Quando você atende a esse convite chamado “Satsang”, você precisa estar disposto a isso, ou de outra forma nada vai acontecer. O que eu tenho percebido é que poucos podem se aventurar, poucos se prontificam de verdade, há muito pouca disposição para isso. Eu estou falando de rompimento, de quebra... É essencial aceitar a possibilidade da quebra, a possibilidade de algo novo surgir. Então, esse é um convite muito desafiador. Você precisa ter essa disposição e, se a tem, talvez você seja um em um milhão.
Sobre o que estou falando? Estou falando que você tem o Desconhecido diante de você, mas tem o passado atrás. Se não houver essa quebra, o passado se torna o seu presente, e a continuidade se mantém. Isso é como andar em um círculo. Por mais que você caminhe, permanecerá dentro dele.
Parece que a grande maioria não compreendeu isso ainda. As pessoas ouvem falar a respeito da Realização, de um Estado livre do tempo, livre do experimentador, livre de um “eu” com seus conflitos, dilemas, problemas, mas elas não estão dispostas a ir além do círculo, além do passado. Realização, Autoconhecimento, Iluminação (ou qualquer outro termo que você use), não fará nenhum sentido para a sua vida enquanto você se mantiver dentro desse modelo.
Eu usei a palavra “quebra”... É necessário que o seu passado seja quebrado, que o que foi seja rompido, para que não haja essa continuidade. Esse é o verdadeiro sentido da Realização de Deus, da iluminação: o rompimento com o antigo, com aquilo que está atrás de você, com o que foi, com a história. Você precisa estar disposto a isso, precisa se aventurar, abraçar esse desafio de romper com esse velho “eu”, com esse modo de pensar, sentir e agir totalmente assentado em crenças, em escolhas, em desejos.
Até hoje, a sua ação tem se baseado no medo, e isso tem ocorrido porque você não rompe com o passado, não aceita ir além desse falso “eu”, de todo o conteúdo desse falso “eu”. Então, você não atinge o Desconhecido. Eu disse agora há pouco: “Há o passado atrás e o Desconhecido à frente”. Repare que eu não usei a palavra “futuro”, mas a palavra “Desconhecido”. O que está à frente é só o Desconhecido. Todo o seu passado tem se transformado no seu presente, que, por sua vez, tem se tornado o seu futuro. Mas, na verdade, o seu futuro continua sendo o seu passado, porque ainda é somente a continuidade. A Iluminação é o rompimento com isso.
Se você está aqui, nasceu pra Realizar Isso. O que você está fazendo? Para onde você está indo? Olhe pra você... Você não sai do círculo! Tudo está se repetindo, é sempre a mesma coisa acontecendo, porque você não acolheu a Verdade, não está disposto a abraçá-La, não está disposto a Nascer. Você acredita que já nasceu, mas você não carrega um novo Nascimento, você carrega um velho passado. Isso significa que você não Nasceu! Por isso, Cristo um dia disse que é necessário nascer de novo. Mas, essa não é a mensagem só de Cristo, é a mensagem do Sábio, do jnani, daquele que está livre do tempo.
Quando você se aventura no Desconhecido, acontece um real e novo Nascimento. Quando você Nasce, você morre, seu passado é rompido, é quebrado. Esse é o Nascimento da Verdade! Não é a pessoa nascendo; é o Novo surgindo, o mergulho no Desconhecido. Isso é Realização de Deus, Real Iluminação! Mas, se você continua mantendo o passado com a cobertura de algo novo, isso é apenas uma falsificação. O conhecimento é essa falsificação! Eu falo do conhecimento espiritual, advaita, da experiência mística, da experiência vinda da prática de meditação. Depois de um certo tempo, você se torna expert nisso, alguém capaz de “afastar” a mente, os sentimentos, as emoções, as sensações, as percepções, e mergulhar em si mesmo. Contudo, esse “si mesmo” ainda reflete algo do passado. Ele ainda está lá, de uma forma sutil, quase invisível aos olhos comuns, mas ele está lá.
O que eu quero dizer com isso é que você não precisa de experiências místicas, não precisa de práticas de meditação, nem de um conhecimento especializado sobre Iluminação. Você não precisa conhecer nada sobre isso! Tudo isso, na verdade, é algo bastante perigoso, pois é a possibilidade de uma cobertura sobre o velho. Se você é um Sábio, você não precisa de conhecimento, você não precisa de experiências místicas, você não precisa ser um expert em meditação. Você é um Sábio! O Sábio é aquele que nasceu de novo! Teve a coragem de romper com o passado e mergulhar no Desconhecido.
Então, o Desconhecido é como o mar diante de você. Você pode ficar aqui parado na praia e não se aventurar. Você pode continuar sobre essa pedra, ver todo esse mar à sua frente e se manter seguro. Essa pedra é o seu passado. Essa praia é a sua história. Isso é a continuidade desse falso “eu”. Então, quando você vem ao Satsang, eu digo a você: “É hora de aceitar que é possível morrer”. Primeiro, eu falei que você precisa nascer de novo e, agora, estou falando que você precisa “morrer”, porque você só pode Nascer, se “morrer”.
Acolher a Verdade é abandonar a ilusão. A ilusão é toda a sua vida, a sua história, o que você conhece de si mesmo. Por isso, a minha ênfase está sempre nessa questão da Real Meditação, a qual não vem de uma prática, não é resultado de uma experiência mística, nem é algo que possa ser aprendido. A Meditação é o Despertar, é o florescer de algo que está aqui e agora, dentro de você. Então, quando eu falo do Desconhecido à sua frente, esse “à sua frente”, na verdade, está dentro. Mas, não faça como alguns que acreditam que fechando os olhos podem ir para dentro. Absolutamente! Ir para dentro não significa fechar os olhos, mas aceitar a quebra do conhecido, do passado, desse “eu”. Estou dizendo que esse “eu” é falso e ele está assentado sobre uma base totalmente falsa. O desejo é parte dessa estrutura, o medo é parte dessa estrutura, o conhecimento é parte dessa estrutura.
Então, quando eu o convido a olhar para dentro, eu estou dizendo, em outras palavras: “Dê um salto nesse mar! Solte a praia! Deixe a praia, saia dessa pedra e caminhe em direção ao mar!”. Eu venho falando sobre isso há algum tempo, mas o que eu tenho percebido é que as pessoas não estão dispostas a isso, é como se fosse demais para elas. Elas querem dar um pequeno beliscão na Felicidade, querem sentir o sabor em apenas um toque, então, elas logo se afastam, porque percebem o perigo. Não pode haver Felicidade, Amor, Paz, enquanto “você” estiver aí, em cima dessa pedra, da areia, olhando o mar. Esse não é o lugar.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro no Ramanashram Gualberto na cidade de Campos do Jordão – SP; em 01 de Abril de 2018 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário