A pergunta que as pessoas se fazem é "como vai, tudo bem?" Por que será que as pessoas fazem esse tipo de pergunta umas às outras? Todos sabem por que isso é perguntado: você nunca sabe como aquela pessoa, que estava tão bem ontem, vai estar hoje; ou, que estava tão bem há dez minutos, vai estar agora, depois que se passaram dez minutos. Por que isso acontece? Porque aquilo que nós chamamos de “consciência humana” são estados mutáveis de emoções, sentimentos e pensamentos. É assim que o ser humano vive. Essa tem sido a nossa experiência comum.
Mas eu quero questionar isso. Isso é algo essencialmente humano do ponto de vista comum, mas não é essencialmente humano do ponto de vista Real. Tudo o que sabemos é como ser um ser humano comum, mas nada sabemos sobre como ser um ser humano Natural. Então, do ponto de vista comum nós perguntamos: "E aí, tudo bem? Como vai?" Mas você não precisa perguntar, basta olhar para o rosto da pessoa que você já tem uma leitura: ela está irritada, estressada, aborrecida, triste... Isso na melhor das hipóteses, porque ela pode estar muito pior! Não é assim?
Com você é assim também? Não conhece alguém assim? Dentro do seu círculo de amizade comum, as pessoas não são assim? Então, esse é o estado humano comum, não é o Estado Natural. O Estado Natural humano é não dual, de plena Consciência; é um Estado livre do “eu”.
Participante: Mestre, o “eu” e o medo são uma coisa só?".
Marcos Gualberto: Não só o “eu” e o medo são uma coisa só, mas o “eu” e o conflito, o “eu” e o sofrimento, o “eu” e o desejo, o “eu” e a inconsciência. Basicamente o que é esse “eu”? O que é que você chama de “eu” quando você fala de si mesmo ou de si mesma? Repare que esse “eu” uma hora é tristeza, outra hora é euforia, outra hora é arrependimento, conflito, medo... A gente não separa nunca esse “eu” dessa experiência emocional, sentimental, ou dessa experiência de pensamento.
Então, quando nós perguntamos "como vai você?", o que estamos querendo saber é “em que estado nesse momento você se encontra?” É como dizer: “Está com raiva? Está triste? Chateada comigo? Com o mundo? Com você mesma?” A gente só, educadamente, diz “e aí, como vai?”, mas o que estamos perguntando é isso. Estamos perguntando “que espécie de ‘eu’ você tem agora para me mostrar?” “Qual é o ‘eu’ que está presente no momento?” Não é isso?
Você que tem namorada ou namorado, ou vive num relacionamento mais próximo com alguém, sabe bem do que eu estou dizendo. Uma hora essa pessoa sorri, faz juras de amor. Dez minutos depois, ela está beliscando você, porque está cheia de pensamentos imaginários sobre traição, sobre estar sendo traída ou sobre a possibilidade de vir a ser traída. Então o ciúme toma posse daquele corpo, daqueles olhinhos bonitos, daquele rostinho meigo e, agora, ela parece o próprio demônio, possuída pelo ciúme. Não é isso?
Então com que “eu” estou tratando nesse momento? Numa relação com outra pessoa, você estranha o quanto ela muda, mas não percebe o quanto você muda, porque você tem vários “eus” também: uma hora é o “eu-conflito”, outra hora é o “eu-raiva”, o “eu-medo”, o “eu-desejo”, o “eu-…”, e por aí vai. Tem o “eu-amor” e o “eu-ódio”; o “eu” que ama e o “eu” que odeia. Você nunca é um só! Isso é fácil observar. Dificil é observar isso em si mesmo, mas no outro é muito fácil. Em si é que está a complicação. É fácil perceber que o outro é louco ou que está à beira da loucura. Então, do que tratamos em Satsang? Tratamos do Estado Natural humano, e não do estado comum da humanidade. Nós investigamos o estado comum da humanidade, mas não apontamos para ele como um real objetivo de vida, de existência. Nós estamos apontando para a não dualidade. Sabe o que significa não dualidade? Significa “não dois”. “Eu-amor” e “eu-ódio”; “eu-alegria” e “eu-tristeza” – isso é dualidade! “Eu e o outro”, “eu e o mundo”, “eu e o sofrimento”, “eu e o desejo”, e por aí vai – isso é dualidade!
