terça-feira, 15 de novembro de 2016

Você só tem este momento

Estar aqui é o objetivo. Por isso, quando você fala “agora eu vou para casa e isto tudo vai desaparecer” não está entendendo o propósito. O propósito deste trabalho é este momento. Você só tem este momento. "Ah... mas hoje é sábado e depois de amanhã é segunda-feira"... “Amanhã” já está na segunda-feira e você não tem como escapar deste momento. Você está comigo para aprender que só há este momento, que é o objetivo, seja agora ou daqui a mil dias. É este momento! Percebem a beleza disso!? Não fará diferença para você, se aprender a ficar neste momento.

O que atrai você a mim é que, quando você se aproxima, eu compartilho este momento. Não há nada para ensinar, aprender, fazer, realizar; nada do que se lamentar ou para buscar. Quando você vem, olha em meus olhos, você me encontra, neste momento. Eu trago você para este momento. Não há nenhum esforço da minha parte, porque este é o único lugar, ou o único espaço, ou o único “não tempo”, em que você está bem. Todas as vezes que você está no tempo, está na ilusão de que está fora deste momento. Quando você está assim, você não está bem, porque não está em seu Estado Natural. O seu Estado Natural é atemporal, fora do tempo; é agora, aqui, já, imediatamente, no presente, no presente momento.

Então, o propósito deste trabalho é o trabalho, assim como o propósito da caminhada é o caminhar. Isto é Meditação, Silêncio, Consciência, Presença! Isto é Deus! Isto é iluminação... Ninguém iluminado, realizado... ninguém.

Você está vendo o que é Meditação? Não é aquela coisa, nada daquilo! Você aprendeu que a Meditação vai lhe dar a iluminação, então você se põe a meditar; torna-se um hábil meditador e fica meditando. Quando está fora da meditação, a mente diz para você: "Vá meditar, porque, um belo dia, um raio vai cair na sua cabeça... Então, continue meditando”; ou diz: "Este é o objetivo da meditação – a iluminação". Mas eu digo que isto não é verdade. Digo que Iluminação é Meditação e Isto só pode ser agora. Quando eu falo Meditação, estou falando sobre a ausência do tempo, do meditador e do objetivo, do propósito. Meditação é Iluminação.

Eu estou em Meditação! Eu nunca saio da Meditação para entrar, de novo, na Meditação! Não! Eu não faço isso! Isso é muito estúpido e significaria sair deste presente momento e entrar na fantasia do tempo, na ilusão do tempo, onde o ego tem um propósito, que é estar sempre no futuro. Quando o ego está presente, não há Meditação e isso é estúpido. Eu sei que isso destrói a sua meditação, mas a sua meditação não é real, pois é, ainda, a meditação de "alguém". Na minha Meditação não tem "você", nem "eu"; não tem ninguém. Então, Meditação é comer sem "alguém"; é falar sem "alguém"; é caminhar sem "alguém"; é ouvir, como agora, sem "alguém".

Vocês me perguntaram ontem "então nós estamos meditando?"

Naturalmente! Claro! Aqui e agora, você está meditando. Você é Meditação, aqui e agora! Olhe para esta menina... Você tem dúvida? Não passa um pensamento. Há uma atenção profunda, relaxada, suave, sem esforço, aqui e agora, que varre todos os pensamentos, medos e todo o passado. Você não se lembra do cachorro, do gato, do filho, de nada, de ninguém. Você está agora, aqui, e este é o propósito... Agora, aqui, significa que não há tempo, então, daqui a mil “amanhãs”, você estará aqui; só pode estar aqui. É muito lindo: não passado, não futuro, não problema, não parentes, não cachorro, não gato, não casa, não... Seus olhos brilham de pura alegria, gratidão, pela existência. Este é o seu Estado Natural! Sat-Chit-Ananda! Felicidade!

O que mais você quer? Do que mais você precisa? Para onde mais você pode ir? Sim, você está completamente certo! Não se mova! Permaneça aqui... aqui! Hoje eu compreendo. Isso é fascinante, indescritível, sem palavras... A beleza de Deus! Permaneça em silêncio e você saberá do que eu estou falando.

Você compreendeu? Isso não requer esforço! Olha o esforço que eu faço!? Eu estou cansado, muito cansado...(risos). Pareço cansado? Eu pareço cansado para vocês? Para ser feliz, para estar em paz, para estar em amor, eu pareço cansado? Você acha que isso é um esforço muito grande para mim? Você acha que é difícil para mim? Amar você, amar tudo à minha volta? Absolutamente! Isto não é difícil para mim. Isto não é difícil para você. É uma questão de foco. É uma questão de foco. Se a mente está nos desejos, nos objetos, sua energia está no tempo. Toda essa energia, que é consciência, está dissipada no movimento da mente egoica. Essa mesma energia, focada, de forma relaxada, descontraída, nesse silêncio... e pronto! Não tem ego. Quando não há ego, só há amor. Amor por tudo, amor por todos. Amor em tudo, amor em todos. Só há amor. Sem ego, não tem você. Tudo é amor, em toda parte. Tudo é Deus. Tudo é Deus. Tudo é Deus!

As pessoas me fazem muitas perguntas e uma delas é essa: "Como permanecer nisso?" Você não tem como sair Disso! Mas, quando fica dando espaço, você cria um espaço artificial para se movimentar no mundo da mente, que são pensamentos, imaginações, desejos, coisas, pessoas, objetos. Então quando cria esse espaço artificial e se perde nisso, você está com problemas. Mas se você não se perde nisso, não há como deixar esse Lugar Real de sua Natureza Verdadeira, que é puro Amor, pura Alegria e Liberdade. Claro isto? O resto é com vocês! Irão se perder algumas vezes... dezenas, centenas, milhares, milhões de vezes... Sem problemas, não tem problema, pois essas vezes estão no tempo, mas você está fora do tempo. A sua vitória é garantida, porque você é o Buda, você é o Cristo, você é o Iluminado, você é Deus! Portanto, não desista! Não desista! Siga em frente! Olhe, olhe de novo, e de novo, e de novo! Não desista! Não pare!

*Transcrito de uma fala ocorrida em Setembro de 2016, no retiro de Tiruvannamalai, Índia.
Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Não confie em pensamentos

Todos os conflitos são sinais de resistência à vida. Conflito na vida é resistência à vida. A vida em conflito é sinal do sentido de alguém presente nesse experimentar. A vida, em si, não carrega conflito; a pessoa, em si, não vive sem conflito. Esse alguém a experimentar é a pessoa. Todas as vezes que você se deparar com a vida, você não terá conflito se não houver resistência. Quando não há resistência, não há conflito, quando, então, você é a própria vida. Mas todas as vezes que você se deparar com a vida e houver conflito, você é o conflito nessa vida pessoal.

O sinal do conflito é a presença da pessoa. Esse sentido de ser e ter é o que cria essa mente, esse “eu”, esse “mim mesmo”. Esse é o sentido da vida que jamais deixa de carregar conflito, porque você estará lá sempre resistindo ao que É, àquilo que acontece. A primeira coisa é que nada está acontecendo porque você está presente. Tudo que parece acontecer é só a vida se expressando, e a vida não é pessoal. Não é essa presença desse “você” que determina as coisas que acontecem, ou que as controla, ou que as pode mudar. Essa presença desse “você” é a resistência, é a ilusão de uma vida pessoal na Vida única, na única Realidade que é a Vida como ela é.

A ciência, ou a arte da felicidade, que é viver sem conflito, é “viver a vida” como ela é! Isso significa uma profunda confiança naquilo que acontece, como sendo Deus acontecendo, a Vida acontecendo, a Verdade acontecendo. Isso significa não ser importante, o que significa não resistir, não ser pessoal, não ser o experimentador nessa experiência que é a vida. Todas as vezes que você estiver sofrendo, é porque há a ilusão de alguém presente podendo bater de frente ou confrontar com aquilo que a vida manifesta, com aquilo que a vida é, com Aquilo que É!

Não há nenhum sofrimento, não há nenhum conflito, não há nenhum problema quando não há resistência, que é quando não há o “eu”, que é quando não há essa mente egoica, que é quando não há esse movimento separatista que cria essa dualidade: eu e a vida; eu e aquilo que acontece. Nessa separação você tem o conflito, porque nessa separação você tem a resistência.

Viver sem ego é simples; viver no ego é que é complicado! Viver no ego requer muita coisa! Para ser feliz, basta Ser! Para ser infeliz, basta ter qualquer coisa: ideias, crenças, conclusões, opiniões, julgamentos, comparações, coisas, pessoas... Resistência! Você não precisa de nada para ser feliz, porque ser feliz é a sua natureza como Ser. Agora, você precisa de qualquer coisa para ser infeliz, porque essa não é sua natureza como Ser. É a natureza da mente dualista, é a natureza da mente ilusória, é a natureza do sentido de alguém presente, tentando ajustar, consertar, reformar, controlar, determinar…

Não é simples isso?

O que é que você espera? O que você espera é a ilusão; estar nessa separação entre você e o que vai acontecer. Essa ilusão é o conflito. Isso é ser uma “pessoa”, o que, basicamente, é uma ilusão, porque não há pessoa. É só um movimento de pensamentos com o qual você se confunde, de crenças com as quais você se identifica, de opiniões, julgamentos e desejos com os quais você se identifica. Você passa a existir separado para “ser alguém” e, é claro, para sofrer. Ego não pode viver sem isso! É por isso que encontro poucos interessados no que tenho para compartilhar, porque todos querem “ser alguém”. Todos querem ter, alcançar ou realizar algo. Todos querem resistir, como se estivesse faltando alguma coisa agora! Como se estivesse faltando o controle, ou aquela coisa, ou aquela outra, ou aquele lugar, ou aquela… para serem felizes. A mente, o ego, cria isso: essa ilusão da pessoa que precisa de algo.

Está claro isso?

No dia em que não houver mais essa imaturidade aí, esse posicionamento baseado no desejo de ser algo, de ter algo, de fazer algo, ou de poder realizar algo, de chegar a algum lugar, de chegar a alguma coisa... No dia em que isso não estiver mais presente, pronto! Aí a existência toda se derrama e nada mais lhe falta. Nada mais lhe falta quando você não deseja. Na verdade, a única forma de você ser verdadeiramente milionário, multimilionário, é não desejar nada, porque nada lhe falta. A maneira de ser pobre e profundamente miserável é ter desejos. Os pobres querem ser ricos, os ricos querem ser milionários e os milionários querem ser multimilionários. Todos são pobres! Nessa resistência, a pobreza se mantém. A pobreza é essa miséria dessa alienação de sua verdadeira natureza, que é Riqueza, Plenitude, Completude, Felicidade. Essa alienação é a verdadeira miséria, é a verdadeira pobreza, e ela se encontra em cima dessa resistência.

O que está faltando? Qualquer coisa que esteja faltando o torna miserável. Qualquer coisa! Não importa o quanto milionário, bilionário, você seja. Se tem algo faltando, você continua pobre, continua um pedinte. Mas se você não tem desejos, você é um príncipe, você é um rei.

Buda andava como um rei depois que deixou tudo, toda sua riqueza, os seus três palácios... Tudo! Era toda essa sua riqueza que o tornava miserável! Depois que ele abriu mão de tudo, de toda sua riqueza e não era mais rei, não tinha mais três palácios, não tinha mais reconhecimento público como rei, ele, então, se tornou um rei. Quando “acordou”, quando foi além do desejo, ele andou e viveu como um rei. Buda foi assim: viveu como um rei!

Ramana Maharshi também viveu como um rei. Teve um período de sua vida em que ele pedia comida em todas as casas. Ele disse que passou por todas as ruas de Tiruvannamalai, que, na época, era uma cidade muito pequena. Ele não repetia as casas. Ele ia em uma casa e pegava uma refeição; o que dessem para ele, ele comia. Era um rei! Não tinha outra necessidade, não havia nenhum outro desejo! Foi um período em que ele viveu como um sadhu, mas já não era um sadhu, era um sábio! Aí, depois da refeição, voltava para a gruta lá na montanha.

Jesus também! Uma vez, ele disse: “As raposas têm covis e as aves têm ninhos, mas o filho do homem não tem nem onde reclinar a cabeça”. Mas ele viveu como um rei! Em outra ocasião, quando Pilatos lhe perguntou se ele era um rei, Jesus respondeu: “Para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar o testemunho da Verdade. O meu reino não é deste mundo”. Ele era um rei!

Quando você é um Buda, quando você é O que Você É, você é um rei! Quando você acredita na mente, quando confia em pensamentos, você esquece que é um rei. Você continua sendo um rei, só que se esquece disso. Você está vivendo fora do reino. Na verdade, a miséria egoica é a ilusão do sentido de ser alguém, não é a verdade do sentido de ser alguém. Não há verdade nisso! Só há essa ilusão, mas ela é muito real para a mente que confia nisso. Por isso, a minha dica para você é: não confie em nenhum pensamento, em absolutamente nenhum! Todo e qualquer pensamento vai aliená-lo desse reino de Suprema Beatitude, de Suprema Liberdade, de Supremo Amor, de Suprema Felicidade. Qualquer pensamento vai fazer você deslizar para a “realidade” do tempo e do espaço, onde a pessoa vive. E pessoa sempre é miséria! Qualquer pensamento em sua cabeça não é real, é só um pensamento. São os pensamentos que criam as necessidades, que criam as crenças, os conceitos, os desejos e os medos.

Está claro isso?

Meu Guru me mostrou isso há muito tempo. Não confie em pensamentos! Se você confia em pensamentos, passa a viver como uma pessoa. Você perde esse seu olhar de realeza, esse seu porte de realeza, esse seu andar de realeza, esse sorriso de realeza, essa compaixão de realeza. Repare que o rei não tem necessidades, então, ele não olha como um pedinte, ele não age como um pedinte, ele não se comporta como um pedinte, não se senta como um pedinte, ele não se vê miserável… Ele é um rei! Ele tem um porte silencioso, majestoso; não é um sofredor… não pode ser um sofredor! Se é um sofredor, não é um rei, é alguém que sente falta de algo.

Buda descobriu isso quando era rei. Ele era um rei desses reis do mundo, um desses multimilionários. Chegou uma hora que, como multimilionário, ele descobriu que ainda estava desejando alguma coisa, ainda estava faltando algo. Então, ele olhou e disse: “Mas eu ainda sou miserável, mesmo tendo tudo! Tem que haver um reino diferente desse, porque nesse reino aqui ainda falta alguma coisa… ainda está faltando algo para mim”.

Quando ele descobriu que podia adoecer, envelhecer e morrer, ele disse: “Não! Será possível que até eu terei que passar por isso?” Então, alguém respondeu para ele: “Sim, majestade. O senhor também irá adoecer, envelhecer e morrer!” Ele disse: “Não é possível! Então, eu não sou um rei de verdade! Eu tenho que descobrir algo além desse envelhecer, adoecer e morrer!” Foi quando ele abriu mão do seu reino, onde ele era multimilionário, e se despiu dessa ilusória riqueza.

Parece que esse é o caminho proposto nessa Realização. Você tem que se despir dessa sua riqueza, dessas suas crenças, opiniões, julgamentos, desejo de controle, de possuir, de dominar, de ter coisas… Parece que você tem que se despir também do seu reino, não é? Você é, de uma certa forma, multimilionário. Um miserável multimilionário! Você tem que se despir de tudo, inclusive da ideia “eu sou o corpo”, “eu sou uma menina”, “eu sou um menino”… Despir-se de tudo atrelado a isso, à ideia, à história desse alguém. Aí você pode entrar no Reino de Deus. Jesus disse: “Quem não deixar tudo que tem, não pode entrar no Reino de Deus!” Ou seja, quem não deixar tudo não pode ser rei dessa Realidade, dessa Verdade, que é o Divino, que é o fim da pobreza, da miséria que toda essa “riqueza” do mundo dá. Um dia, ele disse para um jovem: “Vai, vende tudo que tens, dá aos pobres e me segue!” Diz o texto bíblico que aquele jovem era dono de muitos bens. Ele ficou triste e não quis mais voltar a Satsang. Virou as costas e foi embora. Ele tinha muito a perder. Ou seja, ele tinha a ilusão de que tinha muito!

Não é interessante isso?

Então, o caminho de Buda é o seu caminho; o caminho de Cristo é o seu caminho; o caminho de Ramana Maharshi é o seu caminho. Paradoxalmente, o seu caminho é o seu caminho, não é o caminho deles. O seu reino, do qual você tem que abrir mão, não é o reino que eles tiveram que abrir mão. É o seu reino! E, aqui, não se trata de abrir mão, mas de soltar a ilusão de que há alguém aí. Então, esse reino ilusório cai e o reino real se mostra presente.

Não é simples isso? É simples…

*Transcrição de uma fala ocorrida em setembro de 2016, num encontro presencial, na cidade de Fortaleza/CE. Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Sem simplicidade é impossível

Olá, pessoal! Hoje nós estamos aqui no terraço do hotel, de onde vemos uma das entradas do templo principal daqui de Tiruvannamalai. Essa é a cidade em que Ramana Maharshi veio morar quando tinha 17 anos de idade, após o Despertar.

Ouvindo uma conversa entre os seus parentes, ele descobriu que a montanha de Arunachala estava nesta cidade. O nome ficava voltando para ele, até que ele descobriu que esse nome se tratava exatamente desta montanha. Ele achava que era um lugar celestial, que não havia esse lugar na Terra. E, agora, nós estamos aqui na Índia, visitando todos os dias esta montanha. É uma montanha sagrada! Essa montanha é um desses espaços geográficos misteriosos. Por que a Graça faz assim? Ninguém sabe. A Graça separou esse lugar, onde muitos, por vários anos, têm realizado Deus. E aqui estamos nós, nesse mesmo espaço, visitando o Ramanashram e os edifícios construídos à sua volta, tendo sua maior parte sido construída após Ramana ter deixado a forma física.

Aqueles que têm a oportunidade, concedida pela Graça, de vir a esse lugar, são trazidos por Shiva, pela Presença de Deus. Há algo em você que é Arunachala; há algo em você que é essa Presença; há algo em você que reconhece essa Presença.

Há uma inquietude em todos, que só termina quando essa Realização se assenta. Essa procura pelo Divino, essa busca por Deus, é uma coisa paradoxal. Todos têm um movimento de busca, mas alguns estão buscando Isso no prazer, em toda forma de realização pessoal: no dinheiro, no conforto material, no sexo e tudo o mais que vocês conhecem. Porém, tudo isso ainda é uma busca por Deus, é uma busca pelo Divino, porque é uma busca pela Felicidade, pelo Descanso, pela Liberdade, pela Paz, pelo Silêncio, pela Consciência. Ainda é uma busca por Deus, pois só Deus traz Quietude, só Deus traz Descanso. Só a Verdade é Silêncio, é Paz, é Felicidade.

Mas a mente não aceita isso, então ela vai buscar Deus nas coisas do lado de fora. Ela vai buscar a Verdade no conhecimento; vai buscar a Alegria no prazer; vai buscar Realização no sucesso econômico, no sucesso financeiro; vai buscar o Amor nos relacionamentos. Então, a mente faz tudo do jeito dela. O problema não está na busca, o problema está no equívoco da ilusão de alguém na busca. Esse “alguém” é a ilusão de uma identidade presente, que acredita ser capaz de realizar Isso. Mas a busca é algo natural; não há nenhum problema nela.

A questão é: quem está nessa busca? Quando você vem a Satsang, eu lhe mostro que a busca não é necessária. A busca mantém, sustenta, estabiliza, fortalece a ideia de um buscador. Então, a busca não é necessária. É necessário que a busca termine! Acabei de dizer que a busca não é o problema e agora estou dizendo que a busca é um sério problema. Compreendem isso? Deixem-me tentar tornar isso mais claro.

A minha proposta a você é para que permaneça quieto, para que pare de buscar. Contudo, se você parar de buscar e não ficar verdadeiramente quieto, e, mesmo assim, acreditar que a busca tenha terminado, a sua situação será bem pior do que a situação daquele que ainda estiver buscando. Compreendem a diferença? Eu posso simplesmente ouvir que a busca não é necessária e achar isso muito bonito, porque eu escuto os sábios todos dizendo isso... Eles dizem: “Pare de buscar!” Aí, eu paro completamente. Não quero mais saber de ir ao templo, de rezar, não quero mais saber de guru, de sadhana, não quero receber upadesa… Agora, eu digo: “Eu não preciso mais disso. Eu não preciso de nada disso. Eu sou a Consciência, eu sou a Verdade, eu sou o Buda”. Mas é o ego dizendo isso. Ainda é a velha mente dizendo: “Eu não preciso de mais nada”. Aí, eu começo a citar Buda: “Buda um dia disse: 'Seja uma luz para si mesmo'. Não dependa de nada! Não dependa de ninguém!” Buda é um mestre antigo, que disse essa coisa. Então, eu deixo ele de lado e cito um mestre mais recente – um mestre que faz a figurinha de mestre dizendo que você não precisa de mestre, e, no entanto, ele mesmo está ensinando. Aí, ele diz: “Eu não sou um mestre. Não siga nenhum mestre, mas eu estou aqui. Todas as vezes que você entrar por essas portas, você vai ouvir a minha fala. Eu não sou um mestre, mas tenho muita coisa para lhe dizer”.

Compreendem o que eu quero dizer? Compreendem o truque? Uma grande brincadeira divina. Não estou dizendo que isso está certo nem que isso está errado. Eu estou dizendo que Deus está brincando, brincando com vocês, brincando com todos nós.

Portanto, se eu repito como um papagaio a não necessidade da busca, a não necessidade do guru, porque eu aprendi isso, porque eu decorei isso, então isso, agora, é apenas parte de um condicionamento novo. Tudo continua da mesma forma. “Eu não necessito de um guru; eu não necessito de um ensino; eu não necessito de busca...” E agora? O que acontece? Nada. Absolutamente nada. Essa é uma outra ilusão, uma ilusão nova… se é que existe ilusão nova. O que é que vocês vão fazer para sair disso? Essa fala explica. Ela diz: “Não faça nada!” Aí, você não faz nada. E quando você não faz nada, o que acontece? Também não acontece nada.

Um dia desses, alguém falou comigo que tinha descoberto que não era necessário guru. Ele esteve em alguns dos nossos encontros e depois descobriu que não era necessário mais. Eu perguntei para ele: “O que aconteceu?” Ele disse: “Eu não necessito mais”. Então, indaguei: “E agora?” Ele respondeu: “Agora está tudo bem!” Eu disse: “Tudo bem como?” Ele disse: “Estou apenas aguardando”. Eu disse: “Aguardando?” E ele: “É... Eu aprendi que isso é como um raio. Isso vem e atinge a sua cabeça, e eu não posso fazer nada”. Então, eu disse: “Ok. Compreendo”.

Assim, esse menino está aguardando o raio. Enquanto aguarda o raio, ele continua na sua antiga vida, no seu antigo modelo, nas suas antigas práticas. Não quer saber da autoinvestigação, não quer saber dessa entrega ao divino, e continua tocando o seu violão. Ele é músico. Enquanto toca o violão, aguarda o raio da iluminação atingi-lo. Esse menino aprendeu muito bem. Ele tem na ponta da língua todo o ensinamento que diz que não é preciso fazer nada. Então, se você vai ouvi-lo, ele olha para você e você percebe que seus olhos estão opacos, sua mente está agitada... Ele não gosta da palavra Deus, não suporta a ideia de um guru e detesta tudo aquilo que é sagrado. Se falarmos para ele de uma montanha que é a manifestação da Graça numa forma de rocha, ou de rochas, árvores, macacos e cobras, ele vai rir. Compreendem o que eu quero dizer?

O próprio Ramana Maharshi disse que essa montanha era Deus para ele! Era o Guru para ele! Ele considerava sagrado cada palmo e cada pedra dessa montanha. E esse menino com o seu violão, carregando todos os conflitos da ilusão da separatividade, diz que Ramana estava errado; não só Ramana, mas milhares e milhares de homens e mulheres que realizaram Deus e terminaram os seus dias livres do sentido de separação, livres do sofrimento, livres da ilusão de uma identidade separada. Isso para mim é muito engraçado (risos). A mente é muito estúpida, em sua arrogância, em sua vaidade, em sua presunção de saber.

Assim, eu tenho algo pra lhe dizer nesse encontro: sem humildade é impossível. Se você já sabe, há uma muralha na sua frente. Eu lhe recomendo ter uma real aproximação: olhar sem preconceito, olhar sem medo, olhar sem conclusões. Você pode recusar tudo e se fechar para tudo, mas isso não passará de um comportamento estúpido.

Vou lhe contar uma coisa, como ilustração:

Dizem que um homem vinha descendo uma ladeira dirigindo o seu carro, quando, de repente, na outra mão, uma mulher passa, também em seu carro, abre o vidro, olha para ele e grita bem forte: “PORCO!” Ele olha para aquela mulher e diz: “Mas como pode? O que é que eu fiz?” Naquele momento, ele é tomado pela ira. Aquela mulher o chamou de porco e ele não fez nada! Ele fica muito irritado e começa a xingar. Ele agora está com raiva e continua descendo. Lá na frente, ele pega uma próxima curva, e, quando sai dela, se depara com um enorme porco na sua pista e, aí, não tem mais tempo... Ele se acaba no porco! Isso se chama reatividade. Mente reativa.

Se você está fechado, há uma muralha. Não dá para realizar Deus assim, sem humildade. Eu não uso muito essa palavra. A minha palavra predileta para isso é simplicidade. Humildade pode ser uma coisa cultivada e não é disso que estou tratando; estou falando de simplicidade: viver sem reatividade, sem uma mente reativa, sem preconceitos, sem conclusões, sem opiniões formadas, permanecendo aberto, com o coração aberto para ouvir, para ser ensinado, para descobrir, para investigar.

Ok? Vamos ficar por aqui? Valeu pelo encontro. Namastê!

*Transcrito de uma fala num encontro aberto online transmitido de Tiruvannamalai, Índia, em Setembro de 2016.
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terça-feira, 27 de setembro de 2016

Tudo o que você procura é a verdade sobre si mesmo

Consciência, Presença, é o real sentido do Ser. Agora mesmo você é essa Consciência, agora mesmo você é esta Presença, não há como escapar disso. Essa Consciência, essa Presença, é a natureza da Realidade. Não está faltando Presença, não está faltando Consciência, isso é algo que nunca falta. Está faltando a ciência dessa Presença, a ciência dessa Consciência, e é isso que nós sempre investigamos nesses encontros. Isso porque essa Presença, essa Consciência, tem imposto a si mesma uma aparente limitação. Ela se impôs essa aparente limitação, que é a limitação do pensamento, que é a limitação da percepção. É basicamente isso que nós chamamos de inconsciência.

Porém, não podemos dividir essa Consciência, que é sinônimo de Presença, em inconsciência e consciência; não existe tal coisa. Não há inconsciência real nessa Consciência. Essa Consciência é sempre Consciência, e ela é sempre esta Presença, o que significa que essa Consciência está sempre presente. Esta Presença é a pura Consciência, a natureza do Ser é ser Consciência, a natureza do Ser é ser Presença. Essa é a verdade divina, é a verdade de Deus. Essa Consciência também é chamada de Felicidade. Na Índia, eles chamam de Ananda. Ananda é Felicidade, portanto, essa Consciência que é Chit, é também Sat (Ser, Verdade), e também Ananda (Felicidade).

Nosso trabalho, em Satsang, tem como objetivo essa direta constatação. Não se trata de ter algum conhecimento especial para essa constatação, portanto, não se trata de aprender sobre isso. Não precisamos de uma especialização para essa constatação, precisamos, sim, é de uma entrega. É necessário que você se entregue a essa Presença, se renda a essa Presença. Em outras palavras, significa desistir dessa mente egoica, desse sentido de separação, o que significa se desidentificar dos pensamentos e dessa ilusória percepção. Então, aquilo que está presente se manifesta.

Participante: É preciso passar pela santidade para constatar o seu estado natural?

Mestre Gualberto: A natureza do Ser é pura sanidade, e sanidade é santidade. Então, que fique claro: é necessário abandonar toda ilusão. A ilusão da separatividade é a causa de toda miséria, de todo sofrimento no mundo. Miséria e sofrimento não são a natureza do Ser. Então, santidade ou sanidade, que é a natureza da Consciência, que é a natureza do Ser, é o fim da miséria, é o fim da ilusão da separatividade.

Então, a sanidade, ou santidade, deve ser compreendida dessa forma. Isso é ir além da ilusão, além do sofrimento, além da mentira, além desse sentido de separatividade. O ego vive nessa ilusão, nessa mentira, e esse é o único pecado. A pecaminosidade está nesse sentido de separação. Quando isso está presente, a ilusão está presente, a mentira está presente, o sofrimento está presente.

É necessário, sim, ir além da ilusão da separatividade, além de todo esse equívoco, além de todo esse formato que a mente egoica conhece. O homem vive há milênios no medo, na inveja, na ansiedade, no ciúme, no desejo, na ambição, e tudo isso está dentro desse formato da mente egoica, dessa forma como a mente egoica se move. É necessário ir além de tudo isso, além dessa dependência da mente egoica, dessa escravidão, dessa ilusão.

Nesse sentido, a Verdade não é para aqueles que vivem na mentira. A Verdade só está presente quando não há mentira. A Verdade é o real, e o real está presente quando não há ilusão. O ego, em seu modelo, é pura ilusão. O sentido de um “eu” presente em sua inveja, ciúme, posse, controle, ambição, desejo, medo, é pura ilusão. Não há como aquele que está se aplicando em realizar essa constatação da Verdade casar isso com a mentira, casar isso com a ilusão, casar isso com esse estado egoico de pura ignorância, de puro medo, de puro desejo, de puro sofrimento.

É necessário ter uma vida voltada para a Verdade, uma vida de equilíbrio, uma vida de entrega a essa Verdade. O ser humano tem abusado demais em razão dessa identificação com a mente egoica e seus desejos, seus medos e sua constante busca de prazer. O ser humano tem abusado demais do corpo, tem se envolvido em todo tipo de ações que prejudicam essa máquina, esse mecanismo, esse organismo. Então, podemos perceber com isso que não há amor à Verdade.

É necessário um equilíbrio, uma disciplina, uma certa prudência com relação a essa máquina, a esse mecanismo. O homem tem abusado disso. Comida demais, sexo demais, drogas... todo tipo de busca de sensações, criando cada vez mais uma insensibilidade maior no corpo, tornando o corpo cada vez mais insensível. Todos vocês conhecem muito bem esse tipo de coisa. Esse mecanismo, esse “corpo-mente” está aqui para essa constatação. Se ele for destruído... foi destruído.

Então, a sanidade é fundamental. Essa sanidade é essa santidade, é esse equilíbrio, é essa disciplina; é esse mecanismo, esse “corpo-mente” dedicado a essa entrega, a essa Verdade. É necessário que você dedique todos os seus anos, todos os seus meses, todos os seus dias, todas as suas horas, a essa entrega, a essa constatação da natureza real do Ser. Você precisa de um corpo saudável, ou com uma relativa saúde, para que isso seja possível. Então, é completamente desaconselhável todo esse abuso. A natureza egoica, essa natureza da mente, é essa constante busca do prazer.

Participante: O excesso de trabalho também está incluso nesse abuso?

Mestre Gualberto: O excesso de trabalho também. Na verdade, o trabalho não é assunto da fala deste encontro aqui, mas o trabalho também é uma grande prisão, uma grande e maravilhosa prisão. Não subestimem o ego quanto ao trabalho, ele ama essa coisa. Isso lhe dá um forte sentido de existência. Há uma grande realização, há um grande prazer nisso. Não é só a questão do dinheiro que se obtém, mas o próprio trabalho, em si, é muito preenchedor. O ego transforma qualquer coisa em uma fonte grande de prazer, de preenchimento, de realização. É necessário equilíbrio.

Você está aqui para Deus, e não para trabalhar. Você está aqui para realizar Deus, e não para viver transando o tempo todo, comendo o tempo todo. A mente tem isso: ela busca refúgio, ela busca a sua continuidade... essa constante busca de realização, de satisfação, de prazer, e quando você faz isso, se confunde com a mente. Aí, você se torna um escravo – um escravo do prazer da comida, do prazer do sexo, do prazer do trabalho. Estou colocando aqui três exemplos, mas são muitos, são diversos! Tem, também, a escravidão do prazer de beber, de fumar, de cheirar... Essa completa identificação com o corpo.

A mente adora esse sentido de ser alguém na experiência do fazer, do sentir, do obter, do realizar. A pergunta foi se a santidade é fundamental... A santidade é essa sanidade. Sem essa sanidade, não há santidade. É algo completamente insano viver no corpo, identificado com o corpo; viver para satisfazer os desejos da mente egoica, com os quais o corpo se confunde. O corpo se confunde com eles e você se confunde com o corpo. Então, fica sempre aí o sentimento de ser o corpo, de estar no corpo, de ser alguém dentro do corpo, porque os pensamentos giram em torno dessas satisfações, dessa busca, dessa procura de realizar desejos. Percebem a importância disso que estamos colocando?

Toda a sociedade, toda a cultura – esse mundo em que vivemos – incentiva isso, explora isso. As pessoas adoram ir ao shopping. Há uma constante procura por objetos; há uma constante procura pela experiência dos sentidos – tocar, sentir... “Eu sou o corpo, eu sou alguém, eu preciso obter isso, obter aquilo”. A mente gira em torno dessa procura constante de prazer, de satisfação, de realização de desejos. Se ela se mantém presa nisso, você está em uma prisão e, assim, você impõe a si mesmo essa limitação. Quando você se confunde com a mente, você está impondo a si mesmo essa limitação de que você é o corpo, de que você precisa disso ou daquilo.

Tudo o que, na verdade, você procura, não está na mente. Tudo o que você procura, de forma real, é a Paz, o Amor, a Liberdade, a Felicidade do Ser, essa natureza da Consciência, que é Sat-Chit-Ananda. Tudo o que você procura é a verdade sobre si mesmo, sobre si mesma.

*Transcrito de uma fala ocorrida em 3 de Agosto de 2016, num encontro aberto online.
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domingo, 25 de setembro de 2016

A Alegria em Deus

A alegria é o sinal clássico da Liberdade! No entanto, alegria não é viver sorrindo. A Alegria Real é silenciosa. Ela transmite a Presença, mas é silenciosa. Ela diz: “estou aqui”, mas não faz estardalhaço. Ela fica bem invisível, mas diz: “estou aqui, se você pode me ver, ok! Se você não pode me ver, tudo bem também!” Alguns poucos podem ver, muitos outros não podem. A grande maioria não pode, não tem olhos para ver.
As pessoas estão se confundindo com a falsa alegria – essa alegria do sorriso, alegria do mostrar que está bem, da aparência, do status... Essa falsa alegria é aquilo de querer demonstrar para todos à sua volta que você é feliz. É por isso que as pessoas, quando viajam, tiram fotos: para dizer para os outros que elas são mais felizes do que eles, que elas têm mais liberdade do que eles, que têm mais dinheiro do que eles, e desfrutam mais da vida do que eles. Uma coisa de status, de ostentação... Pura vaidade! Coisa de mente egoica mesmo, da mente estúpida...
Mas a Alegria Real é essa aqui: a Alegria de Ser o que você É, sem conflito, sem sofrimento, sem buscar mais do que isso aqui, mais do que aquilo que se apresenta neste momento, com o coração agradecido, com um sorriso nos lábios ou não (isso não importa). Essa Alegria diz: “estou aqui”, mas não é para todos, não é para que eles vejam. Essa Alegria não é exibicionista, não é para humilhar ninguém, não é para dar autoimportância, não cria status, não é vaidosa. Essa é a Alegria de Deus e, como tudo que Deus faz, é simples e sem ostentação, mas de uma grande beleza para aqueles que têm olhos para ver!
A mente é cega, o ego é cego, não vê nada. Por isso, ele se diverte em fazer os outros tristes, se exibindo, se mostrando mais feliz do que os outros – o que é pura vaidade, pura imbecilidade, pura idiotice. No entanto, aquele que está interessado na Vida como ela É não está preocupado em ser alguém para alguns, em se mostrar para outros. A sua alegria é silenciosa, está neste momento, não precisa de nada do lado de fora, é um transbordamento...
É só a mente que conhece status, que conhece essa alegria eufórica, exibicionista, egoica...
*Transcrito de uma fala ocorrida em Setembro de 2016, durante o retiro em Tiruvannamalai, Índia.
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quarta-feira, 6 de julho de 2016

Isso é algo que já está presente

Sejam bem-vindos a mais esse encontro pelo Paltalk. Estamos juntos, mais uma vez, nesta oportunidade.
Nesses encontros, nós recomendamos a todos vocês que se voltem inteiramente para si mesmos, que olhem isso de forma honesta, em sua própria experiência diária; que descubram isso, que vejam claramente tudo isso, toda essa evidência clara daquilo que estamos sempre colocando para vocês dentro de Satsang.
Aqui, não tratamos de uma teoria, mas sim, de algo que você pode e precisa ter por si mesmo: uma evidência clara, em seu próprio viver, em sua própria existência. Você precisa perceber a realidade disso tudo que estamos tratando aqui, disso que estamos sempre colocando para vocês. Precisa perceber a evidência dessa Consciência, dessa Presença, dessa Verdade que nós trazemos, que não está limitada, que não está presa ao tempo, que não está aprisionada nem no passado nem no futuro. A prisão está toda na mente, no envolvimento que você tem com o pensamento, com a memória, com as lembranças, com aquilo que sempre acontece nesse instante como uma imaginação. É necessário se libertar disso, é necessário descobrir a importância de valorizar a evidência dessa Graça, dessa Consciência, dessa Presença.
Essa Presença, essa Consciência é a sua Realidade, é a Verdade sobre você, que está livre de imagens, de imaginações, de pensamentos. Você não precisa aguardar o momento dessa Graça, dessa Presença, dessa Consciência; você não precisa identificar em si mesmo essa Presença, essa Consciência, porque você já é Isso. Você só precisa se desidentificar do que você não é: do pensamento, da memória, das lembranças, das imagens, das imaginações, daquilo que a mente projeta como sendo real. Você não produz essa Realização, você não faz isso acontecer para você, você não traz isso de algum lugar. Isso é algo que já está presente. Aqui se trata de descartar o que não é, descartar essa ilusão. Então, você não necessita aguardar a Graça, a Consciência, a Verdade, você honestamente vê essa evidência da Consciência que Você já É, de imediato, descartando a imaginação, descartando esse movimento que é o movimento da mente egoica.
Você precisa entrar numa abstinência desse vício de pensar, de imaginar, de se projetar no tempo como uma entidade presente. Precisa entrar nesse momento de abstinência, abandonar esse vício. É somente um pensamento em forma de imagens, memórias, imaginações; é apenas o pensamento que imagina você com essas qualidades de uma pessoa, com localização no tempo e no espaço, com limitação, com idade, com o corpo saudável ou doente, com uma entidade se movendo no tempo e no espaço, caminhando para a morte... é só o pensamento que produz isso. O pensamento produz a imaginação da memória, da história de alguém.
Dá para acompanhar isso?
Todo o problema é só o pensamento. A chave dessa coisa está em não confiar no pensamento. Vocês confiam demais no pensamento, estão viciados nessa coisa. Precisam se abster disso, dessa confiança nessas imagens que o pensamento produz aí nessa máquina, nesse corpo-mente. Estou mostrando isso a vocês, verificando isso com vocês, em Satsang.
Satsang é esse encontro com a Verdade, com a Realidade. Estamos juntos investigando a natureza da Felicidade. A Felicidade é algo dentro de cada um de nós, como nossa Natureza Real. É o centro do nosso próprio Ser. No entanto, o pensamento, em sua imaginação, projeta isso do lado de fora, em imagens de objetos ou pessoas: objetos que nos darão felicidade, pessoas que nos farão felizes. Basicamente, o pensamento trabalha com imagens de pessoas, de coisas e de lugares, situados no tempo e no espaço. Tempo e espaço também fazem parte dessa imaginação do pensamento. Então, as coisas nos farão felizes, as pessoas nos darão essa felicidade, os lugares são importantes nisso, e você está como o centro dessa experiência – tudo para fazê-lo feliz. O que eu estou dizendo é que a Felicidade é a Natureza do Ser, da Consciência, da Realidade, dessa Verdade que é Você. Ela não depende de coisas, pessoas e lugares; não depende de tempo e de espaço; tudo isso são apenas criações do pensamento.
Há alguns momentos em sua vida nos quais você, por alguns segundos, fica inteiramente livre de pessoas, coisas e lugares. Um exemplo que a gente usa sempre é esse: você diante de um cenário, de um panorama; diante de um belo pôr do sol em uma praia, assentado, vendo o sol descer sobre a linha do horizonte; ou num belo amanhecer, vendo o sol nascer naquelas águas, subindo... Naquele momento, naquele silêncio interrompido apenas pelo som das ondas, por uns breves instantes, o sentido do “eu pessoal” é completamente deslocado, completamente varrido e, com ele, os pensamentos, as imagens de coisas, de pessoas, de lugares, a imagem do próprio corpo; um momento de completo esquecimento desse “eu”, desse “mim”. Aquele momento é de pura Consciência, pura Presença, pura Felicidade! A ausência do “eu” é pura Felicidade! Quando o sentido do “eu” não está, essa Verdade está presente, essa Felicidade está presente. Presente como sua Real Natureza, na ausência desse “mim”, desse “eu”, desse sentido de pessoa. Aqui, você não deseja, não teme, não anseia, não busca, não está à procura de nada; está apenas relaxado em seu Ser, em sua Natureza Verdadeira. Toda a agitação desaparece, todas as atividades da sua mente desaparecem, toda a atividade mental cessa; você retorna ao seu Estado Natural.
Isso é algo que você também experimenta em sono profundo, quando toda a agitação da mente egoica desaparece e você acorda pela manhã dizendo que desfrutou de uma noite maravilhosa, uma noite sem sonhos! Todos amam o sono profundo porque lá tudo desaparece: o mundo, os objetos, as pessoas, os lugares... Tudo o que você diz tanto amar no estado de vigília, não faz falta nenhuma para você no sono profundo. É um verdadeiro descanso! O ego teme a morte, mas algo em você ama morrer todas as noites, ama se livrar dos filhos, do marido, da família, das posses, de tudo aquilo que, normalmente, no estado de vigília, lhe causa muito prazer, muita alegria, porque essas mesmas coisas também lhe causam desconforto e sofrimento. No estado de vigília, você vive nessa dualidade entre prazer e dor. No sono profundo, você está além de prazer e dor, além da dualidade, além desse mundo – que é o mundo criado pelo pensamento – de coisas, pessoas, lugares.
Onde impera o desejo, o medo está presente, e isso, basicamente, é sofrimento, é miséria, é o estado de alienação de sua Real Natureza, de sua Verdadeira Natureza.
Eu repito: não é necessário produzir esse Estado Natural, Real, Verdadeiro, de Felicidade; Ele já é algo presente! O que você precisa fazer é se livrar dessa ilusão da separatividade, do sentido do “eu”, disso que o pensamento produz quando localiza você no tempo e no espaço, buscando coisas, pessoas e lugares, ou tentando se livrar de tudo isso.
Está claro isso?
Enquanto houver essa necessidade ilusória que é essa ideia de se manter como uma entidade presente, enquanto isso estiver presente, a ilusão estará presente. Enquanto houver ilusão, haverá sofrimento, miséria, desejo, medo. A Iluminação, o Despertar ou a Realização é essa Bem-aventurança de Ser, é essa Consciência, é essa Beatitude de Ser, de estar completamente livre dessa ilusão, da ilusão dessa entidade presente, dessa pessoa, desse mim, desse eu. Então, essa Felicidade é Amor, é Liberdade, é Paz, é Deus. Essa é a única coisa que você veio realizar nesse mundo. Você não veio para fazer mais nada aqui, você não veio para se casar, ter filhos, ter netos... você veio para realizar Deus. Não veio para se tornar uma pessoa famosa, uma figura importante; não veio para se tornar um jogador de futebol, ou presidente da república, ou empresário, ou um profissional liberal, cientista, médico, advogado, professor, pai, avô... tudo isso é parte de uma aparição que vai logo desaparecer. Tudo o que você É, o que você nasceu para Ser é algo completamente livre disso, algo que está aí completamente livre de toda essa história, como pura Consciência, Presença, Ser, Felicidade, Amor, Verdade, Liberdade, Deus. Você floresce como ser humano quando está além dessa ilusão de ser um “ser humano”. Florescer como ser humano é florescer como Deus.
Pergunta: O que é render-se?
Mestre: Render-se significa desistir de si mesma, de si própria, desse sentido de alguém, dessa história de alguém. Render-se significa assumir Aquilo que você É, abandonando completamente essa ilusão dessa crença acerca de quem você é. Isso é um trabalho possível em Satsang, diante de um Mestre vivo. Um Mestre vivo é aquele que corta a sua cabeça. Diante dele, você logo descobre o que é se render. Deus o atrai em seu Amor, em sua Graça e lhe mostra o que é rendição. Aqueles de vocês, nessa sala, que não estiveram ainda em Satsang presencial, eu os convido a vir a Satsang. Essa é uma pergunta que vai sendo respondida em Satsang presencial. Ela é a chave dessa Realização. A devoção é essa entrega, e essa entrega é essa rendição. Vocês que estão aqui nessa sala, só estão porque já foram tocados por essa Presença. Alguns de vocês já foram tocados profundamente por essa Presença, e quando escutam essa fala, sabem do que estou falando. Foram tocados por esse Amor Divino, estão recebendo um chamado de Deus, um chamado da Verdade, exatamente para essa entrega, essa devoção, essa rendição. Então, venha a Satsang, estou aguardando você aqui.
Ok? Então vamos ficar por aqui! Namastê! Até o próximo!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 27 de junho de 2016, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 5 de julho de 2016

A Alegria da liberdade, da paz, do silêncio e dessa beatitude

A mente egoica jamais vai desistir de seu movimento. É necessário que um elemento novo se apresente aí; esse elemento novo é uma alegria maior que esse prazer. A diferença entre prazer e alegria é que o prazer faz estardalhaço, enquanto a alegria, da qual estamos falando, não é essa alegria eufórica, que ainda é da mente prazerosa e da mente egoica; ela é uma alegria sutil, suave, silenciosa. O elemento que torna possível o seu coração inclinar-se para essa alegria silenciosa é o elemento da própria Consciência. A Graça é esse elemento da Consciência.
Enquanto não é tocado pela Graça, você não tem a mínima condição de ir além da mente egoica. É possível que o mecanismo da dor, do conflito, do sofrimento, torne possível isso, quando o seu coração, já impulsionado pela própria Graça, voltar-se para essa Consciência. Então, a Graça é o elemento que torna possível você abdicar, abrir mão da mente egoica em sua busca do prazer. Esse elemento, que é a Graça, é o elemento da Consciência na consciência.
A natureza do Ser é inclinar-se para aquilo que lhe dá maior felicidade. O Ser inclina-se sempre para aquilo que lhe dá maior felicidade, e isto é aquilo que lembra Aquilo que Ele é – a sua Real Natureza. O Ser inclina-se para aquilo que lembra a sua Real Natureza! Essa alegria silenciosa, sem estardalhaço, natural, a alegria da Liberdade, da Paz, do Silêncio e dessa Beatitude é aquilo que lembra o Ser, aquilo que ele é: Felicidade.
Como o ego é muito grosseiro, a dificuldade que se tem de inclinar-se para essa alegria é porque ela não é o prazer que o ego conhece. Tudo o que ele conhece é essa grosseria do prazer – o prazer grosseiro dos sentidos. Comer dá prazer, dormir dá prazer, diversão sensorial dá prazer, sexo dá prazer, e tudo o que o ego aprecia muito é o prazer grosseiro dessa satisfação da suposta entidade separada. O apego da mente egoica a isso é muito forte, já está aí há milênios, e o ego não vai abrir mão disso, jamais, porque é onde ele se situa como sendo "alguém". Sendo consciente dele, de ser uma entidade, de ser "alguém", ele não vai abrir mão disso.
Enquanto se está imaturo para Isso, não há nenhuma possibilidade, nenhuma chance. Você está em Satsang porque você já tem uma maturidade, a de perceber a ilusão que é viver nesta dualidade – prazer e dor, prazer e dor – nessa coisa grosseira, que é a alegria eufórica que o ego conhece a partir de suas realizações. Em razão dessa maturidade aconteceu um chamado da Graça, e esse chamado colocou você em Satsang. Quando chega em Satsang, você percebe o quanto isso faz sentido; não faz sentido para a mente egoica, mas faz sentido para o seu coração... O quanto isso tudo faz sentido!
Essa alegria silenciosa, graciosa, fora da mente, fora do prazer e da dor, fora dessa dualidade... O quanto isso faz sentido nessa coisa chamada Satsang! Então, acontece a Alegria da Meditação, da investigação; acontece a Alegria da devoção, de voltar-se para Deus, para a Verdade, a Felicidade, a Liberdade e para o Amor.
Vocês estão indo além da dualidade, além dessa coisa grosseira, que é a busca constante do prazer sensorial. Tomar um banho de mar, tomar sol, comer, tudo isso é prazer físico, sensorial, então, tanto a questão do prazer, quanto da própria dor, começam a não ter muita importância, porque o corpo passa a não ter muita importância.
O corpo tem muita importância, na inconsciência, para essa ego-identidade e suposta ideia: "eu sou o corpo". Então, nessa ideia "eu sou o corpo", o corpo tem importância, e quando ele tem importância estar numa praia é melhor que estar em outro lugar, ou o outro lugar é melhor que estar na praia, ou estar com alguém é melhor do que estar com outra pessoa. Começa a ter essas diferenças: é melhor estar com fulano do que com beltrano, estar num lugar do que em outro... Isto porque é muito grande a importância que o corpo dá a seu preenchimento, além da importância que o ego dá a esse corpo, nessa ilusão de "ser o corpo", e a um específico preenchimento. Então, o corpo está sempre em busca de sensações.
Sensação é a vida egoica, seja ela sentimental, emocional ou fisiológica, e na Consciência, no Ser, isso não tem importância, é só mais uma coisa. Isso é como vários pratos, vários alimentos numa mesa, e todos têm o mesmo peso de importância para você; não tem um que é especial. Assim, as experiências sensoriais, todas elas, passam a ter importância, mas elas não assumem essa importância desmedida que antes o ego dava – alguma coisa em detrimento de outra.
Em razão disso, depois de muito insistir, essa continuidade do ego na busca do prazer, que carrega com esse prazer uma dor embutida (dor que sempre acompanha essa coisa consistente de "prazer e dor"... "prazer e dor"... "prazer e dor"...), permanece até que por uma ação da Graça, desta Presença, você é tocado por um elemento inteiramente novo, que é essa alegria sutil, silenciosa. Não é algo grosseiro com esse peso da dor do outro lado – prazer e dor. Tocado por essa alegria, aí, o coração inclina-se, porque isso é o Ser lembrando-se da sua Real Natureza. Aí existe a possibilidade de estar acontecendo um chamado divino para essa realização de Deus.
*Transcrito de uma fala ocorrida num encontro presencial, na cidade de João Pessoa/PB. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Que véu é esse que oculta a Felicidade, a Liberdade, a Iluminação, a Realização?

Sejam todos bem-vindos a mais este encontro, aqui pelo Paltalk.
Aqui, temos investigado isso: até que ponto algo precisa ser feito, e como isso precisa ser feito? É isso que nós investigamos em Satsang. Parece que, enquanto existir essa identificação com esse indivíduo aparente, com essa pessoa aparente, não haverá qualquer escolha. Então qual é o significado da busca? O que significa essa busca?
A Verdade é muito paradoxal. A busca não é real e, no entanto, se não há o propósito de entrega, de trabalho, essa realização também não acontece. Você não pode fabricar isso, mas ao mesmo tempo não pode ficar de braços cruzados esperando isso acontecer acidentalmente como um raio caindo em cima de sua cabeça e trazendo essa iluminação, esse despertar. É aqui que muitos se perdem, escolhendo um lado e desprezando o outro. Como resolver isso?
O que tenho percebido é essa simplificação absurda. Alguém escolhe um destes lados e discorre sobre ele, fala sobre ele, trata sobre ele, mas não percebe que caiu numa armadilha. Dizer que não se faz necessário nenhum trabalho é uma armadilha. Dizer que o próprio esforço e força de vontade vão determinar essa realização também é uma armadilha. Essa é a dificuldade.
Que véu é esse que oculta essa Felicidade, essa Liberdade, essa Iluminação, essa Realização? Que véu é esse? A meu ver, a própria busca, o próprio esforço, a própria vontade pessoal, usando os próprios métodos que a pessoa conhece, e que empregaria em qualquer outro empreendimento, para realizar esse, é o próprio véu que oculta isso. Isso não vem pelo esforço pessoal, pela vontade pessoal, pelo trabalho pessoal... Essa Realização, essa Iluminação, o Despertar, a Felicidade desponta, floresce, surge, aparece, toma o lugar Dela a partir de uma ação da Graça. Estamos falando que isso acontece a você, que você não produz isso.
Você, agora há pouco, disse que, enquanto eu falava sobre essa imutabilidade, algo acontecia aí. Você conseguiu tomar consciência disso claramente. Então, repare que não é um esforço pessoal, não é um trabalho pessoal; você não fez qualquer esforço, qualquer trabalho; você apenas está aqui, agora, neste momento, e essa Presença foi capaz de tornar isso possível. Essa Presença é a Consciência, é a Graça. Isso é algo dado a você, no entanto, foi necessário você estar aqui, ter entrado na sala, estar se colocando nesta disposição de ouvir, de sentir, de perceber.
Há algo presente nesta sala, maior do que a fala, que é o próprio poder da Graça. Isso que faz o trabalho ser possível, para além dos seus esforços, de sua força de vontade, de sua determinação. Nesse contato com um Mestre vivo, isso se torna possível. Nesse contato com o poder dessa Presença, isso se torna possível. Mas isso é muito sutil, é uma linha muito tênue: até onde você entra tornando isso possível, e até que ponto você é o próprio impedimento...
Tenho falado muito sobre a importância da entrega – ela facilita muito isso. Entrega é o caminho direto, é devoção, é rendição, é desistência, é a desistência de alguém para realizar isso, de alguém para fazer isso. Isso significa também, ao mesmo tempo, uma abertura, uma sensibilidade, uma vulnerabilidade total e completa. Aí, então, isso desce sobre você, ou melhor, isso vem de dentro, sobe a partir do interior, varrendo por completo a mente egoica, o sentido de separação, o sentido do eu.
Então até que ponto há algo para se fazer? Até que ponto não há nada que possa ser feito? Essa é a pergunta! Se você faz alguma coisa, atrapalha. Se você não faz, atrapalha mais ainda. Se você aplica sua vontade e determinação, você atrapalha. Se você não aplica total vontade e determinação, você atrapalha mais ainda.
Estou dizendo é que se você não se dispõe, não se abre, não se entrega, não se permite (em razão da resistência da mente inteiramente voltada para os interesses egoicos), se você se mantém assim, essa realização não é possível. Pelo menos, não agora. Você precisa estar queimando por isso, colocando sua vida inteiramente nisso, aplicando seu coração inteiramente nisso.
Você precisa acordar com isso pela manhã, passar o dia com isso, dormir com isso à noite, e, no dia seguinte, acordar de novo pela manhã com isso, passar o dia com isso e dormir com isso. No terceiro dia, você faz diferente: você acorda com isso, passa o dia com isso e dorme com isso de novo. No quarto dia, você repete o primeiro; no quinto dia, você repete o segundo; no sexto dia, você repete o terceiro ou quarto... (risos)
Nesse sentido, é fundamental estar em Satsang presencial, dentro de uma sangha, recebendo uma upadesa, uma direção, um ensino. Não são informações sobre isso, são alertas diretos de como não se confundir, de como não se perder, de como não se identificar mais uma vez nesse mundo egoico, nesse mundo mental. Essa é a necessidade da Graça, é a necessidade do Guru, é a necessidade daquele que está além da dualidade. Ele não se perde mais, já passou por todo este processo, conhece isso de forma direta, não intelectualmente, mas diretamente; não teoricamente, mas diretamente.
Participante: Como permanecer em minha real natureza, permanentemente, se a mente se agita?
Mestre Gualberto: A mente se agita em razão dessas vasanas – palavra usada na Yoga, na Índia – dessas tendências latentes da mente, de seus padrões de desejos, escolhas, motivos, intenções ocultas. Isso precisa terminar! Se isso não termina, a mente continua sempre se agitando, voltando aos mesmos e antigos padrões.
Por isso, que a prática da meditação não funciona. Nenhuma técnica para aquietar ou silenciar a mente vai funcionar. Realização não é a quietude da mente, não é a mente silenciada. Realização é o fim da dualidade, é o fim do sentido de separação, é o fim do sentido de um “eu” dentro da experiência, inclusive da experiência do pensamento. O pensamento é só uma experiência, assim como a emoção, ou a sensação, ou o sentimento. Quando não há dualidade, quando não há um sentido de um “eu” dentro da experiência, não há conflito e o que se apresenta é a sua Real Natureza.
Consciência não está separada da experiência do pensar, do sentir, da emoção, da sensação, ou do sentimento. Mas a Consciência nessa experiência, fora da dualidade, não se perde, não se confunde, não se identifica mais com isso. Isso é algo que muitos de vocês têm entendido de uma forma completamente equivocada. Tenho percebido isso: muitos falam desse silêncio da mente como se fosse a própria Realização. Realização não é o silêncio da mente; Realização é o fim do sentido de uma identidade nessa experiência do pensamento. Isso é uma outra coisa completamente diferente.
Participante: Como eliminar, então, esse sentido de um eu?
Mestre Gualberto: Essa resposta está diretamente relacionada a um trabalho. Não há uma resposta definitiva para isso, uma resposta verbal, de uma frase ou duas, ou dez. Em Satsang, sim, há uma resposta para isso! Em Satsang presencial, diante de um Mestre vivo lhe sinalizando, lhe mostrando, fazendo-o perceber esses padrões, essas tendências da mente, esses hábitos arraigados da mente... Essa sinalização Dele, esse modo de fazê-lo perceber diretamente tudo isso é parte do trabalho dentro de encontros presenciais. Aí, então, você tem uma resposta que significa a eliminação desse sentido de um “eu”. Mas isso não é possível de olhos fechados, cantando mantra, ou silenciando a mente por alguns instantes. Você pode meditar assim durante mil anos. De olhos fechados, a mente silencia; depois que a meditação termina, você está de volta!
Eu nunca pratiquei meditação, toda a minha prática foi devocional, mas de meditação nenhuma. A prática da devoção é a prática da entrega aos pés dessa Presença viva, que é essa Consciência, que é essa Graça. Minha experiência é essa: o olhar do Guru! Olhar em seus olhos era o suficiente, ouvir seu Silêncio em meu coração era o suficiente, isso já continha todo o ensino, toda a upadesa, toda a direção. Essa atenção real no presente é essa Consciência sempre presente nessa entrega. Essa Presença, que é essa Consciência aí, realiza todo o trabalho. Você precisa ter o coração voltado para isso intensamente, todo o seu coração nisso. Você precisa estar disposto a morrer, a entregar tudo por isso. Precisa estar queimando por isso.
Participante: Há alguma previsão para Satsangs em Minas Gerais, pois em Campos do Jordão faz muito frio nesta época?”
Mestre Gualberto: Se você estiver queimando por isso, você não vai sentir frio nenhum em Campos do Jordão. Se não estiver queimando por isso, nada vai funcionar. Esses encontros não têm que ir a você; você é que tem que ir a esses encontros. Não é o Guru que tem que ir a você; você é que tem que vir ao Guru. Não é ele que tem que ir para Minas Gerais; é você que tem que vir a Campos do Jordão. Ele pode estar no alto da montanha do Himalaia, lá no pico nevado, mas você tem que ir encontrá-Lo lá. Se você estiver queimando por isso, não vai congelar, e sim, realizar Deus, realizar a Verdade sobre si mesmo. Agora, se não estiver queimando por isso, qualquer coisa será uma grande desculpa – o calor, o frio, a falta de dinheiro, a falta de tempo...
Participante dois: Mestre, faz um ano que perdi meu emprego, não consigo arranjar outro, estou em depressão. Faz duas semanas que conheci o Senhor, assisto aos seus vídeos, mas está difícil entender e silenciar a mente, minha mente grita 24 horas.
Mestre Gualberto: Esqueça isso de silenciar a mente, menina! Como agora aqui, apenas escute minha fala, coloque seu coração nela. Quando estiver assistindo aos meus vídeos, olhe para mim, já não olhe para as minhas falas, olhe para o meu Silêncio, olhe para Mim e você vai perceber que eu vou estar olhando para Você. Na realidade, minha fala carrega esse Silêncio capaz de fazer um extraordinário trabalho aí. Trabalho, esse, que você não pode fazer! Não é algo ordinário e, por isso, eu disse extraordinário! Não está nesta fala, está neste Silêncio; não está nos meus gestos diante do vídeo, está neste olhar.
Você não pode se aproximar deste trabalho para se livrar de uma depressão ou de um trauma ou de um problema emocional. Há muitos terapeutas para ajudá-lo! Eu não tenho interesse nenhum nisso. Meu interesse é lhe mostrar Aquilo que Você é! Você não é o corpo, Você não é a mente! Então nem o calor, nem o frio, nem a depressão, nem o medo, nem a ansiedade ou qualquer outra resposta mental negativa pode impedi-lo de realizar Aquilo que Você é, sua Real Natureza.
Eu estou aqui para aqueles que estão dispostos a realizar isso, e não para aqueles que sentem calor demais ou frio demais. Sem estar disposto a ir além desse sentido de um “eu” separado, dessa ilusão de ser alguém, não adianta perguntar como eliminar esse sentido de um “eu”. Tem que estar disposto a entregar esse sentido de um “eu” que tem medo do frio ou que tem medo do calor, ou esse “eu” que se sente ansioso ou deprimido ou qualquer um destes estados que o “eu” conhece.
Todos vocês, aqui, precisam atentar-se para isso: esse namoro à distância não faz o filho nascer, não engravida ninguém! Essa criança precisa nascer, e por aqui não dá. Está claro isso?
Ok! Então, vamos ficar por aqui! Namastê!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 13 de junho de 2016, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Como reconhecer o Guru real?

Quanto a essa questão, de “como reconhecer o Guru Real nesse mercado de gurus que cada dia aumenta mais”, não se preocupe com isso, não! Você vai se enganar, se quiser saber “quem é quem”. Você não vai se enganar, somente, se deixar Deus fazer isso por você. Se você for real, Deus jamais vai ser irreal para você. Se você for real, Deus é Real e Deus é Real quando você é real. Quando você é real, tudo está no lugar, tudo está aparecendo para você como tem que aparecer. É o que você precisa no momento.
Quando Ramana apareceu, eu tinha tudo para rejeitá-lo... Toda minha formação intelectual e teológica era para rejeitar a presença de um Mestre que não fosse Jesus Cristo, e o pior, sem corpo, já morto. Um homem sem corpo, morto! Mas havia algo aqui que era autêntico. O desejo por Deus e pela liberação era autêntico, então, não podia ser uma ilusão ou algo vindo do mal, do demônio, do diabo. Se eu estava orando a Cristo e, naqueles dias, em jejum de 24 horas, como eu fazia naquela época, todo sábado, para encontrar Deus, não podia ser o diabo que estava aparecendo para mim, naquele momento.
Ou eu ficava com essa confiança na oração ou ficava com os pensamentos da teologia, que eu havia estudado durante tanto tempo, lendo a Bíblia e tinha escutado no seminário... Eu ficava com o que aquecia meu coração e me preenchia de um amor indizível e de um silêncio indescritível, ou ficava com os pensamentos em tumulto, em dúvida, em confusão, em medo, como: “É Cristo ou é o diabo?” ou “o que é isso que está acontecendo?”. Vinham, também, pensamentos como: ”Você está ficando louco”, “O que é isso? Isso é doideira”, ”Você está perdendo o juízo!”, “Você está... Você está...!” Ou eu ficava com estes pensamentos ou ficava aqui, nesse Espaço de indizível e indescritível silêncio e alegria, invadido por um amor que eu nunca havia sentido antes, por nada, por ninguém, por coisa alguma nesse mundo.
Não se preocupe, não! Não se preocupe! Deus vai saber cuidar disso. Ele sempre soube cuidar de tudo.
O desafio... O grande desafio é que, com essa Presença, a “pessoa” morre e ela não quer morrer, não quer sair do controle. Um Mestre vivo é a última estação do metrô, é a última parada — desembarque obrigatório! Lá vem uma voz dizendo assim: “Senhores passageiros, chega de viajar! Estação Terminal!” E o medo de enfrentar o que está depois da porta, do lado de fora? "Será um mundo real? Será uma vida real? Será que ainda estarei vivo, ou morto, se eu sair por esta porta, que acabou de abrir, ouvindo essa voz que diz: 'Desembarque obrigatório!'?" Esse é o desafio!
Diante da Verdade (que é o Guru Real) não vai haver escolha, você não quer escolha, se o que queimou aí, durante todo esse tempo, foi o fogo pela Verdade e se você não está brincando com essa coisa, se não está mentindo, não quer mais a mentira. Então, não se preocupe! Preocupe-se, não! Como falamos, agora há pouco, o sono aconteceu e sair do sono também só acontece. Ele cuida disso! Deixe tudo com Bhagavan. Ele dizia: "Bhagavan cuida!". Essa foi uma de suas promessas. Essa é a promessa de Bhagavan, é a promessa do Satguru.
Esse é um caminho que nem os loucos erram. Na Bíblia há um versículo assim: "Nem os loucos errarão o caminho!" Sem ego, aí, você não pode ver ego aqui. Lembra o exemplo do espelho? Quando olha para o espelho, você não vê o espelho, vê a si mesma (si mesmo). Então, o problema não está lá, o problema está aqui.
A pergunta que eu faço para você é: Você pode confiar nisso? Você pode confiar em uma mente que está, há milênios, só contando historinhas e fazendo um mundo de histórias, dizendo que você é feio, que não merece, não vale nada, ou que você é um pecador, merecedor do inferno? Ou que está dizendo o oposto, que você é muito importante, é uma alma preciosa, é mais bonito do que todo mundo e mais merecedor, do que todos à sua volta, do melhor de todas as coisas? A pergunta é: Você pode confiar nesses sentimentos? Você pode confiar? Uma hora você está alegre, outra hora está triste; uma hora você está bem, outra hora está mal; uma hora você está amando, outra está odiando; uma hora você está tão seguro da verdade e outra hora está tão decepcionado, sentindo-se frustrado por acreditar que foi enganado.
Dá para você confiar nas emoções? Dá para confiar nas sensações? Está calor ou está frio? Dá para confiar nessas conclusões acerca do que é e do que não é? Dá para confiar nesse movimento da mente? Hein? Dá para confiar nisso? Dá para confiar que está ou que não está? Que iluminou ou que não iluminou? Dá para confiar? Dá para confiar no que você diz, no que escreve ou no que outros lhe dizem, ou no que você lê do que outros escreveram? Dá para confiar? Dá para confiar em si mesma, em si mesmo? Dá para confiar? Ok! Então, despreocupe-se! Despreocupe-se! Relaxe! Isso não é assunto seu!
Quando eu falo de entrega, o ego fica assombrado (para não dizer assustado, fica assombrado), porque tudo o que ele quer é se manter no controle. Quando eu falo de entrega, falo exatamente isso que estou colocando para você: abandonar-se, lançar-se, soltar-se aos pés da Graça, de Deus... "Mas, aí, quando você usa a palavra Deus, do que você está falando, Mestre?"... "Oh, Guru, do que você está falando? Eu fico tão confortável quando você usa a palavra Deus, e, quando usa a palavra Consciência, fico um pouco, ainda. Quando usa a palavra Guru, me desconserta todo!"... "Oh, Guru, onde estão seus pés, para que eu me lance aos seus pés? Se me lançar aos seus pés, estarei me lançando aos pés de quem?".
Toda essa briga com palavras, que você tem aí, tem que cair, porque isso está, também, nesta autoconfiança, nessa ilusão de acreditar que sabe. Sabe nada! Se soubesse já tinha resolvido tudo. Se você soubesse alguma coisa sobre a verdade, já estaria livre, porque a Verdade não vem em partes; não é como as prestações das Casas Bahia, que você vai pagando até liquidar um dia. A verdade é como um bloco assim: oh... boom... Ele cai sobre você e o esmaga. Você não sabe o que é a Verdade, mas tem essa arrogância de acreditar que sabe: onde está e não está a verdade; onde está Deus e onde Ele não está; o que é verdadeiro, o que é falso, o que é real e o que não é real para si mesma. No entanto, você está como uma barata tonta.
Quando eu falo de entrega, estou falando dessa coisa de desistir... Desistir de confiar em si mesmo. Repare que isso é o oposto de tudo o que vocês aprenderam durante a vida inteira - a autoafirmação. Desistam de tudo o que vocês ouviram, já leram "sobre", aprenderam, no curso de autoajuda, em livro de autoajuda, em terapias, ajudas para se curarem (Do que? De quem? Que cura é essa? Quem pode ser curado? Quem pode ser salvo? Quem sabe?). Quem aí conhece a Verdade? Quando eu falo de entrega, estou falando de desistir disso tudo, de deixar que essa Consciência, essa Presença, esse Guru (dê qualquer nome para isso), cuide... Cuide do assunto... Cuide desse assunto. Ramana dizia: "Deixe com Bhagavan, que Bhagavan cuida!"
Treze de abril do ano de mil novecentos e cinquenta (13/04/1950), era uma manhã... O sol estava preenchendo toda aquela montanha, as nuvens de uma beleza extraordinária no céu azul, os pássaros cantando... Todos em volta de Ramana, naquela manhã, tremendamente preocupados com aquele quadro. Nas últimas noites, aquele que dormia com Bhagavan tinha comentado que seu corpo gemia sob aquela dor, debaixo daquela dor do câncer, daquela doença fatal. Todos estavam preocupados naquela manhã! Ele abre a boca, olhando para todos, com olhar indescritível, num profundo silêncio, numa completa desidentificação com o corpo, e diz para todos ali: "Por que vocês estão tão preocupados? Tudo estará bem amanhã! Amanhã tudo ficará bem!".
O dia seguinte chega... Quatorze de abril, um dia de Presença indizível no Ashram, um Silêncio, uma Graça, um poder imperioso, banhando toda aquela montanha de Arunachala. O sol se põe naquele dia e, às 20h47min (naquele dia, 14 de abril de 1950, um minuto antes), o pavão faz aquele barulho comum, que todos os pavões fazem... Um deles faz aquele barulho, aquele som, uma mistura de cântico com um grito ensurdecedor. Ramana, que estava deitado, faz um esforço para se assentar (e alguns o ajudam naquele momento)... Ele ainda consegue se assentar, naquele 1 minuto antes (20h47min), e, depois daquele som do pavão, suas últimas palavras são: "Já deram comida para ele?". Ele repete, perguntando pela segunda vez: "Vocês já deram comida para ele?". Aquele Silêncio volta novamente e eles percebem, sentem, que é o momento de deixar o Mestre assentado. Naquele instante, tudo fica bem! Acontece sua última inspiração.
Não se preocupem! O Guru sempre é real, se a devoção é real! Ele sempre é a Verdade, se você é a Verdade. Tudo termina ficando bem, muito bem, sempre bem!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em Junho se 2016. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

A verdade além das palavras, definições e conceitos

Aqui estamos em mais um momento, onde o que menos importa, como sempre temos colocado, são as palavras. Embora essas palavras estejam brotando desse Silêncio, nesse sentido elas têm alguma importância, mas apenas como resultado desse Silêncio. A mente se alimenta de palavras. O ego, cuja base está no conhecido, adora palavras, e o conhecimento é esta plataforma, aquilo que sustenta todo este movimento. A Verdade não é conhecimento, é somente a Verdade. Quando houver definição da Verdade, não estamos mais com a verdade, mas, sim, com conceitos, ideias e crenças sobre isso.
Nesses encontros, como qualquer outro encontro, seja pelo Paltalk ou presencialmente, fazemos uso da fala, mas há algo maior que a fala, Aquilo que torna possível um trabalho real. Intelectualmente, palavras podem entreter, criar admiração e trazer, até, certa satisfação de prazer. Toda experiência sensorial é assim: ver cores é prazer para os olhos; o toque em objetos é prazer, ou dor, para o sentido do tato; ouvir sons pode ser prazeroso ou doloroso, pode ser prazer e dor. Algumas palavras podem trazer certo nível de prazer, de realização e preenchimento interno, mas são apenas palavras. A Verdade não tem nada a ver com palavras.
Você pode passar realmente anos estudando, como você colocou agora que, durante anos, fez Gnose e perguntou se foi tudo inútil, contudo não podemos transformar teoria em prática, nesse campo da Realização. Teoria continua sendo apenas teoria. Em Satsang nós tratamos de uma outra coisa, que é a possibilidade do desaprender, o abandono de todas as crenças, teorias, ideias, práticas e de todos os conceitos. Em Satsang estamos tratando deste “Eu Sou” – o “Eu Sou” não conceitual, Aquilo que, também, não é uma ideia. Estamos falando desta Realidade fora das palavras e dos conceitos.
Por alguns breves instantes, você pode ter um vislumbre Disso, quer você esteja numa prática de meditação ou fora dela. Porém, uma prática de meditação, ou qualquer outro método, não pode lhe trazer Isso de uma forma definitiva. O assentar desse Estado não vem por práticas, por técnicas, e o estudo intelectual sobre Isso é o que está mais longe, mais distante, ainda. Realização é o “fruto maduro” nessa “árvore”, quando a Consciência, que é essa Presença Real, assume o lugar dela. Então, essa Realização é o seu Estado Natural, mas Nela não tem você, é só a Realização.
Todavia, o Estado Natural não é este “você”, que você acredita ser; é este Você, do qual você não sabe nada e jamais saberá alguma coisa, porque, quando esta Realização está, este você, que você acredita ser, não está. Isso é o resultado de um trabalho, não de uma prática, de uma técnica, de um método, de um sistema de estudo. Isso é a entrega desse sentido de separatividade, uma ação totalmente da Graça, desta mesma Presença, dessa mesma Consciência, dessa mesma Realidade – o trabalho é, totalmente, Dela. Nesse sentido, o Guru é fundamental, porque Ele não é uma entidade separada dessa Graça, dessa Presença, dessa Realidade. O Guru é esse fruto maduro, é a Presença da Graça, é a Graça na forma. Isso soa muito estranho para a mente dualista, em especial para a mente do ocidental, daquele nascido no Ocidente.
A figura do padre, do pastor, do rabino, do sacerdote, do líder religioso é sempre uma figura de autoridade, de “alguém” separado, como um tutor, um professor, mas um Guru não é um professor, não é um tutor, não é uma entidade separada. Eu falo do Guru, do único Guru. O Guru é essa Presença, essa Consciência, que pode assumir uma forma humana, mas não é uma entidade separada. A ilusão da separatividade é uma ilusão mental. É a mente que cria a “figura separada” da autoridade, na figura do tutor, do professor, do Guru.
Estamos falando de uma Presença interna, que é, simultaneamente, externa, que interpenetra tudo e todas as coisas. Não há separação entre você, em sua Real Natureza, e o Mestre, o Guru, a Presença, a Consciência, a Graça, a Verdade. O que eu falo para você, hoje, falo a partir dessa vivência aqui, do contato com Bhagavan, Sri Ramana Maharshi. Há algo presente nessa Presença... Há algo real, funcional e que faz acontecer todo esse trabalho.
Só há Você! Você é o Guru! Você é o Mestre! Você é a Consciência! Não estou falando desses pensamentos, sentimentos, e dessas sensações que passam aí, pois isso só passa, mas não é você, em sua Natureza Real. Você é o mesmo Guru que se apresenta do lado de fora, pois quando o discípulo está pronto (que é o Guru interno pronto) o Mestre (que é o Guru externo) aparece, sem nenhuma separação. É pela Graça do Guru que este trabalho acontece. Hoje estou aqui compartilhando com vocês aquilo que esta Graça, a Graça do meu Guru, trouxe a este mecanismo chamado Marcos Gualberto: essa Liberação, a Consciência de que “Eu Sou”. Esse “Eu Sou” é “O que Ele é”, e “O que Ele é” é o que Você é, que é Aquilo que eu sou.
Todo sentido de separação, de separatividade se dissolveu, entrou em colapso. Não há mais conflito e não há mais medo; não há mais a ilusão de alguém na experiência do mundo, e de um mundo separado de alguém. Você nasceu para realizar Isso, essa não separação entre você, Deus e o mundo. Essa não separação é a consciência dessa Consciência, é a Consciência dessa Realidade, é a ciência dessa Presença.
Sua Natureza Real é Amor, é Paz, é Verdade, é Silêncio, é Consciência, é Deus. Isso não é conceitual, não é verbal e não é uma crença. O momento para você é o de abandonar todas as crenças, todos os conceitos e teorias sobre isso. O convite a Satsang presencial é o convite a um trabalho real nessa direção, para se abandonar todos os conceitos, teorias, falas que geralmente se escuta, além de todos os livros e palavras. Chega um momento na sua vida que você percebe que não pode continuar com as crenças, teorias, e com os conceitos. Existem milhares e milhares de técnicas e trabalhos, todos prometendo uma certa harmonização, pacificação da mente, e um certo silêncio e equilíbrio. Não é disso que tratamos em Satsang. Estamos falando do fim do sentido de separação, do despertar da sabedoria, dessa Realização, dessa completude de sua real natureza.
Essa fala nesse encontro, nesse espaço, não serve para isso, pois é somente mais um conjunto de palavras sendo colocadas, como um alerta da não necessidade de palavras. Isso é como um toque de uma trombeta, em que você escuta a trombeta e toma uma determinada ação, não ficando agarrado ao seu toque. O propósito do toque da trombeta é movê-lo para uma determinada ação. Então, o "toque da trombeta", que é essa fala aqui sendo colocada, é para você ir além dela. Isso só é possível em Satsang presencial diante de um Mestre vivo, daquele que não vive mais nesse sentido de separatividade.
Um Mestre apareceu em minha vida no ano de 1986. De 1986 ao ano de 2007 um trabalho aconteceu aqui, período em que houve entradas e saídas nesse Estado de Silêncio, porém isso não foi um assentar, a finalização deste trabalho, nesse organismo, no mecanismo, na "máquina", isto só aconteceu no ano de 2007, naquela noite de junho de 2007. Durante estes anos um trabalho acontecia aqui, aconteceu aqui neste mecanismo, nesta máquina, tudo por sua Graça, em um contato muito direto. Eu não encontro palavras para explicar isso, não há palavras para explicar isso.
Não há como realizar Isto sem esta Graça, sem o poder desta Presença, a Graça de Sri Ramana Maharshi, o sábio de Arunachala, jay, jay, jay Gurudeva, por sua divina e inexplicável compaixão. Somente no olhar de Deus é possível ver Deus. Só pelo olhar de Deus é possível ter o olhar de Deus, aquilo que na Índia eles chamam de Darshan, o olhar do Guru. O olhar de Deus é esse olhar do Guru, da Presença, da Graça, e a Graça em seu olhar. É a compaixão do Guru, esse amor de sua Presença divina que faz florescer o coração do devoto, para o próprio reconhecimento de que não há separação entre ele e o Guru.
Esta noite, neste encontro, temos este momento de Graça, de Silêncio, de Presença, mas as palavras não podem comunicar isso. A realidade é que essa Presença continua viva. Na noite de 14 de abril de 1950, meu Guru deixou a forma. Nisargadatta morreu de câncer; Ramana Maharshi, também, morreu de câncer, e Jesus, na cruz. Contudo essa Presença não é a forma, não está no tempo da morte, mas além do nome e da forma; não é indiana, judia ou brasileira. Essa Presença é essa Consciência. Esse é o real Guru, aquele que está além do corpo, além de uma doença terminal, que só termina com o corpo. É isso...
*Transcrito de uma fala ocorrida em 30 de maio de 2016, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Seu coração inteiro nisso

Olá pessoal, boa noite! Sejam todos bem-vindos a mais esse encontro, aqui, pelo Paltalk! Esses encontros são sempre um momento único, um perfeito momento de celebração. Assim são todos esses momentos de investigação da Verdade. Nos encontramos em Satsang para essa investigação.
Há algo bem maior do que alguém fazendo essa investigação, há algo aqui muito maior do que isso. Todas as vezes em que nos encontramos, tratamos sobre isso. Parece que nós investigamos a fim de nos livrarmos de alguma coisa, de nos livrarmos dessa ilusão, desse senso de um “eu” separado, desse sentido de um “eu” separado. E assim, nos livrarmos dessa conexão com o sofrimento, com o desespero, com a miséria do ego. Isso pode até parecer ser assim, mas, na verdade, isso é só uma ideia. Se esse “eu separado” está tentando realizar alguma coisa por ele mesmo, se está tentando realizar essa liberação, essa libertação através dessa investigação, isso não é real. O que quer que esse “eu separado”, esse “eu ilusório” procure fazer, irá sempre fortalecer ainda mais o sentido de um autor, de alguém fazendo algo, e aí está a ilusão. A investigação não tem esse propósito, não é a investigação de alguém, não é uma entidade separada tentando fazer alguma coisa.
O curioso é que é somente essa entidade separada que quer se ver livre desse sentido de separação. Esse incômodo, esse sofrimento, essa miséria cria isso. Então, o que essa entidade separada – essa ilusão dessa entidade presente criando o sofrimento, esse próprio peso do sentido de separação, essa miséria buscando sempre alguma coisa, inclusive tentando se livrar de tudo isso, na assim chamada busca espiritual – está fazendo é mantendo esse véu, fortalecendo esse véu. Todo o esforço é nessa direção. Todo esforço fortalece ainda mais esse véu. A coisa mais simples é a mais difícil para essa ilusão do eu, do mim, da pessoa, porque a coisa mais simples é parar com toda a busca, parar com todo esse movimento de tentar encontrar isso.
O ego tem tentado encontrar essa Felicidade, essa Paz, essa Liberdade. Tentou nas coisas mundanas, agora está tentando nas coisas, assim chamadas, espirituais. Tentou no materialismo e agora está tentando no espiritualismo ou espiritualidade. Todo esse movimento de busca que a mente egoica tem, todo esse sentido de alguém presente à procura da felicidade, está ocultando a própria Felicidade; a procura da paz está ocultando a própria Paz; a procura da liberdade está ocultando a Liberdade.
Mais cedo ou mais tarde você terá que desistir da busca, terá que desistir de todo o esforço no ego para realizar o fim do ego. Essa incansável procura através de práticas espirituais, assim como leituras dos livros e estudos da espiritualidade, só o afasta ainda mais dessa Verdade – da Verdade de sua Natureza Essencial, de sua Natureza Real. As práticas espirituais, o estudo da espiritualidade, a busca da espiritualidade tem muitas ramificações. Existem buscas, práticas e leituras para todos os gostos. Isso vai de doutrinas religiosas até o estudo da Advaita. E tudo isso não passa de uma grande ilusão – essa ilusão da busca. O próprio “eu”, esse próprio sentido de separação se fortalece, se tornando cada vez mais refinado, mais purificado, mais espiritualizado.
Alguns de vocês, aqui, nessa sala, já passaram por isso, e outros ainda estão passando, ainda não estão cansados da espiritualidade. Até estão cansados da busca de realizações materiais, mas estão, agora, buscando as realizações espirituais. Nada disso é real. Antes havia um “eu” aí materialista, agora tem um “eu” aí espiritualista. Havia um “eu” aí que não sabia nada de espiritualidade, agora tem um “eu” aí que sabe muito sobre espiritualidade, capaz até de ensinar isso, de tantos livros, de tantas palestras, de tantos ensinamentos que recebeu.
E eu estou repetindo isso aqui: essa tentativa do eu de realizar alguma coisa por ele mesmo irá fortalecê-lo. Ou na vida mundana ou na vida espiritual. Esse é o próprio véu que oculta essa realidade da Verdade sempre presente, mas que não pode aflorar, florescer, se manifestar. Mais cedo ou mais tarde você terá que se livrar de tudo isso, de toda a sua espiritualidade. Você terá que se livrar da própria busca do fim do sofrimento pelas práticas da espiritualidade, porque no fundo, você quer substituir essa miséria, essa dor, esse sofrimento por alguma coisa espiritual, e isso ainda é o véu que cobre essa Realidade, essa Verdade, essa Graça da verdadeira Felicidade, do verdadeiro Amor, a Verdade de Deus Presente, da Sabedoria Presente.
Soa muito estranho, isso, né?
O ego é incansável na sua busca. E aqui, se trata do fim da busca, do esvaziamento completo de todo o conteúdo, o material e o espiritual. Você está sempre carregando uma prática nova, um livro novo, um ensino novo, acreditando que qualquer nova ideia irá aproximá-lo disso, mas você não sabe o que é isso, a mente não sabe o que é isso. Isso está além do seu saber, está além da mente. Isso está presente quando você não está, quando a mente não está, quando a busca ou essa procura de se livrar do sofrimento não está.
Só não há sofrimento quando não há ilusão, e não quando você tenta realizar isso pela busca do fim do sofrimento. Somente o fim da ilusão significa o fim do sofrimento, e não a busca pelo fim do sofrimento. Só há Felicidade quando existe o fim dessa ilusão – a ilusão de se encontrar a felicidade no materialismo ou no espiritualismo. A Felicidade é a Natureza da Verdade, é quando não existe nenhuma busca – nem a busca do fim do sofrimento nem a busca da felicidade. Isso é o próprio véu que encobre essa Verdade da ausência do sofrimento, da Felicidade Real.
Acompanham isso?
Estou dizendo que você não pode realizar isso, você está só atrapalhando. Todo o seu esforço é só para atrapalhar. Isso tem que ficar sob os cuidados da Graça, sob os cuidados de Deus, sob os cuidados dessa Presença. Essa Presença é o Guru, é a Consciência, é Deus, é a Verdade. Em outras palavras, enquanto esse “eu separado” estiver sendo considerado real, é inevitável que ele continue tentando se livrar do sofrimento, tentando encontrar felicidade, que ele continue tentando se livrar da mente. A mente tentando se livrar da mente, o “eu” tentando se livrar do “eu”... percebem o truque? A infelicidade tentando encontrar a felicidade, o conflito tentando encontrar a paz. Tudo o que o conflito faz é produzir mais conflito, tudo o que a infelicidade faz é produzir mais infelicidade, tudo o que a mente faz está dentro da própria mente, está apenas fortalecendo a própria mente. Meu Guru, meu mestre Ramana dizia que isso é como o ladrão vestido de policial tentando prender o ladrão.
Talvez, nesse ponto do encontro você pergunte: Então, o que fazer?
Eu posso lhe garantir que há um momento em que você percebe, claramente, pela investigação, que está andando em círculos. Esse momento pode ser encarado, a princípio, como desesperador. Mas, na verdade, essa é a sua grande oportunidade de desistir, de parar com esse esforço. Esse esforço é essa ilusão tentando se livrar da ilusão, é o “eu” tentando se livrar do “eu”, é a mente tentando se livrar da mente. Nesse momento, acontece a entrega, a desistência. É quando a Graça pode assumir, a Presença pode assumir, Deus pode assumir, o Guru pode assumir.
É o momento em que você percebe a importância daquilo que tem toda a importância. Deus é essa única coisa que importa! O Guru é essa única coisa, a Verdade, a Presença da Graça! Nesse momento, nesse estágio, nesse instante, o sofrimento não pode mais se manter, a ilusão da separatividade não pode mais se manter, o ego não pode mais se sustentar – o ego em sua busca, em sua procura... Então, imediatamente, uma janela se abre. Depois, essa janela perde a importância, e uma grande porta se abre, muito maior do que essa janela. É uma porta com dois lados e, de par em par, elas se abrem. Esse é um chamado de Deus, da Graça, dessa Presença. Então, você para com tudo, você desiste, você não resiste, você se rende. Então, o trabalho real, pela primeira vez, começa a acontecer, porque você não está mais aí, porque não há mais essa disposição de tentar realizar isso sozinho, através de suas habilidades, técnicas, capacidades...
Participante: Mestre, nos minutos finais, o senhor poderia nos esclarecer sobre o que é autoinquirição?
Mestre: Autoinquirição significa, basicamente, duvidar de si mesmo, duvidar total e completamente de qualquer poder ou habilidade/capacidade que você tem – o que, na verdade, é somente o movimento da própria mente. Todo poder ou habilidade/capacidade é ainda do próprio ego, da própria mente egoica. Então, a expressão “Quem Sou Eu” ou “O que Sou Eu” não é uma pergunta para se encontrar uma resposta. É uma exclamação e não uma pergunta. Uma exclamação de desistência, de não resistência. Significa estar quieto, sem esforço, sem qualquer movimento, uma completa entrega a essa Graça, a essa Presença, a essa Verdade que é o Ser. Eu falo de sua Natureza Real, de sua Natureza Divina. A Presença dessa Graça faz isso aflorar, despertar. Essa autoinquirição é o seu coração inteiro nisso, é a sua vida inteira nessa exclamação! Não é uma mera interrogação intelectual, verbal, não é uma fórmula que como um mantra se repete...
A dificuldade aqui, que você sente, nesse instante, é que você espera que eu lhe dê uma fórmula, que eu faça exatamente o que os livros estão fazendo para você, por você – eles estão lhe dando fórmulas.
A Verdade é algo muito vivo, muito real. O que não está vivo pode ser encontrado em algum ponto; o que está vivo está se movendo... Um corpo enrolado em faixas é uma múmia, e você a encontra, você encontra esse corpo enrolado em faixas. A Verdade não é um corpo enrolado em faixas. A Verdade não está enrolada em palavras, em conhecimentos, em práticas, em experiências, em técnicas... A Verdade não é um corpo enrolado com toda essa coisa. A Verdade é algo vivo! A Verdade está viva, você a constata, é a sua Natureza Verdadeira. Essa é a sua Natureza Real, a que está além da mente, a que está além do conhecido, além do conhecimento, das palavras, das práticas espirituais, das técnicas...
Ok, pessoal! Vamos ficar por aqui! Por isso, continua o convite: presencialmente, nós investigamos isso melhor, ok?
Namastê!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 20 de junho de 2016, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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