sábado, 31 de outubro de 2020

Sua vida no ego é uma vida de ilusão

O que você espera quando nos encontramos? Mais conhecimento? Conhecer um pouco mais? Você acha que apenas o conhecimento vai resolver a situação? Então, a Verdade, o Amor, a Paz, a Clareza e a Inteligência nascem do conhecimento? É assim?
Não há conhecimento para se ter, nada para se saber. Há apenas o Conhecimento deste momento presente, que é o não saber. Esse único Conhecimento está livre de objetos, livre da mente ilusória com toda sua informação sobre eventos, acontecimentos, incidentes e experiências. A Inteligência é possível e se encontra nesse “não há conhecimento para se ter”.
Esse “senso de pessoa”, que você acredita ser, é todo o problema imaginário que você tem. A Vida acontece neste presente momento, que é o Conhecimento do não saber. Todo o sofrimento desaparece neste momento do não saber, que é o único Conhecimento possível, real. Estou dizendo para você que tudo o que a sua mente está produzindo é falso! Você tem um falso conhecimento sobre o que está acontecendo, e acolher isso é Liberdade. Enquanto resistir a isso, o que você tem é servidão, escravidão, prisão. Você vive nessa egoidentidade, e isso não é Vida.
Se você pegar um pássaro e o colocar dentro de uma gaiola, qual será o tempo de vida dele? Não importa, porque, durante o tempo em que passar nessa gaiola, ele estará vivo, mas isso não é vida para o pássaro. A vida para o pássaro são as flores, as árvores, os galhos, o voo, a dança, o canto para atrair a parceira… Tudo isso em liberdade. Mas dentro de uma gaiola não há liberdade! Não importa o tempo de vida desse pássaro; se está em uma gaiola, ele não está verdadeiramente vivo, e assim é a existência nessa condição de “ser pessoa”.
A Vida acontece nesse não saber do presente momento, no qual existe Paz, Clareza, Plenitude, mas a “vida humana” é a identificação com o corpo, na ideia desse “eu”, o “eu-pássaro” na gaiola. Aqui, a sua gaiola é a mente, e é nela que está o seu mundo. Numa gaiola de pássaros, você encontra um poleiro, que jamais será os galhos livres de uma árvore, movendo-se ao som das folhas ao vento. Além do poleiro, é colocado um recipiente com água e outro com comida, para o pássaro poder beber água e se alimentar, mas ele não está livre. Na condição dessa egoidentidade, parece que você tem tudo: tem casa, comida e água; pode se casar e até procriar, ter seus filhotes, pois uma gaiola grande comporta tudo isso, e dá até para dar alguns saltos parecidos com voos. Porém, não tem o céu, os rios, a terra, as árvores, a amplidão do espaço, e não há Liberdade.
Essa condição de vida na mente é uma gaiola muito especializada, não uma gaiola simples de pássaros. A mente é uma gaiola que se especializou ao longo de milênios e criou esses “conhecimentos”, que você acredita existir. Acabo de dizer que não há conhecimento, mas a mente criou isso e, naturalmente, colocou ali muitos objetos, posses, que é onde está a sua identidade. Você tem apego, e, nesse medo, tem a não paz, a não clareza, a não plenitude. Esta é a condição em que você nasceu: em exílio. Como definição, exílio é quando você está fora do seu lugar de origem, expatriado, na condição de refugiado em um país estrangeiro, e ser repatriado significa voltar para casa. Aqui, a “Casa” é a extraordinária Graça, Beleza e Verdade desse não saber, neste presente momento, onde existe a Liberdade em relação a esses objetos ilusórios, a Liberdade da não mente. Isso é viver em Deus!
Estou falando que nenhum conhecimento é possível. Há somente o Conhecimento do não conhecimento, o Saber do não saber, neste momento, neste presente instante, nesta Consciência. Então, há Paz, Clareza, e surge essa Plenitude… Não há conhecimento, não há objeto, nada existe em lugar nenhum! Há presente somente Aquilo que conhece esse Vazio, esse não saber. Não há pássaro nem gaiola. Então, você não veio aqui conhecer, mas descobrir que não adianta conhecer, e que conhecer é peso.
Se essa é a Verdade e se existe algo do qual você precisa se livrar, isso somente será possível se você permitir que essas ilusões se dissolvam, pois são esses ilusórios objetos da mente que constituem a sua prisão. Assim, permita que todas as ilusões construídas pela mente se dissolvam. Não se agarre a elas! O que eu tenho percebido é que você não quer acolher a Vida, não está pronto para ouvir o inesperado, não está pronto para o não saber, para essa Liberdade do imprevisível. Você não está pronto, ou não se faz pronto, para permitir que toda essa ilusão se dissolva no Nada, no Absoluto Nada, onde todas as ilusões se dissolvem.
O Nada é esse esvaziamento completo, onde esse “sonho de existência” desaparece. Estou descrevendo para você o Estado não descritível, o Estado sem ego, esse Estado de cuidado, de ação, de movimento, de atenção, e com total ausência de medo. Esse não é como um estado inerte e insensível de uma pedra, frio como um bloco de gelo; não é isso. Repito: o Estado sem ego é de ação, de atenção, de cuidado, de movimento, mas é sem medo, porque não há ilusão. Então, quando você se deparar com uma vicissitude, uma adversidade, uma complexidade, será prático, ágil, estará em movimento, tomará os cuidados, mas não haverá medo, porque não haverá ilusão.
Sua vida no ego é uma vida de ilusão, portanto é uma vida de medo. Aquilo que é prático não é feito, a atenção que precisa ter você não tem, e o cuidado que se faz necessário não acontece, porque não há Consciência. Então, permita que todas essas ilusões se dissolvam nesse absoluto Nada. Deixe se dissolver essa sensação de ser, saber... essa sensação de controle e de ordem imaginária que o pensamento produz e, assim, você liberará todas as suas dúvidas, perguntas. Quando tudo isso se vai, também se vão a ansiedade, a imaginação, o desespero e essas sensações negativas e positivas. Consegue ver a beleza disso?
Você consegue, também, ver que a vida no ego é de um medo constante, criado e sustentado pela ilusão? Você não precisa dessas perguntas, dessa ansiedade, dessa antecipação negativa, dessa esperança medíocre de realização de um sonho amanhã. Para ter essa Plenitude, Paz, Felicidade, você não precisa sonhar, pois isso é algo típico da mente medíocre, que busca treinamento em palestra de autoajuda, que acredita que o futuro pode ser mais completo do que a Completude deste instante, deste momento. Tudo isso é imaginação!
*Transcrição de uma fala em um intensivo on-line em 19 de Setembro de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Você não está no mundo

