Como olhar, ouvir, sentir? Como pensar? Como lidar com aquilo que se apresenta? O que fazemos nesses encontros é descobrir como sair desse modelo, o antigo modelo pessoal. Através de conclusões, você está sempre limitando a percepção do que é. O que é, é muito vasto, amplo, profundo, mas você assume uma conclusão sobre isso, sobre a situação, circunstância ou aparecimento. Então, você se coloca dentro de uma limitação, porque sua ótica, visão, é toda pessoal.
Isso explica a infelicidade. Por exemplo, tudo que nasce, morre. Mas, quem aceita a morte? Todos os seres sencientes, todos os seres vivos, tudo que tem vida biológica morre (digo “vida biológica” porque, talvez, você não aceite que tudo seja a Vida se expressando). Tudo que é vivo, cresce, envelhece e morre. Entretanto, a natureza é muito caprichosa e, às vezes, antes de envelhecer, um ser vivo sofre um acidente e morre. Nem sempre o ciclo se completa.
Mas, você sabe o que acontece? A sua mente está treinada a não acolher o que é. Então, você não aceita a doença, não aceita o acidente, nem aceita a velhice e a morte. Estou lhe dando somente um exemplo de como você se comporta quando pensa, decide, tem conclusões sobre como a Vida é. Porém, a Vida não é como a mente conclui e deseja. A mente tem uma imagem de permanência, de segurança, de controle, mas a Vida é Real, não está no imaginário. Ela está no mistério, no desconhecido, e não está dando satisfações a ninguém, pois não tem ninguém para Ela.
Então, se eu pudesse lhe dar um conselho, seria: deixe as coisas como estão! Não se meta nos assuntos divinos! Todos são assuntos de Deus! A Vida é esse assunto de Deus! Então, não se agarre a conclusões, não se apaixone por objetos. Apaixone-se somente pela Vida, pela manifestação da Vida, não pelos objetos onde a Vida se manifesta. Reparem que há uma diferença. O Sábio está em Amor com a Vida, mas não está preso aos objetos onde a Vida se manifesta.
Porque a Vida é esse movimento misterioso, Ela está manifesta em um objeto, mas depois Ela o deixa e permanece em outro. Então, você diz que o primeiro morreu e o segundo está vivo. Isso também é somente uma conclusão. A Vida está se manifestando em outra forma, mas você está vivendo na mente, então, está se apaixonando por objetos. Você chama isso de amor, mas isso é sofrimento, ilusão, não há Verdade nisso.
Então, deixe tudo solto! Isso só é possível quando se está sem conclusões, sem ideias sobre o certo e o errado, sem esse “eu gosto disso”, “eu não gosto daquilo”. Você não precisa de nenhum tempo para essa Liberdade. Você tem um insight... Sabem o que é um insight? No Zen, eles chamam de Satori. É quando estou falando alguma coisa aqui e você sente, sabe, percebe e diz “eu sei do que ele está falando!”. Não é um entendimento intelectual, o que não serve para nada. Um insight é uma percepção direta!
Se você trabalha consertando relógios ou carros, você precisa entender intelectualmente como o mecanismo de um relógio funciona ou a mecânica de um automóvel. O entendimento intelectual é importante em algumas áreas, mas no que diz respeito à Consciência somente a “intuição” é necessária. Eu uso com muito cuidado a palavra “intuição", pois não estou falando do que os místicos e esotéricos chamam de intuição. Intuição é Satori, é esse insight, é essa percepção fora da mente, essa Consciência da Realidade sobre o que está aqui e agora.
Então, quando você sabe do que estou tratando aqui, não sentimentalmente ou intelectualmente, na imaginação, mas no Silêncio, no direto Silêncio dessa Percepção não verbal, isso é Satori. Assim, algo aí dentro diz “ah!”, mas você está fora da mente, das conclusões, da imaginação, das ideias. Portanto, o ponto aqui sempre é esse: permaneça em seu Ser! Permaneça fora da mente! Não dê espaço para esse modelo de pensamento que se repete! Dessa forma, você está sempre aqui e agora, novo, fresco, ímpar, sem história. Isso é estar fora do relato, fora da descrição. História é descrição. A Vida não carrega história. A história é uma coisa morta, é uma descrição de um acontecimento no passado. Aqui, neste instante, neste presente momento, não há história. Nunca há história!
As pessoas falam de amor eterno, mas frases assim são completamente absurdas. Se é Amor, não é eterno e, se é eterno, não é Amor. Somos socialmente criados para a mediocridade. Então, na mente, você está reproduzindo a cultura da mentira, da ilusão. A saudade chamamos de “amor eterno”, e a falta, a carência, nós chamamos de “amor”. Quando há Amor, só há Amor, não há objetos e, como não há imagens, não há história. Então, como não há tempo, não pode ser eterno ou não eterno. O Amor é atemporal, não está atrelado a objetos, nem a imagens e formas. O Amor não tem nenhuma relação com histórias e não pode ser descrito.
Temos apenas uma “coisa” aqui – Aquilo que é indescritível, inominável, sem história! Isso é Meditação! Então, não faça mais nada! Permaneça em Silêncio! Permaneça desidentificado de formas, nomes, imagens, pensamentos. Isso é Samadhi, o Estado Natural. Assim, os pássaros podem ser ouvidos, pois nenhum pensamento interrompe os seus cantos. Eles estão cantando quando não há pensamentos, imagens, história. Quando não existem objetos capturando sua atenção enquanto os pássaros cantam, eles não estão lá fora nem aí dentro; eles apenas cantam... O dentro e o fora desaparecem! Isso é Meditação! “Você” não está e, quando “você” não está, o Buda está, o Cristo está. Agora, jogue fora a palavra “Buda”, a palavra “Cristo”, a palavra “Deus”, a expressão “Puro Ser”. Jogue tudo fora! Permaneça aí!
Agora você sabe do que eu estou falando e, quando sabe do que estou falando, já não tem mais “alguém” falando, já não tem Mestre, já não tem discípulo. Essa é a Verdade! Também não existe Buda e, se encontrá-lo, você “corta a cabeça dele”! Acabamos de fazer isso. “Cortar a cabeça” do Buda é estar aqui na Verdade Última, quando você sabe que não existe Mestre nem discípulo; que não existe dentro ou fora, sabedoria ou ignorância, ilusão ou verdade. Está tudo no lugar, absolutamente tudo no lugar! Isso é Felicidade, que é quando não se espera mais nada, nada mais se busca, se procura, não há mais desejo, medo, passado, futuro. O futuro vem com o desejo, e o passado vem com a história. O que foi não é, o que é não foi, o que é não será, o que será não é, e aqui está tudo!
As pessoas querem uma prática, mas não recomendo práticas. Minha recomendação é: Desista! Pare! Vejam como isso é simples. Você está tão habituado a se movimentar… E não faz isso só fisicamente, faz mais do que tudo psicologicamente. Então, embora o corpo esteja parado, você está em sua família. Mas não tem família aqui! Você “se movimenta” para o seu filho, para os seus pais... Eu estou dizendo: Pare! Permaneça aqui! Sem família, sem som interno. Assim, você pode ouvir o pássaro, pode ouvir essa voz, a qual você não sabe se está vindo de fora ou de dentro, pois o dentro e o fora desapareceram. A voz não interrompe o Silêncio, assim como o pássaro cantando. Isso porque a voz é o Silêncio, o canto do pássaro é o Silêncio, Você é o Silêncio!
Em alguns momentos da sua vida, você “arranhou” a Felicidade, deu um pequeno arranhão no Oceano indescritível de plena Felicidade. Você nem conseguiu cortar fundo, foi somente um pequeno arranhão. Nesses momentos, “você” desapareceu, não estava lá. Depois a mente voltou e disse: “O que foi aquilo?”. Não havia medidas para aquela alegria, completude, liberdade... Então, você foi buscando adjetivos. Estou dizendo que você apenas “arranhou” a Felicidade, e só conseguiu isso quando não estava presente.
Samadhi é estar mergulhado nesse Oceano de Bem-aventurança e Felicidade, e não ter dado nele um breve “arranhão”. Samadhi é ter desaparecido! É como a gota que cai no oceano e você não consegue mais distinguir o que é oceano e gota. Esse é o sentido da Existência – Samadhi, Suprema Beatitude, Suprema Bem-Aventurança! Isso está presente quando você não está, quando seus olhos são os olhos de Deus. Sabe como Deus olha? É como Você olha quando “você” não está. Você encontra esse olhar quando, de relance, olha para um bebê. Em nosso tempo de relógio, dura uns 2 segundos. São 2 segundos nos quais você não está aprisionado, porque “você” não está. Naquele instante, você não é prisioneiro do tempo. Você está no Amor atemporal e não há mediocridade, limitação. Em seu Ser, não há limitação! Você é Deus o tempo todo!
Então, renda-se! Renda-se! Deus é a única Realidade em seu Ser! Isso é Deus! O coração bate, o pássaro canta e você ouve o som. Não se preocupe com sua vida, porque não há a “sua vida”. A “sua vida” é a Vida de Deus! Só há Deus em toda parte, em tudo! Esse entendimento é Samadhi. Minha compreensão sobre a Vida é que Você é Deus. Eu só vejo Deus! Não lute com seus pensamentos, com suas emoções, sentimentos, percepções. Não lute! Viva somente nessa desidentificação. É tão simples! Por que você transforma isso em algo tão difícil? Por que você vive nos seus apegos? Seu Amor é Deus! Eu decidi viver somente esse Amor. Meu Guru me mostrou esse Amor.
Qual é a sua necessidade real? Se o seu coração estiver cheio de Deus, não há necessidade, porque não há medo, desejo, conflito e apego. Você entende? Se você quer ser livre, seja! Bem aqui e agora! Esse é um Oceano de Felicidade! Esse Oceano belo está aberto para você! Meu Guru me mostrou o que é a Real Meditação. Meditação é a chave! Por favor, escute cuidadosamente: a Real Meditação é a chave! A chave mestra! Todas as portas são abertas com essa chave! Ela abrirá a porta da Sabedoria, a porta da Inteligência, a porta do Amor, a porta do Silêncio, a porta da Felicidade. Uma única chave é suficiente e, então, Você está no Céu. E não me refiro a um céu em oposição ao inferno. Estou falando sobre um Céu que não tem oposto – o Reino de Deus, e Isso está dentro de Você. Então, tudo que você precisa dizer é: “Meu Amado Deus, minha vida é sua!”
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro no Ramanashram Gualberto na cidade de Campos do Jordão – SP, em 31 de Março de 2018 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.
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