terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

O mundo não é o responsável por sua confusão

Todos procuram a Liberdade, a Paz, mas o próprio pensamento e o sentimento que eles têm sobre quem eles são, sobre o que a Vida é, sobre o que o outro é, é o que os impede de viver nessa Paz, nessa Liberdade. Aquele que se sente nessa Liberdade, nessa Paz, é exatamente aquele que não pensa – não pensa estar vivendo, não acredita estar vivendo. Aquele que não se sente nessa Paz e nessa Liberdade não pode saber o que é a Felicidade, porque ele pensa e sente como uma entidade separada, como alguém que controla tudo, ou deseja controlar tudo, mas não pode. No fundo, você sabe que não pode, e mesmo assim insiste. No fundo, você sabe que os seus pensamentos são interpretações sobre a vida, sobre o mundo, sobre o outro, sobre quem você é, e esses pensamentos o aborrecem, o entristecem, o ferem, o magoam, o fazem sofrer.
Sem investigar a natureza desse que pensa e sente, você se mantém perturbado, naturalmente confuso. Assim, o que prevalece é sofrimento. Não há Paz nesse estado! A sua guerra é o que produz o conflito em que você vive, e não o que está acontecendo externamente. Todo sofrimento é uma autoprojeção, é algo que está acontecendo dentro de você. Não é o mundo, não é a vida, não é o outro o responsável por sua confusão e, portanto, pelo seu sofrimento, por essa guerra e conflito em que você se encontra. É necessário remover esses obstáculos, e é o pensamento que os sustenta.
O sentimento é algo muito ligado ao pensamento, algo que se encontra dentro de uma grande limitação. Você se confunde com isso, se identifica com isso, se perde nisso. É sobre isso que temos falado com você. As ações que você toma são baseadas nas impressões que o pensamento causa, impulsionadas pelo sentimento estreito e limitado, ligado ao pensamento. Portanto, suas ações nascem dessa confusão e produzem mais conflito, mais guerra, mais sofrimento.
Uma vez confuso, você deveria parar e observar o que se passa aí dentro. Não deveria tomar nenhuma ação ou fazer qualquer coisa até que houvesse clareza. Mas não pode haver clareza quando se está confuso, não se pode agir inteligentemente quando se está perturbado. Isso explica por que há tanto sofrimento no mundo. Você se vê como uma pessoa capaz de resolver os problemas que a sua própria mente está criando, capaz de se livrar da confusão que, de uma forma inadvertida, você se envolveu. Tudo isso está acontecendo dentro de você! Por mais que você tente se livrar, você não consegue, porque sua ação nasce da confusão e, se ela nasce da confusão, sua busca para se livrar disso não é verdadeira.
Você não sabe o que é Liberdade para poder encontrar Isso buscando. Mas, na mente, você projeta se livrar disso fazendo alguma coisa. Nessa confusão, você se mete a fazer e se envolve com isso. É evidente que, se você não sabe o que é Liberdade… o que você pode fazer? Apenas fugir! Então, a sua ação é para se livrar do desconforto, da situação em que a mente, em que o seu próprio pensamento e sentimento o colocou – o que é uma característica muito presente nessa falsa identidade, nesse ego. Então, você se encontra sofrendo, confuso, em guerra, em conflito, buscando... Não a Liberdade, porque você não sabe o que é Liberdade, mas alguma coisa para aliviar essa dor. No entanto, o que quer que você faça não vai resolver.
Assim, você passa dos 20 anos de idade, vive mais 20 anos, mais 40 anos, mais 60 anos, e depois você morre, mas continua na mesma condição. Não há Felicidade, não há Amor, não há Paz, não há Inteligência, porque o que prevalece é a confusão, é a identificação com o que o pensamento produz, com o que o sentimento produz – você acredita nas coisas que eles dizem. Isso se confirma vez após vez, por evidências externas. Tudo o que a mente egoica sabe fazer é se confirmar, fazendo com que o mundo, o que acontece, pareça muito real. Isso é um velho truque do ego, um velho truque da “pessoa”, para continuar vivendo sua história.
Então, a coisa acertada é ficar quieto, se liberar de todo esse conteúdo, de todo esse peso interno, de toda essa confusão, mas você não pode. Apenas uma ação da Graça Divina, uma ação da Verdade, pode pôr fim à ilusão, e isso acontece quando você para. Precisa ficar quieto, precisa descobrir o que significa estar verdadeiramente quieto. Sua mente está colocando você em estados. Você é aquele em que todos esses pensamentos e sentimentos surgem, mas o seu hábito é se confundir com isso, é acreditar nisso, é preservar isso.
Você é algo além do pensamento e do sentimento, além da confusão, portanto além do sofrimento, da guerra e do conflito que surgem em razão disso. Mas você não se conhece, nada sabe sobre si mesmo, não conhece a Verdade de sua Natureza Real. Existem atividades internas criando essa agitação. O corpo está agitado, a mente está agitada, os sentimentos estão agitados... você está agitado! Você está se confundindo com o corpo, com a mente, então não há Consciência. Quanto mais consciente você se torna, mais fica claro que você não é isso. Na razão direta dessa inconsciência, maior é a confusão, mais a ilusão se estabelece como sendo verdadeira.
Então, uma ação Divina, uma ação da Graça, que surge dessa Quietude, se faz necessária para que haja maior Consciência, até que essa Consciência se torne absoluta e o conflito termine, a ilusão desapareça, a guerra não esteja mais aí dentro de você. Então, não haverá mais sofrimento. Permanecer nessa Luz de pura Consciência, que se assenta nessa Quietude por uma ação da Graça Divina, traz o reconhecimento da Verdade sobre quem Você é. Estar ali significa uma vida livre de sofrimento, uma vida livre dessa egoidentidade, com toda a confusão que ela produz. Você não tem referência disso à sua volta. Você vive e convive todos os seus dias com pessoas, e a primeira e mais importante pessoa é a mais difícil com quem você tem que lidar – essa pessoa é você! A pessoa número um na sua vida é a mais confusa.
O meu convite é para que você descubra a Verdade sobre quem é Você. Enquanto essa Verdade não se estabelece, o que não é Você prevalece, e isso sofre, sim, as consequências do que sente, das atitudes que toma, das ações que pratica... Sofre as consequências de acreditar ser “alguém”. É necessária uma profunda investigação e uma grande entrega à Verdade de que você não é o corpo, de que você não é a mente, para depois você dizer: “Não sou eu que faço. Não estou fazendo nada, não há alguém aqui para fazer.” Enquanto isso não se estabelece de uma forma real, isso é puro engano. Ainda é a mente egoica tentando se passar pela Verdade.
Participante: O que mais quero é conseguir essa desidentificação com esse falso “eu”, mas como conseguir isso?
Mestre Gualberto: Não é possível. Não se trata de algo que você irá conseguir; se trata de algo que você irá assumir. Você assume Isso quando há Consciência. Se não há Consciência, todo e qualquer esforço para alcançar Isso é apenas ainda o movimento desse falso “eu”. Na verdade, o que ele está buscando é se livrar de desconfortos momentâneos. Realização, essa Compreensão da Verdade sobre si mesmo, é a morte dessa condição de “identidade presente”, dessa “pessoa” que o pensamento dentro da sua cabeça tenta reafirmar o tempo inteiro, trazendo o senso de um “eu” presente, de “alguém” sentindo, pensando, fazendo, resolvendo…
É preciso que a gente compreenda isso sem o intelecto, porque, no intelecto, a gente fica dentro da dualidade. A gente pode desenvolver, intelectualmente, toda forma de crença sobre isso, falar sobre dualidade, sobre não dualidade, repetir frases inteiras, falas, palestras, ou muitas coisas que foram lidas em livros, mas, mesmo assim, isso não representará absolutamente nada. Por isso, o meu convite sempre será para essa Quietude, para esse Silêncio, para esse Descobrimento, dentro da pura Visão da Consciência, que é a Meditação. Só então será possível estar além dessa dualidade, dessa identificação “eu sou o corpo” e também da crença “eu não sou o corpo”.
Tudo o que você precisa é descobrir o que é estar Consciente e permanecer nessa Consciência. Há uma Presença Divina imutável e Ela se mantém apesar do que o pensamento e o sentimento estejam produzindo. Aqui, a questão é que vocês se identificam com o que o pensamento produz e não tomam ciência Disso que está presente e que não se altera nunca. Essa Presença é sua Verdadeira Natureza. Tomar ciência disso é essencial, é fundamental! O toque da Graça torna isso possível. É necessário se abrir para Isso, estar aberto e receptivo para Isso e, assim, descobrir o que estamos dizendo aqui.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 04 de janeiro de 2021, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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