Estamos diante de uma palavra direta! Não é o significado das palavras que nos interessa em encontros como esse. Palavras você encontra com muita facilidade em uma conferência, lendo um livro… Nosso propósito, aqui, não é compartilhar ensinamentos; nós estamos apenas fazendo investigações. O propósito é que você compreenda, de uma forma direta, em sua própria experiência, para onde estamos apontando. Aqui, se trata de saber ou sentir diretamente, e isso cria uma mudança de perspectiva extraordinária. Isso pode lhe trazer uma nova maneira de viver, de experimentar a vida. Então, Satsang aponta para essa possibilidade – esse é o propósito dos nossos encontros.
Uma das coisas importantes a serem compreendidas sobre isso é que não é possível você ter essa Visão Real da Vida, de Si mesmo e, ao mesmo tempo, continuar tendo a visão de si mesmo e da vida nesse formato que você vem tendo. Isso é algo que pode, literalmente, virar do avesso sua perspectiva. A Realização é algo que destrói o seu mundo!
Você não está no mundo! O mundo está presente em Você, mas você não está nele! Alguns de vocês não têm investigado isso com profundidade. Então, você acorda pela manhã, se dirige para o trabalho e está vivo, mas o Universo está morto. No Despertar, algo diferente acontece: você acorda pela manhã, toma seu banho, vai para o trabalho e tudo está acontecendo, mas agora está acontecendo com ninguém e para ninguém. O Universo está vivo e “você” está morto. Há o funcionamento natural do Universo, e Isso é o Real Você; não esse “você” antigo, esse “você” da velha perspectiva, do modo antigo de ver a vida e a si mesmo, esse “você” que se vê como uma pessoa, vivendo dentro de um corpo, com questões diversas e uma quantidade inumerável de problemas (problemas emocionais, psicológicos, sociais e até políticos).
Esses problemas só estão aí porque “você” está vivo e o Universo está morto. Você, em sua Natureza Verdadeira, é a Vida, o próprio Universo, e não carrega essa miséria. Esse seu “mundinho” é pequeno, carregado, pesado, difícil, de dor e sofrimento, sem Paz, com relacionamentos quebrados, casamento infeliz, falta de propósito, confusão e conflito com a família, com os pais, com a política do país, com toda a situação externa acontecendo no mundo. Isso é “você” vivo e o Universo morto! “Você” com o seu “mundinho”.
O mundo do “eu” é sempre um mundo de problemas, conflitos, dilemas, sofrimento, medo, raiva, e tudo mais. Isso está aí devido à crença nessa “pessoa” separada, por falta de uma autoinvestigação com profundidade. Você precisa ter uma intenção fervorosa, zelosa, aplicada, então poderá ver a Si mesmo, a Vida, o Universo Vivo. De outra forma, continuará em seu “mundinho”, cheio de questões que jamais se resolvem, jamais têm solução. Reparem que vocês jamais conseguirão mudar alguma coisa do lado de fora. O mundo é assim desde que ele é mundo. Logo você vai embora e tudo continuará do mesmo jeito. É um trabalho constante em vão; uma atividade psicológica de conflito, dor e contradição.
A Realidade é Absoluta, além de todas as ideias, crenças e características. Existe algo em você que conhece sua Real Natureza, além de “ser” e “não ser”, além da chamada “consciência” ou “inconsciência”, da “vida” ou “morte”. Assim, é mergulhando em Si mesmo que você conhece a Real Meditação, a Verdadeira Natureza do Ser, da Verdade, desse Universo Vivo. Então, todo o mundo – não o seu “mundinho” – pode aparecer nessa Luz da Suprema Consciência – não no que você chama de “consciência”.
A Realidade é não conceitual, não é uma ideia, não é uma crença. Quando você desperta pela manhã, essa Suprema Consciência está presente. Na verdade, antes de você despertar pela manhã, essa Suprema Consciência já estava presente. Nesse Estado de Ser, Consciência, você percebe o corpo, a mente, o mundo, esse Universo Vivo, sem o “eu”, sem o sentido de “alguém” se levantando, tomando café, indo para o trabalho... Essa é uma posição fundamental! Você pode achar muito bonito ouvir tudo isso, mas essa é só a “melodia da canção”. Não fique apenas ouvindo a “melodia da canção”! É necessário ouvir, celebrar, dançar, viver a “canção”!
Isso é como o Sol... Nenhum outro objeto faz o Sol brilhar mais ou perder seu brilho. Você é o Sol brilhando no Espaço! Você está presente e brilhando, mas, todas as vezes que se confunde com a mente, com as crenças que surgem, você termina ficando limitado.
Agora, você é uma pessoa acordando pela manhã, tomando seu banho, seu café, indo para o trabalho... Você faz isso por quarenta, cinquenta, sessenta, setenta anos, e depois morre. Você só pode morrer porque não é o Universo Vivo, mas uma “pessoa”. Você carrega sempre essa ilusão do “sentido de pessoa”, e esse é o seu medo.
A sua Essência é pura não dualidade, não separação. Quando o corpo, a mente e os objetos são percebidos nessa Consciência, é como o Sol brilhando no Espaço. Nem o corpo, nem a mente, nem o mundo, nem os objetos, nem as experiências podem ofuscar, alterar, para mais ou pra menos, o brilho desse Sol. Essa é sua Condição Natural, mesmo agora. Quando você se identifica com a mente, se perde na identidade pessoal, começa a emitir opiniões, julgamentos, a tirar conclusões, então colide, novamente, com seu pequeno mundo.
Em sua Natureza Real, Você está além de todos os estados, experiências, crenças, conceitos, acordos e desacordos. Em seu Ser, Você é a Felicidade, não pode estar revoltado, infeliz, insatisfeito, se sentir miserável. Mas, quando você colide com seu pequeno mundo, toda essa Clareza desaparece, toda essa Visão da Realidade se vai.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 25 de Março de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Este é o princípio da Meditação

Aqui, temos a oportunidade de mais um contato com nós mesmos. Satsang é um contato com a Realidade, essa Realidade que somos. É muito importante que você esteja disponível, que aprenda a priorizar esse encontro consigo mesmo.
A mente está sempre enfatizando o objeto. Ela se vê como sujeito e enfatiza o objeto. Parece que todas as suas experiências acontecem nesse nível – são experiências para um sujeito, e o veículo dessa experiência é sempre o objeto. Essa sua procura por experiência é para encontrar o que você deseja, no entanto parece que isso nunca é encontrado, fica sempre faltando alguma coisa, algo continua incompleto, não importando a qualidade de experiência que você tenha ou a importância do objeto com o qual você entre em contato.
Você, como um “sujeito”, preso a essa visão da mente, nunca se vê completo, nunca se vê realmente satisfeito. Há uma constante insatisfação. Nenhuma experiência é completa para o “sujeito”. A experiência, em si, nunca é o problema; o problema é a presença ilusória de um “sujeito” na procura por um objeto. Levem isso para diversas áreas aí da sua vida. Essa observação da natureza ilusória do “eu” é essencial.
Você precisa descobrir como viver livre dessa procura. Veja que o objeto não pode lhe dar o que você realmente está procurando. Quando você percebe isso, começa a ter uma consciência de orientação. Aqui, eu uso a palavra “consciência” no sentido de um senso real de orientação. Quando você tem isso, sua vida é reorquestrada ou reorganizada.
A palavra “orquestra” lembra organização, uma perfeita organização. Então, reorquestrar é reorganizar. A vida das pessoas, em geral, não está organizada. Você precisa perceber que, quando você alcança o objeto, quando a experiência acontece, aquilo que realmente é desejado não é encontrado. O que você tem ali é apenas uma breve sensação de satisfação. Isso mostra que essa satisfação não está no próprio objeto, não está nesse encontro com o objeto, não está na experiência. Isso significa que o fundamental é Você, e não aquilo que você busca. Há algo em você que permanece sendo fundamental, independente, livre de objetos e experiências.
Você foi programado para uma busca constante – a busca do objeto, do preenchimento e de uma realização que nunca acontece. A mente está sempre presente, colocando desordem. Não há essa organização, essa orquestração, quando a mente está presente.
Quando eu uso a palavra "orquestra", a primeira coisa que vem a você é um grande salão, onde os músicos estão assentados e organizados, de uma certa forma, para que aconteça um concerto. É preciso haver ordem ali, organização. Assim é a sua vida. Quando há esse Sentido Real de Vida, essa Presença, você se depara com a Graça, com a Beleza, com a Verdade! Esse é o seu encontro com o que há de verdadeiro, que é Você! Esse encontro Consigo mesmo é o encontro com o Divino! Quando isso acontece, não está mais havendo uma dispersão aí, porque você deixou de enfatizar o objeto. Quando você deixa de enfatizar o objeto, a mente sai dessa posição (era ela que estava fazendo isso).
Eu tenho falado com você a partir dessa Ordem. Essa fala nasce e aponta para essa Ordem. Agora, é preciso maturidade para que isso aconteça, e não enfatizar mais o objeto traz essa maturidade. É quando você questiona, explora, essa “sua vida”. Quando você faz isso, não acontece essa dispersão de energia.
Você sabe o que eu chamei de “objeto”? Qualquer coisa! A relação com qualquer coisa! Uma coisa muito comum é essa dispersão pelo pensamento. Pensamento, aqui, também é um objeto. Quando você vive na esperança, você está vivendo na imaginação, nesse futuro imaginário que o pensamento produz. É uma espécie de “sonho acordado”. Isso é só um exemplo de objeto, no qual a mente está sempre buscando preenchimento e satisfação.
O fato é que enquanto há imaginação, ainda que seja esperançosa, positiva, a mente ainda está dentro de seu espaço, dentro de seu próprio território, também produzindo imaginações negativas, medo. Então, você tem a esperança e a desesperança; o desejo e o medo. Assim não pode haver esse amadurecimento.
Seja prático e pare de imaginar! Pare de buscar no mundo mental através do conhecimento, através das experiências, através da esperança, da imaginação, e volte-se para a Realidade presente, que é Você, essa Consciência livre da mente, da imaginação. Se você se livra da imaginação, se livra do medo, se livra do futuro e, também, do passado. Seu passado é tão imaginário quanto o seu futuro, e vice-versa.
Então, você amadurece quando investiga, quando observa, quando compreende aquilo que se passa aí dentro, quando para de depender psicologicamente de objetos, de pensamentos. O pensamento está sempre girando em torno dessa coisa da esperança, do desejo de se livrar de alguma coisa ou conseguir uma outra.
Você faz uma diferenciação entre objetos animados e inanimados, mas eu não. Seu pequeno cachorrinho de estimação também é um objeto. O que quer que esteja servindo para alguma forma de preenchimento temporário e psicológico é apenas um objeto. Do ponto de vista da mente, as pessoas também são encaradas dessa forma – uma coisa para seu autopreenchimento.
Por isso é que há muita frustração, muito sofrimento. Há muita dependência, então há muito medo! Como é possível a felicidade em meio a tudo isso? Como é possível a paz em meio a tudo isso? Uma vida confusa, sem ordem... É como juntar muitos músicos dentro de uma sala, todos com os seus instrumentos desafinados, completamente fora de ordem, e esperar um concerto musical. Eles não estão sentados em seus lugares certos, os instrumentos estão desafinados, o maestro não veio...
Seu estado mental, sua vida, é o contrário de orquestração. Quando há Orquestração, quando há Ordem, Liberdade, Paz, Felicidade, você tem a música, você tem a arte, você tem a beleza; não a partir de um objeto, mas a partir da ausência da ilusão do “sujeito”. Quando existe essa ausência da ilusão do “sujeito”, não existe nenhum problema! Eu tenho enfatizado para você a importância de não dispersar energia, de estar ciente de si mesmo, de suas ações e reações, de suas resistências.
É muito importante que isso tudo diminua, essa ilusão de suas próprias ações, essa ilusão de se manter como um elemento de reação nas relações, e essa questão séria da resistência. É importante que isso tudo diminua, até desaparecer. Caso contrário, você permanecerá preso dentro de uma cadeia: a cadeia de suas reações, da resistência, da ignorância, da ilusão, do sofrimento. Assim, nunca haverá Liberdade, Sabedoria, Inteligência, Iluminação. Você será apenas uma “pessoa”. Temos sete bilhões no planeta, você será só mais uma delas.
Então, é importante que essa cadeia desapareça. No momento em que tudo desaparece, não há mais objeto, não há mais pensamento, não há mais tensão, apenas Quietude, Silêncio, uma sensação ilimitada de Bem-Aventurança, algo semelhante a quando você, despretensiosamente, dá um passeio em um parque cheio de árvores, com pássaros cantando e, de repente, por alguns instantes, todas as suas preocupações desaparecem, todos os objetos, em sua mente, já não estão mais presentes. O futuro e o passado não estão mais presentes, apenas o corpo caminha naquele parque.
Isso é algo indescritível! Não pertence à mente, ao tempo psicológico, ao sentido do “eu”, então não há mais nenhum objeto. Nesse momento, tudo desaparece! Então, há uma Clareza interna, uma Inteligência presente. Você não está mais agindo, reagindo, movendo-se do ponto de vista da “pessoa”, então não há mais nenhuma dispersão de energia. Um espaço se abre...
Este é o princípio da Meditação: um completo esvaziamento de todo o conteúdo interno, de toda essa bagunça que o pensamento provoca dentro de você. O pensamento é muito perturbador. Ele é a presença do objeto para esse “sujeito”. Se o pensamento se vai, o “sujeito” também se vai. Há Algo presente que não é parte da “pessoa”.
A “pessoa”, então, se mostra como uma ilusão. Todo o seu conteúdo desaparece. Nesse instante, você não tem um nome, não tem uma história, não tem memória – não tem essa “pessoa” que você conhece, esse conjunto de memória, de lembranças, de imaginações.
Tratamos com você sempre Daquilo que é essencial e, quando você tem olhos para ver, você vê! O meu trabalho com você é para que você tenha essa Revelação direta Daquilo que está aí presente. Você é importante, e não a experiência, o objeto, o que acontece. Falo de sua Natureza Verdadeira, sua Natureza Essencial. Ela é importante!
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 24 de Agosto de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Qual é o objetivo deste encontro?