Estamos falando da não dualidade, desse sentido de Realidade fora da mente, que é como um senso de conexão com a Vida. Então, essa ilusão de ser uma testemunha desaparece, a ilusão de ser “alguém” numa relação com o mundo desaparece – isso é não dualidade! Na não dualidade, você não vê o mundo – o mundo e você desaparecem. Você não vê uma montanha, não há “você” e não há montanha; ou só há a montanha, mas não tem “você”. Não tem “você e o mundo”. O mundo está presente, mas sem o sentido de um “eu” separado, e, quando não há essa separação, não há medo, não há o “eu-medo”. Quando não há essa separação, não há “eu” e a inveja, porque não existe objeto de desejo. Não há “eu e o controle”, então não há “eu e o ciúme”, porque não existe o medo de perder, o medo de não dominar, o medo de não controlar, que é o que sustenta a inveja, o ciúme, todos esses estados internos mentais conflituosos, infelizes e complicados dessa dualidade.
Estamos juntos até aqui? Percebem isso em vocês mesmos ou apenas no mundo em volta, no outro? É o outro que é assim? Você não vê isso em você? Esse sentido de dualidade, esse sentido de separação, esse desejo de fugir, de punir, de se vingar? Esse desejo de se proteger ou de não sofrer? Isso é sofrimento, isso é conflito. Não desejar sofrer já é sofrimento. Há um grande conflito nesse desejo de escapar do sofrimento. Percebam que é sempre o “eu” com esse perfil, é ele carregando esse perfil. Sem o sentido do “eu”, só há a montanha, não há “eu e a montanha”. Sem o sentido do “eu”, não existe o amigo do outro lado nem o inimigo. Não existe aquele de quem “eu” gosto e aquele de quem “eu” não gosto. Compreendem isso? Compreendem que gostar de pessoas é como não gostar de pessoas? O problema está presente.
A raiz de todo sofrimento humano está na ignorância dessa simples e direta Verdade – a Verdade de que não há dois. Só há essa Consciência em toda parte! Alguns sábios chamaram essa Consciência de Deus. A única Realidade, a única Verdade presente em toda a manifestação, em toda existência, em toda parte! Só há Deus! Não existe “você e Ele”.
Mas eu quero questionar isso. Isso é algo essencialmente humano do ponto de vista comum, mas não é essencialmente humano do ponto de vista Real. Tudo o que sabemos é como ser um ser humano comum, mas nada sabemos sobre como ser um ser humano Natural. Então, do ponto de vista comum nós perguntamos: "E aí, tudo bem? Como vai?" Mas você não precisa perguntar, basta olhar para o rosto da pessoa que você já tem uma leitura: ela está irritada, estressada, aborrecida, triste... Isso na melhor das hipóteses, porque ela pode estar muito pior! Não é assim?
Com você é assim também? Não conhece alguém assim? Dentro do seu círculo de amizade comum, as pessoas não são assim? Então, esse é o estado humano comum, não é o Estado Natural. O Estado Natural humano é não dual, de plena Consciência; é um Estado livre do “eu”.
Participante: Mestre, o “eu” e o medo são uma coisa só?".
Marcos Gualberto: Não só o “eu” e o medo são uma coisa só, mas o “eu” e o conflito, o “eu” e o sofrimento, o “eu” e o desejo, o “eu” e a inconsciência. Basicamente o que é esse “eu”? O que é que você chama de “eu” quando você fala de si mesmo ou de si mesma? Repare que esse “eu” uma hora é tristeza, outra hora é euforia, outra hora é arrependimento, conflito, medo... A gente não separa nunca esse “eu” dessa experiência emocional, sentimental, ou dessa experiência de pensamento.
Então, quando nós perguntamos "como vai você?", o que estamos querendo saber é “em que estado nesse momento você se encontra?” É como dizer: “Está com raiva? Está triste? Chateada comigo? Com o mundo? Com você mesma?” A gente só, educadamente, diz “e aí, como vai?”, mas o que estamos perguntando é isso. Estamos perguntando “que espécie de ‘eu’ você tem agora para me mostrar?” “Qual é o ‘eu’ que está presente no momento?” Não é isso?
