quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

A mente não pode capturar Isso!

A mente é muito curiosa e a busca pelo conhecimento é incansável nela. Ela está sempre procurando alguma coisa que possa alimentá-la e nada é mais apetitoso para ela do que o entendimento, que nasce do conhecimento. Quando há conhecimento, o entendimento acontece e, para isso, é preciso haver descrições, ou seja, palavras e imagens são necessárias, e isso é alimento para a mente. Essa fome constante, essa sede insaciável pelo conhecimento é algo comum na mente egoica.
Quando falamos de “mente egoica”, estamos falando do sentido de separação, que é a prisão. Portanto, o conhecimento está dentro dessa prisão e, por isso, você não pode fazer uso dele para compreender o que é Liberação. Isso está fora da mente! Assim, não estamos tratando aqui de algo para ser compreendido pela mente.
Então, chegamos a um ponto aqui: Isso não pode ser compreendido e, portanto, não pode ser visto até que se revele. A mente não alcança Isso, porque ela não vai “chegar lá”. Isso mostra que é necessária uma ação de uma dimensão inteiramente desconhecida para que Aquilo que está fora do conhecido — ou seja, fora da mente — seja revelado. Por isso que Sabedoria não é resultado do conhecimento, mas, sim, dessa revelação do Desconhecido, o que tenho chamado de “Inteligência”.
Assim, quando tratamos da Iluminação, estamos falando do Despertar do Desconhecido, de Algo fora daquilo que a mente conhece. Aqui está a importância da Graça… Ela é esse elemento misterioso capaz de autorrevelar-se como Liberação nesse ou naquele mecanismo, organismo. Então, essa Liberação, que não pode ser compreendida pela mente, mas que se autorrevela e se faz notória, é uma ação dessa Graça ‒ esse é o Mistério do Cristo, do Buda, do Sábio, do Ser Acordado.
Assim, nenhuma ideia, nenhum pensamento, nenhuma palavra alcança Isso! Nenhum pensamento pode criar um modelo acerca Disso, nenhuma ideia pode definir Isso, nenhuma palavra pode descrever esse Mistério, chamado de Liberação. As ideias e as palavras não podem definir e a mente não pode capturar Isso! Agora estamos diante de um paradoxo: a mente, que é uma imaginação, uma sobreposição da Realidade que já está presente, pode ter a impressão de que essa “Coisa” está longe. Entretanto, a única Realidade é a Liberação, Aquilo que está aqui e agora, presente como seu Estado Natural, que é Graça. Todo esforço e movimento é somente um afastamento Daquilo que está aqui e agora, presente como pura Consciência, como essa Liberação inalcançável pela mente, pelas ideias, pelas palavras, pelos pensamentos.
Então, ver Isso somente é possível nessa autorrevelação, na própria ação da Graça. Essa Liberação não tem nada a ver com a mente e com o movimento dela. É justamente esse movimento que precisa parar para que Isso, que já está presente, se autorrevele. O que estou dizendo é que a Liberação está coberta, oculta, escondida por esse movimento da mente. É a mente que está ocultando, camuflando e tornando invisível Aquilo que já está presente como Consciência, que é a Liberação. É como se a Liberação não existisse e a mente fosse real! Esse é o paradoxo! Mas, é um paradoxo apenas para a mente, porque é ela que vê assim.
A mente vê a si mesma como sendo Real, a Luz, enquanto a verdade é que a Consciência é que é a Luz, a Presença. É como se a lua acreditasse que tem luz própria, que a luz vem dela mesma, enquanto que, na verdade, vem do sol. Essa Consciência é o sol! Deixe-me traduzir isso para você de uma forma mais simples: você se vê como uma pessoa e isso é muito real, mas essa é uma visão equivocada da mente, porque não há nenhuma “pessoa”. Todo esse movimento de ouvir, falar, sentir ou pensar é somente um fenômeno dessa Consciência. Ou seja, a luz real é o sol e esse movimento de fenômeno é somente um movimento da lua, com um brilho de luz emprestada.
Então, a mente vive dentro desse constante movimento de busca de um significado, e a Liberação é o fim disso. A mente está buscando compreender a vida e o seu significado, enquanto que a Liberação revela o significado da Vida. Ela é a própria Vida! Isso significa que não existe nenhuma mente presente Nisso, ou seja, não há nada para se buscar ou compreender. Portanto, não existe nenhum significado! Se isso fica claro, a ilusão termina e, com isso, o sofrimento também, porque ele é a mente nessa constante busca da vida e seu significado. Esse movimento da mente é, basicamente, de separação, portanto, de dualidade, o que sustenta toda forma de conflito, confusão e sofrimento.
Quando coloco isso aqui, é para que você veja Isso! A linguagem, por sua própria natureza, descreve apenas dualidade. Ela fala de eventos, experiências, pensamentos, sentimentos, fenômenos... Assim, não existe nenhuma linguagem, nenhuma expressão verbal ou do pensamento que possa descrever Aquilo que está fora da dualidade. Então, o Real não está sendo colocado aqui neste encontro. Estou sinalizando o Real, mas não O estou descrevendo, porque a Verdade não pode ser descrita.
Eu falo com você a respeito do Desconhecido, mas Isso continua desconhecido, a não ser que se autorrevele pelo Silêncio, pela própria Consciência, que é “o Sol”, essa Luz Real. No instante em que predomina essa Luz, esse Sol, que é a Consciência, a ilusão não tem mais importância, então, a “lua” não pode mais tentar se passar por aquilo que ela não é. Não existe “alguém” aí! Por isso, esse sentido constante de “ser uma pessoa”, procurando a vida e o seu significado, perde completamente o sentido, termina de imediato nesse Despertar.
Todos são bastante viciados nisso, nessa busca de significado e sentido para as coisas que acontecem, para aquilo que acreditam que são e fazem. Então, passam muitos anos ocupados com a “pessoa”, julgando, comparando, interpretando, e não percebem que são apenas pequenas peças de um jogo de xadrez, ou marionetes. Há uma mão invisível movendo essas peças, brincando com esses bonecos, dando vida aparente a essas marionetes.
Você já viu um teatrinho de marionetes? Aqueles bonequinhos parecem que estão vivos! Eles falam, se movimentam, dançam, mas existe um par de mãos fazendo aquilo. A vida é isso: uma brincadeira. Um teatro de marionetes é apenas uma brincadeira, uma diversão para quem assiste, não tem nada sério acontecendo. Uma marionete canta, a outra dança, a outra fala de coisas “importantes”, uma representa um inteligente professor... Você vê ali todo tipo de coisa!
O que quero dizer é que não tem nada sério acontecendo, que você não está vivendo a “sua vida”, pois há somente essa única Vida, e Ela está brincando de ser “você”. Você não é real, é somente um bonequinho que acredita poder fazer, resolver, decidir e escolher coisas. Eu sei que é desanimador ouvir isso, que você vai querer procurar um segundo parecer para saber se isso é verdade, mas você não vai descobrir Isso na mente, porque apenas a Graça pode revelar Isso. Essa revelação da Graça é uma expressão da Consciência, que é Meditação.
Resumindo: você só tem problemas porque acredita que existe! Você sofre somente porque acredita que tem ou pode ter coisas! Nisargadatta dizia que o mundo é cheio de anzóis, e a pessoa está sempre presa neles. Com isso, ele queria dizer que nenhuma pessoa tem liberdade, que o “sentido de pessoa” é necessariamente a prisão. Assim, tudo o que você “possui” o aprisiona, tudo o que você “tem” é a sua prisão.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 28 de Outubro de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online

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