Afinal, qual é o objetivo deste encontro? Você sabe que este encontro é conhecido como Satsang, que significa “encontro com a Verdade”. Mas, afinal, o que é a Verdade? Se é a Verdade, então é Algo além de toda explicação, denominação, além de todas as características, inclusive a de ser ou estar consciente, ou daquilo que representa o Vazio. Se estamos falando da Realidade, tratamos de Algo além de tudo aquilo que a mente pode compreender e, também, explicar.
O objetivo deste encontro aqui é o Despertar de sua Natureza Verdadeira, de sua Identidade Real, que é essa Realidade, mas como podemos tratar Disso com palavras? Se essa Realidade, ou Verdade, é anterior a todos os fenômenos, não podemos descrever Isso. Então, aqui o primeiro ponto é este: você precisa se livrar do conhecido e não tentar compreender com o intelecto o que estamos tratando aqui. O intelecto não pode alcançar Isso, porque não faz parte daquilo que a sua mente pode aprender. Tudo o que você conhece se move no reino dos fenômenos. A própria ideia que você tem de si mesmo é imaginária, é a ideia de uma identidade imaginada.
Então, esse espaço chamado Satsang é a forma real de nos aproximarmos do encontro com a Verdade. Há Algo em você que conhece essa sensação de estar presente e consciente, e esse Algo é a sua Natureza Verdadeira − é Disso que estamos tratando em Satsang. Essa é a Realidade, mas é claro que Isso está fora da razão, da explicação, do conhecido; é algo incognoscível como objeto, está fora da mente. Geralmente, usamos a expressão "Ser" nesses encontros, mas a Verdade não é “ser” nem é “não ser” − é incognoscível, está além disso tudo!
O seu problema aqui é a tentação de considerar a Verdade como uma ideia − a ideia de “Ser”, de “Consciência”, ou até de alguma coisa mais objetiva. Por exemplo, as pessoas procuram a paz, a sensação da paz, mas, na verdade, estão buscando a ideia que fazem da paz, como um estado. É assim, também, com a liberdade ou a felicidade. Se você conhece esse estado de paz, de liberdade, de consciência, isso é algo objetivo. Não é isso? Então, este é o ponto: o que você está procurando ainda é algo objetivo, algo que está dentro do conhecido, e não é disso que estamos tratando aqui. Estou dizendo que O que Você é está além do conhecido, e Isso não é esse estado de paz, de liberdade e de consciência que você conhece, que ainda faz parte da mente.
Esse aspecto é bem interessante, porque as pessoas praticam meditação para encontrar a paz, mas elas terminam encontrando a “paz da meditação”, que é somente um estado conhecido e, ainda, faz parte da mente. Através de alguma técnica, com um certo esvaziamento do conteúdo da mente, esse estado de paz é experimentado, e as pessoas vivem loucas atrás disso, mas é um estado que não é real ainda, porque não é a Verdade; é somente um estado. A Verdade não é um estado.
Essa paz que se conhece pela meditação é um estado que desaparece quando a meditação não está presente. Então, essa técnica ou prática de meditação favorece esse estado de paz ou de liberdade, mas isso ainda não é a Realidade, a Verdade do seu Ser, a sua Natureza Verdadeira. O que Você é está além de todos os estados e de todas experiências, de tudo aquilo que a mente pode capturar, explicar ou experimentar. Existe Algo aí antes dessa “paz” e dessa “liberdade” conhecidas, bem como antes do chamado "ser" ou "não ser".
Por mais sutis e apreciáveis que sejam esses estados, ainda fazem parte do conhecido, portanto estão dentro da mente ainda. Esses estados são experiências que podem ser apreendidas, compreendidas ou reconhecidas, e não é disso que estamos falando em Satsang. Aqui, iremos “limpar esse terreno” completamente, pois temos que nos livrar disso tudo. Aqui, estou falando da Consciência não conceitual, não descritiva, não experiencial, não conhecida pela mente; da Consciência anterior a essa “consciência”, a essa “paz”, ou essa “liberdade”, que são estados.
Então, essa Consciência, que é sinônimo de Verdade ou Realidade, não está dentro da experiência. Ela é a base de tudo, mas está além de tudo! Você está além de toda experiência, como pura, absoluta e suprema Consciência. Essa Realidade primordial, não conceitual, não é algo limitado, condicionado, preso ao tempo. Ela é essa Consciência não conceitual, a pura e absoluta Consciência. Você é antes de estar consciente, antes de saber desse "Eu Sou".
O que estou lhe falando é a partir da vivência direta aqui. Essa é a Visão da Realidade ou da Verdade, não é a visão de Ramana Maharshi, de Nisargadatta, de Buda, de Jesus ou do Gualberto. Essa é a Visão da Realidade, Daquilo que Você é, que é anterior a absolutamente tudo! A Realidade ou a Verdade de sua Natureza Essencial não pode ser compreendida, explicada, alcançada ou perdida. O que Você é jamais deixa de ser, e o que você não é, jamais será!
Quando você acorda pela manhã, a “consciência” acordou. Nesse “estado de consciência”, que é somente um estado da Consciência, você percebe a mente, o corpo e o mundo, exatamente nessa ordem. Primeiro, a percepção "eu"; depois, o corpo e o mundo. Porém, essa percepção "eu, corpo e mundo" é apenas essa “consciência” que acordou – a consciência como um estado, como uma experiência de mente-corpo-mundo. Esses estados são somente aparências, apenas fenômenos crédulos, fenômenos da mente, na mente, não O que Você é. Nada disso é O que Você é!
Quando se identifica com qualquer uma dessas aparições (mente, corpo e mundo), você dá origem a essa noção equivocada da “pessoa” − a ilusão da identidade individual, separada, com livre-arbítrio, escolha, vontade, determinação. A própria busca de liberação é uma outra ilusão, também, para essa entidade. Essa busca é a causa de todo sofrimento, todas as dúvidas, todos os medos. Tudo isso é somente a consciência de estados que vêm e vão, de fenômenos.
Esse estado de consciência desaparece no sono profundo ou sob o efeito de uma droga, então fica claro que é um estado transitório, que vem e vai. Em algum momento, ele surge e no outro já não está mais lá, então esse estado é somente uma experiência, e O que Você é está além dele. Isto deve ficar claro para você: esse é um estado que cria a noção de tempo e espaço, a noção de corpo, mente e mundo. Tempo, espaço, corpo, mente e mundo estão atrelados a esse fenômeno chamado “estado de consciência”. O que Você é está além da mente, do corpo, do mundo e, portanto, além desse “estado de consciência”, que vem e vai, que desaparece no sono profundo ou sob o efeito de alguma droga pesada.
A maravilha desses encontros chamados Satsang é que, aqui, estamos tratando do Real Despertar, que não é o despertar de quando você sai do sono, pela manhã, e toma consciência do mundo, do corpo e da mente. A beleza desse Real Despertar é a vivência direta de sua Natureza Real, que é a Realidade, a Verdade.
Isso é como o Sol… O Sol não reflete nada, mas tudo reflete o Sol; tudo brilha com ele, mas ele não brilha com nada. Onde você identificar luz, lá estará o Sol, mas ele está sempre sozinho. Todo objeto pode ser visto sob a luz do Sol, mas ele é a luz dele próprio, é a luz de si mesmo. Se um objeto aparece, você percebe a sua luz, mas a luz desse objeto é a presença da luz do Sol nele. Esse objeto só se torna presente porque o Sol lhe dá presença, mas nada dá presença ao Sol, a não ser ele próprio. Assim é a sua Natureza Verdadeira, a Natureza de Deus em Você, a Natureza da Realidade, da Verdade, que é, por si só, autofulgente, autobrilhante, autorresplandecente e inominável.
Nesse Real Despertar, essa Inteligência, essa Sabedoria, essa Visão da Verdade, é autofulgente. Nele, Você agora, como Consciência, não precisa de nenhuma luz emprestada; não precisa da luz da experiência, do conhecimento, da prática, do saber, pois Você é como o Sol, tem luz própria. Ao Despertar, Você está em sua posição Incondicional, Original. Esse é seu Estado Original, seu Natural Estado de Ser! Sua Natureza é essencialmente pura, não conceitual; é a Verdade ou a Realidade absoluta!
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 24 de Janeiro de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sábado, 17 de outubro de 2020

