O ser humano vem ao longo de toda a história da humanidade à procura de alguma coisa além dele mesmo; algo sagrado, algo Divino, algo além dessa condição de vida como nós conhecemos. Então as perguntas que as pessoas fazem é: “Como conhecer Deus? Como encontrar Deus?” Aqui nós precisamos ter alguns esclarecimentos sobre isso. Precisamos ter muito claro o que significa, na verdade, esse “conhecer” ou esse “encontrar”.
O que temos colocado aqui é que esse “encontrar” como nós idealizamos é impossível, e que esse “conhecer” como também idealizamos é impossível. Isso porque nós só podemos conhecer aquilo que possa ser reconhecido por nós, e só podemos encontrar aquilo que é encontrável por nós.
Mas qual é a verdade desse “nós”? Quem sou eu? Qual é a verdade sobre mim? O que é esse “mim”? Repare, nós desconhecemos a Verdade sobre quem somos, mas queremos conhecer a Verdade sobre quem Deus É. Aqui nós temos que ter uma aproximação nova a respeito disso.
Nessa procura ou nessa, o ser humano tem procurado nos exemplos daqueles que encontraram ou que conheceram Deus, então nós vamos para os Livros Sagrados e vemos o que eles têm para nos dizer a respeito desse encontro. Essa é a nossa referência. Mas notem, nós ficamos nisso.
Então as religiões organizadas quando nos falam sobre Deus, elas nos relatam aquilo que os Sábios, os Místicos, os Santos vivenciaram a respeito desta Verdade, que é a Verdade Divina, e nós ficamos no terreno das ideias, dos conceitos, das teorias, das formulações verbais, ficamos nas crenças.
Haverá algo além disso? Além desse testemunho teórico, conceitual, livresco. É possível, de verdade, termos uma aproximação da Realidade de Deus? É possível não nos mantermos dentro dessa condição antiga e já conhecida de repetir o que os Santos, os Sábios disseram, mas ter uma vivência direta com essa Realidade? É possível ter uma ciência de Deus?
Vamos aprofundar um pouquinho isso aqui com você – o nosso assunto principal aqui é esse Despertar Espiritual ou Iluminação Espiritual, que não é outra coisa a não ser a Realização da Verdade de Deus.
Então, o que é essa aproximação? Como ela se torna possível? Primeiro nós temos que investigar a Verdade sobre quem nós somos se descartarmos a ilusão daquilo que somos, daquilo que manifestamos ser, daquilo que apresentamos ser. Quando eu me refiro a essa ilusão daquilo que somos é esse modelo de existência centrada no “eu”, no ego, nesse sentido de uma identidade presente se separando da Vida, se separando da Existência, se separando de Deus. Aqui está a ilusão.
Veja, a Verdade sobre aquilo que somos é a ilusão, essa ilusão é a Verdade disso que somos. Temos que compreender isso que somos agora, aqui, esses aspectos dessa egoidentidade. É por isso que sem a compreensão sobre quem nós somos, sem a Verdade do Autoconhecimento, nós não temos a Verdade da aproximação da Realidade de Deus, porque a Verdade do Autoconhecimento é o descarte dessa ilusão, da ilusão do ego, da ilusão do “eu”.
A “pessoa”, esse sentido de identidade egoica, de egocentramento presente nesse “eu” é, na verdade, o resultado de todo um condicionamento de história de humanidade, de história humana. A Realização da Verdade é o fim desse “eu”, é o fim desse centro ilusório, que é o ego, é o fim desse sentido de separação. Então, sim, temos a Realização de Deus, a Verdade de Deus, a Realidade de Deus aqui, nesse instante.
Então quando tratamos desse “conhecer Deus”, desse “encontrar Deus”, estamos tratando dessa constatação de que a única Realidade presente é a Realidade de Deus. Há uma expressão indiana que é belíssima para isso. A expressão é Advaita. Advaita significa a Não dualidade, a Não separação, significa “o primeiro sem o segundo”.
Então a Verdade é a Verdade da Não dualidade. A única Realidade presente sempre, invariavelmente, é a Realidade de Deus. Só há Ele, tudo mais está fora, dentro desse modelo de sonho de identidade separada, de identidade egoica, que é a ilusão desse “eu”, a ilusão daquilo que manifestamos ser, que não é a Realidade Divina, Real que verdadeiramente nós somos. Descartar essa ilusão é tomar ciência desta Verdade.
Então, o que é conhecer Deus? O que é encontrar Deus? É constatar a Realidade daquilo que está presente quando o “eu”, esse ego, esse modelo de condicionamento psicológico, de programação egoica, de ações egocêntricas, centradas nesse “eu” ilusório não estão mais presentes. Então temos a Realidade da Verdade de Deus. Então o que é esse “conhecer Deus”? O que é esse “constatar Deus”? É algo que se Revela quando há um esvaziamento de todo esse conteúdo psicológico de identidade egoica.
No que é constituída essa identidade egoica? De toda uma programação adquirida ao longo de milhares e milhares de anos, ao longo de toda essa história da humanidade. Esse sentido de identidade egoica é aquilo que o ser humano manifesta ser como um condicionamento.
Então todo esse condicionamento humano nós manifestamos nesse momento nessa crença de que a pessoa, esse “mim”, esse “eu”, é uma realidade, é uma verdade presente, carrega uma identidade que se separa da vida, que se separa do outro, que se separa de Deus. Observem que é exatamente isso que nos mantêm dentro dessa condição de insatisfação, de sofrimento, de confusão, de desordem psicológica, de desordem emocional.
Então o ser humano fala desse “encontrar Deus”, o que na verdade ele está querendo é descobrir alguma coisa que esteja além dessa condição, que é a condição dessa identidade separada, em contradição, em conflito, vivendo esses diversos aspectos de medo, angústia, violência e sofrimento. Tomar ciência da Verdade daquilo que somos é algo que está se revelando quando essa Verdade do Autoconhecimento se aproxima.
O que é esse Autoconhecimento? É ter uma aproximação desse movimento. Na razão em que você se torna ciente do movimento do “eu”, do ego, percebe esse sentido de separação; percebe isso sendo o que de fato é: a ilusão de uma identidade que está presente quando pensamentos estão acontecendo, sentimentos, emoções, percepções, sensações. Perceber a ilusão de uma identidade presente nessa experiência. Quando há este Autoconhecimento, fica claro a ilusão dessa identidade presente.
Notem que coisa interessante ocorre conosco. Se um pensamento está presente, a ideia em nós é de que estamos pensando esse pensamento. Observe que pensamentos são aparições, eles apenas aparecem. Não é verdade essa ideia em nós de que estamos produzindo esses pensamentos, eles apenas estão aparecendo.
Nós não produzimos pensamentos, nós não controlamos pensamentos, nós não dispomos nem nos livramos de pensamento, nós não colocamos eles aqui, nós não os afastamos também, eles apenas surgem. Não existe esse pensador produzindo esses pensamentos, controlando esses pensamentos, se livrando deles quando quer e trazendo eles quando quer.
Observe que os pensamentos são reações da memória. Há um estímulo visual, auditivo. Seja externamente ou internamente, um estímulo surge e um pensamento surge, mas não tem um pensador por detrás desse pensamento e, no entanto, nós temos a crença de que estamos pensando esse pensamento. Observe em você isso. Quando pensamentos aparecem e você quer se livrar deles, você não pode. Na verdade, quanto maior for o esforço para se livrar de um determinado pensamento, mais você o fortalece.
Se você quer se livrar de um pensamento, você pode gritar com ele, pode brigar com ele e ele continua lá. Pensamentos são reações da memória. É algo que aparece sem qualquer controle da sua parte, porque você como sendo o pensador não é real. A ideia do pensador está presente em razão do pensamento presente. Quando há pensamento, existe a ideia de um pensador pensando aquele pensamento, querendo fazer algo com ele, gostando dele ou não gostando dele, querendo mais dele ou querendo se livrar dele.
Então aqui nos deparamos com a ilusão da dualidade pensador e pensamento. Com o sentimento ocorre a mesma coisa, é uma reação a um estímulo. Então, essa reação, que é, na verdade, o resultado de uma experiência que aparece agora em razão de um estímulo que está ocorrendo nesse momento, é uma reação de sentimento que vem do passado; essa reação de emoção vem do passado, de pensamento, vem do passado, e nós colocamos neste pensamento a ideia de um pensador; nesse sentimento, a ideia de alguém sentindo, de uma emoção, alguém emocionado. Assim temos esse princípio da dualidade, da separação.
Então, a ideia de uma identidade presente, que é esse “mim”, esse “eu”, é um conceito, uma crença, um condicionamento psicológico, um modelo de pensar, de sentir e de agir dentro de um princípio de condicionamento. O fim para isso é a Revelação da Realidade Divina, é a Revelação da Realidade de Deus.
Então, o que é a ciência da Realização de Deus? É a ciência da Verdade de que Deus é a única Realidade presente. Isso se revela quando o sentido dessa egoidentidade desaparece. Tomar ciência de si mesmo, olhar para esse movimento do “eu”, esse estudar a si próprio, esse olhar para todo o processo que se passa dentro de você – pensamento, sentimento, emoção, sensação, percepção – sem intervir, sem interferir, então a Verdade da Revelação deste Ser se mostra, porque temos a Meditação, essa Arte de Ser Pura Consciência.
Então há uma quebra de identificação com esse princípio de dualidade, de separação; rompemos com esse movimento, que é o movimento do experimentador, do pensador, daquele que está sustentando pensamentos, emoções, sensações e percepções a partir de um centro. Investigar isso, se aproximar disso é o que temos de mais eficiente para a Realização da Verdade deste conhecer Deus, que, na realidade, é constatar a Realidade, a Realidade deste Ser, a Realidade de Deus.
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