quinta-feira, 14 de março de 2024

Puro condicionamento psicológico | Livre do autocentramento | Ama o teu próximo como a ti mesmo

Vamos colocar para vocês alguma coisa sobre essa questão fundamental do Amor. Eu vejo uma proximidade, uma coisa muito intimista entre o Amor e a morte. Na verdade, nós não sabemos o que é o Amor. Para nós o amor é uma experiência de sensação. Essa associação da palavra “amor” a uma experiência de sensação é algo muito forte em nós – tem sido assim desde criança. Todo o tipo de afago, carinho e toque que recebemos, que nos confere alguma forma de prazer, esse prazer é sensação. Uma criança vem recebendo isso desde muito pequena.

Em nosso cérebro, em nosso intelecto, esse afago, carinho, prazer, que é uma mera sensação, associamos isso à palavra “amor”. Então, “aquele que me dá isso é aquele que me ama”. Nossos cérebros condicionados estão sempre relacionando uma sensação de prazer, de preenchimento, de satisfação a essa coisa chamada “amor”. O amor é isso? O amor é um sentimento?

Uma sensação está dentro do sentimento, mas o pensamento também carrega a sensação. Observem que quando você tem uma lembrança, isso é um pensamento, mas é um pensamento carregado também de sensação. Um pensamento carrega sentimento. Nós associamos, em geral, toda essa sensação de prazer, esse sentimento de prazer a essa coisa chamada “amor”. Então, nós usamos a expressão “amor” sem saber o que isso significa.

O ser humano é muito curioso, porque ele é um ser muito interessante. Não só a palavra “amor”, mas as palavras “Deus”, “verdade”, “liberdade”, tudo isso dentro de nós tem associações; associações de sensações, de sentimentos, de emoções. Então, nós acreditamos que sabemos o que significa a palavra “Deus”, porque há uma forte sensação envolvida nisso.

Em nossa cultura, onde há essa crença geral em Deus, desde pequenos crescemos ouvindo músicas, frases, poesias, palestras, e lá estava essa palavra “Deus”. A vida religiosa que recebemos está muito associada a essa palavra. Assim, a nossa experiência de sensação, de emoção e sentimento em relação a essa palavra é muito forte, então nós temos a ilusão de que nós conhecemos Deus, porque isso nos emociona, nos cria uma sensação, um sentimento particular. O mesmo ocorre com a palavra “amor”, com a palavra “liberdade”. Sobretudo para aqueles que estão dentro de condicionamento político ou dentro de um certo treinamento filosófico, a palavra “liberdade” tem um forte impacto sobre eles. O mesmo ocorre com a palavra Deus para os religiosos.

Não podemos negar a Realidade da Liberdade, nem do Amor, nem de Deus, mas não podemos associar essas palavras àquilo que nós acreditamos – e é isso que nós temos feito. Nós achamos que sabemos o que é o Amor; na verdade, tudo o que nós sabemos é condicionamento, é uma forma específica de pensar ligada a um sentir de puro condicionamento psicológico, de puro condicionamento, também, físico, a nível de sentimento, de sensação e de emoção.

Agora, eu pergunto a você: o que é o Amor? Será esse amor que nós conhecemos a Verdade do Amor? Será que esse “Deus”, que é uma palavra para nós, associada a uma sensação, será que Deus é isso, uma palavra ligada a uma sensação? “Eu amo você!” O que isso significa? Se você se aproximar e olhar isso de perto, você vai ver que com a expressão “eu amo você”, o que, na verdade, eu quero dizer é que você me dá prazer, é que você me satisfaz, você me preenche de alguma forma. O que, na verdade, eu quero dizer é “eu quero você”, “eu preciso de você”.

O Amor precisa de algo? A sensação precisa ser preenchida. Eu não sei se você já notou isso, que quando temos um desejo – que, na verdade, é uma sensação –, isso está sempre buscando uma forma de preenchimento. Quando essa sensação é negada, um desejo é rejeitado em “mim”, para “mim”, eu fico aborrecido, eu fico irritado. Se você não preenche a minha satisfação, se você não preenche o meu desejo, se você não preenche essa sensação que busco em você, eu não te amo mais, eu fico com raiva, você agora me aborrece, eu vou trocar você por outra (o). Cadê o amor?

O amor está presente enquanto você me preenche, enquanto a minha sensação é satisfeita. Esse é o jogo. Então, quando eu pergunto: você ama sua esposa? Você, com muita certeza, diz: “Sim, eu a amo”. Não fique aborrecido comigo, mas se ela colocar chifre em você, o que vai acontecer com esse “amor”? Haverá raiva, vontade de que? Qual será a sua reação? O amor está presente? Até quando ele está presente?

Então, o que nós temos na esposa? Uma companheira, uma cúmplice da nossa confusão, da nossa dor, do nosso medo, do nosso desejo. Ela é minha cúmplice enquanto faz parte do “meu mundo”. O que é esse “meu mundo”? Um mundo exclusivo desse “eu” que eu acredito ser, que pareço ser, que demonstro ser, cheio de exigências; e uma das exigências é ser amado, e ser amado é ser satisfeito emocionalmente, fisicamente, afetivamente, psicologicamente e sexualmente. Se faltar uma dessas coisas, o “amor” desce pelo ralo.

Não há Amor. O que existe entre nós são sensações. Se você preenche o meu “eu”, preenche o meu ego, me dá prazer, satisfação, uma aprazível sensação, “eu amo você”, até que.... É sempre assim que funciona. Nós não sabemos o que é o Amor, nós sabemos o que é o apego. Um objeto que me dá prazer, a ele estou agarrado, porque ele me satisfaz. Isso vale para qualquer nível de objetos. Eu disse exatamente isso: para qualquer nível de objeto. Os níveis de objetos parecem ser diferentes, mas do ponto de vista desse, assim chamado, “amor”, que é a busca de sensação nessa experiência, todos esses objetos para “mim”, para esse “eu” são só objetos.

Nós estamos sempre lidando com objetos, porque essa é a posição do sujeito. Examine isso, olhe para dentro de si mesmo, observe a verdade dessas relações que nós temos uns com os outros, observe isso claramente e você vai ver. Um carro nos dá uma satisfação, um preenchimento e uma sensação, mas não é sexual. A diferença está na sensação que os objetos nos causam e o que nós esperamos de cada objeto. Eu sei que não é nem tolerável ouvir isso assim passivamente, sem se aborrecer, mas é exatamente assim. A diferença dos objetos são as sensações que eles nos trazem e o quanto eles nos preenchem egoicamente, nesse autocentramento. Isso nós chamamos de “amor”.

Não sabemos o que é o Amor porque não sabemos o que é a morte. Você saberá o que é o Amor quando descobrir o que é a morte, o que é morrer para toda e qualquer experiência. A sensação está presente, há um momento de prazer, mas o prazer é solto, a sensação perde a importância, porque esse “eu” desaparece quando a morte acontece dentro da experiência. Então, é nesse sentido que eu uso aqui a palavra “morte”. Morrer para cada momento, isso significa uma vida livre do “eu”, desse autocentramento. Sua relação com a esposa, com os filhos, com os objetos será uma relação inteiramente nova, porque haverá Liberdade.

A Liberdade está presente porque a morte está presente. Então, se queremos descobrir o que é o Amor, não podemos jamais confundir isso; não confundam sensação, prazer, preenchimento, não confundam isso nessa mente que procura isso. A presença do Amor é a ausência da mente, dessa mente que procura sensação, que busca se preencher nas experiências, que internamente é dependente, que externamente é dependente. Internamente é psicologicamente: “eu me lembro dela, sinto falta dela, eu a amo”. “Eu me lembro dela, sinto falta dela porque ela me satisfaz, ela é tudo o que eu preciso para esse momento”: o desejo está imperando.

Quando o desejo está presente, a imagem do outro está presente, então “eu a amo”. Consegue amar as pessoas das quais não se lembra? Se eu digo: você ama a sua esposa? A imagem da esposa vem. Existe presença de esposa sem a lembrança de esposa? Há uma sensação. O que é uma imagem? O que é um pensamento? Uma lembrança. Você ama a sua esposa? Você vai dizer: “Já amei”. E por que você diz “já amei”? Porque antes de ser traído, você a amava. A lembrança que você tem dela agora, cadê o amor?

Então, repare: aquilo que nós chamamos de “amor” está associado à memória, a pensamentos. Qual é a verdade disso tudo? O “eu” não sabe o que é o amor, a pessoa não sabe o que é a morte. A pessoa não sabe absolutamente nada. Ela não sabe quem é Deus, mas diz “o meu Deus”, como a outra diz “o meu amor”. Será o amor uma coisa pessoal? Será uma coisa particular, associada a essa sensação que quando é preenchida me deixa relaxado e tranquilo, e que quando me é negada eu fico irritado e muito aborrecido? Qual é a verdade disso tudo?

Você não sabe o que é o Amor. Você não sabe quem é Deus. Você não sabe quem é o outro. Você não sabe quem é você mesmo. Mas os religiosos dizem, Jesus disse: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Sim, é perfeito o que Jesus disse. O que não está completo é aquilo que fazemos do que Jesus disse. Nós não sabemos o que Jesus disse, mas temos ideias sobre isso. Você pode amar o seu próximo? A pergunta é: quem é você? Sem descobrir a Verdade desse Amor que Você é, o que significa amar o seu próximo como a si mesmo?

Se você não sabe o que é amar a si mesmo, como pode amar o seu próximo como a si mesmo? Nós achamos bonito, associamos a sensações de cuidado, de carinho, de renúncia pelo outro. O que há por detrás disso tudo? O que é que ocultamos por detrás disso tudo? Que espécie de interesse carregamos? Que espécie de busca de preenchimento nós buscamos? Talvez elas não sejam tão declaradas assim, mas de uma forma sutil existe um interesse, assim chamado, “espiritual”, o que também ainda representa uma forma de sensação muito particular para o ego nesse, assim chamado, “amor”, associado a cuidado, à apreciação e a carinho pelo outro, o que não passa de caridade.

Amor não é caridade, Amor não é a sensação de se sentir melhor consigo mesmo porque está deixando o outro feliz. Talvez você diga: “Não, não há egoísmo aí, o ego não está envolvido nisso, isso é amor incondicional”. Isso é verdade? Você já percebeu como você se sente feliz quando deixa o outro feliz? Você está fazendo para o outro estar feliz ou você está fazendo porque é bom ser bom? Faz bem ser bom, te deixa feliz fazer o bem.

Então, não importa se esse, assim chamado, “amor” tem esses aspectos externos, aparentemente grosseiros, de busca de preenchimento puramente egoico, pessoal, declarado ou se essa busca de preenchimento está velada, oculta, disfarçada na aplicação de princípios, assim chamados, “espirituais” porque Jesus disse, porque Buda disse, porque Krishna disse.

Então, o que é o Amor? O Amor é aquilo que está presente quando o “eu” não está, quando o ego não está. É necessário nós descobrirmos o que é morrer dentro da experiência para a dor e para o prazer, aí podemos descobrir alguma coisa além da mente, além da sensação, além do preenchimento, além do prazer, além dos objetos, além das coisas, além do mundo, além da pessoa. Então o outro, agora sim, não está mais, não está mais lá. O outro sou eu mesmo. Essa é a presença do Amor – “Ama o teu próximo como a ti mesmo”.

Se o sentido do ego não está, a Verdade do Amor está, e esse Amor não é o outro, esse Amor é a presença da Realidade. Então, a Verdade sobre o seu Ser é a Verdade sobre o Ser, e aqui não tem mais o outro. Isso é cumprir o que Jesus disse. A visão da Verdade é a visão do Amor. Essa visão está presente quando o “eu” não está, quando o ego não está. Isso é Amor, isso é a morte, isso é a Vida, isso é Deus, isso é a Liberdade, isso é a Felicidade.

Repare, nós usamos de uma forma muito ampla essas palavras, associadas a todo tipo de coisa, e nada disso é Real. E aqui estamos dizendo que estamos lidando com uma Única Realidade. Realize seu Ser, Realize Deus, fique Quieto. Descubra a Verdade sobre Isso, deixe Isso assumir esse lugar nesse corpo, nessa mente, e o Amor estará presente. Antes disso é uma viagem do próprio “eu” nessa ilusão de conhecer as coisas e saber a verdade delas. Tudo isso é falso.

Fevereiro de 2024
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terça-feira, 12 de março de 2024

O Despertar da Sabedoria. Conflito nas relações. Verdadeira Meditação Prática. Desordem psicológica.

Você já percebeu que nós estamos trabalhando aqui com você a respeito do Despertar da Verdade d’Aquilo que trazemos. Portanto, estamos trabalhando com você o fim para a ignorância, para essa autoignorância, a ignorância a respeito de nós mesmos. Em geral, o ser humano não se conhece, nós não nos conhecemos.

Aqui estamos investigando com você a questão do Despertar da Verdade que somos, portanto, o Despertar da Sabedoria. Então, para perguntas do tipo: “Como alcançar a Sabedoria?” ou “Como alcançar a Iluminação Espiritual?”, nós estamos tratando exatamente da mesma coisa quando estamos investigando a questão a respeito desse "eu" que apresentamos ser, que demonstramos ser na vida.

Assim, nós vamos agora olhar com você um pouco a respeito da possibilidade desse encontro com a Verdade, com a Verdade que somos, com a Verdade que trazemos e, portanto, com o Despertar da Sabedoria – o que alguns chamam também de Iluminação Espiritual –, a Verdade desse Ser que somos quando esse “ser” que apresentamos ser, que colocamos na vida sendo já não estar mais presente.

Estamos investigando a Verdade sobre o que é. O que é é isso que se apresenta aqui, nesse momento. Toda forma de desordem psicológica, toda forma de contradição interna está presente no ser humano – o medo, o desejo, a ambição –, toda forma de contradição e conflito em nossas relações, na relação com as pessoas, na relação com nós mesmos, na relação com a vida, todo tipo de confusão está presente em razão da ignorância.