15º - A Perfeita Compreensão

A perfeita Compreensão acerca de nós mesmos nos mostra o modo verdadeiro de lidar com os desafios da vida, sem as decepções e frustrações que, de forma comum, temos experimentado. Fomos educados para uma vida de expectativa e ambição; essa tem sido a regra geral.
Ou estamos em um passado de ressentimentos, por situações que acreditamos que poderiam ter sido diferentes, ressentidos por relacionamentos que nos decepcionaram, ou estamos no futuro, na expectativa de que as situações que virão nos satisfarão de maneira plena, de que as pessoas irão nos apreciar, amar e compreender, ou seja, as situações e as pessoas serão melhores e, assim, a vida será mais fácil.
Este tem sido o nosso sonho: situações, realizações e relacionamentos novos e mais satisfatórios. Portanto, existe em nós uma tristeza por algo não ter dado certo e, também, a esperança de que um dia algo dará certo. Assim, estamos nessa busca de preenchimento interior em realizações, em conquistas e em relacionamentos. Não conseguimos parar com esse comportamento.
Nós não nos fazemos perguntas, como: por que agimos assim? Nós nos tornaríamos pessimistas, negativistas e fugitivos da vida se deixássemos essa estrada comum? Essa é a única forma de vivermos neste mundo? Por que temos que acreditar, como todos, que a felicidade está no mundo exterior e que podemos alcançá-la pela luta e pelo esforço, por sonharmos e trabalharmos duro?
Nós perguntamos às crianças o que elas querem ser quando crescerem. É assim o nosso condicionamento – já desde pequenos devemos ter um futuro psicológico dentro de nós, uma ideia mental de como tem de ser a nossa vida para que sejamos felizes. Algo também comum é projetarmos em nossos filhos os nossos próprios desejos de conquistas. Através deles, formulamos os nossos sonhos, porque precisamos ser, também, mais importantes que eles.
Portanto, a pergunta é: você precisa ser alguém diferente do que é, em sua Real Natureza, para ser feliz? O que estamos colocando aqui é que temos a possibilidade de saber quem realmente somos, e que, nessa descoberta, temos um novo modo de lidar com a vida e os seus desafios. O que estamos dizendo é que não há necessidade de nenhuma conquista ou preenchimento externo para sermos felizes, pois isso não é alguma coisa que está fora de nós. Tudo o que experimentamos exteriormente, por mais agradável e satisfatório que possa ser, tem um sinal gravado: o sinal da impermanência.
Portanto, quando uso a expressão “Felicidade”, estou falando de algo que não depende de nada, que não tem nenhuma relação com pessoas, situações e coisas, algo que não podemos ganhar ou perder, pois é o que já somos quando não nos afastamos do nosso Ser Real, quando temos verdadeira Consciência de quem somos.
Nesse claro percebimento da Verdade sobre nós mesmos, toda ambição desaparece e, também, o medo, permanecendo em seu lugar a natural e imperturbável Paz e uma Alegria sem motivo, que nasce da perfeita Compreensão.
*Este texto, escrito pelo Mestre Marcos Gualberto, compartilhando a visão do Sábio sobre a vida, foi veiculado pela primeira vez em 18 de Outubro de 2010. Trata-se da décima quinta publicação deste blog, fazendo parte do acervo relativo aos primeiros anos deste trabalho, cujos textos, após terem sido mantidos offline nos últimos anos, serão republicados em série, de forma comemorativa pelos dez anos de criação deste blog, este que foi o primeiro canal da internet através do qual este trabalho tornou-se público. Para mais informações, acesse o nosso site clique aqui.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

A Real Relação

Podemos chamar o contato entre Mestre e discípulo de “Real Relação”. Eu falo de uma atividade direta do Mestre com uma resposta adequada do discípulo. Você pode tentar burlar isso, mas não terá grandes resultados. A Autorrealização é Algo único e irreversível. Uma implicação disso é que você não pode dar um jeito para Isso acontecer, e não é algo que você constrói do seu jeito.
Você pode ser autodidata, aprender quase sozinho muitas coisas na vida, baseando-se em experiências dos outros, sem um professor direto, mas, quando falamos de Autorrealização, estamos tratando de Algo inteiramente diferente, que não se aprende pela experiência, ou seja, não é algo que você possa descobrir como fazer com outros. Isso é como nascer: você não aprende com outros como nascer; você nasce! Ou você nasce, ou não! Você não vai pegar essa experiência de nascer com outros para poder nascer. Então, no Reino Divino, no Reino da Graça, não existe um “jeitinho” que se dá.
Aqui no Brasil tem um ditado que circula sobre o “jeitinho brasileiro”, que significa que o brasileiro sempre dá um jeitinho para tudo. Porém, o brasileiro não pode dar um jeitinho para a Realização. Não existe “jeitinho brasileiro” aqui! Então, não tem como você burlar Isso, quebrar as regras, pois a Realização não é como uma pequena janela secreta, que você descobre e passa por ela, enquanto outros ficam do outro lado. Na política, e em muitas outras áreas, há muito disso, desses “jeitinhos” possíveis, através dos quais você descobre uma janelinha, passa por ela e, então, “sai na frente”, conseguindo o que outros não conseguem.
Realização de Deus é Algo feito por Deus, um acontecimento da Graça, então não há contravenção aqui; você não pode quebrar a lei. No Reino de Deus não existem policiais, juízes, promotores e advogados, eles não são necessários, porque ninguém pode quebrar essa lei e receber sanções. A Realização de Deus é Algo que é feito pela Graça. Como no Reino de Deus as coisas acontecem segundo a Graça Divina, você não sabe o que está acontecendo, não há “alguém” que possa determinar ou controlar as coisas.
Agora, aprofundando um pouco mais essa questão da Autorrealização, outra das várias razões pelas quais você não pode aprender Isso com alguém é que sua Natureza já está presente. Aquilo que Você é não se aprende, mas é possível ser constatado.
A pergunta aqui é: “Como constatar Isso, já que não é possível aprender com alguém?”. Quando vai dormir, você coloca um despertador para tirá-lo do sono na hora em que precisa acordar. O despertador é um mecanismo para apoiar você, ajudá-lo a deixar o sono, mas esse mecanismo não pode tirar você do sono. Ele faz um barulho específico e isso o ajuda a sair do sono, mas não é ele que tira você do sono; é você quem sai do sono! Se esse despertador estiver tocando e você estiver em coma profundo, você não vai sair desse sono. Podem até cercar sua cama com diversos despertadores, fazendo diversos barulhos diferentes, mas você não vai sair do sono.
Então, entramos aqui nessa questão da relação “mestre-discípulo”. Você pode escolher não ter mestre, ou pode escolher o seu mestre, mas você está em “coma”, o seu “sono” é profundo, e esse movimento de escolha está acontecendo no “sono”. Então, no “sono”, você escolhe não ter guru, ou escolhe o guru mais bonito, de preferência um que more no seu país ou que o agrade, mas, como você escolheu, não vai dar certo. Tudo isso vai funcionar como um despertador para quem está em coma − não vai dar certo! Ou seja, isso não pode ser uma escolha sua!
*Transcrição de uma fala em um intensivo on-line em 12 de Setembro de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

