sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Sua Natureza Real é Meditação

A Real Meditação é algo que está no seu viver, no seu dia a dia. Você deve “limpar o terreno” para a Real Meditação, que é deixar de se identificar com o experimentador, em qualquer experiência que ele tenha. Ou seja, o experimentador está lá, você o enxerga e o solta, e, quando faz isso, você “limpa o terreno” para a Meditação. Quando limpa o terreno, “você” não está presente, e isso é Meditação. “Limpar o terreno” é soltar a egoidentidade e, quando isso acontece, não tem o “meditador” – a Meditação está presente.
Meditação não tem nada a ver com a postura do corpo, mas sim com a postura interna da mente. A postura de desidentificação com a mente egoica não tem nada a ver com a postura física, mas sim com a postura interna da mente diante dessas reações que surgem. A meditação está no falar, no ouvir, no ver, no sentir, no pensar, sem “alguém” lá. O pensamento é o pensar sem “alguém”, somente um pensamento; o ver é o olhar sem “alguém”; o ouvir é o escutar sem “alguém”; o falar é a fala sem “alguém”. Isso funciona! Prática nenhuma funciona, porque toda prática se torna mecânica.
A “mente” egoica captura aquilo e o transforma em algo dela e, quando ela faz isso, aquilo passa a ser algo de sua estrutura. Então, o que acontece constantemente é você se tornar um expert em meditação, por não haver a investigação da natureza real da Meditação, até porque isso nos é passado por meditadores e não por Sábios realizados.
Portanto, isso não funciona fora da Meditação e você passa a maior parte do tempo fora dela. Você passa a maior parte do tempo tendo que levar seu filho ao médico, encarar a situação de um acidente com um ente querido, lidar com um cliente para fechar um negócio, ou seja, fica a maior parte do tempo trabalhando ou fazendo outra coisa, inclusive lidando com o mundo externo.
Você tem que trazer Meditação para esse momento e, assim, ele se torna pura Meditação, o Estado de Meditação. A Meditação está agora, aqui, falando, rindo... Enfim... Meditação é permanecer fora da mente, fora da consciência egoica, da egoidentidade.
Quem convive comigo já me pegou fora de Meditação? Quando é que eu estou fora da Meditação? Meditação não se trata de uma prática, mas sim do seu Estado Natural. Meditação é Iluminação – isso é clássico no Zen. No Zen, você não medita para iluminar; Meditação é Iluminação; não há separação entre Meditação e Iluminação.
Um discípulo fala para o Mestre Zen: “Mestre, eu estou meditando e ainda não tenho paz”. O Mestre lhe diz: “Continue”!
Algum tempo depois ele retorna e fala: “Mestre, eu estou meditando e já encontrei a paz... Agora eu estou na paz”. O Mestre diz para ele: “Então, continue, porque isso vai passar”!
Para que serve alguma coisa que só funciona quando você está afastado do seu viver? Você está trabalhando, caminhando, conversando com pessoas, fazendo qualquer atividade e a coisa não está lá? Se você precisa ter um momento reservado para poder viver essa coisa, isso serve para quê? Pergunto novamente: Quando é que eu estou fora da Meditação? Quando há Meditação, não há “você”. A Meditação é estar desidentificado, sem uma identidade nisso que está aqui presente... Então, o seu olhar é Meditação!
Por que a sua mente silencia aqui? Pare agora a sua mente! [silêncio] Não teve nenhum esforço da sua parte. Onde está o pensamento? Não tem. Por que isso acontece aqui? Em razão do Estado de Presença ser tão forte, tão real, que a própria “psicosfera” (palavra apresentada a mim, nesses dias, por um de vocês) muda quando eu olho para você. Você olha para mim porque esse Estado Natural, aqui, está sendo expresso em palavras, no olhar, em gestos, no Silêncio. O Estado Natural é Meditação, é Consciência.
Isso é como a presença do fogo. Quando você apaga o incêndio, você não acaba com o fogo. Você cria uma situação para o comburente (aquele elemento que incendeia) não mais se manter aceso. Então, a impressão que você tem é de que o fogo foi embora... Mas tudo é fogo! Só que o comburente não incendeia mais. Você jogou água, então o comburente não tem agora a mesma facilidade... Ou você joga uma química sobre o comburente e diz: "Abafei o fogo"... Não! O fogo está sempre presente! Tudo é caloria, tudo tem calor! O fogo desapareceu, então você diz: “Acabou o incêndio”. Sim, acabou o incêndio, mas não acabou o fogo. Se você facilitar, havendo ainda algum comburente ali, ele pode pegar fogo.
Enquanto houver alguma facilidade para um comburente incendiar, o risco de fogo surgir é muito grande, porque, na verdade, o fogo ainda está por lá; tem que trabalhar com cautela, porque, se vacilar, ele vem de novo. O fogo é assim... Ele está aqui, e o que cai nele vira fogo! Caiu no fogo, vira fogo, a não ser que você pegue o objeto incendiário, que é o comburente, e dificulte para ele, acabando com o oxigênio ou com outra condição que o faça incendiar. Então, na verdade, você não está extinguindo o fogo, mas a possibilidade do fogo se manter no comburente; você vai em cima do comburente, não do fogo, pois o fogo não dá para apagar!
O “comburente” é esse aqui, que está aceso... Isso aqui é o comburente! Então, você dificulta a vida do fogo, nesse objeto, e o fogo desaparece. Entretanto, o fogo, em si, não acaba! Fogo é fogo! Fogo queima tudo... e está aqui! Agora, o fogo precisa de um comburente, não é? Tem que queimar isso, depois queimar aquilo e aquilo outro... Não é assim? Não é o comburente que mantém o fogo vivo? Mas, quando você diz que “o fogo morreu”, não morreu, não! Cuidado, porque não morreu, e, se vacilar, o comburente incendeia de novo!
A Consciência é como o fogo – não apaga nunca! A Consciência, que é esse Fogo, precisa de uma condição para se alastrar e se manter. A condição para essa Consciência, para esse Fogo da Presença, se manter é a ausência do ego, da egoidentidade... Colocou o ego, acabou o Fogo! Pensou, “viajou”, imaginou... Acabou!
Você pergunta: “Mestre, por que na sua Presença a mente silencia?". Porque o Fogo é tão forte, tão forte, que o “comburente” aí incendeia. Ainda: “Mestre, por que longe da sua Presença não tem Consciência? Por que longe da sua presença não tem Fogo?". Porque esse comburente está misturado com água, com produtos químicos, e não tem como pegar fogo (Risos). Tem fogo lá? Tem, mas há um montão de dificuldades e não tem como ter fogo. Não é bem assim? É bem assim... Tire a dificuldade, limpe o terreno, que, então, o fogo se alastrará. Fique diante de um Buda, de um Mestre vivo, que ali o Fogo é tão forte que se cria uma condição para esse “comburente” não ter nenhuma dificuldade para incendiar.
Participante: Há poucas pessoas no mundo todo que conseguiram deixar o ego, não é? São poucas as pessoas iluminadas no mundo, não é?
Mestre Gualberto: Não tem ninguém iluminado! “Pessoa” não ilumina! Então, não tem “pessoa iluminada”! Primeiro, não tem nem “pessoa”, muito menos “pessoa iluminada”. Quanto a esse Estado de Realização, Iluminação, se a sua pergunta é se existem muitos ou poucos assim, não sei lhe dizer.
Participante: Então, largar esse ego é o trabalho de uma vida?
Mestre Gualberto: É! De uma vida! Feliz aquele que dedicar a sua vida a esse trabalho, que é o trabalho de uma vida. Feliz aquele que tiver essa bênção de dedicar a sua vida inteira a esse exercício de olhar e olhar... É o maior empreendimento, a maior e mais linda coisa! A única coisa que realmente importa é descobrir o Sábio que está aí, a Verdade sobre si mesmo; descobrir esse Estado fora do que se conhece, fora da mente, que é Bem-Aventurança, Amor, Verdade, Sabedoria, Liberdade. Isso é a única coisa que importa! Quantos estão vivendo esse Estado? Isso é irrelevante.
Hoje em dia há muitos se apresentando como conhecedores Disso. E conhecem mesmo o aspecto teórico, verbal, têm bons cérebros, leram bastante, ouviram muitas palestras, estudaram bastante sobre Iluminação, como, por exemplo, um menino que escreveu para mim dizendo ter assistido 400 vídeos do Mooji e me perguntou o que estava faltando.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online. Para mais informações sobre nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Você está sozinho nisso

É necessário descobrir toda essa confusão em que a mente tem nos colocado e soltá-la. Isso é a realização da Felicidade, da Paz, da Sabedoria, do Amor, da Liberdade, o que está quando “você” e tudo que é externo a você não está. Você internaliza tudo isso e, então, tem problemas; não há como não ter! Você é o problema, o medo, o desejo, o controle, a escolha, o passado, o futuro... Você é o sentido de “pessoa”.
Quando não tem “pessoa”, quando não há mais o peso do sentido de “pessoa”, você está em seu Estado Natural, Verdadeiro, Real. Chamam Isso de Realização de Deus, de estar em Deus. É o fim da tristeza, da tristeza de ser e se sentir “alguém”, de ter um mundo à sua volta.
A pessoa do lado de fora é como a pessoa do lado de dentro. Portanto, se a pessoa do lado de dentro é tão confusa, inquieta, incerta e insegura, você não pode esperar que as que estão do lado de fora sejam diferentes. Você está sozinho nisso! Todos estão! Isso é como nascer, pois, quando você nasce, nasce sozinho... mesmo que tenha um irmãozinho saindo da mesma placenta, você nasce sozinho. Então, sozinho você nasce e sozinho você se reconhece além do nascimento e morte; sozinho você descobre que Você é Deus, sua Natureza Real, Verdadeira. Deus é o seu Ser, é a sua Realidade e Ele está sozinho, sempre sozinho! O pensamento de multiplicidade é somente mais um pensamento, mais uma crença entre outras.
Chegar aqui é chegar no final da jornada, da sua caminhada. Realizar Deus é isso! Realizar a Verdade sobre si mesmo é isso! Isso é o fim da solidão! Estar só é o fim da solidão! Você pode ir além da solidão somente quando descobre a beleza e a importância de estar só. Você não pode esperar das coisas e pessoas à sua volta o que elas não têm para dar. Elas não têm para dar aquilo que você É... Elas não têm para dar a Felicidade, a Liberdade e a Paz que você já traz em si mesmo. Isso não são qualidades acrescentadas a você; é uma descoberta de sua natureza Essencial. Mas, para isso, você tem que estar só, que é ser, puro Ser; é ser o que você nasceu para ser! Você julga que nasceu para ser “alguém”, mas não é verdade. Você não nasceu para ser “alguém”, ou para ter coisas, ou ter alguém. Você nasceu para Ser − ser o que você nasceu para ser.
Porém, o ego não quer e não conhece isso. A mente é o resultado do coletivo; o ego é social, ama a coletividade, a companhia. Deus ama estar só... É um só que inclui o universo inteiro, mas não inclui nenhum sentido de dualidade, de separação, de multiplicidade. As pessoas têm dificuldade em compreender algo tão simples assim. A Verdade é uma coisa simples, a Sabedoria é de uma grande simplicidade e ter Paz não é complicado. Toda exigência é da mente. Você passa o seu dia exigindo, escolhendo e decidindo, no controle, e, assim, não pode ter paz, porque você pensa muito, você quer resolver.
A vida se derrama de uma forma completa e pronta diante do seu olhar, mas você fecha os olhos, não quer ver. Você não quer aquilo que se apresenta, quer aquilo que você deseja. Então, você se torna um ser muito complexo e a Paz, que é simples e natural, “fica com vergonha” de você e se esconde. A Felicidade está em Ser, que é ficar com o que é, e isso implica não escolher, não decidir, não resolver, não desejar. Quando você faz isso (deseja, escolhe, decide), a Felicidade “fica com vergonha” de você e, por você se mostrar muito grande, muito importante, Ela se “esconde”. A Felicidade faz como a Paz, ela se “esconde”... a Paz se “esconde” de toda essa opulência, essa dominância, arrogância. A Paz se “esconde” e a Felicidade também.
Diante de muito desejo, muita escolha, decisão, de muito conhecimento sobre como a vida deve ser, como gerenciar e controlar tudo, a Felicidade e a Paz “se escondem”. Você quer decidir o que e a quem amar, fica escolhendo, então o Amor fica envergonhado, porque tem “você” nessa coisa chamada “amar”. Você não quer amar no Amor, quer amar em si mesmo, do seu jeito, do seu modo, com as suas decisões e escolhas. O que o Amor faz? Ele fica “envergonhado” e também se “esconde”.
Assim, você fica no seu amor, que é esse amor conflituoso, pegajoso, possessivo, dominador, medroso, assustado... Esse amor infeliz, do controle, da posse; não é o real Amor! No real Amor não tem você escolhendo o que amar, decidindo a quem amar. Porém, ninguém quer ouvir isso, pois parece que é muito complicado para a cabeça das pessoas. Por que será que é complicado para a cabeça delas? Enquanto houver cabeça, vai haver complicação mesmo! A Vida tem o movimento dela, assim como a mente tem o seu movimento, e isso nunca se encontra. Elas são como duas linhas paralelas, que jamais se encontram. Da mesma forma ocorre com a Inteligência e o pensamento.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 01 de Julho de 2017 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

