terça-feira, 24 de março de 2020

A Importância do Silêncio

Nesses encontros, estamos tratando de apenas uma coisa: a importância do Silêncio! Se a sua vida é superficial, que é a vida no mundo da mente, não há maturidade, não há Silêncio. Nessa superficialidade, se você observar bem, o que existe é uma profunda falta ou desconforto e uma constante perseguição de alguma forma de preenchimento. Se você realmente tem essa percepção, sem qualquer justificativa, ideia ou conceito, isso se torna um convite para algo inteiramente novo e desconhecido. Devido ao estado da mente ser muito repetitivo, esse modelo de estar disperso, tentando orquestrar ou trazer uma ordem para essa vida mental, é algo muito cansativo.
Assim, a única coisa que realmente importa é o Silêncio de sua Natureza Real, onde todas essas projeções da mente que criam o seu mundo podem desaparecer. Na realidade, elas desaparecem completamente quando há esse Espaço, esse Silêncio de sua Essencial Natureza. Enquanto você estiver envolvido com a mente, continuará preso nessa dimensão do conhecido, vivendo no tempo.
A mente se divide em sujeito e objeto, criando, de uma forma imaginária, um mundo para ela viver. Um mundo produzido pela mente, por ideias, por crenças, por conceitos, é um mundo tedioso, superficial, de imagens, onde a própria mente egoica se projeta.
Na realidade, há somente uma Verdade presente, que é a Verdade desse Silêncio de sua Natureza Real. Qualquer outra coisa é parte da produção da mente, com essa divisão entre sujeito e objeto. Enquanto isso se mantém, não há Verdade, Paz, Beleza… não há a Consciência da Presença da Graça. Assim, a mente vive buscando respostas para as questões que ela mesma cria.
Outro aspecto também presente é a permanência dessa dor psicológica, que é como um alarme. Esse sentimento repetitivo de que algo está faltando toma um formato tedioso. Embora você tente encontrar um escape, como a busca por uma interpretação psicológica, filosófica ou espiritual para essa dor, isso termina não funcionando. Na realidade, você está nessa aproximação de Satsang porque essa dor foi sinalizada. Todos estão vivendo essa dor, pois é a dor do sentido de separação, da vida mental, da vida desse falso “eu”, com um mundo objetivo projetado por ele, mas você está presente aqui porque ela lhe foi sinalizada de alguma forma.
Eu não estou falando de uma dor como uma ideia, como mais uma crença ou imaginação da própria mente, mas como um alarme muito notório. Assim, quando falo que o sofrimento é uma ilusão, não estou querendo dizer que a dor não esteja presente para aquele que a sente. Pode parecer a mesma coisa, mas, na verdade, não é. O sofrimento é uma ilusão, mas, enquanto você não percebe o que existe por detrás dele (falo de uma percepção direta, e não de mais uma ideia), essa dor continua. A verdade é que, se essa ilusão desaparece, essa dor não pode permanecer, porém, não se pode falar do fim da ilusão tendo uma mera compreensão intelectual ou uma outra crença sobre isso.
Então, não estou falando da dor como um conceito, mas como uma percepção, uma sensação direta. Ela é muito real até que não tenha nenhuma realidade. Uma vez que você tenha compreendido a Verdade sobre Si Mesmo, o sofrimento não pode permanecer presente, e essa dor também desaparece. Dessa forma, toda aquela energia previamente localizada nessa dor é completamente liberada e se dissolve, desaparece na Fonte de tudo. Nós estamos trabalhando isso dentro desses encontros! A mente deve desaparecer nesse Silêncio, tornar-se completamente livre do seu movimento de imagens, dos seus medos e crenças.
É importante que se diga, também, que isso não é possível através de um processo de repressão. Parece que as disciplinas espirituais trabalham muito com essa coisa da repressão, e as diversas formas de disciplinas aplicadas à mente estão, em geral, nessa direção. Então, não é pela repressão que se torna possível o Silêncio, mas pela observação. A observação é a base dessa investigação, desse olhar sem crenças, opiniões, julgamentos e comparações. Você precisa observar cada pensamento, sentimento e reação que surgem sem qualificá-los, condená-los, julgá-los, sem fazer qualquer coisa com isso.
Esse é um estado de atenção desmotivado. Toda e qualquer motivação é somente mais um movimento da mente, portanto, mais um movimento de desatenção. Quando há plena Atenção, não há motivação, há somente a própria Atenção, que está presente quando o ego não está. Ego é sinônimo de mente, e mente é sinônimo de interesse, de intenção. Uma das coisas básicas nesse Despertar é descobrir a beleza de viver sem intenções, sem interesses, livre de toda forma de ambição. Então, quando há essa Atenção, ela realiza naturalmente o desaparecimento desse falso “eu”, dessa ilusão da mente que se divide em sujeito e objeto.
Assim, você pode assistir despretensiosamente cada pensamento, descontentamento, inquietude, imagem, sentimento e pensamento que surgem. Nisso, aparece uma Percepção de Totalidade, e como não há mais esse jogo de interesse, esse movimento ainda sutil do ego, toda forma de conflito desaparece. Como soa isso para você? Você somente vai compreender Isso realizando Isso, observando tudo com completa Atenção.
Isso precisa se tornar seu real modelo de vida. Não pode ser um simples hábito, precisa ser a sua respiração! Você precisa se tornar cônscio de si mesmo, perceber-se, até que somente essa Atenção permaneça, e Ela é a própria Consciência agora! Somente assim faz sentido a palavra “Silêncio”, que, como eu disse no início, é a única coisa que importa. Agora você sabe que, quando há somente Silêncio, não existem observador e coisa observada, sujeito e objeto, nem um pensador com o seu pensamento. Esse Silêncio Real, que está presente quando não há nenhum senso de um experimentador com a sua experiência, é Meditação.
O Natural Estado do Ser é Meditação! Meditação é o Ser em seu Estado Natural! Então, está presente essa Inteligência, essa Liberdade, essa Verdade última, Aquilo que está fora do tempo, da mente, essa “Coisa” sem nome. Essa é a Verdade de Deus! É uma completa Transformação, sem qualquer decisão, escolha e resolução da sua parte.
A Vida não está acontecendo com base no pensamento, mas como um Mistério. Quando há essa Constatação, você deixa de se importar em compreender o que acontece, porque você não está mais aí para se ocupar com isso. Não há separação entre Você e esse Mistério, essa Manifestação do Desconhecido, essa Realidade de Deus! Esse é o fim dessa vida de superficialidade, de falta, desconforto, tédio… É o fim desse modelo mental!
Então, sem esse Natural Estado de Silêncio, de Verdade, de Consciência, nada faz sentido, e, depois que há esse completo Silêncio, essa Verdade e esse Sentido de Totalidade, mais uma vez, nada faz o menor sentido. Reparem que parece ser igual ‒ antes, a vida não fazia nenhum sentido e hoje ela continua sem qualquer sentido ou significado. Contudo, algo mudou agora: as lembranças e os pensamentos podem surgir, mas você sabe que há somente Consciência, e Ela está presente permeando tudo! É um Estado de não-estado, completamente livre de qualquer fardo, peso e direção. Aí está o Mistério, a Verdade!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 11 de Outubro de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang

segunda-feira, 16 de março de 2020

O que é o "eu"?

Participante: Existe alguma prova de que somos fantoches, de que não temos poder de escolha e livre-arbítrio?
Marcos Gualberto: Este trabalho requer uma séria investigação. É necessário que você compreenda de uma forma direta tudo isso. Você pode formular muitas perguntas e obter muitas respostas, mas nada disso terá absoluta importância vivencialmente, do ponto de vista da prática. Assim, você fica apenas com explicações teóricas, verbais. Afinal, quem é esse que pede provas? E para quem esse “eu” está pedindo provas?
Todas essas perguntas são para esse “eu”, que carrega todos esses dilemas e problemas, mas você não investiga a natureza dele. Então, você pode ter muitas respostas, mas isso ficará somente no nível intelectual e não resolverá a questão fundamental: o que é o “eu”? É esse “eu” que diz que está feliz ou triste, que sabe ou não sabe, que tinha algo e perdeu, que nasceu, que vai morrer, que está bem ou mal… É sempre esse “eu”! Esses são apenas alguns poucos exemplos de pensamentos centrados nesse “eu”.
Como você pode perceber em si mesmo, os pensamentos estão sempre centrados nesse “eu”, circulando em volta desse senso do “eu”. Ou seja, todos os problemas giram em torno de um “eu” e você nunca se pergunta o que ele é. Ele é real ou é uma ideia? Para você, esse “eu” tem livre-arbítrio, escolha, e pode fazer coisas ou não. Podemos ficar teorizando e filosofando sobre isso, porém, aqui estou convidando você a uma direta investigação do real significado da palavra “eu”. O que isso representa?
Então, a pergunta é: quem é você? O que é este “eu”? O que é você feliz ou triste? O que é você sabendo ou não? O que é você tendo algo ou perdendo? O que é você? O que é você, que nasceu e irá morrer? O que é você bem ou mal? Vocês estão constantemente, o dia todo, dizendo “eu”: “Eu estive lá”, “eu voltei”, “eu cheguei ontem”, “eu irei amanhã”, “eu estava bem”, “eu estive doente”... O tempo todo, todos os dias! Você usa muitas vezes esse pronome!
Contudo, de que “eu” estamos falando? Você está se identificando com o corpo e com a experiência que ele vivencia, confundindo-se com sentimentos, emoções e pensamentos. É por isso que você usa esse pronome “eu”, mas isso é somente uma crença. Você acredita que está dentro desse corpo e que existe um “eu” vivendo a experiência. Você pode dizer: “Sou eu mesmo, porque eu sinto e o outro não”. Assim, mais uma vez você está confundindo a experiência do sentir com uma entidade real presente nela.
É evidente que esse sentir está presente nesse organismo e não em outro. Porém, isso não prova que você é uma entidade real nessa experiência. A única coisa que isso prova é que esse mecanismo tem a habilidade de sentir, particularmente, uma sensação, uma emoção, uma experiência.
Assim, você está constantemente usando essa expressão “eu” sem saber qual é a Verdade sobre si mesmo. Dessa forma, você pode carregar durante muitos anos, ou uma vida inteira, a ideia de que você é “alguém”, porque existe o sentir, o pensar, a sensação e a percepção nesse organismo, de uma forma particular. Confiar nisso é confiar em uma ilusão! Isso não é real! Não estou dizendo que a experiência não é real; estou dizendo que o “experimentador” não é, o que é diferente. Eu não estou negando a sua experiência; estou questionando a verdade de “alguém” presente nela, a existência de uma entidade separada nela. É isso que investigamos em Satsang.
No momento em que eu questiono esse “eu”, esse “eu” se questiona, duvida de si mesmo. Então, um espaço de dúvida se abre, e essa é uma abertura para uma Inteligência Real, superior a esse movimento comum do intelecto, de crenças, deduções, conclusões e lógica. Quando isso acontece, você pode descobrir a Verdade dessa Liberdade, além dos problemas vinculados a esse sentido do “eu”. Então, todo esse sofrimento, questões e dilemas ligados a esse sentido de “pessoa” podem desaparecer.
Você não vai encontrar a resposta sobre quem Você é; você vai descobrir a ilusão da questão, do dilema, do problema ligado a esse centro ilusório, a esse falso centro de experiência. Isso é o que eu chamei de “descobrir a Verdade sobre si mesmo”. Eu não digo para as pessoas que elas encontrarão a resposta, porque, na verdade, você nunca pode encontrar uma resposta na mente, pois isso seria completamente inútil. Uma resposta para a mente é uma resposta dela própria, então, não pode ser Real também.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 10 de Janeiro de 2020 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang

domingo, 8 de março de 2020

A relação entre o sofrimento e a imaginação

O sofrimento da pessoa é só uma coisa: não ficar com o que se mostra aqui e agora, conflitar com o que é. O que é, é! Isso é maior do que esse “eu” e seus desejos, volições, intenções, motivações, imaginações... Pessoas estão em sofrimento o tempo todo porque estão imaginando o tempo todo!
Se você sai para pescar, você imagina pegar um grande peixe. Assim, enquanto o peixe não chega, você sofre! Depois, quando o peixe chega, você sofre também, porque ele não é o que você esperava. Se você pega um peixe maior do que esperava, você pode dizer que não sofre por isso, mas eu digo que você sofria até esse instante. O peixe maior acaba de chegar, você tem um pico de satisfação (dá para contar no relógio o tempo que dura esse grande ápice, o grande momento de satisfação, de realização), mas quando acaba esse momento, o pensamento diz: “Agora, tenho que pegar um maior que esse!”. Mas, às vezes, vem um menor, e depois um ainda menor…
Então, o movimento da mente é sempre o de adquirir e, depois, desgostar. Foi assim no seu casamento, foi assim quando nasceu o seu filho… Você teve um momento de grande alegria, mas hoje você olha e não é mais a mesma coisa. O movimento da mente é sempre de ganhar e perder, de busca por sensação. Esse é o movimento da “pessoa”. A “pessoa” vive nessa condição de história psicológica, de imaginação, em todos os aspectos dessa, assim chamada, sua vida. O que quer que ela deseje, não é suficiente! Ela sempre deseja aquilo e um pouco mais, sofre até conseguir e, depois que consegue, descobre que não era exatamente daquilo que ela precisava. Ou, ela pode, aparentemente, ter conseguido a realização do desejo e se sentido satisfeita por um momento, mas logo o movimento da mente entra dizendo que precisa ser diferente, que pode ser melhor, que ainda está ruim.
Então, o movimento da mente é sempre de insatisfação. Ela nunca se completa, nunca se preenche, porque, se isso acontece, ela para, ela perde a importância, a imaginação para de correr. Por isso, que você, em seu Estado Natural, não vive na imaginação, não está nessa “viagem”, nessa identificação com o movimento psicológico do “eu” — “eu”, como um objeto, e um mundo do lado de fora para ser alcançado. Tudo está presente agora, aqui. Então, se você vai pescar, você vai somente pescar…
Eu percebo que a surpresa é o elemento que tem tomado o lugar da imaginação na minha experiência. Então, você vai pescar e o elemento surpresa é um entretenimento tão interessante que ele lança fora o elemento da imaginação. “Vamos ver qual é o peixe que virá!”. Então, não há dor. A dor estaria instalada numa expectativa, na exigência de ter que pegar um peixe que talvez não viesse. Então, esse elemento de curiosidade e surpresa é bem interessante!
A vida com o elemento “surpresa” no lugar do elemento “imaginação” é bem mais interessante, porque o conflito não faz falta; a dor da expectativa frustrada, não faz falta. Essa dor sempre chega para esse elemento não real, mantido e sustentado pela imaginação, nesse mecanismo chamado “eu”. Então, você pode se divertir e, na realidade, tudo fica surpreendentemente divertido quando não há a necessidade de se criar uma expectativa imaginária sobre o momento seguinte. Então, a surpresa, o inusitado, o inesperado, é bem mais interessante. Isso está presente quando não se sabe, quando não se busca saber, quando não se tem interesse em saber, quando não se tem necessidade psicológica de saber, ou seja, quando não há imaginação.
Viver sem expectativa é viver sem ansiedade, sem um futuro psicológico. As pessoas sofrem porque não estão aqui e agora! Elas estão no passado, no futuro, e isso não é nada além de imaginação. Elas têm o que ganhar e o que perder. O que pode se perder causa medo, e o que pode se ganhar está na fantasia de um preenchimento de felicidade eterna. Esse é o mundo do “eu”: sofrimento! Ganhou, pegou o peixe grande (e esse peixe grande pode ser qualquer coisa: casamento, filho, casa própria, carro...), “realizou”, mas não se realizou! É a natureza da mente! Nesse seu imaginário movimento, é natural estar insatisfeita, infeliz, miserável. Isso só é possível quando existe a ilusão do tempo.
Você nunca tem Alegria fora do Agora! Você tem a ilusão de poder estar alegre daqui a alguns minutos ou daqui a algum determinado tempo. Até lá, você está triste... Está triste justamente porque não está alegre ainda! A mente é estúpida! A Alegria está agora! Se Ela não está, é justamente porque você quer que Ela esteja! Para você, um objetivo precisa ser alcançado para a Alegria estar presente, e isso é dor, desejo, ansiedade, expectativa, conflito!
Então, tudo o que você espera é frustração. Eu não disse que o que você vai encontrar é frustração. Eu disse que o movimento da espera já é o movimento da frustração, pois já colocou você em um idealismo fora da Realidade presente aqui e agora.
Se você não encontra o que Você é, você vai imaginar o que você não é! Tudo o que você pode fazer é imaginar o que você não é! Na verdade, você está à procura de Si mesmo, mas faz isso se movimentando na imaginação de objetos, enquanto que o que você busca está aqui e agora, no que Você é! Mas, a mente não sabe disso, porque ela está há milênios se movimentando para fora, para os sentidos, para a experiência, e não para Aquilo que está fora da experiência.
No entanto, se você está Aqui, em seu Ser, a experiência é linda! Mas, se você está absorvido nessa experiência, você está completamente alienado da Consciência, que é Meditação. Então, você vive em frustração, porque vive em expectativa. Se você descobre o que é estar Aqui, não importa o lugar, você sempre está Aqui! Do contrário, você se mantém nessa ilusão do tempo psicológico, sempre esperando a Alegria, sem nunca se perguntar: “Quem é esse que espera?”.
*Transcrição de uma fala realizada no Retiro de Carnaval, na Ilha de Itamaracá/PE, em 25 de fevereiro de 2020 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco:http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang

segunda-feira, 2 de março de 2020

Qual é a verdade sobre o tempo?

Devoto: Mestre, qual é a verdade sobre o tempo?
Marcos: O tempo é algo presente no mundo da mente. A mente sempre vive no tempo: ou ela está no passado ou no futuro ou acredita estar no presente. Esse tempo é uma distância fictícia criada pela imaginação de que algo aconteceu pela manhã ou de que algo acontecerá depois do almoço. Para se chegar nesse “algo que aconteceu pela manhã” ou nesse “algo que, possivelmente, acontecerá depois do almoço”, você precisa de um elemento: imaginação. Sem imaginação, sem pensamento; sem pensamento, sem tempo. Sem imaginação, não há imagem, não há objeto, não há pensamento, e, portanto, não há tempo.
Então, o que é o tempo? O tempo é esse movimento fictício que a imaginação sustenta como realidade através do pensamento. Aqui, estamos lidando apenas com um fenômeno, chamado "pensamento". Na verdade, não existe esse tempo psicológico! Psicologicamente falando, não há tempo! O único tempo que temos é o cronológico, o tempo para fins práticos neste mundo de sonho que chamamos de “vida humana”. Esse tempo também é determinado pela distância entre objetos.
Quando você olha para a linha do horizonte pela manhã, em algum momento o sol aparece. A impressão que se tem é que ele vai começar a subir e depois ele irá se pôr. Do nascer ao pôr do sol, você tem tudo acontecendo. Tudo está acontecendo entre distâncias no espaço, no movimento entre objetos. Esse é o tempo que conhecemos: o tempo do relógio, o tempo cronológico. Mas, há também esse tempo fictício sustentado e mantido pelo pensamento. É isso que a imaginação faz! Esse psicológico tempo é o tempo da “pessoa”. Você, em seu Estado Natural, não dá importância à imaginação.
Devoto: Mas, a imaginação ainda aparece no Estado Natural?
Marcos: A vitalidade da imagem que o pensamento forma precisa desse movimento. Isso chama-se “imaginar”. Isso perde completamente o propósito quando você está em seu Estado Natural. Só o Agora é suficiente! Só o Agora é Real! Isso é assim sempre! Então, esse movimento de passado e futuro, bem como de ideias sobre o presente, é típico dessa vitalidade que a imaginação dá ao pensamento não observado. Todo pensamento é somente um objeto.
Devoto: Qual é a diferença básica entre imaginação e pensamento?
Marcos: A imaginação é a vitalidade do pensamento. O pensamento é só um objeto.
Devoto: A gente pode dizer que na imaginação há tempo e espaço, e no pensamento não?
Marcos: Sim. O pensamento é só um fenômeno de apresentação do objeto. A imaginação é o movimento desse objeto num espaço fictício. Essa é a vitalidade da imaginação.
A sua pergunta foi: “No Estado Natural existe imaginação?” No Estado Natural, o que importa é o que é prático, o que tem realidade, e isso está fora do movimento subjetivo da imaginação, do pensamento. Embora o pensamento, como algo prático, possa aparecer como um objeto, ele não é mais um elemento para sustentar uma identidade presente naquela experiência, que é o que a imaginação faz.
A mente egoica vive em constante movimento. Repare qual é a sua inclinação durante todas as horas do dia: ou você está se lembrando de algo ou antecipando alguma coisa (psicologicamente falando). Esse é o estado não natural de ser, é o estado mental de existir. Esse é o movimento dessa falsa identidade. Ela vive e se perpetua no tempo, então, está sempre no passado, que é memória, ou no futuro, que é antecipação, que é desejo. Ela sempre espera algo, portanto, vive antecipando o que é bom, desejando, e o que é ruim, temendo. Ela vive num mundo subjetivo. A “pessoa” não é nada além de uma crença que você tem sobre si mesmo. E quem é esse que tem essa crença sobre si mesmo? Estamos falando somente do pensamento! Não há um elemento tendo nada sobre si mesmo, pois não existe um elemento imaginando!