A minha proposta é o Estado livre do ego

O pensamento cria a ilusão de que ele está resolvendo, fazendo, aceitando ou rejeitando. O pensamento, em si, é só um fenômeno existencial, uma aparição como qualquer outra. Porém, ele se separa como aquele que direciona, que tem escolha, que tem vontade, que faz, que pode ou que não pode. Então, o pensamento se separa entre sujeito e objeto. O objeto é o que ele faz, o que ele conquista, o que ele realiza, o que ele pode e o que ele não pode. O sujeito é a ilusão de uma entidade nessa experiência. Esse movimento é completamente falso! Ele começa e se perpetua na ilusão, não tem fim. Isso é resistência!
A minha proposta é o Estado livre do ego, a Vida com o pleno direito de Ser, sem essa vaidade, presunção e arrogância da mente, que é resistência. Você entrega essa resistência quando entrega seu ego. Não há ego sem resistência e não há resistência sem ego. O que a gente chama de “ego” é só uma suposta entidade, brigando ou resistindo à Vida como Ela se mostra, como Ela é. Então, o final dessa resistência é o final da ilusão dessa entidade; quando acontece o fim da resistência, acontece o fim para essa entidade.
Vocês dizem: “Eu lanço minha resistência aos seus pés!”, mas não perguntam: “O que é isso?”, “Onde estão os seus pés?”, “O que é essa resistência?”, “Onde estão os pés do Senhor, da Verdade, do Real Guru?”. Os pés são a Vida! É nela que você lança ou se desfaz dessa resistência!
A outra pergunta é: “O que é se desfazer dessa resistência?”, “O que é lançar essa resistência?”. Acolhimento! Deixe de fazer escolhas! Assim, você deixará o seu futuro, se livrará do seu passado e não haverá “você” mais! Essa é a forma legítima de acolher. Então, lançar-se é se desfazer de si próprio na Vida; é a resistência lançada aos pés da Vida. Isso significa desistir de ser “alguém”. Significa assumir o risco de perder o que acredita possuir, o que acredita segurar, o que acredita sustentar, o que acreditar controlar, o que acredita poder fazer ou não poder fazer…
Todos querem ser “alguém”. Vocês não percebem quanto medo existe nisso, como é pesado estar no controle, o quanto é pesado resistir e sustentar esse “ser alguém”. Eu já falei isso outras vezes para vocês: estar nessa lembrança de Si é não se ocupar mais com pensamentos. Reparem que isso não requer nenhum esforço! Mas vocês conseguem fazer o mais difícil, o mais trabalhoso, o mais estressante, que produz mais miséria – aliás, é a única coisa que produz miséria – que é pensar, se envolver com o autoesquecimento. Agora você sabe: a lembrança de Si não é possível quando o pensamento está, porque esse é exatamente o esquecimento de Si mesmo.
Quando querem resolver uma situação, vocês pensam. Não é assim? Vocês dizem para mim que têm um assunto prático para resolver, aí precisam pensar. Mas o que eu descobri, ao longo desse contato com o meu Mestre, é que é exatamente o oposto! Eu descobri que, quando eu dispenso o pensamento, algo se move, mas não sou eu e, portanto, não é fruto da resistência, não é fruto do controle, não é fruto do desejo de que seja do “meu jeito”. Tudo isso precisa ser visto!
Quando você não se move mais, a Vida se move! Agora há pouco, eu disse para vocês o que são os pés do Senhor. E o que foi que eu disse? Que a Vida é “os pés do Senhor”! A Vida é “os pés do Sadguru”, “os pés da Consciência!”. Ela tem todo o poder! Então, é natural que quando você não se envolve mais, Ela pode fazer! Aliás, Ela nunca deixa de fazer, mas agora você pode enxergá-La fazendo, porque seu ego não está mais envolvido nisso, seu controle, sua exigência, seu desejo, sua vaidade, sua arrogância não estão aí mais... seu ego não está aí mais.
Percebem a dificuldade? Por toda uma vida – aliás, por muitas vidas – tudo o que você conhece é o controle! Em outras palavras, tudo o que você conhece é medo, completa ausência de confiança na Vida, nos “pés do Senhor”! Para você, no ego, tudo tem que ser do seu jeito.
Meu mestre me mostrou que eu não tinha mais vida fora de sua Graça! Quando você se depara com Cristo, que é seu Guru, seu Mestre, você descobre que não tem mais vida fora de sua Graça! Ele é a Verdade, Ele é o Sábio, Ele é a Vida! Então, você se desencarrega, você se desfaz dos seus fardos! Isso é típico do devoto! Ele não tem muita dificuldade.
A diferença do filósofo para o devoto é que o primeiro precisa pensar para ser sábio, enquanto o segundo basta sentir. O devoto diz “eu não sei, mas eu sinto”; o filósofo diz “deixe-me pensar sobre isso, deixe-me ver as vertentes possíveis, dê-me algum tempo para analisar.” O devoto diz “se der errado, está certo, porque assim quis o meu Senhor, e Ele sabe!”; o filósofo diz “eu preciso ponderar”. O devoto deixa a sua resistência, não porque visa um resultado positivo no final, mas porque é preguiçoso para confiar em algum resultado positivo no final.
Assim, enquanto o devoto se lança, o filósofo fica conferindo seu equipamento de segurança.
*Transcrição de uma fala em um intensivo on-line em 12 de Setembro de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sábado, 10 de outubro de 2020

Descubra a verdade da ilusão da mente

Participante: Como é a questão do sofrimento, dentro da visão do acordado?
Marcos Gualberto: Você tem que diferenciar sofrimento de dor. Em geral, na mente, você interpreta toda dor como sofrimento, mas a dor é algo físico, enquanto que o sofrimento é psicológico.
O pensamento não produz dor física, ele apenas produz dor psicológica, que é sofrimento. É isso que o “senso de pessoa” carrega. A dor física é algo que tem tratamento, enquanto que essa dor psicológica, que é sofrimento, não termina, está dentro da natureza da mente.
Na verdade, a coisa certa a se dizer, aqui, é que a mente jamais vai deixar de produzir dor psicológica. Em outras palavras, a mente jamais vai parar de sofrer, pois isso é a natureza dela. Por que eu digo isso? Porque a mente tem esse perfil, essa natureza dualista. Ela jamais vai deixar de experimentar a dor, pela simples razão de que ela vive em um mundo de opostos, em contraste. Então, o prazer é o outro lado dessa dor.
Participante: Mestre, toda dor emocional é sofrimento? Mesmo quando é uma resposta imediata ao ambiente, como uma perda, por exemplo?
O seu corpo tem um sistema de autoproteção. O corpo traduz um ataque, uma violação, uma incisão, um corte, um ferimento, em dor. Isso está dentro desse sistema de defesa do organismo, desse mecanismo vivo. É algo natural. Mas, quando você perde alguém, não é assim. Você diz: “Mesmo quando é uma resposta imediata ao ambiente”. Em que sentido você coloca essa palavra “ambiente”? Porque a perda de alguém só representa uma resposta imediata a um ambiente puramente psicológico. Apenas psicologicamente é possível se evidenciar essa questão da perda de alguém e, naturalmente, com uma dor emocional ligada a ela.
Aí, você pergunta: “Toda dor emocional é sofrimento?” É evidente! Qualquer dor psicológica, fora dessa dor física, neurofisiológica, é sofrimento. Apenas o sentido psicológico desse “eu” experimenta o sofrimento e esse “ambiente”, que é puramente de ordem sentimental, emocional.
Então, onde se encontra o seu sofrimento? Ele está no “sentido do eu”, nesse “sentido de ser alguém”, que se move nesse “ambiente” de relações com objetos – objetos inanimados, como o tapete da sua sala ou o carro que você dirige; ou objetos animados, como o seu filho, seu neto, seu marido ou namorado. Toda relação da mente é com objetos, porque ela sempre se vê como o sujeito, como o “Sol central” desse “cosmos”, desse “universo”.
O curioso é que a palavra “cosmo”, no grego, significa beleza ou belo, mas não há nada de “cosmo” nesse mundo da mente. Tudo que o ego vivencia é sofrimento, porque tudo que ele vivencia é a sua relação em dualidade, em separatividade. Você jamais irá se livrar do sofrimento enquanto permanecer na ilusão de se ver como uma entidade que se separa na experiência. Enquanto você estiver se vendo numa relação, que é uma ação entre dois, o sofrimento estará presente.
A vida não está acontecendo nesse formato. Esse é um formato imaginário, criado por uma presunção, por uma pressuposição. A pressuposição é: “eu e o mundo” ou “eu e o outro”. Quando parece que, nesse “cosmo”, nesse “universo”, está havendo uma violação, que é quando o objeto desse sujeito, que é o “eu”, está sendo tirado (como no caso da morte ou da separação), ele se ressente, porque não pode ser feliz sem estar preenchido com o seu objeto – e, aqui, o objeto é o outro.
Reparem que a mente não aprecia perder, e sim ganhar, porque isso lhe dá a sensação de preenchimento, de importância, de validação, de classificação. Quando a mente adquire muito ou tudo que deseja, ela tem o que chamamos de “sucesso”. Então, ganhar é sucesso e perder é fracasso. Em nossa cultura, apreciamos as pessoas de sucesso, porque elas representam aquilo que, no ego, nós desejamos ser: alguém que conquista. Mas, aqui, nos deparamos com a situação que eu falei agora há pouco. A natureza da mente é viver na dualidade, então ela busca o sucesso, porque sucesso é ganhar, no entanto ela sempre vai experimentar perder também, o que para ela é sofrimento.
Dessa forma, olhando de perto, você descobre que ganhar também é sofrimento, porque tudo que se ganha, se perde. Se você tem um marido, um dia ele vai embora, vai morrer. Se você tem um filho, um dia ele morre ou sai de casa, e você não o tem mais. Tudo que você adquire, nesse “sentido de ser alguém possuindo”, que é típico da mente, será perdido em algum momento. É uma ilusão acreditar que não haverá sofrimento! Enquanto a mente estiver presente, haverá sofrimento. Ela sempre experimentará sofrimento!
É algo que se tornou bem comum entre nós, chamados “seres humanos”, viver nessa dualidade, nesse sofrimento, na mente, nesse "senso de pessoa”.
Participante: Mestre, o senhor derruba tudo!
Marcos Gualberto: Só pode ser derrubado aquilo que não tem estrutura. Aquilo que não é sólido pode cair, aquilo que não tem realidade pode desaparecer, aquilo que não está firme pode tombar. O mundo, na mente, é um mundo fictício, um mundo sem real estabilidade. Não há Verdade na mente! Todo o seu mundo psicológico é falso, é uma fraude! Os seus pensamentos, emoções, percepções e sensações podem ser traduzidos, analisados e interpretados. Tudo isso faz parte de algo instável! Apenas seu Ser não pode ser “derrubado”, apenas sua Natureza Essencial não pode “tombar”. Isso não está “se equilibrando”, não está passível de “cair”, porque não faz parte da mente, não faz parte desse seu mundo.
Então, o que é o sofrimento? Sofrimento é uma interpretação de pura resistência ao formato que a vida assume neste instante. Você não pode esquecer que a Vida não considera sua história. Jamais confunda a Vida com a história. A Vida não é a história da humanidade e nem a história particular desse “você”, que você acredita ser. A Vida não considera essa história como sendo algo de grande relevância, mas o ego não vê assim; ele se sente importante. “Importante” de uma forma negativa, naquilo que vocês chamam de “baixa autoestima”, ou, de uma forma positiva, naquilo que vocês chamam de “autoestima”. De uma forma bem especial, o ego se sente importante. Tudo está acontecendo para ele, mas ele não leva em conta que a Vida não o vê, não o enxerga. O ego não leva em conta que ele não é real!
O que não falta são pessoas revoltadas com a Vida, com o que acontece, como se a Vida estivesse acontecendo para elas, mas a Vida não as vê, não leva em consideração suas histórias. Às vezes, a Vida quebra um projeto, desfaz um objetivo, um sonho. Como Ela não leva em consideração esse seu idealismo, essa sua imaginação, Ela vem e quebra isso, e o seu ego se revolta, como se estivesse sendo traído, enganado, iludido. Tudo autoprojeção! É a ilusão desse “eu” em seu mundo particular.
Você diz: “Sua fala quebra tudo!”. Não, minha fala diz que não existe nada. Se algo está sendo quebrado, é só a ilusão.
Participante: Tenho um ego enorme, um nariz empinado e soberba! Ninguém me suporta, mas a culpa é minha, pois não existe o outro e não estou aqui, uma mera ilusão!
Marcos Gualberto: Se é mera ilusão, de quem é esse ego enorme, esse nariz empinado e essa soberba? Quem é essa criaturinha insuportável? Quem é essa criatura que diz: “A culpa é minha! Não existe o outro e não estou aqui, isso é uma mera ilusão!”? Um conjunto de pensamentos, apenas isso! Uma imagem que o pensamento constrói dele mesmo e coloca uma entidade presente nisso, nessa imagem, com um nome.
Até mesmo se considerar com um ego enorme é uma grande consideração. Um nariz empinado não são todos que têm, não é? Soberbos nem todos são e nem todos sentem culpa. Parece que, para mais ou para menos, a ilusão dessa falsa identidade sempre se sente importante, seja na autodepreciação ou na autoapreciação. Tudo fantasia! Aqui temos que investigar a natureza ilusória da mente e descobrir que não há nenhuma entidade presente nesta experiência.
Observar a natureza ilusória da mente não é autoanálise, não é autoexame ou autorreflexão. Observar a natureza ilusória da mente é possível porque a Natureza da Consciência é pura Observação, sem escolhas, sem nomeação, sem autoclassificação, sem autoimportância, sem autodepreciação, sem autoanálise, sem autoexame. A Natureza da Consciência é Ser, algo simples e natural, sem a ilusão dessa ideia de um “eu”, que se separa para analisar a si mesmo, para descobrir quem ele é, para se autoexaminar.
Então, nesses encontros, a minha proposta é que você descubra a verdade da ilusão da mente. Você não é a mente, não é nada que ela esteja produzindo. Você não é o corpo, não é a história, não é o que ganha, não é o que perde, não é esse que nasceu, não é esse que vai morrer, não é esse que acredita e nem que desacredita.
Participante: Mestre, o senhor é o Amor!
Marcos Gualberto: O Amor é a Natureza da Consciência, a Natureza do Ser; o Amor é Você. Você não é a natureza da mente, não é a natureza do “eu”. Compreenda isso! Você é a Natureza do Ser, que é Amor, Sabedoria, Inteligência, Verdade, Real Beleza... o Cosmo!
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 18 de Setembro de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Uma Revelação da Verdade sobre Você - Parte II

Nenhuma pessoa é ruim ou maravilhosa. Não há “pessoa”! “Pessoas” não existem! Essa ideia sobre quem você é, o faz acreditar que é uma pessoa maravilhosa em um momento, mas há alguns dias você estava dizendo que não era bem assim que você se via. Vocês têm múltiplos “eus”, todos falsos! Uma hora, um entra e diz: “Eu sou uma pessoa maravilhosa”, daqui dois dias, você se sente mal consigo mesmo, e diz: “Por que eu não me corrijo?”, “Por que eu não consigo mudar minha vida?”, “Por que eu não sou feliz?”, “Por que eu não consigo viver de forma correta?”.
Há muita contradição! A mente vive assim, nessa multiplicidade de “eus”, e cada um deles tem uma ideia, um pensamento, uma crença, um julgamento, uma opinião. Tudo isso é falso! Aqui, estamos sinalizando para você uma nova possibilidade.
Participante: Verdade, Mestre. Tem dia que nos sentimos maravilhosos e, em outros, nos sentimos um lixo.
Marcos Gualberto: A mente vai sempre viver assim, fazendo julgamentos sobre ela própria, criticando-se, comparando-se, avaliando-se. Esse é um antigo movimento do ego. Aqui, estamos falando para você da possibilidade de ir além dessa suposta identidade, dessa assim chamada “pessoa” que você acredita ser.
Não importa o que esteja acontecendo, o pensamento está produzindo ideias sobre isso. Essas falas não são sobre como resolver problemas que o pensamento esteja construindo; elas são sobre como descobrir a mentira, a ilusão disso tudo. Há uma tagarelice muito grande, um falar desnecessário dentro da sua cabeça, que é o pensamento dizendo coisas. A ideia principal é que você é uma pessoa, e, como tal, está produzindo esses pensamentos. Não é assim?
Participante: A mente fala bastante, dentro da minha cabeça.
Marcos Gualberto: Essa é uma patologia, uma doença típica dos seres humanos. Participante: Às vezes me pego falando sozinha comigo mesma. As pessoas acham que sou louca!
Marcos Gualberto: Elas também falam! Talvez não verbalizem, mas estão sempre falando com elas mesmas. Na realidade, é sempre o pensamento falando com ele próprio. A ideia é que existe uma pessoa no controle disso, mas é só o pensamento falando com ele mesmo.
Então, essa patologia é tipicamente humana, é típico do ser humano esse tagarelar interno. O pensamento sempre está discorrendo sobre memória. Às vezes, ele tem o formato da ilusão de algo que aconteceu, que é o que chamamos de “passado”; em outras, tem o formato da ilusão de algo que irá acontecer, que é o que nós chamamos de “futuro”. Nós apreciamos muito isso!
Tudo isso é apenas um movimento do pensamento se autoafirmando dentro de princípios de crença. A ilusão de uma identidade presente é uma crença forte. O “sentido de pessoa” carrega somente isso, essa crença em ideias, ideias românticas e sentimentais. Quando há um real interesse em ver a Verdade disso, então torna-se possível a descoberta da ilusão do que o pensamento produz.
Em geral, temos expressões assim: “Vamos meditar!” ou “Vamos olhar para dentro!”. Mas, na mente, você não sabe o que é meditar, nem sabe o que é olhar para dentro. Mais uma vez, isso continua só sendo um pensamento, apenas mais uma coisa que ouvimos falar, que aprendemos ou achamos bonito, então dizemos: “Agora vou meditar, vou olhar para dentro de mim!”.
Eu tenho trabalhado com alguns de vocês aqui… Vocês já perceberam que eu não prescrevo uma prática. Meu trabalho é conduzi-lo à Meditação, mas não prescrever uma prática de meditação. Meu trabalho é lhe facilitar a possibilidade de olhar para si mesmo, e não essa coisa de “olhar para dentro” – isso é muito teórico, conceitual.
É essencial olhar para si mesmo, mas, na mente, quem sabe fazer isso? É essencial a Meditação, mas tudo que a mente sabe fazer é uma prática de meditação. Então, é necessário descobrir Isso, ter uma aproximação real, uma aproximação legítima dessa “coisa”, ou você continuará preso, ainda, ao velho e limitado conhecimento.
Existe esta crença: “Eu sou uma pessoa sentada, aqui, olhando para dentro de mim mesmo” ou “Eu sou uma pessoa sentada, aqui, em meditação”. Não existe “pessoa”, não existe nenhum “eu”! Não existe nenhum “eu” nessa história, ou, essa história é só a ilusão de um “eu”. No momento em que esse “eu” ilusório aparece, a história aparece com ele. No momento em que essa história aparece, esse “eu” ilusório aparece.
Como eu disse há pouco, a coisa pode piorar um pouco mais, porque não é apenas um “eu”, são múltiplos “eus” se contradizendo e brigando uns com os outros, tudo aparentemente dentro de você. Mas, em última instância, tudo isso é só o movimento do pensamento, do caótico, contraditório e desordenado movimento do pensamento.
Aqui, o segredo é descobrir o Silêncio, esse Silêncio da Verdade sobre Si mesmo. O trabalho real é quebrar essa identificação com a mente, com o movimento caótico do pensamento, com toda essa tagarelice interna. Então, constata-se esse Silêncio! A constatação desse Silêncio é Meditação.
O primeiro vislumbre que se tem disso é o começo da Meditação, que é estar desidentificado da mente, dessas crenças mentais de ser um menino ou uma menina, de ser uma pessoa, de ter uma história, um passado ou a imaginação de um futuro.
Aqueles que estão tendo contato com isso, pela primeira vez, têm certa dificuldade. Em geral, as pessoas nem mesmo percebem o quanto estão identificadas com essa crença. O “sentido de pessoa” é tão forte que elas jamais duvidam da existência dessa entidade presente. Eu apenas digo que pensamentos estão acontecendo, mas não existe alguém pensando; sentimentos estão acontecendo, mas não existe alguém sentindo; assim também são as emoções, as sensações.
Essa Liberação, essa Realização ou esse Despertar da Inteligência, é a plena Ciência disso – não intelectualmente, mas de verdade! A partir de então, expressões como “eu estou vendo”, “eu estou sentindo” ou “eu estou respirando” são colocadas de uma forma muito simples, com a plena compreensão de que são só frases, porque, na verdade, não existe alguém respirando, alguém vendo, alguém pensando; tudo isso é só um fenômeno existencial, é a Vida se expressando.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 18 de Agosto de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Uma Revelação da Verdade sobre Você