Em geral, nós não investigamos a verdade da confusão, do medo, do desejo, da contradição, do conflito em nossas relações. Nós não investigamos isso, então nós não temos um contato direto com o que é. Alguns acreditam que alcançar a Sabedoria é algo que se torna possível quando nós estudamos, quando nós aprendemos, quando nós nos esforçamos muito em direção a uma educação acadêmica, livresca. Então, se estudarmos livros de psicologia, de religião e de filosofia, iremos alcançar a “verdade da sabedoria” e isso irá representar para as nossas vidas uma mudança, uma radical transformação, uma significativa qualidade de vida.

Qual será a verdade sobre o Despertar da Sabedoria? Aqui nós estamos lhe dizendo que a Sabedoria é algo inato, uma vez que você tenha atenção para uma direta compreensão e para um estudo não dos livros, mas para o estudo de si mesmo, nesse momento. A compreensão disso que se mostra como sendo isso que é para essa pessoa que você acredita ser, quando você está na relação com o outro, na relação com você mesmo, numa relação direta com pensamentos que produzem medo ou desejo.

Assim sendo, o estudar a nós mesmos é aquilo que se faz realmente necessário para o Despertar da verdadeira Sabedoria. Na realidade, sem essa compreensão – que é a compreensão do que é, de como você é nesse momento –, sem esse estudar a si próprio, sem a verdadeira visão desse conhecer a si mesmo, desse estudar a si mesmo, que é a Verdade do Autoconhecimento, ficamos impossibilitados de uma compreensão direta sobre quem, verdadeiramente, nós somos – quem nós somos nisso que se mostra aqui, nisso que é.

A não compreensão disso não nos permite ir além dessa condição. Se há medo, se há inveja, se há ciúme, se há confusão, se há desordem, se há sofrimento, se há essa presença da ignorância, a não compreensão direta disso que é não nos permite ir além disso. Ir além disso significa constatar a Realidade inata do Despertar desta Real Inteligência, desta verdadeira Sabedoria, que é algo, que é parte d’Aquilo que somos; na verdade, é nossa Real Natureza.

Quando há essa Inteligência, quando há essa Sabedoria, temos presentes a Verdade, e a Verdade é isso que se mostra além do que é. Mas nós precisamos primeiro nos aproximar disso que é, disso que está aqui, investigar isso. Assim, não vem pelo conhecimento intelectual, não vem pelo estudo da psicologia, da filosofia, da religião, mas vem pelo Despertar de nossa Natureza Verdadeira quando essa identidade que somos, que é o "eu", pessoa, já não está mais presente. Então, qual é a natureza desse "eu"? Qual é a natureza dessa pessoa?

Repare que nossas ações, assim como nossos sentimentos, emoções, nossa relação com o mundo, nossa relação com a vida, com nós próprios, sempre se baseiam em experiências passadas. Então, ao passarmos por experiências, nós adquirimos essas experiências, elas se tornam parte de nossa memória, de toda essa formação que trazemos, que temos e, portanto, que manifestamos agora, aqui.

Então, a verdade daquilo que manifestamos é a verdade daquilo que é nesse instante. A ideia de mudar isso, de alterar isso, de modificar isso, de transformar isso, com base numa formação intelectual, através de um estudo intelectual dos livros, isso não funciona, porque estamos, mais uma vez, trazendo para dentro dessa experiência a nossa cultura de guardar mais ainda informações.

Nós temos muitas informações guardadas, já temos muito conhecimento guardado porque já passamos por muitas experiências, já nos envolvemos com toda forma de prática religiosa, espiritual, já lemos muitos livros e, apesar disso, aquilo que demonstramos ser neste momento continua sendo essa pessoa. Insatisfeitos com essa pessoa, nós ainda estamos acreditando que, adquirindo mais – ou seja, mais informação, mais experiência – iremos um dia, em algum momento, vivenciar uma mudança.

Nós não podemos ter a Verdade que está além disso que está aqui se mostrando tendo por princípio uma ideia de realização no futuro para isso, com base nesse princípio, porque estamos apenas nos movendo dentro de uma condição psicológica de tempo.

Psicologicamente, nós acreditamos no tempo: “Eu sou isso, mas eu serei aquilo amanhã”; “O medo está aqui, mas amanhã estarei livre do medo”; “A inveja está aqui, mas amanhã estarei livre da inveja”; “Eu só preciso estudar mais”. Estudar mais o quê? “Mais sobre a inveja”; “Eu preciso estudar mais sobre a questão da violência porque pretendo deixar de ser violenta”; “Eu preciso estudar mais sobre a questão do amor, eu preciso descobrir como amar. Ainda não estou amando o suficiente, mas amanhã conseguirei isso. Então eu preciso estudar mais essa questão do amor”.

E tudo o que temos feito nessa ideia de amanhã é colocar esse conceito de que vamos ir além disso que é se aprendermos mais nos livros ou colocando a nós mesmos numa condição de esforço, de disciplina e de ordenamento para um novo padrão de comportamento. Observem que isso não tem funcionado, porque é sempre o velho movimento do "eu", da pessoa, do próprio experimentador mantendo sua continuidade nessa ilusão de que um dia, fazendo uso do tempo, irá obter esse resultado.

Aqui o ponto é que esse tempo é o tempo criado pelo pensamento – o tempo de um ideal, de um objetivo, de um propósito. Será essa a forma de realmente eliminarmos de nós o medo, a inveja, a violência, a ausência do amor? Tudo o que conhecemos como amor é outra coisa. O amor que conhecemos carrega um outro lado dele, que é o ciúme, o despeito, a dependência emocional. Naturalmente, esse “amor” que carrega esse outro lado não pode ser o Amor que estamos tratando aqui.

Estamos falando da Verdade do Amor, Aquilo que está presente quando o sentido do “eu”, do ego, já não está mais. Portanto, tudo que o experimentador, que é o “eu”, o ego pode fazer é realizar superficiais mudanças, é se ajustar ao novo modelo, a um modelo de simplicidade, de humildade, de amor, de não violência, de coragem, como ausência do medo e assim por diante. Então, o que o experimentador pode fazer é, diante disso que é, criar alterações.

Aqui estamos colocando para você a beleza de irmos além disso que é, para uma profunda, significativa e radical transformação de tudo isso, o que representa o fim do “eu”, o fim do ego, o fim desse experimentador. Esse é o fim disso que é para algo inteiramente diferente de tudo isso, totalmente desconhecido desse antigo e velho modelo, que é o modelo do “eu”, do ego, dessa ignorância, dessa ilusão.

Assim, o Despertar da Sabedoria é a ciência da Revelação de Algo que está além do “eu”, do ego, do experimentador. Esse experimentador é o centro de suas particulares experiências, então, nossa relação a partir deste centro será sempre uma relação onde o princípio da separação estará presente. A separação é entre “eu e você”, “eu e o outro”, “eu e o mundo”, “eu e a tristeza”, “eu e o medo”, “eu e a dor". Eu me refiro a essa dor psicológica, por exemplo, da solidão, da frustração, do medo. Se isso está presente, nós não temos a Verdade da Sabedoria, a Verdade da Revelação d’Aquilo que está além dessa condição, que é a condição pessoal de ser alguém na vida, no viver.

Para que isso se torne possível, nós temos que ir além dessa noção de tempo de “eu sou e eu serei”. Nós sempre temos a ideia de vir a ser, de se tornar, de alcançar, de obter, de realizar, assim colocamos a noção do futuro. Então, esse idealismo é algo criado pelo pensamento. O pensamento sustenta essa ideia de “alguém mudado”, de “alguém transformado”, de “alguém diferente”. Esse “alguém” sou eu, então, “eu sou isso, mas amanhã serei aquilo”.

Percebam a ilusão em que nós nos encontramos quando estamos dentro dessa formulação de ideias, de crenças: “então eu fui, eu sou e eu serei”. Qual é a verdade desse “eu”, desse experimentador? Ele é um conjunto de experiências guardadas, portanto, ele carrega um centro; ele sendo o experimentador com as suas experiências, pelas quais já passou, e ele está guardando, cultivando isso e mantendo a continuidade de suas experiências.

A cada momento na vida sempre nos deparamos com algo novo. A vida é um desafio sempre novo, mas o modo que temos de nos aproximarmos da vida nesse momento – e aqui a vida é a relação com o outro, a relação com o sentimento, a relação com o pensamento, com uma emoção, com uma sensação, com um modo de perceber nesse instante – é com o velho presente. Esse velho que está presente é o experimentador, o “eu”, o ego.

Estamos sempre diante do que é sem tomarmos ciência disso aqui e agora, sem tomarmos ciência desse movimento, que é o velho movimento do “eu” absorvendo esse momento presente dentro já dos princípios que o “eu”, o ego, o experimentador já tem. Então, estamos trabalhando aqui com você, lhe mostrando a possibilidade de irmos além dessa condição, que é a condição do ego, e isso se torna possível quando você investiga a natureza do “eu”, a natureza do ego.

Assim, a base para essa visão é a compreensão do movimento do pensamento, do sentimento, da emoção, da percepção, aqui, nesse instante. Isso requer a Verdade de uma aproximação do Autoconhecimento e da verdadeira Meditação de uma forma vivencial, prática, para o contato com a Vida nesse momento, sem esse sentido do “eu”, do ego, do experimentador.

Fevereiro de 2024
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quinta-feira, 7 de março de 2024

O que é a morte do ego? Verdade sobre a Meditação. Pura Consciência. Atenção Plena. Real Consciência

A coisa que realmente importa é a gente perceber essa Compreensão da Verdade, da morte da ilusão – e só o que pode morrer é a ilusão. Estamos tratando da morte da ilusão desse “eu”. Essa palavra “morte” é uma palavra que assusta, e muito, porque isso remete você ao fim de alguma coisa. Mas a verdade sobre isso é que nós nunca experimentamos a beleza do fim das coisas. O nosso movimento é sempre de adquirir, de possuir, de guardar, de acumular, de ter. Nós sempre temos a ideia de que quanto mais nós temos, porque adquirimos e agora acumulamos, mais seguros nós nos sentimos.

Aqui, tratamos do fim dessa memória psicológica, algo que eu tenho chamado de “complexidade de memória” ou “memória complexa”. Nós temos dois tipos de memória. Temos a memória simples, a memória da qual fazemos uso tecnicamente, tecnologicamente, funcionalmente, em nossa vida; e temos a memória complexa, que é a memória psicológica. Estar ofendido com alguém é ter guardado a lembrança dele ou dela, ele ou ela sendo alguém que não gosta de você, ele ou ela sendo alguém que maltratou você. Esse é um exemplo simples de memória complexa, de memória psicológica.

A nossa vida no “eu”, a nossa vida no ego é memória. Então, será que é possível realmente não carregar mais esse “eu” e, portanto, essa memória complexa, que é a memória dessa egoidentidade? Em outras palavras, seria interessante você viver sem se ofender, sem se magoar, sem se aborrecer, sem se entristecer com ninguém? Seria interessante para você não depender da apreciação nem do distrato do outro para ter uma posição sobre quem o outro é? Em outras palavras, seria interessante você viver sem imagem do outro?

Numa relação entre um casal, seria interessante sua relação com a esposa sem nunca ter dela qualquer psicológico desgosto, tristeza, raiva, irritação ou cobrança de que ela seja diferente de como ela é para você se sentir bem nessa relação? Seria interessante vivermos sem imagens das pessoas? Seria interessante você viver sem qualquer imagem de si mesmo, ou seja, não ter o que defender a respeito da avaliação que o outro faz de você, com o que pensam sobre você, com o que dizem sobre você, se gostam ou não gostam de você?

É isso que eu tenho chamado “a morte do eu”. Uma vida livre do sentido de alguém presente, dentro deste instante, nessa relação com o outro. Esse é o fim dessa memória complexa, dessa complexidade de memória que é a memória do “eu”. É essa memória do “eu” que tem crenças e descrenças. É essa memória do “eu” que usa expressões como “eu acho que”, “eu penso que”, “para mim isso não tem importância”. Estamos sempre com esse “mim”, com esse “eu”, com as nossas opiniões, com as nossas crenças, com as nossas descrenças. Tudo isso faz parte deste “eu”, da ilusão desta egoidentidade.

Uma coisa interessante sobre essa egoidentidade, também, é o fato de que ela se sente como sendo uma entidade presente que carrega uma individualidade bem peculiar, bem única, bem singular, o que não é verdade, porque tudo aquilo que você sente, pensa, acredita ou não acredita é algo comum a todos. Não existe esse sentido de individualidade separada, não existe um real sentido de alguém presente dentro dessa experiência. Tudo o que nós temos é um conjunto de memórias e uma habilidade inconsciente, mas muito presente nesse cérebro, de estar o tempo todo avaliando, julgando, comparando e formando novas imagens nas relações.

Então, nós estamos sempre dando continuidade ao “eu”, sempre dando continuidade ao ego, sempre dando continuidade a essa memória complexa, a esse sentido de alguém presente. E isso é conflito, isso é sofrimento. Essa qualidade de vida no “eu”, no ego, é ignorância. Então, quando a gente se aproxima desse trabalho sobre nós mesmos, dessa visão da Verdade sobre quem somos, nós nos deparamos com esse “eu”, com esse modo de nos relacionarmos com o momento, sempre a partir desse centro que está sempre formando imagens, sempre sustentando ideias, sempre tendo opiniões, sempre avaliando, e isso nos torna pessoas complexas, faz de nós pessoas tendo esse padrão de vida centrado no “eu”.

Ainda não descobrimos a beleza de permitir a experiência sem a mente. É a presença da mente que torna a experiência algo que guardamos, que registramos. Estamos sempre dando continuidade a esse passado registrado, a essa memória guardada, a essa imagem que o “eu” tem dele mesmo na relação com o outro. Estamos sempre dando continuidade a esse passado.

