terça-feira, 28 de setembro de 2021

A objetivação da Felicidade

Há uma única coisa que traz você aqui: a sua procura pela Felicidade. Todos aqui estão à procura Disso e todos conhecem o que Isso significa, ou então não estariam à Sua procura.

Você só está procurando porque, em algum momento, já sentiu Isso de uma forma direta. Há como que uma lembrança aí do que Isso representa, e é isso que traz você a Satsang.

O ponto é que a Felicidade já é a sua Natureza Real, então você, na verdade, já conhece Isso. Quando falamos de Felicidade, estamos falando de algo que todos sabem o que significa, porque todos têm a experiência da Felicidade, assim como todos sabem o significado da palavra Consciência, porque todos sabem o que é estar consciente.

Estar consciente é algo inerente à nossa Natureza, assim como a Felicidade. O problema todo é quando nós objetivamos Isso. Eu já falei inúmeras vezes isso e sinto que nunca é demais voltar a falar.

O problema é quando você objetiva a Felicidade, assim como quando você objetiva a Consciência. Quando você faz isso, você coloca a Felicidade ou a Consciência como um objeto a ser alcançado, o que significa que você coloca Isso do lado de fora, o que é uma coisa impossível!

Então, aqui é que surge o problema todo: quando o pensamento dentro de você formula algo externo chamado "felicidade", termina que você transforma Aquilo que Você é, Aquilo que já é sua Natureza Real, que é permanente, em algo que não é permanente. Felicidade não é algo intermitente nem alguma coisa objetiva – isso é um completo mal-entendido, um tremendo e terrível equívoco!

É aqui que está a confusão, porque você vai buscar Isso externamente e o que encontra são objetos. Até mesmo o pensamento dentro de você é um objeto, e tudo o que ele formula são objetos. Você pensa em pessoas, em situações e em lugares para ser feliz. Isso é uma falsa visão, uma falsa perspectiva. Esse próprio pensamento é uma objetivação, ele é só um objeto.

Então, isso tudo é um grande mal-entendido. Parece que esse é o ponto central aqui: você pensa e, quando faz isso, se equivoca, tem uma falsa perspectiva. Tudo que é preciso agora é restaurar essa visão correta e tudo mais será corrigido.

O ponto é que você não consegue fazer isso sem a Meditação. Meditação é a chave – a chave da não objetivação!

O seu hábito é objetivar o mundo, assim como objetivar seu Ser. Então, você objetiva tudo que diz respeito ao que Você é. Tudo que há de Real em você é objetivado pelo pensamento. Paz é uma coisa inerente ao seu Ser, mas termina sendo objetivada pelo pensamento; Liberdade é inerente à sua Natureza, mas você pensa e, quando faz isso, objetiva a Liberdade, aí confunde Liberdade Real com liberdade econômica, política, social, de pensamento, de expressão, filosófica, espiritual... Tudo isso é uma relativização, é uma forma de relativizar Aquilo que não é relativo. Liberdade não é algo relativo, Liberdade é a sua Natureza! Então, o pensamento é o fator central de toda confusão na sua vida.

Você quer a consciência coletiva, a consciência econômica, a consciência espiritual, a consciência política... Então, você também relativiza essa questão da Consciência. Isso é só o que o pensamento faz! Você relativiza o Amor, que é algo inerente à sua Natureza Essencial, e confunde Isso com amor aos pais, à pátria, à bandeira, à família, ao próximo, à justiça social... Você transforma o Amor em um objeto, em uma sensação. Você confunde o prazer da sensação com Amor.

A Inteligência também é relativizada. Existe inteligência matemática, emocional, econômica, técnica, enfim... Mas Inteligência é a Natureza da Consciência. Não se pode relativizar Isso, mas é o que o pensamento tem feito.

E quanto à felicidade? Existe a felicidade do casamento, a felicidade profissional, a felicidade afetiva... Isso tudo porque a mente está objetivando, está tornando Aquilo que não é objetivo em um objeto.

