Participante: Existe alguma prova de que somos fantoches, de que não temos poder de escolha e livre-arbítrio?
Marcos Gualberto: Este trabalho requer uma séria investigação. É necessário que você compreenda de uma forma direta tudo isso. Você pode formular muitas perguntas e obter muitas respostas, mas nada disso terá absoluta importância vivencialmente, do ponto de vista da prática. Assim, você fica apenas com explicações teóricas, verbais. Afinal, quem é esse que pede provas? E para quem esse “eu” está pedindo provas?
Todas essas perguntas são para esse “eu”, que carrega todos esses dilemas e problemas, mas você não investiga a natureza dele. Então, você pode ter muitas respostas, mas isso ficará somente no nível intelectual e não resolverá a questão fundamental: o que é o “eu”? É esse “eu” que diz que está feliz ou triste, que sabe ou não sabe, que tinha algo e perdeu, que nasceu, que vai morrer, que está bem ou mal… É sempre esse “eu”! Esses são apenas alguns poucos exemplos de pensamentos centrados nesse “eu”.
Como você pode perceber em si mesmo, os pensamentos estão sempre centrados nesse “eu”, circulando em volta desse senso do “eu”. Ou seja, todos os problemas giram em torno de um “eu” e você nunca se pergunta o que ele é. Ele é real ou é uma ideia? Para você, esse “eu” tem livre-arbítrio, escolha, e pode fazer coisas ou não. Podemos ficar teorizando e filosofando sobre isso, porém, aqui estou convidando você a uma direta investigação do real significado da palavra “eu”. O que isso representa?
Então, a pergunta é: quem é você? O que é este “eu”? O que é você feliz ou triste? O que é você sabendo ou não? O que é você tendo algo ou perdendo? O que é você? O que é você, que nasceu e irá morrer? O que é você bem ou mal? Vocês estão constantemente, o dia todo, dizendo “eu”: “Eu estive lá”, “eu voltei”, “eu cheguei ontem”, “eu irei amanhã”, “eu estava bem”, “eu estive doente”... O tempo todo, todos os dias! Você usa muitas vezes esse pronome!
Contudo, de que “eu” estamos falando? Você está se identificando com o corpo e com a experiência que ele vivencia, confundindo-se com sentimentos, emoções e pensamentos. É por isso que você usa esse pronome “eu”, mas isso é somente uma crença. Você acredita que está dentro desse corpo e que existe um “eu” vivendo a experiência. Você pode dizer: “Sou eu mesmo, porque eu sinto e o outro não”. Assim, mais uma vez você está confundindo a experiência do sentir com uma entidade real presente nela.
É evidente que esse sentir está presente nesse organismo e não em outro. Porém, isso não prova que você é uma entidade real nessa experiência. A única coisa que isso prova é que esse mecanismo tem a habilidade de sentir, particularmente, uma sensação, uma emoção, uma experiência.
Assim, você está constantemente usando essa expressão “eu” sem saber qual é a Verdade sobre si mesmo. Dessa forma, você pode carregar durante muitos anos, ou uma vida inteira, a ideia de que você é “alguém”, porque existe o sentir, o pensar, a sensação e a percepção nesse organismo, de uma forma particular. Confiar nisso é confiar em uma ilusão! Isso não é real! Não estou dizendo que a experiência não é real; estou dizendo que o “experimentador” não é, o que é diferente. Eu não estou negando a sua experiência; estou questionando a verdade de “alguém” presente nela, a existência de uma entidade separada nela. É isso que investigamos em Satsang.
No momento em que eu questiono esse “eu”, esse “eu” se questiona, duvida de si mesmo. Então, um espaço de dúvida se abre, e essa é uma abertura para uma Inteligência Real, superior a esse movimento comum do intelecto, de crenças, deduções, conclusões e lógica. Quando isso acontece, você pode descobrir a Verdade dessa Liberdade, além dos problemas vinculados a esse sentido do “eu”. Então, todo esse sofrimento, questões e dilemas ligados a esse sentido de “pessoa” podem desaparecer.
Você não vai encontrar a resposta sobre quem Você é; você vai descobrir a ilusão da questão, do dilema, do problema ligado a esse centro ilusório, a esse falso centro de experiência. Isso é o que eu chamei de “descobrir a Verdade sobre si mesmo”. Eu não digo para as pessoas que elas encontrarão a resposta, porque, na verdade, você nunca pode encontrar uma resposta na mente, pois isso seria completamente inútil. Uma resposta para a mente é uma resposta dela própria, então, não pode ser Real também.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 10 de Janeiro de 2020 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang
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