terça-feira, 24 de novembro de 2020

Um belíssimo jogo

A vida é um belíssimo jogo! Se você vê isso com clareza, é assim que ela parece: uma grande peça, um grande jogo, onde a Consciência desempenha todos os papéis. Aqui, o fato é que “você” desempenha papéis e está nesse jogo sem conhecer a sua Identidade Verdadeira, então ele se mantém oculto. Às vezes, como parte dessa grande peça, existe um Reconhecimento de sua Natureza Verdadeira, e estar em Satsang é a grande oportunidade para Isso.
Agora mesmo, estamos vivendo uma problemática mundial, pois estamos numa verdadeira guerra, na nossa “Terceira Guerra Mundial”, contra um exército invisível de vírus. Essa é uma problemática de saúde do planeta, mas não conseguimos encarar isso como um jogo, uma peça, uma representação divina. Na mente, você vê isso como um terrível drama, porém, quando o Show é visto, não é essa a visão. Quando o Show não é visto, tudo isso é encarado como um drama, e por quê? Porque você costuma desempenhar papéis sem conhecer sua Natureza Verdadeira, sua Real identidade.
Quando esse envolvimento com os papéis acontece e não se sabe que isso é um Show, isso tudo é levado muito a sério, então temos o drama, o pesado drama da vida. O seu envolvimento como um personagem nessa peça, ou nesse Show, sem o Reconhecimento da Verdade, é algo levado muito a sério. Todos os dramas da vida parecem surgir da falta desse Reconhecimento, ou seja, todo o seu problema é somente da “pessoa”. Em outras palavras, a ideia da “pessoa” é a inconsciência sobre o Show.
Quando se percebe o personagem, ele não desaparece, é apenas reconhecido como tal; não acontece um flash de luz e ele desaparece. Alguns imaginam a Iluminação como algo assim, um flash de luz, e é por isso que existe essa “iluminação” em massa acontecendo ao redor do planeta. É claro que aqui estou sendo irônico, porque isso é somente parte do drama da egoidentidade, pois o ego não se ilumina, mas pode se ver, se imaginar, “iluminado”. Por exemplo, há pessoas que vestem trajes laranja, ou colocam algum tipo de roupa especial, carregam na mão um japamala, que é uma espécie de terço de contas, deixam a barba crescer ou raspam a cabeça por completo, e “se iluminam”. Como isso está acontecendo ao redor do mundo, essas pessoas começam, também, a fazer discípulos e a ensinar a eles as “verdades espirituais” que elas conhecem. Isso, também, é parte de um papel que o personagem pode representar, sem ter a mínima consciência de que está numa representação e completamente inconsciente de Si mesmo.
Existe, porém, um outro aspecto desse Show, que é quando há um claro Reconhecimento da Verdade sobre Si mesmo, e é provável que esse aparente personagem continue a levar o que parece ser uma “vida comum”. Não é necessário que esse aparente personagem conte a outros que não existe nenhum personagem real e que esse Show também não é real, mas somente uma representação teatral, uma grande brincadeira divina. No entanto, há também a probabilidade de ele começar a comunicar Isso. Agora, estamos falando do Sábio, do Ser Realizado, não mais daquele que está se enganando e, naturalmente, enganando outros, sem nenhuma consciência dessa inconsciência.
Todos acompanham isso? Está claro? Então, a Liberdade é Algo singular, é o Reconhecimento do Show. A Consciência se reconhece como parte do Show e como a produtora dele todo, nesse ou naquele mecanismo humano − esse é o Real Despertar. O Desperto, o Ser Realizado, o Sábio, pode comunicar Isso a outros, ou não, e se esses outros recebem de verdade essa comunicação, também podem chegar a esse Reconhecimento, a esse mesmo Despertar.
Outro ponto aqui sobre essa peça, esse jogo, é que isso tudo está acontecendo sem um propósito espiritual ou evolutivo, como a mente gosta de fazer parecer. Para a mente, tudo tem que acontecer dentro de um propósito evolutivo, espiritual, ou de qualquer outro propósito que ela queira criar. Contudo, essa peça não tem propósito, é somente um entretenimento cósmico, uma festa sagrada, divina! A Consciência Suprema, a Verdade Divina, Deus, ou outro nome que você queira dar para o Autor de tudo isso, está em um entretenimento cósmico, um entretenimento fenomênico, autoproduzido.
Nesses dias, chamei isso de “uma piada cósmica que Deus está contando para Si mesmo”, mas só não lhe disse como é que Ele acha graça disso... Ele acha graça quando você pode rir disso! Então, é um entretenimento para fazê-lo rir, mas você pode rir somente se Acorda e vê o jogo, a peça, ou seja, quando consegue ver o entretenimento divino acontecendo. Se isso não acontece, no lugar disso você vê um drama. É difícil você aceitar a realidade disso tudo, porque não tem os olhos da Consciência para ver o que acontece. Na mente, o que chamamos agora há pouco de “Terceira Guerra Mundial” é encarado como um horror, mas não é visto assim sob os olhos da Verdade.
Há somente Deus fazendo tudo, quer sua mente compreenda isso e aceite ou não. Não há nada fora dessa Consciência, ou, em outras palavras, não existe nada acontecendo fora dessa Vontade Divina − essa é a visão do Sábio, do Ser Realizado. O fato é que tudo isso é um grande jogo divino, sendo que Você é esse jogo e não existe nenhuma existência separada Disso que Você é, de sua Natureza Verdadeira, Real. A beleza desse encontro chamado Satsang, que significa encontro com a Realidade, com a Verdade, é a possibilidade de conseguir perceber o jogo, o que está por trás, e a beleza de tudo isso. É um jogo fascinante! Nascer e morrer faz parte dele, mas é difícil perceber isso.
Estamos tratando em Satsang da Vida como Ela é, não como você, em sua mente, acredita que deveria ser. A Vida é sem todo esse conteúdo de pensamentos, é algo além de todos os conceitos, crenças, ideias, julgamentos, opiniões, de toda essa noção de justiça e injustiça, de verdade ou ilusão. O Florescimento da Verdade sobre Si mesmo, a Constatação da Realidade, do Show, do jogo, os Sábios chamam de Liberação. Isso é o fim da ilusão desse sentido de dualidade “eu e o mundo”, “eu e o outro”, “eu e a vida”, “eu e o divino”, porque isso não tem espaço na Realidade, é apenas um espaço de representação, de teatro, de Show, o que, em última instância, não é real.
É difícil acolher isso como sendo real, porque sua perspectiva de realidade é a da experiência da mente. Porém, a Vida está além do pensamento, da imaginação e de todos os conceitos que a mente possa produzir. Identificar-se ilusoriamente com um personagem é se confundir com uma crença, pois esse “eu” é um senso psicológico imaginário, apenas uma aparência, uma aparição na Consciência. Sua vida ilusória está assentada nessa base falsa, na crença desse “eu” psicológico, dessa identidade psicológica, dessa fantasia. Estar se identificando com esse “eu”, com esse senso psicológico de uma identidade, é estar se confundindo com uma imaginação.
Eu quero convidar você a permitir a Vida ser O que Ela é. Então, ao invés desse esforço para se livrar desse drama, que aqui é essa ideia de que você pode morrer contaminado pelo coronavírus, quero convidá-lo a se livrar desse esforço, livrando-se da ilusão de que você é “alguém”, que tem qualquer poder para controlar alguma coisa, como a vida ou a morte. Quando você está completamente livre do sentido do “eu”, da ilusão dessa identidade na experiência do viver, Você é um ser Realizado, Desperto, livre do sentido de separação.
Reparem que não estou falando de uma experiência. Agora há pouco, eu disse para você que alguns personagens podem se imaginar livres da ideia de serem “personagens”, mas continuar sentindo-se como tais. Você pode até ter um vislumbre de que não existe nenhum personagem presente, nenhuma identidade presente nessa experiência, mas toda experiência desse tipo vem e vai. Quando essa experiência, o vislumbre, está presente, surge a imaginação de se estar liberto, mas depois esse antigo “eu” volta e, nesse momento, fica claro que isso era somente uma crença também, mais uma experiência, e não é disso que estou falando.
Estou falando de Algo Real, que se assenta aí como seu Natural Estado de Ser, aqui e agora, não da “sensação de iluminação”, da “experiência de iluminação”, não da percepção temporária de que tudo isso é um grande Show, sem alguém presente aqui e agora. Não estou falando de uma experiência, mas sim de um mergulho irreversível, sem volta, onde o mergulhador desaparece no Oceano da Realidade.
Portanto, não se trata de um esforço para se livrar do pensamento ou da imaginação “eu sou alguém”, ou para se tornar “alguém iluminado”. Na realidade, é algo bastante perigoso o esforço para se “iluminar”, porque, ao se esforçar em direção a isso, você termina “se iluminando” mesmo. Ou seja, você cai noutra armadilha, pois antes era uma “pessoa sem iluminação” e, agora, é uma “pessoa iluminada” e continua inconsciente do Show, do jogo, porque ainda se confunde com um experimentador, com “alguém” presente aí. A Iluminação é o fim da ilusão de “alguém” presente, é a Consciência na Consciência, pela Consciência, em seu entretenimento divino, sua peça, seu jogo, onde não tem ninguém.
Então, Iluminação é permitir a Vida como Ela é, sem “alguém” dentro do Show, da peça, sem todo esse esforço para se livrar do “eu”, ou alcançar alguma coisa, sem esse estado que alguém chama de “iluminação”. É disso que estamos tratando em Satsang. Agora, neste momento de reclusão, cada um em sua quarentena, é uma oportunidade para se observar isso.
Esse descanso, ou essa rendição, essa entrega à Vida como Ela é, não acaba com a vida do corpo. A Vida continua a acontecer, mas ela não fica mais sobrecarregada pela complicação da imaginação, do pensamento. Eu chamo Isso de Estado Natural de Felicidade – a Vida, aqui e agora, sem toda essa representação imaginária que o pensamento produz, criando uma sobrecarga enorme de uma identidade falsa, ilusória, que é chamada de “eu”.
Nesse Estado Natural, não há mais a busca por algo, como paz, amor, felicidade, porque Paz, Amor, Felicidade e Consciência já estão aqui e agora, como a própria Vida! Estou falando de Você e de sua Natureza Verdadeira. Você é Isso, é Consciência, seja qual for sua aparência. Você pode ser gordo, magro, alto, baixo, não faz a menor diferença. Aqui, não estou falando daquilo que é aparente, mas Daquilo que está além das aparências. Você é Consciência!
As aparências podem aumentar, diminuir, mudar, se transformar, podem aparecer e desaparecer. Por exemplo, aparecem quando as crianças nascem e desaparecem quando as pessoas morrem, mas são somente aparências. As formas estão desaparecendo naquilo que chamamos de “morte”, nessa coisa que denominamos “guerra contra o vírus”, mas tudo se desenrola dentro dessa Consciência, dessa Realidade Suprema, e tudo isso é simplesmente a história da peça, do Show. Vou terminar dizendo isso: tudo o que você está vendo, tudo o que acontece, é apenas parte da história do Show, do jogo.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 27 de Março de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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