Enquanto você estiver pensando, estará relativizando; enquanto você estiver pensando, estará se equivocando; enquanto você estiver pensando, estará objetivando tudo; enquanto você estiver pensando, estará tratando dos assuntos de interesses do pensamento, e isso é se afastar de Si mesmo.

Por isso que não dá certo, a felicidade nunca é completa! Você sabe o que Isso é, mas quando transforma Isso numa objetivação, então o que você tem é algo intermitente, não a Felicidade. Intermitente é essa habilidade da mente de intervir em sua Paz. Não é sua Paz que é intermitente, é a sua mente que se move provocando essa variação de estados dentro de você.

Quando não há pensamento, não há conflito, não há inquietude, não há inconsciência. A inconsciência surge com o pensamento, assim como a inquietude, a falta de paz, a não felicidade, a não liberdade. Tudo isso surge com a ideia "está faltando algo", com o desejo por algo – é sempre uma objetivação.

Toda confusão está presente quando o pensamento está presente, por isso que a chave é a ausência do pensamento. Eu disse "ausência do pensamento", e não do pensador, porque é o pensamento que cria a objetivação de um sujeito chamado "pensador". Isso é uma objetivação também, porque não existe o pensador. Sem pensamento, não há pensador.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 11 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Não fuja do mundo

Participante: Até que ponto o sucesso pessoal, profissional, econômico, etc., pode ser um obstáculo para Realizar a Verdade?

Mestre Gualberto: Nenhum! Sucesso pessoal, econômico, é apenas algo de destinação, não tem nada a ver com Aquilo que Você é. Alguns nascem e têm a destinação de serem craques de futebol, outros nascem com a destinação de serem astronautas. Nem todo mundo no planeta consegue ser um craque de futebol ou um astronauta da NASA. Mas o que isso tem a ver com Realização? Absolutamente nada!

Realização não faz parte da destinação, é algo fora daquilo a que o corpo está destinado a ter, fazer, realizar, assim como a sofrer ou experimentar. Se você tem a inclinação, e a alegria de ter essa inclinação, para realizar algo no mundo, vá lá e realize, mas isso não tem nada a ver com Aquilo que Você é. Você nunca será uma "pessoa", nem fracassada, nem de sucesso. Você sempre será Aquilo que é: Pura Consciência, Pura Inteligência. Você é o Buda! Sua Natureza é Amor, Liberdade, Inteligência, Paz, Verdade, e Isso não tem nada a ver com fracasso ou sucesso.

Coloque em primeiro lugar, sempre, Realizar Aquilo que Você é, e tudo que estiver destinado a acontecer irá acontecer. Se a destinação desse corpo for para o sucesso, ele terá sucesso; se não for, ele não terá. Então, a pergunta real é "quem sou eu?", e não "o que posso realizar?". Faça tudo que lhe chegar às mãos para fazer, porque isso faz parte daquilo que você tem como destinação. Se houver alegria em fazer isso, você já é um sucesso, mas isso não tem nada a ver com O que Você é. O que Você é está fora desse sucesso.

A única coisa que, de fato, você nasceu para Realizar é a Verdade sobre Si mesmo, e Isso não tem nada a ver com destinação, mas com amadurecimento. Se é o seu momento, isso irá queimar aí dentro e essa será a única coisa que importará para você. Se isso não estiver queimando aí dentro, se as inclinações da mente e do corpo ainda forem fortes para a realização de desejos no mundo, para objetivos mundanos, é assim que irá acontecer, porque ainda não haverá maturidade para o Despertar da Sabedoria.

Mas se você está aqui nesta sala e as coisas que eu digo são algo que ressoa dentro de você com muita Verdade, isso para mim é um sinal de que você está cansado de buscar do lado de fora, porque já há algo aí dentro que lhe diz que a resposta está dentro e não fora.

Participante: Às vezes, eu sinto que temo fazer algo que possa me trazer reconhecimento, na ideia de que isso possa me afastar desse caminho de procura da Verdade.