Quando falamos de imaginação, não estamos falando de uma energia especial que vem de uma entidade. Não estamos dizendo que há uma entidade que, consciente ou inconscientemente, imagina. Estamos falando do próprio movimento natural do pensamento não observado. Se o pensamento pode ser observado, é sinal de que ele não é Você, então, o movimento dele pode ser detido. Em outras palavras, a imaginação pode ser rompida e, quando isso acontece, não existe espaço para esse movimento do “eu”, porque essa falsa identidade vive só na imaginação.
Portanto, o pensamento não é o problema! Ele só é um “inimigo” quando está a serviço da imaginação. Mas, se não há imaginação, o pensamento é só pensamento. Assim, ele perde a importância, e é natural que desapareça.
A Vida acontece agora! Não há Vida no passado nem no futuro. Tudo está acontecendo agora! O café da manhã está acontecendo agora; o jantar também. Você pergunta: “E por que não vejo?” Quem pode ver isso? Quem pode ver o café ou o jantar? Quem pode ver a manhã ou a noite? “Eu”! Imaginação! E com a imaginação, o café da manhã, o jantar, a manhã ou a noite. Entretanto, a Vida não está nesse movimento imaginário! A Vida está agora, então, tudo está agora!
Quando você nasceu? “Em 1900 e bolinhas”... Do que você está falando? Você está usando a mesma linha de imaginação que você usa para falar do tal café da manhã, que serve para falar sobre o jantar à noite. Mas, onde está tudo isso?
A natureza da mente egoica é movimento. Quando falamos da mente egoica, estamos falando no movimento do pensamento que sustenta o sentido de tempo e espaço e, portanto, de separação. A mente egoica tem, naturalmente, esse movimento de continuidade psicológica ou, em outras palavras, o elemento “imaginação”. Para poder se manter nesse movimento, ela dá a si mesma um nome, que se trata do objeto principal e primordial desse processo. Ela chama a si mesma de “eu” e fala que nasceu em 1900 e bolinhas. Fala que tomou o café da manhã, fala que vai jantar à noite, fala que vai morrer... Isso está dentro desse processo imaginário que chamamos de “mente egoica”, que não é outra coisa senão um simples movimento de pensamento que nós chamamos aqui de “imaginação”.
Então, o que é o tempo? Uma ideia, um conceito, uma crença, um pensamento. No Estado Natural, a imaginação acontece? Não! O Estado Natural é a Liberdade de Ser o que, de fato, Você é, e isso só pode ser Agora, portanto, a imaginação é dispensável. Mas, para aquele “eu” que se imagina como objeto primordial nesse processo de imaginação, e que precisa criar tempo e espaço, a imaginação é tudo! Sem ela, o “eu” não está aí.
Assim, nós chegamos a um ponto: enquanto o sentido do “eu” – que não é nada além dessa ideia de ser “alguém” – estiver presente, a ilusão do tempo estará presente. Estamos falando do tempo psicológico, no qual “você” é uma suposta entidade que se move em um mundo imaginário sustentando o sofrimento. Sofrimento pressupõe conflito com o que é, com o que se apresenta aqui e agora.
Assim, esse elemento precisa da imaginação para sustentar o conflito, que é sofrimento. Uma vez que termine esse movimento psicológico, imaginário, o sofrimento também termina. Enquanto esse elemento “eu” estiver presente, esse movimento de afastamento deste instante (imaginariamente, psicologicamente) estará presente e, portanto, o sofrimento continuará presente.
*Transcrição de uma fala realizada no Retiro de Carnaval, na Ilha de Itamaracá/PE, em 25 de fevereiro de 2020 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco:: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang

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