segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

A verdade sobre o sofrimento

Embora essas falas, em Satsang, não tratem da Verdade, elas sinalizam a Presença da Verdade. A Verdade não é algo que o pensamento possa capturar. Na realidade, o que inspira você a vir aqui é a possibilidade de encontrar a Verdade ‒ a Verdade do Silêncio, da Consciência, da Paz. Essa questão da busca é bastante intrigante, porque você não está procurando por uma coisa específica. A urgente coisa a ser encontrada, que ao mesmo tempo é tremenda, trata-se da Verdade, mas Isso não pode ser aprendido ou adquirido. Isso é algo que vem pela autoinvestigação.
Você tem um claro sentimento de que algo está ausente ou está faltando. Esse algo, ou essa coisa tremenda, é a Verdade. Apenas a investigação pode lhe dar a ciência da falta Disso, e é isso que o inspira a estar nesses encontros. O coração humano anela por esse encontro com a Verdade, com a Paz, com o fim do conflito, do sofrimento humano, da guerra. Você pode não saber que tipo de falta é essa e, por isso, vai em muitas direções, até que chega um instante em que você para e se volta para dentro. Nesse momento, Satsang é a única coisa que faz sentido.
Então, em algum momento, você percebe que aquilo que estava buscando lá fora somente pode ser encontrado pela autoinvestigação, e isso significa Satsang, que é o encontro com a Verdade. Assim, por um breve instante, você sente esse perfume, e ele se revela como a Paz do Coração, a Verdade do Ser. Pela primeira vez na sua vida, você descobre que não é na realização de desejos que essa Paz se encontra, mas exatamente na ausência de desejos. Pela primeira vez você descobre que sem pensamentos, sem história, sem imaginação, sem futuro, sem passado, sem crenças, sem a ideia “eu sou o corpo”, a Paz que se encontra presente se revela. É intrigante essa coisa! Você sempre buscou todas essas coisas, mas, no fundo, o que você estava procurando era a ausência disso tudo!
Por alguns momentos, você se via em Paz, em Amor, em Alegria, mas, por não estar ciente dessa ausência de desejos, você passava a procurar por vários objetos, nos quais não há satisfação. A felicidade em objetos não é real, mas, como você não conhecia a Verdadeira Direção, ia em busca deles. Agora, pela primeira vez, você descobre que Isso está aqui, a Presença do seu Ser, a Presença da Real Alegria, da Real Paz, do Real Amor. Então, Satsang é muito importante para você agora, porque você sabe qual é e onde está a Real Direção. Você não tem mais nenhum objeto, nenhum pensamento, nenhuma imagem de si mesmo ou do mundo, no entanto, está feliz. É uma Felicidade sem causa!
Assim, você descobre a verdade sobre o sofrimento. Qual é essa verdade? Se sua mente está envolvida com objetos, o sofrimento está presente; se não há objetos na mente, não há sofrimento ‒ essa é a verdade sobre o sofrimento e a real causa da Paz e da Felicidade. Então, você amadurece nisso, o que é inevitável, porque a partir de agora você questionará, cada vez mais fundo, tudo pelo qual você está passando psicologicamente, interiormente.
Então, não dá para sofrer mais, pois isso é uma coisa muito estúpida! Quando há autoinvestigação, não há espaço para sofrimento. Esse hábito de ser alguém sofrendo não tem mais nenhum propósito... Agora, não! O sofrimento, agora, começa a fazer parte apenas de uma ideia, de um conceito. Quanto mais fundo você entra nessa autoinvestigação, mais você percebe que o sofrimento é uma ideia, um conceito, bem elaborado pelo pensamento, perfeitamente imaginado pela mente egoica.
Eu falo desse sofrimento emocional, da tristeza, da dor, do ressentimento, da mágoa, do rancor, do ódio, do remorso, do arrependimento, da depressão... Vocês sabem do que eu estou falando! Tudo atrelado a essa “história de alguém”. Portanto, o sofrimento é, também, só um objeto, como todos os outros; é só um conceito, uma ideia, uma crença. O sentimento de ser abandonado? Um conceito. O sofrimento por não ser amado, por ser desprezado ou por se sentir magoado, ofendido? Uma ideia. O sofrimento pela perda de coisas valiosas, dessas aquisições psicológicas que a vida, de repente, vem e tira de você? Crença! Então, tudo depende de como você compreende essa questão do sofrimento, se sua relação com essa ideia, com esse conceito, se traduz ou não como uma forma de dor psicológica.
Em minha própria experiência de vida, eu descobri que o mais importante para mim eram os momentos em que eu via alguma coisa sendo tirada de mim ou quando sentia que algo estava faltando, pois eu tinha que me confrontar com isso, olhar e ver o que isso causava aqui, a essa “pessoa”. Quando você sente essa falta, quando se depara com essa dor, mas sem o conceito, a autocomiseração, a autopiedade, o lamento, as queixas, as reivindicações, as reclamações, algo inteiramente novo surge no lugar, e não é mais algo pessoal. O problema com você tem sido esse: você é muito pessoal, está muito apegado à ideia de ser uma “pessoa”, o que é um conceito. O conceito da “pessoa” sustenta o conceito do sofrimento; a ideia da “pessoa” sustenta a ideia de “alguém” abandonado, rejeitado, não assistido, infeliz, incapaz.
Portanto, é necessário explorar essa questão do sofrimento. Não se trata de fazer análise, nem de entender. Quando digo “explorar”, significa “ver para quem é essa dor”. Foi esse o trabalho de Ramana. Quando as pessoas iam até ele, ele dizia: “Quem sofre?”. Assim, esse hábito da “pessoa” começa a ser desarraigado. Você começa a usar tudo o que surge, toda forma de sofrimento ou de conflito para se tornar mais e mais consciente da ilusão do corpo e da mente, da ilusão dessa “entidade” dentro dessa experiência do corpo e da mente.