Você que tem namorada ou namorado, ou vive num relacionamento mais próximo com alguém, sabe bem do que eu estou dizendo. Uma hora essa pessoa sorri, faz juras de amor. Dez minutos depois, ela está beliscando você, porque está cheia de pensamentos imaginários sobre traição, sobre estar sendo traída ou sobre a possibilidade de vir a ser traída. Então o ciúme toma posse daquele corpo, daqueles olhinhos bonitos, daquele rostinho meigo e, agora, ela parece o próprio demônio, possuída pelo ciúme. Não é isso?
Então com que “eu” estou tratando nesse momento? Numa relação com outra pessoa, você estranha o quanto ela muda, mas não percebe o quanto você muda, porque você tem vários “eus” também: uma hora é o “eu-conflito”, outra hora é o “eu-raiva”, o “eu-medo”, o “eu-desejo”, o “eu-…”, e por aí vai. Tem o “eu-amor” e o “eu-ódio”; o “eu” que ama e o “eu” que odeia. Você nunca é um só! Isso é fácil observar. Dificil é observar isso em si mesmo, mas no outro é muito fácil. Em si é que está a complicação. É fácil perceber que o outro é louco ou que está à beira da loucura. Então, do que tratamos em Satsang? Tratamos do Estado Natural humano, e não do estado comum da humanidade. Nós investigamos o estado comum da humanidade, mas não apontamos para ele como um real objetivo de vida, de existência. Nós estamos apontando para a não dualidade. Sabe o que significa não dualidade? Significa “não dois”. “Eu-amor” e “eu-ódio”; “eu-alegria” e “eu-tristeza” – isso é dualidade! “Eu e o outro”, “eu e o mundo”, “eu e o sofrimento”, “eu e o desejo”, e por aí vai – isso é dualidade!
Estamos falando da não dualidade, desse sentido de Realidade fora da mente, que é como um senso de conexão com a Vida. Então, essa ilusão de ser uma testemunha desaparece, a ilusão de ser “alguém” numa relação com o mundo desaparece – isso é não dualidade! Na não dualidade, você não vê o mundo – o mundo e você desaparecem. Você não vê uma montanha, não há “você” e não há montanha; ou só há a montanha, mas não tem “você”. Não tem “você e o mundo”. O mundo está presente, mas sem o sentido de um “eu” separado, e, quando não há essa separação, não há medo, não há o “eu-medo”. Quando não há essa separação, não há “eu” e a inveja, porque não existe objeto de desejo. Não há “eu e o controle”, então não há “eu e o ciúme”, porque não existe o medo de perder, o medo de não dominar, o medo de não controlar, que é o que sustenta a inveja, o ciúme, todos esses estados internos mentais conflituosos, infelizes e complicados dessa dualidade.
Estamos juntos até aqui? Percebem isso em vocês mesmos ou apenas no mundo em volta, no outro? É o outro que é assim? Você não vê isso em você? Esse sentido de dualidade, esse sentido de separação, esse desejo de fugir, de punir, de se vingar? Esse desejo de se proteger ou de não sofrer? Isso é sofrimento, isso é conflito. Não desejar sofrer já é sofrimento. Há um grande conflito nesse desejo de escapar do sofrimento. Percebam que é sempre o “eu” com esse perfil, é ele carregando esse perfil. Sem o sentido do “eu”, só há a montanha, não há “eu e a montanha”. Sem o sentido do “eu”, não existe o amigo do outro lado nem o inimigo. Não existe aquele de quem “eu” gosto e aquele de quem “eu” não gosto. Compreendem isso? Compreendem que gostar de pessoas é como não gostar de pessoas? O problema está presente.
A raiz de todo sofrimento humano está na ignorância dessa simples e direta Verdade – a Verdade de que não há dois. Só há essa Consciência em toda parte! Alguns sábios chamaram essa Consciência de Deus. A única Realidade, a única Verdade presente em toda a manifestação, em toda existência, em toda parte! Só há Deus! Não existe “você e Ele”.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 13 de janeiro de 2021, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.
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