Há uma certa confusão na cabeça das pessoas a respeito do assunto da Kundalini. Hoje em dia, há muita mistificação a respeito da expressão “Kundalini”, já até transformamos em mito. A verdade é que as pessoas não sabem o que é, o que representa, de verdade, essa palavra. As pessoas têm algumas experiências místicas, assim chamadas, espirituais, contatos extrafísicos ou de algum tipo e atribuem isso à presença ou ao contato com a Kundalini. Nós precisamos desmistificar isso.
Aqui nós temos diversas falas colocando para você o significado real disso, desmistificando essa ideia que o pensamento tem construído. O nosso pensamento é capaz de grandes construções, a partir da imaginação, criar todo o tipo de coisa. A simples verdade da Kundalini é a ciência direta desta Consciência Real presente aqui, neste instante.
Não temos ciência desta Real Consciência, não temos ciência da verdade do que é Kundalini. A presença da Kundalini aqui, nesse corpo-mente, é a presença desta verdadeira Consciência. Aquilo que alguns chamam de energia da Kundalini não é outra coisa a não ser essa energia vital, é a energia vital da Kundalini, que está presente nesse mecanismo, nesse organismo.
Quando há o Despertar da Kundalini, não é o contato com algo místico, esotérico ou, assim chamado, espiritual, é a mudança em razão do poder dessa energia, que antes estava voltada para o externo ou para as experiências dos sentidos ou sendo desperdiçada no conflito presente na dualidade, algo presente nessa identidade egoica.
Reparem, nesse sentido do “eu” nós estamos vivendo uma vida onde há esse padrão de dualidade, existe esse “eu” e a experiência, “eu” e a vida, “eu” e o mundo, naturalmente, “eu” e os pensamentos, “eu” e os sentimentos, “eu” e as emoções. Nessa separação está presente a condição psicológica do ser humano em conflito, em sofrimento, e isso representa desperdício de energia.
Quando essa energia fica disponível para algo novo, e esse algo novo é a Verdade da Revelação do seu Ser, a partir do Autoconhecimento, tendo ciência do que é Meditação, naturalmente nós temos essa energia da Kundalini operando uma mudança nesse corpo, nesse organismo, nesse cérebro – nas próprias células cerebrais nós temos uma mudança profunda, radical. Então, essa é a simples e direta verdade do Despertar da Kundalini.
Repare, é o surgimento de um estado livre do ego. Se não há esse estado livre do ego, não há Real Kundalini envolvida, presente. Tudo o que a mente constrói está dentro do seu modelo, está dentro dela mesma. Ela pode ter experiências fantásticas, extraordinárias, assim chamadas, profundas ou realizadoras; ela pode adquirir certos poderes, mas são poderes psíquicos para esse mecanismo, para esse organismo. Então, é muito comum as pessoas confundirem essa verdade do Despertar da Kundalini com adquirir poderes extrafísicos.
O ser humano pode, sim, desenvolver poderes, isso é possível. Em razão de algumas mudanças psicofísicas nesse organismo, alguns poderes podem surgir, mas reparem, a verdade do Despertar da Kundalini não é a realização de poderes e, sim, a ciência da ausência da dualidade, da separação. Aqueles que realizam a Verdade d’Aquilo que eles são, que é a Verdade de Deus, tomam ciência da não dualidade.
A expressão aqui é Advaita, a não separação, a não dualidade. Então, o seu Estado Natural de Ser é um estado livre da dualidade, é um estado onde o que está presente é essa energia de pura Consciência, assumindo esse corpo e essa mente. Isso é a Presença da Consciência. A Real Consciência em você é Ser, é Felicidade, e isso é Kundalini.
Reparem que aquilo que é esse contato com a Realidade, que está além do conhecido, é o contato com a Verdade de Deus. Você em seu Ser, em seu Estado Natural, funciona de uma forma completamente diferente do ser humano comum. Em nosso modelo comum de pensar, de sentir, de agir, o nosso agir é egocêntrico, o nosso pensamento vem de um modelo de condicionamento psicológico, o nosso sentimento vem sendo orientado por esse modelo psicológico de condicionamento de pensamento.
Então, nesse estado conflituoso de ser, esse ser presente é a identidade egoica. Isso não é real em seu Natural Estado, isso é comum na mente egoica, nesse sentido do “eu”, nesse sentido de alguém presente na vida, vivendo experiências. Um trabalho real sobre si mesmo é o fim dessa velha condição, é o fim dessa restrição de modelo de vida, de existência egocêntrica.
O sábio de Arunachala, chamado Ramana Maharshi, deixou a Atma Vichara. Atma Vichara significa a observação desse “eu”, a ciência da auto-observação. É nesse sentido que temos a autoinvestigação. Em geral, as pessoas traduzem Atma Vichara por autoinvestigação. Aqui seria mais preciso usar a expressão auto-observação no lugar de auto investigação.
Aqui se trata de uma aproximação de um olhar livre do “eu” para essa experiência desse instante, desse momento presente. É dessa forma que nos aproximamos do Autoconhecimento, é dessa forma que nos aproximamos da Meditação e desse acesso ao Despertar da Kundalini. Agora há uma energia disponível para operar essa transformação, essa mudança.
