quinta-feira, 18 de abril de 2024

Condicionamento psicológico | O que é o pensamento? | Vida livre da consciência egoica

Eu quero trabalhar com você a questão da ideia central em nós da individualidade. Nós carregamos a ideia dessa consciência individual. Então eu gostaria de colocar para vocês aqui a ciência desta Verdade, a Verdade da ilusão a respeito dessa individual consciência.

Nós temos predileções, temos escolhas, temos gostos e desgostos de ordem individual, de ordem particular, de ordem pessoal, assim como temos também pensamentos bastantes pessoais, particulares, e nós confundimos isso com o sentido de uma individualidade presente. Assim, nós temos uma ilusão: a ilusão dessa consciência individual. Nós não investigamos a natureza da consciência em nós, não investigamos a natureza desse modo de pensar, de sentir e agir na vida, e assim nós acreditamos nessa individual consciência.

Então, qual será a verdade: a consciência coletiva ou a consciência individual? Essa consciência individual é apenas uma ideia, um conceito, uma crença que temos, porque o que prevalece é essa consciência coletiva. Então, essas particulares escolhas nascem de um condicionamento.

Essa, assim chamada, “consciência em nós” é a consciência do “eu”, é a consciência particular de uma identidade que se vê presente dentro da experiência, na vida, fazendo escolhas. Mas isso não determina nenhuma individualidade presente, e sim, a ilusão de uma individualidade. Essa é a consciência do “eu”, essa é a consciência egoica.

Então eu gostaria de explorar isso aqui com você. Seria bastante interessante se nós pudéssemos juntos acompanhar isso que estamos trabalhando aqui. Observe o seu modo de sentir e de pensar e você irá descobrir. O nosso modo particular de sentir e pensar, na verdade, é de um fundo de história humana, de condicionamento humano, de ideia de humanidade.

Nós temos, em razão de nossa criação, “escolhas”, ideias sobre as coisas, conceitos, opiniões, julgamentos e avaliações. A verdade sobre a nossa “vida” nessa condição de identidade do “eu” é que você tem um nome próprio, você tem uma casa própria, você tem um carro próprio, você tem uma família própria, e isso nos dá a sensação ilusória da presença de uma individualidade.

O que temos aqui são particulares coisas para uma particular pessoa, mas nunca investigamos a verdade desta “pessoa”. Nunca nos aproximamos para descobrir qual é o significado dela, o que é essa pessoa, o que ela representa, o que ela, de verdade, é, qual é a verdade de ser alguém. Então o nosso movimento na vida é sempre o movimento particular desta pessoa.

Observe dentro de você todo esse movimento de pensamento e você irá observar que são pensamentos que ocorrem em você, e que ocorrem em todos. Com exceção desses particulares pensamentos ligados a objetos particulares, o nosso modo de pensar é o modo de pensar coletivo. Nossas crenças são as crenças que nós recebemos da nossa cultura, da nossa sociedade, do nosso mundo, da nossa história de família.

Assim, esses pensamentos, sejam eles religiosos, políticos ou sociais, são pensamentos, sim, coletivos. Não existe um modo específico de pensar que seja livre. Nenhum pensamento em nós é livre, e não é livre simplesmente porque todo pensamento tem uma origem; e nós vamos investigar com você isso aqui o que é em nós esse movimento do pensar, então teremos uma dica do que a pessoa representa.

O que é esse modo de pensar em nós? Todo o pensamento em você é algo que vem da memória, assim sendo, é algo que vem do passado, e ele é algo que se repete da mesmíssima forma para todos. Não há qualquer pensamento que seja, de verdade, livre, porque todo pensamento é memória, é algo que vem do passado.

Assim, o pensamento é só uma recordação de uma experiência que se foi, de uma experiência que passou. Então, o que é o pensamento, para descobrir o que é esse pensar em nós? Pensamentos são lembranças. Ao passar por experiências, você guardou essas experiências dentro de si mesmo como lembranças.

Essas lembranças se apresentam nesse momento como pensamentos. Esses pensamentos não são livres, porque nascem dessa memória, dessa experiência passada. Ou seja, o pensamento já nasce agora, aqui, como algo que vem do passado, portanto, algo que não tem vida nesse momento. Assim, não é livre.

A vida que o pensamento recebe nesse momento é a vida da ilusão do pensador, desse experimentador – não é a Real Vida. Repare que nossas ações nascem do pensamento, então elas são respostas neste momento, dadas a este momento pelo passado, ou seja, não são respostas livres, porque nascem de uma experiência que já foi.

Observe sua relação com as pessoas: não há liberdade nessa relação, porque sua relação com ele ou ela é uma relação que se assenta na memória, na lembrança, no passado, no pensamento, recebe vida em razão da ilusão da presença desse pensador. Então, é isso que nós chamamos de pensar.

Nossas relações são relações que se baseiam em quadros, em lembranças, em imagens. Não há liberdade nesse momento na relação, porque o pensamento não é livre. Essas pessoas do seu relacionamento estão em contato com você neste momento tendo de você uma resposta que vem do passado, e vice-versa.

Assim, nossas relações são relações sem liberdade; elas não estão ocorrendo com a Liberdade porque estão ocorrendo dentro da prisão do modelo já do pensamento. É o pensamento que nos diz quem a outra pessoa é. O que é esse pensamento? Um conceito que vem do passado. Nós não sabemos quem é a outra pessoa.

