segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

A verdade sobre o sofrimento

Embora essas falas, em Satsang, não tratem da Verdade, elas sinalizam a Presença da Verdade. A Verdade não é algo que o pensamento possa capturar. Na realidade, o que inspira você a vir aqui é a possibilidade de encontrar a Verdade ‒ a Verdade do Silêncio, da Consciência, da Paz. Essa questão da busca é bastante intrigante, porque você não está procurando por uma coisa específica. A urgente coisa a ser encontrada, que ao mesmo tempo é tremenda, trata-se da Verdade, mas Isso não pode ser aprendido ou adquirido. Isso é algo que vem pela autoinvestigação.
Você tem um claro sentimento de que algo está ausente ou está faltando. Esse algo, ou essa coisa tremenda, é a Verdade. Apenas a investigação pode lhe dar a ciência da falta Disso, e é isso que o inspira a estar nesses encontros. O coração humano anela por esse encontro com a Verdade, com a Paz, com o fim do conflito, do sofrimento humano, da guerra. Você pode não saber que tipo de falta é essa e, por isso, vai em muitas direções, até que chega um instante em que você para e se volta para dentro. Nesse momento, Satsang é a única coisa que faz sentido.
Então, em algum momento, você percebe que aquilo que estava buscando lá fora somente pode ser encontrado pela autoinvestigação, e isso significa Satsang, que é o encontro com a Verdade. Assim, por um breve instante, você sente esse perfume, e ele se revela como a Paz do Coração, a Verdade do Ser. Pela primeira vez na sua vida, você descobre que não é na realização de desejos que essa Paz se encontra, mas exatamente na ausência de desejos. Pela primeira vez você descobre que sem pensamentos, sem história, sem imaginação, sem futuro, sem passado, sem crenças, sem a ideia “eu sou o corpo”, a Paz que se encontra presente se revela. É intrigante essa coisa! Você sempre buscou todas essas coisas, mas, no fundo, o que você estava procurando era a ausência disso tudo!
Por alguns momentos, você se via em Paz, em Amor, em Alegria, mas, por não estar ciente dessa ausência de desejos, você passava a procurar por vários objetos, nos quais não há satisfação. A felicidade em objetos não é real, mas, como você não conhecia a Verdadeira Direção, ia em busca deles. Agora, pela primeira vez, você descobre que Isso está aqui, a Presença do seu Ser, a Presença da Real Alegria, da Real Paz, do Real Amor. Então, Satsang é muito importante para você agora, porque você sabe qual é e onde está a Real Direção. Você não tem mais nenhum objeto, nenhum pensamento, nenhuma imagem de si mesmo ou do mundo, no entanto, está feliz. É uma Felicidade sem causa!
Assim, você descobre a verdade sobre o sofrimento. Qual é essa verdade? Se sua mente está envolvida com objetos, o sofrimento está presente; se não há objetos na mente, não há sofrimento ‒ essa é a verdade sobre o sofrimento e a real causa da Paz e da Felicidade. Então, você amadurece nisso, o que é inevitável, porque a partir de agora você questionará, cada vez mais fundo, tudo pelo qual você está passando psicologicamente, interiormente.
Então, não dá para sofrer mais, pois isso é uma coisa muito estúpida! Quando há autoinvestigação, não há espaço para sofrimento. Esse hábito de ser alguém sofrendo não tem mais nenhum propósito... Agora, não! O sofrimento, agora, começa a fazer parte apenas de uma ideia, de um conceito. Quanto mais fundo você entra nessa autoinvestigação, mais você percebe que o sofrimento é uma ideia, um conceito, bem elaborado pelo pensamento, perfeitamente imaginado pela mente egoica.
Eu falo desse sofrimento emocional, da tristeza, da dor, do ressentimento, da mágoa, do rancor, do ódio, do remorso, do arrependimento, da depressão... Vocês sabem do que eu estou falando! Tudo atrelado a essa “história de alguém”. Portanto, o sofrimento é, também, só um objeto, como todos os outros; é só um conceito, uma ideia, uma crença. O sentimento de ser abandonado? Um conceito. O sofrimento por não ser amado, por ser desprezado ou por se sentir magoado, ofendido? Uma ideia. O sofrimento pela perda de coisas valiosas, dessas aquisições psicológicas que a vida, de repente, vem e tira de você? Crença! Então, tudo depende de como você compreende essa questão do sofrimento, se sua relação com essa ideia, com esse conceito, se traduz ou não como uma forma de dor psicológica.
Em minha própria experiência de vida, eu descobri que o mais importante para mim eram os momentos em que eu via alguma coisa sendo tirada de mim ou quando sentia que algo estava faltando, pois eu tinha que me confrontar com isso, olhar e ver o que isso causava aqui, a essa “pessoa”. Quando você sente essa falta, quando se depara com essa dor, mas sem o conceito, a autocomiseração, a autopiedade, o lamento, as queixas, as reivindicações, as reclamações, algo inteiramente novo surge no lugar, e não é mais algo pessoal. O problema com você tem sido esse: você é muito pessoal, está muito apegado à ideia de ser uma “pessoa”, o que é um conceito. O conceito da “pessoa” sustenta o conceito do sofrimento; a ideia da “pessoa” sustenta a ideia de “alguém” abandonado, rejeitado, não assistido, infeliz, incapaz.
Portanto, é necessário explorar essa questão do sofrimento. Não se trata de fazer análise, nem de entender. Quando digo “explorar”, significa “ver para quem é essa dor”. Foi esse o trabalho de Ramana. Quando as pessoas iam até ele, ele dizia: “Quem sofre?”. Assim, esse hábito da “pessoa” começa a ser desarraigado. Você começa a usar tudo o que surge, toda forma de sofrimento ou de conflito para se tornar mais e mais consciente da ilusão do corpo e da mente, da ilusão dessa “entidade” dentro dessa experiência do corpo e da mente.
Então, fica fascinante perceber que, a todo momento, você vai se deparar com esse desafio do “eu” nessa relação com a experiência. A Vida é generosa nesse sentido, pois Ela sempre trará decepções, frustrações, negará a você seus desejos, interesses, vai dizer não ao seu ego, o qual é uma fraude, não é Real. A Vida é Real e Ela não se importa com você! Isso faz Dela muito generosa, de extrema generosidade. Abandonar o ego é tomar ciência de que ele não existe, de que só há Você, mas não tem ninguém aí! De outra forma, você continua na ilusão de ser “alguém”, sofrendo com essa crença, com esse conceito da “pessoa”, que carrega o conceito do sofrimento.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 04 de Julho de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online

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