Ouvi dizer: uma criancinha estava visitando seus avós. Ela tinha apenas quatro anos de idade. A noite havia chegado e sua avó a levou para o quarto de visitas em sua casa, era hora de dormir. Deitou a criança na cama, tentando fazê-la dormir, deu-lhe um beijo no rosto, apagou a luz e já ia saindo do quarto, quando, de repente, a criança começou a chorar e gritar:
— Eu quero ir para casa, vovó! Estou com medo, estou com medo do escuro!
A avó ficou realmente curiosa e, ao olhar para o seu pequeno neto, disse:
— Mas, meu filho... Eu sei muito bem que você, em sua casa, também dorme no escuro. Afinal, qual é o problema? Por que você está com medo aqui?
O menino olhou para ela e disse:
— Sim, é verdade, mas aquela é uma escuridão que eu conheço, enquanto que essa é totalmente estranha para mim.
É exatamente assim que nos comportamos na vida: “Esta é a minha escuridão. Pode ser muito assustadora, criar muitos tormentos, mas, mesmo assim, é minha! Eu tenho alguma coisa para segurar!”
Não temos olhado suficientemente para nós mesmos, para descobrirmos esse quarto escuro de ilusão que seguramos como algo conhecido, essa falsa segurança que encontramos no padrão conhecido e repetitivo de vida que levamos, cheia de conflitos, contradições e variadas formas de sofrimento. Agarramo-nos a isso, afinal, esse é o padrão.
É verdade que nos habituamos a buscar um certo alívio dessa dor em novas conquistas e realizações emocionais, intelectuais e físicas, mas não encontramos nada que possa verdadeiramente nos libertar definitivamente dessa ilusão, a ilusão do pequeno e escuro quarto conhecido de nossas mentes, que nada mais é que um feixe de lembranças passadas, que tortura, amedronta e assusta.
É assim o nosso condicionamento psicológico, a nossa limitada capacidade de lidar com a vida e seus desafios. Entretanto, não há nenhuma necessidade de vivermos assim, presos a um perpétuo sofrimento, nessa cela escura de nossas mentes, nesse quarto escuro de nossas ilusões. Todos podemos descobrir, através da autoinvestigação, quem realmente somos; o Amor, a Paz, e a Liberdade que já temos.
No entanto, é preciso despertarmos desse sono comum que nos leva a uma procura que nunca termina, por uma liberdade e felicidade que nunca são encontradas, porque a mente não é o lugar do nosso descanso, e sim o nosso Coração. Ali está a nossa Verdadeira Mente, que é a Mente de Cristo, a Mente de Deus.
*Este texto, escrito pelo Mestre Marcos Gualberto, compartilhando a visão do Sábio sobre a vida, foi veiculado pela primeira vez em 03 de outubro de 2010. Trata-se da terceira publicação deste blog, fazendo parte do acervo relativo aos primeiros anos deste trabalho, cujos textos, após terem sido mantidos offline nos últimos anos, serão republicados em série, de forma comemorativa pelos dez anos de criação deste blog, este que foi o primeiro canal da internet através do qual este trabalho se tornou público. Para maiores informações, acesse o nosso site, clique aqui.
Que possamos nos despertar desse sono, vamos mudando de sala, de série, de conceitos, as coisas vão se desconstruindo numa velocidade.
ResponderExcluirAs vezes tudo se mistura... e possível sentir tudo como uma ilusão, o tempo, o espaço, as coisas... Muitas coisas vão chegando, não sabemos o porquê?
Existe uma força, um momento... as escritas se repetem, ao mesmo tempo que esclarecem, descostroem.
Gratidão pelo texto, pela reflexão.