Reparem como é fascinante descobrir isso, observar isso, perceber isso em si mesmo, nesse contato com o outro. Nós convivemos com alguém já há dez anos, há vinte anos. Aquele “alguém” nunca é o mesmo, estamos sempre com uma nova lembrança, um novo quadro, uma nova imagem daquela pessoa quando a encontramos. Mas essa nova imagem, esse novo quadro, essa nova lembrança é algo que vem do passado. Assim, esse nosso contato nunca é um contato novo, é um contato com o passado.

Nós temos a ilusão de que sabemos quem o outro é, e ele tem a ilusão de que também nos conhece. Nós temos dele, sim, o nome, que também é uma memória, o formato do rosto, que também é uma memória, um modelo de comportamento que conhecemos nele ou nela, mas isso tudo vem da memória. Assim são nossas relações.

Então, nossas relações se assentam no passado. Na verdade, toda a nossa vida se assenta no passado, e esse passado é o passado coletivo, é o formato como a consciência coletiva funciona, como essa, assim chamada, “consciência humana” funciona.

Haverá uma qualidade de vida possível nesse momento que esteja livre desse modelo de pensamento? Porque esse modelo de pensamento é a forma de condicionamento, de programação, de formato de pensar que nós conhecemos. Então essa é a condição de pensamento psicológico, de condicionamento psicológico, de movimento cerebral em nós condicionado, de comportamento em nossas relações. Nossas relações com as pessoas são assim; mas observe, nossa relação com nós mesmos é assim.

O que você tem sobre você é um conjunto de imagens, lembranças, quadros. A história da pessoa é isso. Então, o que é a pessoa? É esse conjunto de lembranças que ela tem dela mesmo. Então, nossa relação com o mundo é uma relação de projeção de pensamentos, de conclusões, crenças, opiniões, ideias, posicionamentos. Incluído nisso, nós temos nossas crenças religiosas, espirituais, filosóficas e políticas. Será possível uma vida nesse instante livre desse modelo de consciência humana, de consciência egoica e, portanto, de consciência coletiva, de repetição do passado?

A inveja, o ciúme, o medo, a raiva, toda essa interna confusão que produz em nós sofrimento, aflições, contradições, observe que tudo isso é algo que vem desse movimento, que é o movimento dessa consciência coletiva. Esse é o modelo já programado de cultura, de sociedade e de mundo presente em nós.

Será possível um esvaziamento desse modelo de consciência coletiva para a constatação da Real Presença de Ser Verdadeira Consciência? Então, esta Verdadeira Consciência não é particular, não é pessoal, não é humana, não é coletiva, é a Consciência da Realidade, da Realidade deste Ser que somos.

Esse trabalho aqui nosso consiste na descoberta da constatação da ilusão que trazemos. A ciência dessa ilusão pela auto-observação, tomar ciência do movimento do pensamento em nós, perceber como esse pensamento funciona, como esse jogo de imagens que vêm do passado estão acontecendo, estão funcionando em nossas relações, tomar ciência desse jogo, tomar ciência desse movimento de inconsciência presente em nós, perceber isso, ter a clareza disso é algo Real dentro de uma visão de aproximação do Autoconhecimento.

Olhar para esse movimento de pensamento, sentimento, sensações, percepções, o modo como vejo esse ou aquele, como me relaciono com ele ou ela, como me relaciono comigo mesmo, com esse senso desse “eu”, tomar ciência disso e perceber que estamos diante de um jogo de imagens, de formulações mentais, isso é ter uma aproximação do Autoconhecimento. Percebam, há uma forma de nos aproximarmos disso, e a forma única desta aproximação é trazendo Atenção para esse instante.

Trazer Atenção para este momento é tomar ciência de como nós funcionamos. Perceber que todo esse movimento é o movimento já de repetição, de condicionamento, de movimento do passado, de pensamento onde nele não há esta Liberdade. Olhar para isso, apenas olhar, tomar ciência disso. Não é fazer algo com o que você vê nesse instante, mas apenas se tornar ciente, cônscio de si mesmo aqui, neste momento, na relação com o outro, na relação consigo mesmo, na relação com a vida.

Esse estudar a nós mesmos é aquilo que temos de mais importante na vida. Então temos uma aproximação do nosso Ser, da Revelação d’Aquilo em nós que é indizível, indescritível, que está além daquilo que o pensamento, que o movimento, que é esse movimento de pensamento, jamais pode ter qualquer aproximação disso, uma vez que todo esse pensamento é só memória, e memória é algo que já foi. Estamos diante de algo novo nesse contato com a Realidade d’Aquilo que somos.

Então a vida se revela como um experimentar deste momento, sem esse passado. A vida se mostra neste momento como algo único que está sendo, neste momento, a própria Vida se revelando, sem esse “centro” ilusório que é o “eu”, o ego, que é essa ilusória consciência individual, e que também é o fim para essa consciência coletiva.

É a Consciência deste Ser, desta Liberdade, d’Aquilo que é inominável, indescritível, que é a Verdade deste Ser que somos. A aproximação da Meditação, da arte de Ser é a arte desta Consciência Real de Ser. Então temos aqui algo importantíssimo, que é a aproximação da Verdade da Meditação juntamente com o Autoconhecimento.

Março de 2024
Gravatá-PE
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