Participante: Como é a questão do sofrimento, dentro da visão do acordado?
Marcos Gualberto: Você tem que diferenciar sofrimento de dor. Em geral, na mente, você interpreta toda dor como sofrimento, mas a dor é algo físico, enquanto que o sofrimento é psicológico.
O pensamento não produz dor física, ele apenas produz dor psicológica, que é sofrimento. É isso que o “senso de pessoa” carrega. A dor física é algo que tem tratamento, enquanto que essa dor psicológica, que é sofrimento, não termina, está dentro da natureza da mente.
Na verdade, a coisa certa a se dizer, aqui, é que a mente jamais vai deixar de produzir dor psicológica. Em outras palavras, a mente jamais vai parar de sofrer, pois isso é a natureza dela. Por que eu digo isso? Porque a mente tem esse perfil, essa natureza dualista. Ela jamais vai deixar de experimentar a dor, pela simples razão de que ela vive em um mundo de opostos, em contraste. Então, o prazer é o outro lado dessa dor.
Participante: Mestre, toda dor emocional é sofrimento? Mesmo quando é uma resposta imediata ao ambiente, como uma perda, por exemplo?
O seu corpo tem um sistema de autoproteção. O corpo traduz um ataque, uma violação, uma incisão, um corte, um ferimento, em dor. Isso está dentro desse sistema de defesa do organismo, desse mecanismo vivo. É algo natural. Mas, quando você perde alguém, não é assim. Você diz: “Mesmo quando é uma resposta imediata ao ambiente”. Em que sentido você coloca essa palavra “ambiente”? Porque a perda de alguém só representa uma resposta imediata a um ambiente puramente psicológico. Apenas psicologicamente é possível se evidenciar essa questão da perda de alguém e, naturalmente, com uma dor emocional ligada a ela.
Aí, você pergunta: “Toda dor emocional é sofrimento?” É evidente! Qualquer dor psicológica, fora dessa dor física, neurofisiológica, é sofrimento. Apenas o sentido psicológico desse “eu” experimenta o sofrimento e esse “ambiente”, que é puramente de ordem sentimental, emocional.
Então, onde se encontra o seu sofrimento? Ele está no “sentido do eu”, nesse “sentido de ser alguém”, que se move nesse “ambiente” de relações com objetos – objetos inanimados, como o tapete da sua sala ou o carro que você dirige; ou objetos animados, como o seu filho, seu neto, seu marido ou namorado. Toda relação da mente é com objetos, porque ela sempre se vê como o sujeito, como o “Sol central” desse “cosmos”, desse “universo”.
O curioso é que a palavra “cosmo”, no grego, significa beleza ou belo, mas não há nada de “cosmo” nesse mundo da mente. Tudo que o ego vivencia é sofrimento, porque tudo que ele vivencia é a sua relação em dualidade, em separatividade. Você jamais irá se livrar do sofrimento enquanto permanecer na ilusão de se ver como uma entidade que se separa na experiência. Enquanto você estiver se vendo numa relação, que é uma ação entre dois, o sofrimento estará presente.
A vida não está acontecendo nesse formato. Esse é um formato imaginário, criado por uma presunção, por uma pressuposição. A pressuposição é: “eu e o mundo” ou “eu e o outro”. Quando parece que, nesse “cosmo”, nesse “universo”, está havendo uma violação, que é quando o objeto desse sujeito, que é o “eu”, está sendo tirado (como no caso da morte ou da separação), ele se ressente, porque não pode ser feliz sem estar preenchido com o seu objeto – e, aqui, o objeto é o outro.
Reparem que a mente não aprecia perder, e sim ganhar, porque isso lhe dá a sensação de preenchimento, de importância, de validação, de classificação. Quando a mente adquire muito ou tudo que deseja, ela tem o que chamamos de “sucesso”. Então, ganhar é sucesso e perder é fracasso. Em nossa cultura, apreciamos as pessoas de sucesso, porque elas representam aquilo que, no ego, nós desejamos ser: alguém que conquista. Mas, aqui, nos deparamos com a situação que eu falei agora há pouco. A natureza da mente é viver na dualidade, então ela busca o sucesso, porque sucesso é ganhar, no entanto ela sempre vai experimentar perder também, o que para ela é sofrimento.
Dessa forma, olhando de perto, você descobre que ganhar também é sofrimento, porque tudo que se ganha, se perde. Se você tem um marido, um dia ele vai embora, vai morrer. Se você tem um filho, um dia ele morre ou sai de casa, e você não o tem mais. Tudo que você adquire, nesse “sentido de ser alguém possuindo”, que é típico da mente, será perdido em algum momento. É uma ilusão acreditar que não haverá sofrimento! Enquanto a mente estiver presente, haverá sofrimento. Ela sempre experimentará sofrimento!