Compreendam o que estamos colocando aqui para você. No momento em que você está aborrecido, com raiva, preocupado, com medo, no momento em que você está envolvido dentro de um padrão de condicionamento psicológico, onde o seu modelo de pensamento e sentimento está envolvido com algum nível de atividade egocêntrica, você está em um desperdício de energia, ocupado com esse padrão comum de condicionamento, em dualidade.
O pensamento em você se move a partir de um pensador. Um sentimento se move a partir de um elemento, que é esse “eu” no sentir. Uma percepção é vista a partir de um percebedor. Reparem que nós temos aqui um movimento de separação, de dualidade. Quando você está preocupado, é o movimento do pensamento, as imagens que vêm do passado, norteando uma vida de uma entidade presente, que é o pensador, o que, de fato, na verdade, estamos lidando com uma imaginação.
Nesse padrão de dualidade, tem o pensador com o seu pensamento, o preocupado com a sua preocupação. Se é raiva, é aquele na raiva com a sua raiva, se é medo, é o medroso com o seu medo. Esse é o modelo de dualidade, de ilusória separação. Aqui está o desperdício de energia, quando esse, que é o observador, está observando sua experiência, quando esse, que é o experimentador, está experimentando sua experiência. Então, é nisso que se constitui esse desperdício de energia, de Consciência.
Vejam como é simples isso. Toda energia que você tem no corpo disponível vem dos alimentos. Essa energia vital tem esse aspecto físico e, também, esse aspecto mental, e isso é algo que está sendo desperdiçado nessa condição psicológica de conflito, em razão da dualidade. Quando você aprende a tomar ciência desse movimento de dualidade, você coloca em evidência nesse instante a presença de uma Atenção, de uma Atenção que torna disponível essa observação.
Então, essa auto-observação é a observação sem o “eu”, sem o observador, e quando isso está presente, essa dualidade se desfaz. Então estamos num contato direto com a presença do Autoconhecimento, que é Meditação. Como não há esse desperdício de energia, porque essa Plena Atenção não está sustentando mais essa dualidade, onde há esse preocupado com a sua preocupação, esse medroso com o seu medo, esse pensador com o seu pensamento, não há mais essa separação, há somente uma experiência presente e um olhar livre desse centro, que é o “eu”, o ego. Então nós temos uma observação direta daquilo que se processa aqui e agora com esse mecanismo, com esse organismo, com esse corpo, com essa mente.
Há só uma percepção sem o percebedor, há só um olhar sem o observador. Então, essa energia se torna disponível, porque a mente se aquieta. Há um espaço que se abre quando a mente silencia; ela está cônscia dela mesma, ciente dela própria e, portanto, livre dessa dualidade, livre dessa separação. É quando existe o Despertar dessa energia, a energia disponível para esse trabalho nesse corpo, nessa mente, que inclui, também, naturalmente e principalmente, esse cérebro.
Veja, estamos falando de algo que é científico. Isso é de uma ciência que nós desconhecemos. Então, a Iluminação Espiritual, o Despertar da Consciência Espiritual, a Realização de Deus, os nomes são diversos para esse Natural Estado, inclusive tem essa expressão, o Despertar da Kundalini. Então, o que é o Despertar da Kundalini? Reparem que estamos apresentando para você aqui uma abordagem bem diferente do que as pessoas entendem aí fora por Kundalini.
Não se trata de uma experiência que alguém tem, passa por ela e depois diz: “minha Kundalini despertou”. Não existe tal coisa como “minha Kundalini”. Só há essa Real Consciência e ela não é pessoal, ela não é de alguém. Você não pode ter uma experiência chamada Kundalini, porque a verdade da Kundalini é a Verdade da Real Consciência, que quando assume o espaço dela não fica o experimentador, não fica alguém para relatar algo. Não é algo que aconteceu no passado, não é uma experiência, não é parte da memória, não é parte do conhecimento.
Tudo o que é parte da memória, que é parte do conhecimento, faz parte do tempo. Aqui o contato com a Realidade Divina é algo que está fora do tempo. Há uma Realidade presente aqui, neste instante; essa Realidade presente está fora do tempo, está fora do conhecido. Reparem, é algo fora do movimento do ego e, portanto, da memória, não faz parte do pensamento. Pensamento, tempo, memória tudo isso está dentro do movimento do conhecido, que é parte do “eu”, que é parte do ego. Aqui é o contato com Algo fora de tudo isso.
Então, tomar ciência dessa Realidade do seu Ser nesse instante é o Despertar de sua Natureza Divina. Assim, uma aproximação da Atma Vichara de Ramana Maharshi é uma aproximação da ciência da Real Meditação. Eu quero deixar aqui esse convite para você: nós temos encontros online que ocorrem nos finais de semana, onde estamos trabalhando isso com você. É uma possibilidade, através de perguntas e respostas e nesse contato com o Silêncio, de termos uma aproximação da Realidade Divina, que é a Realidade deste Ser que nós somos. Além disso, temos encontros presenciais e, também, retiros.