Então, fica fascinante perceber que, a todo momento, você vai se deparar com esse desafio do “eu” nessa relação com a experiência. A Vida é generosa nesse sentido, pois Ela sempre trará decepções, frustrações, negará a você seus desejos, interesses, vai dizer não ao seu ego, o qual é uma fraude, não é Real. A Vida é Real e Ela não se importa com você! Isso faz Dela muito generosa, de extrema generosidade. Abandonar o ego é tomar ciência de que ele não existe, de que só há Você, mas não tem ninguém aí! De outra forma, você continua na ilusão de ser “alguém”, sofrendo com essa crença, com esse conceito da “pessoa”, que carrega o conceito do sofrimento.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 04 de Julho de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Um Convite para este Estado de Pura Consciência

A essência desse nosso trabalho é a Consciência, que também é conhecida como o Ser, a Realidade do Eu Sou, o Amor, a Vida, o Divino, Deus. É somente Isso que você precisa constatar. Afinal, o que é Isso em você consciente deste momento? Isso é algo sempre presente e consciente. É Isso que estamos investigando juntos.
O pensamento que você tem sobre si mesmo é de limitação, pois você pensa em si mesmo como sendo o corpo e a mente. Você não pode imaginar a si mesmo como essa ilimitada Consciência, algo além do tempo e do espaço e, naturalmente, algo além do corpo e da mente. A mente não alcança essa Realidade, não pode nem mesmo imaginar Isso. Portanto, você não está preparado para Isso.
Satsang é um espaço bem interessante, porque nele você tem que encarar essa possibilidade de se ver além do corpo e da mente. Aqui, a questão é quebrar esse paradigma de limitação que a mente impõe a si mesma. Na verdade, isso é uma façanha impossível para a mente, porque a consideração que ela faz da vida é baseada na experiência que ela tem, que é de tempo e espaço. Então, ela não pode visualizar nem considerar que exista algo fora do tempo e do espaço. Isso é muito duro, muito difícil para ela.
Toda crença é baseada na experiência imaginária da mente, a qual requer matéria, imagens. Percebam como é importante esse assunto! Isso está fora de toda a experiência, fora de toda a imaginação e, portanto, fora do alcance da mente. Assim, em geral, as pessoas não estão preparadas para Isso. Elas precisam de um toque misterioso, de algo além da mente, e esse toque é a possibilidade de um vislumbre da Meditação.
A mente ama aventuras, mas dentro do conhecido, algo com que ela possa lidar, imaginar. O convite em Satsang é para esse Estado de pura Consciência, onde não há nada físico ou material, nada de imagens, somente Consciência. Esse é um Estado desconhecido da mente, o qual eu chamo de “Inteligência”, é o Real Estado Natural de Inteligência. Não há Inteligência na mente, porque ela trata do conhecido, do imaginário, ela cuida do tempo. A mente é o tempo e esse Estado está fora dele, fora do conhecido. Isso pode soar incrível para você, porque tudo o que a mente faz se move no tempo. Os cinco sentidos estão no tempo... ou os seis sentidos (alguns consideram a mente como um outro sentido). Portanto, os sentidos não são prova de Realidade, mas de experiência.
Aqui, estamos falando da Consciência, de Algo anterior a isso. O espaço físico é medido em tempo, ou seja, de um objeto a outro há uma distância, e isso é tempo. Esse espaço físico está cheio de objetos separados, perceptíveis aos sentidos, e isso está sendo percebido sempre na mente. Há algo em você que está além da mente, portanto, além da experiência, além desses objetos, de toda essa multiplicidade de aparições. Consciência é tudo o que existe, é tudo o que há, nada existe fora Dela. Então, a mente, no qual esses objetos aparecem, está dentro dessa Consciência.
Pergunte a si mesmo: o que é o tempo? Toda a noção de tempo está sempre ligada ao movimento de memória. A memória fala do tempo, relata a sua existência. Sem ela, não há tempo. A noção de espaço é a distância entre um objeto e outro, e essa aferição só é possível no tempo. Tudo isso são experiências na mente, experiências do conhecimento. Sem conhecimento, sem memória, sem aferição, não existe noção de espaço; sem objetos, não há noção de espaço nem de tempo; sem memória e conhecimento, não há noção de objetos, e tudo isso é parte da mente. Então, o que é o tempo? É só imaginação, um movimento de imagens, um espaço entre imagens. Não é isso?
Como você sabe se 30 minutos ou uma hora se passaram sem o objeto de aferição de tempo, que é o conhecimento baseado na mudança dos ponteiros desse objeto, que você chama de relógio? Então, o conhecimento é necessário para a noção do tempo, e o pensamento é necessário para a noção de objeto. Assim, o que é o tempo? O que é o espaço? Essa é uma questão muito radical! Na verdade, essa noção da atemporalidade, da Realidade fora do tempo e espaço, fora da matéria, da percepção, não é uma coisa nova, pois toda tradição religiosa da história humana tem tratado disso. Buda, Jesus, todos os Sábios de todos os tempos falaram desse eterno Agora, dessa Realidade, que é a Consciência.
Estar aí é perfeição absoluta, é onisciência, é imortalidade! A Consciência é Aquilo que faz tudo perfeito, tudo completo, tudo livre de limitação, e Você é Isso agora! Você é essa atemporal imortalidade, essa atemporal perfeição, o Divino, a Verdade, Deus! Tal descoberta está na constatação de seu Estado Natural, que é Meditação. Assim, Isso não são mais palavras, mas uma constatação direta do que alguns chamam de “Realização”, “Iluminação”. É sobre isso que tratamos em Satsang.
Essa Realidade atemporal, que é pura Consciência, é a ausência da ilusão da separação. Você realmente é puro, é livre, é a Verdade neste presente instante. Sua Vida é livre, é atemporal. Então, seu Ser é imutável! Ouvir isso tudo é muito estranho, porque você, durante toda a vida, tem buscado melhorar, se aperfeiçoar, quer ser diferente do que é. Assim, você se vê dentro de uma limitação e, portanto, com a possibilidade de entrar em um processo de melhora, de ampliação, de aperfeiçoamento. Você quer ser diferente do que é, e eu estou dizendo outra coisa aqui. Estou dizendo que isso não é necessário, que é somente uma imaginação, uma crença, uma coisa aprendida. Além de não ser necessário, não é possível, porque O que Você É, é imutável! É essa Realidade atemporal, Aquilo que já está pronto, seu Ser sem mudança, pura Consciência, infalível, ilimitada, indescritível, Inteligência Absoluta.
Isso pode soar muito abstrato e profundo, mas nada é tão singular e simples. A Realidade de seu Ser é a manifestação desse Estado Natural, que é Meditação, e nada é tão simples quanto Isso. Então, por favor, seja paciente, relaxe, olhe para dentro de si mesmo e vá além do corpo e da mente, vá para o Coração, para esse Espaço atemporal, para esse “não espaço”, esse “lugar não localizável”. Mova-se para o “não movimento”!
Até agora você sempre se moveu horizontalmente no mundo das ideias, das crenças, dos pensamentos, das imagens, dos projetos, desejos, sonhos, ou seja, sempre foi um movimento do experimentar, do perceber, do sentir. Agora, o convite é para Aquilo que está fora da mente, do conhecido. Percebem a beleza disso?
Então, o convite aqui é para seu Natural Estado, que é Meditação! Essa é a Verdade suprema, a infinita Realidade. Não existe nada além da Consciência! A Consciência é a sua única Realidade! Então, tudo aquilo que você tem como sendo “o mundo”, à parte dessa Realidade, é uma ilusão! Essa Consciência é infinita, sem borda, sem margens, sem descrição. Aquilo que se torna tão óbvio para o Sábio é, na verdade, um grande choque para todo esse processo cognitivo da mente. A humanidade tem perdido Isso, porque está se identificando com o corpo. A pessoa vive nessa identificação com o corpo, e o que a gente chama de “pessoa” é somente uma projeção, um conjunto de crenças, uma ilusão.
* Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 11 de Setembro de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Você precisa estar disposto a isso

Quando você atende a esse convite chamado “Satsang”, você precisa estar disposto a isso, ou de outra forma nada vai acontecer. O que eu tenho percebido é que poucos podem se aventurar, poucos se prontificam de verdade, há muito pouca disposição para isso. Eu estou falando de rompimento, de quebra... É essencial aceitar a possibilidade da quebra, a possibilidade de algo novo surgir. Então, esse é um convite muito desafiador. Você precisa ter essa disposição e, se a tem, talvez você seja um em um milhão.
Sobre o que estou falando? Estou falando que você tem o Desconhecido diante de você, mas tem o passado atrás. Se não houver essa quebra, o passado se torna o seu presente, e a continuidade se mantém. Isso é como andar em um círculo. Por mais que você caminhe, permanecerá dentro dele.
Parece que a grande maioria não compreendeu isso ainda. As pessoas ouvem falar a respeito da Realização, de um Estado livre do tempo, livre do experimentador, livre de um “eu” com seus conflitos, dilemas, problemas, mas elas não estão dispostas a ir além do círculo, além do passado. Realização, Autoconhecimento, Iluminação (ou qualquer outro termo que você use), não fará nenhum sentido para a sua vida enquanto você se mantiver dentro desse modelo.
Eu usei a palavra “quebra”... É necessário que o seu passado seja quebrado, que o que foi seja rompido, para que não haja essa continuidade. Esse é o verdadeiro sentido da Realização de Deus, da iluminação: o rompimento com o antigo, com aquilo que está atrás de você, com o que foi, com a história. Você precisa estar disposto a isso, precisa se aventurar, abraçar esse desafio de romper com esse velho “eu”, com esse modo de pensar, sentir e agir totalmente assentado em crenças, em escolhas, em desejos.
Até hoje, a sua ação tem se baseado no medo, e isso tem ocorrido porque você não rompe com o passado, não aceita ir além desse falso “eu”, de todo o conteúdo desse falso “eu”. Então, você não atinge o Desconhecido. Eu disse agora há pouco: “Há o passado atrás e o Desconhecido à frente”. Repare que eu não usei a palavra “futuro”, mas a palavra “Desconhecido”. O que está à frente é só o Desconhecido. Todo o seu passado tem se transformado no seu presente, que, por sua vez, tem se tornado o seu futuro. Mas, na verdade, o seu futuro continua sendo o seu passado, porque ainda é somente a continuidade. A Iluminação é o rompimento com isso.
Se você está aqui, nasceu pra Realizar Isso. O que você está fazendo? Para onde você está indo? Olhe pra você... Você não sai do círculo! Tudo está se repetindo, é sempre a mesma coisa acontecendo, porque você não acolheu a Verdade, não está disposto a abraçá-La, não está disposto a Nascer. Você acredita que já nasceu, mas você não carrega um novo Nascimento, você carrega um velho passado. Isso significa que você não Nasceu! Por isso, Cristo um dia disse que é necessário nascer de novo. Mas, essa não é a mensagem só de Cristo, é a mensagem do Sábio, do jnani, daquele que está livre do tempo.
Quando você se aventura no Desconhecido, acontece um real e novo Nascimento. Quando você Nasce, você morre, seu passado é rompido, é quebrado. Esse é o Nascimento da Verdade! Não é a pessoa nascendo; é o Novo surgindo, o mergulho no Desconhecido. Isso é Realização de Deus, Real Iluminação! Mas, se você continua mantendo o passado com a cobertura de algo novo, isso é apenas uma falsificação. O conhecimento é essa falsificação! Eu falo do conhecimento espiritual, advaita, da experiência mística, da experiência vinda da prática de meditação. Depois de um certo tempo, você se torna expert nisso, alguém capaz de “afastar” a mente, os sentimentos, as emoções, as sensações, as percepções, e mergulhar em si mesmo. Contudo, esse “si mesmo” ainda reflete algo do passado. Ele ainda está lá, de uma forma sutil, quase invisível aos olhos comuns, mas ele está lá.
O que eu quero dizer com isso é que você não precisa de experiências místicas, não precisa de práticas de meditação, nem de um conhecimento especializado sobre Iluminação. Você não precisa conhecer nada sobre isso! Tudo isso, na verdade, é algo bastante perigoso, pois é a possibilidade de uma cobertura sobre o velho. Se você é um Sábio, você não precisa de conhecimento, você não precisa de experiências místicas, você não precisa ser um expert em meditação. Você é um Sábio! O Sábio é aquele que nasceu de novo! Teve a coragem de romper com o passado e mergulhar no Desconhecido.
Então, o Desconhecido é como o mar diante de você. Você pode ficar aqui parado na praia e não se aventurar. Você pode continuar sobre essa pedra, ver todo esse mar à sua frente e se manter seguro. Essa pedra é o seu passado. Essa praia é a sua história. Isso é a continuidade desse falso “eu”. Então, quando você vem ao Satsang, eu digo a você: “É hora de aceitar que é possível morrer”. Primeiro, eu falei que você precisa nascer de novo e, agora, estou falando que você precisa “morrer”, porque você só pode Nascer, se “morrer”.
Acolher a Verdade é abandonar a ilusão. A ilusão é toda a sua vida, a sua história, o que você conhece de si mesmo. Por isso, a minha ênfase está sempre nessa questão da Real Meditação, a qual não vem de uma prática, não é resultado de uma experiência mística, nem é algo que possa ser aprendido. A Meditação é o Despertar, é o florescer de algo que está aqui e agora, dentro de você. Então, quando eu falo do Desconhecido à sua frente, esse “à sua frente”, na verdade, está dentro. Mas, não faça como alguns que acreditam que fechando os olhos podem ir para dentro. Absolutamente! Ir para dentro não significa fechar os olhos, mas aceitar a quebra do conhecido, do passado, desse “eu”. Estou dizendo que esse “eu” é falso e ele está assentado sobre uma base totalmente falsa. O desejo é parte dessa estrutura, o medo é parte dessa estrutura, o conhecimento é parte dessa estrutura.
Então, quando eu o convido a olhar para dentro, eu estou dizendo, em outras palavras: “Dê um salto nesse mar! Solte a praia! Deixe a praia, saia dessa pedra e caminhe em direção ao mar!”. Eu venho falando sobre isso há algum tempo, mas o que eu tenho percebido é que as pessoas não estão dispostas a isso, é como se fosse demais para elas. Elas querem dar um pequeno beliscão na Felicidade, querem sentir o sabor em apenas um toque, então, elas logo se afastam, porque percebem o perigo. Não pode haver Felicidade, Amor, Paz, enquanto “você” estiver aí, em cima dessa pedra, da areia, olhando o mar. Esse não é o lugar.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro no Ramanashram Gualberto na cidade de Campos do Jordão – SP; em 01 de Abril de 2018 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang

sábado, 11 de janeiro de 2020

A visão clara disso é a Iluminação

A palavra “investigação” nos lembra averiguação, uma forma de nos aproximarmos de algo através de uma pesquisa, de uma observação. Perceba o quanto é importante observar! Em Satsang, estamos fazendo uma investigação de nós mesmos ou uma autoinvestigação. É difícil você aceitar, a princípio, a natureza ilusória do mundo ou de suas experiências, uma vez que elas são muito íntimas, particulares, pessoais, e isso é tudo o que você tem.
Então, quando você se depara com um Ser realizado, não pode esperar que Ele lhe diga as coisas que você está acostumado a ouvir. Sua percepção do mundo não é a percepção do Sábio. Você percebe o mundo como algo externo a você, mas para o Sábio não é assim. Para Ele, a percepção do mundo acontece, espontaneamente, no Ser, nessa Consciência, e você só pode ver isso através da autoinvestigação. Você não pode compreender a natureza ilusória do mundo sem compreender a natureza ilusória do “eu”, da “pessoa”.
Você é a Realidade do mundo! Não existe nenhum mundo sem essa Realidade que é Você! Sua Natureza Verdadeira é aquela onde o mundo surge, onde a vida aparece. Você não é uma pessoa, não é um indivíduo, mas você se esqueceu disso. Apenas a autoinvestigação pode surgir como uma luz para trazer essa lembrança, para que isso volte, esteja aí novamente. É bem paradoxal, porque isso nunca esteve longe ou nunca esteve, de fato, esquecido, mas assim parece que aconteceu.
Estou falando sobre a Realidade de nossa essencial Natureza. O mundo não é externo, a vida não é externa, o mundo e a vida são uma forma de percepção, e Você é essa Consciência, essa Realidade, essa Presença onde essa percepção surge. Seu corpo-mente é como um mecanismo eletrônico — enquanto a energia elétrica está circulando, ele continua funcionando. Mas, se não houver energia circulando, mesmo estando em perfeito estado e com a chave ligada, o mecanismo não funciona.
Assim, o que você chama de “percepção do mundo” é somente um processo que acontece nesse “mecanismo” [corpo-mente]. Essa Energia chamada Consciência, Presença, é como a energia elétrica no mecanismo eletrônico — se essa Energia não estiver aí, o mecanismo não funciona. Então, o que você chama de “mundo” é apenas uma percepção dessa Consciência nesse mecanismo. O que você chama de “vida” é apenas um movimento acontecendo para esse mecanismo. Olhe como isso é importante de ser investigado! Não há nenhuma realidade nesse mecanismo em particular, porque ele é parte de toda a experiência do mundo ou da vida.
A Realidade está nessa Energia, nessa Presença ou nessa Consciência. A única Realidade é essa Consciência! No mais, tudo é um jogo de luz e sombra, aparições fenomênicas bastante superficiais. Você dá muita importância à sua história pessoal, mas não há história pessoal nenhuma, porque não existe “pessoa”, não existe “indivíduo”, não existe “entidade”, não existe “alguém” nisso; é só o mecanismo. Eu sei que isso é muito frustrante, porque você nunca irá se tornar um ser espiritual evoluído, diferente dos demais, já que não existem “os demais”, como não existe “você”. Só há essa Energia, essa Consciência, essa Presença, que vamos chamar de Deus, a única Realidade.
A única Vida Real que anima esse corpo, essa mente, é Isso que transcende os sentidos, o próprio corpo, a mente, enfim, transcende tudo! Esse Poder Único é essa Consciência. Só esse Poder está presente. Você não é quem acredita ser! O Silêncio, a Verdade, a Consciência é esse Poder, é essa “Eletricidade” que faz todos os mecanismos funcionarem. Na verdade, esses mecanismos são somente ideias, não têm realidade separada desse Poder, dessa Consciência. Esse grande Poder, de forma mágica, une as células feminina e masculina e, então, esse mecanismo chamado “corpo humano” aparece. Isso é somente uma aparição mágica desse único Poder.
Eu tenho falado isso para você, nesses encontros: o mundo não tem maior realidade do que o sonho que você tem à noite. O seu estado de vigília não é mais real do que o seu estado de sonho, nem é maior em significado, em importância. Eles têm a mesmíssima qualidade! Não tem nada acontecendo no seu estado de vigília que seja mais importante do que aquilo que acontece no seu estado de sonho. É tudo igual!
O que eu estou dizendo é que o seu corpo está “morto”. Tudo o que você está vendo à sua volta está “morto”. A única Vida é essa Presença, esse Poder. Então, todas as suas preocupações são completamente inúteis! Tudo que tem que acontecer, acontecerá! Tudo que não tem que acontecer, não acontecerá! Tudo já é como tem que ser, ou será como tiver que ser, e nada está fora do lugar! Toda essa confusão aí dentro da sua cabeça é somente um jogo que você quer jogar, mas ele não é seu. Ele lhe causa aflição porque você quer ganhá-lo, mas é um jogo que não é seu, uma vida que não é sua, uma história que não é sua, um nascer, um viver e um morrer que não são seus.
A visão clara disso é a Iluminação, a Autorrealização, a visão do Sábio, da Verdade! Então, se você descobre Isso em si mesmo, todos os seus problemas desaparecem, porque eles só estão presentes quando “você” está presente. É nessa ideia de que “você” está aí que está o problema. Então, seja corajoso! Diga assim: nada é real! Diga comigo: nada é verdade! Não há verdade!
Meu Mestre me mostrou Isso, essa Verdade. Somente a fé no Mestre permite você ver. A mais importante arma que você tem é a fé no Mestre! O mundo é somente um pensamento, a vida é somente um pensamento, assim são seus conflitos, problemas, dilemas, desejos e medos. O despertar do Guru interno, do Mestre interno, da Presença, da Verdade acontece quando você descobre o que é viver em Si mesmo, em sua Verdadeira Natureza, em seu Ser. Na visão de um Ser Realizado, Daquele que está assentado na Sua Natureza Real, nada está separado do Ser, da Consciência.
Não importa se o que você tem em seu dedo seja uma aliança ou o que sua esposa tem nas orelhas sejam brincos. Se esses objetos são feitos de ouro, esta é a natureza deles. A forma que eles têm no momento não tem importância, pois os brincos e a aliança podem ser derretidos, mas o ouro permanece. Eles podem tomar uma outra forma, mas o ouro continua sendo ouro. Da mesma forma, a Natureza da Realidade é Deus. Só há essa Natureza, só há essa Realidade! Esse objeto que você chama de “vida humana” não tem importância. Essa é a visão de um Ser Realizado! Enquanto Ele está vendo ouro, você está vendo a aliança, o brinco. Enquanto você está se preocupando com as formas e com os nomes, o Sábio está olhando para a Natureza Essencial das aparições.
O que eu estou dizendo é que a mente não é a causa do mundo; que as formas, os nomes e as aparições não são a base do mundo. A base do mundo, da vida, é algo que transcende as formas, o mundo, a vida. Seu problema fundamental é a ilusão de que “você” está aí, controlando, fazendo, resolvendo, decidindo, se ocupando, se preocupando… Não há rendição, entrega, confiança nessa Realidade que sustenta toda a existência. Então, você se mantém em apuros, com problemas. A Verdade final é que nada acontece ou está acontecendo, ou seja, nada é verdadeiro. A Verdade final é que não existe final, nem início. Você pensa em termos de eventos acontecendo no tempo: 50 anos atrás, 100 anos atrás, ou duas horas atrás, mas isso é só imaginação. Não existe nada como “o tempo em que as coisas aconteceram” ou “o tempo em que as coisas acontecerão”.
Agora há pouco eu disse: “O que tiver que acontecer, acontecerá, e o que não tiver que acontecer, não acontecerá”. Contudo, eu não estou dizendo absolutamente nada com essas frases, porque nada, de fato, está acontecendo, aconteceu ou acontecerá. Há somente essa Energia se movendo ou produzindo um movimento, o que é só um jogo dentro dessa chamada “percepção particular” que você acredita ter. Na verdade, isso é somente uma ficção também, uma imaginação. Não pense sobre isso, permaneça sem pensar e essa será a soma total da Realidade. Todo pensamento é uma fraude, toda ideia é só uma imaginação acontecendo, uma imagem em movimento. Então, o que você chama de “mente” é só uma fábrica de ilusões.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 21 de Agosto de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar como participar, clique aqui .

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O Oceano indescritível de Plena Felicidade

Como olhar, ouvir, sentir? Como pensar? Como lidar com aquilo que se apresenta? O que fazemos nesses encontros é descobrir como sair desse modelo, o antigo modelo pessoal. Através de conclusões, você está sempre limitando a percepção do que é. O que é, é muito vasto, amplo, profundo, mas você assume uma conclusão sobre isso, sobre a situação, circunstância ou aparecimento. Então, você se coloca dentro de uma limitação, porque sua ótica, visão, é toda pessoal.
Isso explica a infelicidade. Por exemplo, tudo que nasce, morre. Mas, quem aceita a morte? Todos os seres sencientes, todos os seres vivos, tudo que tem vida biológica morre (digo “vida biológica” porque, talvez, você não aceite que tudo seja a Vida se expressando). Tudo que é vivo, cresce, envelhece e morre. Entretanto, a natureza é muito caprichosa e, às vezes, antes de envelhecer, um ser vivo sofre um acidente e morre. Nem sempre o ciclo se completa.
Mas, você sabe o que acontece? A sua mente está treinada a não acolher o que é. Então, você não aceita a doença, não aceita o acidente, nem aceita a velhice e a morte. Estou lhe dando somente um exemplo de como você se comporta quando pensa, decide, tem conclusões sobre como a Vida é. Porém, a Vida não é como a mente conclui e deseja. A mente tem uma imagem de permanência, de segurança, de controle, mas a Vida é Real, não está no imaginário. Ela está no mistério, no desconhecido, e não está dando satisfações a ninguém, pois não tem ninguém para Ela.
Então, se eu pudesse lhe dar um conselho, seria: deixe as coisas como estão! Não se meta nos assuntos divinos! Todos são assuntos de Deus! A Vida é esse assunto de Deus! Então, não se agarre a conclusões, não se apaixone por objetos. Apaixone-se somente pela Vida, pela manifestação da Vida, não pelos objetos onde a Vida se manifesta. Reparem que há uma diferença. O Sábio está em Amor com a Vida, mas não está preso aos objetos onde a Vida se manifesta.
Porque a Vida é esse movimento misterioso, Ela está manifesta em um objeto, mas depois Ela o deixa e permanece em outro. Então, você diz que o primeiro morreu e o segundo está vivo. Isso também é somente uma conclusão. A Vida está se manifestando em outra forma, mas você está vivendo na mente, então, está se apaixonando por objetos. Você chama isso de amor, mas isso é sofrimento, ilusão, não há Verdade nisso.
Então, deixe tudo solto! Isso só é possível quando se está sem conclusões, sem ideias sobre o certo e o errado, sem esse “eu gosto disso”, “eu não gosto daquilo”. Você não precisa de nenhum tempo para essa Liberdade. Você tem um insight... Sabem o que é um insight? No Zen, eles chamam de Satori. É quando estou falando alguma coisa aqui e você sente, sabe, percebe e diz “eu sei do que ele está falando!”. Não é um entendimento intelectual, o que não serve para nada. Um insight é uma percepção direta!
Se você trabalha consertando relógios ou carros, você precisa entender intelectualmente como o mecanismo de um relógio funciona ou a mecânica de um automóvel. O entendimento intelectual é importante em algumas áreas, mas no que diz respeito à Consciência somente a “intuição” é necessária. Eu uso com muito cuidado a palavra “intuição", pois não estou falando do que os místicos e esotéricos chamam de intuição. Intuição é Satori, é esse insight, é essa percepção fora da mente, essa Consciência da Realidade sobre o que está aqui e agora.
Então, quando você sabe do que estou tratando aqui, não sentimentalmente ou intelectualmente, na imaginação, mas no Silêncio, no direto Silêncio dessa Percepção não verbal, isso é Satori. Assim, algo aí dentro diz “ah!”, mas você está fora da mente, das conclusões, da imaginação, das ideias. Portanto, o ponto aqui sempre é esse: permaneça em seu Ser! Permaneça fora da mente! Não dê espaço para esse modelo de pensamento que se repete! Dessa forma, você está sempre aqui e agora, novo, fresco, ímpar, sem história. Isso é estar fora do relato, fora da descrição. História é descrição. A Vida não carrega história. A história é uma coisa morta, é uma descrição de um acontecimento no passado. Aqui, neste instante, neste presente momento, não há história. Nunca há história!
As pessoas falam de amor eterno, mas frases assim são completamente absurdas. Se é Amor, não é eterno e, se é eterno, não é Amor. Somos socialmente criados para a mediocridade. Então, na mente, você está reproduzindo a cultura da mentira, da ilusão. A saudade chamamos de “amor eterno”, e a falta, a carência, nós chamamos de “amor”. Quando há Amor, só há Amor, não há objetos e, como não há imagens, não há história. Então, como não há tempo, não pode ser eterno ou não eterno. O Amor é atemporal, não está atrelado a objetos, nem a imagens e formas. O Amor não tem nenhuma relação com histórias e não pode ser descrito.
Temos apenas uma “coisa” aqui – Aquilo que é indescritível, inominável, sem história! Isso é Meditação! Então, não faça mais nada! Permaneça em Silêncio! Permaneça desidentificado de formas, nomes, imagens, pensamentos. Isso é Samadhi, o Estado Natural. Assim, os pássaros podem ser ouvidos, pois nenhum pensamento interrompe os seus cantos. Eles estão cantando quando não há pensamentos, imagens, história. Quando não existem objetos capturando sua atenção enquanto os pássaros cantam, eles não estão lá fora nem aí dentro; eles apenas cantam... O dentro e o fora desaparecem! Isso é Meditação! “Você” não está e, quando “você” não está, o Buda está, o Cristo está. Agora, jogue fora a palavra “Buda”, a palavra “Cristo”, a palavra “Deus”, a expressão “Puro Ser”. Jogue tudo fora! Permaneça aí!
Agora você sabe do que eu estou falando e, quando sabe do que estou falando, já não tem mais “alguém” falando, já não tem Mestre, já não tem discípulo. Essa é a Verdade! Também não existe Buda e, se encontrá-lo, você “corta a cabeça dele”! Acabamos de fazer isso. “Cortar a cabeça” do Buda é estar aqui na Verdade Última, quando você sabe que não existe Mestre nem discípulo; que não existe dentro ou fora, sabedoria ou ignorância, ilusão ou verdade. Está tudo no lugar, absolutamente tudo no lugar! Isso é Felicidade, que é quando não se espera mais nada, nada mais se busca, se procura, não há mais desejo, medo, passado, futuro. O futuro vem com o desejo, e o passado vem com a história. O que foi não é, o que é não foi, o que é não será, o que será não é, e aqui está tudo!
As pessoas querem uma prática, mas não recomendo práticas. Minha recomendação é: Desista! Pare! Vejam como isso é simples. Você está tão habituado a se movimentar… E não faz isso só fisicamente, faz mais do que tudo psicologicamente. Então, embora o corpo esteja parado, você está em sua família. Mas não tem família aqui! Você “se movimenta” para o seu filho, para os seus pais... Eu estou dizendo: Pare! Permaneça aqui! Sem família, sem som interno. Assim, você pode ouvir o pássaro, pode ouvir essa voz, a qual você não sabe se está vindo de fora ou de dentro, pois o dentro e o fora desapareceram. A voz não interrompe o Silêncio, assim como o pássaro cantando. Isso porque a voz é o Silêncio, o canto do pássaro é o Silêncio, Você é o Silêncio!
Em alguns momentos da sua vida, você “arranhou” a Felicidade, deu um pequeno arranhão no Oceano indescritível de plena Felicidade. Você nem conseguiu cortar fundo, foi somente um pequeno arranhão. Nesses momentos, “você” desapareceu, não estava lá. Depois a mente voltou e disse: “O que foi aquilo?”. Não havia medidas para aquela alegria, completude, liberdade... Então, você foi buscando adjetivos. Estou dizendo que você apenas “arranhou” a Felicidade, e só conseguiu isso quando não estava presente.
Samadhi é estar mergulhado nesse Oceano de Bem-aventurança e Felicidade, e não ter dado nele um breve “arranhão”. Samadhi é ter desaparecido! É como a gota que cai no oceano e você não consegue mais distinguir o que é oceano e gota. Esse é o sentido da Existência – Samadhi, Suprema Beatitude, Suprema Bem-Aventurança! Isso está presente quando você não está, quando seus olhos são os olhos de Deus. Sabe como Deus olha? É como Você olha quando “você” não está. Você encontra esse olhar quando, de relance, olha para um bebê. Em nosso tempo de relógio, dura uns 2 segundos. São 2 segundos nos quais você não está aprisionado, porque “você” não está. Naquele instante, você não é prisioneiro do tempo. Você está no Amor atemporal e não há mediocridade, limitação. Em seu Ser, não há limitação! Você é Deus o tempo todo!
Então, renda-se! Renda-se! Deus é a única Realidade em seu Ser! Isso é Deus! O coração bate, o pássaro canta e você ouve o som. Não se preocupe com sua vida, porque não há a “sua vida”. A “sua vida” é a Vida de Deus! Só há Deus em toda parte, em tudo! Esse entendimento é Samadhi. Minha compreensão sobre a Vida é que Você é Deus. Eu só vejo Deus! Não lute com seus pensamentos, com suas emoções, sentimentos, percepções. Não lute! Viva somente nessa desidentificação. É tão simples! Por que você transforma isso em algo tão difícil? Por que você vive nos seus apegos? Seu Amor é Deus! Eu decidi viver somente esse Amor. Meu Guru me mostrou esse Amor.
Qual é a sua necessidade real? Se o seu coração estiver cheio de Deus, não há necessidade, porque não há medo, desejo, conflito e apego. Você entende? Se você quer ser livre, seja! Bem aqui e agora! Esse é um Oceano de Felicidade! Esse Oceano belo está aberto para você! Meu Guru me mostrou o que é a Real Meditação. Meditação é a chave! Por favor, escute cuidadosamente: a Real Meditação é a chave! A chave mestra! Todas as portas são abertas com essa chave! Ela abrirá a porta da Sabedoria, a porta da Inteligência, a porta do Amor, a porta do Silêncio, a porta da Felicidade. Uma única chave é suficiente e, então, Você está no Céu. E não me refiro a um céu em oposição ao inferno. Estou falando sobre um Céu que não tem oposto – o Reino de Deus, e Isso está dentro de Você. Então, tudo que você precisa dizer é: “Meu Amado Deus, minha vida é sua!”
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro no Ramanashram Gualberto na cidade de Campos do Jordão – SP, em 31 de Março de 2018 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Não há nada e ninguém lá fora

Em geral, o ser humano vive uma vida muito superficial e com uma interna necessidade, que é um anseio pela Paz. Essa é uma porta interna, mas ela parece oculta para a grande maioria das pessoas, pois seus interesses são muito superficiais. Nossa educação, nossa formação, desde criança, é voltada para a exterioridade, para a vida do “ganha-pão”: estudar, formar-se, trabalhar, constituir família... E os filhos seguem esse mesmo formato. Nós morremos, mas deixamos nossos filhos seguindo o mesmo modelo.
Essa necessidade interna de Paz, de Consciência, é ocultada pela superficialidade do condicionamento social, do modelo cultural no qual fomos educados e inseridos. Assim, você não sabe da possibilidade de ir além dessa superficialidade. Você casa cinco vezes para encontrar um amor! Se conseguir viver mais tempo, você casa mais duas ou três vezes! Nessa superficialidade, a promessa é de que você vai encontrar alguma coisa do lado de fora, mas não encontra nunca! Essa “coisa” prometida é o amor, a paz, a felicidade, sempre do lado de fora.
A questão é: quem é você? Você não se pergunta isso, porque já tem por certo quem você é. Você acredita que é o que a sociedade, o mundo e a cultura dizem que você é. Assim, você pode chegar somente onde a sociedade, a cultura, diz que você pode. Na verdade, ela diz que você tem que ir para algum lugar e, dessa forma, você tenta ir para o lugar que ela indica. Porém, quanto mais você caminha, mais se afasta de Si mesmo. Isso porque, quando você não se conhece, quando seu conhecimento sobre si mesmo é apenas com base no que o pensamento diz, você continua alheio, alienado da Verdade de quem, de fato, Você é.
Há dentro de cada um esse anseio por algo maior do que essa vida comum. Estamos aqui diante de algo que não pode ser forçado sobre o outro. Eu falo desse tremendo anseio pelo autodescobrimento, e isso é algo que vem pela inquirição, pela investigação, quando você sai do pensamento tradicional e se volta para inquirir sobre si mesmo, para perguntar o que é isso, quem é você. Isso não ocorre porque outro lhe diz para perguntar o que você é, é algo que surge dentro de você. Você deve ser como um cientista: curioso. Mas, seu laboratório não é externo, é interno. Você deve inquirir, exatamente como um cientista, sobre sua vida e, aqui, o laboratório é a sua própria vida.
Dessa forma, é possível Despertar para a Verdade sobre Si mesmo. Quando Ela está presente, não há mais confusão, há uma completa rendição a essa Percepção, e isso é fundamental. Isso é algo que depende de como você compreende a questão de quanto o sofrimento é algo absurdo na sua vida, o quanto é estúpido viver em sofrimento. É por isso que esse Despertar não é para a maioria, pois ela ainda está dormindo quanto a esse respeito, não tem nenhum interesse. É uma espécie de estado de conformação e todos são unânimes em aceitar esse modelo.
Quando eu era criança, o que era mais importante para mim eram aqueles momentos nos quais eu podia ficar desconfiado de que tinha algo que não se encaixava. Eram nesses momentos que eu sentia a falta de uma totalidade, de uma completude. A minha vida foi assim, em meio a orações para que Deus se revelasse, porque fui ensinado, quando criança, que Deus era real, que Ele era a resposta para qualquer aflição e confusão humana. Então, havia essa busca. Quando eu estava com 24 anos, algo aconteceu: houve o aparecimento da Presença do meu Mestre, meu Guru. Isso produziu dinamismo para eu explorar mais profundamente o que havia de errado, o que estava faltando aqui.
