quinta-feira, 30 de maio de 2024

Advaita. Autoimagem. O observador e a coisa observada. Como lidar com pensamentos? A autocompaixão.

Nós temos, aqui, procurado mostrar para você como se torna possível essa Libertação do sofrimento. A pergunta é: “Como me livrar do sofrimento?” Ou: “Como se livrar do sofrimento?”

Primeiro, antes de tudo, precisamos compreender esse elemento em nós que se vê em sofrimento e que sustenta, naturalmente, essa autocompaixão. Quando você se vê só, abandonado, rejeitado, perde alguma coisa ou alguém, quando algo acontece e você se vê sozinho, sem saber o que fazer, esse estado, psicológico e físico, chamado sofrimento, lhe atinge.

Qual será a verdade do sofrimento presente? Por que cultivamos essa dor? Sim, nós cultivamos essa dor, porque estamos carregados dessa coisa chamada “autocompaixão”, essa pena de si mesmo, sentir dó de si mesmo. Olhar para si mesmo como alguém que está sendo vítima da vida, da existência. Então, a dor e o sofrimento estão presentes em razão dessa autocompaixão.

Será que há uma forma nova de nos aproximarmos daquilo que somos nesse momento, quando somos ‘golpeados” por essa dor? Quando você perde um ente querido, ou quando alguém foge, vai embora ou lhe rejeita, será possível olhar para si mesmo sem essa autocomiseração, sem essa autocompaixão, tomando ciência dessa dor presente e percebendo o significado dela?

Haveria alguma dor se não houvesse uma vinculação de uma imagem psicologicamente apegada àquela dada situação que lhe faz sofrer? Haveria alguma dor, algum sofrimento se não houvesse esse pensamento que você tem nesse momento sobre aquela situação, como um pensamento de rejeição, de resistência, de luta? Vamos tomar ciência disso aqui.

O pensamento presente em nós sobre o que está acontecendo, ou sobre o que aconteceu, nos coloca numa posição de resistência a esse incidente, a essa ocorrência, a essa dada situação. E quando há esse pensamento, quando há essa separação, e em nós é cultivada uma autoimagem, isso sustenta a presença da dor, a presença do sofrimento, e não haverá nenhuma possibilidade de nos livrarmos do sofrimento.

As pessoas perguntam: “Como me livrar do sofrimento? Como me livrar da ansiedade? Como lidar com pensamentos obsessivos, negativos, ruins, de tristeza?” Ao mesmo tempo que fazemos essas perguntas, não percebemos que há em nós uma imagem, uma autoimagem, que cultiva a autocompaixão, a autocomiseração.

Não haverá nenhuma possibilidade de nos libertarmos do sofrimento enquanto o pensamento não for observado. Está por detrás de tudo isso um movimento interno de pensamento, criando ideias, opiniões, avaliações, julgamentos, rejeições, lutando contra aquilo que ali se mostra, contra aquilo que ali se apresenta.

Então, contra o que ocorre ou contra o que ocorreu através do pensamento, o pensamento presente está sustentando a condição psicológica de autopiedade, de autocompaixão. Então o sofrimento está presente.

É possível termos um encontro direto, nesse instante, com a experiência? Contato direto com a experiência só se torna possível quando nós eliminamos duas coisas aqui. A primeira delas é o pensamento. A compreensão de que é o pensamento em você fazendo ideias, fazendo sugestões, é o pensamento em você pensando sobre aquilo. Então, a primeira coisa aqui é a visão do que o pensamento representa nesse instante.

O pensamento é só uma cortina entre aquilo que ali está acontecendo, ou aquilo que aconteceu, e você. Essa cortina está presente quando existe essa separação entre você e aquilo. E esse pensamento, que é essa cortina, está dando continuidade à rejeição, à resistência, à luta, contra as coisas como elas se mostram, contra os fatos como eles acontecem.

Então, a primeira coisa aqui é eliminarmos esse movimento interno, que é o movimento do pensamento. Temos que primeiro compreender o que é o pensamento. Há duas coisas. A primeira coisa aqui é o pensamento e a outra coisa aqui é o tempo.

O que é o pensamento? O pensamento é a ideia formada em nós, algo que vem do passado. O pensamento é uma lembrança, é uma memória, é uma recordação que estamos apegados, agarrados, e que queremos cultivar, que queremos sustentar. Isso faz parte da imagem que fazemos sobre o que a vida é ou sobre o que a vida deveria ser.

Esse pensamento tem a ver com a imagem sobre quem nós somos, sobre a importância que temos, o valor que trazemos, o que nós merecemos ou não merecemos. Assim, o pensamento é esse que sustenta essa autocomiseração, essa autopiedade. O pensamento é algo que vem do passado e que está sendo cultivado em nós, sustentado em nós como parte dessa imagem, que é a imagem do “eu”, desse “mim”, dessa “pessoa”.

Reparem que é nessa “pessoa”, nesse “mim”, no ego, que se sustenta o sofrimento. Perguntamos como nos livrar do sofrimento, mas nunca perguntamos o que é esse “eu” que está em sofrimento. A resposta para isso é exatamente essa que estamos dando.

Esse “eu” que está em sofrimento é uma autoimagem, uma imagem que você tem sobre quem você é, sobre o que você merece ou não merece, sobre o que a vida é ou deveria ser. Isso é o “eu”, esse “mim”. Então, a eliminação do pensamento é a eliminação do passado que sustenta essa imagem.

O outro elemento aqui é o elemento tempo, porque é nesse tempo que se sustenta a ideia da continuidade desse que está em sofrimento. Você diz: “Estou sofrendo, mas isso vai passar” ou “Estou sofrendo, mas preciso me livrar desse sofrimento”. Veja, “isso vai passar” está no futuro. “Preciso me livrar do sofrimento”: isso está no futuro. “Por que isso me aconteceu?” “Por que isso está acontecendo comigo?” Aqui nós temos o elemento do tempo.

Estamos tentando uma explicação de algo que fizemos no passado, e que o resultado disso, que fizemos no passado, está se mostrando agora, aqui, como um sofrimento nesse momento. Então nós temos esse elemento, que é o elemento tempo. É a ideia do passado. O pensamento constrói em cima dessa ideia do passado a culpa, o remorso, o arrependimento. Isso sustenta o sofrimento nesse instante. Ou a ideia do futuro: “isso vai passar” ou “amanhã estarei livre disso”.

Assim, não aprendemos a lidar com o sofrimento nesse instante, porque estamos cultivando o pensamento e cultivando o tempo. A eliminação do pensamento e a eliminação do tempo é a eliminação do sofrimento. Se você elimina o tempo e elimina o pensamento, você elimina essa autoimagem, fica diante do sofrimento.

Percebam a beleza disso. Há só o sofrimento, essa dor, esse golpe, esse sentir. Não tem “alguém” presente para, através do pensamento e do tempo, sustentar essa autoimagem.

Então, qual é a forma real de nos aproximarmos do sofrimento? Porque é só quando nos aproximamos do sofrimento, sem ideia, sem pensamento, sem julgamento, sem autojulgamento, sem resistência, sem autodefesa, sem luta, sem a tentativa de uma explicação, somente quando nos aproximamos do sofrimento como ele é – não como ele deveria ser ou que não poderia ser –, que podemos ficar livres dele.

Notem isso: “Não poderia estar acontecendo isso comigo” ou “Não podia ser assim”. Então, é o que “deveria ser” ou o que “não podia ser”. Quando nos livramos do pensamento, nos livramos de tudo isso. Então notem a relação íntima entre o pensamento e o tempo. “Não podia ter sido assim”, ou “poderia ter sido diferente”, ou “isso não poderia acontecer”: isso é pensamento, isso é tempo.

Então, pensamento e tempo dão formação a essa identidade, que é o “eu”, o ego, essa autoimagem, nesse movimento de autocompaixão, de autopiedade. O ser humano vive carregado de autopiedade, de autocompaixão. É em cima dessa autopiedade que estão presentes estados internos de angústia, de dor da solidão, de depressão, de medo, e tudo isso é sofrimento.

Notem: aquilo que sustenta todo esse sofrimento em nós é essa identidade. A identidade do “eu”, dessa “pessoa”, dessa autoimagem, e isso requer a presença do pensamento e a presença do tempo. Então, esse pensamento constrói o tempo – esse tempo psicológico –, e esse tempo psicológico sustenta o pensamento.

Como surgiu esse pensamento? É algo que vem de experiências passadas e, portanto, o pensamento também nasce do tempo. Então, o pensamento nasce do tempo e o pensamento constrói o tempo.

Então, o pensamento, que nasce do tempo, constrói a continuidade do tempo, e isso é a continuidade psicológica desse “mim”, desse “eu”, desse ego. Se temos o fim do pensamento, temos o fim do tempo, temos o fim do “eu”, do ego, e, naturalmente, temos o fim para o sofrimento.

Então, qual é a forma real de nos aproximarmos do sofrimento, de olharmos para o sofrimento? É sem o observador. Porque o observador é o pensamento, é o tempo, é a autoimagem, é o “eu”. O pensamento, o tempo, a autoimagem e o “eu” é o observador, que se separa da coisa observada. Então nós temos o observador e a coisa observada. A coisa observada é o sofrimento e o observador é o “eu”.

Podemos eliminar essa dualidade entre observador e coisa observada? A resposta para isso é: sim, quando tomamos ciência desse jogo, desse movimento que o pensamento “eu”, tempo, sustenta, que a autoimagem, que é pensamento e tempo, sustenta.

A forma de nos aproximarmos da experiência para eliminarmos o sofrimento de nossas vidas é: só há isso que está aqui. Um olhar livre do observador é só a ciência do sofrimento sem o sofredor. A ciência do sofrimento sem o sofredor é sem a autocompaixão, sem a autopiedade, é sem esse elemento que tem uma história de pensamento que ele cultiva.

Maio de 2024
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terça-feira, 28 de maio de 2024

Autoimagem e psicologia | Importância do Autoconhecimento | Lidar com pensamentos | Não Dualidade

Se tem uma coisa que nós temos feito ao longo da vida é a valorização desse modelo, que é o modelo do pensamento como nós conhecemos. Assim, a ideia que eu tenho sobre quem você é, a ideia que você faz sobre quem eu sou, é uma ideia, é uma memória que vem do passado, uma lembrança sobre quem eu acredito que você é. Você tem o mesmo de mim.

Essa autoimagem, que é a imagem que eu tenho sobre quem sou, está sempre projetando nessa relação com você aquilo que ela pretende obter dentro dessa relação. Assim, nossas ações são ações, primeiro, centradas no modelo do pensamento. Ou seja, algo que vem do passado e se introduz dentro da relação. E, além disso, esse padrão de pensamento é autointeresseiro, é autocentrado.

Então, reparem a importância de termos uma aproximação nova da compreensão da Verdade sobre nós mesmos. E estamos dando importância Real a isso dentro deste trabalho. Eu me refiro à importância do Autoconhecimento. Nós precisamos ter uma aproximação da Verdade daquilo que nós somos.

Veja, não se trata de uma autoimagem na psicologia, uma aproximação apenas teórica ou conceitual dentro da ciência da psicologia. A abordagem nossa é de uma aproximação direta, de uma forma vivencial da revelação dessa autoimagem, dentro de uma compreensão daquilo que demonstramos ser vivencialmente, na prática.

Nós abrimos mão da teoria e nos voltamos aqui para um aprendizado de como olhar isso, como tomar ciência dessa autoimagem. Notem que a não compreensão dessa autoimagem é se manter na vida sem saber lidar com os pensamentos.

Quando as pessoas perguntam como lidar com os pensamentos, elas já perceberam o problema que reside nesse movimento de condicionamento psicológico que trazemos. Alguns de nós já percebeu claramente todo o problema que consiste em uma vida centrada nessa inconsciência, nesse movimento inconsciente do pensamento. Repare, o pensamento em nós é inquieto, é tagarela, é negativo, é intruso.

Então, como lidar com os pensamentos? Porque essa qualidade de pensamento que nós conhecemos, nesse modelo de vida centrada no “eu”, no ego, para alguns de nós já ficou muito claro que há algo errado nisso. Então, enquanto não aprendermos a lidar com essa inquietude psicológica que o pensamento em nós sustenta – e lidar com isso significa exatamente por fim a essa condição –, nós continuaremos levando isso como a coisa mais natural da vida.

Todo esse movimento de pensamentos, inclusive esses pensamentos que produzem essa autoimagem, uma imagem em nós que está sempre numa relação com o outro, criando problemas, enquanto esse padrão de afirmação de memória, que é essa condição de pensamento que vem do passado, estiver conduzindo nossas ações nas relações, nossas relações serão relações conflituosas.

Essa autoimagem não é a verdade sobre quem nós somos, é aquilo que demonstramos ser, que parecemos ser, é aquilo que, na verdade, nós somos nessa ilusória identidade egocêntrica. Esse contato que tenho com você a partir dessa autoimagem, produz conflito, produz problemas. É isso que nós precisamos compreender.

Será que podemos nos livrar dessa condição psicológica de ser “alguém”? O que nós temos visto aqui, nessa investigação, nesse estudo sobre nós mesmos, são constatações de fatos que ocorrem na realidade, em nossas vidas.

O sentido de uma pessoa é um problema. A relação da pessoa com a pessoa é a relação entre duas imagens. Não há qualquer verdade presente nesse nível, porque o que temos é um encontro entre pensamentos. Pensamentos são lembranças, são memórias, algo que vem do passado. O encontro com esse instante é um encontro novo. O pensamento é aquele que, nesse instante, aparece, mas ele vem do passado.

Nessa desatenção em que nós, psicologicamente e internamente, vivemos, nessa condição de ser “alguém” na vida, no viver, na experiência, nesse momento presente, nos coloca numa condição em que nós estamos sempre ressuscitando esse passado, dando vida ao pensamento. Então, o pensamento é algo que vem do passado, e nós estamos ressuscitando isso aqui.

A imagem que eu tenho sobre você, a imagem que você tem sobre mim, se isso é ressuscitado aqui, esse encontro é um encontro entre imagens. Estamos alienados da beleza desse momento, desse instante, daquilo que aqui está ocorrendo, porque estamos trazendo esse modelo programado, condicionado de ser “alguém” para esse momento.

Então, o que nós temos feito na vida? Sustentando a continuidade do tempo psicológico. Esse tempo psicológico é esse padrão de pensamento. O pensamento em nós não é algo vivo, é algo que já foi. Ele recebe vida, ele é ressuscitado nessa inconsciência, e assim estamos dando continuidade a esse padrão de pensamento.

Assim, nossas relações não são relações vivas, são relações mortas. Não há Beleza, não há Verdade, não há Amor. Nós temos alguns momentos de carinho, de afeição, de cuidado, de trato, mas são acordos – acordos entre pensamentos, entre memórias.

O fato é que não nos conhecemos, porque não há um reconhecimento da Realidade Divina, deste Ser, deste único Ser presente, que é a Realidade de Deus, nesse instante. Porque o encontro é um encontro no ego: a imagem que eu tenho de você e a imagem que você tem de mim.

Assim, nós temos enfatizado aqui com você a importância dessa compreensão de nós mesmos, a importância do Autoconhecimento. Tomar ciência de como a mente funciona aqui, nesse instante, nesse contato, numa relação com a vida como ela acontece nesse presente momento.

Nosso contato com esse momento é de relação: relação com objetos, relação com lugares, relação com pensamentos, com emoções, com sentimentos, com pessoas. Assim, descobrir o que é lidar com o pensamento é tomar ciência do fim dessa qualidade de pensamento que dá formação a essa autoimagem.

Notem a beleza disso. Se há um estado interno aqui de tristeza, de culpa, de medo, alguma forma de sofrimento interno, nesse contato com você, isso estará presente. Reparem, esse contato é um contato, agora, a partir de uma imagem. A imagem que faço sobre quem “eu” sou nesse momento está construindo esse estado interno aqui em mim. Então, nesse contato com você, não há uma relação livre, em Paz, em Liberdade, porque o sofrimento está presente aqui.

Então, nossas relações são relações entre imagens – imagens que sofrem ou imagens que desfrutam de um ilusório senso de prazer pessoal, egocêntrico e, portanto, separatista. E, onde a separação está presente, o conflito está presente. Esta ou aquela forma de sofrimento está presente. Esta ou aquela forma de confusão está presente.

Será possível termos uma vida livre, onde um encontro Real, num nível novo, esteja acontecendo? Nesse encontro, há a presença da Realidade Divina, desse único Ser, que é a Verdade de Deus. Um encontro nesse nível é um encontro livre da separação, livre da dualidade. Então, isso é conhecido na Índia por Não dualidade. A Não dualidade, Advaita, a Não separação, o sentido de Ser Consciência, Presença, nesse momento, nesse encontro.

Aqui se trata de olharmos juntos para esta Realidade que somos, livre desse sentido de um “eu” presente na vida, no instante, no momento, dentro dessa experiência. O que temos dito para você aqui é que, sim, é possível uma vida livre dessa autoimagem, desse centro, desse “eu”, desse ego. Isso não é assunto para a psicologia, isso é assunto para cada um de nós.

Estudar a si mesmo é algo que todos nós podemos e precisamos fazer nesta vida. Tomar ciência de como o pensamento funciona, descobrir essa arte de Ser Pura Consciência. Então, lidar com os pensamentos é algo muito básico, fundamental na vida, porque a vida consiste de ações. Falar aqui é uma ação, ouvir é uma ação, tratar com o outro é uma ação. E em todas as ações o pensamento está envolvido.

Se não compreendermos claramente o que é o pensamento, como ele se processa, como lidar com isso, a vida se torna complicada, porque nossas ações são ações que, naturalmente, o pensamento está sempre presente. Podemos nos livrar desse padrão de pensamento que vem do passado e sustenta essa autoimagem que está sempre sendo ressuscitada em nossas relações?

Reparem a insanidade de tudo isso. Você é sempre alguém novo quando o sentido de ser “alguém”, aqui, não carrega essa autoimagem, quando esse sentido de ser “alguém”, aqui, esse sentido desse “eu”, aqui, não está mais presente. Então, esse encontro com você sem o sentido de “alguém” aqui é um encontro novo. Estamos falando de algo inusitado, desconhecido do pensamento, um encontro sem imagens.

O que é esse encontro? Experimente olhar para uma pessoa sem o sentido de tudo que você tem sobre ele ou sobre ela, sem toda a ideia que você tem sobre ele ou sobre ela. Experimente olhar sem esse fundo. Observe: estamos diante de um grande desafio, porque a primeira coisa que o pensamento faz é, para se estabelecer dentro da sua segurança, sustentar já uma imagem, nessa ilusão de “eu sei quem ele é”, “eu consigo reconhecer quem é ele, quem é ela”. Reparem a ilusão disso tudo.

Nós podemos estar convivendo com uma pessoa já há dez, quinze, vinte anos – como acontece num relacionamento mais próximo, íntimo. O marido não conhece a esposa e a esposa não conhece o marido. Você não conhece os filhos. Você não os conhece porque você não se conhece. Tomar ciência da autoimagem é pôr fim à autoimagem.

Precisamos estar livres dessa autoimagem, porque é ela em nós que ofende o outro, que fere o outro, que magoa o outro, que aborrece o outro, que não gosta do outro. Essa autoimagem em nós se sente magoada, se sente ferida, se sente ofendida, se sente aborrecida com ela mesma. Essa autoimagem em nós é o conflito em nossas relações com o outro, em nossas relações com nós mesmos.

Estamos trabalhando aqui o fim do “eu”, o fim do ego, isso é o Despertar da Consciência, é a Iluminação Espiritual, é o fim da ilusão de “alguém” presente dentro do viver e, naturalmente, em sofrimento. Uma vida em Amor é possível, mas ela é possível quando o ego não está.

Não sabemos o que é o Amor em nossas relações, porque nossas relações são relações onde o pensamento está imperando dentro desse padrão. O passado está sustentando nossas relações. Assim, a continuidade das nossas desavenças, das nossas contradições, dos nossos conflitos, dos nossos medos e desejos, isso está prevalecendo, não só em nosso encontro mais próximo e íntimo, como na relação em família, mas também entre nações, entre países.

A condição do ser humano no mundo, na vida, é uma condição de confusão, de sofrimento, de desordem. Podemos ir além disso? Podemos descobrir a Verdade da Realidade Divina presente para uma Vida Real, Feliz, Livre, carregada desta Presença, deste Perfume, onde a Compaixão, a Compreensão, a Inteligência estejam presentes?

Descobrir como você funciona é Autoconhecimento. Tomar ciência do fim da separação, da dualidade entre “eu” e o “não eu”, isso é conhecido por Advaita, a Não dualidade, o fim dessa ilusão, desse sentido de “alguém” presente na vida, na experiência. É a realidade deste ser, que é a consciência, Felicidade, é a Natureza Divina.

Maio de 2024
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quinta-feira, 23 de maio de 2024

As questões fundamentais da vida | O que é a vida? | Inquietude interna | Pensamento egocêntrico

Aqui nós não temos nenhum outro propósito além de tomarmos ciência da Verdade sobre quem nós somos. Porque é essa Verdade sobre quem nós somos que nos liberta da ilusão dessa crença sobre quem nós somos. Então, veja, há duas coisas aqui.

Primeiro, nós temos uma crença sobre quem nós somos. Nós não temos a Verdade sobre quem nós somos. Tomar ciência da Verdade sobre quem nós somos quebra completamente essa ilusão psicológica que o pensamento tem produzido em nós sobre quem somos.

Nós fazemos uma ideia, uma imagem, um quadro sobre quem nós somos, mas não entramos em contato direto sobre quem nós somos de verdade. E nós fazemos isso porque esse sentido do “eu” em nós sempre se protege, ele coloca uma máscara quando olha para si mesmo – ele coloca a máscara que ele gostaria de ter, que ele gostaria de ser, que ele deseja ter dele mesmo.

Nós temos uma visão completamente equivocada sobre quem nós somos. A Verdade daquilo que nós somos – e olhando de uma forma muito clara, iremos perceber – é medo, inveja, ciúmes, raiva, ignorância. É isso que nós somos.

Para nos proteger disso que nós somos, nós temos uma imagem de autoapreciação. É a tentativa de não sofrermos tanto com aquilo que somos. Existem algumas coisas aqui que nós precisamos ver, precisamos investigar.

O ser humano fala de autoestima e de baixa estima. O que temos feito na vida é só criar imagens de nós mesmos para nos protegermos de toda essa confusão psicológica em que nós nos encontramos, para nos protegermos de termos um contato direto com isso que nós somos.

Mas aqui eu tenho uma notícia muito boa para você: isso que nós somos, assim como isso que desejamos ser ou queremos parecer ser para nós mesmos, tanto uma coisa quanto a outra são ilusões.

Há uma Real Verdade de ser em nós. Não é o que nós somos, é a Realidade deste Ser que trazemos, do qual não temos acesso nem à mínima compreensão do significado disso. A significação disso nós desconhecemos. Desconhecemos porque não conhecemos a nós mesmos.

Primeiro temos que entrar em contato direto com isso que nós somos, temos que nos despir dessa máscara que fazemos sobre nós, tendo um contato direto com aquilo que, de verdade, nós somos, para irmos além disso. Isso é algo fundamental para aquele que está, nesta vida, se perguntando: “Há realmente alguma coisa além de tudo isso?”

Será que a vida consiste apenas nisso: a gente cresce, se torna adulto, encontra uma profissão, trabalha, constitui família, adquire alguns bens e depois de alguns poucos anos, através de uma doença, da velhice ou de um acidente, alguma coisa ocorre e a morte acontece? Será isso a vida? A vida consiste nisso?

Observe em você: há um estado interno de incompletude, de insatisfação. Há uma pergunta que ainda não foi respondida. A pergunta é: o que é a vida? Quem sou eu? Qual é a verdade? Qual é o significado para tudo isso? Nós não temos nenhuma resposta.

O ser humano, ao longo de toda a história da humanidade, vem procurando uma resposta para essas questões fundamentais da vida. O ser humano vem buscando, pela filosofia, na teologia, no conhecimento, em toda forma de experiência, de história da humanidade. A gente busca na história humana, busca na filosofia, busca na espiritualidade, busca na teologia.

Nós criamos diversos sistemas de crenças na tentativa de encontrarmos uma resposta para tudo isso, porque há dentro do ser humano essa incompletude, essa insatisfação. Aqui, a única coisa que temos real interesse em trabalhar com você é exatamente encontrarmos o fim para essa condição antiga, velha, problemática, não resolvida, que todo ser humano tem nessa “não resposta”.

Nós estamos aqui trabalhando, procurando juntos descobrir a Verdade sobre tudo isso, a Verdade sobre quem realmente nós somos, e qual é o significado da vida, qual é a verdade daquilo que estamos procurando, além de tudo aquilo que nós já buscamos em todo esse antigo e velho movimento, que é o movimento da “pessoa”, que é o movimento do “eu”, do ego.

Todo o nosso empenho aqui consiste nessa investigação. Investigar o movimento do pensamento, do sentimento, da sensação, do modo de sentir e reagir à vida, a tudo o que a vida representa, ter uma aproximação nesse olhar para nós mesmos.

Aqui nós temos algo para lhe dizer: sim, é possível essa constatação desta Realidade deste Ser. Este Ser é Consciência, é Felicidade, é Liberdade. Este Ser é a Verdade Divina, é a Verdade de Deus. Este Ser está presente neste instante.

Tudo o que nós precisamos é descartar essa ilusão desse ideal de ser, que é essa máscara, que é essa ideia que fazemos sobre quem nós somos, e descartar, também, essa “verdade de ser” que está por detrás dessa máscara. Precisamos nos livrar desse sentido desse “ser alguém”, porque é neste “ser alguém” que está o problema, o sofrimento, o conflito, a contradição, o medo, a inveja, o ciúme, a raiva, a ilusão da autoimagem.

Percebam claramente isso. O que você tem sobre quem você é é uma ideia, é uma imagem que você protege, que você defende. Na prática, vivencialmente, existencialmente, você é o que você é. Mas sempre estamos produzindo uma ideia, uma imagem do que desejamos ser, do que precisamos ser, do que devemos parecer ser para o mundo à nossa volta.

A Verdade do Autoconhecimento é ter uma aproximação do estudar a si próprio. Ao se tornar ciente desse centro que é o “eu”, o ego, podemos descartar essa ilusão, e assim podemos tomar ciência da Verdade de Ser, que é Consciência, que é Felicidade, que é Amor, que é Paz. Isso requer uma aproximação de si mesmo que nós não temos tido até esse dado momento.

Precisamos abandonar por completo todas essas distrações em que o nosso “eu”, o nosso ego, essa “pessoa” que nós somos, ou apresentamos ser, está envolvida. Aqui temos esse propósito.

Observe sua mente funcionando, toda essa inquietude interna de pensamentos. Somos psicologicamente – isso é o que somos no “eu”, no ego – inquietos. Temos um movimento de pensamento tagarela. Nós não estamos cônscios do pensamento, cientes do pensamento.

Os pensamentos funcionam, mas nós não sabemos como. Eles estão nos dando sugestões para ações, comportamentos, para essa apresentação de linguagem que tenho com ele ou com ela. Isso está dentro de nossas relações sociais, profissionais, familiares.

O pensamento é algo que está presente nessa relação com nós mesmos. A exemplo disso temos essas imagens que fazemos sobre quem nós somos, temos as imagens que fazemos sobre quem o outro é. Essa é uma outra forma de distorção da realidade.

Assim como nós não nos conhecemos, não conhecemos quem o outro é. O ponto aqui é que nós não temos como evitar as relações. E essas relações estão assentadas nessas imagens, que são ilusórias, porque são criadas pelo pensamento, e o pensamento é uma ilusão dentro de cada um de nós.

Reparem, o pensamento é só uma memória, uma lembrança, uma predisposição em nós, egoica, egocêntrica, de formar imagens, de aceitar ou rejeitar, de escolher. Os pensamentos são preconceitos, são conceitos sociais. Nós adquirimos isso da cultura.

Eu não estou me referindo aqui ao pensamento técnico, funcional. A lembrança técnica, funcional, essa lembrança simples é algo muito natural. Se lembrar do seu endereço, do seu nome, do rosto de alguém, isso é pensamento.

Aqui eu me refiro a esse modelo de pensamento egoico, egocêntrico, preconceituoso, que se baseia em conceitos de cultura, de sociedade, de ideias fantasiosas. Aqui eu me refiro a esse padrão de pensamento egocêntrico, no qual eu tenho minhas predileções e você tem as suas, eu tenho minhas ideias e você tem as suas, e isso nos separa, nos divide.

Esse modelo de pensamento é um modelo de pensamento psicológico, que cria conflito, que sustenta o conflito em nossas relações, porque são modelos de pensamento centrados no “eu”, no ego. Então, esses complexos pensamentos do “eu”, do ego, estão sempre produzindo sofrimento, porque estão falseando a Realidade.

Nesse contato com você, se você me agrada, eu gosto de você, se você me desagrada, eu não gosto de você: isso se baseia nesse modelo de pensamento psicológico, onde tem o “eu”, o ego, como centro dessas experiências. Esse “mim”, esse “eu”, esse centro, esse ego, é algo dispensável.

A desordem na humanidade, o sofrimento humano, toda a confusão em que nós nos envolvemos e que estamos dando continuidade na vida, em nossas relações, tudo isso está se sustentando nesse padrão. Esse é um padrão de condicionamento egoico, de condicionamento mental, de condicionamento psicológico.

Tomar ciência disso é poder descartar essa condição psicológica de ser “alguém”, para uma vida, aqui e agora, livre desse “eu”, desse ego, livre daquilo que sou aqui, daquilo que pareço ser, daquilo que demonstro ser, daquilo que almejo ser, para a Real Vida de simplesmente Ser Consciência, Inteligência, Felicidade, Amor, Deus nas relações.

Essa é a Verdade deste Ser, é a Verdade Divina, que está presente quando o ego não está, quando esse centro ilusório, que é esse “mim”, não está. Então, a ciência da Verdade deste Ser é o fim dessa condição psicológica, desse “eu sou”, desse “eu serei", desse “eu fui”.

Esse “eu fui, eu sou e eu serei” está dentro desse modelo de ilusória identidade. Há algo além disso, que está fora desse aspecto do pensamento, do sentimento e da emoção centrada nesse ego. É a Realidade Divina, que é a presença do Desconhecido.

A Verdade Divina, a Verdade de Deus, não está nesse campo do conhecido, não está nesse modelo daquilo que o pensamento identifica a partir desse centro. Então, uma Vida Divina é uma Vida livre do passado, livre dessa ilusão desse “eu”, que é o ego, no presente, e desse “mim”, desse ego, desse “eu”, nesse sonho de vir a ser no futuro. Temos, assim, o fim do tempo psicológico, do tempo dessa identidade egoica, porque é o tempo psicológico, porque é o tempo do pensamento, é o tempo das imagens que o pensamento constrói.

Abril de 2024
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terça-feira, 21 de maio de 2024

O observador e a coisa observada. Fugas psicológicas. Observar sem o observador. O Autoconhecimento.

Aqui o propósito é trazer uma Real clareza a respeito da vida – a vida que nós levamos, a vida que nós conhecemos, a vida na qual nós estamos situados dentro dela. Nós precisamos ter uma clareza a respeito do significado de tudo isso.

É comum em nós uma insatisfação. O ser humano carrega dentro de si um estado interno de insatisfação, e essa insatisfação tem diversas expressões particulares para cada um, no entanto, elas sempre estão presentes; e há toda uma busca, há toda uma procura para o fim dessa insatisfação. E aqui eu quero tratar com você dessa inutilidade dessa busca, dessa procura.

Isso pode soar estranho para você, porque nós fomos educados, dentro da nossa cultura, dentro da nossa sociedade, dentro do nosso mundo – isso é um condicionamento psicológico que trazemos –, a buscar uma solução para o fim dessa insatisfação, realizando coisas.

Como o modelo de realizações que nós conhecemos, na esfera física, material, profissional ou em diversas outras áreas conhecidas por nós, é pelo esforço, nós acreditamos que pelo esforço, um dia iremos colocar um fim para essa condição interna, psicológica, de sofrimento interno, de sofrimento psicológico, iremos colocar um fim para essa insatisfação.

O que estamos dizendo aqui é que essa insatisfação está presente em razão desse fundo psicológico de inadequação, de inabilidade, de incapacidade de lidar com a vida. Então, enquanto estivermos mantendo para nós mesmos um modo de perceber a vida, o mundo, o outro, a nós mesmos dentro desse princípio de condicionamento psicológico, de abordagem psicológica de existência, essa insatisfação continuará presente.

E essa insatisfação é aquilo que para A, B ou C tem um significado específico, tem um determinado significado. Uns falam de dor da solidão, outros falam de angústia, de dor existencial, depressão, síndromes, medos. Cada um tem um modo de se aproximar nessa insatisfação de si mesmo. E uma coisa que temos feito é dar nomes a esses estados internos. Na verdade, são estados internos de infelicidade, de incompletude.

E por que isso está presente? Esse é o nosso empenho aqui, é o nosso interesse aqui com você, aprofundar isso, descobrir a Real possibilidade de uma vida livre de sofrimento psicológico. Isso significa uma vida livre de toda forma de condicionamento psicológico. Então, o que é esse condicionamento que sustenta esse sofrimento? É o modelo da estrutura psicológica social em que nós nos encontramos.

Aprendemos com os nossos pais, avós, bisavós – com aqueles que chegaram antes de nós – a vida pelo esforço, o esforço para alcançar algo, para obter algo. Esforço pressupõe sempre o desejo de obter, de alcançar. Estamos insatisfeitos agora, com o que somos. Não estamos investigando isso que somos, mas temos um ideal, uma projeção, um objetivo. Esse objetivo é para alcançar, pelo esforço, algo diferente do que nós temos aqui.

O que temos procurado investigar com você aqui é o valor da compreensão da insatisfação. Compreender a insatisfação nesse instante é lidar com esse estado de insatisfação nesse momento. Reparem: é nesse momento que você pode lidar com a dor, não depois que a dor não está, não antes da dor chegar. É quando a dor está presente que podemos lidar com a dor, mas não temos feito isso.

A forma de lidar com o sofrimento é completamente equivocada, porque, culturalmente, aprendemos a fugir do sofrimento, a escapar daquilo que nos faz sofrer nesse instante. Então nós substituímos isso, que é essa dor, esse sofrimento, por alguma coisa que possa nos consolar, nos confortar, nos fazer, temporariamente, esquecer da dor.

Parece que estamos livres da dor, mas, na verdade, estamos apenas como que anestesiados dela. Então, não há dor no momento, porque estamos esquecidos de nós mesmos, e fazemos isso como um mecanismo, como uma estratégia, como uma forma de lidar com a dor – uma forma equivocada de lidarmos com esse sofrimento, com essa insatisfação.

As pessoas se envolvem com todas as formas de fugas psicológicas. São alternativas para esquecerem delas mesmas, em razão da dor, da insatisfação, desse sofrimento se manifestando nesse momento. Então, é pelo esforço que queremos alcançar alguma coisa diferente disso. Nós não nos aproximamos, por exemplo, do sofrimento da inveja.

É curioso o nosso comportamento. Estamos preocupados com a inveja que outros têm de nós. Não percebemos que a inveja é algo presente nesse modelo psicológico de ser “alguém”. Esse ser humano que nós somos é invejoso. Você diz: “Não, eu não sinto inveja”. Olhe de perto isso e você irá perceber que, como qualquer ser humano, psicologicamente – a não ser que você realmente esteja livre desse sentido do “eu”, do ego –, você carrega inveja.

Então, a inveja que os outros têm de mim e a inveja que eu tenho dos outros é, basicamente, sofrimento. Não sabemos olhar para isso aqui, neste instante. Isso é causa de sofrimento psicológico, de insatisfação. Assim, o pensamento tem opiniões sobre isso, ideias sobre isso e cria um ideal no futuro para se livrar dessa condição psicológica.

Nós acreditamos que é pelo esforço que iremos alcançar o propósito de estarmos livres dessa inveja que sentimos e dessa dor, também da inveja, que o outro causa para mim, para esse “eu”, para esse ego. Queremos nos livrar da inveja que o outro sente de mim e queremos nos livrar da inveja que eu sinto do outro através de uma ideia, através de um propósito, através de um objetivo, através de um esforço. Então nós traçamos, porque temos ideias sobre isso, um ideal de liberdade da inveja ou do ciúme.

A dor está aqui, mas “um dia estarei livre do ciúme”, vou me esforçar para isso”. “Eu sinto raiva, mas um dia estarei livre da raiva, vou me esforçar para isso”. Aqui nós precisamos descobrir como lidar com esse estado nesse instante, nesse momento; com o sofrimento agora, com a insatisfação agora. É isso que temos falado aqui com você, é isso que temos explorado com você.

Descobrir como nós funcionamos nesse momento é o grande segredo de ir além dessa psicológica condição de condicionamento interno, de sofrimento, de medo, de inveja, de ciúme, a questão da raiva, da insatisfação. Tudo isso que nós somos agora, aqui, tomar ciência disso, ter uma aproximação pelo Autoconhecimento, reconhecer isso sem esforço. Não se trata de querer fazer algo com isso que surge, mas apenas tomar ciência disso.

Reparem como é importante ter uma aproximação nova desses aspectos psicológicos que dão essa insatisfação, que trazem essa insatisfação, que provocam essa insatisfação em nós, essa dor em nós, esse sofrimento em nós. Lidar com isso agora, lidar com isso de forma Real é olhar, não com o ideal de se tornar diferente, de se livrar no futuro, de obter amanhã uma condição nova para isso; é agora.

A pergunta é: como olhar para isso? Em geral, estamos vendo isso em nós, mas não estamos olhando isso. Há uma diferença entre ver e olhar. Você vê a partir de uma ideia, de uma crença, de um conceito. Você vê a partir de uma opinião, de um gostar ou não gostar daquilo que está enxergando em si mesmo. Essa é a forma comum que temos de ver aquilo que se passa em nós: nós estamos vendo. Esse enxergar não é olhar.

Estamos enxergando, estamos vendo e sofrendo com isso, porque queremos fazer algo, porque temos um ideal diferente desse para nós mesmos. “Eu não posso ser invejoso, eu não posso ser ciumento, eu não posso ser ambicioso ou avarento – religiosamente isso está errado. Isso não é ser espiritual, isso não é uma coisa moral”.

Nós temos um olhar que não é um olhar claro, é só um ver, um enxergar a partir de um conceito, de uma ideia, de um modelo dentro de uma formação cultural de condenação, de rejeição. Então estamos sempre vendo com condenação, com rejeição ou com aprovação.

Ou nós condenamos o que estamos vendo em nós ou justificamos. Algumas pessoas justificam sua agressão, sua violência, justificam essas formas de desejos e medos; outras pessoas condenam isso nelas mesmas, e tudo isso é cultural, é algo aprendido dentro da visão cultural, religiosa, filosófica, espiritualista, psicológica.

Estamos sempre olhando sem, na verdade, tomar ciência do que é um olhar claro, porque estamos sempre enxergando a partir desse ver. É como quando coloco um óculos e olho para alguma coisa: se o óculos é colorido, aquilo me parece daquela cor que o óculos, que as lentes do óculos apresentam.

Nós temos uma forma específica de aproximação da vida totalmente equivocada. É possível olhar, e esse olhar é esse observar sem o observador. É possível olhar, e esse olhar, notem, é um olhar onde o “eu”, o ego, esse “mim”, esse observador não entra. Então, é possível tomarmos ciência pelo olhar sem “alguém” envolvido nisso. Não se trata de ver, de enxergar, condenando, rejeitando. Aqui se trata de olhar sem o “eu”.

Quando você olha sem o “eu”, há um olhar sem esse “você”, e quando esse olhar está presente, algo novo acontece. Se entro em um contato direto com a inveja, sem esse “eu”, esse elemento que quer se livrar da inveja ou quer justificar a inveja, não entra. Então uma visão clara se mostra dessa condição psicológica, que é um mero condicionamento que vem do passado, que é uma memória, é só uma experiência sendo constatada sem o observador, sem o “eu”, sem o ego.

Essa é a aproximação da Meditação, que é Autoconhecimento, porque revela a natureza ilusória desse centro, que é o “eu”, o ego. Só podemos lidar com isso nesse instante, nesse momento; não é antes, não é depois. Então, o que nós precisamos na vida? Precisamos descobrir como ter uma aproximação de nós mesmos, e isso é Autoconhecimento. Essa é uma aproximação da Verdade sobre a Meditação.

A Verdadeira Meditação é agora, aqui, neste instante. Você não reserva um momento para observar a mente. A observação da mente requer a presença de um olhar livre do observador. Isso não tem nada a ver com a postura do corpo e com um momento específico para meditar, mas é agora, momento a momento, quando você se torna ciente do pensador, ciente que o pensamento é o pensador, quando você se torna ciente do sofredor percebendo que esse sofredor é o próprio sofrimento, quando você se torna ciente do invejoso sabendo, de imediato, que esse invejoso é a própria inveja, não há nenhuma separação.

E quando não há nenhuma separação entre o observador e a coisa observada, o invejoso e a inveja, o ciúme e o enciumado, quando não existe mais essa separação, porque há esse olhar, esse simples e direto olhar, essa condição psicológica se desfaz. Isso é o fim para a insatisfação, isso é o fim para o sofrimento, isso é o fim para o medo. Algo novo surge. Esse Algo novo está presente em razão do florescer da Real Meditação.

Ter uma aproximação dessa na vida é ter uma compreensão da beleza da vida, sem esse centro, que é o “eu”, o ego. Não há insatisfação, não há sofrimento. Esse é o nosso trabalho, essa é a nossa proposta aqui para você.

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quinta-feira, 16 de maio de 2024

Advaita Vedanta. Observador e coisa observada. Como lidar com os pensamentos? Pensamentos obsessivos

Vamos tratar com você do fim dessa ilusão da separação. Algo presente dentro de cada um de nós está sustentando toda essa complicação de vida que estamos tendo, que estamos levando.

As pessoas querem se livrar do sofrimento. Elas perguntam: "Como me livrar do sofrimento?" Elas querem se livrar dos pensamentos que geram preocupações, problemas, desordem emocional, como angústia, ansiedade, depressão. Então elas perguntam: “Como lidar com os pensamentos?". Elas querem lidar com os pensamentos porque querem se livrar dessa qualidade de pensamento.

Então, vamos ter aqui uma aproximação dessa questão do fim desse movimento interno psicológico em nós, de separação, de dualidade. Essa dualidade psicológica, os Sábios na Índia chamam de dvaita. Esse sentido de separação criado e sustentado pelo pensamento em nós: a separação entre o observador e a coisa observada.

Essa coisa observada pode ser pensamentos aflitivos, conflituosos; essa coisa observada pode ser o sofrimento, pode ser o medo, pode ser este ou aquele problema. E esse observador é esse centro, que é o “eu”, o ego, esse sentido de “pessoa” presente, que está com o problema.

Então, vamos investigar com você aqui o fim para essa condição psicológica de dualidade, de dvaita. Quando ocorre o fim para essa dualidade, nós temos o Advaita, a Não dualidade. Isso é direto dos Vedas, das escrituras dos Sábios Indianos.

Mas deixando de lado todo conceito e ideia, deixando de lado as palavras, as expressões, como "Advaita” – direto da Vedanta –, deixando de lado essas expressões, podemos ir diretamente a uma compreensão Real do significado disso, aqui, neste instante. E, assim, podemos tomar ciência do fim dessa separação.

Então temos o fim para os problemas, porque temos o fim desse sentido de um “eu”, de um ego, de uma identidade que se separa para sustentar o problema. É isso mesmo que estamos dizendo: o problema é sustentado quando existe essa separação.

A vida é como ela é. Não há problema na vida. A vida tem uma forma de expressão enigmática, estranha, misteriosa, indescritível, mas essa é a perspectiva do pensamento sobre a vida.

A vida é como ela é. Mas nós temos esse elemento, que é o elemento “eu” presente, que ao se deparar com a vida como ela é, com os desafios que ela representa, esse sentido de um “eu” se vê ameaçado, se vê desafiado, se vê com problema, porque ele se vê como uma entidade separada.

Será que podemos eliminar essa separação? Entre dois objetos nós temos um espaço. Será possível eliminarmos esse espaço? Quando nós eliminamos esse espaço, não significa, necessariamente, que os objetos desaparecem. Eles podem continuar presentes, mas sem um espaço.

Há uma qualidade de espaço inteiramente nova, um espaço inteiramente indescritível quando a vida está acontecendo, e há uma relação entre duas coisas, e temos a presença desse novo espaço. Então nós temos uma relação nova.

Entre eu e você é possível, sim, uma relação sem a ilusão de uma identidade aqui, sem a ilusão de uma identidade aí. Esse contato, nesse novo espaço, é o contato da Não dualidade, da Não separação. Então não há problema, não há sofrimento, não há medo, não há essas aflições criadas pelo pensamento.

É isso que estamos tratando aqui com você, lhe mostrando que é possível, sim, uma vida livre dessa dualidade, dessa separação. Uma vida assim tem o perfume, a beleza da presença da Verdade de Deus, carrega esse perfume do Amor nas relações. Então essas duas coisas não são exatamente duas coisas, temos uma única realidade presente. As formas são diferentes, mas a Realidade é única.

Nós desconhecemos isso. E é natural que seja assim, porque aqui estamos tratando com você de Algo Desconhecido, que é possível para a sua vida, mas é desconhecido desse modelo do pensamento, como você funciona, como nós aprendemos a funcionar aí fora, onde existe esse “eu” como uma entidade separada desse “você”.

Percebam a beleza do que estamos colocando aqui. Ao estar, por exemplo, diante de uma flor, você vê no jardim uma flor, ou uma árvore no campo, ao presenciar uma cena da natureza, como um pássaro em vôo, não há qualquer separação entre esse olhar e aquele pássaro, e aquela árvore no campo, e aquela flor no jardim. Não há qualquer separação. Por dois ou três segundos, não há um outro espaço, a não ser esse espaço da Não dualidade.

Veja, você não se transformou na flor, nem naquela árvore, nem naquele pássaro. Há uma aparente separação das formas, mas, psicologicamente, não existe separação. Por dois ou três segundos, esse é um instante de Beleza, de Quietude, de Graça.

O ego não está. Não há qualquer preocupação psicológica, qualquer aflição, qualquer sofrimento. Não há pensamentos negativos, não há pensamentos repetitivos, obsessivos. Por dois, três segundos, não existe dualidade. Temos a presença da Advaita, da Não separação.

Todos nós sabemos, já vivenciamos, já experimentamos isso. É claro que agora isso é só uma lembrança de algo pelo qual você passou. Na verdade, você não passou por isso. O que você tem nesse instante é uma memória, uma lembrança, uma imaginação do que, de verdade, ocorreu naqueles três segundos, porque nem disso você pode ter uma memória clara desses três segundos.

Você sabe que havia algo ali; esse Algo era indescritível, era o Silêncio, a Beleza, o encanto, a ausência do “mim”, do “eu”, do ego. Então, o que você tem agora, aqui, é uma lembrança.

O pensamento está procurando, de novo, tentar apreender ou compreender aqueles três segundos. Ele não estava lá. Então, a lembrança que você tem é que aconteceu algo.

Reparem, isso ocorre todos os dias conosco, mas não percebemos a importância desses instantes. Esses instantes estão sinalizando a presença de Algo fora do ego, fora dessa dualidade, fora dessa separação, fora do “eu”, fora do ego.

Então, para a pergunta: "Como me livrar do sofrimento?". Eliminando a ilusão da dualidade, da separação, desse “mim”, desse “eu”, desse ego. É algo Real isso. Se torna possível agora, aqui, quando você descobre a arte do Autoconhecimento, a ciência da Real Meditação.

O Autoconhecimento é o esvaziamento desse conteúdo psicológico de uma identidade presente. É esse conteúdo psicológico que sustenta essa dualidade, essa separação, porque existe a ilusão de um pensador por detrás da lembrança, da memória, do pensamento, da sensação, da experiência. Então, é a ilusão desse pensador que sustenta a dualidade.

Qual é a Verdade do Autoconhecimento? Não o que alguns chamam aí fora de “autoconhecimento”. E qual é a Verdade da Real Meditação? Mais uma vez, não aquilo que alguns chamam de “meditação” aí fora. Aqui não se trata de uma prática de meditação, de uma técnica, de um sistema de meditação, mas a ciência da Verdade agora, aqui, da ausência da dualidade, da ciência do movimento de separação entre pensamento e pensador, entre o observador e a coisa observada.

A verdade sobre isso, o fim da ilusão entre o observador e a coisa observada, entre o pensador e o pensamento, traz o esvaziamento de todo esse conteúdo psicológico dessa egoidentidade. Então temos a ciência do fim para o sofrimento, para esse sofrimento do “eu”, do ego.

Ter uma aproximação da Verdade do seu Ser é ter uma aproximação do Silêncio, da Liberdade, do Amor, da Paz, de sua Natureza Divina, de sua Natureza Essencial. A expressão aqui é Advaita, a Não separação, a Não dualidade.

Então, na Vedanta, nos livros sagrados indianos, os Sábios já tratam disso há milênios, desta verdadeira possibilidade para cada um de nós de uma vida, de uma existência, sem esse “mim”, sem esse “eu”, sem o ego.

Então, quando alguém quer se livrar do sofrimento, não compreende que esse “alguém”, como não há separação entre o observador e a coisa observada, uma vez que essa coisa observada é o sofrimento, e esse observador é aquele que sofre, que é o sofredor, uma vez que não existe qualquer separação entre sofrimento e sofredor, não há separação entre aquele que sofre e o sofrimento: os dois estão juntos.

Você não pode separar o sofrimento daquele que sofre, porque quando não há sofrimento, não existe “alguém” sofrendo. Quando não há pensamento, não existe “alguém” pensando. Então, quando há pensamento, o pensador está presente. Quando há sofrimento, o sofredor está presente. Então, não existe essa separação.

Já que não existe essa separação, quando há o fim para esse centro, que é o “eu”, o observador, a coisa observada se dissolve. Esse observador é aquele que sofre, é o sofredor, e a coisa observada é o sofrimento.

Olhe para si mesmo e você irá perceber que o sofrimento presente em você está presente em razão do pensamento. Quando você tem a lembrança de algo que perdeu, você tem o sofrimento. Sem a lembrança de algo que perdeu, nada foi perdido, porque “alguém” não está presente, esse “mim” não está presente. Não há “alguém” presente sem a lembrança. Não pode haver o pensador sem o pensamento.

Percebam como tudo isso é simples, mas ao mesmo tempo é bastante delicado, porque o vício do pensamento em você está sustentando o pensador e, portanto, sustentando o sofrimento.

Então, é o vício do pensamento em você que está sustentando todo esse problema de sofrimento criado pelo pensamento – pensamentos intrusos, pensamentos obsessivos, pensamentos ruins, pensamentos negativos.

“Como me livrar dos pensamentos negativos, ruins, obsessivos?” A angústia é sustentada pelo pensamento. A ansiedade é sustentada pelo pensamento. “Como me livrar da ansiedade?” Ansiedade é pensamento. O pensamento cria e sustenta o futuro, então ele sustenta a ansiedade. Ele cria e sustenta o futuro, então ele sustenta o medo.

Se há medo, é porque o pensamento está produzindo o futuro. É o pensamento que está me falando de algo que pode vir a acontecer que eu não quero. O que é esse “eu”? É o pensador. Mas esse pensador já é o pensamento.

Investigar tudo isso é fundamental para o fim do sofrimento, para o fim da ansiedade, para o fim da depressão, da angústia, e de todos esses problemas ligados à ilusória identidade presente.

Então, o nosso trabalho aqui consiste nessa investigação, nessa descoberta, nessa constatação. Nós temos trabalhado com você isso aqui. Estamos propondo para você um trabalho direto para que, nesta vida, você realize seu Natural Estado de Ser de Pura Consciência, para que você viva nesta vida neste Despertar, neste Florescer de Presença, de Consciência.

Abril de 2024
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terça-feira, 14 de maio de 2024

O Autoconhecimento Supremo | A importância do Autoconhecimento | O Autoconhecimento na prática

Aqui o nosso enfoque está na compreensão da Realidade Divina, da Realidade deste Ser, deste Supremo Ser. Nós temos que fazer uso, naturalmente, de palavras, mas estamos tratando de algo que está fora da mente. Assim sendo, estamos colocando aqui para você algo que o pensamento não pode alcançar.

A única forma de nos aproximarmos disso, de maneira Real, é pelo Autoconhecimento. Então, o Autoconhecimento é a única forma. Essa é a única forma de aproximação da Realidade sobre quem nós somos. Essa aproximação é algo fundamental para as nossas vidas.

Assim, estamos tratando da importância do Autoconhecimento. Essa ciência do Autoconhecimento, essa Revelação do Autoconhecimento, essa compreensão daquilo que nós somos, revela essa Realidade além da mente, além desse sentido de um “eu” presente, uma vez que esse “eu” é o experimentador das experiências e é aquele que se situa dentro de um tempo que o pensamento tem criado, tem estruturado para a sua própria autoidentidade.

Então repare como é delicado tudo isso. O pensamento tem construído um tempo, estabelecido um determinado tempo para si mesmo. A ideia no pensamento é de passado, presente e futuro. É aqui que o pensamento situa essa identidade, essa particular identidade que nós acreditamos ser. Então, esse é o sentido do “eu” presente, desse “mim”, desse ego.

O ponto aqui é que só podemos ter uma aproximação da Verdade de uma forma prática. Então, o Autoconhecimento é na prática. Tomar ciência da Realidade do seu Ser, de sua Realidade Divina, é o Autoconhecimento Supremo.

Então, repare, não estamos tratando com você aqui da forma comum dessa expressão. De uma forma comum, essa expressão “autoconhecimento” é usada em diversos sentidos aí fora, e nós aqui estamos dando a esta expressão um sentido bem particular, bem peculiar, bem único: é a aproximação da investigação da natureza do pensamento.

O que é o pensamento? Qual é a natureza do pensamento? Qual é a estrutura do pensamento? O que é que o pensamento estrutura senão essa identidade, que é o “eu”? Então, a ideia que você tem sobre você é um pensamento. Esse pensamento tem no “eu”, no pensador, a ideia de uma entidade presente. Então, essa ideia é o próprio pensamento; esse pensamento é o próprio “eu"; esse “eu” é o próprio pensador.

Veja, é assim que nós nos situamos nessa condição psicológica de ser “alguém”, nesse passado, presente e futuro. A investigação dessa compreensão, que é a Verdade do Autoconhecimento na prática, vejam como é muito significativo isso, de grande relevância para todos nós.

Colocarmos a importância do Autoconhecimento para a compreensão daquilo que somos nesse momento, daquilo que manifestamos ser, que revelamos ser como pessoas, como entidades separadas, é isso que nós precisamos investigar, compreender. É isso que nós precisamos ter muito claro para as nossas vidas.

A compreensão da Verdade do seu Ser é a compreensão da Realidade de Deus. Essa Realidade de Deus não é a particular vida dessa “pessoa”. Então, quando aqui me refiro “para as nossas vidas, essa compreensão é fundamental”, eu me refiro a essa compreensão desta Única e Real Vida Divina que trazemos, mas que desconhecemos, porque estamos presos ou identificados a esse modelo de pensamento, a essa prisão psicológica de ser “alguém” dentro da experiência.

É o pensamento que está norteando tudo isso. É o pensamento que está moldando tudo isso. Assim, é o pensamento que precisa ser compreendido. A compreensão de como o pensamento ocorre, de como ele acontece dentro de cada um de nós, ter uma aproximação do pensamento, é poder ver que o pensamento é algo aparecendo como uma construção do próprio tempo – esse tempo de história humana, esse tempo de história da humanidade.

Todos os registros que nós temos são de lembranças, de memórias, de reconhecimento, de conhecimento, é algo aprendido, memorizado. É parte dessa estrutura do “eu” todo conhecimento adquirido ao longo de toda essa história humana. Então, a história da raça humana, da humanidade, é algo que está presente em cada um de nós. O nosso comportamento, o nosso modo de pensar, portanto, é algo condicionado dentro desse modelo.

O nosso formato de sentir e a forma específica de nos movermos na ação, toda ela está sendo colocada em evidência em razão dessa estrutura, que é a estrutura do pensamento em cada um de nós. Tomar ciência do pensamento, perceber que a presença desse pensamento é algo que sempre reivindica a presença de “alguém”, que é o pensador, que é esse que está experimentando a experiência e, naturalmente, traduzindo, avaliando, julgando, comparando, aceitando ou rejeitando.

Então, de uma forma real, vivencial, o Autoconhecimento na prática revela esse movimento, que é o movimento do “eu”, que é o movimento do ego. A ciência desse movimento é o fim para essa estrutura, a estrutura do pensamento.

Podemos lidar com a vida sem o pensamento? Reparem a pergunta. Podemos lidar com os assuntos da vida de uma forma direta, prescindindo desse padrão de pensamento que vem do passado? Ao lidar com você, será possível que eu possa lidar sem esse prévio conhecimento? Eu me refiro ao conhecimento psicológico que tem dado estrutura ao “eu”, ao ego.

Há uma diferença entre saber o seu nome, reconhecer o seu rosto. Repare, isso é um pensamento, é um reconhecimento de memória. Então, há um nível de conhecimento aí presente. Mas há uma diferença desse tipo de conhecimento simples para essa memória psicológica, egocêntrica, presente nessa ilusória identidade que é esse centro, que é o “eu”, o ego, que se separa de você, que te vê a partir de uma imagem de gostar, de não gostar, de tudo aquilo pelo qual nós já passamos, todos os conflitos, divergência de opiniões, ideias diferentes, crenças diferentes.

Repare, tudo isso nos separa, nos divide, nos coloca numa relação inteiramente pessoal, particular, egocêntrica, um com o outro. Então, esse é um nível de relação onde as imagens que vêm do passado, as lembranças, as memórias, os pensamentos, que são particulares desse centro, desse ego, têm uma grande relevância. Então, não há um contato Real, sem o pensador, sem o “eu”, sem o ego.

Podemos, sim, ter um contato na relação livre do “eu”, do ego. Esse nível de relação é algo que, em geral, nós desconhecemos. Desconhecemos porque não existe essa Liberdade – a Liberdade da Real Consciência presente. A consciência que temos nesse contato é a consciência egoica, é a consciência mental, é a consciência do “eu”.

Todo o nosso enfoque aqui com você está em trabalharmos tudo isso, em nos aproximarmos, dando total importância ao Autoconhecimento. É quando há essa Real importância do Autoconhecimento que nós podemos tomar ciência desse movimento, que é o movimento que vem do passado, desse padrão de pensamento, de memória, centrada no “eu”, no ego.

Tomar claramente visão disso é algo que está presente quando estamos em contato com a Meditação. E a Meditação é algo que também precisa ser compreendido. A Verdade da Meditação se Revela nesse momento, quando esse centro, quando esse “eu”, esse ego, não está presente aqui, neste instante. Isso requer Autoconhecimento, isso requer uma aproximação desse momento livre do passado, livre do experimentador com as suas experiências.

Reparem, tudo isso é algo que precisa ser estudado. Nós não estudamos isso nos livros, nós estudamos isso em nós mesmos. Nós nos tornamos cientes disso aqui, neste instante. A ciência daquilo que se passa dentro de cada um de nós é a compreensão dessa estrutura que vem do passado. É assim que nós nos aproximamos da Beleza da Vida Real.

Agora, observe que essa Vida Real está presente quando há essa morte do passado, a morte desse movimento psicológico do “eu”, do ego. Então, quando há o sentido Real da morte – e aqui esse sentido Real da morte é o fim do passado, desse passado psicológico, dessa forma específica de pensar e sentir, nessa noção do pensamento de tempo –, todas as ideias terminam, todos os conceitos desaparecem, todas as crenças volatizam.

Tudo aquilo que é ilusório nesse sentido de ser “alguém”, nesse contato com o outro, com experiências, com situações, com eventos, com acontecimentos, é algo que agora, aqui, está ocorrendo sem esse centro, sem esse “eu”; é algo que aqui, neste momento, acontece sem esse movimento que vem do passado. Então temos a Revelação do Autoconhecimento Supremo.

É isso que estamos trabalhando aqui. Há, com certeza, uma visão da Realidade que nasce do Autoconhecimento Supremo. Reparem, não é esse “autoconhecimento” para objetivos e realizações pessoais desse “mim”, desse “eu”, desse ego, a mera habilidade de lidar com esse centro, com esse ego.

É nesse sentido que as pessoas têm usado a expressão “autoconhecimento”: conhecer a si mesmas para melhorarem como pessoas, para mudarem o comportamento e, assim, obterem resultados pessoais, particulares, para elas mesmas, se ocupando com um autodesenvolvimento, com um autoaprimoramento.

Aqui não se trata disso. Estamos falando do Autoconhecimento Supremo, a Realidade deste Ser Divino se revelando, a Realidade de Deus, a Realidade Divina, Aquilo que está além das formas, além dos nomes, além das ideias, além dos conceitos e crenças. Então, há algo que se mostra presente quando o pensamento egoico, quando o movimento do “eu”, do ego, não está mais presente.

Assim, a Real resposta para a vida vem da própria Vida quando não há mais ilusão, quando não há mais as distorções que o pensamento produz – esse pensamento condicionado, essa coisa herdada da cultura, da sociedade, do modelo de mundo.

Abril de 2024
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quinta-feira, 9 de maio de 2024

Como vencer o medo. Como lidar com os pensamentos. Advaita: a Não Dualidade. Como me livrar do medo?

A pergunta é: “Como vencer o medo?” Há uma outra pergunta comum, que é: “Como lidar com os pensamentos?”

Primeiro temos que compreender quem é esse que quer lidar com os pensamentos e quem é esse que quer vencer o medo. Haverá uma separação entre o pensamento e aquele que quer vencer o pensamento? Haverá uma separação entre o medo e aquele que quer vencer o medo? Haverá uma separação entre o pensamento e aquele que quer lidar com o pensamento?

Notem isso, queremos lidar com o pensamento. Há uma separação entre aquele que quer lidar com o pensamento, que é o pensador, e o pensamento? Queremos vencer o medo. Haverá uma separação entre esse que é o medroso e o medo? É verdade que é possível separarmos o pensamento do pensador e o medo do medroso? É possível o pensamento sem o pensador? É possível o medo sem o medroso?

Então percebam como isso aqui é simples. Não existe nenhum medo separado do medroso, como não existe nenhum pensamento separado do pensador. Primeiro, antes de tudo, o que é o medo? Não a descrição verbal do que é o medo, mas o que é o medo?

Quando você se depara com uma serpente, com uma cobra, ou está num lugar muito alto e olha para baixo, há uma sensação, há um sentimento, algo ocorre nesse organismo, e isso denominamos “medo”. O medo está presente como uma sensação, um sentimento, uma experiência no corpo, na mente. Então aquilo que nós chamamos de medo é uma experiência. Se queremos descobrir como vencer o medo, temos que primeiro descobrir o que é o medo.

Nós temos o medo nesse formato de sensação, sentimento, experiência diante de um perigo físico, no alto de um penhasco, diante de uma cobra. Um carro vem em sua direção e nesse instante surge um sentimento, sensação, e nesse momento uma ação acontece, então, esse é um tipo muito claro de medo presente que nós conhecemos: o medo físico. Na verdade, é o cérebro, o corpo reagindo a algo ameaçador, a algo que pode oferecer algum perigo.

No entanto, nós temos outras formas de medo, e todas essas outras formas de medo se sustentam em uma única base, que é a base psicológica do “eu”. Medo do escuro, medo do passado, medo do futuro, medo de adoecer, medo de envelhecer, são inúmeras as formas de medo presente, todas se assentando nesse modelo psicológico em nós, que é esse sentido de “alguém” presente.

O que é esse “alguém”? Do que ele é constituído? Esse “alguém” não é “alguém” que está separado do medo. Ele está presente quando o medo está presente; o medo está presente quando ele está presente. Já vimos isso. Vamos colocar de novo aqui muito claro para você.

O medo da velhice é um pensamento, requer a presença de um pensador formando quadros, criando sensações, sustentando sensações. Então, observe: os pensamentos são sensações. Esses pensamentos estão presentes porque esse pensador está presente, e esse pensador com esses pensamentos e sensações é o que chamamos de medo. Então o medo é o medroso. O sentimento, a sensação, o pensamento, o pensador são uma coisa só. Percebem?

Aquilo que está presente no medo é o medroso, e no medroso é o medo, que é sensação, que é pensamento, que, nesse caso em particular, é uma imagem que vem do passado, quando o assunto é uma doença que você já passou por ela e não quer que ela volte a se repetir. Quanto à velhice, é uma imagem que se projeta no futuro desse “mim”, desse “eu” que não quer passar por essa ou aquela situação no futuro, algo imaginado pelo pensamento.

Então, o medo é do passado ou o medo é do futuro, mas esse passado e esse futuro se assentam no pensamento, e esse pensamento está presente porque o pensador está presente. Uma imagem é construída e isso é o medo. Estamos diante de um único fenômeno e, no entanto, acreditamos que é possível uma separação, e nessa separação, podemos fazer algo, como se livrar – tem “eu e o medo”.

Qual é a verdade de como lidar com isso, no caso, o medo? Compreendendo a ilusão da separação que o pensamento imagina, constrói. Para lidar com pensamentos é a mesma coisa. O pensamento constrói a ilusão de um pensador e quer fazer algo com o pensamento, então o pensamento, que é o pensador, se separa para fazer algo com o pensamento; o pensamento, que é o medroso, se separa para vencer o medo. Percebem o truque?

É assim que estamos lidando, de uma forma equivocada, com esse modelo psicológico, que é o ego. O sentido de “pessoa” presente não é outra coisa a não ser a imaginação do pensamento se separando como sendo o “eu”, o “mim”, o pensador. Percebam a importância desta compreensão.

Como se livrar desse padrão? Como se livrar desse modelo de dualidade? Essa é a dualidade. Durante toda a nossa vida, tudo o que nós temos é uma existência construída dentro desse princípio. “Eu gosto de você”, “eu não gosto dele”, o que é isso? Um pensamento. “Ele me causa medo”, “ele me traz amor”, o que é isso? Um pensamento.

Então, o pensamento cria uma identidade e esse pensamento chama essa identidade de “eu”. Esse “eu” gosta, esse “eu” não gosta, esse “eu” se sente amado, se sente excluído, esse “eu” se sente rejeitado, esse “eu” tem o passado e não quer ver esse passado se repetindo. Esse passado é memória, pensamento. Esse “eu” tem o futuro, esse futuro é pensamento, é imaginação que esse “eu” não quer. Isso é o medo.

Então, reparem: tudo está assentado no pensamento, tudo está assentado na imaginação. Assim, o medo é pensamento, e o pensamento é aquilo em nós que sustenta a dualidade, e essa dualidade é uma ilusão.

A Verdade do que está presente agora se revelando é a experiência. Essa experiência pode ser um pensamento, pode ser uma emoção, uma sensação, uma percepção, mas não temos presente o “eu” como um elemento que se separa para gerenciar toda essa coisa. É por isso que nós temos dito aqui que não há esse “eu” na experiência. Não existe essa “pessoa” presente.

Ao ouvir uma fala, a impressão que o pensamento diz dentro de você é que você está ouvindo “alguém”, como você está vendo “alguém”. Esse “ver alguém”, esse “ouvir alguém” é uma projeção do próprio pensamento. O pensamento diz que tem “alguém” lá fora, porque tem “alguém” aí dentro.

A verdade sobre isso é que o que temos presente é o escutar, o olhar, o sentir, o pensar, mas não tem o pensador, não tem aquele que olha, não tem aquele que escuta. Se não há esse que escuta, é só o escutar, não tem “alguém” ouvindo.

Percebam como é interessante investigarmos isso. Escutar sem “alguém” é a Liberdade de apenas estar presente nesse ouvir, sem “alguém” ouvindo. É o escutar! Tomar ciência do outro nesse olhar é olhar sem “alguém” vendo.

Então, é nisso que consiste a Não dualidade, a ausência do “eu”. Isso é conhecido por Advaita, a Não dualidade, a Não separação. Se isso está presente, reparem, nós temos o fim do medo. Não se trata de vencer o medo, não tem “alguém” para vencer o medo.

Reparem como isso é interessante, e delicado também, porque você vai ouvir um especialista e ele lhe fala como lidar com o medo, através de técnicas ele lhe ensina a driblar esse estado de medo, esse estado aflitivo de ansiedade, de preocupação, de angústia, de dor da solidão, e assim por diante. Mas sempre com um truque de uma identidade, que é o “eu” fazendo algo com a experiência. Na verdade, isso se constitui em mais uma forma de, temporariamente, fugir da experiência.

Então, se você vence, você tem que continuar vencendo. Esse “vencer o medo” é escapar temporariamente do quadro psicológico de sofrimento. Então, você afasta o sofrimento psicológico através de um drible que você dá naquela situação, mas você está lá fazendo isso.

A ciência da verdade do fim do medo, do fim do sofrimento, do fim da angústia é outra coisa; do fim para esse sofrimento que o pensamento está produzindo, para essa dor que o pensamento está produzindo, para esse medo que o pensamento está produzindo é outra coisa. Assim, nós precisamos descobrir o que é uma vida livre do ego, do “eu”, do “mim”, desse que se separa, pelo pensamento, da experiência.

O que temos dito aqui para você é que quando existe o fim para esse modelo de pensamento – que eu tenho chamado de pensamento psicológico –, nós temos o fim para essa condição das aflições criadas pelo pensamento, das quais você quer um dia aprender a lidar com elas. Isso é o fim do modelo de pensamento psicológico, que é aquilo que sustenta o medo para esse “mim”, para esse “eu”, para esse medroso que quer se livrar disso.

Então, estamos trabalhando com você o fim do ego, o fim do ”eu”. A ciência da Realidade do seu Ser é Inteligência, é Amor, é Felicidade, é Liberdade, e Isso está presente quando o ego não está, quando esse sentido de separação, de dualidade não está. Então, o nosso trabalho aqui consiste em olhar para isso.

Aqui estamos trabalhando com você o Despertar de sua Natureza Divina, que é o Despertar da Consciência, que é o Despertar do seu Ser, que é a Verdade de Deus – alguns chamam de Iluminação Espiritual.

Março de 2024
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terça-feira, 7 de maio de 2024

Autoimagem e psicologia | A importância do Autoconhecimento | O Autoconhecimento Supremo | Advaita

A pergunta é: “Por que há conflito em nossas relações?” A resposta é bem básica: é porque nossas relações são relações que não estão livres do pensamento. Tudo o que nós conhecemos por relações humanas são relações que se assentam nessa estrutura, que é a estrutura do pensamento. Veja, pensamento não observado, não compreendido.

O pensamento tem, naturalmente, um lugar em nossas vidas, mas nós precisamos ter uma aproximação Real disso. As pessoas perguntam como lidar com os pensamentos, porque já perceberam que os pensamentos trazem conflito, trazem contradições, trazem problemas.

Assim, nossas vidas se situam dentro dessa diretriz, que é a diretriz do pensamento. E o pensamento é, por natureza, separatista, ele nos divide, ele nos separa. Nós precisamos ter uma aproximação da Verdade sobre quem somos. Isso é o fim da autoimagem.

Essa imagem que formamos sobre nós, a imagem que eu tenho sobre quem “eu” sou, a imagem que eu tenho sobre você é, isso se assenta no pensamento. Se não há essa Verdade da compreensão de como o pensamento funciona aqui, não há uma clara ciência de como lidar com os pensamentos.

Então nos falta a Verdade sobre nós mesmos. É por isso que temos tratado com você aqui da importância do Autoconhecimento, a visão do Autoconhecimento. Veja, essa questão do autoconhecimento na psicologia, nós precisamos ter uma aproximação verdadeira disso. Do ponto de vista teórico, do ponto de vista conceitual, verbal, isso não irá funcionar.

A visão clara de como nós funcionamos é algo que requer um olhar direto sem conceitos, sem palavras, sem ideias. Então, essa aproximação é de suma importância. A aproximação Real do Autoconhecimento é a Revelação de Deus. Eu tenho chamado de Autoconhecimento Supremo. Não é o mero autoconhecimento, onde teoricamente estudamos sobre isso. Não é o autoconhecimento que nos envolvemos com ele para obtermos resultados, no sentido de uma “pessoa melhor”.

Observem isso: uma “pessoa melhor” é aquela que tem de si mesma uma autoimagem mais esclarecida, bem-educada, polida, disciplinada, que conhece um pouco de como lidar com o outro. Não é disso que estamos tratando aqui. Nós estamos investigando com você aqui o fim dessa autoimagem.

Então, o Autoconhecimento na prática é o Autoconhecimento Supremo, é a ciência do Divino, é a ciência de Deus, é a ciência da Verdade daquilo que está presente e que está além do “eu”, do “ego”.

É possível uma vida livre desse sentido de dualidade, de separação? Isso é conhecido por Advaita. Advaita é a Não dualidade, a Não separação, “o primeiro sem o segundo”.

A natureza deste Ser, deste Verdadeiro Ser que somos é a Natureza de Deus. Então, a Realidade de Deus nesse encontro com o outro, não é o encontro com o outro, é o encontro com Deus, com a única Realidade presente, porque não há dualidade, não há separação.

O meu contato com a esposa, com o marido, com os filhos, com a família, com os amigos de trabalho, com o chefe no trabalho, com o mundo à minha volta, se esse encontro é um encontro onde o sentido de um “eu”, de uma identidade que se vê separada do outro está presente, nós temos estabelecido o conflito.

Podemos nos livrar desse mecanismo que tem dado formação a essa identidade presente? Podemos nos livrar desse mecanismo que tem sustentado essa identidade presente nas relações, que é o sentido do “eu”, o ego?

Será possível uma relação com o outro sem a ideia de “alguém” lá e “alguém” aqui? Sem esse movimento de separação e, portanto, de contradição? Será possível uma vida livre do “eu”, do ego? Como podemos nos livrar desse mecanismo?

Primeiro temos que perguntar como essas imagens são formadas. Veja: ao longo dos anos, desde pequenos, tudo o que você vem adquirindo de conhecimento sobre si mesmo é memória, é lembrança, é recordação, é pensamento, isso é algo que vem do passado.

Tudo o que você tem sobre quem você é é colocado em palavras com base em memórias, lembranças, que são pensamentos. Isso tem dado essa formação à pessoa que você acredita ser, isso é autoimagem.

Quando você encontra alguém pela primeira vez, você não sabe o nome, nunca viu aquele rosto, não tem qualquer ideia de quem ele ou ela é, mas depois de alguns segundos, num contato, em algumas poucas palavras, você já tem o nome, já tem uma memória do rosto. Nesse momento, por uma força de hábito em nós, uma imagem do outro, com poucos segundos de encontro, é formada.

Então agora você sabe quem o outro é – pelo menos é assim que a mente egoica em você se posiciona agora nessa relação: você cria uma imagem. Num próximo encontro com aquela pessoa, a ideia que você tem é que você já conhece a pessoa. Reparem isso!

Reparem como nós temos funcionado em nossas relações. Isso é verdade? Será que nesse contato de quinze anos com o marido ou com a esposa, você realmente conhece ele ou ela? Você a conhece? Ela te conhece? Ou o que você tem dele ou dela é um conjunto de lembranças, de recordações, de imagens dentro das relações, desses diversos relacionamentos que você teve com ele ou com ela?

Então, nossas relações com uma única pessoa ou com diversas pessoas ao longo do tempo, isso é algo que está contribuindo para um grande conjunto de memórias e lembranças que reservamos dentro de cada um de nós.

Isso dá formação a essa autoimagem: a imagem que faço de mim mesmo nesse contato com ele ou com ela, e a imagem que tenho dele ou dela dentro dessas relações para os próximos encontros.

Então, tudo o que tenho de mim e tudo o que tenho do outro são conceitos, memórias, lembranças, imagens. O sentido de uma identidade presente, que é o “eu”, o ego, é exatamente isso.

Assim, o nosso contato com o mundo é um contato onde o sofrimento está presente, porque o autocentramento está presente, e como essa separação está presente, nossas relações estão estabelecidas dessa forma.

Nós não temos só uma imagem do outro, nós temos uma imagem do outro país, nós temos uma imagem de um determinado lugar. “Eu gosto de alguns lugares e não gosto de outros lugares”: isso se assenta na imagem que faço desse lugar ou daquele outro lugar. “Eu gosto daquele país, mas não gosto daquele outro”: se assenta numa imagem que faço sobre aquele país. Então, todo o nosso movimento na vida se sustenta em imagens.

Nós temos imagens de pessoas, nós temos imagens de lugares, temos imagens de países, nós temos imagens dogmáticas que se assentam em crenças religiosas. Veja como temos funcionado. Essas imagens produzem divisões, produzem separações, elas nos dividem, elas nos separam uns dos outros, elas criam problemas em nossas relações.

Os países têm problemas de relações, as pessoas têm problemas de relações, as cidades têm problemas de relações, tudo isso ocorre em razão dessa divisão, uma divisão que as imagens sustentam. Tudo isso está dentro desse movimento psicológico de ser “alguém” e de ver o mundo a partir desse “eu”, desse ego.

Então, há preconceito, há divisões de classes, divisões nacionais, divisões sociais, divisões, assim chamadas, “espirituais”, divisões religiosas, divisões entre famílias. Dentro de uma família, a divisão está presente. Alguns parentes “eu gosto”, de outros parentes “eu não gosto”. O que é esse “eu”, esse ego?

Observem, nossa aproximação aqui é para o fim dessa condição psicológica de ser “alguém”. Isso requer essa importante visão da vida se mostrando neste instante. Quando há uma aproximação da Verdade na prática do Autoconhecimento, nós temos nesse encontro a descoberta desse elemento, que é o “eu”, que se separa, que se divide para conflitar.

Então, o pensamento é algo que está envolvido nisso, porque é sempre o pensamento sustentando, na realidade, tudo isso. Nós não percebemos que tudo isso faz parte desse jogo que o pensamento constrói em cada um de nós. Eu me refiro a esse pensamento psicológico.

Nós precisamos do pensamento de uma forma prática – como temos falado aqui diversas vezes. O seu nome, o seu endereço e o seu rosto são algo interessante nessa relação comigo. É o que eu preciso de você: a lembrança do seu rosto, do seu nome, do seu endereço.

Para assuntos práticos, em nossas relações, é fundamental o pensamento objetivo, o pensamento simples, a memória simples. Mas essa memória psicológica que está dando formação a essa autoimagem – à imagem que eu faço de mim e à imagem que eu tenho sobre quem você é –, isso é algo completamente desnecessário, disfuncional; na verdade, é gerador de crises, de conflitos, de sofrimento entre nós.

O fim para tudo isso é a ciência da Verdade do seu Ser, que é a Verdade de Deus, que se Revela quando há a Liberdade dessa autoimagem, quando liberamos de nós mesmos a imagem desse “mim”, desse ego.

A ciência da Meditação, a visão da Real Meditação é o esvaziamento desse psicológico conteúdo que tem dado essa formação a essa autoimagem. Então, um contato com a vida, com o outro, com o mundo, com os lugares, com as pessoas, sem o sentido de uma “pessoa” envolvida nisso, que é o “mim”, o “eu”, o ego, é a Liberdade de Ser-Consciência-Felicidade.

Olhar para aquilo que somos, tomar ciência da Verdade daquilo que se passa dentro de cada um de nós e soltar essa ilusão de “alguém presente” na vida, dentro da experiência, é a coisa mais importante nesta Existência, nesta Vida.

Veja, isso é o fim dessa particular vida do “eu” para uma Real Vida Divina, para uma Real Vida de Deus. Isso é Iluminação Espiritual, isso é o Despertar Espiritual, isso é a Realização de Deus nesta vida. É isso que os Sábios reconhecem por Advaita, a Não dualidade, a Não separação.

O sentido de “alguém” presente na experiência sendo o experimentador da experiência é completamente ilusório, é algo que o pensamento está produzindo. Esse modelo é o modelo da dualidade, da separação.

Então, há esse “eu”, o experimentador e a experiência. Nesta separação, se estabelece a autoimagem e, naturalmente, um conflito, porque fica esse “eu gosto” ou “eu não gosto”.

Todo o meu contato com você, com base nesse “gostar” ou “não gostar” é uma autoprojeção egocêntrica, onde a dualidade egoica está presente, onde esse padrão de separação está presente. Na Índia, isso é conhecido por Dvaita. Dvaita significa a divisão, a separação.

Aqui estamos trabalhando com você a visão da Advaita, a Não dualidade, a Não separação, o fim desse experimentador na experiência. Se a experiência está presente, é a vida sem esse centro, que é o “eu”, o ego. Então um contato assim, com tudo à sua volta, com lugares, com pessoas, com situações é um contato onde a Realidade do seu Ser está presente.

Abril de 2024
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quinta-feira, 2 de maio de 2024

Como lidar com pensamentos? O conflito da dualidade. Advaita: a Não Dualidade. O que é o pensamento?

A pergunta é: “Como lidar com os pensamentos?” Veja, estamos diante de uma pergunta muito importante. Nós não podemos subestimar uma pergunta como essa. E por que não? Porque na nossa vida, se você olhar de perto, você vai ver que o pensamento está em tudo.

Nós vivemos no pensamento, vivemos pelo pensamento. É ele que dirige nossa fala, é ele que dirige nossas ações, é ele que dirige todo comportamento nas relações, é ele que dirige boa parte do nosso sentir. Então, o nosso pensar, e isso envolve esse modelo de pensamento – pelo menos o pensamento como nós temos acesso, como nós conhecemos –, está direcionando nossas vidas.

Então nossas ações precisam ser compreendidas. Não compreendemos o que são nossas ações. Os nossos sentimentos precisam ser compreendidos. Nossas emoções, o nosso modo de sentir, de falar com ele ou ela, de nos relacionarmos, tudo isso envolve pensamentos. Nós queremos descobrir com você aqui o que significa esse pensar.

Como lidar com os pensamentos representa o que é o pensar, o que é o sentir, e que é o viver. Se isso não fica claro para você, o sofrimento está presente, a desordem está presente, a confusão está presente, a desorientação está presente, as ações conflituosas estão presentes. E tudo isso está presente porque psicologicamente há sofrimento, há desordem, há confusão, existe a ausência da Inteligência; e tudo isso em razão da não compreensão de como a mente funciona, de como o pensamento funciona. Ou seja, nós não sabemos lidar com o pensamento.

Não sabemos lidar com o pensamento porque não compreendemos que há em nós o sentido de “alguém” presente no pensamento. Esse “alguém” é a ideia que fazemos de um pensador, de um fazedor, de um realizador de coisas, de “alguém” presente sentindo, de “alguém” presente emocionado, de “alguém” presente na relação.

A não compreensão do que é o pensamento é a não compreensão do movimento do “eu”, que é pensamento. Então, vamos aqui fazer logo uma outra pergunta para investigar essa primeira. Além da “O que é o pensar?”, que envolve esse lidar com o pensamento, nós temos que fazer a própria pergunta sobre o que é o pensamento.

Primeiro temos que compreender o que é o pensamento para compreensão do que é o pensador. Por que isso é fundamental? Porque sem isso nós estamos alienados da Verdade deste Ser. Nós usamos muito a expressão “eu” e temos só a imaginação de um Ser. Observe como é curioso, nós usamos a expressão “eu”, o pronome eu, e temos a imaginação de Ser. A Verdade é outra. A única Realidade é Ser, e esse “eu” é que é a imaginação.

A Realidade presente na relação com o outro é a relação de Ser, não existe esse “eu” presente na relação. Esse “eu” é a imaginação. A não compreensão de que esse “eu” é a imaginação é a confusão de uma identidade que é o pensador pensando seus pensamentos, tendo seus sentimentos, suas emoções, suas sensações e suas relações.

A Verdade d’Aquilo que nós somos é a Realidade d’Aquilo que é Deus. A Realidade de Deus é a Realidade de Ser. Essa é a Realidade de cada um de nós, mas a imaginação do “eu” é a imaginação do pensador, do experimentador, do observador, daquele que sente e daquele que faz, e a nossa vida está situada exatamente nesse nível, porque não há o Despertar da Verdade.

Se a Verdade Desperta, se a Verdade Floresce, temos a ciência da Real Consciência, da verdadeira Consciência, que é Ser. Então, notem o que estamos colocando: nós temos uma consciência comum a todos, é a consciência da mente, é a consciência na mente, é a consciência do “eu”. Essa é a consciência egoica, é a consciência da “pessoa”.

Observe todo o estado caótico, psicológico em que nós nos encontramos. Isto está presente porque não estamos vivendo a Verdade de Ser e, sim, a ilusão do pensador, a ilusão do experimentador, a ilusão desse “mim”. É aqui que está esse estado caótico desse movimento de pensamento descontrolado, inquieto, desordenado. É por isso que fazemos a pergunta “Como lidar com o pensamento?”, porque já percebemos que o pensamento cria muita confusão, cria muita desordem. E isso é simples: é porque ele é a base que orienta a vida desse centro que é o “eu”, o ego.

Esse centro, que é o “eu”, se vê separado do outro, se vê separado da Vida, se vê separado como sendo o autor das ações, se vê separado da fala como sendo aquele que está falando, separado do ouvir sendo aquele que está ouvindo. Tudo isso consiste de uma ilusão, a ilusão do pensador presente. Mas o que é esse pensador? Esse pensador é o próprio pensamento. Você quer controlar o pensamento, mas você é o pensador.

Então, o próprio pensamento se separa como sendo o pensador para gerenciar, para alterar, mudar, controlar o pensamento. Não sabemos lidar com o pensamento porque não sabemos lidar com esse centro que é o “eu”. Não estamos cientes de que esse “eu” que quer lidar com o pensamento é o próprio pensamento, é ele que se separa como sendo o pensador.

Não sabemos lidar com nossas emoções, não percebemos que essas emoções é algo que acontece nesse corpo-mente, mas não tem um centro para essas emoções. Esse centro é o próprio pensamento que cria um centro ilusório, que é o “eu”, que quer lidar com as emoções.

É assim que nós temos funcionado. E por que funcionamos dessa forma? Porque nós não conhecemos a Verdade sobre nós mesmos, não estudamos o movimento do “eu”, que é o pensador, que é aquele que se separa e diz estar sentindo, e diz que está emocionado, e diz que está pensando, e diz que está fazendo as coisas.

Eu sei que isso pode parecer estranho para você a princípio, mas se você olhar de perto, investigar, você vai perceber essa dualidade, esse “eu” sendo o pensador, se separando do pensamento que tem, esse “eu” sendo aquele que sente, se separando do sentimento que sente. Essa separação é que sustenta o conflito do qual queremos nos livrar pelo controle.

Então, quando nós perguntamos como lidar com o pensamento é porque nós acreditamos que somos o responsável pelo pensamento, o senhor do pensamento e, portanto, o que pode controlar e gerenciar o pensamento. Qual é a verdade sobre isso? A verdade sobre isso é que nós somos apenas um movimento de reação de memória. Essa reação de memória é o próprio pensamento.

Quando você escuta alguma coisa, quando você vê alguma coisa, quando entra em contato com uma experiência, é o corpo, a mente, o cérebro entrando em contato com esse som, com aquilo que está ali aparecendo ou com essa experiência. Não tem “alguém” sendo o “eu” nesse contato. O que temos é uma resposta do cérebro que, de imediato, reage, ou depois de algum tempo, de alguns segundos reage àquela experiência. A sensação ilusória de uma identidade reagindo é uma imaginação.

Quando um pensamento surge, porque um estímulo visual surgiu, então um pensamento surge, um estímulo auditivo surgiu, então um pensamento surge ou um sentimento surge, e quando isso aparece, já por uma condição de condicionamento cerebral, condicionamento humano, de cultura, existe a ilusão de “alguém” dentro dessa experiência – um pensamento, um sentimento, uma emoção –, enquanto que, na verdade, o que estamos tendo é uma reação do próprio cérebro, da própria máquina a esse instante, a esse momento presente em razão de um estímulo.

Não existe esse pensador, não existe esse que está sentindo, não existe esse que está emocionado. Há uma resposta de condicionamento cerebral e, também, de corpo e de mente, mas não existe esse “eu” presente. Isso pode ser constatado quando há Autoconhecimento.

Perceber a inexistência do “eu”, a inexistência do ego, a inexistência do centro, tomar ciência de que um pensamento é só um pensamento, uma emoção é só uma emoção, uma sensação é só uma sensação. Se isso é percebido, como não há separação, o conflito desaparece, o problema desaparece, o sofrimento desaparece.

Percebam a beleza disso! O pensamento está presente, carregado com uma ideia de um pensador por detrás dele. Se o pensamento é agradável, esse pensador quer sustentar esse pensamento; se é desagradável, esse pensador quer se livrar desse pensamento. Quando há esse movimento, nós temos a dualidade e, portanto, o conflito, o problema. Queremos lidar com o pensamento, mas quem é esse que vai lidar com o pensamento?

Então percebam claramente isso: o pensador é o pensamento, a emoção é aquele que está se separando como o elemento que é o “eu”, que se diz emocionado. Essa dualidade é um jogo. É o jogo do “mim”, do “eu”, do ego para se sustentar; ele cria esse movimento, ele sustenta esse movimento, ele tem a prática desse movimento. Aqui o convite é aprender a olhar para o pensamento sem colocar o pensador, olhar para o sentimento ou para a emoção.

Então como lidar com o pensamento? Tomando ciência de que não há nenhum pensador, é somente um pensamento. Todo o nosso treinamento cultural, de história humana foi sempre pelo esforço para lidar com o pensamento, ou a emoção, ou o sentimento, ou a ação. Então, estamos sempre sustentando a ideia do “eu”, do “mim”, do ego, para acolher, aceitar aquilo, para se agarrar àquela experiência ou para rejeitar aquela experiência.

Então, não sabemos lidar com o pensamento, porque temos o “eu”, o “mim” querendo fazer isso. Tomar ciência do pensamento, da emoção, da sensação, da experiência sem o pensador é a forma real de lidar com o que está aqui, neste instante, neste momento presente. Isso termina com o conflito, isso termina com o problema, porque isso termina com essa dualidade.

Esse modelo de separação, de dualidade é o que sustenta todo o problema do ser humano, todo o sofrimento para o ser humano, toda essa confusão para o ser humano e toda essa ilusão de poder controlar o pensamento, sendo ele o controlador.

Quando percebemos esse jogo de dualidade, ficamos livre da dualidade, isso é o fim para essa dualidade. Na Índia eles chamam de Advaita, a Não dualidade, a Não separação, esse Estado de Ser onde Você está vivendo a plenitude da Consciência, livre do “eu” E quando Isso está presente, não existem problemas com os pensamentos, porque não existe a ilusão do pensador, e se não há essa ilusão do pensador, esse pensamento psicológico desaparece.

Então podemos lidar com o pensamento no viver. Precisamos do pensamento em alguns níveis. Podemos lidar com o pensamento, precisamos do pensamento de uma certa forma. O seu endereço, o seu nome, a habilidade de lidar com o trabalho técnico, funcional, isso requer a presença do pensamento. Nesse nível ele se faz necessário, ele está presente, mas, agora, sem o centro, que é o “eu”, o ego, o “mim”.

Então nós ficamos livres desse modelo de pensamento psicológico, que é o pensamento que sustenta em nós a inveja, o medo, o ciúme, a ansiedade, a angústia, a depressão, o sentimento de tédio, de solidão, de conflito e de todos os problemas a partir desse centro, que é o “eu”, o ego, o pensador.

Março de 2024
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