É algo que se tornou bem comum entre nós, chamados “seres humanos”, viver nessa dualidade, nesse sofrimento, na mente, nesse "senso de pessoa”.
Participante: Mestre, o senhor derruba tudo!
Marcos Gualberto: Só pode ser derrubado aquilo que não tem estrutura. Aquilo que não é sólido pode cair, aquilo que não tem realidade pode desaparecer, aquilo que não está firme pode tombar. O mundo, na mente, é um mundo fictício, um mundo sem real estabilidade. Não há Verdade na mente! Todo o seu mundo psicológico é falso, é uma fraude! Os seus pensamentos, emoções, percepções e sensações podem ser traduzidos, analisados e interpretados. Tudo isso faz parte de algo instável! Apenas seu Ser não pode ser “derrubado”, apenas sua Natureza Essencial não pode “tombar”. Isso não está “se equilibrando”, não está passível de “cair”, porque não faz parte da mente, não faz parte desse seu mundo.
Então, o que é o sofrimento? Sofrimento é uma interpretação de pura resistência ao formato que a vida assume neste instante. Você não pode esquecer que a Vida não considera sua história. Jamais confunda a Vida com a história. A Vida não é a história da humanidade e nem a história particular desse “você”, que você acredita ser. A Vida não considera essa história como sendo algo de grande relevância, mas o ego não vê assim; ele se sente importante. “Importante” de uma forma negativa, naquilo que vocês chamam de “baixa autoestima”, ou, de uma forma positiva, naquilo que vocês chamam de “autoestima”. De uma forma bem especial, o ego se sente importante. Tudo está acontecendo para ele, mas ele não leva em conta que a Vida não o vê, não o enxerga. O ego não leva em conta que ele não é real!
O que não falta são pessoas revoltadas com a Vida, com o que acontece, como se a Vida estivesse acontecendo para elas, mas a Vida não as vê, não leva em consideração suas histórias. Às vezes, a Vida quebra um projeto, desfaz um objetivo, um sonho. Como Ela não leva em consideração esse seu idealismo, essa sua imaginação, Ela vem e quebra isso, e o seu ego se revolta, como se estivesse sendo traído, enganado, iludido. Tudo autoprojeção! É a ilusão desse “eu” em seu mundo particular.
Você diz: “Sua fala quebra tudo!”. Não, minha fala diz que não existe nada. Se algo está sendo quebrado, é só a ilusão.
Participante: Tenho um ego enorme, um nariz empinado e soberba! Ninguém me suporta, mas a culpa é minha, pois não existe o outro e não estou aqui, uma mera ilusão!
Marcos Gualberto: Se é mera ilusão, de quem é esse ego enorme, esse nariz empinado e essa soberba? Quem é essa criaturinha insuportável? Quem é essa criatura que diz: “A culpa é minha! Não existe o outro e não estou aqui, isso é uma mera ilusão!”? Um conjunto de pensamentos, apenas isso! Uma imagem que o pensamento constrói dele mesmo e coloca uma entidade presente nisso, nessa imagem, com um nome.
Até mesmo se considerar com um ego enorme é uma grande consideração. Um nariz empinado não são todos que têm, não é? Soberbos nem todos são e nem todos sentem culpa. Parece que, para mais ou para menos, a ilusão dessa falsa identidade sempre se sente importante, seja na autodepreciação ou na autoapreciação. Tudo fantasia! Aqui temos que investigar a natureza ilusória da mente e descobrir que não há nenhuma entidade presente nesta experiência.
Observar a natureza ilusória da mente não é autoanálise, não é autoexame ou autorreflexão. Observar a natureza ilusória da mente é possível porque a Natureza da Consciência é pura Observação, sem escolhas, sem nomeação, sem autoclassificação, sem autoimportância, sem autodepreciação, sem autoanálise, sem autoexame. A Natureza da Consciência é Ser, algo simples e natural, sem a ilusão dessa ideia de um “eu”, que se separa para analisar a si mesmo, para descobrir quem ele é, para se autoexaminar.
Então, nesses encontros, a minha proposta é que você descubra a verdade da ilusão da mente. Você não é a mente, não é nada que ela esteja produzindo. Você não é o corpo, não é a história, não é o que ganha, não é o que perde, não é esse que nasceu, não é esse que vai morrer, não é esse que acredita e nem que desacredita.
Participante: Mestre, o senhor é o Amor!
Marcos Gualberto: O Amor é a Natureza da Consciência, a Natureza do Ser; o Amor é Você. Você não é a natureza da mente, não é a natureza do “eu”. Compreenda isso! Você é a Natureza do Ser, que é Amor, Sabedoria, Inteligência, Verdade, Real Beleza... o Cosmo!
Marcos Gualberto: Você tem que diferenciar sofrimento de dor. Em geral, na mente, você interpreta toda dor como sofrimento, mas a dor é algo físico, enquanto que o sofrimento é psicológico.
O pensamento não produz dor física, ele apenas produz dor psicológica, que é sofrimento. É isso que o “senso de pessoa” carrega. A dor física é algo que tem tratamento, enquanto que essa dor psicológica, que é sofrimento, não termina, está dentro da natureza da mente.
Na verdade, a coisa certa a se dizer, aqui, é que a mente jamais vai deixar de produzir dor psicológica. Em outras palavras, a mente jamais vai parar de sofrer, pois isso é a natureza dela. Por que eu digo isso? Porque a mente tem esse perfil, essa natureza dualista. Ela jamais vai deixar de experimentar a dor, pela simples razão de que ela vive em um mundo de opostos, em contraste. Então, o prazer é o outro lado dessa dor.
Participante: Mestre, toda dor emocional é sofrimento? Mesmo quando é uma resposta imediata ao ambiente, como uma perda, por exemplo?
O seu corpo tem um sistema de autoproteção. O corpo traduz um ataque, uma violação, uma incisão, um corte, um ferimento, em dor. Isso está dentro desse sistema de defesa do organismo, desse mecanismo vivo. É algo natural. Mas, quando você perde alguém, não é assim. Você diz: “Mesmo quando é uma resposta imediata ao ambiente”. Em que sentido você coloca essa palavra “ambiente”? Porque a perda de alguém só representa uma resposta imediata a um ambiente puramente psicológico. Apenas psicologicamente é possível se evidenciar essa questão da perda de alguém e, naturalmente, com uma dor emocional ligada a ela.
Aí, você pergunta: “Toda dor emocional é sofrimento?” É evidente! Qualquer dor psicológica, fora dessa dor física, neurofisiológica, é sofrimento. Apenas o sentido psicológico desse “eu” experimenta o sofrimento e esse “ambiente”, que é puramente de ordem sentimental, emocional.
Então, onde se encontra o seu sofrimento? Ele está no “sentido do eu”, nesse “sentido de ser alguém”, que se move nesse “ambiente” de relações com objetos – objetos inanimados, como o tapete da sua sala ou o carro que você dirige; ou objetos animados, como o seu filho, seu neto, seu marido ou namorado. Toda relação da mente é com objetos, porque ela sempre se vê como o sujeito, como o “Sol central” desse “cosmos”, desse “universo”.
O curioso é que a palavra “cosmo”, no grego, significa beleza ou belo, mas não há nada de “cosmo” nesse mundo da mente. Tudo que o ego vivencia é sofrimento, porque tudo que ele vivencia é a sua relação em dualidade, em separatividade. Você jamais irá se livrar do sofrimento enquanto permanecer na ilusão de se ver como uma entidade que se separa na experiência. Enquanto você estiver se vendo numa relação, que é uma ação entre dois, o sofrimento estará presente.
A vida não está acontecendo nesse formato. Esse é um formato imaginário, criado por uma presunção, por uma pressuposição. A pressuposição é: “eu e o mundo” ou “eu e o outro”. Quando parece que, nesse “cosmo”, nesse “universo”, está havendo uma violação, que é quando o objeto desse sujeito, que é o “eu”, está sendo tirado (como no caso da morte ou da separação), ele se ressente, porque não pode ser feliz sem estar preenchido com o seu objeto – e, aqui, o objeto é o outro.
Reparem que a mente não aprecia perder, e sim ganhar, porque isso lhe dá a sensação de preenchimento, de importância, de validação, de classificação. Quando a mente adquire muito ou tudo que deseja, ela tem o que chamamos de “sucesso”. Então, ganhar é sucesso e perder é fracasso. Em nossa cultura, apreciamos as pessoas de sucesso, porque elas representam aquilo que, no ego, nós desejamos ser: alguém que conquista. Mas, aqui, nos deparamos com a situação que eu falei agora há pouco. A natureza da mente é viver na dualidade, então ela busca o sucesso, porque sucesso é ganhar, no entanto ela sempre vai experimentar perder também, o que para ela é sofrimento.
Dessa forma, olhando de perto, você descobre que ganhar também é sofrimento, porque tudo que se ganha, se perde. Se você tem um marido, um dia ele vai embora, vai morrer. Se você tem um filho, um dia ele morre ou sai de casa, e você não o tem mais. Tudo que você adquire, nesse “sentido de ser alguém possuindo”, que é típico da mente, será perdido em algum momento. É uma ilusão acreditar que não haverá sofrimento! Enquanto a mente estiver presente, haverá sofrimento. Ela sempre experimentará sofrimento!
É algo que se tornou bem comum entre nós, chamados “seres humanos”, viver nessa dualidade, nesse sofrimento, na mente, nesse "senso de pessoa”.
Participante: Mestre, o senhor derruba tudo!
Marcos Gualberto: Só pode ser derrubado aquilo que não tem estrutura. Aquilo que não é sólido pode cair, aquilo que não tem realidade pode desaparecer, aquilo que não está firme pode tombar. O mundo, na mente, é um mundo fictício, um mundo sem real estabilidade. Não há Verdade na mente! Todo o seu mundo psicológico é falso, é uma fraude! Os seus pensamentos, emoções, percepções e sensações podem ser traduzidos, analisados e interpretados. Tudo isso faz parte de algo instável! Apenas seu Ser não pode ser “derrubado”, apenas sua Natureza Essencial não pode “tombar”. Isso não está “se equilibrando”, não está passível de “cair”, porque não faz parte da mente, não faz parte desse seu mundo.
Então, o que é o sofrimento? Sofrimento é uma interpretação de pura resistência ao formato que a vida assume neste instante. Você não pode esquecer que a Vida não considera sua história. Jamais confunda a Vida com a história. A Vida não é a história da humanidade e nem a história particular desse “você”, que você acredita ser. A Vida não considera essa história como sendo algo de grande relevância, mas o ego não vê assim; ele se sente importante. “Importante” de uma forma negativa, naquilo que vocês chamam de “baixa autoestima”, ou, de uma forma positiva, naquilo que vocês chamam de “autoestima”. De uma forma bem especial, o ego se sente importante. Tudo está acontecendo para ele, mas ele não leva em conta que a Vida não o vê, não o enxerga. O ego não leva em conta que ele não é real!
O que não falta são pessoas revoltadas com a Vida, com o que acontece, como se a Vida estivesse acontecendo para elas, mas a Vida não as vê, não leva em consideração suas histórias. Às vezes, a Vida quebra um projeto, desfaz um objetivo, um sonho. Como Ela não leva em consideração esse seu idealismo, essa sua imaginação, Ela vem e quebra isso, e o seu ego se revolta, como se estivesse sendo traído, enganado, iludido. Tudo autoprojeção! É a ilusão desse “eu” em seu mundo particular.
Você diz: “Sua fala quebra tudo!”. Não, minha fala diz que não existe nada. Se algo está sendo quebrado, é só a ilusão.
Participante: Tenho um ego enorme, um nariz empinado e soberba! Ninguém me suporta, mas a culpa é minha, pois não existe o outro e não estou aqui, uma mera ilusão!
Marcos Gualberto: Se é mera ilusão, de quem é esse ego enorme, esse nariz empinado e essa soberba? Quem é essa criaturinha insuportável? Quem é essa criatura que diz: “A culpa é minha! Não existe o outro e não estou aqui, isso é uma mera ilusão!”? Um conjunto de pensamentos, apenas isso! Uma imagem que o pensamento constrói dele mesmo e coloca uma entidade presente nisso, nessa imagem, com um nome.
Até mesmo se considerar com um ego enorme é uma grande consideração. Um nariz empinado não são todos que têm, não é? Soberbos nem todos são e nem todos sentem culpa. Parece que, para mais ou para menos, a ilusão dessa falsa identidade sempre se sente importante, seja na autodepreciação ou na autoapreciação. Tudo fantasia! Aqui temos que investigar a natureza ilusória da mente e descobrir que não há nenhuma entidade presente nesta experiência.
Observar a natureza ilusória da mente não é autoanálise, não é autoexame ou autorreflexão. Observar a natureza ilusória da mente é possível porque a Natureza da Consciência é pura Observação, sem escolhas, sem nomeação, sem autoclassificação, sem autoimportância, sem autodepreciação, sem autoanálise, sem autoexame. A Natureza da Consciência é Ser, algo simples e natural, sem a ilusão dessa ideia de um “eu”, que se separa para analisar a si mesmo, para descobrir quem ele é, para se autoexaminar.
Então, nesses encontros, a minha proposta é que você descubra a verdade da ilusão da mente. Você não é a mente, não é nada que ela esteja produzindo. Você não é o corpo, não é a história, não é o que ganha, não é o que perde, não é esse que nasceu, não é esse que vai morrer, não é esse que acredita e nem que desacredita.
Participante: Mestre, o senhor é o Amor!
Marcos Gualberto: O Amor é a Natureza da Consciência, a Natureza do Ser; o Amor é Você. Você não é a natureza da mente, não é a natureza do “eu”. Compreenda isso! Você é a Natureza do Ser, que é Amor, Sabedoria, Inteligência, Verdade, Real Beleza... o Cosmo!
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 18 de Setembro de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.
❤ que maravilha!
ResponderExcluirMaravilhoso!
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