terça-feira, 30 de março de 2021

Sem amor à Verdade, não há autoinvestigação

Ramana dizia que a forma mais direta para a Realização da Verdade é pela autoinvestigação e entrega. É necessário investigar a natureza ilusória dessa entidade que acreditamos ser, dessa pessoa que acreditamos ser.

Então, precisamos ter uma aproximação da ilusão sobre nós mesmos, conhecendo-a. Reparem que esse não é um conhecimento que se adquire. Não temos que conhecer alguma coisa, mas Aquilo que somos, o que significa saber o que nós não somos. Não temos como aprender sobre o Ser, sobre Deus, sobre a Verdade, então não se trata de conhecer Isso.

Se você sabe o que você não é, então sabe o que você é! Se você sabe que não é a mente, que não é o corpo, essas sensações, essas emoções, esses sentimentos, essas percepções, que tudo isso são experiências do corpo e não são você, então você sabe o que você é.

Assim, autoinvestigação é investigar o que você não é, e rendição, ou autorrendição, é amor à Verdade, é entrega à Verdade. Se não houver autoinvestigação e rendição, você terá muita dificuldade.

As pessoas se aproximam de Satsang, mas se afastam rapidamente. Elas não estão dispostas a investigar o que elas não são, porque estão agarradas demais a isso, estão agarradas à mente, à história da mente, à história da “pessoa”. Elas não têm amor à Verdade, então não há entrega, não há autoinvestigação. Elas querem continuar sendo quem elas acreditam ser, pois elas amam quem elas acreditam ser! Elas estão na ilusão, nessa ou naquela forma de conflito, nessa ou naquela forma de problema, de sofrimento, mas, em meio a tudo isso, elas têm algum prazer, ainda, na vida.

Então, elas gostam de suas vidas. Levam uma vida miserável, mas não percebem o quanto de miséria há nisso. Elas não têm referência do que é uma vida livre do ego, livre do sentido de separação, livre da mente egoica, completamente livre do sofrimento. Para elas, isso é surreal, pois elas não têm referência. Elas não estão ardendo pela Verdade, pela Felicidade, pela Liberdade, nem mesmo suspeitam dessa possibilidade, então o estado delas é muito, muito, muito miserável! Estamos falando da grande maioria.

Se você está aqui em Satsang, é por uma ação da Graça, algo muito além de você, algo que o faz suspeitar de que existe uma qualidade de vida inteiramente diferente dessa vida egoica. Há algo diferente dessa estúpida vida do “eu”, desse “mim”, então você está se aproximando da autoinvestigação, está interessado em descobrir o que você não é. Você já desconfiou que não é essa mente miserável, que você não é essas sensações, esses pensamentos, essas emoções e toda a história dessa “pessoa”.

A outra coisa é que está nascendo em você o amor pela Verdade, pela devoção, pela entrega, pelo reconhecimento Disso, pelo acolhimento Disso. Então, há algo em você abraçando a Verdade. Você não está mais interessado nas coisas estúpidas da mente, como cultura, política e os problemas diversos que a história do ego tem criado. Você está cansado dessa ilusão tão estúpida, cansou da estupidez. Você está cansado da continuidade, esse é seu momento de Despertar!

Despertar é o Estado de Buda. A palavra “Buda” significa Desperto, aquele que Despertou. Um Buda não é um ser estúpido, ele não se preocupa mais com esse mundo criado pelo pensamento. Um mundo criado pelo pensamento é um mundo com histórias estúpidas que a mente produz, histórias daqueles que dormem, que estão atrapalhados. Aqueles que dormem estão sonhando e, em seus sonhos, estão atrapalhados, em um mundo miserável, que tem a qualidade de um pensamento confuso, desordenado, em conflito, em guerra, em sofrimento. Isso não é você!

Você não é essa mente que criou essa cultura, essa sociedade, essa política, toda essa estupidez! Sua Natureza Real é a Natureza da Verdade, da Sabedoria. Essa é a Natureza de Deus, a Natureza do Buda, a Natureza do Cristo, a profunda e real Inteligência, onde não há ilusão. Se não há ilusão, não há sofrimento, não há ignorância, não existe o mundo mental, o mundo egoico, nenhuma dessas coisas estúpidas que a mente tem construído.

Vocês sabem do que eu estou falando! Todas as divisões só criam conflito, guerra – “eu sou comunista, você é socialista e o outro é democrata; ele é do MDB, o outro é do PT e o outro é do PSDB; esse é católico, aquele é protestante e o outro é espírita”. Opinar sobre isso é tão estúpido quanto pertencer a qualquer uma dessas classes. Defender ideologia sobre isso é tão estúpido quanto participar diretamente disso. Você tem que estar profundamente identificado, perdido, confuso dentro da mente para se sujeitar a essa estupidez.

Então, percebam o que estamos colocando para você neste encontro. Você está aqui para descobrir o que você não é – isso é autoinvestigação. Investigar a si mesmo é saber aquilo que você não é. Você não pode saber Aquilo que você é de uma forma direta, mas pode investigar o que você não é. Se eu falo que você é Sat-Chit-Ananda – Ser, Consciência e Felicidade – isso fica apenas como um conceito, como uma ideia, como uma crença. Você não precisa acreditar nisso. Isso é O que você é, mas não precisa acreditar.

Realização não é uma coisa que nasce da crença, é algo que vem quando a ilusão cai. Assim, quando você sabe o que você não é, a ilusão cai e, quando isso acontece, a Realização está aí... ela sempre esteve aí, não é uma coisa nova. A única coisa nova nesse instante é o fim da ilusão do sentido de separação, do sentido de dualidade, dessa estupidez, do sentido da mente egoica. É só isso que termina!

Isso vem da autoinvestigação e da entrega, que é devoção. Lembre-se: devoção é amor à Verdade. Se isso não estiver presente, queimando aí, não será possível a autoinvestigação. A real autoinvestigação é devoção; devoção é amor à Verdade; a Verdade é essa Presença, é essa Consciência; a Verdade é o Ser.

Quando nos aproximamos do Guru, algo acende dentro de nós. O Guru é Aquele que toma a forma dessa Presença, dessa Consciência, dessa Verdade que somos. O Guru tem uma função muito importante nesse Despertar. Ele é essa Presença, essa Consciência, essa Realidade que somos, nos falando diretamente ao Coração, nos despertando para esse amor à Verdade, para essa entrega. Então, a autoinvestigação se torna possível, porque perdemos o medo de olhar para aquilo que não somos, perdemos o medo de soltar o conhecido, ao qual estamos agarrados.

O Guru nos dá a sua Graça, então perdemos o medo, mas damos muito trabalho ao Guru, porque estamos muito agarrados. Quando vamos ao Guru, ele nos olha e percebe o quanto estamos agarrados, mas a sua Graça, essa Presença-Consciência, essa Compaixão, acende em nós esse amor à Verdade, então ficamos dispostos a olhar para aquilo que não somos, a abrir mão daquilo que não somos, a soltar tudo isso.

*Transcrito de uma fala ocorrida em 10 de maio de 2017, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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