terça-feira, 28 de maio de 2019

O seu mundo é uma ilusão

Como são importantes esses encontros que nós temos aqui! Estamos olhando de perto, pesquisando, investigando a insanidade humana. Quando você vive na mente, vive na insanidade, e estamos investigando isso. Por que vivemos dessa forma?
Quando eu era criança, com sete anos, perguntei ao meu pai por que os pensamentos não paravam dentro da minha cabeça, por que eu não podia parar esses pensamentos. Esse é um grande dilema humano que se torna, no fundo, um grande problema. As pessoas acreditam nos pensamentos que passam em suas cabeças, como se elas estivessem produzindo-os, como se fossem responsáveis por eles.
Quando perguntei isso ao meu pai, ele respondeu: “Todo mundo é assim”. Eu achei muito estranho, porque acreditava que aquilo acontecia só com crianças, mas, segundo meu pai, os adultos também eram assim. A partir daí, fiquei observando. Vi que os adultos acreditavam em seus pensamentos, mas, como os meus eram muito estranhos, achei que não deviam acreditar em pensamentos do tipo que eu tinha. E continuei observando... Depois de algum tempo, descobri que eles estavam acreditando nesses pensamentos estranhos também! Então, havia algo errado ou fora do lugar, porque eles acreditavam nos pensamentos!
A criança vai crescendo e percebendo que tem algo fora do lugar, pois o mundo dos adultos é um mundo perturbado, e eles têm problemas ‒ esse foi o meu primeiro insight, minha primeira percepção de que eu não era feliz. Então, comecei a procurar alguém feliz. Fui crescendo, e, enquanto eu crescia, procurava alguém, um adulto, que fosse feliz, mas percebia que eu encontrava somente pessoas muito respeitáveis. No ambiente religioso, você encontra pessoas muito boas, que só fazem o bem, que cantam para Deus, que ajudam o próximo, ou seja, são pessoas muito respeitáveis, boas pessoas. Assim, eu fui encontrando muitas pessoas religiosas, profundamente religiosas, mas elas também acreditavam em pensamentos.
Com o passar do tempo, percebi que eu não estava bem e que ninguém está bem, mesmo sendo uma boa pessoa. Então, o que é isso? Por que as pessoas sofrem, se elas são boas pessoas? Por que elas carregam inveja, ciúmes, desejos e medos? E aí, quanto mais tempo passava, mais eu percebia que o problema era todo criado pelas imagens que o pensamento formula dentro da cabeça. Essa é a causa do sofrimento, a base da insanidade.
Tive meus primeiros momentos de silêncio e meditação, e comecei a perceber a diferença entre estar em silêncio e estar ocupado com pensamentos. Chegou a época da escola, quando se começa a pegar em livros e a ler, aí são mais pensamentos ainda na cabeça. Então, eu não gostava de estudar, porque tinha que ficar ocupado com pensamentos, lembrando de fórmulas matemáticas, da história do Brasil, ficar guardando nomes e datas, e era tão bom estar desocupado dos pensamentos...
A lembrança de pessoas traz sentimentos bons e ruins, e isso são pensamentos, imagens. Quando você está livre dos pensamentos, está livre do peso dos sentimentos. Parece que os pensamentos que trazem sentimentos bons deixam uma marca, um sinal, uma porta aberta para sentimentos ruins depois. Isso é como uma programação. Desde pequeno, você é programado para acreditar em pensamentos e se alimentar deles. Uma coisa interessante é que você não acredita que o pensamento é do outro, mas, sim, que é seu. Isso é interessante porque você acredita que é uma “entidade”, “alguém” pensando aquilo, exclusivamente; pensa que os pensamentos são seus e que é você quem os está fabricando, e, portanto, é o responsável. Então, isso cria a ilusão de uma identidade presente, pensando ‒ “Eu estou pensando essas coisas, não é alguém em meu lugar, não está na cabeça do outro; está na minha cabeça. Sou eu que estou sentindo isso, então, isso é meu, isso sou eu” ‒ e, assim, surge o sentido de separação.
Desde criança, você acredita que é uma pessoa, que pensa, que sente, que escolhe, que resolve, que decide, que pode fazer o bem, que pode fazer o mal, e isso é insanidade, uma loucura aprendida, mas é mantida como algo natural. Com o passar do tempo, você vai se tornando cada vez mais apaixonado por esse tipo de comportamento, viciado no pensamento. Quanto mais sentimental, quanto mais intelectual, mais confiança há em imagens mentais, e, quanto mais confiança em imagens mentais, mais imaginação. Então, as pessoas vivem a insanidade do mundo imaginário do pensamento. Esse é o sentido de uma entidade separada, no qual não há Presença; o corpo está aqui, mas esse movimento interno e imaginário do pensamento está rolando como um programa que não para.