Você precisa ter uma certa maturidade e, quando isso está presente, você é atraído para a Verdade, pela Verdade, para esse encontro que você precisa ter Consigo mesmo, com Aquilo que você traz aí dentro. Por isso, ninguém pode, e nem precisa, ensinar-lhe algo sobre Isso, porque já está aí. É como uma criança que, quando sai do útero, já sai procurando a sua mais vital experiência: o peito da mãe para mamar. Ninguém precisa ensinar isso para a criança. Há dentro do homem um anelo pela Verdade e, quando ele está nessa maturidade, esse anelo cresce de uma maneira tão grande que ele não suporta mais viver sem essa Realidade; é quando o bebê vai buscar o peito da mãe para poder se alimentar.
Esse é o anelo que você tem, aí dentro, pela Verdade. Você pode dar qualquer nome para Isso: Verdade, Deus, Presença, Consciência, porque Isso não tem nome mesmo! É “algo” além dessa sua vida medíocre. Alguns se atentam para isso mais cedo, outros mais tarde, mas você vai ter que se atentar para isso em algum momento, porque você não pode viver longe do “seio da sua mãe”. Você não tem como “se nutrir”, “se alimentar”, ou seja, não tem como continuar tendo uma vida sem Isso!
Não há possibilidade de Liberdade, Paz, Amor e Felicidade se não há Vida, e não há Vida sem a Verdade. Esse “ensinamento” é sem ensino, porque Isso não é ensinável. É um “ensinamento” apontando para O que não pode ser ensinado. É uma questão de Despertar! Então, você se torna mais e mais ciente, mais e mais consciente, e vai além da mente egoica, do sentido de um “eu” separado; além dessas questões do “sonho”: as questões sociais, econômicas, filosóficas, espirituais, políticas... Você está além disso, da ilusão de ter nascido como brasileiro, americano ou alemão, além dessa noção de ser uma pessoa com uma herança genética e cultural. Você Acorda e, então, é um Sábio! Essa é a sua Natureza, a Natureza de Deus, da Verdade, da Consciência, da Realidade.
Não é isso? Se não é isso, você fica preso a essas questões de justiça, injustiça, no campo da ética, da moral, da política, da religião, no terreno da cultura. Estou falando da Realização da Felicidade, da Realização de sua Divina e Essencial Natureza, Daquilo que outros, antes de você, realizaram um dia, e também falaram dessa “porta”. Ela não é uma porta fechada, é uma porta aberta! É somente como se estivesse oculta da grande massa, porque a maioria não tem interesse em investigar isso, ainda não tem maturidade para isso.
Esses antigos padrões são os modelos que você herda da sociedade, do mundo à sua volta, em que todos, absolutamente todos, estão presos a essa dualidade entre o certo e o errado, o justo e o injusto… Assim, você tem questões a respeito de quem deve ganhar a copa do mundo, quem deve ser o próximo presidente, quem deve resolver as questões nessa ou naquela área... Você fica preso a isso, como se isso fosse a sua realidade, mas é somente o “sonho” que o pensamento constrói sobre o mundo à sua volta, que, na verdade, nem está à sua volta, está somente dentro da sua cabeça. Porém, ninguém nunca lhe informou nada sobre isso, até porque você não tinha interesse em ouvir nada disso. Agora, você está se voltando para se perguntar “quem sou eu?”, que é algo novo, um momento novo. Assim, você se torna mais e mais presente para saber quem Você é. Meu Mestre me mostrou Isso.
Você precisa descobrir que o sofrimento é uma ideia baseada no pensamento, na crença desse falso “eu”. Você está muito apegado a essa suposta identidade, que você acredita ser, e aí está o que sustenta toda a ilusão da sua vida, todos os problemas que você já teve e terá na vida (teve porque estava “dormindo” e terá somente se não “acordar”).
Essa falsa identificação com o corpo e a mente é o seu problema. Quando você tem essa Compreensão, isso se torna uma real e nova direção para sua Vida, porque agora Ela é Real, não é mais a vida dada pela sociedade, pela cultura, pelo mundo, pelos padres, pelos políticos, pelas ideologias e crenças, todas elas baseadas no conceito de dualidade (o que é e o que não é; certo e errado; verdadeiro e falso; bom e mau). Você não é um conceito nem uma crença, é algo maior do que tudo isso. Você é Deus! Você é essa Presença, essa Realidade!
Essa é a constatação quando você adentra por essa “porta” que, até então, parecia não existir ou estar oculta. Por isso que Jesus Cristo um dia disse: “Eu Sou a porta”. Ele estava falando dessa “porta”! Ele se referia a Cristo, que é a sua Realidade interna. Quando ele dizia “Eu Sou”, estava falando desse “Eu Sou” que Você é, dessa mesma Realidade, porque há somente uma Realidade em toda a manifestação, que é esse “Eu Sou”... “Eu Sou a Porta”. Então, eu fiquei sabendo... Eu conheci a Mim mesmo acontecendo neste momento, não como um conceito, mas como um Ser sem localização.
Você compreende isso? A Constatação da Verdade sobre Isso que Você é, é a Compreensão da não localização, da inexistência de tempo e espaço. Você é a própria Realidade do Cristo, de Deus, da Verdade. Não é a Realidade somente de Jiddu Krishnamurti, Eckhart Tolle, Ramana Maharshi, Buda e Jesus de Nazaré; é a sua Realidade! É Você! Isso não é uma crença, um nome, uma forma ou uma história.
Quando você tem a Verdade presente, essa autoimagem se dissolve, a história de autoimportância cai, e tudo é acolhido nessa única Realidade que Você é, nessa Consciência, que é Deus. Assim, não há mais a acepção de pessoas, porque não há mais “pessoas”. Não há mais medo de pessoas, porque não há mais “pessoa” em lugar nenhum! Não há mais frustração, decepção nem encanto com o externo. Então, ninguém vai lhe dar mais Amor do que O que Você é aqui e agora, ninguém vai lhe dar mais Paz do que Isso que já está aqui e agora, porque nada Disso vem nem virá de fora. Não tem nada lá fora!
Quem disse para você que tem alguma coisa lá fora? Não tem nada lá fora! Então, a Felicidade não virá por trocar o seu carro por um modelo 2019. Você não precisa de um carro, de uma casa maior ou um novo apartamento, nem de uma nova namorada, um novo casamento, ou de mais filhos... Você não precisa de mais! Meu Mestre me mostrou isso! Então, tudo, absolutamente tudo, foi percebido de uma forma nova. Uma completa mudança está presente nessa Constatação da Verdade sobre O que Você é.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 01 de Junho de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui .

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