terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Trabalhar isso é estar em Satsang

Em geral, acredita-se que o assunto tratado aqui é algo do qual podemos nos aproximar através de recursos imaginados pela mente. Uma das coisas muito comuns é a confiança em algum sistema ou método técnico. A mente procura, através dos recursos que ela tem, alcançar algo além dela, o que na verdade é impossível.
Não existe nenhuma técnica, nenhum sistema ou método pelos quais você possa se aproximar dessa Realidade. Isso é uma coisa que não está clara, ainda, para muitos de vocês, sobretudo para aqueles que estão chegando agora em Satsang. Vocês, quando chegam, vêm acreditando em sistemas, técnicas e métodos. Não é isso mesmo? Isso já aconteceu com você ou ainda acontece? A Verdade se revela quando toda prática, técnica, sistema e métodos são abandonados, que é o que a mente não quer fazer. A mente vive dentro de seus princípios de vontade, de escolha e determinação; isso é bem típico da pessoa inteligente e vocês são muito inteligentes.
Essa é a dificuldade que temos em Satsang: trabalhar com pessoas inteligentes. Em geral, chamamos de inteligência a experiência e o conhecimento que são acumulados. A mente é uma espécie de depósito, com diferentes níveis e departamentos. Alguns desses níveis estão mais acessíveis e outros menos. Parece que a psicologia tenta explicar esses níveis, ou esses diferentes departamentos ‒ os mais próximos são considerados níveis conscientes e os mais ocultos, inconscientes; os de fácil acesso são os conscientes e os de difícil acesso são os inconscientes. Essa é uma divisão que a própria mente criou para se autoexplicar, mas estamos falando de um único “depósito”, de uma única “loja grande”. Então, nós temos conhecimento e experiências, porém, eles são apenas memórias, algumas de fácil acesso e outras mais ocultas, mais reservadas, chamadas de “inconscientes”.
Estou colocando apenas, de uma forma simples, porque não conheço isso (não tenho essa terminologia toda). Eu diria que conhecimento, experiências, memórias, pensamentos são “farinhas do mesmo saco”. Sem memórias e pensamentos, não existe mente. Então, basicamente, a mente, quer ela seja denominada “consciente” ou “inconsciente”, é somente um “depósito”, uma “loja” de memórias, de símbolos. Os sons, as palavras, as imagens e os símbolos são memórias e tudo isso são pensamentos. A mente criou essa divisão nela própria e está buscando, através de uma técnica, um método ou sistema, ter uma aproximação da Realidade, Daquilo que está além dela, mas ela é somente divisão. Assim, fica muito claro que não é possível, porque tudo o que a mente pode fazer está dentro dela, não pode estar além dela.
Você acompanha isso? É isso ou não é?
A mente não existe sem pensamento, nem há pensamento sem memória, e sem esta não há nenhum “depósito”. A memória, nesse sentido, é condicionada, algo aprisionado no passado, na lembrança; memória é lembrança, que é passado. A estrutura disso tudo, que é a estrutura da mente, está baseada em prazer e dor. Então, toda técnica, método ou sistema que a mente possa criar, será algo dentro disso, algo circunscrito a esse movimento. Dessa forma, não pode haver Liberdade, Amor, Paz, Felicidade. Tudo que você vai encontrar na mente é conhecimento, experiência, memória e passado, prazer e dor. Isso é simples ou não é?
Então, se você prestar atenção ao que estamos falando e tiver real empenho e interesse em trabalhar isso, descobrirá por si mesmo que a mente não pode alcançar nada além dela. Ela pode se expandir, que é como ter acesso a outros departamentos e níveis dentro de uma mesma loja, de um mesmo depósito. Hoje em dia, alguns chamam isso de “expansão da consciência”, entretanto a palavra “consciência” está sendo usada de uma forma bastante equivocada. Eles falam em alcançar uma “consciência cósmica”, uma “consciência expandida”, mas tudo isso está dentro da mente ainda; faz parte desse movimento, dessa energia em movimento. Você pode ter diversas experiências de “suprema consciência”, como são chamadas, ou experiências místicas, espirituais, e alguns até acreditam que isso seja a Realização final. Você pode ter acesso ao passado ou ao futuro, acessar outras dimensões, as quais são chamadas de quarta, quinta, sexta, e assim por diante. Contudo, tudo isso ainda está dentro da dimensão da mente.
"Tudo que você precisa é estar além da mente, somente então você poderá reconhecer sua Real Natureza."
Portanto, é isso que um sistema, uma prática, uma técnica, pode lhe dar, mas “você” continuará aí. Agora, “você” é um ser espiritual, em contato com a quinta dimensão, consegue acessar outros mundos, pois sua “consciência se expandiu”; é realmente um “ser extraordinário”!
Tem alguém na sala assim?
Tudo isso está dentro desse círculo, que lhe parece muito amplo, profundo, mágico e misterioso, mas ainda faz parte da limitação da mente. Você ainda está dentro do velho jogo, do velho círculo vicioso, permanece na rede. Você tem a impressão de ter sofrido uma grande transformação, mas continua em apuros, com problemas. Então, todo esse esforço resultou na continuidade do ego (agora, um ego divino, espiritualizado; um ego “iluminado”). Isso é a mente, ainda, se perpetuando; é o velho jogo. Isso não tem nada a ver com o que estamos tratando aqui neste encontro.
Estamos falando de Liberdade, Paz, Amor, Felicidade, algo que a mente não pode alcançar, porque Isso está fora dela. Silêncio, Verdade, Realidade, é algo fora da mente, fora do conhecimento, da experiência, da memória, do pensamento, do passado, e dessa, assim chamada, “consciência que se expande”. Isso que tratamos aqui com você não é uma realização, não é uma conquista, nem o resultado de uma técnica, de um método ou sistema. Esses seus esforços apenas perpetuarão e valorizarão esse ego, esse “eu”, em sua autoimportância. Quanto mais você se especializa, quanto mais hábil e prático você se torna, mais estreito, limitado e imaginativo você fica, vivendo todas as experiências dentro do campo da mente e chamando isso de “consciência transcendental”, “consciência cósmica”, “consciência iluminada”. Talvez isso o decepcione um pouco, porque você acreditava que estava indo tão bem, que já estava pertinho de alcançar Isso... Nada disso pode pôr fim a todo esse “programa”, esse condicionamento, a toda esse “depósito”.
Tudo que você precisa é estar além da mente, somente então você poderá reconhecer sua Real Natureza, a Verdade sobre Si mesmo; somente assim a Real Inteligência estará presente. Costumo dizer que essa Inteligência não é a do “inteligente”, mas do Sábio. É isso que, de fato, pode ser considerado ou chamado de Iluminação, que é a Constatação de que não existe nenhuma pessoa, nenhum peso de condicionamento, de imagem, aí dentro, porque não há mente, não há mais essa “loja” ou esse “depósito”; não há mais nenhuma imagem de si mesmo, do outro ou do mundo. Essa Realização é o fim da ilusão, assim como da ignorância e do conhecimento. Isso somente é possível quando você se torna completamente consciente de que toda ideia que tem sobre si mesmo, toda imagem que você faz de si próprio, é uma ilusão que sustenta prazer e dor.
Essa Inteligência é Real Consciência e Isso é Realização, o fim para esse sentido de “eu”, “meu”, corpo, mente, mundo e todas as implicações disso. Isso é algo possível quando a Meditação assume o lugar dela, através da autoinvestigação e da entrega. Portanto, repito: isso não tem nada a ver com técnicas, sistemas e práticas. A Realidade se revela por Si mesma e, então, o Coração alcança esse Estado inocente de rendição e acolhimento, esse pleno reconhecimento de que a Vida é como Ela é. Assim, a Liberdade, a Paz, o Amor, a Felicidade, que é o seu Ser, se mostra como Silêncio, Verdade e Real Consciência.
Trabalhar Isso é estar em Satsang. Aguardo vocês nessa proximidade.
Namastê.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 14 de Novembro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Como ser livre?

Participante: Como posso me libertar desse peso de estar de um lado ou de outro, levantando bandeiras, defendendo causas e brigando por elas?
Mestre Gualberto: O mundo surge a partir do “eu”, mas onde está esse “eu”? A Realidade do mundo está oculta por essa ilusão do “eu”, que cria o “seu mundo”, no qual tem que haver divisões. No “seu mundo” as ideias são importantes, são a base dos projetos, das ideologias, das crenças ‒ aí está o mundo que o “eu” conhece. A confiança no “eu” dá a você uma falsa visão da Verdade. A Verdade é o que aparece, porém, a visão falsa é a interpretação disso que está aparecendo. Essa interpretação, visão falsa, é criada por pensamentos, que lhe dão uma distorcida visão da Realidade; e quem tem essa visão é o falso “eu”.
Como se livrar disso? Encontrando a Fonte do “eu”, investigando a natureza do “eu”. Se a sua pergunta é “como ser livre?”, você só tem uma coisa a fazer: investigar a ilusão, olhá-la de perto. Você não vai construir o Ser, então, não tem como “ser algo”; não vai construir a Liberdade, então, não tem como “ser livre”. Ou seja, há somente como investigar a ilusão. Você tem que investigar a ilusão do “eu”, a qual é sustentada por conceitos, ideias, crenças.
Então, a partir de agora, não confie mais em nenhuma ideia, em nenhum pensamento, em nenhuma crença. Nenhuma! Sem pensamentos, será impossível você ter uma ideologia, uma opinião, julgamentos, comparações, ideias... Se você enxerga a ilusão, ela deixa de ser ilusão, porque ela para de enganar você.
Em outras palavras, seja inocente! Permaneça no “não saber”, pois é o saber que tem sustentado as ideologias. Somente o conhecido pode ser sustentado por argumentação, conclusões, ideias, crenças. O “não saber”, o desconhecido, não pode ter opiniões, ideias e crenças; não pode levantar bandeiras, porque não sabe o que é isso. Assim é o Sábio. Sua Real Natureza é esse Espaço imensurável do “não saber”; é esse Espaço do desconhecido, sem medidas.
“O que você defende?” Não sei. “Com o que você concorda?” Não sei. “Qual o clube que você mais ama?” Não consigo pensar sobre isso... Não sei. “Quem será o melhor?” Não faço a menor ideia.
O que há de complicado no “não sei”? Repare que toda complicação está exatamente em saber alguma coisa.
Você é como um panelão de sopa, e tem muita coisa sendo cozinhada dentro de você. Por maior que seja esse “panelão”, ele ainda é limitado, não é? Ele tem as suas dimensões, o seu conteúdo... Quando não há nenhum “panelão”, não há conteúdo, nem dimensão, e, então, Você é uma “coisa” imensurável, inalcançável, indizível, inominável... Você é Liberdade! Os seus olhos e ouvidos estão abertos, sua fala está solta, qualquer ideia que chega não pode capturá-lo, não vai aprisioná-lo; nenhuma imagem, som ou ideia aprisionarão você; nenhum pensamento, crença, conclusão, opinião, “bandeira”, comparação e julgamento irão aprisioná-lo.
Nesse Estado há uma receptividade; é um Estado de sensibilidade e de vulnerabilidade ao Divino, ao Imensurável, ao Desconhecido, a Deus. Assim, quem é o único? Deus! Quem é o primeiro? Deus! Quem é o último? Deus! Quem é? Deus! Quem não é? Deus! Há somente Ele e isso não é uma ideia. Aliás, Deus se mostra quando todas as ideias já não estão mais presentes.
"Deus se mostra quando todas as ideias já não estão mais presentes."
Foi dada a resposta, e agora? Você ainda vai “saltar” para capturar o próximo pensamento que surgir? A tentação será grande, porque você está viciado nisso, em dar existência a esse “panelão de sopa”, onde há uma confusão de coisas fervendo. Essas ideologias e “bandeiras” que você carrega são coisas tão volúveis, estreitas, medíocres, que a qualquer momento elas mudarão. Mesmo que leve anos, você acaba saindo de um lado e indo para um outro. Você pode até jurar convicção, mas isso se sustentará até a “barriga começar a doer”, até algo acontecer e “mudar a chave”.
Isso não é real, não há realidade em crenças, pois você vai mudar com elas e elas mudarão com você, que está perdido, “cozinhando” todas essas coisas dentro de si. Lembre-se de que eu disse que você é um “panelão”, o qual está assentado em cima do fogo da ilusão, que, por sua vez, cozinha toda essa confusão aí dentro. Então, você tem que investigar esse “fogo”, essa ilusão, e deixá-la cair por meio da observação.
Compreendem isso?
Assim, você nunca mais saltará sobre ideias e pensamentos, porque agora você está vendo que não vale a pena confiar neles.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Fortaleza em Agosto de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Quando você descobre o que é meditação

Este é um momento único. Nós estamos investigando a natureza ilusória do pensador, do “eu”, dessa egoidentidade, dessa “pessoa”. Temos aqui um momento de observação disso verbalmente. Além disso, temos a oportunidade de estar presencialmente nessa atmosfera de pura e real Presença Divina, que é onde o trabalho se torna possível.
A ideia central é de que o pensamento é algo que pertence a “alguém”, assim como a experiência, sempre com uma referência no passado, na memória, no que é conhecido. Todos os seus pensamentos e experiências têm sempre a ideia de um “eu” presente, tendo o passado como referência.
Vamos investigar a ilusão disso, desse experimentador, pensador...
Você nunca fala de uma experiência acontecendo neste momento, mas somente de experiências do passado; nunca fala de pensamentos deste momento, porque todos eles têm como referência, sempre, o passado, ou seja, são memórias, lembranças. Você sempre fala do que aconteceu, seja há um minuto, uma hora ou dez anos. Então, toda a sua experiência é ligada a um suposto “eu” que viveu algo, do qual acredita estar se recordando neste instante. Não é isso mesmo? Assim sendo, a referência é sempre o passado. Pensamento é memória, experiência é memória, e esse “eu” é uma ideia “linkada” a pensamentos e experiências. Acompanham isso?
"Pensamento é memória, experiência é memória, e esse “eu” é uma ideia “linkada” a pensamentos e experiências."
Se não há pensamento, não há experiência, e, sem o “eu”, não há pensamento. Assim, nós temos três “aparições” que surgem sempre juntas: o pensamento, que é memória; a experiência, que é relatada pelo pensamento; e um suposto “eu”, o qual teria vivido isso. Agora mesmo você não duvidaria que está passando por uma experiência. Depois, o pensamento vai tratar desta experiência, como se, de fato, ela tivesse acontecido para “alguém”. Ou seja, o pensamento, que é memória, vai trazer essa imagem e dentro dela haverá a ideia de um “eu” que passou por isso.
Todos acompanham isso?
O que eu tenho para lhe dizer é que tudo isso tem somente uma referência baseada no pensamento, que é memória. Então, nós temos o “eu”, a experiência e quem “fala” sobre isso, que é o pensamento. O “eu” é o sujeito, a experiência é o objeto e o pensamento é aquele que conta a história dessa relação entre sujeito e objeto. Reparem como é interessante isso! O pensamento, imaginariamente, separa sujeito e objeto, o “eu” e a experiência. Então, você carrega sempre essa ilusão de que você é esse “eu”, que passa por experiências, que pensa e experimenta. Nós estamos diante de algo fascinantemente simples, mas, curiosamente, você não consegue ver isso sozinho.
O que estou dizendo é que você, fundamentalmente, não é sujeito nem objeto. Essa relação entre sujeito e objeto é uma imaginação do pensamento e, fundamentalmente, você está além de tudo isso. A questão é que você carrega um condicionamento muito profundo, uma coisa muito enraizada aí dentro, que é essa confiança de que você é o “experimentador”, o “pensador”, “alguém” dentro do corpo, na experiência do mundo. Até acredita que nasceu! Seu estado de sono, de sonho, de imaginação, tem raízes muito profundas. Fundamentalmente, você nunca nasceu, nunca experimentou.
Alguns dizem que você é um ser divino numa experiência humana, mas isso não é verdade! Não existe nenhum experimentador dentro desse sonho, pois o que nós temos é apenas o sonho. Se pode estar inteiramente cônscio disso, então, você não é o experimentador do sonho; está além dele. Se não pode, você está se confundindo com a experiência, portanto, preso dentro dessa crença, desse condicionamento de “ser uma pessoa”. Assim, a própria ideia de se alcançar algo ainda pertence à ilusão do experimentador. Não existe nada que você possa alcançar! Essa é uma ideia profundamente enraizada, e é por isso que as pessoas vivem buscando experiências.
Satsang é o fim da experiência, da ilusão do experimentador, da ilusão da separação entre sujeito e objeto, portanto, é o fim do pensamento. As pessoas passam por alguma experiência mística, esotérica, espiritual, e acreditam que alcançaram a Iluminação. A Iluminação não é um objeto, então não pode ser uma experiência para um sujeito; isso ainda faz parte do pensamento. Enquanto o sentido de dualidade (sujeito-objeto) está presente, não existe Real Despertar, Real Iluminação. Iluminação é o fim da experiência e do pensamento, do experimentador e do pensador, do sujeito e do objeto. Somente, então, existe Real Autorrealização.
"Iluminação é o fim da experiência e do pensamento, do experimentador e do pensador, do sujeito e do objeto. Somente, então, existe Real Autorrealização."
Acompanhe isso com cuidado... Consegue acompanhar?
O corpo, os sentidos, a mente, todos esses estados, experiências e pensamentos são coisas que vêm e vão. Fundamentalmente, você está além de tudo isso. Todo estado vem e vai, mas você é essa Presença atemporal, é essa Suprema Realidade, Alegria, Amor, Verdade, Silêncio e Paz. Você é Deus! Repare que estou colocando para você a importância dessa Realidade, além de sujeito e objeto, além dessa experiência-pensamento-eu.
Essa Realidade não pertence ao mundo das realizações, não faz parte do mundo das aquisições, dos desejos, ou seja, não faz parte desse mundo da mente. O que Você é não pode ser experimentado ou pensado, não pertence a essa relação de sujeito e objeto. Assim, é necessário deixar todo desejo por realizações, aquisições, por obter, alcançar alguma coisa. Você vê isso?
Então, quando você descobre o que é Meditação, pode descobrir O que, fundamentalmente, Você é ‒ essa Realidade que está além da mente.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 05 de Novembro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Investigue profundamente isso

Aquilo que ouvimos nesses encontros, em Satsang, são falas que apontam para uma Realidade desconhecida da mente. Estamos diante de um assunto bastante fascinante. Não tratamos de algo imaginário, mas de algo desconhecido da mente.
Estamos propondo para você assumir a Verdade de ser quem Você é, a Verdade sobre Si mesmo, descobrir a Realidade de sua Natureza Essencial. Estamos tratando de algo desconhecido para a mente e queremos que você investigue profundamente isso. Então, você terá a chance de não mais se identificar com mudanças.
Todas as experiências que você vivencia são mutáveis. Se você tem uma aproximação de observação, sem se confundir com essas experiências, você percebe que há um “elemento” presente, imutável, em meio a tudo isso. Esse “elemento” presente é uma testemunha das mudanças, a testemunha presente, a sempre Presença, o “elemento” imutável. Percebam como isso é básico dentro dessa investigação. Realização é algo perfeitamente possível, porque, quando falamos de Realização, estamos falando da Autorrealização, da Realização do Ser.
Neste momento, você acredita que está sentado ou deitado... Na verdade, apenas o corpo está presente. Quando você diz: “Estou sentado!”, na verdade, está se referindo ao corpo, porque Você não está sentado. Daqui a pouco, a posição desse corpo muda e você diz: “Estou deitado!”, mas Você não deita, é o corpo que deita. Essas são as mudanças daquilo que pode mudar — assim é o corpo. Sentado ou deitado, Você não muda, o que muda é a posição do corpo. Então, estou dando um exemplo de algo em você que não muda, que testemunha a mudança. A mudança acontece naquilo que pode mudar, como o corpo, mas Você é a testemunha.
Quando falamos de Autorrealização, estamos falando da constatação da Natureza Imutável do Ser, de sua Essencial Natureza, dessa única Verdade Imutável que Você é. Assim como o corpo muda de posição, a mente também “muda de posição”. Às vezes, ela está descansada, em outros momentos, está cansada, estressada, ansiosa, com medo, em confusão. Então, ela está mudando o tempo todo e você pode testemunhar isso. Você pode testemunhar a mudança do corpo e da mente. Você pode continuar se confundindo com o corpo ou com a mente, ou pode permanecer desidentificado deles. Se você permanece desidentificado, vê que não tem nada acontecendo em seu Ser, em sua Natureza Verdadeira.
"Quando falamos de Autorrealização, estamos falando da constatação da Natureza Imutável do Ser, de sua Essencial Natureza, dessa única Verdade Imutável, que Você é."
O que eu descobri é que, na razão em que você se desidentifica do corpo e da mente, esses estados perdem o poder de trazer confusão, sofrimento, desconforto psicológico, emocional. Aí está a chave da Liberação! Colocando de forma simples, com um exemplo bem prático: o corpo está sentado, de repente, ele sente calor e liga o ar-condicionado; ele sente calor e vai buscar uma ducha de água fria; ele sente frio e coloca uma jaqueta. Então, o objeto, que é o corpo, está procurando alguma coisa em razão da mudança que ele experimenta, e você observa isso sem se confundir com ele. Não é um problema seu, é um problema do corpo. Isso passa a ser seu problema quando você acredita que é o corpo. Fome, frio, calor, dor, prazer... nada disso tem a ver com você, tem a ver com o corpo. Você passou muito tempo acreditando que é o corpo, agora está em apuros, está com problemas e tem que se desconectar disso, precisa soltar essa crença. Na mente, acontece a mesma coisa. O pensamento diz: “Ele não gosta de mim!”, ou, “Ninguém gosta de mim!” e, imaginariamente, vai buscar um estado para confirmar sua crença. Então, ele cria um estado chamado “rejeição”, “tristeza”, “depressão”. Esses estados também estão sempre mudando. Você, habituado a referir-se a si mesmo como “eu”, diz: “Eu estou triste”. A tristeza é só um objeto, uma experiência da mente, mas a mente não é você.
“Ninguém me ama”, “Ninguém gosta de mim”... Todos os pensamentos que passam na sua cabeça são estados da mente, que estão mudando. Esses pensamentos acompanham os sentimentos e você confia nisso. É uma questão de educação. Você foi educado, treinado, a confiar em pensamentos. Uma das primeiras coisas que eu digo para as pessoas, quando elas vêm, é: “Não confie em nenhum pensamento. Isso é só uma questão de condicionamento, de educação”.
Seus pais lhe deram um nome, uma forma e essa educação que você recebeu, atribuindo-lhe muitas qualidades, e você se identifica com isso. Assim, a sociedade lhe deu a ideia de que você é “alguém”, “alguém” no corpo, que tem uma mente. Essas qualificações, essas atribuições que você dá a si mesmo, são todas resultado de educação, de cultura, de crença social. Você se refere a si mesmo como sendo “alguém” dentro do corpo, tendo uma mente, mudando o tempo todo, porque o corpo e a mente mudam. Essa é a programação, a educação, o condicionamento, a ilusão. Você pensa em termos de “ser humano” mudando. Você viu o corpo mudar, então, acha que está mudando. Assim como, quando ele muda de posição (sentado, deitado, em pé), você acredita que é você que está mudando.
O menino era jovem e agora está mais velho... Os meninos, aos cinco anos de idade, não têm barba, mas, quando crescem, passam a ter. As meninas, que não tinham seios, agora têm. O fato é que o corpo muda, mas Você, dentro, não muda, porque você não é o corpo. A mente muda, mas você não muda, porque você também não é a mente.
Quando você pensa em si mesmo como sendo “alguém”, cria uma imagem sobre quem você é e acredita que tudo que acontece a essa imagem está acontecendo a você. A Autorrealização é o fim dessa ilusão. A Liberação, a Paz, a Felicidade, reside em sua Natureza Imutável de Ser, nessa Realidade sempre presente, além do corpo e da mente.
Meditação é não se confundir com isso, trabalhar a desidentificação dessa experiência de mudança acontecendo no corpo e na mente. Você não é essa imagem que tem de si mesmo. Na razão em que se torna consciente desse corpo, dessa mente, e não se confunde com essas mudanças, você se torna ciente, completamente, de que toda ideia que faz de si mesmo é falsa; que esse “eu” é apenas, ainda, um objeto, fruto da imaginação do pensamento.
Na razão em que você se torna consciente desse movimento de mudança do “corpo-mente”, fica ciente desse “eu”, que é apenas um objeto que você pode reconhecer. Você, agora, sabe que os seus desejos, medos, toda essa ansiedade, nada disso é você. Você está dentro desse processo de desidentificação da ilusão de uma identidade presente na experiência “corpo-mente”.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 12 de Novembro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Você é a Realidade Absoluta!

Estamos tratando, aqui, de uma Realidade absoluta, de uma Verdade que está além de todos os pontos de vista. Não é possível nos aproximarmos da Verdade Divina, da Verdade de Deus, a partir de pontos de vista, a partir de uma visão relativa, parcial, baseada em conceitos, ideias, crenças. Isso pela simples razão de que essa Realidade absoluta não carrega nenhum ponto de vista. Ela não vê objetos, situações, eventos, coisas, nem assiste a nada disso a partir de um ponto de vista particular. Essa visão da Realidade é a visão do Sábio, daquele que realizou seu Ser, que está assentado em seu Estado Natural.
A Verdade é, necessariamente, Absoluta, porque não carrega nenhuma relatividade, nenhum ponto de vista. Você vê pessoas, coisas, lugares e situações dentro de um ponto de vista ilusório. Por isso você se preocupa com eventos, acontecimentos, incidentes, acidentes, com pessoas e consigo mesmo. Esse é o ponto de vista desse falso “eu”. Na visão do Sábio, nada disso é real. Isso não é um ponto de vista, é a visão da Realidade, a constatação do Absoluto.
A visão da mente é sempre limitada, a partir de um centro imaginário, o falso “eu”. É nele que aparecem pessoas, lugares, situações, eventos, incidentes e assim por diante. A mente inclui, dentro de todo esse conjunto, uma “entidade” presente experimentando tudo isso. Pura imaginação!
Você, como Consciência, como essa Verdade Absoluta, não está preso dentro desse ponto de vista relativo, através do qual você vê um mundo produzido pelo pensamento e se relaciona com ele. É nesse mundo que existem amigos, inimigos, os bons e os ruins, os parentes, a família, os lugares, os objetos, a natureza, tudo aquilo que a mente quer preservar e com o qual se preocupa o tempo todo. Tudo isso é visto a partir desse “eu” imaginário, um “eu” que você imagina existir dentro do corpo.
Essa Verdade Absoluta, que é a Verdade do Ser, que é Você em seu Ser, é indescritível Liberdade. Em sua Natureza Real, você está completamente livre desse mundo imaginário criado pelo pensamento. Parece-me que a palavra mais próxima desse Natural Estado Absoluto é Felicidade, que é incondicional Liberdade, onde não há objetos, pessoas, crenças, ideologias, ciência, política, tecnologia... Na Índia, esse Estado Absoluto de Ser é chamado de Samadhi ‒ a Verdade completamente livre do imaginário, do sonho!
"Na Índia, esse Estado Absoluto de Ser é chamado de Samadhi ‒ a Verdade completamente livre do imaginário, do sonho!"
Então, toda essa preocupação que você tem com a natureza, com a política, com a família e com o mundo à sua volta está dentro dessa prisão, desse condicionamento do mundo mental. A mente conhece vigília, sonho e sono profundo, onde toda experiência é puramente mental. Esse mundo de nomes e formas é apenas resultado de uma atividade mental, e a confiança que se dá a isso é pura ignorância. No momento em que a mente assume esses nomes e formas, inicia-se a ilusão da separação, da separatividade, de “realidades separadas”.
Contudo, não existem “realidades”, há somente uma única Realidade, a qual está além de vigília, sonho, sono profundo, nomes, formas, ou seja, além de toda atividade da mente. Quando você se perde nessas atividades mentais, você se identifica com o corpo, com a mente e com a experiência do mundo, e é isso que sustenta esse falso “eu”. Quando você vive nessa identificação, toda a sua relação com a vida é tremendamente miserável, pois ela se encontra assentada no medo, na ignorância, na ilusão.
Nessa Realidade Absoluta, não há sujeito e objeto, não há corpo, não há mente, não há mundo, não há coisas separadas e reais em si mesmas. A Realidade está além disso tudo! Tenho frisado muito que é necessário verificar isso de uma forma direta, então, você se reconhece como essa Realidade Absoluta. Para isso, é necessário ir além da mente, além desse jogo, desse sonho. Todo o seu medo, o medo de viver e de morrer, é o medo de uma “entidade” imaginária, de uma falsa “entidade” presente, dessa “pessoa” que o pensamento, imaginariamente, produziu. Você não existe nesse formato!
Você é a Realidade Absoluta! Você é a Realidade Divina! Você é a Realidade de Deus! Há somente Ele! A constatação direta Disso é essa Liberação, essa Felicidade, essa Paz, esse Amor Real, essa Verdade!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 10 de Outubro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Como ir além da prisão da mente?

Você nasce, passa uma vida de quarenta, sessenta, oitenta anos e morre. Esse é o problema! Você não sabe nada sobre si mesmo, sobre a vida, é um perdido. Um perdido é aquele que está na floresta, não sabe como e onde o “avião caiu”. Você está em uma floresta, andando em círculos, sem bússola, sem treinamento, sem recursos. Então, vem a tempestade, o sol, o calor, o frio, a fome, a sede... enquanto o corpo durar.
Se você não tem Consciência de Si mesmo, você é só alguém em uma floresta muito maior que você, muito mais severa, dura, impiedosa, com suas mudanças de clima, com os seus animais ferozes e insetos. Assim, você vive sem Realidade, sem Salvação, perdido.
É estranho ouvir isso, mas é real. Você não sabe que, na verdade, não está perdido, não está em uma floresta, não está passando por um pós-acidente aéreo; não sabe que está tudo no lugar. Até que saiba de verdade, você se sente assim: em uma floresta. Você, em sua Natureza Real, não está em uma floresta. Você é Deus, Inteligência, Consciência, Liberdade, Verdade. Mas, até que saiba, é assim que se sente: um ser humano. O amor, a paz, a liberdade e a felicidade que você encontra em objetos e pessoas são incompletos. Por quê? Porque você está se vendo fora de Si mesmo, está se vendo no mundo. Então, você está em um pós-acidente aéreo, está na floresta.
Participante: Nós encontramos muitos “mapas” falsos para chegar na paz, na liberdade. Nós o seguimos, mas não dá certo. Então, vivemos trocando de “mapa”.
Mestre: É porque são mapas imaginários. Você está em uma floresta com um mapa imaginário. A espiritualidade constrói mapas em suas diversas ramificações. Existem diversos caminhos dentro de mapas diferentes, todos indicando a “luz”: “Vá por aqui que você vai sair da ‘floresta’”. Mas, não é assim!
Como alguém que está dentro da floresta pode construir um mapa? Isso é como um prisioneiro, que está dentro da cela, falando sobre como sair da prisão. Ele está sonhando, imaginando, está em uma “viagem”; é um prisioneiro imaginando a liberdade. Para que ele saia dessa prisão, ele tem que ter ajuda externa, de alguém que já saiu de lá, alguém que conhece o caminho da fuga. Não é a imaginação da fuga, mas o caminho. Esse alguém está fora da prisão, então, pode ter um mapa. Ele tem autoridade para falar sobre como se livrar da prisão. Assim, só quem está fora da “floresta da mente” é que pode falar o que ela é, o que é a imaginação dessa “floresta”. Mas, precisa estar fora. Falar que a floresta é imaginária estando dentro dela, é como o preso, de dentro da cela, explicar como é lá fora e dizer: “Isso é só uma imaginação!”.
"Esse alguém está fora da prisão, então, pode ter um mapa. Ele tem autoridade para falar sobre como se livrar da prisão. Assim, só quem está fora da 'floresta da mente' é que pode falar o que ela é, o que é a imaginação dessa 'floresta'."
O seu momento é este! Há algo presente na Presença do Mestre, ou do Guru, como chamam na Índia. O Mestre é aquele que não está mais na “prisão”, na “floresta”. Isso é Real, não é imaginação. Existe, também, a imaginação de Mestre, de Guru, que é o “prisioneiro” falando sobre como sair da “prisão”. Se é um prisioneiro, não tem como falar sobre como sair da “prisão”. Você até pode, entre erros e acertos, aproximar-se de uma possível “fuga”, mas não é disso que estamos tratando.
Se você tiver a felicidade de se deparar com um Mestre vivo, com aquele que, de fato, saiu da “prisão”, aquele que, de fato, não está mais na “floresta”, na “mata”, perdido, então, você tem chance. Do contrário, está só em um looping, em uma “roda-gigante”.
Você sabe que a roda-gigante gira sem sair do lugar, não é? Lembra, quando você brincava no parque de diversões? Você pegava uma roda-gigante e parecia que sua cadeira passava sempre pelo mesmo lugar. Ela subia e descia... Você passava por uma árvore lá em cima, depois descia. Então, quando subia novamente: “Opa! A árvore voltou de novo”.
Então, estar nessa “viagem” da espiritualidade ou com um suposto “guru”, é algo perigoso: você pode estar só em um passeio de roda-gigante também. Mas, vamos supor que você tenha tido a felicidade de se encontrar com um Jivamukti (na Índia, eles chamam de “Jivamukti” aquele que está Livre em vida, ou seja, não está mais dentro da “floresta”, da “prisão”)... O meu Guru era um Jivamukti. Ele não me deu o “endereço”, ele me fez investigar, dizendo: “Olhe para dentro! Você tem que descobrir a Arte da Meditação!” Não é a prática da meditação, é a Arte da Meditação.
Hoje em dia, tem muita gente ensinando meditação. Mas, cada um ensina a meditação que desenhou dentro de sua “prisão”. Eu não estou falando de prática de meditação, estou falando da Arte da Meditação. Eu não vou dar uma técnica para você aprender a “pintar”, eu vou lhe mostrar como esse “artista” que “pinta” (e que está aí dentro) pode descobrir o seu caminho para criar as suas próprias obras. É assim que funciona. O Guru, o Mestre faz isso. Ele não lhe dá a “Coisa”, mas, curiosamente, lhe dá tudo. Ele lhe dá a facilidade para que você descubra Isso dentro de si. É a sua descoberta, então, não é falsa, não é a cópia da cópia da cópia... É Real! Você não está repetindo palavras de alguém, não está repetindo um livro que leu. Há tantos livros no mundo falando sobre Autorrealização! Você até deve ter lido alguns, mas não é disso que estamos falando aqui.
Todo esse conhecimento ainda é parte do “mapa” que se constrói ou que se desenha quando se está, ainda, perdido na “floresta”. Você tem que esquecer esses “mapas”. Você precisa esquecer tudo que já leu, estudou e aprendeu sobre Isso. Você precisa descobrir Isso aí dentro, como o Sábio fez. Então, assim como a flor, que na primavera se abre por si só, Isso floresce.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 04 de Julho de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Investigando a natureza da ilusão

O propósito, aqui, é ficarmos com uma base muito simples: não existe nenhuma “pessoa”. Tudo o que o meu Mestre me mostrou é o que eu compartilho com você dentro desses encontros. Ele me mostrou que todos os problemas de Marcos Gualberto eram imaginários e que buscar solução para eles era uma grande ilusão. É isso que nós tratamos com você, sempre, nesse espaço chamado Satsang.
Não há “pessoa”, então, não há problema. Assim, quando eu escuto a questão que você me traz, a “sua questão”, escuto a resposta também. A resposta para todas as questões está além da mente, porque é onde está o fim da ilusão da “pessoa”; onde não há “pessoa”, não há problema.
Certas questões estão na sua vida apenas como acontecimentos dentro dessa Divina Vontade. Tudo é somente a Vontade de Deus e não existe nenhuma “pessoa” envolvida nisso. Quando há a compreensão de que a resposta para todos os problemas está no fim da ilusão da “pessoa”, você não se preocupa mais em resolver nada, ou seja, não vai mais se preocupar em consertar o mundo. Então, tudo o que meu Mestre me mostrou foi que não havia nenhum Marcos Gualberto, com os seus imaginários problemas, e tive que entrar fundo nisso para me certificar dessa Verdade.
Portanto, o que você faz nesses encontros é descobrir que “você” não está aí! Isso é algo que, a princípio, soa muito louco, muito doido.
Meu Mestre me mostrou que a vida inteira acontece como um misterioso movimento de Deus. Há uma Realidade presente, que é essa Consciência impessoal. Ela permeia e está presente em tudo: na chamada “vida animada” e na matéria sem vida. Essa Consciência é a única Realidade presente em toda manifestação. Eu tinha que descobrir por mim mesmo a verdade Disso, além do corpo e da mente e das experiências de um “sujeito” chamado Marcos Gualberto.
Hoje, eu só apareço como um Mestre para aquele que quer investigar profundamente essa questão ‒ de que ele, ou ela, já é essa Consciência, essa Realidade, a Suprema Verdade. Na Índia, eles têm uma palavra para Isso, que está nas escrituras indianas: advaita ‒ a não separação, a não dualidade; há somente Um.
Estou citando isso, mas, no meu caso particular, eu nunca tinha ouvido tal palavra quando esta Compreensão chegou. Então, você não precisa ir aos livros, nem estudar a tradição, a cultura indiana. Essa é a Natureza do Ser e a constatação Disso é resultado de uma investigação e de uma rendição à Verdade. Nesse sentido, o que o Guru faz é apenas dizer: “Olhe para você. Vá além dessa identificação com o corpo, a mente e as experiências”. Então, vá além dessa ilusão da “pessoa” com os “seus problemas”.
"Nesse sentido, o que o Guru faz é apenas dizer: 'Olhe para você. Vá além dessa identificação com o corpo, a mente e as experiências'. Então, vá além dessa ilusão da 'pessoa' com os 'seus problemas'."
O Guru diz: “Você é essa Consciência, essa Realidade e a Vida é Isso”. Ele diz que você não é os pensamentos, os sentimentos, as emoções, as sensações, as percepções, a história; que suas relações estão todas baseadas em imagens criadas pelo pensamento. Você faz uma imagem de si mesmo e a imagem que você tem da vida está baseada nessa autoimagem. Assim, o que eu tenho para lhe dizer é que toda sua relação com o mundo está baseada na ilusão, na crença, nessa ideia de que “você” está aí como uma entidade separada.
Assusta ouvir isso?
Entre dois pensamentos, duas sensações, duas percepções sensoriais, essa Consciência permanece sem movimento, sem mudança. Há alguns momentos, na sua vida, em que o pensamento desaparece por completo; não há nenhum pensamento, no entanto, há uma Consciência presente que não tem história.
Eu gosto muito de exemplificar isso quando pergunto qual é a sua idade. Antes de perguntar isso, você não tinha nenhuma idade, não havia nenhuma identificação com o corpo. Mas, quando eu pergunto a sua idade, você acredita que está no corpo e vai buscar na memória quantos anos tem esse corpo. Nesse momento, você já entrou nessa contração da ilusão de uma entidade presente na experiência “eu sou o corpo”. Então, essa Consciência, que é sem cor, sem idade, sem nome, sem tempo, se contrai e se identifica dessa forma.
Ficou claro o exemplo?
Eu pergunto se você é mãe e lá vai você buscar uma criança. Porém, antes da pergunta, não havia nenhuma ideia de ser “mãe”. Essa Consciência está presente, sempre esteve, então, você permanece sem ser o nome, a história, o corpo, a “pessoa”, esse personagem; permanece como essa suprema e indefinível Consciência. Quando você toma a si mesmo como sendo “alguém”, todos os seus relacionamentos passam a ser de um objeto para outro. Assim, você é um homem para uma mulher, uma mãe para o filho, uma personalidade para outra, e, dessa forma, não há nenhuma possibilidade de Amor, de verdadeira comunicação, pois não há Deus, não há Verdade. Esse mundo de nomes e formas é somente o resultado de atividades mentais, que, na Índia, chamam de avidia.
Você está se identificando com aquilo que a mente, o pensamento, as crenças estão produzindo ‒ isso é imaginação. Aí está a “pessoa” e o seu problema, o ego, o senso de um “eu”, que acredita que nasceu e vai morrer, que deixará uma viúva para outro namorar, uma casa para o próximo marido da esposa, então, o sofrimento acontece. Quando o ego se lembra de tudo o que construiu e que vai deixar para outro, ele sofre. Isso é apego à imaginação de ser “alguém” possuindo coisas. Percebam como é simples essa coisa toda. Não existe fim para o sofrimento, enquanto a ilusão do “eu”, com a ideia do “meu”, estiver presente.
E agora? O que vocês vão fazer com isso?
Ou você investiga a natureza da ilusão (toda ilusão consiste nesse conjunto de pensamentos, que aparecem o tempo todo dentro da sua cabeça), a descarta completamente e descobre, assim, a verdade sobre esse fundo de condicionamento, ou você morre desse jeito. Então, se você descobre a verdade sobre a ilusão, a ilusão termina. Quando o falso é visto como falso, ele desaparece, não está mais lá, e, quando isso acontece, o apego e o medo desaparecem, e o personagem, com um nome e uma história, já não tem mais importância. Assim, não existe mais ignorância, avidia, e aí está a Sabedoria, a Verdade.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 04 de Julho de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A Verdade não pode ser ensinada

O que eu considero mais importante, dentro desses encontros, é essa abertura, essa receptividade à Verdade. Hoje em dia, fala-se muito da questão guru-discípulo, se existe a necessidade ou não do guru. Esse é um assunto que tem causado perturbação a muitos. Falando do ponto de vista último, absoluto, não existe guru, discípulo e nem ensinamento, até porque a Verdade não pode ser ensinada. Então, do ponto de vista absoluto, essa não é uma questão que aparece para o Sábio.
Contudo, paradoxalmente, para aquele que se vê como uma entidade separada, existe uma profunda necessidade de ser Um com a Verdade. Nesse sentido, ser um discípulo é estar preparado para a Verdade, portanto, é algo essencial, fundamental. Essa preparação para se confrontar com a Verdade, com a Realidade é, de fato, uma real necessidade. Agora, se o Guru vai assumir a forma humana ou não (e o Guru é essa Verdade), já é outra questão. Se isso não acontece, se a Verdade não se revela, a ilusão, que basicamente é miséria e sofrimento, estará presente.
Assim, o primeiro questionamento que surge no coração do discípulo, que é aquele que está se abrindo para a constatação da Verdade, é: “Qual é o significado de tudo isso? Afinal, o que significa estar vivo? O que significa a vida? A vida é só isso mesmo: nascer, crescer, envelhecer, adoecer e morrer?”. Se está pronto para olhar para essa questão, você é um discípulo da Verdade, um discípulo da Vida. É isso que eu considero essa “abertura”, essa “receptividade” à Verdade.
Quando você é um discípulo da Vida, da Verdade, e há uma grande inquietude interna, chega um momento em que a Verdade, ou o Guru, aparece. O Guru não é algo externo, você não pode encontrá-Lo. Essa é outra questão interessante.
De certa forma, o Guru é aquele que ensina alguma coisa, mas, como acabamos de colocar, a Verdade não pode ser ensinada. Então, se está procurando instruções espirituais, você encontra gurus que são apenas professores. Eles podem lhe dar algum tipo de conhecimento, mas não podem lhe dar a Verdade. Essa coisa de andar pelo mundo inteiro procurando por um Guru faz com que você encontre apenas professores.
Você não pode encontrar o verdadeiro Guru! É o real Guru que encontra você e não o contrário. Você não vai encontrar a Verdade, então, não pode encontrar o Guru. A Verdade, o Guru, o encontra. É disso que estamos tratando aqui. Quando você é um discípulo da Vida, um discípulo da Verdade, há um sentimento interno de orientação, algo profundamente misterioso acontecendo dentro de você. Acontece uma abertura e, nela, o Guru, a Verdade, o encontra. Não importa se o Guru tenha uma forma humana ou não.
Então, quando há esse “queimar” interno pela Verdade, você é um real discípulo. Para o real discípulo, a Verdade, o Guru, sempre estará disponível. A Verdade está além do ensinamento. Você só pode ser despertado para a Verdade pela própria Verdade. Nesse sentido, o Guru é essencial, mas somente quando o discípulo é real. Quando o discípulo não é real, ele permanece buscando ensinamentos para melhorar a si mesmo como pessoa, então, ele encontrará somente isso. Portanto, seu guru será apenas um professor que vai “ajudá-lo” de alguma forma; ele vai ensiná-lo sobre a Verdade. De fato, isso não será uma real ajuda, será uma grande atrapalhação. Com o tempo, ele poderá se tornar completamente imune à Verdade, como alguém que tomou uma vacina e se tornou imune a certos tipos de bactérias ou vírus. Quando a Verdade chega, é para Despertá-lo e não para ensiná-lo.
"Quando a Verdade chega, é para Despertá-lo e não para ensiná-lo."
Hoje, nós temos muita gente estudando Autorrealização ou ensinamentos Advaitas. Há mais de dois mil anos, as pessoas estudam as palavras de Jesus e, até agora, ninguém despertou fazendo isso. Assim, você também pode estudar os Vedas, as palavras de Ramana, de Buda ou Krishnamurti. O Guru real é a Verdade, e, quando Ela chega, Desperta! Ela não dá conhecimento, Ela traz a Revelação do Desconhecido, Aquilo que não tem nome, que não tem forma, que está além da mente.
Você pode passar a vida inteira estudando e, quanto mais estuda, mais se afasta da Verdade, porque Ela não é ensinável, você não pode aprendê-La. Somente quando encontra o Guru, você encontra a Si mesmo, encontra a Verdade. Mas, o problema é que você não pode encontrar o Guru, porque você não pode encontrar a Verdade. É Ela, é o Guru, que o encontra, e, para isso, você precisa estar aberto, em rendição, em entrega, uma grande simplicidade precisa nascer dentro de você. Outro aspecto da mesma questão é que o Guru não pode ser encontrado porque Ele não é algo do lado de fora. Portanto, Ele não pode ser buscado! Tudo o que o ego pode ver são objetos; tudo que ele pode encontrar é parte dele mesmo, nunca o Guru. Outra coisa é que, na grande maioria dos casos, o Guru, na forma humana, é a representação ideal dessa Verdade. Existem alguns casos em que a Presença da Verdade, do Guru, não assume uma forma humana, mas são casos muito raros.
Por que o discípulo precisa do Guru? Simplesmente, porque ele não está ainda estabelecido na Verdade. Se estivesse estabelecido na Verdade, ele saberia que não há discípulo nem Guru. Mas, para aquele que não sabe essa Verdade – e não adianta saber apenas teoricamente – o Guru, a Verdade, Deus, é essencial. Então, a menos que você esteja completamente aberto, em profunda rendição, você não saberá o significado da Presença do Guru, a importância e o valor dessa Graça.
A Verdade, o Guru, essa Presença, é algo além das palavras. Você não pode encontrá-Lo, mas Ele pode encontrar você, se estiver aberto, se essa simplicidade estiver aí dentro, se existir esse “queimar” pela Verdade. Deus, a Verdade, o Guru, nunca está ausente, mas, enquanto você não estiver maduro para reconhecer sua Presença (que está presente, mas você não pode desfrutar Disso), você não pode e não será encontrado, porque, na verdade, você não quer a Verdade, não está pronto para essa rendição. É por isso que alguns egos “se iluminam”, forjam uma “iluminação”, “viajam” em uma iluminação forjada.
Autorrealização, Iluminação, ou Verdade, só está presente quando não existe mais o sentido desse “eu”, quando não há mais ilusão, quando não há mais o sentido de separação. Toda sua busca não pode lhe dar Isso, só a maturidade pode lhe dar a Presença da Graça na forma do Guru. Então, você não vai encontrá-Lo.
Se você é desses que viaja pelo mundo procurando um Guru, tudo que você está procurando é um instrutor espiritual. Quando houver abertura, real maturidade e rendição interna, Deus irá até você, o Guru irá encontrá-lo. Você não irá até Ele, Ele vai encontrá-lo e vai o aproximar Dele. A Verdade, o Guru, o encontra, e não o contrário; a Liberação o alcança, e não o contrário.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 04 de Julho de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

O Supremo Conhecimento

Nesses encontros, estamos descobrindo como constatar e não perder de vista a Verdadeira Identidade de cada um de nós.
Se examinar bem, você vai descobrir que isso, basicamente, é Meditação. Não perder de vista sua Verdadeira Natureza é Meditação. O único equívoco é você ter essa identidade física e mental como sendo sua realidade, sua naturalidade, sua natureza verdadeira. Essa identidade física e mental não deve ter lugar aí, porque ela não é real. Você se confunde com a mente e com o corpo, então, tem medo da doença, da velhice e, naturalmente, da morte. A morte fica mais próxima com a velhice, mas ela alcança a todos, inclusive os mais novos e mais saudáveis.
Identificado com o corpo, você tem muito medo da vida, porque, para você, “vida” representa toda forma de preenchimento e sustentação dessa identidade no corpo. As pessoas não amam a vida, elas amam a continuidade da forma, dessa forma física e mental. Quando eu digo que elas “amam”, quero dizer, na verdade, que estão apegadas a esse modelo de existência, cheio de desejos e medos, em que o apego é muito forte. Isso acontece porque o ser humano não tem a visão da Verdade sobre si mesmo. Quando você percebe sua Consciência, sua Verdadeira Natureza como Deus, o apego a esse modelo de existência, a essa chamada “vida”, termina. Essa sua Consciência, que é a sua Natureza Real, é a prova de que Deus É. Essa Consciência lhe dá a visão dessa grandiosidade. Isso é algo possível quando você está fora dessa identificação “eu sou o corpo”.
Então, não esqueça isso: seu trabalho é assumir essa "Lembrança". Aquele que reconhece a sua Natureza Real, que não perde de vista a sua Identidade Verdadeira, não tem medo da morte. Assim, ele pode deixar a forma de uma maneira beatífica e em Felicidade, não importa como o corpo esteja sendo abandonado.
A madeira de uma árvore pode se transformar em um belo móvel, em uma bela mobília, ou apenas em lenha seca queimar numa lareira. Assim é o corpo daquele que realizou a Verdade, pois não importa como ele vai perecer, como vai desaparecer. Um homem como Ramana Maharshi ou Nisargadatta Maharaj pode ter o seu corpo sendo destruído, “comido”, por células cancerígenas. Para o Sábio, não importa se o seu corpo é destruído por um câncer.
O que estou dizendo é que os Sábios abandonam a forma em um Estado Beatífico, em Estado de Suprema Felicidade, sem qualquer peso, apego e medo. O homem comum não é assim, mesmo que ele morra dormindo. A diferença é que o Sábio já está “morto” e o, assim chamado, “morto” ainda permanece vivo ‒ vivo para os seus desejos, medos e apegos.
Assim, percebam a beleza desse encontro onde estamos descobrindo a verdadeira Felicidade, que não está nesse mundo, que é o mundo da mente, dos desejos, medos e apegos, e que não está na ilusão dessa identidade física/mental. Nesse mundo, temos o prazer de realizar coisas, há uma profunda satisfação egoica nisso, mas o fato é que o risco do fracasso e o medo acompanham isso o tempo todo. Então, o prazer de realizar é permeado de medo ‒ medo do fracasso, depois o medo de perder tudo que conquistou e o maior medo, que é o da morte, porque na morte fica tudo.
Os egípcios, quando seus faraós morriam, colocavam junto deles suas riquezas, para que estas os acompanhassem para o outro lado da morte, e, assim, pudessem desfrutá-las de alguma forma. Hoje em dia, as pessoas não fazem isso porque o caixão é muito pequeno, não dá para colocar o carro, a esposa, o marido, os filhos, o apartamento, a casa de praia, as joias, os brincos, os sapatos, e assim por diante.
Aqui, você tem que descobrir o que é isso que nós chamamos de vida. É necessário descobrir que você é essa Consciência, sem forma, sem nome, sem história, sem corpo, sem mente. Você não é um homem nem uma mulher, portanto, não é pai, não é mãe, não é filho, não tem carro, não tem casa, não tem joias, não tem crédito e, também, não tem dívidas. Não é isso? Tudo isso é maya [palavra sânscrita que significa “ilusão”]. Maya lhe deu isso tudo.
Quando você encontra o seu Mestre, o Satguru, que é o Ser, a Consciência na forma, ele lhe dá esse Despertar; ele lhe mostra sua Consciência Real, sua Natureza Verdadeira. Antes, você era o “conhecedor” do mundo, da história, do nome, da forma, das experiências e, agora, com o Despertar, tudo isso desaparece, porque nada disso tem mais valor. Percebam a beleza disso! Antes você era “conhecedor” disso tudo, agora você não está mais interessado em nada disso, porque lhe foi revelado, por essa Consciência, sua Natureza, que é a própria Consciência.
"Quando você encontra o seu Mestre, o Satguru, que é o Ser, a Consciência na forma, ele lhe dá esse Despertar; ele lhe mostra sua Consciência Real, sua Natureza Verdadeira."
Então, a Consciência, na forma do Satguru, revela para você sua Consciência Verdadeira. Na Índia, eles chamam Isso de Parabrahma, que significa “além de Deus”, “além de Brahma”, além do fenomênico, da manifestação. Parabrahma, sua Realidade Divina, é o que torna Deus real. Deus é real porque Você está aí; o mundo é real porque Você está aí; a existência se manifesta porque Você está aí! Você é anterior a toda manifestação! Você é Parabrahma ‒ esta é a Revelação! Você está além de maya.
Maya está presente em razão dos cinco sentidos: visão, tato, audição, paladar e olfato. Os cinco sentidos estão presentes, então, maya se apresenta como toda essa manifestação, que é a própria Consciência assumindo aparentes nomes e formas. Contudo, você é anterior a essa aparição. Você é Parabrahma! Esse é o supremo Conhecimento do Jnani, do Sábio, por isso, para ele, não há morte nem apego. O devoto é aquele que vê o Guru como sendo essa Realidade infinita. Assim, quando ele percebe, na forma do Guru, Aquilo que está além da forma do Guru, que é Parabrahma, essa Realidade, ele percebe a Si próprio e Realiza o Ser, a Verdade, sua Natureza Real.
Então, o verdadeiro Conhecimento, a verdadeira Revelação é essa Constatação. Estados como vigília, sonho, sono profundo e o que aparece neles não têm a menor importância para o Ser realizado. Isso porque ele não tem mais nome nem forma, embora ainda apareça tendo uma forma, que pode estar sendo destruída por células do câncer ou por alguma outra enfermidade ou situação, como um acidente ou mesmo uma crucificação.
Então, nós temos que perceber o que está além do corpo, além da própria experiência de consciência objetiva, que ocorre através da percepção dos sentidos (visão, tato, olfato, paladar, audição). O que estou dizendo é que Você está além dessa identidade que todos reconhecem com um nome, uma forma e uma história.
Esse mundo mental acontece assim: quando você nasce, o seu nascimento é comemorado pelos seus pais e, quando esse corpo morre, sua morte é lamentada pelos que ainda estão, aparentemente, vivos, mas nada disso é real. Esse nascimento aconteceu num sonho e sua morte vai acontecer num sonho, enquanto que sua Natureza Divina, Real, é anterior a toda experiência dos sentidos, da mente, do corpo e do mundo. Sua Natureza Real não dorme, não acorda, não nasce, não morre. Aquele que sabe isso está liberto em vida!
Não existem tais coisas como esse aparecimento, desaparecimento e a percepção dos sentidos, que é a percepção de maya. Nós, de fato, não experimentamos o nascimento e a morte. A essencial Substância dessas percepções nunca aparece e desaparece; todas essas percepções estão presentes em nosso Ser.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 12 de Setembro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A Existência Pura

Esta é, de fato, uma bela oportunidade. Estamos diante de uma nova espécie de conhecimento, de experiência. Na verdade, a palavra “conhecimento” e “experiência” não são as mais adequadas. Aquilo que nós temos por conhecimento ou experiência é algo sempre atrelado a alguém ou a algo que percebe, que conhece ou que experimenta, enquanto que, nesse contato que temos aqui, nesse espaço de investigação, estamos descobrindo uma qualidade nova de Conhecimento, de Experiência, sem a existência de qualquer sujeito. Assim, trata-se do Conhecimento Puro ou Experiência Pura, sem um conhecedor ou experienciador.
Estamos tratando da Natureza Primordial de todas as coisas. Os Sábios chamam Isso de Brahman, “algo” que está além do conhecimento e da ignorância, além da experiência e da não experiência, do experimentador e sua experiência. Hoje em dia, temos muitos livros trazendo uma aproximação dessa Realidade Última, de Brahman, Deus, Consciência ou Suprema Realidade. Mas, tudo que você pode fazer com esses livros é abarrotar a memória de informações e o intelecto de certa habilidade para lidar com palavras sobre esse assunto. Aqui, não temos interesse nisso.
A primeira coisa, aqui, é limpar esse “terreno”, porque a natureza desse Conhecimento ou dessa Experiência de Brahman, de Deus, dessa Realidade, não é objeto de estudo, não é um tópico para ser estudado, você não pode estudar e aprender algo sobre Isso. É possível mergulhar, desaparecer Nisso, assumir esse Conhecimento ou essa Experiência. Reparem que estamos falando de uma Experiência e de um Conhecimento de qualidade totalmente diferente daquela que a mente conhece.
Meu Mestre dizia que apenas Deus pode conhecer e revelar Deus. Então, o conhecedor de Brahman, o conhecedor de Deus, é Deus. A Experiência de Brahman, de Deus, é uma Experiência de Deus, em Deus e para Deus. Compreendam a beleza disso: não é para o intelecto, não é para o observador, não é para o pensador, não é para o experimentador. O pensador carrega a ilusão de que o pensamento é algo separado dele – ele é o sujeito e o pensamento o objeto. O experimentador carrega a ilusão de ser aquele que experimenta, e a experiência é o seu objeto. O observador faz o mesmo: ele tem a ilusão de estar separado daquilo que é observado. Essa separação é apenas um conceito, uma crença, ainda do pensamento.
Em outras palavras: tudo que você vive como uma entidade separada, uma pessoa, que é o que você acredita ser, é uma ilusão. Aquele que acredita ser uma pessoa foi apanhado pela imaginação. Ele é a própria imaginação produzindo uma fantasia – a fantasia de ser uma entidade separada. Toda a sua vida está assentada nessa ilusão. É necessário discernir a Verdade da ilusão desse falso pensador, desse falso observador, desse falso experimentador, desse falso “eu”. Essa ilusão criou a ideia (que também é uma crença) de estar vivendo uma experiência particular, pessoal, humana, dentro do corpo. Isso tudo é um pacote de pensamentos, um pacote de imagens criadas pelo pensamento, pura imaginação.
"Tudo que você vive como uma entidade separada, uma pessoa, que é o que você acredita ser, é uma ilusão. Aquele que acredita ser uma pessoa foi apanhado pela imaginação. Ele é a própria imaginação produzindo uma fantasia – a fantasia de ser uma entidade separada."
Agora mesmo, você imagina que está ouvindo [ou lendo] essa fala e que há alguém lhe dizendo algo, mas isso não é verdade. Não tem ninguém ouvindo coisa alguma, isso é só um jogo, uma dança de palavras sem qualquer significado real. Você acompanha isso? É muito estranho?
A mente tem projetado todo esse pacote de pensamentos, essa multiplicidade de formas, nomes, imagens, experiências. Então, parece que há muita coisa acontecendo para uma multidão. Nós falamos de sete bilhões de pessoas em um planeta, cada uma com uma alma, cada uma mantendo “consciência” de si mesma como uma entidade separada. Tudo isso é só fantasia, é uma ficção!
Sua Natureza Real é Brahman, essa Pura Experiência ou esse Puro Conhecimento, como começamos falando. Essa qualidade nova de conhecimento, de experiência, é algo que transcende todas as definições, todas as palavras, todos os conceitos, todas as imagens e pensamentos. É “algo” que se revela em seu Estado Natural, que é Meditação, quando a mente não se move mais em seu mundo de imaginações, pensamentos, crenças, ideias. Nossa Identidade Real, nosso Ser Real, não é algo que está preso nessa dimensão de imagens, de imaginações; é algo que pode ser realizado a partir de uma profunda autoinvestigação acerca da natureza ilusória do corpo, da mente e do mundo. Daí a importância da autoinvestigação.
Tudo precisa ser deixado, absolutamente tudo! Se você segurar alguma coisa, isso ainda vai lhe dar um significado nessa dimensão imaginária – o significado dessa falsa identidade. Qualquer coisa que você segure vai mantê-lo nessa ilusória identidade. Tudo que a mente mais deseja é manter-se nessa continuidade, e isso ela faz segurando-se em alguma coisa. Então, todos os apegos, ligações, desejos, tudo precisa desaparecer!
Quando, dentro de você, algo está queimando por Isso e você é capaz de ir até as últimas consequências dessa autoinvestigação, torna-se possível o final da história desse personagem aí, o qual parece que nasceu, que tem um nome, uma história, um passado, que está tendo um presente e terá um futuro. É quando você se encontra diante da perfeita Ignorância.
Alguns, quando vem à Satsang, dizem que não sabem, mas, logo, revelam-se como alguém que quer saber. Essa não é a perfeita Ignorância. Eu estou falando da Ignorância que está além da ignorância e do conhecimento. Então, quando você está nessa perfeita Ignorância, você está na qualidade desse Conhecimento ou dessa Experiência de que falei logo no princípio. Eu chamei de perfeita Ignorância porque é uma Ignorância completa.
Em geral, a ignorância está “insatisfeita”, ela quer deixar de ser ignorante, quer saber algo – essa não é a Ignorância perfeita. Eu falo de uma Ignorância completa, que é aquela que não se preocupa com a ignorância nem com o conhecimento, é um simples “não saber”. É dessa qualidade de Conhecimento e Experiência que estamos falando. Quando Isso está presente, a Realidade dessa Libertação está presente, você está em seu Ser, em sua Natureza Primordial. Essa Natureza Primordial é Brahman, é Deus, Pura Consciência, Pura e Suprema Realidade. Na Índia, eles chamam de Sat-Chit-Ananda, Ser-Consciência-Felicidade.
Isso é algo que está presente como sua Natureza Verdadeira, não tem nada a ver com o corpo e o estado em que ele se encontra neste momento. Esse corpo, talvez, tenha vinte, trinta e cinco, cinquenta, setenta e cinco, noventa anos; talvez, já tenha problemas de sangue, de rins, de ossos, ou qualquer outro. Isso, também, não tem nada a ver com esse aparato intelectual ou toda essa memória guardada em alguma parte da massa cinzenta do cérebro. Todo conhecimento adquirido, que hoje pode ser lembrado ou esquecido em razão do estado desse mecanismo, desse corpo-mente, não é você. Você é Sat-Chit-Ananda, você é Brahman, a Suprema Realidade, essa qualidade de Conhecimento e de Experiência.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 15 de Outubro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

sábado, 10 de novembro de 2018

A meditação como um analgésico

Alguns perguntam do que tratamos em Satsang... Nós tratamos Daquilo que é essencial, da única “Coisa” para a qual você nasceu. Você está aqui para conhecer sua Real Identidade e, se você está aberto a isso, esse descobrimento adquire uma grande importância.
Você tem lidado com a vida a partir de uma posição estreita e muito, muito limitada, porque sua visão de “si mesmo” é somente uma imagem, uma crença, uma imaginação, uma ideia. Dessa mesma forma, você vê o mundo, pois todo seu contato com o ambiente externo, com acontecimentos, eventos, situações, está dentro desse ponto de vista estreito e limitado, ou seja, dessa falsa percepção que você tem de si mesmo.
Então, tudo que você tem é uma crença de como o mundo é, que é baseada naquilo que você acredita ser. Falta-lhe a verdadeira Meditação. Não a meditação como uma prática, que a grande maioria conhece, mas a Meditação como a manifestação da Verdade sobre Si mesmo, que é o Silêncio dessa Presença, dessa Verdade, que nós chamamos de Consciência. Essa é a Real Meditação! A mente, na produção dessa autoimagem, é muito habilidosa em se colocar contra o misterioso movimento da Existência. Todo o seu treinamento é nessa direção; tudo que você tem feito e vem fazendo, ao longo de todos esses anos, é exatamente isso. Você não sabe a Verdade sobre si mesmo, nem conhece a Realidade da Vida.
Para você, a vida é conflito, luta, problemas. A primeira coisa é que todo esse desespero e sofrimento, que, na realidade, é somente algo que a mente tem construído, não retrata a Existência, a Vida, mas apenas aquilo que você chama de “vida”. Estamos apresentando, nestes encontros, o velho problema que a mente tem, em sua imaginação. Assim, sua vida é uma completa resistência, uma completa distorção da Realidade presente. Quem tem feito tudo isso? Essa mente egoica, essa “pessoa” que você acredita ser. Ela mantém esse jogo de resistência, toda essa luta, todo esse desespero e conflito.
Você se torna consciente de que isso está aí quando o processo de desidentificação dessa imaginação começa a acontecer. Isso se dá quando todo esse jogo de padrões de comportamento, com todo o peso de antigas lembranças, memórias, conceitos, ideologias, crenças, medos e desejos, baseado nessa confusão da imaginação, é rompido, quebrado. Esse rompimento é algo que acontece através dessa autoinvestigação e, então, o sentido ilusório desse “eu” presente perde completamente o seu aparente poder, que é convincente e hipnótico.
A autoinvestigação abre espaço para a Real Meditação, que é a revelação de sua Real Natureza Divina, sua Real Identidade. Então, essa primeira coisa é a única que importa. Quando você pode olhar diretamente para esse sentido de “pessoa”, essa valorização da autoimagem, essa autoimportância, que se baseia em memórias, crenças, conceitos, e não mais se confundir com tudo isso, a Meditação naturalmente começa a tomar o espaço que é Dela. Isso acontece no seu dia a dia e não através de práticas de meditação em momentos específicos. Acontece com você caminhando, falando, comendo, dirigindo o carro, está presente no seu trabalho, em todo lugar, em toda parte. Dessa forma, você está tirando todo o aparente poder que essa falsa identidade, o ego, tem.
Compreenda o que estou colocando aqui para você. As pessoas entram em determinadas práticas espirituais, indicando certas técnicas para aquietar a mente, o que elas chamam de meditação, no entanto, isso é algo que funciona apenas como um comprimido analgésico quando você tem alguma dor. Ou seja, quando tem alguma dor, você toma um analgésico e temporariamente a dor desaparece, mas é necessário encontrar a causa dela, como uma inflamação, uma infecção, alguma coisa mais grave que provoca essa dor. Assim, um analgésico vai apenas, temporariamente, criar uma ilusão de que está tudo bem, mas a dor vai voltar. Então, todas as práticas que você conhece, todas as técnicas de meditação que você aplica, funcionam exatamente assim. Por isso, o mal ainda não foi extirpado, a causa da dor, em si, não foi eliminada. A Real Meditação (uso essa expressão, exatamente, para diferenciá-La dessas técnicas que você conhece por meditação) não tem este propósito .
"Na realidade, você tem se afastado de sua Real Natureza. Você está constantemente se confundindo com a mente egoica, com essa imaginação de ser 'alguém' na experiência do dia a dia. Assim sendo, é nesse dia a dia que isso tem que ser compreendido."
Na realidade, você tem se afastado de sua Real Natureza. Você está constantemente se confundindo com a mente egoica, com essa imaginação de ser “alguém” na experiência do dia a dia. Assim sendo, é nesse dia a dia que isso tem que ser compreendido. Essa é a forma de extirpar, de radicalmente acontecer essa cura. Você aprende a observar de forma desidentificada toda a experiência acontecendo neste instante, neste presente momento. Isso não é o uso de um analgésico. Essa observação, essa investigação, é a base da Meditação Real. É necessária uma Presença capaz de criar uma facilitação, para que esse processo aconteça. Essa é a Presença da Graça; não é uma questão de esforço pessoal.
A Verdade é sua Natureza Divina, sua Real Identidade. Enquanto você permanece se confundindo com a mente — que nada mais é do que esse conjunto de memórias, lembranças, crenças, imagens, que o pensamento produz — e isso não é verdadeiramente quebrado, não há Real Meditação. Por isso que Autorrealização, Iluminação, como se queira chamar Isso, é algo que soa muito simples na teoria. Você lê um pouco ou escuta algo sobre Isso, aprende e, depois, já está “sabendo” o que é meditação, o que é iluminação. No entanto, isso não resolve nada, é somente mais um conjunto de ideias, de crenças. Aqui, estamos interessados na vivência dessa Realização, desse Estado Natural, que alguns chamam de Iluminação. Por isso essa Graça é fundamental.
Assim, é essencial estar em Satsang, diante Daquele que está livre dessas restrições, limitações, imaginações, desse estado ignorante acerca do seu próprio Ser. Minha recomendação é: coloque-se diante do Sábio. O verdadeiro Sábio é aquele que não carrega mais a ilusão do sentido de separação e não aquele que estudou, aprendeu e praticou, ou ainda vive dentro de uma prática. O Sábio é aquele que descobriu que esse Silêncio não é algo que possa ser encontrado, porque, de fato, não é algo que está perdido. Essa Presença, Felicidade, Liberdade, não é algo assim. Para Ele, não há mais essa ilusão, porque Isso é uma realidade, um fato, não uma teoria, uma crença. Na Índia, chamam de shakti essa energia de Presença que você tem diante do verdadeiro Sábio, do Satguru.
O que estou lhe dizendo se baseia em minha própria vivência com o meu Guru. O Guru é aquele que lhe transmite essa Graça, essa shakti, esse poder de Presença, e, assim, essa Real Meditação se torna possível. Dessa forma, você tem a Sua Graça apontando para Algo que está completamente livre da mente. Percebam o quanto é importante essa verdadeira Compreensão não verbal que acontece no Coração. Assim, o trabalho real se torna muito claro e a Real Meditação começa a acontecer.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 08 de Outubro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Na Autoinvestigação, a Real Meditação se revela

A Realização não é algo que possa ser alcançado. Chamamos de “Realização”, mas, na verdade, é uma questão, antes de tudo, de constatação, porque não é uma conquista. Essa Realização é algo possível através de um trabalho real.
Na vida, tudo que você consegue decorre de uma conquista sua, mas, aqui, não estamos tratando de algo assim. A mente tem tentado transformar essa Constatação em um ato de conquista, em um ato de realização (no sentido comum da palavra), mas isso não é possível. As pessoas têm criado técnicas para aquietar e silenciar a mente. Hoje, “meditação” é uma palavra da moda.
A própria mente cria diversas técnicas para aquietar a mente, com o objetivo dessa “conquista” do Despertar, da Iluminação, que é a Realização de Deus. No entanto, a Real Meditação não é um trabalho para conquistar Isso; é algo que pertence ao incognoscível, ao desconhecido. Assim sendo, a própria Meditação é a chave dessa Constatação.
A Real Meditação acontece sem um objetivo. Toda técnica está sempre dentro de um objetivo, como o de silenciar a mente, então, ela perde sua agilidade, sua naturalidade, sua sutileza, permanecendo presa a um modelo, a algum tipo de objeto.
As pessoas se assentam e acreditam que existe um meditador ali. O objetivo delas, agora, é livrar-se da mente. Isso não pode ser a Natural Meditação, a Real Meditação, porque a mente perde a sua agilidade, sua sutileza natural e deixa de estar aberta, o que torna impossível a observação do seu movimento. É por isso que tenho dito que Meditação é algo que pertence ao desconhecido, algo que não está preso a um modelo para o alcance de objetivos.
Meditação é uma arte extraordinária, algo fora do ordinário, do comum, da mente e seus projetos, algo completamente diferente da ideia de um meditador buscando livrar-se dos pensamentos. Essa direta e pura observação não é a fixação em um objetivo. Quando essa energia, essa natural sutileza da observação, está presente, há uma grande agilidade natural de Presença, e isso traz essa Consciência.
Portanto, não é uma técnica, uma prática ou um exercício, nem há um objetivo — não se pretende silenciar ou aquietar a mente, porque, na verdade, não existe esse “meditador”. Quanto mais você olha, mais fica claro que não existe alguém presente como meditador. O que estou dizendo é que você, fundamentalmente, não é nada, não é real como uma entidade presente, capaz de aquietar ou silenciar a mente. A mente silenciada ou aquietada é uma ilusão semelhante à ideia de um meditador fazendo isso, porque, essencialmente, você não é nada. Acontece que você não está ciente disto, então, projeta uma energia nessa busca. É aqui que parte dessa Meditação acontece com uma clara Autoinvestigação.
Eu nunca separo Meditação de Autoinvestigação. Isso é impossível! Se há Real Meditação, a Autoinvestigação está presente, e quando há Autoinvestigação, você descobre que o meditador não existe e que toda atividade na direção do Despertar é completamente sem sentido. Isso não é um estado para se alcançar e não tem alguém que possa alcançar Isso, porque é algo incognoscível, é o Desconhecido, é o Inominável. Autoinvestigação é algo acontecendo aqui e agora, e Nela está essa Observação que se desidentifica dos pensamentos.
"Eu nunca separo Meditação de Autoinvestigação — isso é impossível. Se há Real Meditação, a Autoinvestigação está presente, e quando há Autoinvestigação, você descobre que o meditador não existe e que toda atividade, nessa direção, é completamente sem sentido."
Essa agilidade natural é Meditação, em que não existe o sujeito, o meditador, tentando se livrar dos pensamentos (que são os objetos). Não existe essa separação! O sujeito é nada, o pensamento é nada. Há apenas essa Consciência, essa Unicidade, essa não separação, essa não dualidade. Não há meditador, então, não existe nenhuma verdade para ser encontrada. A Verdade é algo presente sendo constatado; não é algo sendo encontrado por ele ou ela, por aquele que exercita uma prática.
Toda prática, aqui, é completamente sem sentido, é algo mecânico, ainda dentro do campo da ilusão, ainda é parte da autoprojeção do falso “eu”, dessa energia da busca. É exatamente isso que, nestes encontros, eu tento comunicar a você. Ninguém, aqui, encontrará a Verdade, porque, fundamentalmente, você não é nada. A Verdade está presente, mas você não está. O meditador, o buscador, não existe, portanto, esse sentido de procura e de busca é uma ilusão.
O Satguru é aquele que incorpora a qualidade do fim da busca. Por isso a presença do Satguru, de um Mestre vivo, é tão importante. O que ele faz? Como a Verdade não pode ser dada, nem transmitida, porque é a sua Verdadeira Natureza, o Satguru ajuda o buscador a parar com a busca. Como o Satguru incorpora essa qualidade, que é a Verdade que o buscador está procurando de uma forma equivocada, ele quebra, desfaz esse movimento. Só quando a busca termina, quando não há mais esse movimento da mente, quando, em razão da Presença da Graça, da Verdade, que é a qualidade do Ser existente no Mestre, o devoto, de uma forma direta, se depara com ele mesmo, com seu próprio Ser. Então, esse movimento de conquista, também termina.
A Autoinvestigação é a própria Meditação; na Autoinvestigação, a Real Meditação se revela. Então, revela-se o Incognoscível, o Desconhecido, Aquilo que está além da mente, além da ilusão do meditador, é quando termina a separação entre o discípulo e o seu Guru, entre o devoto e Deus. Quando há a rendição e a entrega dessa ilusão, Aquilo que está presente é constatado como a única Realidade, a única Verdade.
Portanto, compreendam que Realização de Deus não é uma conquista, mas uma rendição à Verdade presente… à Verdade de que, fundamentalmente, você é nada!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 24 de Outubro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

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