Devoto: Mestre, qual é a verdade sobre o tempo?
Marcos: O tempo é algo presente no mundo da mente. A mente sempre vive no tempo: ou ela está no passado ou no futuro ou acredita estar no presente. Esse tempo é uma distância fictícia criada pela imaginação de que algo aconteceu pela manhã ou de que algo acontecerá depois do almoço. Para se chegar nesse “algo que aconteceu pela manhã” ou nesse “algo que, possivelmente, acontecerá depois do almoço”, você precisa de um elemento: imaginação. Sem imaginação, sem pensamento; sem pensamento, sem tempo. Sem imaginação, não há imagem, não há objeto, não há pensamento, e, portanto, não há tempo.
Então, o que é o tempo? O tempo é esse movimento fictício que a imaginação sustenta como realidade através do pensamento. Aqui, estamos lidando apenas com um fenômeno, chamado "pensamento". Na verdade, não existe esse tempo psicológico! Psicologicamente falando, não há tempo! O único tempo que temos é o cronológico, o tempo para fins práticos neste mundo de sonho que chamamos de “vida humana”. Esse tempo também é determinado pela distância entre objetos.
Quando você olha para a linha do horizonte pela manhã, em algum momento o sol aparece. A impressão que se tem é que ele vai começar a subir e depois ele irá se pôr. Do nascer ao pôr do sol, você tem tudo acontecendo. Tudo está acontecendo entre distâncias no espaço, no movimento entre objetos. Esse é o tempo que conhecemos: o tempo do relógio, o tempo cronológico. Mas, há também esse tempo fictício sustentado e mantido pelo pensamento. É isso que a imaginação faz! Esse psicológico tempo é o tempo da “pessoa”. Você, em seu Estado Natural, não dá importância à imaginação.
Devoto: Mas, a imaginação ainda aparece no Estado Natural?
Marcos: A vitalidade da imagem que o pensamento forma precisa desse movimento. Isso chama-se “imaginar”. Isso perde completamente o propósito quando você está em seu Estado Natural. Só o Agora é suficiente! Só o Agora é Real! Isso é assim sempre! Então, esse movimento de passado e futuro, bem como de ideias sobre o presente, é típico dessa vitalidade que a imaginação dá ao pensamento não observado. Todo pensamento é somente um objeto.
Devoto: Qual é a diferença básica entre imaginação e pensamento?
Marcos: A imaginação é a vitalidade do pensamento. O pensamento é só um objeto.
Devoto: A gente pode dizer que na imaginação há tempo e espaço, e no pensamento não?
Marcos: Sim. O pensamento é só um fenômeno de apresentação do objeto. A imaginação é o movimento desse objeto num espaço fictício. Essa é a vitalidade da imaginação.
A sua pergunta foi: “No Estado Natural existe imaginação?” No Estado Natural, o que importa é o que é prático, o que tem realidade, e isso está fora do movimento subjetivo da imaginação, do pensamento. Embora o pensamento, como algo prático, possa aparecer como um objeto, ele não é mais um elemento para sustentar uma identidade presente naquela experiência, que é o que a imaginação faz.
A mente egoica vive em constante movimento. Repare qual é a sua inclinação durante todas as horas do dia: ou você está se lembrando de algo ou antecipando alguma coisa (psicologicamente falando). Esse é o estado não natural de ser, é o estado mental de existir. Esse é o movimento dessa falsa identidade. Ela vive e se perpetua no tempo, então, está sempre no passado, que é memória, ou no futuro, que é antecipação, que é desejo. Ela sempre espera algo, portanto, vive antecipando o que é bom, desejando, e o que é ruim, temendo. Ela vive num mundo subjetivo. A “pessoa” não é nada além de uma crença que você tem sobre si mesmo. E quem é esse que tem essa crença sobre si mesmo? Estamos falando somente do pensamento! Não há um elemento tendo nada sobre si mesmo, pois não existe um elemento imaginando!
Quando falamos de imaginação, não estamos falando de uma energia especial que vem de uma entidade. Não estamos dizendo que há uma entidade que, consciente ou inconscientemente, imagina. Estamos falando do próprio movimento natural do pensamento não observado. Se o pensamento pode ser observado, é sinal de que ele não é Você, então, o movimento dele pode ser detido. Em outras palavras, a imaginação pode ser rompida e, quando isso acontece, não existe espaço para esse movimento do “eu”, porque essa falsa identidade vive só na imaginação.
Portanto, o pensamento não é o problema! Ele só é um “inimigo” quando está a serviço da imaginação. Mas, se não há imaginação, o pensamento é só pensamento. Assim, ele perde a importância, e é natural que desapareça.
A Vida acontece agora! Não há Vida no passado nem no futuro. Tudo está acontecendo agora! O café da manhã está acontecendo agora; o jantar também. Você pergunta: “E por que não vejo?” Quem pode ver isso? Quem pode ver o café ou o jantar? Quem pode ver a manhã ou a noite? “Eu”! Imaginação! E com a imaginação, o café da manhã, o jantar, a manhã ou a noite. Entretanto, a Vida não está nesse movimento imaginário! A Vida está agora, então, tudo está agora!
Quando você nasceu? “Em 1900 e bolinhas”... Do que você está falando? Você está usando a mesma linha de imaginação que você usa para falar do tal café da manhã, que serve para falar sobre o jantar à noite. Mas, onde está tudo isso?
A natureza da mente egoica é movimento. Quando falamos da mente egoica, estamos falando no movimento do pensamento que sustenta o sentido de tempo e espaço e, portanto, de separação. A mente egoica tem, naturalmente, esse movimento de continuidade psicológica ou, em outras palavras, o elemento “imaginação”. Para poder se manter nesse movimento, ela dá a si mesma um nome, que se trata do objeto principal e primordial desse processo. Ela chama a si mesma de “eu” e fala que nasceu em 1900 e bolinhas. Fala que tomou o café da manhã, fala que vai jantar à noite, fala que vai morrer... Isso está dentro desse processo imaginário que chamamos de “mente egoica”, que não é outra coisa senão um simples movimento de pensamento que nós chamamos aqui de “imaginação”.
Então, o que é o tempo? Uma ideia, um conceito, uma crença, um pensamento. No Estado Natural, a imaginação acontece? Não! O Estado Natural é a Liberdade de Ser o que, de fato, Você é, e isso só pode ser Agora, portanto, a imaginação é dispensável. Mas, para aquele “eu” que se imagina como objeto primordial nesse processo de imaginação, e que precisa criar tempo e espaço, a imaginação é tudo! Sem ela, o “eu” não está aí.
Assim, nós chegamos a um ponto: enquanto o sentido do “eu” – que não é nada além dessa ideia de ser “alguém” – estiver presente, a ilusão do tempo estará presente. Estamos falando do tempo psicológico, no qual “você” é uma suposta entidade que se move em um mundo imaginário sustentando o sofrimento. Sofrimento pressupõe conflito com o que é, com o que se apresenta aqui e agora.
Assim, esse elemento precisa da imaginação para sustentar o conflito, que é sofrimento. Uma vez que termine esse movimento psicológico, imaginário, o sofrimento também termina. Enquanto esse elemento “eu” estiver presente, esse movimento de afastamento deste instante (imaginariamente, psicologicamente) estará presente e, portanto, o sofrimento continuará presente.
*Transcrição de uma fala realizada no Retiro de Carnaval, na Ilha de Itamaracá/PE, em 25 de fevereiro de 2020 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco:: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário