quinta-feira, 1 de outubro de 2020

A vida não é isso que você acredita ser

É muito interessante poder descobrir que a vida não é isso que você acredita ser. Nós estamos vendo em Satsang, sempre, que você tem imaginado a realidade. O que você chama de “vida” é somente a imaginação sobre a realidade, mas a Verdade sobre a Realidade está esquecida, é como algo que foi perdido. O lado paradoxal disso é que Ela não está perdida, e mais paradoxal ainda é saber que Ela também não está esquecida. Isso é somente um jogo de esquecimento, no qual essa Realidade parece estar perdida, e esse sentimento é devido à ignorância. Quando você reconhece a Verdade, a Realidade, pela primeira vez sabe que não é algo que você consegue esquecer ou perder. É apenas essa ignorância sobre quem você é que causa esse sentimento.
O que você chama de tristeza e alegria, de paz e guerra, são sintomas da ilusão. Se agora você se sente em paz e já no momento seguinte se sente em conflito, em guerra, isso é um sinal clássico da presença da ilusão. Esses são sentimentos que ocorrem devido à ignorância. Assim, você está em um estado que intercala entre a paz e a guerra. Esse é o estado de dualidade, de separação.
Você se sente prisioneiro, sofre e busca a solução para os problemas que são ilusórios, em razão da ignorância. Sempre que você se sente infeliz e com problemas, está aceitando uma imaginação sobre a Vida, sobre a Realidade, então acontece a luta. Quando há ignorância, não existe acolhimento ou compreensão de que coisas ruins acontecem. Aquele que tem essa compreensão apenas reconhece isso, então ele não tem surpresas, porque sabe que isso faz parte do jogo da vida, desse jogo da dualidade.
Assim, não tem por que ficar triste quando coisas ruins acontecem, nem por que ficar eufórico, achando que encontrou a felicidade, quando coisas boas acontecem. Tudo isso ocorre devido à ignorância. A pessoa que vive na ignorância fica feliz quando coisas boas acontecem e acha que a felicidade será eterna, mas não é assim. Se uma coisa boa está acontecendo, tenho uma notícia ruim para lhe dar: isso não vai durar muito tempo. Isso porque nada dura muito tempo, sejam as coisas boas ou as ruins. Tudo bem? Dá para ouvir isso sem revolta?
A mente egoica tem uma perspectiva de lucro, de aquisição, de ganho. O ego está sempre em um grande negócio, em algo que ele não pode perder. Ele está sempre buscando, procurando benefícios para si mesmo, o tempo todo! Ele deve ser amado, respeitado, elogiado e deve ganhar. Foi assim que você foi treinado para viver, esse é o seu treinamento nesse mundo. Em todas as áreas e aspectos, você sempre vai aguardar coisas boas. Não estou dizendo que aguardar coisas boas seja ruim; estou dizendo que não aceitar que coisas ruins possam acontecer, quando coisas boas também são esperadas, é coisa ruim. É uma ilusão você não estar pronto para coisas ruins porque aguarda somente coisas boas.
Eu amo Satsang, esse encontro com a Sabedoria, onde as palavras que você recebe são de pura Consciência. Não são palavras para você refletir, imaginar, concordar ou discordar, mas apenas para ouvir e dormir com isso, e, de preferência, acordar na manhã seguinte dizendo: “É assim e ponto final”. Isso é Sabedoria! Satsang é o encontro com a Sabedoria. Quando vai a um Mestre vivo, você fica diante da própria Consciência. Não se encontram Seres Realizados como banana, que você encontra facilmente no mercado e pode comprar dúzias, vários cachos. Porém, até para encontrar banana você precisa ir ao lugar certo, pois se procurar na papelaria, por exemplo, você não encontra.
Este encontro, que temos aqui, é o encontro com a Verdade da Consciência, com a Verdade do Ser. Aquele que tem uma Compreensão clara, sabe que a vida tem sempre dois lados – numa hora você ganha, noutra perde. Aqui, eu lhe recomendo, sempre, investigar essa questão de quem está ganhando e perdendo, e a quem isso afeta. Você acredita que é uma entidade separada, e essa é razão do medo, do sofrimento. Na verdade, todos no planeta são aparições dentro dessa mesma Consciência. Há somente essa única Consciência, na qual tudo aparece.
Todos sabemos o que é começar a assistir a um filme e depois dizer que ele é ruim ou bom, mas o interessante é que essa é a sua avaliação, não é a da tela. A tela não se preocupa se você projeta sobre ela um filme ruim ou bom; isso não faz a menor diferença para ela. A tela não se sente mais viva quando o filme está sendo projetado sobre ela. Interessante isso, não é?
Assim, se você compreende que não é o corpo, não é a mente, não é uma identidade separada, e abandona essa mistura, essa confusão interna, que eu chamo de “identificação com a mente”, fica tudo bem. Todos funcionam nessa Consciência, e se você acolhe isso, toda a limitação desaparece.
Quando um copo se quebra, o espaço se torna ilimitado. Antes havia uma limitação, mas, depois que ele se quebra, o espaço não fica mais confinado ao diâmetro ou à limitação do vidro. Enquanto você acredita que é a mente, o corpo, e vê o mundo como sendo a sua realidade de vida, você é como o copo, acreditando que esse espaço, que você tem dentro de si, é todo o espaço do universo. Repare que não existe razão para o medo. O copo não pode ter medo de perder espaço se ele se quebrar, porque, se isso ocorre, ele não perde espaço, o espaço dele não desaparece.
Quando um copo que você tem em casa se quebra, outros continuam servindo do mesmo jeito, e aquele que se quebrou você joga no lixo. É assim na Existência − tudo desaparece, mas nada desaparece, nada causa prejuízos. O que passa na sua cabeça são somente crenças, ideias falsas sobre a Existência, sobre a Vida, e você não deixa essa limitação ser quebrada. Quando essa Realização está presente, não há ideia sobre a Vida. Essa é a Visão simples e direta, a Visão Sábia. Portanto, quebre as limitações que você mesmo tem criado com os seus próprios pensamentos, permita que isso seja quebrado.
Satsang é algo extraordinário, fora do ordinário, fora do comum, porque aqui toda essa mentira é quebrada. Sua vida é uma mentira, exatamente porque é a “sua vida” e não a Vida. Nessa “sua vida” não há Verdade, Sabedoria. A Vida é a “tela”, e a sua vida é o “filme”, onde numa hora coisas boas estão acontecendo e noutra, coisas ruins. Esse é o “filme”, e é isso que você chama de “vida”. Esse é o circuito da ignorância, pois não existem coisas boas ou ruins, há somente coisas acontecendo. Para a “tela”, as coisas só estão acontecendo, mas, como você não sabe quem é e se confunde com o que você não é, está vendo coisas boas e ruins.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 03 de Julho de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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