Mestre Gualberto: É bastante sem sentido esse seu pensamento. Essa é uma outra forma de fugir, de tentar escapar daquilo a que você está destinado. É uma forma de ego "sutil", que dá passos tão suaves como os de um elefante. Eu diria para você: vá lá e faça tudo da melhor forma possível, e não fuja do reconhecimento, não fuja da possibilidade de ter nome, de ganhar dinheiro. Não fuja de nada disso!

Esse escapismo ainda é de um ego que quer ser espiritual. Ser espiritual é uma coisa terrível! Eu tenho visto que as pessoas que me dão mais trabalho quando chegam são as espiritualizadas. Ô ego difícil de ser desconstruído esse espiritual! Quanto mais espiritual você é, mais problema você me traz aqui, e mais rapidamente você se escandaliza comigo, porque Realização Divina não tem nada a ver com espiritualidade. Realizar a Verdade sobre Si mesmo, esse Despertar para a Sabedoria, para a Verdade do Amor de Deus, não tem nada a ver com o que vocês aprenderam aí fora.

Então, essa ideia de não querer ter nome, não querer fazer sucesso, não gostar de dinheiro, não gostar de trabalho, não gostar de reconhecimento, e querer se isolar e viver numa montanha ou dentro de uma gruta, ou no meio da floresta, não tem nada a ver com a possibilidade de Realizar a Verdade Divina.

Às vezes, as pessoas vêm a mim e querem, também, ver confirmado esse tipo de crença, mas eu não alimento isso. Você Realiza a Verdade sobre Si mesmo é no mundo mesmo, mas sem se identificar com aquilo que a cultura preconiza como sendo real para sua vida, como sendo verdadeiro para você. Você tem que tomar muito cuidado com isso, porque você pode querer Realizar a Verdade, para ir além do mundo, "fazendo" uma renúncia ao mundo. Mas o que você chama de "renúncia do mundo" é apenas um escapismo, uma forma também de fugir daquilo a que você está destinado a ter, a alcançar, a passar, a viver.

Pois vá lá, trabalhe, ganhe dinheiro, faça sucesso e seja bom no que você faz! Isso não tem nada a ver com o seu Despertar. Na verdade, ao fugir disso, você está tentando fugir da possibilidade de se ver em meio a tudo isso. Não é fugindo do mundo que Realizamos a Verdade. Não é fugindo daquilo a que estamos destinados a passar que nos aproximamos da Verdade. Ao contrário, dê boas-vindas… apenas flua com isso. Deixe isso tudo surgir espontaneamente. Deixe isso apenas fluir. Não agarre, não resista, não brigue, não recuse e não renuncie, porque é a mente que faz isso. Essa não é a forma.

É internamente que tudo deve acontecer. Sua renúncia ao mundo externo acontece internamente. Sua renúncia a toda forma de apego mundano é algo que acontece dentro, não tem nada a ver com o externo. Você pode ser, para outros, uma pessoa muito bem-sucedida externamente, e internamente não estar nem aí para nada daquilo.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 26 de março de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

A cura para o "vírus" da ilusão

O seu corpo é um território amplamente desconhecido, assim como aquilo que você chama de mente. Você tem que acolher, receber e explorar isso, se familiarizar com isso, então irá ver todas as contradições e tensões, toda a riqueza dessa teia admirável que o pensamento, em sua imaginação, construiu. Só então você Despertará para a Sabedoria, para a Compreensão da Verdade sobre quem Você é!

Nós podemos contar nos dedos os Sábios, os Seres Realizados, existentes no planeta neste momento da história humana, porque são muito poucos os que têm interesse real na Sabedoria, na Verdade, em Se reconhecer, em saber realmente o que é Deus ou onde Ele está. O interesse da mente é outro! O interesse da mente é no seu sonho e na continuidade dele. Neste mundo, o Sábio, Aquele que está Realizado, é o único que vive realmente. Todos os demais estão contaminados!

A inconsciência, a ilusão sobre Si mesmo, é a mais grave pandemia da história da humanidade! Isso é assim desde que o mundo é mundo, e nenhum cientista encontrou uma vacina para isso ainda. Apenas aquele que Realizou Deus, a Verdade sobre Si mesmo, sabe o que significa viver sem esse vírus da ilusão da ignorância, do sentido de separação.

Na mente, você não faz ideia do que é a vida fora da mente, do que é a vida de um Ramana, de um Osho, de um Jiddu Krishnamurti, de um Buda, de um Ser Realizado – não há conflito, não há contradição, não há medo, não há desejo, não há sofrimento, porque não há ignorância, não há mente. Toda essa dinâmica de conflito interno, todas essas contradições e tensões que estão presentes na mente egoica (medo, fobia, tédio, solidão, culpa, desejo), tudo isso desaparece!

Agora, você tem que receber, explorar, se familiarizar com essa teia de contradições, com tudo que se passa dentro de você, olhando diretamente para isso, sem fugir disso, e a mente é muito hábil em fugir, ela é expert em fazer isso. Há milênios a mente vem fugindo! Ela substitui a dor de uma falta pela recompensa de algo para substituir aquilo, aí a dor parece desaparecer. Na verdade, o que a mente fez foi mais uma vez fugir.

Por isso que as pessoas vivem dessa forma, trocando de namorada, de marido, de casa, de bairro, de cidade, de trabalho. Elas vivem trocando tudo! Elas acham que a solução vai acontecer lá na frente. Elas dizem "minha vida não é boa agora, mas será melhor quando eu conseguir aquilo!", aí, quando conseguem, veem que aquilo não deu certo, então a mente diz "é porque faltou um pouquinho mais de esforço. Você agora só tem que mudar! É por aí mesmo, casando-se você será feliz!".

A mente diz todo tipo de coisa dentro da sua cabeça, mas você não percebe que tudo isso é um grande truque cultural, social. A mente é totalmente mundana! Ela pensa como a cultura, como a sociedade, ela gira em torno dos projetos já conhecidos; é algo muito previsível! O que não se percebe é que há um emaranhado enorme, uma enorme teia de contradição, de conflito, nessas buscas, nesses desejos, nesses sonhos, nesses projetos. É sempre a mente indo para fora.

Há uma indescritível Liberdade em seu Ser, que nada pode substituir. Nenhuma sensação, nenhum prazer, nenhum objeto externo, nenhuma realização externa pode substituir Isso, mas você tem que se familiarizar, explorar internamente o que acontece, ver tudo isso. Você precisa ver como é que se move esse centro falso, essa falsa entidade que está condicionada a pensar, a agir, a sentir, a falar dessa ou daquela maneira. Temos que ver toda a riqueza de diversidade daquilo que chamamos de "eu", e isso, normalmente, nós evitamos. Evitamos porque é o movimento da mente evitar.

Participante: Você recomenda meditação?

Mestre Gualberto: Sim! Mas você precisa compreender realmente o que eu chamo de Meditação. Meditação é a chave, mas o que é Meditação? Se não se compreende o que realmente significa Meditação, isso também se torna parte de um grande e absurdo projeto de fuga. Meditação é você em seu Ser, em seu Estado Natural. Meditação significa viver livre da mente, viver completamente fora de todo conflito que o pensamento produz. Isso é Real Meditação, e não uma prática de 30 minutos!

Meditação significa trazer consciência ao seu viver, momento a momento, aproximando-se e explorando tudo que se passa dentro, sem fugir. Você está indo ao trabalho, dirigindo o carro, caminhando, conversando e, nesse momento, você está inteiramente cônscio de si, de tudo o que se passa.

Eu tenho trabalhado muito aqui, com todos os que se aproximam, essa questão da Real Meditação, porque é a única coisa que importa. Apenas a Real Meditação já é suficiente, unicamente Ela faz tudo e, quando Ela está, você desaparece.

Por 21 anos, aos pés do meu Mestre, a única coisa que ele me mostrou foi o significado de viver livre de tudo que o pensamento constrói sobre quem você é, sobre quem é o outro e sobre o que está acontecendo no mundo. Tudo que o meu Guru me mostrou foi como não confiar em absolutamente nada que o pensamento diz. A Meditação o faz ver todo esse emaranhado de sensações, sentimentos, emoções, aquilo que eu chamei de "riqueza de diversidade" do que chamamos de "eu". Estar desvencilhado disso por completo, por inteiro, livre do senso de uma entidade presente nessa experiência aqui e agora, livre da ilusão de uma identidade presente: isso é Meditação!

Isso significa não se importar com o "sonho". Você deixou de ser o executor, o autor das ações, aquele que se importa com os resultados, pequenos ou grandes, daquilo que acontece. Você está dando boas-vindas a tudo que aparece, momento a momento, e tudo surgirá de uma forma espontânea e livre, diante de um olhar que será Pura Inteligência, que não interfere. Eu poderia chamar isso de "o olhar da Consciência" ou "o olhar de Deus", do Deus que Você é, dessa Consciência que Você é, dessa Inteligência que Você é!

*Transcrição de uma fala ocorrida em 26 de março de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

O sonho da “vida real”

Participante: O carma das vidas passadas interfere na vida atual?

Mestre Gualberto: Quando falamos de vidas passadas, de céu e inferno, purgatório, ou de qualquer nível de experiência em que exista a presença do corpo e da mente – pode ser um corpo físico, espiritual ou de sonho –, nós estamos sempre falando de um "estado de sonho".

Aquilo que alguns chamam de carma, nós aqui também poderíamos chamar de destino. Mas o carma e o destino afetam a quem? Essa que deve ser a pergunta! Para quem é essa vida ou para quem foi a vida passada?

Veja, nós estamos sempre falando de uma "experiência de sonho". Quando você acorda pela manhã, qual é a verdade do sonho que você teve à noite? Nenhuma! Aquele sonho parecia muito real enquanto acontecia para você, enquanto havia um experimentador do sonho. Se aquele experimentador desapareceu com o sonho, e agora você está acordado, aquele sonho não faz nenhuma diferença para você.

Assim, o que a gente chama de "vida presente" também é uma espécie de sonho, e ele tem muita importância enquanto o experimentador desse sonho está dentro dele. Quando você sai desse sonho para o sonho da noite, para onde é que vai este mundo enquanto esse sonho noturno acontece?

Então, repare: é sempre para esse "senso do eu" que esse tipo de coisa tem alguma valia. Se esse "senso do eu" desaparece, qualquer importância dessa vida ou da vida do sonho desaparece também. O fato é que você dá muita importância a essa vida, em razão de estar se confundindo com o corpo e a mente, por ver essa vida como algo real. No entanto, ela é real só enquanto você sonha o sonho dessa vida, assim como quando sonha à noite – enquanto você sonhava, aquela vida era muito real para aquele que estava naquela experiência.

Aqui, a única coisa que importa de verdade é ver a vida como ela é. Essa preocupação de que exista alguma interferência na vida é completamente irrelevante. O fato é que você está vivendo aquilo que está destinado a viver nessa experiência "corpo-mente", mas se você se desidentifica disso, desse personagem, dessa identidade que não é real, a vida é só o que acontece. Então, isso não pode mais afetar você, como a Consciência que você é.

No sonho à noite, tudo o afeta, porque você se vê como a figura central de tudo que acontece ali. Não é diferente daquilo que a gente chama de vida. Quando dizemos que estamos acordados, estamos vivendo esse "sonho de mundo", no qual, da mesma forma, uma identidade separada se torna o centro de toda experiência, e é aí que está todo o problema humano: o sentido de alguém presente nessa experiência de vida, alguém dentro desse destino. Não tem alguém dentro desse destino! Só existe o corpo dentro desse destino! Esse personagem é fictício, inventado, produzido pela imaginação. Ele se tornou o centro de toda essa experiência chamada de vida, de uma forma artificial, de uma forma arbitrária, por pura ignorância.

Você possui um "eu" que é falso. Não existe esse "eu"! É um "eu" que o pensamento imaginou. O pensamento imaginou esse "eu", se apropriou dessa imaginação e fez você assinar um contrato de posse de algo que não existe. Você é proprietário de uma imaginação que tem um nome, um corpo, uma história e uma vida particular, pessoal, separada de toda a Existência. Isso não é real!

O pensamento formulou tudo isso! Nossa cultura humana, nossa sociedade, o mundo em que vivemos, ou que parecemos viver, nos diz que isso é assim. Não há realidade nisso! Essa destinação do corpo, desse mecanismo, é algo que faz parte desse "sonho", mas esse "sonho" não é seu! Você não existe para fazer esse "sonho" acontecer! Ele é um desdobramento dessa Consciência! Ela brinca de "sonhar" e "acordar", e você tenta se tornar dono disso, faz desse "sonho" algo seu, pessoal. Você centraliza isso – quando digo "você", me refiro ao pensamento –, como se fosse uma entidade verdadeira nessa experiência. Isso é ficção científica! A mente criou sua ciência e uma ficção em cima dela.

Sua Natureza Real é Consciência, e Consciência não sonha. O "sonho" se desdobra na Consciência, mas Ela está além desse "sonho". O "sonho" é essa experiência de destinação, que alguém chamaria de carma. Aquilo que está determinado a acontecer, acontecerá, e não há nada nem coisa alguma que possa impedir isso.

É evidente que, em cima dessa visão, podem surgir algumas perguntas aí. Alguém poderia perguntar: "E esse carma é criado?". Seu Ser não é tocado pelo "sonho", então Ele não irá criar nada, nem se livrar de nada! Apenas a mente, em seu "movimento de sonho", pode continuar dessa forma, mantendo essa suposta identidade. Aqui, você deve se desidentificar da mente, então você ficará livre dessa ilusão de ser alguém nessa experiência, nesse "sonho".

Por exemplo, você é casado e tem três filhos, então vai dormir e sonha. Nesse sonho você também é casado, mas com uma outra pessoa, e não tem filhos. Aí eu pergunto: quem é você de verdade? É aquele lá do sonho ou esse daqui? É aquele que ainda não tem filhos ou esse que tem três?

Então, o que você chama de carma de vidas passadas é o sonho de uma pretensa vida separada, que aconteceu há 200 ou 500 anos. Tanto a "vida passada" como a "vida futura" estão dentro desse mesmo processo de alguém imaginando ser aquilo que de fato não é. Tudo isso é o jogo da mente – a mente produzindo um corpo masculino ou feminino, um personagem para 70 anos, depois um outro personagem para mais 50 anos. Assim como a mente produz um personagem em seu sonho à noite, produz um personagem aqui, neste momento. Nada disso é real!

*Transcrição de uma fala ocorrida em 26 de março de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Olhe em seu próprio bolso

No Ocidente, nós não sabemos o que é estar em contato direto com um Ser Acordado, com um Ser Realizado. Nós não temos ideia do que isso representa, do que isso significa, e vem você parar nesta sala…

Jamais subestime este encontro, isso é algo que pode despertar aí a Verdade, a Felicidade, a Inteligência, a Sabedoria.

A princípio, você vai acreditar que eu estou vendo e tratando você como uma "pessoa". Mesmo assim, estarei lançando uma semente aí, que, no devido tempo, irá germinar e lhe trazer uma compreensão de que não há "pessoa" aqui nem aí.

Quando essa semente germina e cresce, ela é como a própria árvore Bodhi. Vocês conhecem a tradição budista, a história de que foi embaixo dessa árvore que Buda Realizou a Verdade sobre si mesmo? Ele se sentou embaixo da árvore Bodhi... Quando essa semente aí germina e cresce, ela se transforma na própria árvore Bodhi, onde outros poderão, debaixo de sua sombra, também Despertar.

Você sabe o que é Despertar? É o fim desse mundo que a mente conhece. Olhe para as pessoas à sua volta: elas estão confusas, assustadas, não estão celebrativas, não estão radiantes, não estão leves, não estão felizes; elas estão com problemas.

O Despertar coloca você em sua Natureza Real, em sua Natureza Verdadeira. Isso não é falar de amor, é viver o Amor! Não é falar da Verdade, é ser a Verdade! Não é falar de paz, é não conhecer mais conflito psicológico, interno!

Ninguém lhe dará Isso. É como algo que você tem dentro do bolso da sua calça jeans – só você tem acesso a esse bolso, porque a calça é sua! Enquanto você não colocar a mão no seu "bolso", não terá acesso a Isso.

Você nasceu para Realizar Isso, e não para se casar! É tão curioso esse sonho de vida que a gente conhece… Tem pessoas que se casam cinco, dez vezes! Não é piada! As pessoas se casam dezenas de vezes! Você não nasceu para se casar, você nasceu só para Realizar Deus, nasceu para não nascer mais, para descobrir que esse mundo é um sonho e que a vida aqui não é infeliz, não é miserável, não é perturbada, não é sofrida como a que todos vivem.

A vida aqui é para ser vivida com Alegria, com Amor, com Paz, com Inteligência, com Liberdade, com Consciência Divina, para que no dia que esse corpo tiver que ser deixado e jogado de volta à terra, Aquilo que é Real aí possa voar com essa mesma Liberdade que hoje você está vivendo, para que isso possa acontecer com a maior Alegria e Leveza, como tem acontecido com todos os Seres Realizados.

Eu não estou falando da forma da morte. Cristo foi crucificado, Ramana e Ramakrishna morreram de câncer… A forma como o corpo é deixado não importa! Essa Liberdade, essa Paz, esse Amor, essa Alegria e essa Inteligência estão presentes.

Coloque a mão dentro do bolso da sua calça jeans e descubra o que tem aí, a preciosidade que está aí. Deus é essa Preciosidade oculta em você, que está com você o tempo todo.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 23 de abril de 2020, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Um encontro com a Sabedoria

Não há Verdade na mente e você jamais conhecerá a Sabedoria sem a Verdade. Em outras palavras: na mente, você jamais será Sábio.

A Realização da Verdade sobre si mesmo é a base da Sabedoria, mas você tem que desaprender tudo, tudo que aprendeu sobre amor, paz, Deus, felicidade; sobre você, o outro, a vida, o mundo; sobre o lado difícil e pesado desse sonho chamado vida humana… Você tem que desaprender tudo isso!

Essa é uma questão de visão, de visão de vida, não é uma questão de entendimento intelectual, e essa visão só nasce fora da mente, não nasce dentro do condicionamento da mente. Então, você não vai descobrir Isso estudando; você vai descobrir Isso se revelando dentro de você.

Sabedoria é um florescimento de dentro, não é uma coisa que se aprende. Você já é Sábio o suficiente, só que não está olhando para a direção verdadeira, então essa Revelação de dentro não ocorre.

O meu Mestre dizia: "Descubra o Sábio que você é". Aí, quando perguntavam "como se faz isso?", ele dizia: "Desaprendendo tudo o que você já sabe". Ramana dizia isso.

A Verdade é algo que está dentro, não está nos livros, não está no intelecto. Do livro, você adquire coisas que irão lhe dar uma informação meramente intelectual, mas isso não serve para a vida, porque quando a sua mulher vai embora com o namorado novo que ela arrumou, todo seu conhecimento emprestado sobre desapego desce pelo ralo.

