Parece que isso é algo muito frequente, essa dúvida sobre como lidar com os pensamentos… como lidar com os pensamentos. É importante, primeiro, você perceber toda essa confusão que o pensamento causa, toda essa bagunça, toda essa desordem interna que o pensamento causa.
Você sabe o que o estado, por exemplo, de ansiedade significa, ou de medo, ou de tédio, solidão, depressão... Você sabe o que o estado significa, mas não percebe que a matriz disso é o próprio pensamento, a mãe de tudo isso é o pensamento. Esses estados internos, psicológicos, que o ser humano vive estão, todos eles, baseados no movimento caótico, desordenado, conflituoso do pensamento.
Então, a dúvida é: como lidar com isso? E vem alguém e diz “ah, eu tenho trilhões de pensamentos! São pensamentos repetitivos, são pensamentos obsessivos, são pensamentos descontrolados, e é verdade o que você diz: que são esses pensamentos que sustentam e retroalimentam esses estados, esses estados internos de sofrimento, de desordem. Mas o que fazer com esses trilhões de pensamentos?”. É isso que as pessoas dizem. Só que eu tenho uma coisa para lhe dizer sobre isso: não é assim, não é assim… Você não tem trilhões de pensamentos, você só tem um pensamento; é sempre um pensamento.
O pensamento respeita a fila, ele não fura fila. Basta você observar o que eu estou dizendo. Você entra num banco e as pessoas ali podem desrespeitar a fila, o pensamento não faz isso. O pensamento tem uma forma de apresentação bem ordenada, na sua desordem. Isso mesmo! O pensamento tem uma forma ordenada, na sua desordem, de se mostrar. Então, não fura fila. É um pensamento, sempre um pensamento depois do outro.
O pensamento tem uma sequência de apresentação. O pensamento se mostra sempre um de cada vez. Uma coisa para a qual você ainda não atentou, de uma forma clara, e por isso você está nesse equívoco dessa questão de trilhões de pensamentos e vivendo esses estados, é que há um espaço entre um pensamento e outro. Não só há um espaço entre um sentimento e outro, uma emoção e outra, mas também entre um pensamento e outro. Você precisa descobrir esse espaço.
Toda a nossa ênfase nesse processo do Despertar Espiritual, do Despertar da Consciência, está em tomar ciência desse espaço; é sempre do espaço entre esse primeiro pensamento e o seguinte. Eu vou repetir: ele tem uma forma ordenada, sequencial, de se mostrar; desordenada de se apresentar. Essa desordem psicológica em você é em razão dessa forma desorganizada de representações de pensamento, mas bem organizada, no sentido de que é um pensamento atrás do outro. Então, a boa notícia é que é possível se tornar ciente do movimento do pensamento, sabendo que ele é sequencial. Você tem um pensamento e depois tem um outro pensamento, depois tem outro pensamento.
A velocidade desse pensamento é que é determinada pela profundidade dessa inconsciência presente. Quanto mais profunda é a inconsciência do movimento, mais célere o pensamento acontece, mais veloz o pensamento acontece. Mas, sim, ele é sequencial. Vocês compreendem?
Há um espaço entre o primeiro e o segundo pensamento. Por que você não descobre o que é esse espaço?! É uma pergunta e é uma exclamação ao mesmo tempo. Você não descobre porque você não tem interesse; você não descobre porque você não sabe da existência do espaço, porque você não se apercebe da presença dele. E por que não se apercebe? Por uma questão de hábito, por uma questão de prática viciada de pensar.
É isso que você não encontra nos Seres Realizados. Aquele que Realiza, aquela que Realiza o seu próprio Ser está ciente dessa Consciência. Essa Consciência finalizou, terminou com a inconsciência, com essa profunda inconsciência sobre o movimento do pensamento.
O Ser Realizado tem pensamentos, mas eu tenho comparado isso a tirar da gaveta o que você precisa e depois fechar a gaveta, quando não tiver necessidade de nada que tem lá dentro da gaveta. Você sabe que você tem um cofre. Você abre o cofre e tira o que você precisa, mas você não deixa o cofre aberto; você fecha o cofre quando não precisa mais dele. O pensamento é algo parecido com isso.
O movimento natural do pensamento – e aqui eu falo do movimento natural de Ser o que Você é – é que o pensamento é algo funcional. Você abre o cofre e tira o que precisa; você abre a gaveta e tira o que precisa. Não precisa de mais? Você fecha. Não quer mais alguma coisa do cofre? Você fecha. O pensamento, em nós, deveria ter esse natural movimento. E é como acontece, é como ocorre, quando há Consciência. Quando não há Consciência, o movimento é esse anterior: caótico, perturbado, perturbador, desordenado, inquieto, de uma tagarelice absurda, sustentando – não só motivando, criando, mas também sustentando – estados internos conflituosos, de sofrimento.