domingo, 17 de dezembro de 2017

Um Buda, nesse mundo, é um milagre...

Somente estando em Satsang, diante de um Buda, você vê o quanto esteve longe de “casa”. Isso é assim com todos! Você precisa se dar tempo em Satsang para se aproximar, de longe, do significado da palavra Felicidade, o significado que um Buda dá à palavra Felicidade, porque, para você, felicidade é somente o alívio de um sofrimento superficial e específico que você está tendo no momento. Assim, se você não se der tempo em Satsang, para investigar isso, você não tem a menor chance de sair de maya, de ir além de samsara.
Vocês estão acompanhando o que eu quero dizer?
O estado de inconsciência é muito grande e o estado de “amor” a essa mentira é muito forte. Isso faz com que o ego se contente apenas com essa superficial alegria das distrações mundanas, até porque isso dá um alívio imediato a esse sofrimento específico e superficial em que a mente egoica se encontra. Mas, o que essa mente egoica traz no fundo, oculto por detrás desse sofrimento superficial, é muito maior... Esse sofrimento é muito maior. Então, é totalmente inconsciente, mas bastante proposital da parte da “mente” egoica, em sua ilusão, buscar o sofrimento e isso é devido ao seu estado miserável e ilusório de ser, algo que vive se passando por você.
Se vocês têm a oportunidade de estar aqui, como estão tendo agora, e simplesmente viram as costas para ISSO, estão prolongando a miséria, estão perdendo ISSO. Não façam tal coisa; não se mantenham “senhores de si mesmos”! Vocês estão completamente perdidos dentro dessa ilusão.
Qual é a pergunta?
Participante: Eu estava me perguntando se seria legítimo a gente querer estar diante do Senhor para aliviar o sofrimento, ou se é mais uma falcatrua do ego e da mente...
Mestre: Vocês não podem fazer outra coisa no momento. Qualquer movimento que vocês façam, ainda sem essa Consciência plena, nessa inconsciência que vocês trazem nesse estado egoico, ainda não é a coisa correta a ser feita.
Você não deve vir a mim para sentir alívio do sofrimento, mas sim para investigar a natureza ilusória do sofrimento. Mas é claro que, ao chegar aqui, você percebe que o seu sofrimento é aliviado. É melhor estar aqui com o sofrimento aliviado, mesmo que temporário, investigando a natureza real da ilusão do sofrimento, do que tomando um copo de pinga, enchendo a cara de whisky, de drogas ou em uma noitada de orgias.
Aqui, você tem um momento de Presença, de Graça, onde se sente aliviado temporariamente desse fardo, desse peso do sofrimento, mas, junto a isso, você está tendo a oportunidade de investigar a natureza ilusória do sofrimento. Então, isso aqui não representa mais uma fuga da sua dor, mas sim uma porta que se abre para lhe mostrar que a dor é uma ilusão.
Agora, você precisa se permitir aprofundar isso aqui comigo, porque de outra forma pode levar muito tempo até você ficar em pé com as próprias pernas. Se eu, como um médico, lhe prescrevo uma “medicação”, você deve tomar... Não deve questionar nada. Você não tem autoridade nenhuma para questionar meus “conhecimentos médicos”, se existe uma “medicação” melhor, outra forma de tratamento mais eficaz... Você pode até fazer isso, mas estará perdendo tempo.
Isso é como entrar num avião, chegar na cabine do piloto e dizer: “Posso falar com o senhor? O senhor bebeu hoje”? Você precisa confiar na companhia aérea e no seu piloto. Aqui, você precisa confiar no seu “médico”, precisa confiar no seu Guru. Se você não confia no seu médico, a doença pode evoluir para algo muito mais grave. Se você não confia no seu piloto, você vai, com certeza, perder o voo, e chegar atrasado para o seu compromisso no seu destino. Se você não confia no seu Guru, vai continuar sofrendo miseravelmente.
Minhas palavras são sábias, meu Coração é nobre e a atmosfera à minha volta é de Liberdade e de Felicidade. Você acolhe ou perde ISSO! Desde o primeiro dia que me encontra, você está diante de um milagre. Sábios são aqueles que não ficaram distantes dos meus olhos desde o dia que eu os encontrei. Bem-aventurados são aqueles que aceitaram, desde esse dia, desde o dia do milagre, essa aproximação que hoje eu tenho com eles.
Todas as vezes que você estiver comigo, esqueça tudo o mais. É a hora da confiança... é hora de aceitar piamente, cegamente, essas palavras. Você não tem a mínima condição de saber se o piloto bebeu ou não; tudo o que a sua dúvida pode produzir é perder o voo. Tudo o que a sua dúvida pode fazer por você é agravar o seu quadro clínico, porque você não tomou a medicação. Tudo o que a sua dúvida pode fazer nesse contato com Deus – que veio a você em um dia de milagre – é você não receber essa Benção. Essa expressão “aquilo que é impossível”, “aquilo que somente é possível para Deus em sua vida” é o que nós chamamos de milagre. Um Buda, nesse mundo, é um milagre... É o seu milagre!
Vocês acham que eu passo muitas horas estudando para trazer essas falas para vocês? Acham mesmo? Vocês acham que isso é conhecimento de segunda mão? É de conhecimento que eu estou tratando? Do que eu estou tratando aqui?
Participante: Para mim chega que é a Verdade, que não tenho mais para onde ir.
Mestre: Sim, eu sou a Verdade! Ela é Fresca, Nova, Espontânea e Natural e você é igualzinho a mim... O mesmo Frescor, a mesma Novidade, a mesma Liberdade, a mesma Inteligência, a mesma Sabedoria, a mesma “coisa”, mas tem que ficar quieto, aqui. Você precisa se dar Isso! Dar a si mesmo a Liberdade... Dar a si mesmo a Sabedoria... Dar a si mesmo a Felicidade, a Paz, a Sanidade. Você não precisa ir mais para lugar nenhum.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em Outubro de 2017. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

A Presença da Graça

O fato é o seguinte: você pode ler e ouvir muitas falas sobre Isso, mas não vai resolver. O que é definitivo, nesse trabalho, é a Presença da Graça. Não é você quem faz, não é o seu esforço, sua inteligência (que é a capacidade de compreender isso de forma lógica). O que faz Isso acontecer é Deus, o Guru, a Presença, o Ser.
Como dizia Ramana: “O Guru externo dá um empurrão e o interno puxa!”. Então, o Guru externo empurra, o Guru interno puxa e você se assenta em seu Estado Natural. É uma ação da Graça, da Presença do Guru. Somente Deus revela Deus; Somente Deus vê Deus; Somente Deus entrega Deus e é por isso que o Guru é necessário.
A fala Neo Advaita diz que não há Guru, não há ensino, não há trabalho — eles estão certos —, mas isso quando este Estado Natural já está aí. Antes disso, há muitas Vasanas, tendências latentes da mente para manter o programa de sofrimento, de mentira, de ilusão. O “eu” é essa contração: “Estou aqui! Não gosto disso! Não gosto daquilo! Estou dentro do corpo! Que dia horrível de sol! Que dia horrível de chuva! ‘Fulano’ nem falou comigo hoje. Afinal, quem ele pensa que é”! É essa contração: “Estou aqui, admirando uns e desprezando outros… Então: "Eu estou aqui! Está tudo ruim”, ou: “Está tudo tão maravilhoso! Eu quero mais”! Estou exagerando? É assim ou não é?
Não dá para dar conta disso sozinho — somente se for na teoria, porque, na prática, não. Esse trabalho é uma ação da Graça, então, você precisa abrir o seu coração e orar a Deus. Já que você se sente uma “pessoa”, essa pessoa tem que “pedir penico” — se render. Aí, quando você se volta para o Guru, que é a própria Presença do Guru interno do lado de fora, a Compaixão flui.
Participante I: Acho que isso é o mais incrível nesse trabalho. A gente só constata que algumas coisas não estão mais ali. Só de se manter na sua Presença, de estar nesse trabalho com o Senhor, de repente, a gente constata que não tem mais aquele apego que tinha antes.
Mestre Gualberto: Aquilo cai! Cai de uma forma tal que, a princípio, você estranha. Aquela sentimentalidade não está mais ali, aquele “amor” não está mais ali, aquela “dependência” não está mais ali. Ai você diz: “Que coisa boa! Que maravilha! A Graça...”.
Participante I: Uma libertação!
Mestre Gualberto: Uma libertação já!
Então, quando vocês vêm a Satsang, vocês não vêm aprender com “alguém” que está fora do ego. Vocês entram em comunhão com a Verdade e têm a oportunidade de se render. Aqui, rendição significa desistir de si mesmo, abandonar o orgulho, a arrogância. Essa é a real vaidade: a vaidade de ser “alguém”, de ser uma ilha no oceano, onde o “eu” é o centro e “tudo deve girar em torno de mim”. Vaidade, arrogância... Você pode dar qualquer nome para isso.
Participante II: Mestre, qual é a diferença entre essa vaidade, arrogância e um ego divinamente egoísta, o divino egoísmo?
Mestre Gualberto: Se você não se importa com as pessoas, porque elas amam ser quem elas são, e você decidiu não mais entrar nesse jogo, isso é o divino egoísmo. O divinamente egoísta é ser Deus e Deus não se importa com “pessoas”; Deus afoga pessoas no lago, mata todas elas. Deus destrói a ilusão da pessoa — isso é o divino egoísmo. Eu tenho me sentido assim nos últimos anos. Quando você vem a mim “pedindo penico”, eu me volto para você. Mas, se você quer continuar no seu ego, é com você mesmo. Então, eu vou viver minha vida e deixar você viver a sua miséria. Isso é ser divinamente egoísta!
Se você quer realizar Deus, tem que ir por esse caminho: deixe todo mundo ser miserável, cada um em sua miséria... Viva em êxtase, livre da mentira! Não se associe a pessoas — escute isso, é muito sério! Não se associe a pessoas, sobretudo, quando elas estiverem “atacadas”, em uma crise forte de egoidentidade; deixa-as sozinhas, cada uma com seu inferno particular. Não peça brasas emprestadas! Não vá buscar brasas lá!
*Transcrito a partir de uma fala em um retiro na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em Outubro de 2017 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Quando há verdade, não há ilusão!

Você, como pessoa, está sobrecarregado de conceitos sobre a vida, de como a vida deveria ser ou como ela poderia ser para você. Isso é conflito! Isso é sofrimento! Nessa Liberação, não há o sentido de pessoa e, naturalmente, não há conflito, porque a vida é maior que o sentido de alguém. Não tem alguém! Chame isso de Amor, Liberdade, Paz, Alegria, Felicidade, mas é Você... Você em seu Estado Natural! Você como nasceu para Ser: sem passado, sem futuro, sem nome, sem história.
Não é inteligente ser uma pessoa, não há Inteligência... Quando não há Inteligência, não há Verdade e, se não há Verdade, a ilusão se instala falseando tudo. A Inteligência é Sabedoria, e Sabedoria é Verdade. Quando há Verdade, não há ilusão! Sem ilusão, não existe dois, só há um, só tem essa coisa sem nome, que não é pessoal. Não tem nome, não tem forma, não tem cor, não tem corpo, não tem idade, não tem referência...
Dá para acompanhar isso?
Participante: Dá! Só que, na prática, é difícil conseguir fazer isso não sendo uma pessoa...
Você não pode! Isso não é para você! Isso é quando “você” não está. Vocês não estão em Satsang para descobrir o que fazer. O “fazer” é muito artificial, o “fazer” é uma coisa aprendida. Tudo que você faz, você aprendeu. Você está sentado aí porque você aprendeu a sentar desse jeito. Aprendeu a beber, a falar, a gesticular; aprendeu as posturas físicas que você tem... são todas aprendidas no tempo! Isso é artificial, não é natural! Isso é parte de uma história específica de um mecanismo, de um organismo, ao qual deram um nome quando nasceu.
Você aprendeu a expressar sentimentos, emoções; você aprendeu a pensar – você até acredita que pensa, porque aprendeu a pensar. Você acredita que fala, porque aprendeu a falar. São fenômenos ligados ao aprendizado desse mecanismo, desse organismo, no tempo, e isso não é natural. Isso é artificial, isso é superficial... Isso não é você! Qualquer coisa que você faça não é você; qualquer coisa que você aprenda, não é você.
Então, você não está em Satsang para aprender algo. Vocês têm que fazer uma clara distinção entre espiritualidade e Realização de Deus. Espiritualidade se aprende! Eu não trato de espiritualidade. Eu não ensino o que você deve comer, como você deve se vestir, como você deve falar. Eu não ensino nada disso! A espiritualidade cuida disso; eu não! Eu lhe mostro como desaprender tudo, inclusive essa espiritualidade que vocês trazem quando vêm me visitar. As pessoas ficam chocadas quando vêm me ver, porque elas chegam muito “espirituais”; uma coisa de afetação, aprendida, e não uma coisa natural.
Deus não tem nada a ver com espiritualidade; Deus tem a ver com naturalidade, com ser natural. Um bebê, antes de ser educado, está muito próximo de Deus, porque ele é natural, expressa sentimentos, emoções – tudo é muito real até certa idade. Depois, ele também aprende, entra no mundo mental e começa usar isso para conseguir as coisas, artificializando tudo; não tem mais verdade, porque ele aprendeu...
O problema com vocês é esse… Vocês estão muito artificias para tropeçar na naturalidade de Ser... Saber é Ser, mas isso não se aprende. O saber que se aprende não é Ser, é a espiritualização, é a socialização, é a ética, são os princípios morais e todo tipo de coisas que se aprende hoje em dia. Mas, isso não é Sabedoria, isso não é Verdade, não há Riqueza nisso, não há Profundidade, Inteligência, porque isso não é inato. O que é inato, é profundo; o que é aprendido é artificial, é uma fachada, é uma máscara.
Então, vocês não vêm aprender, em Satsang – eu não sou um professor. Não foi isso que meu Guru me passou. Aquilo que está aí dentro, é constatado, é descoberto, não se aprende. Isso aflora! Isso é como uma dessas flores aqui...
Elas não aprenderam Isso, elas nasceram com Isso. Elas receberam as condições necessárias e floresceram. Para mim, o sentido de sadhana, ou prática espiritual, não é algo sendo acrescentado a você, para lhe dar uma formação. Mas, é algo sendo sinalizado para você... Para perceber como florescer.
Então, é claro que essa artificialidade de vida aprendida deve ser esquecida, deve ser abandonada; seu materialismo deve ser abandonado e seu espiritualismo também. Você precisa desaprender a ser alguém ligado ao mundo e precisa descobrir como deixar, também, de ser alguém ligado a esse mundo da espiritualidade. Precisa desaprender tudo isso! Você precisa aprender a investigar sua Natureza Real; precisa aprender a investigar como um cientista no laboratório, que parte de uma hipótese e investiga alguma coisa. Ele tem uma teoria e tenta confirma-la através de experimentações científicas.
Aqui, você é o cientista e é o próprio laboratório, com todo equipamento dentro. Você vai investigar, vai olhar para dentro, vai abandonar o que os padres disseram, o que os pastores disseram, o que os gurus sem barba ou de barba grande disseram. Você vai abandonar tudo, porque é a sua vida, não é a vida deles. Você vai aprender a olhar para você, para o que se passa aí dentro, nessa investigação de sua Real Natureza, nessa observação de si mesmo…. Por exemplo, o que você sente quando esse “eu” é desafiado na rejeição, na crítica, sendo maltratado, desafiado de alguma forma? O que você sente? Como é essa reação? Quem é que reage nessa tentativa de se defender? Se defender de quem? Quem está ofendendo quem?
Então, você vai observar, vai descobrir isso dentro de si mesmo… Você aprende essa autoinvestigação e isso abre o espaço, abre o terreno para a Meditação. Meditação é uma coisa muito importante e ela não é o que, também, se ensina por aí. Há um caminho natural dentro de você para ser descoberto – esse caminho é sem esforço. A Meditação, como é ensinada, requer muito esforço. Você tem que controlar a mente, você tem que esvaziar a mente, você tem que... tem que… E você diz: “Mas, como se faz isso? Se estamos falando de algo que não se aprende, que já está dentro e que floresce, apenas?” A Meditação deve ser algo assim; não pode ser uma coisa ensinada, não pode ser uma coisa aprendida. Deve ser algo que floresce de dentro!
Enquanto você respira, só respira porque está vivo e a respiração, para aquele que está vivo, é muito natural. Essa capacidade de respirar já nasceu com você. Então, aquele primeiro tapinha que o médico lhe deu, é exatamente o que o Satguru faz quando ele lhe dá uma sadhana – é o único ensino que ele tem para lhe dar. Ele lhe dá o tapinha no bumbum para você começar a respirar, mas você já respira por você mesmo e Ele sabe disso.
O Satguru não é um professor; o professor é o guru. Na Índia, todo mundo que ensina é guru... Então, tem o professor que ensina, que é o guru, e tem o Satguru... O Satguru é aquele que desperta você para Isso que Você é. Ele não te ensina nada, ele te dá um tapa no bumbum. A sadhana que Ele lhe dá é para despertar você para aquilo que você já traz aí. Você respira e o médico te devolve para mãe, te devolve para Existência. Ele não te ensina nada; ele te dá um tapa no bumbum... E diz: “Cara, respira! Vamos lá! Vamos embora, é a sua vez!” É o Satguru que faz isso, não é o professor! O professor tem muita coisa para lhe ensinar...
Você nasceu para realizar Isso, assim como o bebê nasce para respirar – senão, porque ele nasceria? A única coisa que importa na sua vida é ser o que você nasceu para ser. Você nasceu para ser Deus! Ter o Olhar de Deus, ter o Amor de Deus, ter o Silêncio de Deus, ter a Compaixão de Deus, ter a Sabedoria de Deus, ter a Paz de Deus, ter o desprendimento que Deus tem, em toda sua manifestação, onde tudo é Dele e nada é Ele! Onde tudo é Ele, tudo é Dele e nada é Dele.
O sinal clássico dessa Realização é não sofrer, é não ter problemas. A limitação é sempre da forma, mas você não é a forma. Na ideia de ser alguém, você se confunde com a forma. Então, se houver uma limitação na forma, você se sente, também, limitado. Isso porque o sentido de alguém ainda está presente. Mas, se isso cai, não importa a condição do corpo, nem a condição política do país – se o presidente vai ser preso mesmo ou não.
A história é um filme, um jogo da mente e você está fora dela. Fora da mente, você está fora do jogo ou vê o jogo só como um jogo. Como um jogo, vamos rir, vamos brincar, vamos nos divertir, mas sofrer não. Sofrer é muito estúpido! Sofrer é inconsciência, sofrer requer esforço. O Natural não conhece esforço. Deus não se esforça; Deus é natural! Sair de pontos de vistas, sair de enquadramentos, sair de particularizações, sair de regras prontas… Deixar tudo isso!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro na cidade de Fortaleza, em Julho de 2017 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

domingo, 10 de dezembro de 2017

Consciência é Amor

Essa falsa identidade está presente porque está apoiada e sustentada por uma base, que é basicamente pensamento. Se você busca a Origem do pensamento, se você vai à Fonte do pensamento, se o seu olhar se volta para encontrar a Natureza Essencial e Substancial do pensamento, você encontra o Vazio. O Vazio é o fim dessa base que sustenta essa ilusória presença de "alguém". Sua Natureza Real é o Vazio! Em sua Natureza Real não há essa base, embora o pensamento possa aparecer. Ele é só um fenômeno. O que dá identidade a esse fenômeno chamado "pensamento" é essa desatenção na qual você foi criado.
Todos vocês são desatentos, estão sonolentos, não estão de fato acordados, estão todos dormindo. Essa sonolência é desatenção, o que faz o pensamento se manter como a base que sustenta essa falsa identidade. Mas, de fato, não existe essa identidade. Tudo que existe é o Vazio, que é sua Natureza Essencial, e que, curiosamente, funciona como a base dessa identidade. É um jogo divino! Você está livre desse jogo quando não está mais emaranhado no meio dele. Isso se chama Consciência, que é Atenção.
Você precisa “desenvolver” essa Atenção! O que lhe deram desde a infância foi a desatenção, que é esse modus operandi, essa maneira de atuar, de se mover, idealizada, planejada, calculada e executada pelo pensamento. Poderíamos chamar de inconsciente, mas essa divisão entre consciente e inconsciente é uma divisão muito arbitrária, pois não há essa divisão. Todo pensamento acontece nessa desatenção – poderíamos chamar isso de inconsciência. Quando está acontecendo nessa Atenção, está acontecendo nessa Consciência, então, não pode haver inconsciência. Quando não há inconsciência, não há mecanicidade, não há essa coisa calculada, idealizada, planejada e executada por essa ego-identidade, essa pessoa-identidade.
É fundamental se despir de todo condicionamento, e isso só é possível no fim dessa desatenção. Quando você vem a Satsang, eu lhe dou lenha para essa fogueira – a fogueira da Consciência. Lenha são dicas, o que na Índia chamam de Upadesa, o Ensinamento. A qualidade do meu Ensinamento é não ensinar, é Despertá-lo, trazê-lo para a Consciência, dando-lhe essa Atenção, alimentando essa chama. Então, nessa fogueira da Consciência, a chama é alimentada pela Atenção, e o que faz esse fogo arder são as dicas que eu lhe dou. Essa é a minha Upadesa, o meu Ensino.
O meu ensino é, basicamente, que não há nada para se aprender. Ser não se aprende! Ser é como o Amor: Ele acontece, você não faz Isso acontecer. É algo que explode dentro de você de forma natural e espontânea. O Amor não se aprende nem se cultiva, não é como um relacionamento, que é cultivado pelos acordos, pelos diálogos, por essa coisa de discutir a relação. Relacionamento é uma coisa do ego, isso não é Amor.
Amor está na relação, não no relacionamento. Amor é não cultivável; relacionamento é cultivável. Você passa anos em um relacionamento chamado "amoroso" – eu chamaria isso de relacionamento adormecido. Os acordos são feitos para se manter um relacionamento adormecido e não amoroso. O Amor não conhece relacionamento e, assim, não pode ser cultivável.
Assim como essa Consciência, assim como essa Atenção, assim como esse ensino, você não pode cultivar isso, você pode despertar para isso e você desperta para isso de uma forma natural e espontânea. É um acontecer, assim como o Amor é um acontecer não cultivável. Deus só é reconhecido nesse constatar do Amor, e isso não é cultivável, você não pode crescer nessa direção, você pode despertar para ela. No campo da ciência, da religião, da filosofia, da psicologia ou de qualquer área do conhecimento humano, ou do assim chamado conhecimento divino, dessa tão badalada espiritualidade, nesses campos, você pode cultivar algo, não aqui.
A Meditação não é cultivável, a Meditação é Consciência, que é Atenção que recebe todo material de queima para fazer arder essa chama desse ensino, dessa Upadesa, por isso que Satsang é fundamental. Satsang significa estar em boa companhia, na companhia do sagrado, do divino. Isso já é conhecido há milhares e milhares de anos no oriente, a importância de estar próximo de um homem ou mulher que é uma fogueira – uma fogueira incendiária, em chamas. No oriente, chamam isso de Guru.
Estar em boa companhia é estar com o Guru, Aquele que está fora do jogo, esse jogo que é todo o movimento do pensamento desatento, inconsciente, habitual, mecânico, planejado, idealizado e executado. Fora do jogo você é sábio, dentro do jogo você é estúpido; fora do jogo você é Bhagavan – termo indiano para bem-aventurado, aquele que vive livre da miséria da mente egoica. Bhagavan é o sábio, é você em sua natureza real, é estar fora do jogo, uma fogueira em chamas aquecendo tudo, dando brilho e calor à sua volta.
Dentro do jogo você é um tolo, um estúpido e medíocre, é um miserável, não importa o quanto de luxo você viva cercado, não importa o quanto de saúde exista aí no seu corpo, ou quanta riqueza você tenha ou acredita ter nessa sua estupidez e mediocridade, você continua sendo um miserável. Isso está só na desatenção, na inconsciência, não na base da Realidade presente; isso ainda é a periferia, a superfície, o movimento do jogo, o movimento da inconsciência do pensamento.
Por isso que o meu convite a você é: Acorde! Dê um salto para fora da mente, vá além da dualidade, essa dualidade é aquilo que começa com o pronome pessoal eu, quando você se refere a si mesmo ou a si mesma, sinalizando a presença do corpo presente aí. Isso não é mecânico, não é inconsciente, não é aprendido; isso é despertar, isso não requer tempo. Na verdade, isso é o final do tempo. Para os acordos, para os contratos, o tempo é necessário. Mais uma vez estamos vendo a fraude, a mentira, a ilusão, qualquer coisa acontecendo no tempo, isso está tomando o lugar da Felicidade. O que acontece nos relacionamentos: um contrato, uma coisa firmada, eu te dou isso e você me dá aquilo, funciona assim.
Você já está completo, não está fazendo acordo com a vida, não está num relacionamento com ela, você não está separado dela como Consciência. Por isso, Consciência é Amor, não há nenhum acordo aí. Você não pode ter um relacionamento com Deus, não pode fazer um acordo com Ele, não pode entrar num contrato, você não tem como controlar isso. É tão simples... você não tem como realizar isso no tempo, não tem como negociar, não se engane quanto a isso, você não pode negociar comigo, não é um acordo, é uma entrega, uma entrega nesse despertar.
Isso é muito desconfortável, você sair do controle, tudo aquilo com o qual você entra em contato, você transforma num relacionamento, numa possibilidade de você trocar, barganhar, basicamente controlar. É impossível despertar assim, é necessário uma vulnerabilidade, que implica em não ter nenhum poder, nenhum controle e isso dá muito medo. Como se não houvesse medo no controle, como se o controle não fosse exatamente uma necessidade de uma segurança que o próprio medo produz. Você está condicionado a viver com medo, por isso que tem que controlar tudo.
Quando você vem a esse espaço chamado Satsang, você só chega aqui porque já cansou de relacionamentos, está cansado de todo esse jogo, aí eu posso lhe dar Upadesa. Está cansado de toda essa desatenção, de toda essa inconsciência, de todo esse controle, de todo esse sentido de ser alguém, aí eu posso lhe entregar algo para alimentar essa chama, essa chama da Atenção, que é possível nessa Consciência. Então, a sua fogueira incendeia, e quando ela incendeia você está fora da limitação do tempo, do espaço, de um “eu”… aí Bhagavan está presente, o bem-aventurado, o Buda, o Acordado!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro na cidade de João Pessoa em Agosto de 2017 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

É em você que o universo aparece

Eu sou Meditação, eu sou Alegria, então eu não preciso de nada… Você já tem muita coisa, fique só com isso. Não queira mais nada, porque aí você cria o futuro, e tem que ouvir o palestrante ensiná-lo a fazer um plano para daqui cinco anos! Eu acho muito engraçado isso… “Faça um plano para os próximos cinco anos! Onde você quer estar?” Onde você pode estar a não ser Aqui? Isso não faz sentido para mim…
Isso faz sentido para você? Onde você quer estar daqui a cinco anos? Aqui! E daqui a quinze anos? Aqui! (risos) Como você pode se afastar de si mesmo? O tempo é uma convenção social! O pensamento é o social e o tempo é uma convenção do pensamento, é uma convenção social! Não existe tal coisa como o tempo! Tempo é distância entre aparições. Se eu jogar isso aqui [o mestre ameaça arremessar um objeto] eu crio convencionalmente a ilusão do tempo para dizer que essa aparição saiu e chegou em algum lugar, mas o que eu chamo de lugar é a ilusão do espaço, onde apenas são possíveis aparições. Mas qual a realidade das aparições sem o espaço? Então, para onde foi o tempo? Não precisa estudar física para ver isso. Tempo só é possível no espaço, são distâncias entre aparições – o que nós chamamos de objetos. Mas o que são esses objetos? São aparições no espaço! Mas de que espaço estamos falando se não existe nenhuma aparição? Então, onde está o tempo? Tem que estudar Física, tem que conhecer fórmulas matemáticas? Por favor! (risos)
Quando você diz que os pavões estão do outro lado… como você pode afirmar uma coisa dessas? Você tem que construir um espaço! E esse espaço é só uma imaginação, e é isso que cria o tempo. Então, para esse objeto chamado corpo sair daqui e constatar a existência de pavões do outro lado, essa aparição chamada corpo tem que ser real, esse espaço tem que ser real – esse espaço que é a distância entre esse suposto corpo, esse suposto objeto e os pavões. E o que nós temos aqui como “real” é só pensamento imaginando coisas, imaginando um espaço, imaginando pavões, imaginando um corpo… tudo imaginação!
Em seu Estado Natural que é Meditação, não há tempo! Tudo está ali, mas não há nada ali! Como no Ser: tudo está no Ser, mas nada está no Ser; tudo está em Deus, mas nada está em Deus; porque não há nada além de Deus, porque também não há Deus; isso é só um pensamento que a gente joga fora também! (risos). Então, o que você tem? Nada! Tudo! Você! Você é Deus! Só “você” fala que Deus existe. Então, primeiro tem “você” e depois vem a ideia de Deus. Quem é real? Quem chegou primeiro? (risos) Então só tem Você! É em Você que Deus aparece e também desaparece. É em Você que o universo aparece, que os pavões do outro lado da casa aparecem, que esse corpo também aparece... Tudo imaginação sua! Você é a Consciência, é Aquilo que torna possível essas aparições – torna possível imaginando.
Percebem como tudo isso é lindo? Como não tem nada em lugar nenhum? Como não tem lugar? Como tudo é O que É? Dê o nome que quiser para isso! Deus, Consciência, Presença, Self, Ser, Eu...
Você só toma ciência do espaço, porque é a Consciência disso! Quando é que você toma ciência disso? Quando você cria isso. Como é que você cria isso? Imaginando! Se não houver imaginação sobre espaço, não há espaço… então, não há pavão, não há distância, não há corpo. Primeiro, precisa aparecer o corpo para depois aparecer o espaço, o intervalo entre você e um suposto corpo chamado pavão, lá do outro lado. Tudo isso está na imaginação! A única Realidade é que tudo é O que É, mas não o que você vê; é O que É! O que você vê é imaginação; O que É está além da imaginação.
Permaneça aí! O corpo desaparece, a mente desaparece e os pavões também. Espaço, tempo, nascimento, morte… tudo mais desaparece. Isso é a “Coisa”! Sem nome! O pensamento não alcança, palavra não define, só o Silêncio – o Silêncio além do silêncio que você conhece. Tudo isso está além de “você”. Paradoxalmente, tudo é Você. Você é isso!
Não pense!
Permaneça aí! Isso é Meditação! Não tem nada a ver com o corpo parado, com uma técnica de meditação. O pensamento está criando o mundo, mas não há mundo sem pensamento. Quando o pensamento aparece, o pavão aparece, a esposa, os filhos, o trabalho, os problemas... tudo aparece. Sem pensamento, não há mundo, não há nacionalidade, não há país, não há nada… A única coisa que não desaparece, que nunca apareceu… Você!
O corpo apareceu, mas não é Você; o espaço apareceu entre objetos que também apareceram; tudo que aparece não é real, e o que desaparece também, mas Você está aí. Você está além do pensamento! Feche os olhos e permaneça sem pensamentos e descobrirá que Você está aí. Não tem corpo, não tem nome, não tem sexo, não é homem, não é mulher, não é branco, não é preto, não é discípulo, não é guru... só Você!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro no Ramanashram Gualberto, na cidade de Campos do Jordão, no mês de Outubro de 2017 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O Despertar para a Verdade

Estamos diante de um novo conhecimento e aqui a palavra conhecimento é usada de uma forma muito estrita, específica. Autorrealização é a aproximação de uma nova forma de conhecimento – o conhecimento de uma natureza diferente da que nós usamos para esse tipo de palavra. Designamos conhecimento como a tradução verbal de uma dada experiência, percepção ou a ciência de algum tipo de objeto. Aqui, quando falamos dessa Realização, que é a realização da Verdade sobre nós mesmos, estamos falando de um conhecimento completamente diferente daquele.
Assim, em encontros como esse, estamos discutindo o conhecimento de nossa Real e Verdadeira Natureza, o único conhecimento real que nos interessa aqui. O que nos interessa é saber quem ou o que nós somos – esse é o Real conhecimento! Esse conhecimento tem o significado bastante estrito, é o conhecimento daquilo que realmente nós somos e isso implica uma completa ausência de qualquer ideia preconcebida, de qualquer conceito, crença ou conhecimento no sentido comum.
Não estamos aqui nesse encontro de Satsang tentando alcançar um objetivo imaginável, ou uma ideia preconcebida. Assim, esse conhecimento não nasce de uma ideia preconcebida, nem de um objetivo imaginável. Esse legítimo conhecimento é o conhecimento do desconhecido e, dessa forma, um conhecimento diferente do comum. Então, quando falamos do conhecimento do Ser, conhecimento de nós mesmos, estamos falando do desconhecido e o desconhecido não pode ser preconcebido ou imaginado, porque isso faria parte, ainda, do pensamento. O que é parte do pensamento é parte da mente, e o que é parte da mente não é real, não é verdadeiro.
Portanto, aqui nós temos a primeira coisa dentro dessa aproximação, desse trabalho: é necessário ir além do conhecido, além da mente, além do conhecimento! Então, o verdadeiro conhecimento do Ser é o desconhecido. A Verdade jamais pode ser capturada, apreendida, pela mente e, sendo assim, ela não pode ser aprendida. A mente não pode apreender, capturar isso… essa não é uma forma real de aproximação. Muitos estão tentando fazer isso através dos estudos, chegando até mesmo a dizer que existe um “passo a passo” pelo estudo da Advaita. Você pode estudar a Advaita e intelectualmente criar um passo a passo, mas você não pode apreender a Verdade pelo intelecto, não pode capturar isso.
Esse assunto é um assunto que não tem forma, não é um objeto, não é algo que possa ser analisado… A Verdade não é algo assim! Tudo que é possível se conhecer é algo assim, mas o desconhecido não é algo assim. Então, você não alcança a Verdade, não atinge a Verdade, não “chega lá”. Quando a Verdade está presente, “você” não está, o conhecido não está. Parem com essa bobagem! Você não pode capturar isso ouvindo falas de Satsang, pois essas falas não servem para isso! E por que não? Porque esse assunto não tem forma, não é um objeto de pesquisa, não dá para estudar isso. Se você anda ouvindo muitas falas sobre isso, está somente acumulando conhecimento e conhecimento ainda é parte da mente… isso não é a Verdade!
Existe uma forma de ouvir isso, mas não é pelo intelecto, nem ouvindo um professor. Um professor vai lhe dar conhecimento sobre isso, mas isso não é a Verdade. Outra coisa aqui é que, enquanto estiver ouvindo um professor, você adquirirá conhecimento, o que representa um novo condicionamento, um novo aprendizado, uma nova ciência, porém, isso não é a Verdade, é somente uma forma de ouvir a Verdade. Um professor não pode lhe dar isso, mas um Mestre vivo sim! Somente um Mestre pode fazer você ouvir a Verdade. Um Mestre vivo é a Verdade, não é um professor, não está tratando com o conhecimento… O Mestre não está lhe comunicando informações, conhecimento, pois ele não é um professor, não estudou isso.
A Verdade não estuda conhecimento. A Verdade expressa a Verdade! Então, você pode ouvir somente a Verdade vinda da VERDADE, ou seja, a única forma de ouvir a Verdade é ouvindo a Verdade nascendo da própria Verdade. Dessa forma, você é tocado pelo desconhecido, por Aquilo que não tem forma, não é explicável – isso é ouvir a Verdade da VERDADE! Não precisa do intelecto, ele não entra nisso, porque Isso não é algo que passa pelo raciocínio, pela lógica, pela conclusão. Isso é algo que vai direto ao SER, ao coração, é a Verdade com a Verdade.
Você tem que ser “iniciado” na Verdade... Na Índia eles chamam Isso de “iniciação”. Um Mestre vivo lhe dá essa iniciação da Verdade! Percebam a graça e a beleza disso: não é um conhecimento sendo passado, não é uma informação sendo comunicada, não é algo que vem de um professor para um aluno, nem são amigos, em volta de um professor, discutindo um tema sobre alguma coisa que possa ser compreendida, analisada, estudada – tudo isso ainda está dentro dessa dimensão da egoidentidade, dentro da dualidade.
A Verdade não pode ser entendida, nem ser comunicada com uma forma, uma lógica, uma didática. A Verdade está nessa comunhão da Verdade com a VERDADE. Assim, o verdadeiro discípulo, o devoto, pode ouvir através dessa iniciação – essa é a forma de ouvir – e a Verdade é despertada em seu coração. Você não vai apreender a Verdade, vai despertar para a Verdade. O verdadeiro Guru desperta o verdadeiro discípulo, ou devoto, porque Ele tem essa Presença, essa Graça... Ele é essa Verdade! Então, ele tem a Presença, a Graça, o Poder e a habilidade de despertar um discípulo, um devoto, para aquilo que Ele É, para a Verdade Dele mesmo.
Percebam a clara diferença aí… um professor leva o aluno somente até onde ele chegou, assim como um Mestre vivo desperta o devoto para isso que Ele É. Você só pode compartilhar aquilo que você tem! A impressão que tenho, nessa fala, é de que eu estou apenas fazendo uma introdução (risos). Então, a única técnica possível – se é que podemos usar essa palavra – está na arte de ouvir, que é ser iniciado pelo Poder, pela Presença, Graça, daquele que é a Verdade. Assim, a Verdade desperta a VERDADE; não ensina a verdade, pois ela não precisa ensinar. A Verdade apenas desperta, porque a Verdade do Guru é a Verdade do discípulo, do devoto. Portanto, esses encontros de Satsang que nós temos não fornecerão informações nem teorias sobre isso. Dessa forma, a minha recomendação é: “Permaneça em silêncio, nessa participação passiva, mas dentro de uma atitude de plena consciência, plena atenção!”
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 23 de Outubro de 2017 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Imortalidade Consciente

A Consciência não fala; Ela está em silêncio! A mente fala. A Consciência está além do som e do silêncio. Você não pode ouvir a minha voz. Mas você pode desfrutar do meu Silêncio. Na mente, você expressa pensamentos. A Consciência é só Silêncio, não tem expressão. O que diferencia um professor advaita de um Mestre, é que esse último nunca fala, enquanto o primeiro fala bastante.
Com um professor você aprende, porque ele tem o que ensinar. Com um Mestre você desaprende; ele só faz uma coisa: destruir os seus conhecimentos, porque eles não servem para nada. Conhecimento trata só do conhecido. Conhecimento que é conhecido só serve para sonhar. Através do conhecimento, você constrói um foguete e lança no espaço sideral. Então, o foguete sai da terra, rompe a lei da gravidade, e vai para o espaço sideral. No entanto, o foguete, a terra, a lei da gravidade e o espaço sideral são parte do sonho; não servem para mais nada, apenas para isso. Se o conhecimento não serve para realizar a Felicidade, ele é inútil. Ele vai colocar um satélite no espaço, e agora o GPS vai funcionar, os canais das televisões irão transmitir o sinal, mas nada que os canais das TVs estarão mostrando irá dar Felicidade. Então o conhecimento não serve para nada.
Aqui, existem médicos nesta sala. Através do conhecimento médico, científico, você pode curar os seus pacientes. Estarão com o corpo saudável, irão viver mais tempo, miseravelmente. Desculpe doutor, o seu conhecimento não serve para nada! Só prolonga a miséria. Acabei de provar a você que o conhecimento é inútil. É só para prolongar o sonho.
O Silêncio destrói o sonho, Ele representa Imortalidade Consciente, Felicidade Suprema. Então, o Silêncio é importante, o conhecimento não. Desculpe doutor, o seu conhecimento é um lixo. A ciência atômica, a física quântica, o conhecimento nuclear não servem para nada. Nada disso pode fazer os seus olhos brilharem de felicidade.
Eu não sou doutor. Eu apenas sou O que Sou. E você é só O que É. Isso basta. Você não precisa conhecer nada nesse mundo. Apenas conheça a si mesmo. Esse é o único conhecimento válido. Se você conhece quem Você É, você sabe que não está aí, que não há ninguém para se conhecer. Então, você sabe que tudo é Ele, e Ele é reverenciado em tudo. Então, você o contempla e o desfruta em toda a parte, e Ele é a sua alegria. Então, o único conhecimento que importa é saber quem é Você. Você nasceu para isto.
Não são as minhas palavras que estão fazendo ”essa coisa” funcionar. Essa coisa chamada Satsang acontece por si só. Não tem alguém nisso. Você não volta por causa das palavras. Existem muitos escritores, filósofos, muitos cientistas... e eles são impressionantes. Gente admirável. Há muitas pessoas maravilhosas no mundo. Não é isso? Você tem que aprender a se divertir com tudo isso, não pode levar isso muito a sério. Eles estão brincando de gente importante. Deixe eles acreditarem que estão impressionando vocês. Mas não se deixem impressionar. Eles não conhecem a Imortalidade Consciente. Depois da morte, todos viram fantasmas. E vocês sabem como é a vida dos fantasmas, alguns são fantasmas camaradas e outros não.
E o que é que muda? Nada muda! Se você não vive a sua Natureza Real agora e aqui, qualquer coisa lá, ainda é a mente, num tempo criado por ela mesma. A Realidade está aqui e agora. Tudo mais são construções da mente: planos espirituais, céu, inferno, umbral… Se você está identificado com a mente, você está no tempo, vai parar em um desses lugares, não tem jeito. Mas se a mente desapareceu, se ela imergiu na fonte, o universo material e imaterial desapareceu.
Lindo isso, não é!? O fim do sonho!
Há algo que o aflige mais do que isso? Desejar o que não está aqui e agora? Querer que alguma coisa seja diferente do que é? Compreendam a paz do Sábio: Ele não quer nada, está só se divertindo, rindo de toda essa loucura.
Compreendem isso?
Deus está se derramando abundantemente. A Vida é Graça, é Alegria, é Deus, só tem Deus! É que o jogo dele parece muito cruel para você, alguns estão nascendo, e outros estão morrendo... Ontem, eu vi um pássaro comer um inseto; ele vinha voando e o pássaro foi mais rápido do que ele. É um jogo. Não tem nada errado na sua vida. Você não tem vida pessoal, porque não tem pessoa. Só tem o jogo. Então, quem veio e já foi, tudo bem, não exija nada que já foi embora, e não exija nada que ainda não chegou. Tudo vai chegar, e tudo vai partir. Mas é um jogo. Não torne isso algo pessoal. Aí você aprende a viver como um Sábio, sem apego, sem desejo, sem medo.
Quando as pessoas me perguntam: “como você pode viver assim?”. Aí eu volto a pergunta para elas: “como você pode viver assim?”. É a mesma pergunta. O Sábio está fazendo a mesma pergunta que o tolo. Como explicar isso? É um mistério.
A sua certeza sobre tudo é muito grande. Abandone isso. Abandone o que acredita conhecer. Você não sabe nada!
Há uma expressão que é usada aí fora, de uma forma pejorativa. A expressão é: “santa ignorância”. Já ouviram a expressão? Mas é uma belíssima expressão. Porque retrata exatamente o Estado Natural. É de completa ignorância e de uma sacralidade inacreditável. Seu Estado Natural é de santa ignorância. É bastante paradoxal. Aquele que compartilha o real conhecimento, não sabe nada!
Não é paradoxal?
*Transcrito a partir de uma fala durante um retiro no Ramanashram Gualberto em Campos do Jordão, em outubro de 2017 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

É assim que todos estão vivendo

Olá, pessoal! Boa noite! Sejam bem-vindos a mais esse encontro aqui pelo Paltalk.
Estamos dentro dessa aproximação, dessa investigação, averiguação. Como temos falado com vocês, em diversos outros momentos, aqui, o segredo está nessa prontidão em ouvir, afinal, é essencial você descobrir a verdade sobre si mesmo.
O homem comum vive de uma forma completamente reativa. Suas ações são constituídas de meras reações condicionadas. Afinal, por que isso tudo acontece? Essas reações são como a maquiagem que a mulher coloca para sair à noite, ir a uma festa. Ela fica diante do espelho e... ações reativas, todas nascidas do pensamento e dessa programação de ser alguém, são como uma maquiagem que você sempre está apresentando para si mesmo e para os outros.
É assim que todos estão vivendo, esse é o modelo comum a todos. Esse falso “eu”, essa “pessoa” que você acredita ser, é apenas uma maquiagem egoísta, estúpida, medíocre, miserável. Você sai pelo mundo com seus desejos e medos, em meio a coisas amigáveis e hostis, agradáveis e desagradáveis, e é isso que você chama “minha vida”. Essa é a vida da “pessoa”.
Então, todas as suas reações, tudo que você faz, sente, fala e pensa é uma mentira! Tudo isso é falso! Não há verdade em você! Quando as “pessoas” vêm a Satsang, a esse encontro, e eu digo para elas que são uma fraude, elas ficam muito irritadas. Quando elas vêm e eu digo que são miseráveis, elas não conseguem ver isso, porque estão viciadas em viver nesse jogo de prazer e dor, de satisfações grosseiras ou mais refinadas. O pêndulo vai para um extremo (solidão, depressão, tristeza), depois volta para o outro lado, e elas terminam achando tudo isso muito normal. Então, tenha paciência em acompanhar isso!
Quando você faz uma ideia acerca da vida como ela é, você está numa autolimitação e todos vivem à sua volta nesse modelo. Então, parece ser a coisa mais natural da vida viver nesse modelo! Tudo isso é profunda inconsciência, total inconsciência, total imersão e identificação na mente egoica, no modelo da falsa identidade. Aquilo que você chama de “vida” é algo enraizado na mentira, nesse falso “eu”.
Seus bisavós viveram assim, seus avós viveram assim (talvez tenha algum deles ainda vivo), seus pais estão vivendo assim ou até morreram assim, e você está vivendo exatamente assim, criando seus filhos assim, vivendo um relacionamento matrimonial, amoroso, íntimo com alguém dessa forma. Eu acho que você, hoje, deveria estar procurando outra sala e não essa aqui, porque hoje o assunto está muito “pesado”. Lamento por vocês terem entrado na sala hoje!
Você tem que acordar ou vai morrer como seus avós, nesse estado miserável, sem saber por que nasceu e por que está morrendo.
A questão é: você pode ir além dessa mentira ou pretende continuar assim? O que você me diz? É possível descobrir uma ação que não seja nascida do ego, do medo, do desejo, dessa programação, dessa mentira? Se sim, então, é possível viver de uma forma livre da miséria do homem comum, ordinário, dessas “pessoas” com quem você convive todos os dias, sendo que a primeira delas é você mesmo!
Dá para acompanhar isso? Tem alguém irritado? Bateu o desespero ou algo do tipo? Se sim, é sinal de que o “despertador” está tocando.
Tudo isso deve ser compreendido de forma clara. Você pode ouvir um “Guru” e ele animá-lo bastante, aliás, hoje em dia nós temos muitos “gurus” que são como animadores de programa de auditório. Eles dizem: “você é a felicidade, você é o Buda, você é a verdade, você é o Cristo, você é Deus! Não existe ego, não existe Guru, não existe ensinamento... Tudo é o que é e é agora”! Então, você fica muito animado, você se sente muito motivado, porque “não existe nada que você precise fazer, tudo já está pronto” – assim eles dizem e isso é muito animador! “Você não precisa abandonar seus medos, o medo que você tem da namorada, da mulher, do marido; você não precisa abandonar a inveja, no sentido da comparação e que provoca o ciúme, o desejo de controlar, possuir e dominar; não precisa soltar suas crenças, opiniões, conclusões religiosas, idealistas, políticas, filosóficas; não existe nenhuma ilusão, nenhum falso ‘eu’... Você é a verdade”!
Então, o que vai acontecer? Você vai continuar ouvindo esse tipo de fala por mais 98 anos. Se você já tem 15 anos, é só você somar “15 + 98”; se você tem 40, é só somar mais 98; se você tem 30, é só somar mais 98. É uma matemática simples! Assim, quando você estiver com 128 anos de idade, você vai ter um conhecimento profundo sobre Neo Advaita, sobre a visão “não dual” da vida. Então, você morre sem saber por que nasceu e por que está morrendo. Todos morrem! É somente uma questão de tempo.
Vamos ficar por aqui! Até o nosso próximo encontro! Namastê!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 27 de Outubro de 2017 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

A imersão da mente no coração

Bem-vindos ao Satsang! Estamos mais uma vez juntos neste maravilhoso propósito, que é a aproximação do reconhecimento desse momento. Nosso Natural Estado de Ser é agora mesmo, nesse momento, de absoluta Felicidade e é isso que nos tem escapado. Aquilo que obscurece o fluir ou a expressão dessa Felicidade são esses constantes pensamentos ocorrendo dentro da cabeça, numa rápida sucessão.
Pensamentos são como nuvens que obscurecem nosso Natural Estado de Felicidade. O hábito forte é o dessa inquietude da mente... A “mente egoica” é extremamente agitada e quando ela está assim nos tornamos incapazes de vivenciar essa inerente Felicidade. A infelicidade é essa agitação da mente – muita ocupação, preocupação, antecipação – e daí nasce toda confusão. A verdade é que a mente está sendo constantemente impelida pelos seus antigos hábitos e condicionamentos. Então, esse movimento de identificação com pensamentos, que produzem desejos e medos, é algo muito constante.
Assim, a mente é constantemente impulsionada a se mover para fora, sempre se movendo para as suas exterioridades, sempre em direção a coisas que ela imagina serem importantes para ela. Se você observar, a mente está sempre ocupada com assuntos particulares, sempre envolvida com histórias ligadas ao sentido de personalidade, pessoal. O objetivo da mente é realizar alguma coisa para ela própria, pois o sentido de “pessoa” é muito importante para ela. A mente, basicamente, é esse sentido de “pessoa”. Assim, esse nosso Natural Estado de absoluta Felicidade, presente nesse instante, está sendo obscurecido pelo movimento constante da mente e seus pensamentos. Quanto maior é essa atividade da mente, mais obscurecido se torna esse Estado; quanto mais veloz esse movimento inquieto da mente, há mais ansiedade, estresse, nervosismo, preocupação, sofrimento.
Agora mesmo, nessa sala, você tem um encontro com uma fala nascida desse Estado Natural de Felicidade. Então, o Mestre é aquele que nos mostra que não é possível realizar ou alcançar a Felicidade, porque ela é algo já presente aqui e agora, nesse instante. Tudo o que temos a fazer é nos voltarmos para a direção correta, que não é o exterior; a direção correta é a imersão da mente no “Coração” e esse é o espaço ou lugar da Felicidade.
Talvez a sua pergunta seja: “Como diminuir essa agitação? A mente e sua agitação, a mente e seus pensamentos, a mente e seus planos, projetos, preocupações, antecipações”? Talvez seja essa a sua pergunta, e por isso a nossa ênfase está na Meditação. A arte da Felicidade é a arte da Meditação, mas não é o que você entende por meditação, pois aquietar a mente temporariamente, para depois ela voltar a se agitar novamente, não é Meditação. Esse tipo de meditação tem sido ensinado ao redor do Planeta.
O que eu entendo por Meditação é ficar quieto, não é ficar quieto fisicamente, nem forçar, também, a mente à quietude. Isso, de certa forma, com algum exercício, alguma prática e certo tempo, você consegue fazer, aprendendo a focar a mente num só ponto, respirar de uma determinada forma; existem diversas técnicas capazes de lhe dar isso, nesse formato. Nossa ênfase, aqui, é completamente outra. Basicamente, Meditação é o florescer de seu Estado Natural e o “terreno” para o florescimento Disso, dessa Meditação, seu Estado Natural, é a observação cuidadosa, paciente, aplicada desse movimento da mente, momento a momento. Então, essa auto-observação é a Real forma da investigação da ilusão desse falso “eu”. Portanto, a autoinvestigação é auto-observação.
Se você está dirigindo seu carro ou caminhando para algum lugar ou assentado assistindo TV, esse é o momento de observar esse falso “eu”. Apenas observar! Observar os pensamentos que surgem, quais são as preocupações, as motivações, quais são as lembranças de duas horas atrás, de um dia atrás, anterior. Então, diante da TV, dirigindo o carro ou caminhando, você está observando a história de um falso “eu” se revelando. Quando isso chega, tenta capturar você no tempo, que é criado pelo pensamento, por essa imaginação, que é memória. Pensamento é sempre imaginação, que é conhecimento.
Esse conhecimento, que é pensamento, imagina o passado e o futuro. Quando você se perde nesse tempo criado pelo pensamento, está identificado com um personagem, com a história desse falso “eu”. Enquanto você dirige o carro, caminha ou assiste televisão, não é esse instante que importa para a “ego-identidade”, mas a história que surge nesse instante. Quando você é capturado pela história, você está na ilusão do falso “eu”, agitado por essa “ego-identidade”, e não há Liberdade, Paz, Amor, Felicidade.
Então, a Felicidade não está presente em dirigir o carro, em caminhar ou assistir televisão. Você está identificado com um personagem, preso a história do “eu”, dessa falsa identidade. Essa é a ilusão desse personagem, seu estado ilusório de ser; é a ausência de seu Estado Natural de Meditação. Portanto, a Meditação começa quando esse espaço fica completamente limpo dessa agitação mental, memória, imaginação, desses pensamentos.
É necessário descobrir a Felicidade de seu Estado Natural, que é Meditação nesse instante, nesse momento presente. Isso é Real Meditação: desidentificar-se completamente desse “eu” ilusório, desse personagem. Essa Presença fundamental do nosso Ser é pura Consciência, é pura Liberdade, Verdade, Felicidade.
Reparem que, em nossas falas, nunca separamos “Ser” de “Felicidade”, porque Ser é Felicidade e Felicidade nunca está separada de Meditação! Essa é a verdade detrás de tudo. Quando, por uma ação da Graça, você é atraído a Satsang, quando você chega a Satsang, o único propósito desse encontro é o encontro com Deus, que é Ser, Consciência, Felicidade. Então, o Guru, ou Mestre, é aquele que nos atrai exatamente para nos mostrar a irrelevância da mente, a ilusão desse personagem que você acredita ser.
É bem interessante... Todos estão atraindo sua atenção para a exterioridade. Quando o Mestre chega, ele captura sua atenção para que você se volte para dentro – daí a importância do Guru. Ele é aquele que lhe diz: “Você não é a mente, não é o corpo”; “você não é esses sentimentos, nem esses pensamentos”. A minha compreensão disso é que você não tem a mínima condição de descobrir isso sozinho, ou já teria descoberto. O Mestre é aquele que lhe aponta, que sinaliza, que lhe mostra isso, porque em um verdadeiro Mestre esse trabalho já está finalizado. O que estou falando é que um verdadeiro Mestre é Aquele que já realizou Isso; não estou falando de um professor, de um orientador, de alguém que ainda se sente uma “pessoa”, mas fala teoricamente dessa “não pessoa”. Portanto, compartilhar a Verdade é compartilhar o Ser, a Felicidade, e Isso é Meditação!
Ok? Vamos ficar por aqui. Valeu pelo encontro! Namastê!
Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 20 de Setembro de 2017 – Para informações sobre os encontros online e instruções de como participar, clique aqui.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O Despertar é resultado de um trabalho

Você vê um pianista e sua desenvoltura, habilidade, espontaneidade, quando ele está tocando e você diz: “Como é bonito isso. Ele é tão natural fazendo isso”. Você olha e diz, ainda: “Eu queria conseguir fazer assim”. Então, na primeira vez que você se assenta ao piano, você vê o quanto isso é complicado, mas para ele é tão simples... Quando ele faz isso, há tanta graça, tanta beleza, tanta naturalidade nisso.
É exatamente a mesma coisa quando você se depara com um Sábio, com um Ser realizado, e você diz: “Como é bonito Isso! Por que eu não consigo? Isso é tão espontâneo, tão natural... Por que meu piano não toca, não produz música assim?" Mas você não deve se sentir assim, pois aquele pianista começou o treinamento aos cinco anos de idade. Quando ele tinha dois anos, a mamãe já o colocava sentadinho no banquinho e fazia-o brincar com as teclas, pegando os seus dedinhos delicados e batendo com eles nas teclas... Ele começou muito criança, vem trabalhando nisso há muitos anos.
O Sábio realizado é resultado de muitas horas de “piano”. Um homem como Ramana, que nunca foi capturado na teia da ilusão, já nasceu com muitas horas de “piano”. Então, você não deve se sentir assim... É necessário você se “assentar ao piano” e começar. Como os seus dedos não têm habilidade, ainda, o cérebro “não funciona bem com as mãos”, não há, também, uma memória motora nos dedos, no mecanismo, na “máquina” [corpo], e, então, você não acerta as “notas”... É muito esforço e zero de resultado... Muito Satsang e você olha e diz: “Não está acontecendo nada. Ainda não consigo ver a vida, o mundo, assim, nem consigo ver as pessoas dessa forma”; ou “Eu ainda fico ofendido, magoado, sinto rejeição”; ou “A ‘partitura’ está na minha frente, sei que as notas estão ali, mas eu não consigo acertar”...
Compreendem o que eu quero dizer? Eu conheço a teoria toda, já ouvi isso milhares de vezes. Confie no que estou lhes dizendo. Não desistam! Vocês têm dificuldades, ainda, porque não sabem como este mecanismo egoico funciona. Vocês não conseguem perceber todo o truque, distraem-se muito, com facilidade; não percebem o que está acontecendo claramente aí dentro, os velhos truques da mente, e ela está nesse exercício há muito tempo. Quando nós nos encontramos aqui, eu digo para você: “Não desista”! Depois que tudo está resolvido, não há mais problema nenhum, e aí a música é produzida com facilidade. Mas, no momento, você precisa dar tempo a si mesmo. A Verdade não está no tempo, mas a ilusão é o tempo!
Existem alguns professores advaitas que já estão “tocando o piano” com habilidade, facilidade, vendo que é simples demais, então, eles podem dizer para você: “Não precisa praticar... Está tudo tão claro! Não há nada que se possa fazer, ou que se precise fazer”. Essa é a fala neo advaita nesse tempo, mas essa não é a minha experiência, com meu Mestre. Um dia eu ouvi uma fala de Jiddu Krishnamurti em que alguém da plateia perguntou para ele: “Senhor, isto parece tão simples quando o senhor fala, mas eu não consigo viver isso”. Sabem qual foi a resposta do Krishnamurti? “Saia daqui e viva isso. Você não vive porque não tem interesse”. Tinha tanta força em sua argumentação, tanta sabedoria em sua fala que, de fato, não se pode discutir com um Buda, mas isso não resolve, porque a pessoa sai dali e tudo continua na mesma.
Eu tive a felicidade de nunca ter ouvido ninguém falar sobre essa “coisa”. No ano de 2007, em que aconteceu Isso aqui, que a “bomba caiu”, eu não sabia o que tinha acontecido, porque eu não tinha ouvido nada sobre Isso. Eu tinha o contato com Ramana, meu Guru, mas no coração. Eu não tinha lido sobre Isso, não sabia quem ele era, quem tinha sido. Somente muitos anos depois eu fiquei sabendo a história dele e somente agora, há pouco tempo, eu comecei a ler sobre Ramana. Eu não sabia nada sobre Isso, então, eu fui muito feliz. A minha guiança esteve no “coração" durante 21 anos, de 1986 até o ano de 2007, quando a “bomba caiu”, e eu não sabia o que tinha acontecido: “O que é isto? Por que está tudo assim? Por que eu estou em tudo? Por que estou dentro dela, dele, dos objetos? Por que só tem Eu?... Por que essa ‘coisa’, que eu chamo agora de Alegria? Por que é tudo uma bobagem? Tudo é muito engraçado!”.
Durante 21 anos, tinha medo, dúvida, tristeza, problemas, mas havia uma direção Dele... Ramana estava vivo aqui, muito longe de uma imaginação dessa coisa estar acontecendo hoje à minha volta. Então, na minha experiência, você tem que ter paciência com isso, confiar em seu Mestre. Em algum momento, na sua vida, a Graça de Deus vai tocar você e atraí-lo − é quando o Guru toma forma para você.
Portanto, não é como diz a neo advaita. Talvez alguns já nasceram “tocando piano”, e outros estão fingindo que tocam (isso é muito mais comum acontecer), mas essa não é a minha experiência, pois eu não nasci “tocando piano”. Em meu caso não foi com 16 anos, nem com 8 anos (como é o caso de Papaji, que somente pôde definir tudo isso, conseguiu assentar o Estado, aos 34 anos de idade, diante de Ramana). Então, no meu caso não foi com 16 anos, nem com oito anos, mas aos quarenta e cinco anos.
Ontem fizemos um bolo: 55 anos... E eu estou aqui há dez anos, em meu Estado Natural. Eu tenho 10 anos! Eu sou uma criança! Vocês não devem se lembrar da minha idade cronológica, biológica, pois eu não me importo com essa idade. Já que gostam de se lembrar das coisas, lembrem-se de quando o Guru nasceu, quando seu Mestre nasceu. Quando ele nasceu, já nasceu por causa de você, para encontrar você. Ele nasceu para amar você, ser o único Amor da sua vida, da única Vida real. Então, você tem que ter paciência com você mesmo e precisa confiar Naquele que "chegou" antes de você.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro no Ramanashram Gualberto em Campos do Jordão, no mês de Outubro de 2017 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Verdade é Felicidade

Mais uma vez estamos juntos, focando naquilo que é essencial. Mais uma vez nos colocamos nessa disposição, tendo uma aproximação legítima, que é essa aproximação do “coração”. Nosso propósito nesse encontro é investigar essa questão da Realidade. Esse trabalho é para aqueles que já perceberam, sentem claramente, que a vida sem essa Realização é uma vida sem significado; é para aqueles que sentem um impulso verdadeiro e estão dispostos a investigar verdadeiramente essa questão da Realização, que representa a Real Felicidade.
A vida sem esse significado real, que é a constatação do que verdadeiramente nós somos, é uma vida distante da Realidade, distante da Verdade, e Verdade é Felicidade. O tema básico em Satsang é sempre a questão da Felicidade; não a busca de um significado para a vida, mas sim a constatação da Felicidade, que é a Vida. A mente está sempre buscando significado para ela mesma, que é o significado que ela projeta como sendo real para ela própria. Aqui não estamos interessados na mente e no significado que ela busca. A mente, com suas projeções, pode estar em busca da paz, da liberdade, da felicidade, ou de qualquer coisa que ela projete, mas tudo o que ela projeta é parte do que ela deseja, ou parte daquilo que ela teme. Portanto, isso não pode ser real.
Felicidade é o Estado de Ser, não um estado que a mente possa alcançar, porque tudo o que a mente pode obter ainda é parte dela mesma. Desfrutar da Felicidade real do Ser, que nós somos, requer que a mente retorne à Fonte, saia da sua habitual agitação. A mente geralmente está muito agitada, com pensamentos, sentimentos, desejos, medos, imaginações, conclusões, objetivos, e tudo isso está voltado para fora, para aquilo que ela conhece. Essas atividades da mente são a causa de todo distúrbio, de toda confusão, então, ela necessita cessar essas atividades, e isso é quando você está desidentificado da mente.
Identificado com a mente, você está distante de sua Natureza Essencial. Toda confusão está nessa identificação com a mente. A verdadeira Felicidade é algo descrito como essa Paz, da qual as escrituras tratam, falam, que é uma Paz que ultrapassa toda a compreensão humana − é esse Estado Natural de Ser, no qual a mente, com toda a sua atividade, cessa; é essa compreensão de sua Real Natureza. Você passa a maior parte do seu dia se confundindo com pensamentos, sentimentos e tudo aquilo que a mente conhece; tem raros momentos de descanso em si mesmo, de descanso nessa Presença, nessa Consciência, nessa Verdade de si próprio, de si mesmo, que é Felicidade, Paz.
Compreendem isso? Observem que é exatamente assim que acontece!
Assim, toda essa atividade cria o distúrbio, afasta você dessa simplicidade e calma de apenas Ser. A Felicidade é algo que já existe aqui e agora, dentro de nós, e de fato é a nossa verdadeira Essência, nossa verdadeira Natureza. Mas a mente está sempre procurando sensações, buscando satisfações e realizações de prazer, e, somado a isso, ela está constantemente fugindo de alguma coisa, de alguma dor, o que é basicamente medo. Esse é o movimento dessa ego-identidade. Quando falamos que a Felicidade é essencialmente o nosso Ser, nós estamos dizendo que essa mesma Felicidade é a natureza da Consciência em nós. Então, quando há Consciência, há Felicidade.
Se você carrega alguma forma de sofrimento, isso é sinal de inconsciência, de identificação com a “mente egoica”. É impossível haver infelicidade na Consciência. Miséria e sofrimento são possíveis na inconsciência, mas isso é algo impossível na Consciência, porque Consciência é plena Felicidade, é plena Liberdade. Infelicidade é prisão. Não importa a condição do corpo e nem da própria estrutura psicossomática, ou seja, não importa a condição do corpo ou da mente (aqui, mente é esse mecanismo de percepção, de movimento de pensamentos, lembranças, intelecto, e assim por diante), quando há Consciência tudo isso funciona de uma forma bastante natural, sem nenhum conflito, sem nenhuma desordem, sem nenhum distúrbio e sofrimento. O único elemento estranho aqui é essa “mente egoica”, é a ilusão de uma identidade presa a essa identificação com as histórias, presa às imaginações do pensamento.
Geralmente, o sentido de “pessoa” está presente nessa inconsciência, sobrecarregado de crenças, histórias, desejos, preocupações. Portanto, Felicidade significa Consciência, e Consciência significa o verdadeiro conhecimento, sem qualquer ilusão. Na Índia, esse verdadeiro conhecimento é chamado de Jnana, que significa a compreensão do que é falso, e essa compreensão é o fim do falso, da ilusão; isso é o Real Conhecimento.
Está claro isso?
Quando o falso é visto como falso, a ilusão perde todo o seu poder e desaparece. Então, o que está presente é a Liberdade, a Consciência, a Felicidade. Assim, a mente retorna à Fonte e desaparece ali. Isso é Silêncio, Inteligência e Verdade. Você não pode saber o que você realmente é identificado com a mente, seus desejos e medos. A menos que você tenha essa clara visão, o verdadeiro conhecimento de quem você verdadeiramente é, estará sempre vivendo no medo e no desejo, e vivendo dessa forma não há como ter o significado Real da palavra Felicidade. Aquilo que é o seu Estado Natural pode ser visto somente dentro dessa constatação – quando a mente termina – e, então, toda busca termina; a busca material, espiritual, termina.
Tudo isso precisa ser encontrado, ou constatado, dentro de você, e não do lado de fora. A palavra Satsang significa encontro com a Realidade do Ser – a Realidade que você é, aqui e agora, dentro. Isso é Ser, Consciência e Felicidade – Sat-Chit-Ananda (essa é a expressão da Vedanta).
Ok. Vamos ficar por aqui. Valeu pelo encontro. Namastê.
Transcrito a partir de uma fala em um encontro online, na noite do dia 11 de Setembro de 2017 – Para informações sobre os encontros online e instruções de como participar, clique aqui.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Desejo é medo e medo é desejo

A mente tem a necessidade de conhecer, porque ela tem a carência de não saber. O “não saber” na mente é a ignorância que busca conhecer. A ignorância do Sábio não busca conhecer, porque não há necessidade nenhuma de saber. A ignorância do Sábio é Ser, que é completo e, portanto, não é limitado, finito, nem é conhecido; não tem o que sabe e o que não sabe, nem o que sabe e o que ainda falta saber. É uma ignorância que carrega a compreensão do que É e o que É já está completo, não se estende, não se acrescenta, não aumenta nem diminui. Isso é Sabedoria, que é Ignorância, que é o “não saber”.
Qual o problema com a mente egoica? A mente não fica com o “não sei”, aliás, ela só tem continuidade no “vir a ser”, no “se tornar”, no “chegar”, no “alcançar”. Ela se movimenta nessa ilusão de estar num processo de crescimento, de evolução e de ampliação − é a natureza da mente egoica! Quando não há mente, não há esse movimento e isso é o que eu chamei agora de “ignorância”; não é uma ignorância que pode deixar você ignorante, mas a Ignorância que é pura Inteligência.
De onde nasce essa fala? Nasce da Inteligência! Não nasce do inteligente, porque não há o inteligente. Há somente a Inteligência, que é sinônimo de Ignorância, que não tem necessidade de saber qualquer coisa. Isso é Sabedoria! Então, Sabedoria é igual a Ignorância, que é igual a Inteligência, a Consciência, a constatação do que É, a Totalidade, ao Absoluto... Sua Natureza Real é assim.
A cultura, a educação, o estudo e os livros não podem lhe dar Isso, mas a Meditação pode fazê-lo constatar... não vai lhe dar Isso, mas vai fazê-lo constatar, porque já está aí. Então, você constata, ou descobre, o Sábio que você é e a ilusão termina. Com o fim da ilusão, há o fim da ignorância e a constatação da Compreensão, da Verdade, da Inteligência, e, com isso, o fim do sofrimento.
Quando o sofrimento termina? Quando o desejo e o medo terminam! Você quer ser algo por temer, por medo, ou por desejar escapar da dor, que também é medo. Então, desejo é medo e medo é desejo. Na Meditação, isso termina! Meditação que é a constatação de sua Natureza Real, que é Deus, que é Consciência, Presença, Verdade. O nome não importa, porque o nome é como eu coloquei agora há pouco... Mais uma vez, a gente volta para o conhecimento. Abandonemos isso, porque já sabemos que isso é ignorância aprendida... Então, a gente abandona o nome e toca na “Coisa”, ou melhor, se dissolve na “Coisa”. A mente se dissolve, se dilui na Fonte, que é a Consciência, a Verdade, Deus.
Participante: E essa experiência é transferível? Você pode transferir? Como garantir que o que você está falando não é mais um conhecimento?
Mestre Gualberto: Isso é mais um conhecimento! Se você quiser que seja, será mais um conhecimento. Se você desistir dele, ele desaparece.
Participante: Mas, qual é a diferença?
Mestre Gualberto: A diferença é existencial e não intelectual. A minha terminologia é intelectual, mas minha vivência é existencial. Eu não comunico o “intelectual”, porque eu estou além dele. Porém, você pode transformar Isso em algo intelectual; fazer como muitos hoje em dia e até se propor a fazer Satsang por aí. Depois de algumas lições, você pode transformar isso num conhecimento também, como qualquer conhecimento que se adquire.
Participante: Assim como acontece com as religiões, Mestre?
Mestre Gualberto: Sim, como fizeram com Buda, com Jesus, com Mahavira, com Krishna... Transformaram o existencial em Krishna em intelectual nos livros; o existencial em Cristo, no intelectual nos evangelhos. Então, não há nenhuma garantia de que isso aqui seja realidade... no intelecto não! Existencialmente, sim! Existencialmente é Real! Agora, se você ouvir e quiser adquirir isso, você adquire como uma nova informação, um novo conhecimento. Mas, você vai continuar aí, tendo mais uma coisa a acrescentar em cima das outras que você já tem; ou seja, será mais um lixo, mais um conhecimento Advaita ou Neo Advaita.
Participante: Mas, qual o “brinde” aí, onde você chega? Qual é o diferencial? Eu senti a sua Presença quando cheguei, mais no silêncio do que na sua fala...
Mestre Gualberto: Eu sou o Silêncio! Vocês é que me fazem falar. Eu não tenho nenhum problema em lidar com o que Sou, que é o Silêncio, mas vocês terão sérios problemas em ficarem somente com o Silêncio que Sou. Primeiro, não poderão capturar isso em sua totalidade − esse primeiro já é o último, porque vocês não poderão lidar com isso, dentro de todo esse peso de condicionamento que ainda carregam. Então, precisam de uma comunicação verbal para ir além dela e descobrirem a beleza de estar comigo nesse Espaço. A primeira coisa em que eu toco em vocês, quando vêm, é nessa dimensão.
Sabe qual é a primeira sensação que você tem, quando está comigo? Eu vou colocar em palavras, mas não tem nem como colocar em palavras... É algo que dentro de você bate assim: “Que coisa! O que é isso?”. Não é a minha fala... Antes de eu abrir a boca, olho para você e tem uma “coisa” que bate aí dentro. Então, quando eu começo a falar e gesticular, é a Natureza do Ser se expressando. Não é Marcos Gualberto, não é uma pessoa, não é uma figura, não é alguém. A mesma Consciência aqui é a mesma aí, é uma ressonância! Há um contato nessa dimensão.
Agora eu vou responder a sua pergunta. Como pode não haver mente aqui, e ter essa precisão, não só da linguagem, como o poder de acompanhar e não perder o fio da meada? A sua pergunta é: “Qual a diferença, onde está o diferencial?” O diferencial está na ressonância, que é existencial e não intelectual. Você não vai permanecer comigo porque “eu tenho um intelecto brilhante”, porque “intelecto brilhante” têm esses palestrantes por aí... Eu tenho um intelecto mediano. Não é o intelecto; é a Presença da Consciência, que é Inteligência. Só que isso não é o que impressiona você. O que impressiona você, aqui, é o poder desse Silêncio, é o que o Ser reverbera, aqui.
Como um participante disse, tem momentos em que esse Silêncio varre completamente sua mente e toda a sua história. É como se algo dissesse aí dentro: “Uau!”, e você fica paralisado, literalmente. Você olha para mim, como qualquer um que chegar aqui, e vai dizer: “Olhe o jeito como o pessoal olha para ele”! Mas, se duvidar, dentro de instantes, também, vai ser capturado pela mesma “coisa”, pelo mesmo toque de Presença, de Silêncio, de Consciência. Isso é o poder da Shaktipat, do toque da energia, do toque da Presença, da Consciência. É isso que mantém você nessa proximidade.
É claro que, com o passar do tempo, como Deus é muito completo, você vai perceber que está diante de uma Inteligência que não é ordinária; não está diante de um professor que você admirou na faculdade. Você vai sempre perceber que é algo um pouco maior, comparado àquele professor que você admirava na faculdade, porque é algo diferente. É essa ressonância que pode dar a você essa certeza, e esse é o diferencial.
Primeiro, você vai perceber que eu sou o único “cara”, a única “pessoa” (como é assim que você vê todo mundo, então vai me ver, também, como uma pessoa) que, por exemplo, não tem medo de dizer para você o que eu tenho que dizer, e, ao mesmo tempo, tenho uma Graça e uma Beleza que irão encantá-lo. Você vai dizer: “Caramba! Como pode? Ele está me dando ‘pancada’ e eu continuo gostando dele! Ele está me escrachando, ridicularizando a minha autoimportância e, ao mesmo tempo, eu me sinto muito bem”! No fundo, você vai perceber que não tem nada de pessoal, que não é como ser escrachado, ridicularizado por uma pessoa que não gosta de você. Na verdade, quando olhar para mim, você vai dizer: “Caramba! Tem algo nele que não me deixa ter raiva dele”; a ponto de não dizer “ele está sendo pessoal comigo”, porque não é verdade!
Participante: Mestre, eu senti essa ressonância. O Senhor traduziu exatamente isso. Eu ficava tentando entender com a mente o que é isso que eu sinto e não dá... É somente entregar “os pontos” e ficar aqui. Não dá para traduzir, melhor nem falar porque piora as coisas...
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro em Fortaleza, em Setembro de 2017 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang .

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