Quando bate a realidade, quando a realidade surge, a teoria não serve para nada. Diante da perda de alguma coisa, diante da dor, toda teoria não serve para nada. Você achava que não choraria por aquela coisa e terminou chorando. Mas você sabia tudo sobre não chorar, e como é que chorou? Por que chorou? Porque a Verdade não é teórica, é vivencial, ou então não é a Verdade, é só mais um condicionamento, mais uma crença.

Satsang é um encontro com a investigação da Verdade sobre O que você é, não é um encontro onde a gente fica estudando. Não tem nada para se estudar aqui, eu não sou um professor.

Quando olham para mim, dizem "mestre", mas inventaram isso, eu só sou o que sou. Até digo para eles "coloquem Marcos Gualberto só", aí eles colocam "Mestre" e, se duvidar, colocam "Bhagavan". Entendeu? [Risos].

Eu só sou o que sou. Não sou aqui um professor ensinando nada! Na verdade, aqui eu vou duvidar do que você sabe. Eu não só não vou lhe ensinar algo mais como vou duvidar do que você sabe e vou tornar esse muito que você sabe em pouco, quase nada, até desaparecer. Quando desaparecer, eu saberei que então estaremos bem, que tudo já estará resolvido.

Portanto, aqui não se trata de aprender, mas de desaprender; esse é o ponto! Esses dias, alguém entrou na sala e perguntou: "O que nós precisamos saber?" Eu disse "você já sabe muito. Você só tem que saber desaprender, porque você já sabe muito e já vai me dar muito trabalho aqui por isso".

A princípio, quando você chega aqui, você está como um buscador nessa aproximação, vendo um professor. É quase inevitável isso! E o professor geralmente é uma "pessoa", para começar. Daqui a pouco, você vai começar a perceber que está diante de um Vácuo, de um Vazio silencioso, que não tem ninguém presente nessa sala – é quando essa projeção do buscador começa a perder o suporte, a sustentação, aí você realmente está se aproximando de um Buda, de um Mestre vivo.

Então brota, de uma forma natural, uma Inteligência que nasce do Coração, que une o devoto ao seu Amado, o aspirante à Realização de Deus ao próprio Deus. Eu estou falando da minha vivência com o meu Mestre; é assim que acontece. O Mestre não é mais visto como um professor, como uma "pessoa"; ele é visto como uma Presença de Inteligência Divina, como um Sábio.

Você nunca está lidando com uma pessoa quando está lidando com o Vazio. Você está lidando com uma "pessoa" quando está lidando com alguém instruído, com alguém que aprendeu, que estudou os livros sagrados, mas quando você escuta a partir da própria autoridade interna, você está diante de um Vazio.

Esse é o antigo sentido de Guru na Índia, no Japão, no Tibete, no Oriente, o real sentido do contato com um Buda, com um Mestre vivo. Isso ocorre em um outro nível, não é no nível de professor e aluno, daquele que sabe e outro que não sabe. Não é isso! É uma comunhão de Presença, de Coração.

A relação dos discípulos de Cristo com Cristo, de Buda com Buda, de Ramana com Ramana tem outro nível de qualidade, é algo que ultrapassa o tempo, o espaço, as dimensões do pensamento e as diretrizes da personalidade. Não é, de fato, uma relação em dualidade; não é uma relação! Eu chamaria isso de comunhão, uma coisa no Coração, que acontece quando você é tocado por aquele Coração.

Esse encontro é em nível de Consciência, não de intelecto. Pela primeira vez, você conhece o que é um contato de Consciência. Amor é isso! A resposta que vem do Sábio não vem de um professor se dirigindo a um aluno, ela é direcionada à Consciência pela Consciência, que é a Verdadeira Natureza do aspirante, do buscador. Portanto, é um movimento de dentro.

Então, pela primeira vez você se depara não com um instrutor, não com um professor, mas com a Consciência, com a Inteligência, com o Divino, com a Sabedoria, com a Verdade, com Deus, com a Fonte, com Você mesmo.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 23 de abril de 2020, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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