terça-feira, 28 de junho de 2016

Como reconhecer o Guru real?

Quanto a essa questão, de “como reconhecer o Guru Real nesse mercado de gurus que cada dia aumenta mais”, não se preocupe com isso, não! Você vai se enganar, se quiser saber “quem é quem”. Você não vai se enganar, somente, se deixar Deus fazer isso por você. Se você for real, Deus jamais vai ser irreal para você. Se você for real, Deus é Real e Deus é Real quando você é real. Quando você é real, tudo está no lugar, tudo está aparecendo para você como tem que aparecer. É o que você precisa no momento.
Quando Ramana apareceu, eu tinha tudo para rejeitá-lo... Toda minha formação intelectual e teológica era para rejeitar a presença de um Mestre que não fosse Jesus Cristo, e o pior, sem corpo, já morto. Um homem sem corpo, morto! Mas havia algo aqui que era autêntico. O desejo por Deus e pela liberação era autêntico, então, não podia ser uma ilusão ou algo vindo do mal, do demônio, do diabo. Se eu estava orando a Cristo e, naqueles dias, em jejum de 24 horas, como eu fazia naquela época, todo sábado, para encontrar Deus, não podia ser o diabo que estava aparecendo para mim, naquele momento.
Ou eu ficava com essa confiança na oração ou ficava com os pensamentos da teologia, que eu havia estudado durante tanto tempo, lendo a Bíblia e tinha escutado no seminário... Eu ficava com o que aquecia meu coração e me preenchia de um amor indizível e de um silêncio indescritível, ou ficava com os pensamentos em tumulto, em dúvida, em confusão, em medo, como: “É Cristo ou é o diabo?” ou “o que é isso que está acontecendo?”. Vinham, também, pensamentos como: ”Você está ficando louco”, “O que é isso? Isso é doideira”, ”Você está perdendo o juízo!”, “Você está... Você está...!” Ou eu ficava com estes pensamentos ou ficava aqui, nesse Espaço de indizível e indescritível silêncio e alegria, invadido por um amor que eu nunca havia sentido antes, por nada, por ninguém, por coisa alguma nesse mundo.
Não se preocupe, não! Não se preocupe! Deus vai saber cuidar disso. Ele sempre soube cuidar de tudo.
O desafio... O grande desafio é que, com essa Presença, a “pessoa” morre e ela não quer morrer, não quer sair do controle. Um Mestre vivo é a última estação do metrô, é a última parada — desembarque obrigatório! Lá vem uma voz dizendo assim: “Senhores passageiros, chega de viajar! Estação Terminal!” E o medo de enfrentar o que está depois da porta, do lado de fora? "Será um mundo real? Será uma vida real? Será que ainda estarei vivo, ou morto, se eu sair por esta porta, que acabou de abrir, ouvindo essa voz que diz: 'Desembarque obrigatório!'?" Esse é o desafio!
Diante da Verdade (que é o Guru Real) não vai haver escolha, você não quer escolha, se o que queimou aí, durante todo esse tempo, foi o fogo pela Verdade e se você não está brincando com essa coisa, se não está mentindo, não quer mais a mentira. Então, não se preocupe! Preocupe-se, não! Como falamos, agora há pouco, o sono aconteceu e sair do sono também só acontece. Ele cuida disso! Deixe tudo com Bhagavan. Ele dizia: "Bhagavan cuida!". Essa foi uma de suas promessas. Essa é a promessa de Bhagavan, é a promessa do Satguru.
Esse é um caminho que nem os loucos erram. Na Bíblia há um versículo assim: "Nem os loucos errarão o caminho!" Sem ego, aí, você não pode ver ego aqui. Lembra o exemplo do espelho? Quando olha para o espelho, você não vê o espelho, vê a si mesma (si mesmo). Então, o problema não está lá, o problema está aqui.
A pergunta que eu faço para você é: Você pode confiar nisso? Você pode confiar em uma mente que está, há milênios, só contando historinhas e fazendo um mundo de histórias, dizendo que você é feio, que não merece, não vale nada, ou que você é um pecador, merecedor do inferno? Ou que está dizendo o oposto, que você é muito importante, é uma alma preciosa, é mais bonito do que todo mundo e mais merecedor, do que todos à sua volta, do melhor de todas as coisas? A pergunta é: Você pode confiar nesses sentimentos? Você pode confiar? Uma hora você está alegre, outra hora está triste; uma hora você está bem, outra hora está mal; uma hora você está amando, outra está odiando; uma hora você está tão seguro da verdade e outra hora está tão decepcionado, sentindo-se frustrado por acreditar que foi enganado.
Dá para você confiar nas emoções? Dá para confiar nas sensações? Está calor ou está frio? Dá para confiar nessas conclusões acerca do que é e do que não é? Dá para confiar nesse movimento da mente? Hein? Dá para confiar nisso? Dá para confiar que está ou que não está? Que iluminou ou que não iluminou? Dá para confiar? Dá para confiar no que você diz, no que escreve ou no que outros lhe dizem, ou no que você lê do que outros escreveram? Dá para confiar? Dá para confiar em si mesma, em si mesmo? Dá para confiar? Ok! Então, despreocupe-se! Despreocupe-se! Relaxe! Isso não é assunto seu!
Quando eu falo de entrega, o ego fica assombrado (para não dizer assustado, fica assombrado), porque tudo o que ele quer é se manter no controle. Quando eu falo de entrega, falo exatamente isso que estou colocando para você: abandonar-se, lançar-se, soltar-se aos pés da Graça, de Deus... "Mas, aí, quando você usa a palavra Deus, do que você está falando, Mestre?"... "Oh, Guru, do que você está falando? Eu fico tão confortável quando você usa a palavra Deus, e, quando usa a palavra Consciência, fico um pouco, ainda. Quando usa a palavra Guru, me desconserta todo!"... "Oh, Guru, onde estão seus pés, para que eu me lance aos seus pés? Se me lançar aos seus pés, estarei me lançando aos pés de quem?".
Toda essa briga com palavras, que você tem aí, tem que cair, porque isso está, também, nesta autoconfiança, nessa ilusão de acreditar que sabe. Sabe nada! Se soubesse já tinha resolvido tudo. Se você soubesse alguma coisa sobre a verdade, já estaria livre, porque a Verdade não vem em partes; não é como as prestações das Casas Bahia, que você vai pagando até liquidar um dia. A verdade é como um bloco assim: oh... boom... Ele cai sobre você e o esmaga. Você não sabe o que é a Verdade, mas tem essa arrogância de acreditar que sabe: onde está e não está a verdade; onde está Deus e onde Ele não está; o que é verdadeiro, o que é falso, o que é real e o que não é real para si mesma. No entanto, você está como uma barata tonta.
Quando eu falo de entrega, estou falando dessa coisa de desistir... Desistir de confiar em si mesmo. Repare que isso é o oposto de tudo o que vocês aprenderam durante a vida inteira - a autoafirmação. Desistam de tudo o que vocês ouviram, já leram "sobre", aprenderam, no curso de autoajuda, em livro de autoajuda, em terapias, ajudas para se curarem (Do que? De quem? Que cura é essa? Quem pode ser curado? Quem pode ser salvo? Quem sabe?). Quem aí conhece a Verdade? Quando eu falo de entrega, estou falando de desistir disso tudo, de deixar que essa Consciência, essa Presença, esse Guru (dê qualquer nome para isso), cuide... Cuide do assunto... Cuide desse assunto. Ramana dizia: "Deixe com Bhagavan, que Bhagavan cuida!"
Treze de abril do ano de mil novecentos e cinquenta (13/04/1950), era uma manhã... O sol estava preenchendo toda aquela montanha, as nuvens de uma beleza extraordinária no céu azul, os pássaros cantando... Todos em volta de Ramana, naquela manhã, tremendamente preocupados com aquele quadro. Nas últimas noites, aquele que dormia com Bhagavan tinha comentado que seu corpo gemia sob aquela dor, debaixo daquela dor do câncer, daquela doença fatal. Todos estavam preocupados naquela manhã! Ele abre a boca, olhando para todos, com olhar indescritível, num profundo silêncio, numa completa desidentificação com o corpo, e diz para todos ali: "Por que vocês estão tão preocupados? Tudo estará bem amanhã! Amanhã tudo ficará bem!".
O dia seguinte chega... Quatorze de abril, um dia de Presença indizível no Ashram, um Silêncio, uma Graça, um poder imperioso, banhando toda aquela montanha de Arunachala. O sol se põe naquele dia e, às 20h47min (naquele dia, 14 de abril de 1950, um minuto antes), o pavão faz aquele barulho comum, que todos os pavões fazem... Um deles faz aquele barulho, aquele som, uma mistura de cântico com um grito ensurdecedor. Ramana, que estava deitado, faz um esforço para se assentar (e alguns o ajudam naquele momento)... Ele ainda consegue se assentar, naquele 1 minuto antes (20h47min), e, depois daquele som do pavão, suas últimas palavras são: "Já deram comida para ele?". Ele repete, perguntando pela segunda vez: "Vocês já deram comida para ele?". Aquele Silêncio volta novamente e eles percebem, sentem, que é o momento de deixar o Mestre assentado. Naquele instante, tudo fica bem! Acontece sua última inspiração.
Não se preocupem! O Guru sempre é real, se a devoção é real! Ele sempre é a Verdade, se você é a Verdade. Tudo termina ficando bem, muito bem, sempre bem!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em Junho se 2016. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

A verdade além das palavras, definições e conceitos

Aqui estamos em mais um momento, onde o que menos importa, como sempre temos colocado, são as palavras. Embora essas palavras estejam brotando desse Silêncio, nesse sentido elas têm alguma importância, mas apenas como resultado desse Silêncio. A mente se alimenta de palavras. O ego, cuja base está no conhecido, adora palavras, e o conhecimento é esta plataforma, aquilo que sustenta todo este movimento. A Verdade não é conhecimento, é somente a Verdade. Quando houver definição da Verdade, não estamos mais com a verdade, mas, sim, com conceitos, ideias e crenças sobre isso.
Nesses encontros, como qualquer outro encontro, seja pelo Paltalk ou presencialmente, fazemos uso da fala, mas há algo maior que a fala, Aquilo que torna possível um trabalho real. Intelectualmente, palavras podem entreter, criar admiração e trazer, até, certa satisfação de prazer. Toda experiência sensorial é assim: ver cores é prazer para os olhos; o toque em objetos é prazer, ou dor, para o sentido do tato; ouvir sons pode ser prazeroso ou doloroso, pode ser prazer e dor. Algumas palavras podem trazer certo nível de prazer, de realização e preenchimento interno, mas são apenas palavras. A Verdade não tem nada a ver com palavras.
Você pode passar realmente anos estudando, como você colocou agora que, durante anos, fez Gnose e perguntou se foi tudo inútil, contudo não podemos transformar teoria em prática, nesse campo da Realização. Teoria continua sendo apenas teoria. Em Satsang nós tratamos de uma outra coisa, que é a possibilidade do desaprender, o abandono de todas as crenças, teorias, ideias, práticas e de todos os conceitos. Em Satsang estamos tratando deste “Eu Sou” – o “Eu Sou” não conceitual, Aquilo que, também, não é uma ideia. Estamos falando desta Realidade fora das palavras e dos conceitos.
Por alguns breves instantes, você pode ter um vislumbre Disso, quer você esteja numa prática de meditação ou fora dela. Porém, uma prática de meditação, ou qualquer outro método, não pode lhe trazer Isso de uma forma definitiva. O assentar desse Estado não vem por práticas, por técnicas, e o estudo intelectual sobre Isso é o que está mais longe, mais distante, ainda. Realização é o “fruto maduro” nessa “árvore”, quando a Consciência, que é essa Presença Real, assume o lugar dela. Então, essa Realização é o seu Estado Natural, mas Nela não tem você, é só a Realização.
Todavia, o Estado Natural não é este “você”, que você acredita ser; é este Você, do qual você não sabe nada e jamais saberá alguma coisa, porque, quando esta Realização está, este você, que você acredita ser, não está. Isso é o resultado de um trabalho, não de uma prática, de uma técnica, de um método, de um sistema de estudo. Isso é a entrega desse sentido de separatividade, uma ação totalmente da Graça, desta mesma Presença, dessa mesma Consciência, dessa mesma Realidade – o trabalho é, totalmente, Dela. Nesse sentido, o Guru é fundamental, porque Ele não é uma entidade separada dessa Graça, dessa Presença, dessa Realidade. O Guru é esse fruto maduro, é a Presença da Graça, é a Graça na forma. Isso soa muito estranho para a mente dualista, em especial para a mente do ocidental, daquele nascido no Ocidente.
A figura do padre, do pastor, do rabino, do sacerdote, do líder religioso é sempre uma figura de autoridade, de “alguém” separado, como um tutor, um professor, mas um Guru não é um professor, não é um tutor, não é uma entidade separada. Eu falo do Guru, do único Guru. O Guru é essa Presença, essa Consciência, que pode assumir uma forma humana, mas não é uma entidade separada. A ilusão da separatividade é uma ilusão mental. É a mente que cria a “figura separada” da autoridade, na figura do tutor, do professor, do Guru.
Estamos falando de uma Presença interna, que é, simultaneamente, externa, que interpenetra tudo e todas as coisas. Não há separação entre você, em sua Real Natureza, e o Mestre, o Guru, a Presença, a Consciência, a Graça, a Verdade. O que eu falo para você, hoje, falo a partir dessa vivência aqui, do contato com Bhagavan, Sri Ramana Maharshi. Há algo presente nessa Presença... Há algo real, funcional e que faz acontecer todo esse trabalho.
Só há Você! Você é o Guru! Você é o Mestre! Você é a Consciência! Não estou falando desses pensamentos, sentimentos, e dessas sensações que passam aí, pois isso só passa, mas não é você, em sua Natureza Real. Você é o mesmo Guru que se apresenta do lado de fora, pois quando o discípulo está pronto (que é o Guru interno pronto) o Mestre (que é o Guru externo) aparece, sem nenhuma separação. É pela Graça do Guru que este trabalho acontece. Hoje estou aqui compartilhando com vocês aquilo que esta Graça, a Graça do meu Guru, trouxe a este mecanismo chamado Marcos Gualberto: essa Liberação, a Consciência de que “Eu Sou”. Esse “Eu Sou” é “O que Ele é”, e “O que Ele é” é o que Você é, que é Aquilo que eu sou.
Todo sentido de separação, de separatividade se dissolveu, entrou em colapso. Não há mais conflito e não há mais medo; não há mais a ilusão de alguém na experiência do mundo, e de um mundo separado de alguém. Você nasceu para realizar Isso, essa não separação entre você, Deus e o mundo. Essa não separação é a consciência dessa Consciência, é a Consciência dessa Realidade, é a ciência dessa Presença.
Sua Natureza Real é Amor, é Paz, é Verdade, é Silêncio, é Consciência, é Deus. Isso não é conceitual, não é verbal e não é uma crença. O momento para você é o de abandonar todas as crenças, todos os conceitos e teorias sobre isso. O convite a Satsang presencial é o convite a um trabalho real nessa direção, para se abandonar todos os conceitos, teorias, falas que geralmente se escuta, além de todos os livros e palavras. Chega um momento na sua vida que você percebe que não pode continuar com as crenças, teorias, e com os conceitos. Existem milhares e milhares de técnicas e trabalhos, todos prometendo uma certa harmonização, pacificação da mente, e um certo silêncio e equilíbrio. Não é disso que tratamos em Satsang. Estamos falando do fim do sentido de separação, do despertar da sabedoria, dessa Realização, dessa completude de sua real natureza.
Essa fala nesse encontro, nesse espaço, não serve para isso, pois é somente mais um conjunto de palavras sendo colocadas, como um alerta da não necessidade de palavras. Isso é como um toque de uma trombeta, em que você escuta a trombeta e toma uma determinada ação, não ficando agarrado ao seu toque. O propósito do toque da trombeta é movê-lo para uma determinada ação. Então, o "toque da trombeta", que é essa fala aqui sendo colocada, é para você ir além dela. Isso só é possível em Satsang presencial diante de um Mestre vivo, daquele que não vive mais nesse sentido de separatividade.
Um Mestre apareceu em minha vida no ano de 1986. De 1986 ao ano de 2007 um trabalho aconteceu aqui, período em que houve entradas e saídas nesse Estado de Silêncio, porém isso não foi um assentar, a finalização deste trabalho, nesse organismo, no mecanismo, na "máquina", isto só aconteceu no ano de 2007, naquela noite de junho de 2007. Durante estes anos um trabalho acontecia aqui, aconteceu aqui neste mecanismo, nesta máquina, tudo por sua Graça, em um contato muito direto. Eu não encontro palavras para explicar isso, não há palavras para explicar isso.
Não há como realizar Isto sem esta Graça, sem o poder desta Presença, a Graça de Sri Ramana Maharshi, o sábio de Arunachala, jay, jay, jay Gurudeva, por sua divina e inexplicável compaixão. Somente no olhar de Deus é possível ver Deus. Só pelo olhar de Deus é possível ter o olhar de Deus, aquilo que na Índia eles chamam de Darshan, o olhar do Guru. O olhar de Deus é esse olhar do Guru, da Presença, da Graça, e a Graça em seu olhar. É a compaixão do Guru, esse amor de sua Presença divina que faz florescer o coração do devoto, para o próprio reconhecimento de que não há separação entre ele e o Guru.
Esta noite, neste encontro, temos este momento de Graça, de Silêncio, de Presença, mas as palavras não podem comunicar isso. A realidade é que essa Presença continua viva. Na noite de 14 de abril de 1950, meu Guru deixou a forma. Nisargadatta morreu de câncer; Ramana Maharshi, também, morreu de câncer, e Jesus, na cruz. Contudo essa Presença não é a forma, não está no tempo da morte, mas além do nome e da forma; não é indiana, judia ou brasileira. Essa Presença é essa Consciência. Esse é o real Guru, aquele que está além do corpo, além de uma doença terminal, que só termina com o corpo. É isso...
*Transcrito de uma fala ocorrida em 30 de maio de 2016, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Seu coração inteiro nisso

Olá pessoal, boa noite! Sejam todos bem-vindos a mais esse encontro, aqui, pelo Paltalk! Esses encontros são sempre um momento único, um perfeito momento de celebração. Assim são todos esses momentos de investigação da Verdade. Nos encontramos em Satsang para essa investigação.
Há algo bem maior do que alguém fazendo essa investigação, há algo aqui muito maior do que isso. Todas as vezes em que nos encontramos, tratamos sobre isso. Parece que nós investigamos a fim de nos livrarmos de alguma coisa, de nos livrarmos dessa ilusão, desse senso de um “eu” separado, desse sentido de um “eu” separado. E assim, nos livrarmos dessa conexão com o sofrimento, com o desespero, com a miséria do ego. Isso pode até parecer ser assim, mas, na verdade, isso é só uma ideia. Se esse “eu separado” está tentando realizar alguma coisa por ele mesmo, se está tentando realizar essa liberação, essa libertação através dessa investigação, isso não é real. O que quer que esse “eu separado”, esse “eu ilusório” procure fazer, irá sempre fortalecer ainda mais o sentido de um autor, de alguém fazendo algo, e aí está a ilusão. A investigação não tem esse propósito, não é a investigação de alguém, não é uma entidade separada tentando fazer alguma coisa.
O curioso é que é somente essa entidade separada que quer se ver livre desse sentido de separação. Esse incômodo, esse sofrimento, essa miséria cria isso. Então, o que essa entidade separada – essa ilusão dessa entidade presente criando o sofrimento, esse próprio peso do sentido de separação, essa miséria buscando sempre alguma coisa, inclusive tentando se livrar de tudo isso, na assim chamada busca espiritual – está fazendo é mantendo esse véu, fortalecendo esse véu. Todo o esforço é nessa direção. Todo esforço fortalece ainda mais esse véu. A coisa mais simples é a mais difícil para essa ilusão do eu, do mim, da pessoa, porque a coisa mais simples é parar com toda a busca, parar com todo esse movimento de tentar encontrar isso.
O ego tem tentado encontrar essa Felicidade, essa Paz, essa Liberdade. Tentou nas coisas mundanas, agora está tentando nas coisas, assim chamadas, espirituais. Tentou no materialismo e agora está tentando no espiritualismo ou espiritualidade. Todo esse movimento de busca que a mente egoica tem, todo esse sentido de alguém presente à procura da felicidade, está ocultando a própria Felicidade; a procura da paz está ocultando a própria Paz; a procura da liberdade está ocultando a Liberdade.
Mais cedo ou mais tarde você terá que desistir da busca, terá que desistir de todo o esforço no ego para realizar o fim do ego. Essa incansável procura através de práticas espirituais, assim como leituras dos livros e estudos da espiritualidade, só o afasta ainda mais dessa Verdade – da Verdade de sua Natureza Essencial, de sua Natureza Real. As práticas espirituais, o estudo da espiritualidade, a busca da espiritualidade tem muitas ramificações. Existem buscas, práticas e leituras para todos os gostos. Isso vai de doutrinas religiosas até o estudo da Advaita. E tudo isso não passa de uma grande ilusão – essa ilusão da busca. O próprio “eu”, esse próprio sentido de separação se fortalece, se tornando cada vez mais refinado, mais purificado, mais espiritualizado.
Alguns de vocês, aqui, nessa sala, já passaram por isso, e outros ainda estão passando, ainda não estão cansados da espiritualidade. Até estão cansados da busca de realizações materiais, mas estão, agora, buscando as realizações espirituais. Nada disso é real. Antes havia um “eu” aí materialista, agora tem um “eu” aí espiritualista. Havia um “eu” aí que não sabia nada de espiritualidade, agora tem um “eu” aí que sabe muito sobre espiritualidade, capaz até de ensinar isso, de tantos livros, de tantas palestras, de tantos ensinamentos que recebeu.
E eu estou repetindo isso aqui: essa tentativa do eu de realizar alguma coisa por ele mesmo irá fortalecê-lo. Ou na vida mundana ou na vida espiritual. Esse é o próprio véu que oculta essa realidade da Verdade sempre presente, mas que não pode aflorar, florescer, se manifestar. Mais cedo ou mais tarde você terá que se livrar de tudo isso, de toda a sua espiritualidade. Você terá que se livrar da própria busca do fim do sofrimento pelas práticas da espiritualidade, porque no fundo, você quer substituir essa miséria, essa dor, esse sofrimento por alguma coisa espiritual, e isso ainda é o véu que cobre essa Realidade, essa Verdade, essa Graça da verdadeira Felicidade, do verdadeiro Amor, a Verdade de Deus Presente, da Sabedoria Presente.
Soa muito estranho, isso, né?
O ego é incansável na sua busca. E aqui, se trata do fim da busca, do esvaziamento completo de todo o conteúdo, o material e o espiritual. Você está sempre carregando uma prática nova, um livro novo, um ensino novo, acreditando que qualquer nova ideia irá aproximá-lo disso, mas você não sabe o que é isso, a mente não sabe o que é isso. Isso está além do seu saber, está além da mente. Isso está presente quando você não está, quando a mente não está, quando a busca ou essa procura de se livrar do sofrimento não está.
Só não há sofrimento quando não há ilusão, e não quando você tenta realizar isso pela busca do fim do sofrimento. Somente o fim da ilusão significa o fim do sofrimento, e não a busca pelo fim do sofrimento. Só há Felicidade quando existe o fim dessa ilusão – a ilusão de se encontrar a felicidade no materialismo ou no espiritualismo. A Felicidade é a Natureza da Verdade, é quando não existe nenhuma busca – nem a busca do fim do sofrimento nem a busca da felicidade. Isso é o próprio véu que encobre essa Verdade da ausência do sofrimento, da Felicidade Real.
Acompanham isso?
Estou dizendo que você não pode realizar isso, você está só atrapalhando. Todo o seu esforço é só para atrapalhar. Isso tem que ficar sob os cuidados da Graça, sob os cuidados de Deus, sob os cuidados dessa Presença. Essa Presença é o Guru, é a Consciência, é Deus, é a Verdade. Em outras palavras, enquanto esse “eu separado” estiver sendo considerado real, é inevitável que ele continue tentando se livrar do sofrimento, tentando encontrar felicidade, que ele continue tentando se livrar da mente. A mente tentando se livrar da mente, o “eu” tentando se livrar do “eu”... percebem o truque? A infelicidade tentando encontrar a felicidade, o conflito tentando encontrar a paz. Tudo o que o conflito faz é produzir mais conflito, tudo o que a infelicidade faz é produzir mais infelicidade, tudo o que a mente faz está dentro da própria mente, está apenas fortalecendo a própria mente. Meu Guru, meu mestre Ramana dizia que isso é como o ladrão vestido de policial tentando prender o ladrão.
Talvez, nesse ponto do encontro você pergunte: Então, o que fazer?
Eu posso lhe garantir que há um momento em que você percebe, claramente, pela investigação, que está andando em círculos. Esse momento pode ser encarado, a princípio, como desesperador. Mas, na verdade, essa é a sua grande oportunidade de desistir, de parar com esse esforço. Esse esforço é essa ilusão tentando se livrar da ilusão, é o “eu” tentando se livrar do “eu”, é a mente tentando se livrar da mente. Nesse momento, acontece a entrega, a desistência. É quando a Graça pode assumir, a Presença pode assumir, Deus pode assumir, o Guru pode assumir.
É o momento em que você percebe a importância daquilo que tem toda a importância. Deus é essa única coisa que importa! O Guru é essa única coisa, a Verdade, a Presença da Graça! Nesse momento, nesse estágio, nesse instante, o sofrimento não pode mais se manter, a ilusão da separatividade não pode mais se manter, o ego não pode mais se sustentar – o ego em sua busca, em sua procura... Então, imediatamente, uma janela se abre. Depois, essa janela perde a importância, e uma grande porta se abre, muito maior do que essa janela. É uma porta com dois lados e, de par em par, elas se abrem. Esse é um chamado de Deus, da Graça, dessa Presença. Então, você para com tudo, você desiste, você não resiste, você se rende. Então, o trabalho real, pela primeira vez, começa a acontecer, porque você não está mais aí, porque não há mais essa disposição de tentar realizar isso sozinho, através de suas habilidades, técnicas, capacidades...
Participante: Mestre, nos minutos finais, o senhor poderia nos esclarecer sobre o que é autoinquirição?
Mestre: Autoinquirição significa, basicamente, duvidar de si mesmo, duvidar total e completamente de qualquer poder ou habilidade/capacidade que você tem – o que, na verdade, é somente o movimento da própria mente. Todo poder ou habilidade/capacidade é ainda do próprio ego, da própria mente egoica. Então, a expressão “Quem Sou Eu” ou “O que Sou Eu” não é uma pergunta para se encontrar uma resposta. É uma exclamação e não uma pergunta. Uma exclamação de desistência, de não resistência. Significa estar quieto, sem esforço, sem qualquer movimento, uma completa entrega a essa Graça, a essa Presença, a essa Verdade que é o Ser. Eu falo de sua Natureza Real, de sua Natureza Divina. A Presença dessa Graça faz isso aflorar, despertar. Essa autoinquirição é o seu coração inteiro nisso, é a sua vida inteira nessa exclamação! Não é uma mera interrogação intelectual, verbal, não é uma fórmula que como um mantra se repete...
A dificuldade aqui, que você sente, nesse instante, é que você espera que eu lhe dê uma fórmula, que eu faça exatamente o que os livros estão fazendo para você, por você – eles estão lhe dando fórmulas.
A Verdade é algo muito vivo, muito real. O que não está vivo pode ser encontrado em algum ponto; o que está vivo está se movendo... Um corpo enrolado em faixas é uma múmia, e você a encontra, você encontra esse corpo enrolado em faixas. A Verdade não é um corpo enrolado em faixas. A Verdade não está enrolada em palavras, em conhecimentos, em práticas, em experiências, em técnicas... A Verdade não é um corpo enrolado com toda essa coisa. A Verdade é algo vivo! A Verdade está viva, você a constata, é a sua Natureza Verdadeira. Essa é a sua Natureza Real, a que está além da mente, a que está além do conhecido, além do conhecimento, das palavras, das práticas espirituais, das técnicas...
Ok, pessoal! Vamos ficar por aqui! Por isso, continua o convite: presencialmente, nós investigamos isso melhor, ok?
Namastê!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 20 de junho de 2016, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

O aroma e o sabor da Liberdade

Quando você está em um polo, o outro sempre está presente. Se você estiver vendo um lado, não se preocupe, o outro estará lá. É que é só um lado, mas esse lado está ocultando o outro. Na mente, a alegria que é conhecida é o oposto da tristeza; o amor que é conhecido, que é uma forma de prazer sentimental, emocional, que não é amor real, é só o oposto da decepção, da dor, da raiva, do ódio. Tudo isso está no reino mental, tudo isso está nesse conteúdo da mente, que são crenças.
A liberdade de não estar preso, embolado, misturado, se confundindo com a mente, é o que nós chamamos de estar desidentificado – desidentificado da história, das crenças, dos pensamentos, da satisfação e da insatisfação, do prazer e da dor que o outro ou o mundo (que são só imagens) me causam.
Não tem uma fórmula de como se manter desidentificado, é uma coisa que você precisa descobrir dentro de você. Você precisa saber quando é que você está nessa posição embolada com a mente, que significa todo esse conteúdo de imagens, pensamentos e crenças, e quando você não se embola, não se confunde com isso. O que eu posso lhe dizer, apesar de não poder lhe dar uma fórmula para isso, é que o aroma é completamente diferente, e o sabor também. O aroma de estar identificado é um, e, desidentificado, é outro.
Identificado significa embolado com a mente e com o conteúdo dela, significa estar circunstancialmente, sentimentalmente e emocionalmente envolvido, tanto em nível de pensamento como de comportamento. O sabor e o aroma são bem peculiares quando você está desidentificado disso. O sabor e o aroma são a liberdade; a liberdade da história, a liberdade das crenças. Crenças, como por exemplo: “como minha filha é linda!”; “como pode? Eu faço tudo por ele e ele não reconhece”; “como pode? Eu dou tudo para ela e ela não reconhece”; “como pode ela gostar mais de fulano do que de mim”. Crenças desse tipo…
Então, o sabor e o aroma são bem típicos, e já bastante conhecidos, quando essa identificação está presente. Quando ela não está presente, fica clara a liberdade da crença, a não necessidade dessa preocupação acerca do que o outro pensa ou espera de você, ou do que você espera dele.
A desidentificação não tem história e não tem você (você com essa imagem que tem de si mesmo quando está embolado, identificado). Desidentificado, não tem você, alguém ou alguns. Desidentificado, você não é uma pessoa, não é parente, não é amigo, não é vizinho, não é filho, não é mãe, não é pai... Desidentificado, você é Liberdade! Desidentificado, você não tem traços de julgamentos e opiniões, portanto, não há conclusões. Desidentificado, não há conflito; não há prazer nem dor. Não é a sua história, é só uma história. Está claro isso, assim? Desidentificado, não existe pessoa, portanto, não tem frustração pessoal, não tem decepção pessoal. Desidentificado, não tem alguém aí esperando alguma coisa do outro ali do lado. Desidentificado, qualquer pensamento que tenha esse suposto “você” não tem importância, pois o que quer que o pensamento acredite que ainda exista são crenças lá, não são crenças desse “desidentificado”.
Esse é o aroma e o sabor. Viver assim é possível, mas não para essa autoimagem que você alimenta de mãe, de marido, de filho, de namorado, de namorada… Viver assim é possível, mas isso não alimenta prazer. Então, isso não é possível para esse ilusório sistema desmembrado pelo pensamento, que nós chamamos de “eu”, “mim”, “pessoa”.
Viver assim é a vida na alegria de Ser, mas é uma alegria que não tem o oposto. Ela não é resultado da excitação prazerosa que o pensamento constrói, nessa euforia que ele chama de alegria. Não é isso, é outra alegria. É uma alegria sem causa, sem motivo e sem alguém, então, é só a Alegria. É uma alegria com um artigo definido na frente: “a Alegria”. Se tem a Alegria, então o odor, o aroma e o sabor são diferentes.
Falem de algo de dentro e a partir dessa não limitada Presença que Você é. Essa fala vai nascer desse estado natural, livre dessa salada mista de emoções, sensações, sentimentos, imagens, história, conceitos, diferenças… Fale algo agora a partir desse “lugar” onde a pessoa não está. O que quer que seja dito, será dito a partir desse Silêncio, desse Vazio, dessa Presença, que é pura Alegria, uma Alegria que não é sorriso, que não é “saltinho”, “pulinho”, que não é preenchimento pessoal, que não é satisfação pessoal, que não é prazer pessoal. Fale-me a partir dessa desidentificação… olhe, sorria, chore, coma, brinque e namore a partir daí. A partir daí, tudo é normal, tudo é natural.
No estado natural não há tristeza, pois tristeza vem de imagens, de imaginações, de condicionamentos, de um “eu” ferido, de um “eu” magoado, de um “eu” ofendido, de um “eu” aborrecido, de um “eu” decepcionado, de um “eu” frustrado. Todos esses adjetivos estão ligados a esse sujeito fantasioso que o pensamento criou e deu o nome de “mim”, “eu”.
Enquanto houver a máquina (corpo), é possível haver emoções. A raiva, por exemplo, é uma coisa neurológica, fisiológica, um movimento até de autoproteção dessa máquina, que não tem nada a ver com você; é o estado natural operando na máquina. Se você perguntar a um médico, ele vai dizer que o choque elétrico produz raiva. Você leva um choque elétrico e isso abala seu sistema nervoso central, que produz uma emoção na máquina, uma raiva sem história. O sentimento precisa de história, mas a emoção, não. Vocês não devem confundir emoção com sentimento.
A raiva é uma emoção, mas a raiva que o ego conhece é um sentimento; um sentimento que se apropria da máquina. Chamamos essa raiva de emoção, mas trata-se de outro sentimento, pois precisa da imaginação. A raiva é uma expressão muito perigosa quando tem um conteúdo de história. Assim, ela se direciona para algum propósito. Portanto, a raiva no “eu” é uma coisa muito perigosa, porque ela vai contar uma história, e a história é: “mate-a”, “mate-o”, “destrua o que lhe causa raiva”. Contudo, a raiva, em si, é uma coisa belíssima. Uma irritação nervosa é raiva, mas quando uma história cria um sentimento, que cria uma irritação nervosa, que é a raiva, essa ilusão de um “eu” presente é impulsionada a matar ou destruir aquilo que lhe provocou a raiva. A raiva não vai fazer isso.
Participante: Isso vale para o medo também?
Mestre Gualberto: Isso vale para o medo também, porque o medo é uma emoção, mas o medo como o ego conhece não é uma emoção, é uma ilusão criada por esse sentimento da imaginação que o pensamento produz. Então, o medo no ego é 99,9% das vezes pura imaginação. Um medo muito real só para o ego não tem verdade nenhuma.
Há um medo real, como uma emoção, diante de um perigo, quando o corpo se protege usando mecanismos de defesa. O objeto vem em direção aos seus olhos e os olhos fecham por medo. Um movimento de escape, de fuga. O medo pode fazer as pernas saírem correndo ou ficarem paralisadas, dependendo de como a máquina reagir diante de um perigo, mas esse é um medo natural. Contudo, há um medo criado pelo pensamento, pela imaginação; um medo com história. É o medo de andar de elevador, o medo de altura, de avião, de lugares fechados, de se casar, de se relacionar, de falar em público, e por aí vai… tudo isso é puro ego! Tudo isso são imagens que criam esse assim chamado medo.
Você não vê que coisa mais absurda é o medo da morte? Você tem que imaginar muito para ter medo da morte, tem que fazer um esforço muito grande. Agora mesmo ninguém tinha medo da morte, mas quando eu falei “medo da morte” vocês já começaram a se perguntar: “será que eu tenho?” Você tem que começar a imaginar para saber se tem. É só quem tem tempo para pensar que pode imaginar e temer a morte.
Quando a morte vem, ela é instantânea, ninguém teme, não há espaço para o medo da morte, é uma coisa fulminante. Agora, se alguém disser “você está morrendo”, a mente vai construir um pós-morte e vai criar um medo. Mas o medo da morte é uma coisa absurda, como esses medos de elevador, de altura, etc. Tudo imaginário!
Estamos falando ainda sobre a identificação com o conteúdo da mente, que tem esse aroma e esse sabor bem específicos. Quando há isso, não existe essa liberdade. Nessa desidentificação, nessa liberdade, qualquer emoção é possível, mas, sem história, ela é natural. A raiva pode ser algo assim, o medo pode ser algo assim… mas dá para contar nos dedos o que seria uma emoção no estado natural. Contudo, não dá para contar nos dedos o que significam sentimentos e emoções para essa ilusão de uma identidade presente, que é essa crença de ser alguém, esse “mim”, esse “eu”, esse ego.
É por isso que quando você está diante do Sábio, diante do Guru, diante da Presença, você não vê essa onda, você não vê esse mar cheio de ondas de emoções, de sentimentos, de sensações. Você não vê essas reações tão caóticas. Você vê emoções, mas você não vê essa coisa caótica. Essa coisa caótica é uma coisa superficial, não tem profundidade nenhuma, não é real, é algo criado pelo pensamento.
O ego vive nesse vai e vem de alegria, tristeza e dor. Com uma velocidade extraordinária sai da alegria para a tristeza, da tristeza para a raiva, da raiva para o medo, do medo para o desespero, do desespero para a ansiedade, da ansiedade para a coragem, da coragem para a ousadia… não é bem assim?
Identificado com o ego, tudo é circunstancial. O sentido de um “eu” se move circunstancialmente: o elogio o deixa alegre; uma crítica o deixa triste, com raiva, ofendido ou com vontade de matar, porque além da raiva vem a vontade de matar aquele que o feriu.
Na verdade, está tudo acontecendo aí dentro, não tem nada acontecendo lá fora. Está tudo dentro desse mesmo conteúdo, que é o conteúdo da mente. A mente se autoprovocando – sendo provocada e reagindo à provocação – procurando culpados e vivendo todos esses dramas. É um caso perdido, sem salvação. O ego é um estado miserável de uma complexidade imprestável.
*Transcrito de uma fala ocorrida em maio de 2016, num encontro presencial, na cidade de Fortaleza/CE. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

A Vida não está interessada em dar respostas para a mente

A Meditação não está presa ao tempo-espaço-pensamento-imaginação. O ego vive nesse espaço-tempo-pensamento-imaginação, porque para ele a vida é a "vida dos sentidos", o experimentar sensorialmente. Toda alegria extraída daí é essa alegria que a mente egoica transforma em prazer e vai buscar, depois, mais... e mais... e mais.
A indescritível singularidade da Meditação é a ausência desse movimento espaço-tempo-pensamento-imaginação. Meditação não exclui espaço-tempo-pensamento-imaginação. Pensamento e a Liberdade para não estar... É a liberdade de não estar preso, presa, a isso. Isso é Meditação! Eu disse, estar nela e não presa a isso, que a Meditação não é "alguém" nela. A Meditação é ela "sem alguém" e ela "sem alguém" é a liberdade dela, se expressando além da forma, do nome e além dessa alegria, que acabei de colocar, que a mente transforma em prazer.
A Iluminação não é nada místico, nada misterioso; não é nada sobrenatural. A Iluminação é só essa Liberdade, que é Meditação. Quando está presente (e ela está sempre, como Consciência... anterior ao "sempre", como Consciência), ela está quando não há mais ilusão, essa ilusão de um "alguém" nesse espaço-tempo-pensamento-imaginação.
Vocês têm alguma pergunta? Toda resposta, aqui, se faz necessária. A mente nunca vai deixar de fazer perguntas, mas a vida não está interessada em dar respostas para a mente. A vida não é um movimento circular, é um movimento de outra ordem; não é ascendente nem descendente. A vida não está interessada em dar respostas que sejam formuladas pela mente, mas sim as respostas que se fazem necessárias: as respostas da vida para a própria vida, e elas só são encontradas dentro de você!
Antes da formulação da pergunta, a resposta já está pronta. Quando você está diante do Jnani, do Sábio, está diante da Vida e ela não tem respostas para a mente, pois o próprio Jnani é a resposta da Vida. Jnani é o Sábio, que é Você, em sua Natureza Real. Toda resposta já está aí dentro e, aí dentro, não tem nenhuma pergunta... Nenhuma pergunta intelectual, mental, egoica... Nenhuma ilusória pergunta para uma resposta ilusória. O Silêncio é a resposta, porque o Silêncio é a Consciência, a Consciência é Meditação, e a Meditação é Satsang – o encontro da Verdade com a Verdade.
Se vocês querem a resposta que se faz necessária, abandonem as perguntas desnecessárias, que o pensamento facilmente constrói. Perguntas que o pensamento constrói, ele mesmo responde, mas elas são (e sempre serão) inadequadas, porque não são respostas reais e das quais você precisa; são respostas que o ego produz para perguntas que ele mesmo faz. Saber perguntar é uma coisa rara, porque isto significa saber silenciar, para se obter a resposta. Como o silêncio não pode ser forçado, todo silêncio que a própria mente produz não vai lhe dar a resposta real.
Alguns falam de aquietar a mente, mas a mente não pode ser aquietada, a não ser por ela própria. Sua quietude é tão forjada, como sua própria intenção de, assim, fazer tal coisa. Tudo isso é produzido pelo próprio ego. Quando a mente se aquieta, obtém a resposta que ela pode receber dessa própria quietude produzida por ela, e isto não sai da egoidade. Uma mente aquietada não é a resposta. A Consciência é a resposta. O Silêncio da Consciência não é uma quietude que a mente pode produzir... É o Estado Natural do próprio Ser, de sua Natureza Verdadeira, que é a Natureza do Sábio, da Verdade, de Deus; que é a Natureza da Vida e da resposta que ela É, que ela representa e nem precisa formular.
Você está aqui para despertar o Sábio que você já é, e isso já está pronto. Nenhuma quietude que a gente possa produzir será capaz de realizar Isso. Tudo o que a mente pode obter, conquistar, fazer, realizar, ainda, é parte dela. Tudo o que pode ser explicado, esclarecido, ensinado, aprendido, entendido, compreendido, ainda, é ela, que não é a verdade. A mente é um simulado, uma falsificação, algo que, como uma peça banhada a ouro, no exame cuidadoso, fica muito claro que não é ouro; é só uma aparência.
Todos podem falar sabiamente, sem ser Sábio. Somente o Sábio sabe o que é o Silêncio e o Silêncio não tem qualquer desejo de expressar palavras... palavras sábias. Está interessado em palavras, somente, aquele que aquietou sua mente e, nesta quietude da mente, encontrou respostas dadas pela própria mente. Palavras "iluminadas" são tão inúteis quanto palavras "sem nenhuma luz".
O Silêncio real não se expressa em palavras, mas pode brincar com palavras. Contudo, não são as palavras que estão sendo expressas; é o próprio silêncio real sendo expresso. Isso não é ouro de tolo, não é simulado de ouro. Isso é ouro puro, que já foi provado e testado, é real e autêntico. Realização de Deus é algo assim. Se não é assim, não é realização de Deus, não é iluminação; são somente palavras iluminadas, que não iluminam... que não iluminam!”
*Transcrito de uma fala ocorrida em maio de 2016, num encontro presencial, na cidade de Fortaleza/CE. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

O Guru é essa Consciência

Participante: Qual deve ser a relação com o Guru interior e exterior?
Mestre Gualberto: Aqui, a questão é que há uma grande dificuldade, para muitos, de aceitar essa resposta que nós temos para isso. Todos falam de um Guru interno, mas, na verdade, esse Guru interno é só mais uma crença. Esse Guru interno só é real quando ele desperta e aí está toda a dificuldade. A dificuldade é aceitar que isso só é possível através do contato com o Satguru externo.
É o Guru externo que desperta esse Guru interno. Sem o Guru externo o interno é somente uma crença, como qualquer outra crença. O que estou dizendo é que todos precisam de um Guru externo, que, na realidade, é o mesmo Guru interno. Mas esse Guru interno só desperta em razão desse Guru externo, mesmo que esse Guru externo não assuma uma forma humana, como aconteceu com o próprio Ramana, mas esse é um caso raro... esses casos são bastante raros. No caso de Ramana, a montanha de Arunachala era o seu Guru.
Aqui, toda dificuldade é que, quando nós tratamos desse assunto, podemos colocar isso do ponto de vista do Guru ou do ponto de vista do discípulo. Do ponto de vista do discípulo, existe o externo e o interno; do ponto de vista do Guru, só há o Satguru. Então, interno ou externo não aparecem mais. É bem interessante esse assunto, porque, no desejo que a mente tem de dispensar qualquer autoridade, ela vê, também, a figura do Guru como a figura de autoridade sobre ela. A natureza da mente egoica é essa natureza da arrogância. Ela assume a ilusão de poder controlar, de poder resolver sozinha. O ego acredita poder resolver sozinho, a mente acredita poder resolver sozinha essa questão. Mas a mente é basicamente inconsciência, basicamente sono; ela não tem nada, absolutamente nada a ver com o Guru, interno ou externo. O Guru é essa Consciência, essa Presença externa. Em razão de sua Graça, essa Consciência, esse Guru interno, desperta. Então, o Guru sempre será necessário. A única necessidade é exatamente esse Guru, essa Consciência, essa Presença. O trabalho é único, é um só trabalho.
Não há separação entre o Guru externo e o Guru interno, mas, do ponto de vista daquele que acredita nisso, a Presença externa do Guru é algo essencial, porque não dá para ir além da mente na própria mente. A mente não consegue investigar a própria mente. O Guru externo é essa Consciência, é essa Presença na forma, e apenas a Consciência desperta. Então, nesse contato, essa Consciência, que é o Guru na forma, desperta essa consciência do discípulo... essa mesma Consciência no discípulo. Então, o trabalho tem início e aí se pode falar de Guru interno. Antes disso é uma crença, uma bela crença, e toda crença é algo presente na mente, é parte da mente; é parte dessa inconsciência, é parte do sono – são apenas palavras, são apenas imaginações... Palavras, que são pensamentos, que são imaginações.
É como a realidade de Deus, que na mente é só um conceito, um pensamento, uma crença e, portanto, só mais uma imaginação. Deus é real em seu Ser! Deus é real, como Consciência, não como crença; como crença, é só imaginação. Assim é a questão do Guru, que é essa Consciência, que é Deus. O Guru só é real quando um trabalho está acontecendo. Quando um trabalho está acontecendo o Guru interno é real. De outra forma, é como a crença em Deus, que é só mais uma crença e uma crença não funciona.
Todos acompanham isso? Satsang significa estar em boa companhia, que é a companhia dessa Consciência, que é a companhia da Graça, que é a companhia do Guru. Se vocês, que estão nessa sala do Paltalk, pudessem resolver isso sozinhos, já teriam resolvido; não é assim que funciona. Se esse “sozinho” significasse Consciência, vocês não precisariam estar nessa sala, porque a coisa já estaria resolvida; essa questão do fim da separatividade, o fim do sentido do eu, do ego, do mim, além de todo sofrimento, conflito e toda miséria atrelada a isso, já teria sido resolvida.
A mente pode acreditar em sua capacidade de realizar Isso, mas é só uma crença, também, mais uma imaginação. Essa ação do Despertar, da Realização, é uma ação da Graça. Como uma ação da Graça, é uma ação da Consciência. Assim sendo, é uma ação de Deus, uma ação do Guru. Na Índia é muito claro isso – é o Guru quem concede esse Despertar. Hoje, há uma mensagem neo-advaita, que vai por aí, que diz que você não precisa de um Guru, que você já é o Guru. No entanto, você vê que todos aqueles que realizaram Isso, de uma forma direta, real, e que depois compartilharam essa visão real da Verdade, que alguém chamaria de Advaita, estão sempre falando da importância do Guru, orando ao Guru, fazendo cânticos para o Guru, se banhando nesta Graça do Guru, fazendo poemas para o Guru, como aconteceu com Ramana, com Nisargadatta e muitos outros.
Alguma dúvida sobre isso, ainda? Alguém tem mais alguma pergunta sobre isso? Eu gostaria de perguntar, então, a vocês: Para aqueles que estão em contato com o Guru de forma presencial, o que isso representa? Como você sente isso? Alguns, aqui, nunca estiveram em encontro presencial. O que representa estar nesse trabalho?
Na mente, nós temos a dificuldade de aceitar algo tão simples: que só há Um e esse Um é essa única Consciência, Presença, não importa se Ela se apresenta na forma de Marcos Gualberto, de Ramana Maharshi ou de Buda, essa única Realidade, Presença, porque a rendição a essa Presença é aquilo que acontece quando nos estendemos ao Guru, quando há essa rendição do “eu” ao Guru, desse “mim” ao Guru. A rendição é o abandono dessa ilusão da separação, dessa mente que julga, compara, avalia, e que está cheia de conceitos e preconceitos, medos e desejos – é isso que entregamos, que rendemos, que soltamos diante dessa única Presença. Há somente essa única Presença, que é Você em sua Natureza Real! Só tem Você! É sempre isso! Só tem Você em seu Ser, nesta sala! Não tem pessoas nesta sala.
A mente, o corpo e o mundo aparecem nesta Consciência, que é Você em seu Ser. Tudo isso são objetos, enquanto essa Consciência é a Realidade que experimenta tudo isso, que é o sujeito de todos esses objetos; Ela que experimenta tudo isso. Essa Consciência é o Guru. Nessa Consciência que experimenta tudo isso, única Consciência, só há essa Consciência.
Quando você diz "a pessoa", ou "eu", isto é apenas uma ilusão na qual acreditamos; essa crença é essa ilusão da "pessoa", do "eu". Tudo está nessa imaginação. A única realidade é essa Consciência. Esse "eu" e esse "mim" são apenas crenças, pensamentos, objetos, para essa Consciência que experimenta isso. Essa Consciência é aquilo que permanece sozinha, sem qualquer objeto; é Nela que os objetos aparecem. Esse "mim", "pessoa", é também só um objeto, um pensamento, uma imaginação.
Vamos ficar por aqui? Valeu pelo encontro. Namastê!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 27 de abril de 2016, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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