Essa nova atitude baseada na confiança nos parece muito estranha. É uma atitude não planejada ou programada, pois é algo não idealizado. Confiança é uma palavra proibida, assim como aquelas palavras feias que a gente não repete em público, porque fomos ensinados assim quando crianças. Confiança, segundo a mente, implica o perigo de ser "violentado". Então, desconfiar é a palavra de ordem.
Desconfiar de tudo e de todos, em um mundo profundamente violento, agressivo e egoísta parece ser um grande negócio. No entanto, quando a gente se aproxima de Satsang ocorre um retorno à pureza da infância. Somente se fica à vontade em Satsang quando as antigas lições são desaprendidas para dar lugar ao novo.
Reparem que coisa interessante é isso, pois nós mudamos o foco. O foco era aprender, mas agora é desaprender, que significa confiar na existência para experimentar diretamente. Apenas quando isso surge ocorre uma nova atitude baseada na confiança e na entrega, que pode ser desdobrada em uma postura de observação e experimentação direta, fazendo desvelar o lugar onde aparecem todos os milagres.
É o milagre da confiança de se confrontar consigo mesmo, com seus próprios desejos e com seus próprios medos – tudo aquilo que antes nos fazia fugir amedrontados. Esse tipo de nova atitude nos coloca vulneráveis, receptivos e abertos. Assim, nós estamos diante da possibilidade do milagre que é a constatação disso que somos, e então, nessa confiança, nos estabelecermos além do medo.
É uma confiança de ordem diferente, porque ela coloca você além dos opostos que decorrem da necessidade de agarrar-se a alguma coisa, que é meramente sentimental, emocional e intelectual. O que estamos dizendo é: não é possível essa compreensão direta daquilo que somos, se não nos abrirmos àquilo que se apresenta aqui e agora, e se não ficarmos expostos diante de nós mesmos. Precisamos compreender que é essa questão do medo que nos empurra para longe do confronto, este que dá azo à observação direta daquilo somos.
Essa fuga somente ocorre porque não há confiança. Quero convidá-los a ficarem expostos a si mesmos, a cada reação que vem do passado, a cada pensamento com sua bagagem e o respectivo sentimento com a sua resposta reativa, assim como gostaria de convidá-los a ficarem quietos, muito quietos, apenas olhando para isso.
É necessária uma enorme confiança para que essa dor que surge possa passar. Ela aparece pequena, e cresce até chegar a um pico, mas depois desce novamente. Se você faz isso, se você se permite, então, finalmente, descobre o que é confiança, ao se expor para si próprio, nesse olhar direto, quando ocorre a descoberta dessa Presença que testemunha a reação se manifestando no corpo e na mente.
Essa Presença é a testemunha intocada que é você, onde não há reação. Você não é o corpo e nem a mente; não é desejo, medo, culpa, remorso, trauma, nem a ansiedade. Você não é nada disso. Você é essa testemunha que olha, que presencia aquilo que aparece neste organismo, isso que vem e vai, enquanto você testemunha.
Nesse olhar confiante, despretensioso, aplicado, zeloso, cuidadoso, devotado, você encontra Aquilo que está além do corpo e da mente, além de todas essas reações ligadas a esse mecanismo, e assim você descobre Aquilo que não vem nunca, não vai embora nunca, não aparece, não cresce, e que não chega a um pico, depois diminui e some. Você descobre Aquilo que é Imutável.
Assim, quero convidá-los a esta profunda confiança de aceitar e não resistir, de abraçar diretamente aquilo que surge nesse exato momento, e ficar com isso. E Satsang é este espaço onde a real confiança pode florescer – na Presença da Graça do Guru; é a possibilidade da descoberta desta real confiança, para que possamos ir além da mente.
Isso é, na verdade, o fim, e ao mesmo tempo é o começo. É o alfa e o ômega.
Querido.
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