazer?” Não pegue! A maioria das pessoas está tendo pensamentos desse tipo: “O que farei?”, “O que vou realizar?”, “Onde estarei?”, “Como será o futuro para mim e para os meus?”.
Jesus, se estivesse diante de você, diria: “Deixe o mundo sozinho e as coisas onde elas estão! Deixe cada coisa seguir o seu próprio destino! Deixe cada coisa ser como ela é! Olhe isso tudo como um jogo, do qual o resultado não está em suas mãos. Abandone o apego! Abandone também o abandono do apego!”. Ele diria, ainda, para você: “Vá além desse mundo, além dessa ideia de fazer algo, ou de ganhar e perder algo!”.
Então, deixe esse mundo sozinho, as coisas onde estão. Não se envolva! Eu estou dizendo para que internamente, psicologicamente, você não se envolva. Assim, você fica Livre e pode conhecer Deus, viver a Verdade, ser Feliz. Sabe o que acontece, então? Seu modelo de “sonho” termina.
Uma pessoa num estado de completa aflição psicológica se joga do sétimo andar do prédio. Sua desordem psicológica é tão dolorosamente aguda que ela acredita que pode se livrar do mundo assim, achando que tudo vai acabar dessa forma. Então, vem um Sábio indiano e diz: “Ela vai procurar um novo ventre, porque ficou devendo muito e ainda está com muitas coisas pendentes, muitos desejos que queria realizar e não conseguiu”. O Sábio diz que ela precisa voltar de novo, de novo, de novo e de novo, para resolver assuntos não acabados. Você achou dramática essa história, não foi? Você acha que a sua pequena história não é tão dramática? Enquanto você tiver dívidas, terá que resolvê-las; se você estiver devendo, vai ter que pagar; se você estiver fugindo, vai ser capturado; se você não quiser algo, vai ter isso. Então, a sua história é tão dramática quanto essa.
Se você tem alguma forma de medo, quer escapar de algo, então, terá isso. Ou seja, de alguma forma, você está devendo. Os Sábios chamam isso de “reencarnar” ou “nascer de novo”, e eu chamo de “continuação do sonho”. O “sonho” continuará! Se nada for resolvido, tudo continuará! Então, tire sua mente disso! Em outras palavras, não permita que os pensamentos presentes fiquem voltados para o externo, porque, quando é assim, essas condições começam a tomar lugar.
Se seus pensamentos voltarem à Fonte e desaparecerem no Coração, você encontrará Paz, Felicidade e Liberdade Absolutas! Portanto, tire seus pensamentos do mundo! Traga todos esses pensamentos de volta à sua Fonte, que é o Silêncio, e, então, não haverá mais dívida, “sonho” e história. Assim, o mundo acaba.
*Trecho de um Satsang intensivo online ocorrido no dia 16 de Maio de 2020. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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