sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Você não tem nenhuma necessidade

Você vem a Satsang para me ouvir, mas não está interessado nisso. Por quê? Porque Isso representa seu fim, o fim do desejo de colocar ordem nas coisas, de que as coisas aconteçam do jeito que você quer.
Não estou falando dessa coisa de “colocar a geladeira no seu quarto” - isso é simples. Estou falando que você quer mudar o mundo. É uma completa estupidez, um comportamento maluco da mente, um comportamento doentio do ego, imaginar um futuro para si. Não tem esse “si”. Como você está imaginando o futuro para alguém aí? Loucura! Como você pode desejar mais do que a vida lhe apresenta aqui e agora? Isso é insanidade!
Não existe nada fora deste momento; não existe nada que a vida possa oferecer que ela já não esteja lhe dando. Você está pedindo algo e não percebe que isso significa tempo. “Pedir” está dentro do tempo, dentro da escolha, do desejo, e isso é sofrimento, é insanidade, é loucura, é criar a ilusão de uma necessidade que não é real. Eu já comentei isso em outras falas: você não tem nenhuma necessidade!
Talvez você diga: “Eu tenho necessidade de comida!”, mas não é você que tem, é o estômago. A comida é para o estômago, o estômago é para a comida. O que tem o estômago e a comida a ver com você? Se ficar muito tempo sem ir ao banheiro para urinar, você vai sentir dor na bexiga, então, alguns órgãos (como os rins) começarão a ficar desconfortáveis. O corpo vai brigar para expelir aquilo, começará a ficar perigoso para ele manter por muito tempo aquele líquido na bexiga. Então, haverá uma dor que lhe obrigará a urinar, mas isso ainda não é o problema, porque não é uma necessidade sua, é um problema do corpo.
Estou falando da sua necessidade. Que necessidade você tem? Só aquela que o pensamento cria, e isso é desordem, confusão, sofrimento, infelicidade. Você compreende isso? Aqui e agora, que necessidade você tem?
A necessidade de urinar é a necessidade do corpo de se aliviar, assim como a necessidade de comer é a necessidade do corpo de se sentir saciado, mas ainda nada disso é problema seu. O seu problema é desse “eu”, é o que “ele” deseja. O que esse “eu” deseja? “Que os filhos mudem!” Mas, que filhos? O que isso tem a ver com você, realmente? Nada! Tudo porque, sem os filhos, você não é ninguém, não é mãe, é um “zero”, é um “nada”. Então, eles são importantes para você ser alguém.
Veja o quanto esse “eu” está aí só para criar confusão, pedindo coisas! Você faz isso o tempo todo! É como uma criança que quer brincar na linha do trem e pede ao pai: “Pai, posso brincar aqui?”. Ela não tem ideia da gravidade do problema de brincar na linha do trem. Sabe-se lá a que hora esse trem vem! E ela não sabe nem o que é um trem passando por cima dela. Mas, ela quer brincar nos trilhos! Assim, você faz orações a Deus, querendo coisas.
Então, quando você vem a Satsang, vem para dar um tempo a si mesmo, para olhar esse “si mesmo” e ver o quanto “ele” tem falsas necessidades, o quanto é exigente, mentiroso, chantagista, manipulador, ambicioso, invejoso, explorador, competitivo. O ego adora fazer comparações: “Ela tem, por que eu não tenho?”, “O mundo inteiro tem e eu não tenho. Meu Deus, dê-me isso!”. É o mesmo que dizer: “Eu quero brincar aqui, pai! Deixe-me aqui, estes ferros são tão bonitos! São dois, um ao lado do outro e está cheio de pedrinhas entre eles!” Então, o pai alerta: “É o trilho do trem, criança!”, mas ela insiste: “Não! Eu quero isso! Isso é ótimo!”.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em fevereiro de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-Satsang.

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