segunda-feira, 6 de julho de 2020

Algo fora do tempo, do conhecido e que está além do limite da mente

Se você se depara com uma imagem diante de um espelho, nunca duvida de que ela é apenas um reflexo. Você não acredita que tem alguém dentro daquele espelho, olhando para você. É muito claro que é somente um reflexo, uma imagem, e que isso não é você. Porém, a mente, aí dentro, vê tudo de uma forma diferente.
Então, o que estamos investigando aqui? Estamos apenas nos tornando cientes de que uma imagem é apenas um reflexo, não representa a Realidade. Isto aqui não é um curso, em que você aprofunda o seu conhecimento. Este Trabalho não é de crescimento, nesse sentido. Isso porque o Ser não se aprofunda, a Consciência não se aprofunda. Quando falamos de Consciência e de Ser, estamos falando de Algo fora do tempo, do conhecido, que está além do limite da mente.
Você não pode imaginar uma rosa ou uma orquídea, em sua expressão, tornando-se mais profunda, ou seja, tornando-se mais do que ela já é, em sua manifestação de flor. Ali está a flor: simples, bela, natural... Ela não pode ser mais bela do que já é, ou complexa, ou não natural. Sua Natureza Divina, sua Natureza Essencial, carrega a marca da Eternidade, da Atemporalidade, do Desconhecido. Você, em seu Ser, já é essa Consciência e está além do tempo.
Você escuta essas palavras e pode até perguntar se elas são verdadeiras, mas não se trata de serem verdadeiras ou falsas. Nada é verdadeiro ou falso. Assim, eu faço a pergunta e lhe dou a resposta: nenhuma palavra é verdadeira. Aqui, não se trata de verdadeiro ou falso, pois, quando lidamos com palavras, estamos lidando com um apontar; é uma seta no meio da estrada.
É como quando você vem dirigindo seu carro e, ao chegar em uma encruzilhada, tem a felicidade de encontrar uma seta indicando para a direita ou esquerda. Então, palavras aqui funcionam como essa seta na encruzilhada; não são verdadeiras nem falsas, são apenas indicações. Você terá que descobrir se elas estão dizendo algo para você ou não. Esse passo na direção dessa dimensão da Verdade, da Sabedoria, é um passo na incerteza. Isso carrega uma grande beleza, porque você precisa de confiança, de rendição, daquilo que é chamado de “fé”, até você saber por si mesmo. Na verdade, esse Saber é adentrar o Desconhecido, que é o Não Saber.
Tudo bem? Podemos continuar ou fica como uma introdução? Aliás, todas as nossas falas são assim, elas nunca dizem algo, fica sempre um capítulo em aberto. Isso aqui é uma novela que não termina. Você se depara com essa seta na encruzilhada, que diz: “Tudo é ilusão”. Então, para entender a ilusão, é necessário um pouco mais de ilusão.
Participante: Aqui a seta diz “volte”; não é para direita nem para a esquerda.
Marcos Gualberto: Este Trabalho é surpreendente! Como a Verdade é fascinante! Quanto mais você se aproxima, mais percebe que não há distância, então, nunca sabe se Isso está perto ou continua longe.
Participante: A sensação é que está longe.
Mestre Gualberto: A mente diz que está longe. Então, eu chego e lhe mostro essa seta, essa indicação, e nela está escrito: “Tudo é ilusão!” Para entender essa ilusão, é necessário um pouco mais de ilusão. Você pode perguntar: “Afinal, o que você está dizendo? O que é isso que acabou de falar?” Vocês acham que podem chegar aqui e ter a Verdade. Não podem! Podem chegar aqui e ter um pouco mais de ilusão, que será colocada sobre a mesa para ser servida. Um pouco mais de ilusão para você deixar a ilusão. Vocês realmente não acreditam, mas podem acreditar que eu estou dizendo a Verdade. Contudo, se algo é falado, não é a Verdade. Se algo pode ser expresso, é algo dentro do tempo, dentro do conhecido.
Então, o propósito aqui não é encontrar, nessas palavras, a Verdade. O propósito nesse encontro é ter a constatação da Natureza da Verdade, que é o Desconhecido. Assim, Ela não está no tempo, não está nas palavras. Sinto muito... Por isso é que minha ênfase está na Meditação e não no estudo. Eu poderia pedir a vocês que estudassem o Vedanta, os Upanishads (livros sagrados da Índia), a Bíblia, os filósofos gregos, o Curso em Milagres, ou algum outro livro, outra escritura, mas a Verdade não está ali, não está na palavra, não está no que é dito.
Então, quando digo que esse aqui é um encontro onde, para se ver a ilusão, é necessário um pouco mais de ilusão, estou dizendo que essas palavras ou esse encontro com o professor, que a gente chama de Guru ou Mestre, é algo que também ocorre dentro dessa ilusão. Esse é como um encontro em um sonho, no qual uma pessoa lhe comunica muitas coisas. Aí você acorda e descobre que tudo o que ela disse tinha relação com o sonho, servia somente para dentro do sonho. Ou seja, ela estava dentro do sonho falando coisas sobre o sonho. Aqui estamos fazendo algo parecido com isso.
Participante: Aquilo que o senhor está dizendo comunica algo e para tudo.
Marcos Gualberto: Sua observação é interessante. Não é aquilo que é dito, mas é de onde vem essa fala, essa comunicação. Daí a beleza e a importância desse espaço chamado Satsang, que é o encontro com a Consciência, na forma do professor, do Mestre. Isso é Algo fora da mente sendo colocado numa linguagem de dentro da mente. A fala está dentro da mente, e a Realidade está além dela. Então, encontrar o Mestre é aceitar o ensino no “sonho”. Isso ainda está dentro da ilusão, mas há um encontro. Por isso eu disse que, para compreender Aquilo que está fora da ilusão, é necessário um pouco mais de ilusão, para que você aplique isso em si mesmo, investigue essa questão do “conhecimento” e, passada essa fase, atravesse essa ilusão.
Assim, as palavras nunca traduzem algo essencialmente verdadeiro, mas são uma forma de você, como aspirante à Realização, investigar em si mesmo o que é dito e ir além disso. Elas são úteis? Sim, são úteis. Mesmo estando dentro da ilusão? Sim. Porém, elas ainda estão dentro da ilusão, eu sei, por isso não são, em última instância, verdadeiras. Contudo, havendo esse acolhimento, essa confiança e aceitação desse “ensinamento” do Guru, do Mestre, em razão da fé e dessa confiança, um Trabalho real pode acontecer. Vocês compreendem isso?
Então, apesar de não estarmos lidando com a Verdade nas palavras, essa Autorrealização ocorre, e, a partir desse momento, o ensinamento do Guru, do Mestre, não é mais necessário. Isso porque, agora, você sabe que nenhum desses ensinamentos eram verdadeiros, mas você precisou da “canoa” para atravessar o “lago”. Depois que atravessa o lago, você não pega a canoa coloca nas costas e sai com ela, pois já atravessou o lago. Compreendem isso? Esse “lago da ilusão” requer “a canoa da ilusão”. Depois que se está na outra margem, percebe-se que não há lago, portanto, não existe margem do lado de cá e do lado de lá, e não existe canoa.
Essa é a beleza da Presença do Guru, do Mestre. Somente ele pode lhe mostrar a Verdade de que ele não é real, que qualquer conclusão sua sobre isso será falsa, ainda baseada na mente. Alguns vivem nesse debate: “A Presença do Guru é necessária ou não? Ela é Real ou não”? Eu concordo com eles quando dizem que não é necessária, mas, dentro da minha visão, não é necessária apenas quando não há mais ilusão. Enquanto a ilusão estiver presente, toda forma especial de ilusão se faz necessária. Existem ilusões e ilusões: ilusões especiais ou especializadas (vamos colocar assim) e ilusões não especializadas.
Ilusões não especializadas são ilusões da vida mundana. A ilusão especializada é aquela da inclinação do coração do devoto para o encontro com o Divino. Ainda é uma ilusão, mas é uma ilusão que somente a Graça Divina pode revelá-la como tal. Antes disso, qualquer conclusão é mera especulação intelectual e, portanto, egoica. Então, nesse sentido, eu concordo com os que dizem que o Guru é necessário, como Ramana dizia. “O Guru sempre será necessário”, Ramana dizia.
Aqui é necessário você estar diante da revelação do Sábio, da Consciência, da Presença, Daquilo que está fora do tempo psicológico, da mente psicológica, dessa egoidentidade. O Guru é essa Consciência se expressando em uma forma visível e audível, dentro desse “sonho” de mundo, no qual você acredita viver como uma pessoa. Tudo isso termina quando a ilusão termina. Quando se chega na outra margem, descobre-se que não há lago, nem margem, nem canoa, nem ensino, nenhum Guru! Tudo era somente um sonho e terminou!
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 11 de Maio de 2020 – Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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