Então, todo o sofrimento em você, psicológico, tem por base essa desatenção. Quando há Consciência sobre esse movimento, ele cessa, ele para. Ego, esse sentido de identidade separada, é basicamente pensamento não observado. Se o pensamento não é observado, ele tem o movimento mecânico, inconsciente, repetitivo, bagunceiro, perturbado e perturbador próprio que ele tem.
A não ser que você coloque Consciência sobre o movimento da mente, você continuará preso dentro desse ciclo, que é o ciclo do pensamento viciado, do pensamento repetitivo, do pensamento caótico, do pensamento perturbado.
A Meditação é a arte de permanecer cônscio de si, aqui e agora. Esse momento presente é a grande sacada, é a grande chave. Esse momento presente carrega esse segredo… esse momento presente. É aqui e agora, nesse momento presente, que você observa aquilo que você é. E você é o que você é! Se há esse estado caótico de pensamento, é isso que, nesse momento, você está sendo. Você não luta, não briga, não rejeita, você não faz qualquer coisa, você apenas olha, observa, acolhe isso nesse olhar, então é possível algo fora disso surgir. Você não sobrepõe, a esse pensamento que surge, um novo pensamento, uma crítica, um julgamento, uma comparação, uma rejeição… Você fica com o que se mostra. É só isso!
Vocês subestimam o que eu estou dizendo aqui pra vocês. Há um grande poder em fazer isso! Quando falamos do Despertar da Consciência, estamos falando do Despertar desse Poder de Atenção Plena, de Plena Consciência, de Plena Atenção sobre si mesmo. Então, nós temos linguagens ou temos expressões que podem parecer diferentes em cada religião, ou em cada tradição filosófica, ou religiosa, ou espiritual, como você queira chamar. As linguagens são diferentes, mas estamos falando de uma única “Coisa”: Presença de Si, Consciência de si mesmo, Atenção sobre si, Plena Atenção, Mindfulness. Estamos tratando do seu Natural Estado de Percepção da Realidade Daquilo que é aqui e agora.
Não subestimem isso. Quando isso é feito de uma forma simples, natural, direta, um Poder surge de dentro de você. É como uma pequena… é como um pequeno botão de rosa. Ele está lá no meio do arranjo. Você olha, ele não tem expressão. Você vê um arranjo de flores de rosas, por exemplo. Você lá tem um pequeno botão, bem pequeno, no meio daquelas rosas belíssimas que desabrocharam e estão abertas. Você olha aquele jarro e diz “como é lindo isso! Olha como está bonito!”, mas tem um botão oculto lá no meio. Vocês sabem do que eu estou falando, né? Tem sempre dois, três, quatro, cinco, seis, oito botões bem pequenos. Sabe o que vai acontecer? Você não está vendo nada, mas daqui a dois dias aqueles botões não são mais botões, eles floresceram, e aquelas rosas antigas estão já diminuindo o seu frescor, a sua vivacidade, mas aqueles novos estão florescendo.
Quando você começa a dar atenção a si mesmo – e você faz isso agora, aqui, momento a momento, pela auto-observação… Veja, estou sempre usando palavras novas, ou não, palavras conhecidas, dizendo uma coisa única sempre! A coisa única é sempre nova, as palavras são antigas. Eu agora usei outra… Nesta auto-observação, que é essa Atenção Plena, que é Mindfulness, que é Consciência sobre si…
Nesta auto-observação, essa Energia, que é esse Poder, que é essa Consciência que está aí adormecida, porque Ela está com um cobertor de imagens, de crenças, de pensamentos, de memórias, de lembranças, de sonhos, de imaginações, que são os pensamentos… Quando esse cobertor é retirado – e ele é retirado quando há esta Real Meditação, esse Real Espaço para a Meditação –, aí essa Energia aflora. Diz a Yoga que ela ascende, ela sobe. Não importa, o fato é que ela vai fazer um trabalho aí.
Eles chamam isso de “o Despertar da Kundalini”. É o Despertar desse mecanismo que faz aquelas rosas se mostrarem como são: rosas! Entende? Rosas são rosas! Rosas não são orquídeas, não são margaridas, não são bromélias… Rosas são rosas! Não são botões, são rosas! Quando ela aflora, você tem as rosas! Então, quando Kundalini desperta, quando essa Energia aflora, essa Consciência assume esse Espaço que é Dela, e esse sentido egoico desaparece.