Bem-vindos a Satsang! É uma bela oportunidade ter um encontro com a Realidade, com a Verdade. Estamos descobrindo, aqui, essa Ausência… Repare que a palavra é sempre contraditória, está dentro daquilo que o pensamento construiu. Na realidade, palavra é pensamento. Eu estou falando desse encontro com a Ausência, que é um encontro com a Presença. Esse encontro é só uma Revelação, uma Revelação da Verdade sobre Você.
Tudo em sua vida está apontando para a sua própria Presença... ou Ausência. Mesmo a coisa mais complicada que esteja acontecendo, ou o mais intenso sofrimento, está apontando para a ausência daquele que sofre, que é a Presença da Realidade. Tudo vai sempre sinalizar Isso! Não se trata de um entendimento intelectual, mas de uma visão a partir de dentro. Tudo que é falado aqui já está dentro, então é só uma questão de contemplação, de visão. A beleza da Verdade é que Ela não é nova nem velha, é atemporal, está fora da mente e, assim, está fora de todo conhecimento que a mente, ao longo desses anos, vem adquirindo, criando, expressando. A mente é a autora do conhecimento e, também, aquela que o adquire – isso é um jogo dela.
Primeiro, a mente produz o conhecimento, ela o “recolhe” como se fosse algo novo, e, depois, faz uso dele para adquirir mais, e nós pegamos esse “pacote”, esse “embrulho”, que é só uma ficção, uma fantasia do pensamento. A Verdade está fora desse “pacote”, que é o passado, o presente e o futuro, o que a mente construiu, o que ela coletou e o que ela projeta.
O ponto é que nada disso é real. Real é a ausência daquele que sofre, que é a Presença da Felicidade, da Verdade. Podemos chamar essa Verdade de Consciência, essa Consciência de Felicidade e essa Felicidade de Amor… Esse Amor podemos chamar de Paz, a Paz fora do “pacote”, fora e além da mente. Descobrir Isso aí, em si mesmo, faz desaparecer qualquer ilusão, qualquer “verdade” aparente. Esse Descobrimento é o Despertar da Verdade, da Sabedoria, da Inteligência.
Quando há Inteligência, não há sofrimento. O sofrimento só é possível quando há mentira (mentira, aqui, é colocada no sentido de ilusão). Então, enquanto houver ilusão, haverá mentira, e isso é a não inteligência. A Inteligência é a ausência daquele que sofre ou a Presença da Verdade, e isso é Sabedoria. Como soa isso para você?
Quando eu digo que tudo em sua vida está apontando para essa própria Ausência, é porque qualquer coisa que surja aí não é a Verdade, é a ilusão, é a mentira. Enxergar essa mentira, essa ilusão, é ver a Verdade. Então, o que você precisa não é se livrar da mentira, não é se livrar da ilusão, mas perceber a verdade disso, a verdade da mentira, da ilusão.
São muito estranhas essas falas em Satsang, porque elas não estão construindo alguma coisa. Como eu coloquei agora para você, a mente constrói coisas e produz o conhecimento; ela toma ciência do conhecimento e, com ele, realiza alguma coisa. Aqui, não existe nada sendo produzido, nada sendo conhecido, nada sendo realizado. Aqui, você não está, de fato, aprendendo alguma coisa; você está descobrindo os olhos que são capazes de ver a mentira, de ver a ilusão, de ver o falso como falso. Se você consegue ver o falso como falso, seus olhos estão vendo a Verdade. Isso é a Presença da Verdade; isso, em si, já é a ausência daquele que sofre.
Participante: Mestre, a mente acessa o conhecimento ilimitado?
Marcos Gualberto: Todo conhecimento é limitado, porque requer mais conhecimento. Uma vez que esse conhecimento novo chega, tem sempre um novo para chegar, e isso prova a limitação do conhecimento e não sua ilimitação. Se o conhecimento fosse ilimitado, ele não estaria dentro do tempo. Tudo que está dentro do tempo é limitado! O conhecimento pode ser adquirido, aumentado, ampliado, então ele é limitado. Tudo que pode ser adquirido e aumentado é limitado, porque está dentro do tempo. Só a Verdade, que não é parte do conhecimento, é Ilimitada.
Não importa o que você aprenda, você terá mais coisas para aprender daquilo. Não importa o que você descubra, você terá mais coisas, ainda, para descobrir sobre aquilo. Isso é prova de limitação! Apenas o Verdadeiro Conhecimento é ilimitado, e Isso é a ausência desse conhecimento temporal, que o pensamento pode tornar viável, possível e explicável.
Antes desse interesse por conhecimento, que é sempre limitado, você deveria ter interesse em descobrir quem é Você. A Verdade sobre o que Você é, é o Verdadeiro Conhecimento que interessa, o qual não pode ser aumentado ou diminuído. Quando esse Conhecimento está presente, fica presente essa Verdade Atemporal, essa Inteligência fora do tempo, que é Felicidade, que é Paz, que é Amor, que é Deus. Deus é essa Consciência, é essa Presença, é essa Verdade, é esse Ilimitado e Real Conhecimento, e não o que você chama de “conhecimento”. Então, a única “coisa” digna de ser Conhecida é Aquilo que está fora do conhecido; a única “coisa” digna de ser Constatada é Aquilo que não pode ser constatado pela mente.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 18 de Agosto de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sábado, 3 de outubro de 2020

Fique com Isso e Você será o “dono do jogo”