O que é essa morte do “eu”? O que é a morte do ego? É o fim do passado. Então, é este momento presente, onde a experiência perdeu a importância porque a mente não está. Acompanhe isso: a presença da Verdade d’Aquilo que é Você, não daquilo que se mostra sendo você: isso é o fim da mente presente, o que representa o fim da experiência. Então você está diante de um experimentar.

Ao se encontrar com alguém, o experimentar é tão Real, há uma Atenção tão plena, há esta Presença tão verdadeira, de plena Consciência, de plena Atenção, que a experiência perdeu a importância. O registro daquela experiência perdeu a importância, então o experimentar é significativo. É isso que eu tenho chamado a morte do “eu”, a morte do ego. Vale dizer aqui que isso é agora, sempre neste momento. Então, você está sempre diante de algo novo, porque não existe esse “eu”, não existe esse experimentador, não há nenhuma importância mais nessa experiência. Fica o experimentar, e nesse experimentar, o sentido do “eu” não está, o sentido do ego não se mostra, a experiência perdeu a importância.

O experimentar é significativo, o momento é significativo, este instante é único, não há o “eu”. Vocês têm momentos assim, onde o experimentar é significativo. A experiência perde a importância, porque o experimentador não tem qualquer importância ali, onde a mente não entra ali.

Quando você está diante de um pôr do sol ou caminhando numa trilha, há só o caminhar; ou olhar para a floresta, o cheiro das árvores, a brisa soprando, a mente não está, o experimentador não está, há só este instante. Isso é o experimentar. O ego não registra, não há o que ser registrado. Ele não pode tomar posse disso, o ego não tem qualquer interesse sexual, emocional, sentimental, nem intelectual nisso. Ele não pode adquirir esse momento. Nesse instante, não há “eu”. Esse é o momento da morte do ego, o momento do experimentar puro sem o experimentador, sem a mente, sem o próprio observador.

O observador em nós é aquele que observa e se separa para registrar. O observador em nós funciona como uma câmera fotográfica. A câmera está aqui e o objeto está lá, o que a câmera faz é se separar para registrar. É assim que o ego funciona. Esse “eu”, esse observador, esse experimentador está assim na sua vida.

Quando você se encontra com pessoas, você vive essa experiência e registra essas experiências para, ao encontrar aquela pessoa novamente, com esse fundo que você já traz, saber se posicionar naquela relação. Tudo isso ocorre em nossas relações uns com os outros porque o ego carrega medo, ele se sente inseguro e ele quer controlar a experiência. É por isso que ele entra para experimentar; ele entra para registrar. Então, ele é como uma câmera fotográfica que está sempre fotografando e registrando.

Quando você está em uma trilha, quando você está diante de um pôr do sol, sentado numa rocha, o mar, a luz do sol reluzindo sobre as águas, as ondas vêm com suas espumas e batem sobre aquelas rochas, há só o olhar, há só o momento, há só o experimentar. Não há registro, não existe essa câmera. Nesse instante, Algo está presente. Esse Algo não é o “eu”. Não há qualquer separação, porque não existe câmera, não existe registro, não existe observador. A coisa observada e aquele que observa são uma única Realidade. A rocha, aquele sentado na rocha, as espumas do mar voltando depois de terem batido nas rochas, só não é mais uma experiência, é um Real experimentar porque não fica registro, então o “eu” não está.

Uma vida na relação com o marido, com a esposa, com o patrão, com os empregados, no viver, momento a momento, sem o “eu”, sem a mente, sem o observador, sem a câmera, sem o registro, é uma vida livre. Isso é a morte do “eu”, isso é a morte do ego. Isso é o fim desta memória complexa. É o contato com a vida na totalidade dela.

Então, você pode fazer uso de sua memória de uma forma muito simples. Você pode até mesmo se lembrar que esteve naquela praia, que aquele momento ocorreu, mas ele não carrega mais um fundo de exigência, ele não é mais o momento que o ego sustenta, que o “eu” pôde capturar, que esse “mim” agora está dizendo: “É meu, tenho que voltar naquela praia de novo e sentir aquela mesma coisa.” Isso não acontece porque o ego não estava lá, não houve registro, foi só um momento que se foi.

A vida neste instante está acontecendo dessa forma. Você não precisa estar à beira de uma praia, diante de um pôr do sol. Você está diante de pessoas, numa relação com as pessoas, numa relação com esse momento, sem registro, sem essa memória complexa que o “eu” exige, que o “eu” busca para manter sua continuidade.

Então, o que é a Verdade do seu Ser? É esta presença desta Realidade, desta Pura Consciência, desta Real Consciência quando a mente não está – e aqui, é claro, me refiro a essa mente egoica –, quando o “eu” não está, quando o registro não fica, quando a experiência perde a importância. Então o seu Estado Natural de Ser se Revela. Isso é a aproximação da Meditação.

Coloquem isso em evidência agora, aqui, neste momento. Não precisa estar na beira de uma praia, não precisa estar diante de um pôr do sol, você está aqui e agora. Um pensamento surge, um sentimento, um rosto, uma pessoa, o que quer que esteja ocorrendo à sua volta. Esse “eu” é dispensável, esse registro é dispensável, esse movimento interno de inconsciência que lhe faz dar valor à experiência para poder capturar isso é desnecessário.

Então, aqui estamos nos aproximando da Verdade sobre a Meditação. E a Meditação está aqui e agora, não requer nada a não ser estar aqui e agora, sem o registro, sem o “eu”, sem o ego. Talvez você diga: “E como é isso?” Atenção. Plena Atenção sobre este momento. Nenhuma ambição, nenhum desejo de capturar, nenhuma intenção de levar isso para depois deste momento. Então não há registro.

Podemos passar uma vida inteira, mas uma vida no “eu” é uma vida em morte. Uma vida livre do “eu” é uma Real Vida na Verdade do Ser, na Verdade Divina, na Verdade de Deus. Isso é Autorrealização, isso é Realização de Deus. A memória simples está presente, mas a memória psicológica não está. A memória simples está presente, mas a memória do “eu” não está. E isso é o fim da ilusão, isso é o fim de toda forma de complicação, sofrimento, medo e desejo. Isso é o fim do “eu”, essa é a Liberdade do Ser, essa é a Liberdade de Deus. Isso é Realização de Deus, isso é Amor, isso é Felicidade. Aqui está a Verdade, aqui está o seu Ser.

Janeiro de 2024
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terça-feira, 5 de março de 2024

Condicionamento psicológico. A vida em seu propósito. A verdade do Autoconhecimento. O que é a vida?

É comum a pergunta: “Como encontrar o meu propósito na vida?” Ou: “Como encontrar o propósito na vida?” Existe aqui uma coisa que a gente tem que esclarecer para você. Primeiro, precisamos descobrir, antes de tudo, o que é a vida, porque nós falamos da vida como se nós já conhecêssemos a vida. Então, “Eu já conheço a vida, agora só tenho que encontrar o meu propósito nela”. Isso é verdade?

Então, notem que coisa estranha nossa visão: primeiro acreditamos que nós já conhecemos a vida e que agora só precisamos encontrar o nosso propósito na vida; mas o que é a vida? Então, essa é a primeira pergunta. E existe tal coisa como "o propósito da vida"?

Notem que nós estamos dentro de uma confusão. Psicologicamente, nós nos sentimos sendo alguém, então nós temos esse ser psicofísico que acreditamos ser, corpo e mente, vontade, liberdade, autonomia de pensamentos, de ações... Será que isso é verdade? Será mesmo assim? Nós somos quem nós acreditamos ser? E nós podemos o que nós acreditamos poder? E agora temos esse ideal, o ideal de descobrir o nosso propósito na vida.

O ponto aqui é que nada disso é real, nós não nos conhecemos. Qual é a verdade sobre você? Qual é a verdade sobre a vida? Essa ideia de ser “alguém” nesse momento, aqui, dentro da experiência, naturalmente separado da experiência, é uma ilusão. É a ilusão do controle, é a ilusão do fazer, é a ilusão do poder, é a ilusão de ser. Por exemplo, a ideia que você faz sobre você é uma imagem, é apenas uma imagem que não se ajusta à realidade.

Veja, é muito simples ver isso. A ideia que você tem sobre quem você é, observe os estados internos de contradição presente dentro de cada um de nós. Você sente uma coisa, mas gostaria de sentir outra coisa, então há uma contradição entre o que você sente e o que você deseja sentir. Há uma contradição de movimento de pensamentos também: você tem um pensamento, você acredita que é seu esse pensamento, mas você não pode se livrar dele quando deseja se livrar.

Reparem os pensamentos em nós, como eles se processam. É verdade que você tem esses pensamentos ou são pensamentos que surgem apesar de você? Se você tivesse controle sobre os pensamentos, você não teria pensamentos produzindo contradição interna entre o que você quer e o que você não quer, entre o que você sente e o que você não quer sentir, entre o que você pensa e o que você não quer pensar.

A verdade sobre os pensamentos é que eles são automáticos, eles são mecânicos, eles se processam dentro de um cérebro. Você nunca se pegou cantarolando uma música? Nunca se pegou com uma música se repetindo dentro da sua cabeça? É verdade que você trouxe aquela música, ou ela apareceu? Você nunca percebeu que pensamentos surgem e você não sabe de onde eles estão vindo? Tanto é assim que você quer se livrar deles e essa vontade de se livrar é uma coisa, e o poder de se livrar é uma outra coisa.

Nós não nos livramos de pensamentos quando desejamos, não pensamos quando queremos, não nos livramos do pensamento quando queremos, não sentimos o que queremos sentir, não nos livramos dos sentimentos quando desejamos nos livrar. Então, nós vivemos internamente em estados de contradição, sem qualquer controle sobre sentimento, emoções, percepções e sensações, isso simplesmente acontece nesse corpo-mente em razão de um modelo de programação nessa estrutura, nesse cérebro, nesse corpo.

O corpo está apenas reagindo aos estímulos, o cérebro está apenas respondendo aos estímulos. Há estímulos externos e estímulos internos e, mesmo assim, você acredita que existe como uma entidade presente no controle de todo esse processo. Isso é uma ilusão A ideia de um "eu" presente sendo o gerenciador, o controlador, que tem autonomia, liberdade e poder sobre todo esse processo de pensar, sentir e agir, isso é uma ilusão.

Com um pouco de honestidade, você irá perceber isso que estamos dizendo. Basta apenas olhar para si mesmo e irá perceber a contradição, a culpa, o remorso, o arrependimento, a dúvida, o medo, tudo isso mostra estados internos de contradição e, portanto, de sofrimento dentro de cada um de nós. Esta é a presença desse "mim", desse "eu", desse ego, da ilusão de uma identidade presente no viver, na experiência. E como podemos falar de conhecer o propósito, “o meu propósito”?

Antes de tudo, precisamos compreender a verdade desse "eu" para descobrir se há, de verdade, qualquer propósito para ele. Precisamos, antes de tudo, descobrir qual é a verdade da Vida e descobrir se, na verdade, na Vida existe esse elemento que é esse "mim", esse "eu", essa pessoa. Qual é a verdade do "eu"? Qual é a verdade da Vida?

É isso que estamos vendo aqui juntos. Enquanto não nos livrarmos da ilusão desse "eu", que é o ego, desse que vive dentro dessa condição de completa ignorância a respeito de todo esse processo de movimento dele próprio, enquanto esse cérebro, essa mente não encontrar ordem, enquanto não houver ordem psicológica, enquanto todo esse movimento do cérebro for um movimento de condicionamento psicológico, onde nossas respostas são respostas reativas, de condicionamento, de memória, reações da memória – da memória motora, da memória emocional, da memória de sentimento, da memória de pensamento –, enquanto todo o movimento desse ser psicofísico for este, tudo o que temos é desordem, tudo o que temos é confusão, tudo o que temos é parte, ainda, da ilusão.

Qual é a verdade desse “eu”? Haverá um propósito para esse “eu"? Ou esse “eu” é um conjunto de condicionamento, uma programação, um movimento de inconsciência presente nesse mecanismo, nesse corpo-mente, se movimentando nisso que nós chamamos de “vida”? Qual é a verdade desse “mim”? Qual é a verdade desse “eu”? Se aproximar de si mesmo é tomar ciência desse movimento, então se torna possível um descondicionamento psicológico, um descondicionamento de todo esse movimento que ocorre de uma forma inconsciente, mecânica nesse mecanismo, nesse corpo-mente.

Então, a grande verdade é que nós desconhecemos a nós mesmos, não sabemos como nós funcionamos, não sabemos como essa mente funciona, como esse cérebro funciona, como esse “eu” tem se estabelecido nessa condição usando esse pronome, e pronomes do tipo “meu”, “minha”, “minha história”, “minha vida”, “meu nome”.

Estudar a si mesmo é ir além dessa condição de identidade egoica, de identidade pessoal. É compreender a verdade de si mesmo, é compreender a verdade sobre esse “mim”. Então nos deparamos com a Vida sem esse movimento, que é o movimento do “mim”, do “eu”. Então, sim, nesse momento se torna possível descobrir a Vida em seu propósito. Eu não disse a vida desse “eu”, desse “mim” encontrando o seu propósito na Vida. Eu estou dizendo que é possível descobrirmos juntos, nesse Despertar da Verdade sobre quem somos, o propósito da Vida. Não é a vida pessoal desse “mim”, é da Vida.

A Vida tem um propósito, o “eu” não carrega nenhum propósito na Vida. O propósito da Vida, o propósito na Vida é a própria Vida em seu propósito, não há o “mim”, o “eu”, o ego dentro disso. Mas estamos diante de algo fascinante, porque uma vez que aconteça, que ocorra essa compreensão da Verdade sobre quem somos, nós temos o fim da ilusão desse “eu”.

Então, nesse momento, a Vida carrega uma grande Beleza, um grande propósito. Nesse momento, a Verdade se revela, se mostra como sendo Você em seu Ser verdadeiro, em seu Ser Real, que não está separado da Vida e, portanto, não está separado do propósito. Então, nesse momento nós temos a Vida, este Ser, esta Verdade, nós temos esse propósito, a Realidade de Ser aquilo que você nasceu para ser, Aquilo que é Você nesta Vida quando o sentido do “eu”, do ego, do “mim”, desse sonho de ser “alguém” não está mais presente. Portanto, ter a ciência da Verdade de todo esse movimento do pensamento, do sentimento, da emoção, da sensação do que é esse “mim”, esse “eu”, é ter uma compreensão do que é a Vida.

Então, estudar a si mesmo é ter esse contato com a Verdade do Autoconhecimento. Reparem que aqui a expressão “Autoconhecimento” não é como, em geral, as pessoas usam na psicologia ou na filosofia aí fora. Estamos falando dessa tomada da ciência da Realidade d’Aquilo que é este Ser quando essa ilusão desse movimento, que é o movimento do “eu” – que, por sinal, está sempre dentro de um movimento de tempo psicológico, nessa específica ideia de se tornar, de realizar, de alcançar, de vir a ser –, não está mais presente. É um outro aspecto aqui dentro do assunto.

Em geral, as pessoas falam desse propósito como um idealismo no futuro, tendo a ideia de um “eu”, de um ego, de uma pessoa realizando algo para ela própria, nesse movimento de ambição, de busca de algo, na ideia de se tornar maior do que ele ou ela se vê; por isso as pessoas falam desse propósito na vida. Então, nós temos aqui o fim para essa condição desse sentido de um “eu”, de um ego que se projeta para alcançar, para realizar, porque temos aqui o fim desse tempo, desse psicológico tempo idealizado pelo próprio pensamento em sua projeção naquilo que o ego está chamando de vida, que é a ideia desse futuro melhor para ele mesmo.

A Realização da Verdade de Deus, da Realidade do seu Ser, é o fim do tempo. Então, o futuro é agora, a Felicidade é agora, o Amor é agora, a Liberdade é agora, a Paz é agora, então, nesse instante nós temos a Vida e o propósito. Note que esse propósito e a Vida é a Felicidade, e isso é agora. Então, esse propósito, a Vida e a Felicidade é agora. Então, não se trata de um propósito na vida, mas é a Vida agora em seu próprio propósito, é a presença dessa Realidade, que é a Felicidade de Ser.

Então, não se trata do futuro, não se trata de algo para ser alcançado, não se trata de algo para ser realizado por “alguém”, mas é a constatação da Verdade deste Ser que somos nesse instante. Esse é o propósito na Vida, esse é o propósito de estar aqui. O único propósito na Vida é Ser, e Ser é Felicidade. Esse é o encontro com a Verdade de Deus.

Janeiro de 2024
Gravatá/PE
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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Precisamos descobrir Deus | Confusão, desordem e sofrimento | A Realização de Deus | O fim do ego

O que, na verdade, nós estamos buscando? O que, na verdade, nós estamos procurando? Nós vivemos em um mundo onde há confusão, desordem, sofrimento, então há, inegavelmente, uma busca, há uma procura. Mas eu quero investigar com você aqui se essa procura é pela Verdade, é pela Realidade ou se é a busca, a procura por alguma forma de satisfação, de realização que nos traga um nível novo de preenchimento, já que temos experimentado alguns momentos de satisfação, temos experimentado algumas formas de preenchimentos em diversos momentos em nossas vidas. Mas me parece que nenhuma dessas satisfações, preenchimentos ou realizações se tornaram, de verdade, algo permanente.

Então, o que é que, na verdade, estamos procurando? O que é que, na verdade, estamos buscando? Pode-se procurar a Verdade, pode-se procurar a Realidade, pode-se procurar a Verdade de Deus? Me parece que não é esse o nosso propósito nessa busca, nessa procura.

Assim sendo, o ser humano não está nessa busca ou nessa procura pela Verdade, pela Realidade, não está nessa procura por Deus. Nós estamos, sim, numa busca, numa procura por um nível qualquer de realização e de satisfação que seja permanente. Nessa procura nós estamos mudando de uma religião para outra religião, de um sistema filosófico para outro, de uma ideologia espiritualista para outra. Então, não é verdade essa procura por Deus, pela Verdade. É a procura por uma satisfação, por algo que nos preencha de uma forma permanente. Já que as realizações externas parecem que todas falharam, agora estamos em busca de algo, assim chamado, “espiritual”, mas não é a busca ou a procura pela Verdade, é a procura por uma satisfação dentro daquilo que nós chamamos de espiritualidade.

Então, seria interessante nós investigarmos algumas coisas aqui. A primeira delas é: pode-se encontrar a Verdade? É possível encontrar a Felicidade? É possível encontrar Deus? Veja, nós podemos buscar algo que nos dê uma realização, um preenchimento, uma satisfação permanente, mas existe, na verdade, também, tal coisa? Então repare que situação delicada é essa daquele que busca, daquele que procura.

A primeira é que nós não podemos encontrar algo que, de verdade, seja permanente com o nome de Felicidade, com o nome de Verdade, com o nome de Deus. Não é possível encontrar isso que nós projetamos como algo permanente. Então, essa, assim chamada, “satisfação” ou “realização” que projetamos numa ideia, numa imagem que fazemos sobre Deus, sobre a Verdade, sobre a Realidade, se é isso que o ser humano está, de verdade, procurando dentro da espiritualidade, ele não irá encontrar. E por que podemos afirmar isso, que nós não podemos encontrar algo de permanente? Porque não há permanência em nenhuma realização, em nenhum nível de preenchimento, em nenhum nível de satisfação. Isso porque é a natureza de uma realização, de um preenchimento ou de uma satisfação, é da natureza disso a impermanência. Então, esse é o primeiro ponto.

O segundo ponto é que essa Verdade, Realidade ou Deus não é algo passivo de ser encontrado. Não podemos encontrar Deus. Não podemos encontrar a Realidade. Não podemos encontrar a Verdade. O que se torna possível é a constatação da Realidade, a constatação de Deus, a constatação da Verdade. No entanto, para que isso se torne possível, nós precisamos descobrir quem é esse que busca. Reparem que coisa importante nós temos aqui para ver com você.

Nós precisamos, antes de partir para uma busca de preenchimento em satisfação, em realização, em algum nível – já que tentamos materialmente e ainda não deu certo, e agora estamos procurando espiritualmente –, nós precisamos primeiro perguntar quem é esse que busca, quem é esse que está nessa busca de algo que seja permanente, seja na realização, no preenchimento ou na satisfação. Aqui também temos que perguntar quem é esse que está nessa busca ou nessa procura pela Verdade, por Deus ou pela Realidade.

Então, nós temos ideias sobre o que é essa busca, e podemos estar numa ideia, nessa busca, colocando a nomeação dessa busca como a busca pela Verdade, por Deus, pela Realidade e, no entanto, estamos numa busca de um preenchimento permanente, numa realização permanente, numa satisfação permanente. É isso que o ser humano está procurando. Mas aqui nós nos deparamos com uma dificuldade enorme, que é a não compreensão da verdade sobre esse que está nessa busca. É por isso que podemos ter vários nomes para essa busca, e podemos ter diversos sentimentos sobre isso. Tanto os sentimentos quanto os nomes não estarão dizendo absolutamente nada, porque a base dessa busca não foi compreendida. Qual é a base dessa busca? É aquele que busca. Quem é esse que busca?

Sem antes termos uma compreensão sobre nós mesmos – e a verdade é que nós desconhecemos quem somos, desconhecemos aquilo que se processa aqui, dentro de cada um de nós, não conhecemos o movimento do pensamento, do sentimento, da emoção, do modo de perceber, dessa forma de sentir a vida, tudo o que nos rodeia, aquilo que está dentro e aquilo que está fora –, a não compreensão de nós mesmos, a não visão a respeito daquilo que somos é a ignorância, é a base de toda essa busca; uma busca que se assenta dentro dessa ignorância.

Nossa insatisfação tem produzido em nós essa busca, essa procura. Então, nessa nossa procura, assentada nessa ignorância pela satisfação, nós podemos ter momentos de satisfação. Então, é assim que temos nos empenhado nessa busca. Nós não sabemos, na verdade, o que estamos buscando, porque nós não sabemos a verdade sobre quem nós somos. Então, assentados nessa ilusão, nesse desconhecimento sobre nós mesmos, nós temos assentado sobre isso essa busca, essa procura.

Assim, nós desconhecemos a verdade de quem somos e, naturalmente, a natureza verdadeira dessa insatisfação; uma insatisfação que está em busca de um preenchimento, de uma realização que seja permanente. É isso que nós precisamos ver aqui juntos. Nós precisamos descobrir a Verdade, precisamos descobrir a Realidade, precisamos descobrir Deus, mas não podemos encontrar isso dentro desse projeto, dessa idealização, desse movimento nessa busca que tem por princípio essa insatisfação; uma insatisfação da qual queremos nos livrar querendo encontrar algo que nos realize e nos preencha de forma permanente. Não podemos chegar a isso sem antes termos uma compreensão da Verdade sobre quem nós somos.

Então, é isso que estamos propondo aqui para você. Então, nós precisamos descobrir a Verdade sobre quem nós somos. Conhecer a nós mesmos, conhecer esse “eu”, esse “mim”, essa pessoa que está nessa busca. A Realização de Deus, a Realização da Verdade, essa Realização da Realidade, isso representa o fim para essa insatisfação, isso é o fim para essa continuidade, nessa procura por se livrar dessa insatisfação realizando uma satisfação, um preenchimento, uma realização.

O que é esse algo que estamos querendo encontrar nessa satisfação, realização? Queremos encontrar a Felicidade. No entanto, notem, a Felicidade não é algo encontrável, assim como a Verdade, Deus ou a Realidade. Isso não é algo encontrável. Aqui nós estamos estudando a Verdade sobre quem somos, a compreensão desse modo de sentir, de pensar, de agir, de se mover no mundo. Estudar a si mesmo é o que temos de mais próximo, de mais realista para uma aproximação de Deus, da Verdade e, portanto, da Felicidade, que não é um projeto que se realiza quando se busca um preenchimento permanente, uma realização permanente, uma satisfação permanente.

A Realidade d’Aquilo que somos quando isso que demonstramos ser, que expressamos ser nesse momento em nossas relações, o fim para essa condição daquilo que demonstramos ser e expressamos ser dentro de nossas relações – relações com as pessoas, relações com nós mesmos, relações com a vida –, o fim dessa velha condição, dessa ilusória identidade como nós nos mostramos ser nesse momento, o fim para isso é o surgimento de Algo novo, de Algo indescritível, que é a Realidade d’Aquilo que somos quando isso que mostramos ser, que demonstramos ser, que parecemos ser, que somos dentro dessa condição ilusória, não está mais presente.

Então, qual é a verdade da nossa procura, da nossa busca? A verdade sobre isso é que estamos à procura da Realidade, da Verdade, de Deus, que é Real Felicidade, mas isso reside nesse encontro com a Verdade d’Aquilo que somos quando aquilo que demonstramos ser, quando aquilo que parecemos ser, quando aquilo que apresentamos ser não está mais presente. Então essa Realidade Divina se mostra. Então, é uma grande ilusão a ideia de “alguém” para encontrar. Aquele que procura é uma ilusão. O que pode essa ilusão, que é esse que procura, encontrar outra coisa? Aquele que procura, esse “eu” que está nessa procura, é apenas um movimento de pensamento, de imaginação, de condicionamento, se projetando numa ideação, numa imaginação.

Aqui o convite está em descobrirmos como olhar para nós mesmos. Assim sendo, toda essa ideia de algo permanente para ser encontrado dentro dessa imaginação, que é a imaginação desse “eu” se projetando em suas ideias, é uma ilusão. O seu trabalho consiste em tomar ciência daquilo que é você, compreender a si mesmo, se compreender na vida, perceber a ilusão desse sentido de alguém presente que se separa do viver, que se separa da vida, que se separa desse movimento extraordinário, que é esse movimento da Existência; tomar ciência desse elemento que é o “eu”, o ego, esse “mim” que se separa e que se projeta numa ideia, numa crença, num conceito de algo para ser encontrado, de algo para ser adquirido para si mesmo.

Então, conhecer a si mesmo é a base para irmos além dessa ilusão, é aquilo que se faz fundamental, é a única coisa, é ter esse encontro. A Felicidade não é encontrável, mas a constatação da verdade dessa ilusão que parecemos ser nos mostra a Realidade dessa Felicidade, que não é encontrável porque você não pode encontrá-la no tempo. Mas nós temos a Visão, a Revelação da Felicidade que se mostra aqui, nesse instante, quando esse sentido do “eu”, do ego, não está mais presente.

Isso não é uma satisfação permanente, isso é o fim desse sentido de um “eu”, de um ego, de uma identidade ilusória que vive dentro de uma insatisfação, vive dentro de uma condição de incompletude porque se vê como uma entidade separada da vida e, portanto, carregada de medo. Onde há esse sentido de separação, a presença dessa dualidade nessa ideia “eu e a Existência”, “eu e a Vida”, “eu e o viver”, “eu e o outro”, “eu e a Realidade”, “eu e Deus”, “eu e a Felicidade”, quando isso está presente, temos a presença do medo. Então, nesse nível de existência egoica, de qualidade de vida egoica, está presente a insatisfação.

A Realidade d’Aquilo que é Deus, a Realidade d’Aquilo que é Você em seu Ser não é algo dentro do tempo, não é algo dentro desse movimento de se tornar, de alcançar, de realizar – realizar amanhã, se tornar amanhã, alcançar amanhã. Então, estamos tratando de algo aqui com você que representa o fim do sofrimento, o fim da ilusão, o fim desse “eu”, desse ego. Então nos deparamos com a Realidade da Felicidade agora, não algo para ser encontrado amanhã. E, assim, nos deparamos com a Verdade agora, com a Felicidade agora, nesse instante. Essa é a Natureza do seu Ser. Isso está presente quando não há mais busca, quando não há mais procura, quando não há mais nenhum movimento nessa ideia de alcançar.

Janeiro de 2024
Gravatá/PE
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