Os grandes Santos e Sábios da história humana chamam isso de “o mundo dos sonhos”, que é o mundo dessa falsa identidade pensando; o “seu mundo”. O seu mundo é uma ilusão, porque você está “sonhando”, ou seja, todo modo de representação que você faz da vida tem uma cobertura de imagens. Então, o sofrimento humano é o dilema desse aprisionamento às imagens que o pensamento produz; é o dilema do “sonho”, do sentido de separação, autossustentado por ideias, crenças, imagens, ou seja, por pensamentos.
O entendimento genuíno dessa questão do “sonho”, a profunda compreensão desse mundo imaginário criado por essa programação, é o fim do sofrimento. Quando nós acreditamos que somos o que pensamos, estamos dentro de um “sonho” imaginário de um “eu” falso. Quando acreditamos nos pensamentos, nesse instante começamos a viver num mundo de sonho, fora da realidade, fora da vida como ela se mostra, se apresenta, porque, quando o sentido do “eu” surge, nessa imaginação, ele distorce a realidade, e isso é inconsciência.
"O entendimento genuíno dessa questão do 'sonho', a profunda compreensão desse mundo imaginário criado por essa programação, é o fim do sofrimento."
Dessa forma, você não está diante da vida, está diante de um “sonho”, onde você nasce, cresce, torna-se adulto, envelhece, adoece e morre, ou pode morrer antes de envelhecer. Há sempre a ideia de que você está vivendo esta experiência humana, que é a experiência imaginária de uma pessoa no mundo, separada da vida, nesse desespero enorme para encontrar-se com Deus, para ver se esse sofrimento termina. Isso, também, é parte do “sonho”, pois, é um Deus imaginário, produzido pelo pensamento. Você constrói templos para Deus, reza e canta para Ele, se apaixona por Ele, mas é uma questão imaginária do pensamento, porque nada disso representa uma real quebra dessa ilusão do sentido de separação. Isso porque a confiança no pensamento ainda está aí e, dessa forma, você continua como uma criatura romântica, sentimental, emocional, intelectual… Isso não é nada Real.
Você está aqui para descobrir o que significa ficar com a vida como ela se mostra, e não como o pensamento deseja que ela seja. Por isso que a expressão, aqui, é Acordar, que significa o fim dessa insanidade, o fim dessa falsa identidade, pensando, sentindo, experimentando, vivendo. Quando os Sábios, que realizaram a Verdade sobre Si mesmos, falam que você está vivendo um “sonho”, eles estão dizendo que você está vivendo no mundo que a mente constrói, com base em imagens sobre quem você é, quem o outro é, o que o mundo é, o que Deus é, o que a vida é... Está claro isso? Esse é o “sonho” dos tolos.
Eu não estou falando dessa capacidade de se utilizar da linguagem, porque aqui estamos nos utilizando de palavras, que são somente expressões de imagens e pensamentos também. Então, estamos dentro do “sonho”, falando para você de Algo fora dele. Sua Realidade está fora desse “sonho”, e seu Ser está fora da mente, da linguagem, das imagens, da história, da experiência. Pessoas, primariamente, vivem em “seus mundos”, os quais, na verdade, são esse único mundo do “sonho”, da crença, da separação.
Por isso que Satsang é algo muito precioso. Todo esse mundo de “sonho” é algo dentro dos pensamentos, e todos eles, sejam bons, maus, amáveis ou de ódio, ocorrem dentro de Algo misterioso, de um Espaço misterioso, que está além do pensamento, além do “sonho”. Esse “sonho” vem com os pensamentos e desaparece com eles, enquanto esse Espaço permanece. Em Satsang, estamos apontando para esse Espaço, para essa Realidade fora da mente. Despertar, Acordar, é a própria Vida, sem o sentido do “sonho”, de separação, do “eu”, como esse Puro Espaço, misterioso e indescritível. Alguns chamam esse Espaço de Consciência, Presença, Ser, Verdade.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 05 de abril de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online.

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