Você diz: “Mestre, ouvi-lo nunca é demais”. Pois é! Também acho isso, pois vocês escutam tantas bobagens! Todas as falas são bobagens, mas, pelo menos, as ditas aqui apontam para não bobagens, para algo fora desse circuito de bobagens que o pensamento tem criado e produzido. A fala que nasce do Natural Estado, que é Consciência, é também Consciência e, assim, dissipa a ilusão do pensamento. Essa fala é como um espinho que você usa para tirar outro espinho do pé. Você usa uma agulha bem fina para tirar um espinho do seu pé e, quanto mais fininha, mais “cirúrgica”, mais precisa ela é, para alcançá-lo e removê-lo. Se tenta tirar um espinho com um cotonete, você não consegue.
Você pode ouvir muitas falas, ler muitos livros, ouvir muitos oradores, palestrantes, conferencistas, inclusive gurus, falando sobre Advaita, sobre a não dualidade, mas isso é apenas um “cotonete” sendo oferecido para tirar “o espinho do pé”. Acho que isso não vai dar certo, pois você tem que ter uma agulha bem fina, a visão perfeita de onde está o espinho e a habilidade para chegar até ele e conseguir removê-lo. Então, coloque sua atenção nessa fala, porque ela não é uma bobagem. Ao longo desses anos, tenho dito que as minhas falas são bobagens, mas agora estou dizendo algo completamente diferente: elas são poderosíssimas, porque estão impregnadas de Presença, de Consciência; elas nascem dessa Dimensão. Elas são “agulhas” que removem “espinhos”.
Então, deixe seus ouvidos prontos e seu coração aberto, que essa Realidade, que é a Consciência, chegará aí e removerá esse “espinho”. Você sabe por que a ilusão é persistente? Porque é a natureza da mente egoica ser teimosa, e essa teimosia não pode ser removida ou quebrada com facilidade. A mente não pode resolver essa questão, não é de interesse dela, ela não vai “se suicidar”. Assim, não importa a quantidade de palavras que você escute, de livros que você leia, de estudos que você faça, pois, como a natureza disso tudo é da mente, somente irá fortalecê-la ainda mais. É preciso estar diante do Silêncio, desta Presença, desta Consciência. Somente assim você tem uma “agulha” verdadeira para remover esse “espinho”. O “espinho” é teimoso, difícil de ser removido, pois, primeiramente, é difícil de ser detectado, encontrado, para depois ser removido.
A questão é que, quando digo que você não é quem acredita ser, aí dentro da sua cabeça outra voz diz: “Você está enganado. Sou eu mesmo, e estou aqui ouvindo você”. Contudo, isso não é verdade, porque você não está ouvindo nada, nada está sendo dito para você. Aqui é a Consciência tratando da Consciência, e tentar compreender Isso com profundidade é mais um esforço da própria mente, ou seja, é o esforço da mente com ela mesma. Um Sábio, que é Consciência, diz que esse mundo é uma ilusão, enquanto, na mente, o pensamento sobre isso vem dentro de sua cabeça. Como é isso para você, ouvir que o mundo é uma ilusão? A mente é tão limitada, em sua percepção, que ela não diz que coisas boas também fazem parte da ilusão.
No jogo de cartas, o rei e a rainha têm muito poder, dependendo do tipo de jogo que você esteja jogando. Há vários tipos de jogos em que o rei e a rainha têm um grande poder, mas o ás é uma carta mais poderosa. Na sua vida, acontece algo parecido com isso, pois existe alguma coisa que sempre tem muito poder, mais poder, mas você não pode esquecer que tudo não passa de um “jogo”. Depois que as “cartas são guardadas” dentro da “caixinha do mundo”, onde tudo está acontecendo, todo poder desaparece, como o poder das cartas do baralho (rei, da rainha e ás). Assim, não se confunda com a experiência que você está vendo no “jogo”. A Vida é esse Mistério, essa Beleza, essa Graça − fique com Isso e Você será o “dono do jogo”.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 04 de Fevereiro de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

A vida não é isso que você acredita ser

É muito interessante poder descobrir que a vida não é isso que você acredita ser. Nós estamos vendo em Satsang, sempre, que você tem imaginado a realidade. O que você chama de “vida” é somente a imaginação sobre a realidade, mas a Verdade sobre a Realidade está esquecida, é como algo que foi perdido. O lado paradoxal disso é que Ela não está perdida, e mais paradoxal ainda é saber que Ela também não está esquecida. Isso é somente um jogo de esquecimento, no qual essa Realidade parece estar perdida, e esse sentimento é devido à ignorância. Quando você reconhece a Verdade, a Realidade, pela primeira vez sabe que não é algo que você consegue esquecer ou perder. É apenas essa ignorância sobre quem você é que causa esse sentimento.
O que você chama de tristeza e alegria, de paz e guerra, são sintomas da ilusão. Se agora você se sente em paz e já no momento seguinte se sente em conflito, em guerra, isso é um sinal clássico da presença da ilusão. Esses são sentimentos que ocorrem devido à ignorância. Assim, você está em um estado que intercala entre a paz e a guerra. Esse é o estado de dualidade, de separação.
Você se sente prisioneiro, sofre e busca a solução para os problemas que são ilusórios, em razão da ignorância. Sempre que você se sente infeliz e com problemas, está aceitando uma imaginação sobre a Vida, sobre a Realidade, então acontece a luta. Quando há ignorância, não existe acolhimento ou compreensão de que coisas ruins acontecem. Aquele que tem essa compreensão apenas reconhece isso, então ele não tem surpresas, porque sabe que isso faz parte do jogo da vida, desse jogo da dualidade.
Assim, não tem por que ficar triste quando coisas ruins acontecem, nem por que ficar eufórico, achando que encontrou a felicidade, quando coisas boas acontecem. Tudo isso ocorre devido à ignorância. A pessoa que vive na ignorância fica feliz quando coisas boas acontecem e acha que a felicidade será eterna, mas não é assim. Se uma coisa boa está acontecendo, tenho uma notícia ruim para lhe dar: isso não vai durar muito tempo. Isso porque nada dura muito tempo, sejam as coisas boas ou as ruins. Tudo bem? Dá para ouvir isso sem revolta?
A mente egoica tem uma perspectiva de lucro, de aquisição, de ganho. O ego está sempre em um grande negócio, em algo que ele não pode perder. Ele está sempre buscando, procurando benefícios para si mesmo, o tempo todo! Ele deve ser amado, respeitado, elogiado e deve ganhar. Foi assim que você foi treinado para viver, esse é o seu treinamento nesse mundo. Em todas as áreas e aspectos, você sempre vai aguardar coisas boas. Não estou dizendo que aguardar coisas boas seja ruim; estou dizendo que não aceitar que coisas ruins possam acontecer, quando coisas boas também são esperadas, é coisa ruim. É uma ilusão você não estar pronto para coisas ruins porque aguarda somente coisas boas.
Eu amo Satsang, esse encontro com a Sabedoria, onde as palavras que você recebe são de pura Consciência. Não são palavras para você refletir, imaginar, concordar ou discordar, mas apenas para ouvir e dormir com isso, e, de preferência, acordar na manhã seguinte dizendo: “É assim e ponto final”. Isso é Sabedoria! Satsang é o encontro com a Sabedoria. Quando vai a um Mestre vivo, você fica diante da própria Consciência. Não se encontram Seres Realizados como banana, que você encontra facilmente no mercado e pode comprar dúzias, vários cachos. Porém, até para encontrar banana você precisa ir ao lugar certo, pois se procurar na papelaria, por exemplo, você não encontra.
Este encontro, que temos aqui, é o encontro com a Verdade da Consciência, com a Verdade do Ser. Aquele que tem uma Compreensão clara, sabe que a vida tem sempre dois lados – numa hora você ganha, noutra perde. Aqui, eu lhe recomendo, sempre, investigar essa questão de quem está ganhando e perdendo, e a quem isso afeta. Você acredita que é uma entidade separada, e essa é razão do medo, do sofrimento. Na verdade, todos no planeta são aparições dentro dessa mesma Consciência. Há somente essa única Consciência, na qual tudo aparece.
Todos sabemos o que é começar a assistir a um filme e depois dizer que ele é ruim ou bom, mas o interessante é que essa é a sua avaliação, não é a da tela. A tela não se preocupa se você projeta sobre ela um filme ruim ou bom; isso não faz a menor diferença para ela. A tela não se sente mais viva quando o filme está sendo projetado sobre ela. Interessante isso, não é?
Assim, se você compreende que não é o corpo, não é a mente, não é uma identidade separada, e abandona essa mistura, essa confusão interna, que eu chamo de “identificação com a mente”, fica tudo bem. Todos funcionam nessa Consciência, e se você acolhe isso, toda a limitação desaparece.
Quando um copo se quebra, o espaço se torna ilimitado. Antes havia uma limitação, mas, depois que ele se quebra, o espaço não fica mais confinado ao diâmetro ou à limitação do vidro. Enquanto você acredita que é a mente, o corpo, e vê o mundo como sendo a sua realidade de vida, você é como o copo, acreditando que esse espaço, que você tem dentro de si, é todo o espaço do universo. Repare que não existe razão para o medo. O copo não pode ter medo de perder espaço se ele se quebrar, porque, se isso ocorre, ele não perde espaço, o espaço dele não desaparece.
Quando um copo que você tem em casa se quebra, outros continuam servindo do mesmo jeito, e aquele que se quebrou você joga no lixo. É assim na Existência − tudo desaparece, mas nada desaparece, nada causa prejuízos. O que passa na sua cabeça são somente crenças, ideias falsas sobre a Existência, sobre a Vida, e você não deixa essa limitação ser quebrada. Quando essa Realização está presente, não há ideia sobre a Vida. Essa é a Visão simples e direta, a Visão Sábia. Portanto, quebre as limitações que você mesmo tem criado com os seus próprios pensamentos, permita que isso seja quebrado.
Satsang é algo extraordinário, fora do ordinário, fora do comum, porque aqui toda essa mentira é quebrada. Sua vida é uma mentira, exatamente porque é a “sua vida” e não a Vida. Nessa “sua vida” não há Verdade, Sabedoria. A Vida é a “tela”, e a sua vida é o “filme”, onde numa hora coisas boas estão acontecendo e noutra, coisas ruins. Esse é o “filme”, e é isso que você chama de “vida”. Esse é o circuito da ignorância, pois não existem coisas boas ou ruins, há somente coisas acontecendo. Para a “tela”, as coisas só estão acontecendo, mas, como você não sabe quem é e se confunde com o que você não é, está vendo coisas boas e ruins.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 03 de Julho de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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