Todos os conflitos são sinais de resistência à vida. Conflito na vida é resistência à vida. A vida em conflito é sinal do sentido de alguém presente nesse experimentar. A vida, em si, não carrega conflito; a pessoa, em si, não vive sem conflito. Esse alguém a experimentar é a pessoa. Todas as vezes que você se deparar com a vida, você não terá conflito se não houver resistência. Quando não há resistência, não há conflito, quando, então, você é a própria vida. Mas todas as vezes que você se deparar com a vida e houver conflito, você é o conflito nessa vida pessoal.
O sinal do conflito é a presença da pessoa. Esse sentido de ser e ter é o que cria essa mente, esse “eu”, esse “mim mesmo”. Esse é o sentido da vida que jamais deixa de carregar conflito, porque você estará lá sempre resistindo ao que É, àquilo que acontece. A primeira coisa é que nada está acontecendo porque você está presente. Tudo que parece acontecer é só a vida se expressando, e a vida não é pessoal. Não é essa presença desse “você” que determina as coisas que acontecem, ou que as controla, ou que as pode mudar. Essa presença desse “você” é a resistência, é a ilusão de uma vida pessoal na Vida única, na única Realidade que é a Vida como ela é.
A ciência, ou a arte da felicidade, que é viver sem conflito, é “viver a vida” como ela é! Isso significa uma profunda confiança naquilo que acontece, como sendo Deus acontecendo, a Vida acontecendo, a Verdade acontecendo. Isso significa não ser importante, o que significa não resistir, não ser pessoal, não ser o experimentador nessa experiência que é a vida. Todas as vezes que você estiver sofrendo, é porque há a ilusão de alguém presente podendo bater de frente ou confrontar com aquilo que a vida manifesta, com aquilo que a vida é, com Aquilo que É!
Não há nenhum sofrimento, não há nenhum conflito, não há nenhum problema quando não há resistência, que é quando não há o “eu”, que é quando não há essa mente egoica, que é quando não há esse movimento separatista que cria essa dualidade: eu e a vida; eu e aquilo que acontece. Nessa separação você tem o conflito, porque nessa separação você tem a resistência.
Viver sem ego é simples; viver no ego é que é complicado! Viver no ego requer muita coisa! Para ser feliz, basta Ser! Para ser infeliz, basta ter qualquer coisa: ideias, crenças, conclusões, opiniões, julgamentos, comparações, coisas, pessoas... Resistência! Você não precisa de nada para ser feliz, porque ser feliz é a sua natureza como Ser. Agora, você precisa de qualquer coisa para ser infeliz, porque essa não é sua natureza como Ser. É a natureza da mente dualista, é a natureza da mente ilusória, é a natureza do sentido de alguém presente, tentando ajustar, consertar, reformar, controlar, determinar…
Não é simples isso?
O que é que você espera? O que você espera é a ilusão; estar nessa separação entre você e o que vai acontecer. Essa ilusão é o conflito. Isso é ser uma “pessoa”, o que, basicamente, é uma ilusão, porque não há pessoa. É só um movimento de pensamentos com o qual você se confunde, de crenças com as quais você se identifica, de opiniões, julgamentos e desejos com os quais você se identifica. Você passa a existir separado para “ser alguém” e, é claro, para sofrer. Ego não pode viver sem isso! É por isso que encontro poucos interessados no que tenho para compartilhar, porque todos querem “ser alguém”. Todos querem ter, alcançar ou realizar algo. Todos querem resistir, como se estivesse faltando alguma coisa agora! Como se estivesse faltando o controle, ou aquela coisa, ou aquela outra, ou aquele lugar, ou aquela… para serem felizes. A mente, o ego, cria isso: essa ilusão da pessoa que precisa de algo.
Está claro isso?
No dia em que não houver mais essa imaturidade aí, esse posicionamento baseado no desejo de ser algo, de ter algo, de fazer algo, ou de poder realizar algo, de chegar a algum lugar, de chegar a alguma coisa... No dia em que isso não estiver mais presente, pronto! Aí a existência toda se derrama e nada mais lhe falta. Nada mais lhe falta quando você não deseja. Na verdade, a única forma de você ser verdadeiramente milionário, multimilionário, é não desejar nada, porque nada lhe falta. A maneira de ser pobre e profundamente miserável é ter desejos. Os pobres querem ser ricos, os ricos querem ser milionários e os milionários querem ser multimilionários. Todos são pobres! Nessa resistência, a pobreza se mantém. A pobreza é essa miséria dessa alienação de sua verdadeira natureza, que é Riqueza, Plenitude, Completude, Felicidade. Essa alienação é a verdadeira miséria, é a verdadeira pobreza, e ela se encontra em cima dessa resistência.
O que está faltando? Qualquer coisa que esteja faltando o torna miserável. Qualquer coisa! Não importa o quanto milionário, bilionário, você seja. Se tem algo faltando, você continua pobre, continua um pedinte. Mas se você não tem desejos, você é um príncipe, você é um rei.
Buda andava como um rei depois que deixou tudo, toda sua riqueza, os seus três palácios... Tudo! Era toda essa sua riqueza que o tornava miserável! Depois que ele abriu mão de tudo, de toda sua riqueza e não era mais rei, não tinha mais três palácios, não tinha mais reconhecimento público como rei, ele, então, se tornou um rei. Quando “acordou”, quando foi além do desejo, ele andou e viveu como um rei. Buda foi assim: viveu como um rei!
Ramana Maharshi também viveu como um rei. Teve um período de sua vida em que ele pedia comida em todas as casas. Ele disse que passou por todas as ruas de Tiruvannamalai, que, na época, era uma cidade muito pequena. Ele não repetia as casas. Ele ia em uma casa e pegava uma refeição; o que dessem para ele, ele comia. Era um rei! Não tinha outra necessidade, não havia nenhum outro desejo! Foi um período em que ele viveu como um sadhu, mas já não era um sadhu, era um sábio! Aí, depois da refeição, voltava para a gruta lá na montanha.
Jesus também! Uma vez, ele disse: “As raposas têm covis e as aves têm ninhos, mas o filho do homem não tem nem onde reclinar a cabeça”. Mas ele viveu como um rei! Em outra ocasião, quando Pilatos lhe perguntou se ele era um rei, Jesus respondeu: “Para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar o testemunho da Verdade. O meu reino não é deste mundo”. Ele era um rei!
Quando você é um Buda, quando você é O que Você É, você é um rei! Quando você acredita na mente, quando confia em pensamentos, você esquece que é um rei. Você continua sendo um rei, só que se esquece disso. Você está vivendo fora do reino. Na verdade, a miséria egoica é a ilusão do sentido de ser alguém, não é a verdade do sentido de ser alguém. Não há verdade nisso! Só há essa ilusão, mas ela é muito real para a mente que confia nisso. Por isso, a minha dica para você é: não confie em nenhum pensamento, em absolutamente nenhum! Todo e qualquer pensamento vai aliená-lo desse reino de Suprema Beatitude, de Suprema Liberdade, de Supremo Amor, de Suprema Felicidade. Qualquer pensamento vai fazer você deslizar para a “realidade” do tempo e do espaço, onde a pessoa vive. E pessoa sempre é miséria! Qualquer pensamento em sua cabeça não é real, é só um pensamento. São os pensamentos que criam as necessidades, que criam as crenças, os conceitos, os desejos e os medos.
Está claro isso?
Meu Guru me mostrou isso há muito tempo. Não confie em pensamentos! Se você confia em pensamentos, passa a viver como uma pessoa. Você perde esse seu olhar de realeza, esse seu porte de realeza, esse seu andar de realeza, esse sorriso de realeza, essa compaixão de realeza. Repare que o rei não tem necessidades, então, ele não olha como um pedinte, ele não age como um pedinte, ele não se comporta como um pedinte, não se senta como um pedinte, ele não se vê miserável… Ele é um rei! Ele tem um porte silencioso, majestoso; não é um sofredor… não pode ser um sofredor! Se é um sofredor, não é um rei, é alguém que sente falta de algo.
Buda descobriu isso quando era rei. Ele era um rei desses reis do mundo, um desses multimilionários. Chegou uma hora que, como multimilionário, ele descobriu que ainda estava desejando alguma coisa, ainda estava faltando algo. Então, ele olhou e disse: “Mas eu ainda sou miserável, mesmo tendo tudo! Tem que haver um reino diferente desse, porque nesse reino aqui ainda falta alguma coisa… ainda está faltando algo para mim”.
Quando ele descobriu que podia adoecer, envelhecer e morrer, ele disse: “Não! Será possível que até eu terei que passar por isso?” Então, alguém respondeu para ele: “Sim, majestade. O senhor também irá adoecer, envelhecer e morrer!” Ele disse: “Não é possível! Então, eu não sou um rei de verdade! Eu tenho que descobrir algo além desse envelhecer, adoecer e morrer!” Foi quando ele abriu mão do seu reino, onde ele era multimilionário, e se despiu dessa ilusória riqueza.
Parece que esse é o caminho proposto nessa Realização. Você tem que se despir dessa sua riqueza, dessas suas crenças, opiniões, julgamentos, desejo de controle, de possuir, de dominar, de ter coisas… Parece que você tem que se despir também do seu reino, não é? Você é, de uma certa forma, multimilionário. Um miserável multimilionário! Você tem que se despir de tudo, inclusive da ideia “eu sou o corpo”, “eu sou uma menina”, “eu sou um menino”… Despir-se de tudo atrelado a isso, à ideia, à história desse alguém. Aí você pode entrar no Reino de Deus. Jesus disse: “Quem não deixar tudo que tem, não pode entrar no Reino de Deus!” Ou seja, quem não deixar tudo não pode ser rei dessa Realidade, dessa Verdade, que é o Divino, que é o fim da pobreza, da miséria que toda essa “riqueza” do mundo dá. Um dia, ele disse para um jovem: “Vai, vende tudo que tens, dá aos pobres e me segue!” Diz o texto bíblico que aquele jovem era dono de muitos bens. Ele ficou triste e não quis mais voltar a Satsang. Virou as costas e foi embora. Ele tinha muito a perder. Ou seja, ele tinha a ilusão de que tinha muito!
Não é interessante isso?
Então, o caminho de Buda é o seu caminho; o caminho de Cristo é o seu caminho; o caminho de Ramana Maharshi é o seu caminho. Paradoxalmente, o seu caminho é o seu caminho, não é o caminho deles. O seu reino, do qual você tem que abrir mão, não é o reino que eles tiveram que abrir mão. É o seu reino! E, aqui, não se trata de abrir mão, mas de soltar a ilusão de que há alguém aí. Então, esse reino ilusório cai e o reino real se mostra presente.
Não é simples isso? É simples…
Que fala Divina!!
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