Alguns dizem que nenhum esforço precisa ser feito para a Realização da Verdade, pelo fato de que você já é aquilo que busca. Parece bastante lógico isso! Se você já é aquilo que busca, a sua busca não é necessária.
Outros dizem que a busca é necessária e, portanto, o esforço é necessário. Para esses, aquele que busca deve ser aplicado, precisa se qualificar para essa Realização.
Na minha perspectiva, os dois lados estão corretos. Existe a ilusória a aparência de um “eu”, mas ele está sofrendo e buscando uma saída para o fim do sofrimento. Dentro dessa Realização, você sabe que isso não é real, mas esse aparente “eu”, esse aparente sofredor, não sente assim. Ele sente que tudo é muito real!
Há só a ideia de um “eu” sofrendo, de uma “pessoa” presente sofrendo, mas para aquele que se sente assim, acreditar que não é uma pessoa, mesmo se sentindo uma, não resolve nada. Então, nessa minha perspectiva, o trabalho de investigação da natureza da mente é importante. Quando existe esse trabalho, existe a possibilidade do descobrimento da ilusão dessa identidade. Porém, sem esse trabalho, não existe a menor possibilidade dessa constatação.
Nesse sentido, o esforço é importante e necessário. Esse não é o trabalho de um “eu”, é a investigação da ilusão de um “eu”. Esse é um trabalho da Graça, da própria Consciência, é a Consciência se autorrevelando, se autodescobrindo. Isso é algo que soa paradoxal, porque Ela não está oculta de Si Mesma, no entanto, Ela se constata, se descobre.
A Verdade já está presente, mas, até que Ela seja vista, esse aparente buscador deve fazer alguma coisa. Isso inclui autoinvestigação, entrega, Meditação e milhares de outras coisas, até que ele descubra que nenhum esforço é necessário. Porém, até que se descubra isso, o esforço é bastante importante e necessário. Isso porque, na verdade, você sempre carrega a ideia de “alguém” que sofre, que precisa de algo. Então, até essa ideia ser removida, todo movimento tem o seu lugar.
Contudo, chegará o momento em que você descobrirá que a Verdade está presente, e que nunca deixou de estar. A única coisa que desaparece é a ilusão! Mas, se ela nunca esteve aí, como pode ter desaparecido? Você já é essa Verdade, já está livre agora, e essa Liberdade é ser Nada!
Para alguns, a busca se dá por meio da filosofia. Para outros, ela acontece através da experiência religiosa. Há também aqueles que buscam realização nas diversas experiências do mundo. De toda forma, sempre há uma busca interna.
Se você está aqui, existe um buscador aí presente, buscando algo fora dessa condição de vida comum. Há uma sede, uma insatisfação, uma inquietude. Então, o seu trabalho é descobrir a Verdade! Se você está neste encontro, é porque, de alguma forma, algo já bateu aí, você já foi tocado pela necessidade de descobrir a Verdade sobre Si Mesmo.
Você já estudou, leu, ouviu, aprendeu, tem agora um intelecto aguçado, já explorou a filosofia, a religião, a vida mundana... Quando o meu Mestre apareceu foi como bater contra um muro de pedras! Eu já havia lido bastante a Bíblia, aprendido vários rituais da igreja, várias doutrinas, e, ao me deparar com a visão do Sábio, do Guru, isso foi como bater com a cabeça em um muro de pedras!
Quando isso acontece, você se levanta sangrando, semiconsciente, e vê que todas as bugigangas que você carregava, todos esses brinquedos da prática da espiritualidade, de repente, não fazem o menor sentido! Então, toda a busca se mostra sem o menor sentido, algo até vergonhoso! Você se depara com algo inteiramente diferente de tudo isso! Você estava olhando para o futuro, buscando uma mudança, procurando algo especial, mas, de repente, descobre que não é nada disso!
Alguns de vocês estão tendo exatamente esse tipo de sensação dentro desses encontros chamados Satsang. Toda sua crença e busca, toda sua visão de um futuro, sua procura por algo seguro, essa procura de “alguém” por alguma coisa, não estão fazendo mais o menor sentido! Essas bugigangas, crenças, ideias sobre a vida, sobre si mesmo, sobre Deus e tudo mais, não estão fazendo o menor sentido! Isso porque, agora, você se deparou com a Verdade de que o que você está procurando já está aqui: Você! Você não está no futuro, então, não tem nada a ser alcançado lá! Tudo que Você é, é o Nada! Aqui está a Realização: descobrir a Verdade sobre Si Mesmo, sobre esse Absoluto Nada que é a Consciência, que é a ausência do buscador.
Esse Reconhecimento da Verdade sobre Si Mesmo é o que eu tenho chamado de Inteligência. Não é a sua inteligência, não é a inteligência da “pessoa”, é somente a Inteligência! Na verdade, essa Inteligência Real é o fim dessa “pessoa”, o fim desse buscador e de todas essas crenças religiosas, filosóficas ou mundanas. Não se trata do conteúdo do “saber” – “eu sei isso” ou “eu conheço aquilo” –, porque isso é adquirido e, portanto, ainda faz parte da ignorância, ainda é conceitual. Todo esse material ainda faz parte das bugigangas, desse fundo de condicionamento, de crenças, ideias que se aprendem, que são somente palavras.
Estou falando de uma Inteligência que é Puro Reconhecimento, e não um acúmulo de informações, de ideias, de crenças. Ela não é um “saber” maior, é a Inteligência na Inteligência, é a Consciência livre do seu conteúdo, do peso da memória, das ideias, das imaginações, das crenças espiritualistas, filosóficas, mundanas, de todos os tipos! Você é Consciência, e Consciência é Nada! Esse é o fim da identificação com o corpo e a mente, é o fim dessa suposição completamente falsa de que existe uma entidade separada da Vida; é o fim da crença em uma “pessoa”, em um “eu” preso dentro de um corpo e de uma mente.
Reconhecer isso, não intelectualmente, não verbalmente, mas como um fato, é Inteligência! Isso é ver sem qualquer filtro, que cria uma espécie de névoa, feita de suposições, teorias, ideias, conceitos. Então, é uma abertura para a Verdade, e toda crença se desfaz nesta abertura. Quando toda a névoa se desfaz nessa abertura, há completa Inteligência. Isso é o fim da busca!
Assim, fica claro que não se trata de alcançar ou se tornar alguma coisa, nem de um entendimento intelectual. É somente essa Inteligência de reconhecer a Verdade, que é Liberdade, Amor, Paz, o fim do conflito, do sofrimento.
Então, a busca termina, clara e inequivocamente, não porque todas as respostas são encontradas ou descobertas, mas porque o “buscador” é visto como falso, uma ficção, uma imaginação, um inexistente “eu”. Assim, você fica com a percepção de que nunca aconteceu “alguém” nessa ou naquela experiência.
Estamos falando do fim da ilusão, do ego, da “pessoa”, do sentido do “eu”. Isso é Liberação!
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 30 de Janeiro de 2020 – Para informações sobre os encontros online e instruções de como participar, clique aqui.
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