Vamos esclarecer isso aqui pra vocês. Eu posso imaginar uma Kundalini despertando, eu posso ter algumas experiências psíquicas ou assim chamadas espirituais, dessa assim chamada Kundalini que eu imagino, mas não é disso que eu estou falando. Estou falando do Despertar da Consciência. Eu também posso usar essa expressão para imaginar o contato de terceiro grau – vocês sabem o que isso significa – ou de quinto grau, mas eu estou falando do Despertar da Consciência, o que representa o fim dessa inconsciência, que é esse movimento, que é o movimento do pensamento que falamos agora há pouco.
E como é que isso acontece? Pela Atenção! Dentro desse espaço entre um pensamento e outro, você coloca Atenção. Surge um pensamento – não são trilhões de pensamentos, é um pensamento que surge, é sempre um de cada vez, é sempre um sentimento de cada vez –, você dá Atenção a isso. Se é raiva, é raiva, ok. Você não vai brigar com a raiva. Raiva é algo que é também sentimento, sensação e pensamento; é um pacote: é uma coisa no corpo, é uma coisa na emoção, é uma coisa na mente, é uma história… Tudo isso faz parte dessa raiva, e eu dou atenção a isso, eu olho para isso, e é só a raiva. Ela tem um pensamento específico e eu olho para esse pensamento específico; eu não coloco uma ideia sobre o que devo fazer, como devo fazer para lidar com a raiva.
O pensamento diz “respire de uma certa forma”. Não se preocupem com isso. Isso pode ajudar, mas não vai resolver. Você vai ter outras raivas. Você vai aprender a lidar com uma raiva através de uma técnica de respiração… Por isso, eu nunca recomendo práticas de meditação, porque nas práticas de meditação você aprende a lidar com o pensamento. Eu aqui lhe indico como ir além do pensamento observando o movimento dele, e não tentando ajustá-lo, silenciá-lo, moldá-lo através de uma música; conduzi-lo, guiá-lo para o silêncio através da respiração; conduzi-lo, guiá-lo para o silêncio… Isso vale também para uma emoção, como a raiva. Isso não vai resolver! Você não precisa disso!
Aqui e agora, nesse momento, no momento presente, você tem a oportunidade de se tornar cônscio do movimento da mente, e basta isso para haver uma quebra desta programação, desse condicionamento, desse modelo, dessa desordem toda que o pensamento provoca, e os sentimentos, e as emoções. Esse é o fim para a insanidade psicológica, o fim para essa desordem interna, psicológica, é o fim para a desordem psicológica, é o fim para a insanidade psicológica.
O que eu quero lhe dizer é que há um movimento disfuncional presente no ego, e que isso pode ser e precisa ser quebrado por essa Atenção Plena. Então, não é uma técnica… Mindfulness, Atenção Plena, não é uma técnica. É, aqui e agora, Atenção sobre si; Consciência sobre si agora, aqui, nesse momento, e é essa Atenção dada a esse espaço entre um pensamento e outro, entre um sentimento e outro, uma emoção e outra emoção, uma percepção e outra percepção, agora, aqui.
Quando o pensamento diz para você “olha, não tem jeito, porque são trilhões de pensamentos”, ele já ganhou, ele já está lhe convencendo, pela imaginação, de que ele é superior a você, porque você é um e ele representa trilhões, é uma legião de pensamentos. Então, ele já te vence logo, de imediato. “Eu não sei o que fazer com estes trilhões de pensamentos”. Não tem nada o que fazer com eles, absolutamente! Porque não são trilhões, é só um pensamento; observe o próximo.
O problema é que não aprendemos a ficar na fila. A gente sempre dá um jeito de acelerar as coisas. Isso é típico do movimento egoico! Você não sabe respeitar uma fila no banco, você não sabe respeitar a chegada do elevador, você não sabe esperar o resultado de um trabalho… Você tem a urgência e a pressa de que as coisas precisam acontecer quando você quer que elas aconteçam, no tempo seu, do jeito seu e da maneira específica que você quer. Isso tudo é parte do movimento de insanidade psicológica, coordenado, ordenado, motivado e produzido também, ainda, pelo pensamento. Esse modelo precisa ser desfeito. Compreendem isso?
Aqui, a minha ênfase está na Verdadeira, na Real Meditação. A minha ênfase aqui está em esperar o elevador chegar, ou você pode sair desesperado, correr e descer a escada, ou você pode, naquele momento, entrar num nível de ansiedade... Você sabe, um elevador demora o quê? Trinta segundos, um minuto, dois minutos para chegar? Não sei. Mas, se o elevador quebra, talvez você espere o elevador por três horas. Se você estiver dentro do elevador, a coisa complicou ainda mais, porque aí, talvez, se faltar luz ou se ele quebrar e ninguém perceber, e parar tudo, e você não conseguir ajuda, você vai ficar lá algumas horas. E agora? A ansiedade assume! Você não sabe esperar!
É como essa questão do Despertar Espiritual, ou do Despertar da Consciência, ou Despertar da Kundalini. As pessoas aceleram, dizem “já despertou!”. Não, não despertou, é só uma impressão, é só uma imaginação. As pessoas dizem “minha Kundalini despertou”. Elas escrevem para mim “o que devo fazer?”. Gente, quando há o fim do sentido de separação, você não vai perguntar para alguém o que deve fazer. Quando a Kundalini desperta, existe a Realização de Deus, a Inteligência assumiu o corpo, não é uma experiência psíquica, não é uma visão, não é uma...
Então, é muito importante termos uma aproximação real disso, é muito importante nós olharmos para aquilo que somos, aqui e agora, e observarmos isso que aqui se mostra, aqui, nesse instante. É a fila, é aguardar, é esperar, ok. É olhar, ok. É ver, ok. Deixa o elevador chegar. O elevador quebrou e você está dentro dele? Aguarde. Enquanto isso, se volte para esse Espaço que é Silêncio, que é a Consciência, e não haverá ansiedade.
Você tem ali a mais maravilhosa oportunidade da Real Meditação Prática. O elevador quebrou? Não há para onde ir, não há o que fazer, a não ser aguardar. Então, agora é observar a mente.
As pessoas dizem assim “eu não consigo dormir, porque deito para dormir… O que faço? Porque os trilhões de pensamentos vêm…”. Eu vou corrigir isso de novo: é um pensamento de cada vez. Continue com o corpinho deitado e observando o movimento da mente. Surge um pensamento, você olha; surge um outro, você olha; surge um terceiro, você olha. Mas não! As pessoas se levantam e ligam a televisão, vai ver as últimas no WhatsApp ou… Não existe a tal da insônia, apenas essa inquietude. Você acolhe essa inquietude na auto-observação. Não resista, não lute, não se mova! É uma oportunidade para a Real Meditação Prática.
Isso vale para uma fila no banco, vale para a fila na hora… no restaurante, para uma mesa ser liberada; isso vale para a espera no elevador; isso vale para quando você estiver lá no consultório do seu médico esperando sua vez… Eu não sei se vocês já notaram que tem fila para tudo! Como é que o pensamento não iria obedecer também esse mesmo critério e saber que tem fila também? Não dá para ele chegar aos trilhões, ele vai chegando um de cada vez. Eu já estou te dando aqui um segredo, um grande segredo!
Descubra isso, observe que é um pensamento de cada vez. Então, qual é o seu trabalho agora, aqui? Observar a mente.
É como se você perguntasse “qual é o próximo pensamento?” Experimente isso agora aqui. Pergunte “qual é o próximo pensamento?”. Repare, quando você faz essa pergunta, não tem pensamento, o pensamento não diz qual vai ser, então há um espaço do não saber. Esse é o segredo da Meditação, da Real Meditação.
Isso você faz dirigindo um carro, você faz caminhando, você faz almoçando… Você não precisa estar num lugar especial! Isso é parte da Meditação!
Compreendem o que eu estou dizendo? Enquanto escuta o barulho do vento ou de uma britadeira, enfim, enquanto você está aqui e agora, nesse momento, e aprende a não rejeitar, a não lutar, a não resistir ao momento presente como ele é, como ele se mostra, você descobre que não tem nada acontecendo fora. O conflito está todo dentro, a resistência está dentro e, se há resistência, não há Real Meditação. Mas, se não há resistência, você já está aberto para a Meditação.
O que vale para o que está fora, vale para o que está dentro também. Não são os pensamentos, esses trilhões de pensamentos, que lhe impedem de estar no Silêncio; é a sua resistência a eles, é a não Atenção ao espaço que surge entre eles. E, quando eu uso a expressão “Atenção”, é relaxada, é contemplativa, é amigável… Isso não pode ser mais um pensamento: “Tenho que estar atento, tenho que dar atenção. Esquece a furadeira!” – isso é um outro pensamento! Não! Acolha a furadeira, acolha tudo! Observe, dê atenção.
Essa é a arte da Real Meditação. Aprofundar isso é algo poderoso, porque é isso que cria essa facilitação do Despertar dessa Energia chamada Kundalini. Então, esse corpo-mente irá passar por um processo de mudança, de transformação, e aí, é claro, esse cérebro não irá mais funcionar desse jeito, e esse organismo não irá mais estar nessa disfunção psicológica, haverá Ordem, haverá Paz, haverá Silêncio, haverá Consciência, haverá Presença. Esse é o ponto, esse é o assunto… e é só isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário