terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Trabalhar isso é estar em Satsang

Em geral, acredita-se que o assunto tratado aqui é algo do qual podemos nos aproximar através de recursos imaginados pela mente. Uma das coisas muito comuns é a confiança em algum sistema ou método técnico. A mente procura, através dos recursos que ela tem, alcançar algo além dela, o que na verdade é impossível.
Não existe nenhuma técnica, nenhum sistema ou método pelos quais você possa se aproximar dessa Realidade. Isso é uma coisa que não está clara, ainda, para muitos de vocês, sobretudo para aqueles que estão chegando agora em Satsang. Vocês, quando chegam, vêm acreditando em sistemas, técnicas e métodos. Não é isso mesmo? Isso já aconteceu com você ou ainda acontece? A Verdade se revela quando toda prática, técnica, sistema e métodos são abandonados, que é o que a mente não quer fazer. A mente vive dentro de seus princípios de vontade, de escolha e determinação; isso é bem típico da pessoa inteligente e vocês são muito inteligentes.
Essa é a dificuldade que temos em Satsang: trabalhar com pessoas inteligentes. Em geral, chamamos de inteligência a experiência e o conhecimento que são acumulados. A mente é uma espécie de depósito, com diferentes níveis e departamentos. Alguns desses níveis estão mais acessíveis e outros menos. Parece que a psicologia tenta explicar esses níveis, ou esses diferentes departamentos ‒ os mais próximos são considerados níveis conscientes e os mais ocultos, inconscientes; os de fácil acesso são os conscientes e os de difícil acesso são os inconscientes. Essa é uma divisão que a própria mente criou para se autoexplicar, mas estamos falando de um único “depósito”, de uma única “loja grande”. Então, nós temos conhecimento e experiências, porém, eles são apenas memórias, algumas de fácil acesso e outras mais ocultas, mais reservadas, chamadas de “inconscientes”.
Estou colocando apenas, de uma forma simples, porque não conheço isso (não tenho essa terminologia toda). Eu diria que conhecimento, experiências, memórias, pensamentos são “farinhas do mesmo saco”. Sem memórias e pensamentos, não existe mente. Então, basicamente, a mente, quer ela seja denominada “consciente” ou “inconsciente”, é somente um “depósito”, uma “loja” de memórias, de símbolos. Os sons, as palavras, as imagens e os símbolos são memórias e tudo isso são pensamentos. A mente criou essa divisão nela própria e está buscando, através de uma técnica, um método ou sistema, ter uma aproximação da Realidade, Daquilo que está além dela, mas ela é somente divisão. Assim, fica muito claro que não é possível, porque tudo o que a mente pode fazer está dentro dela, não pode estar além dela.
Você acompanha isso? É isso ou não é?
A mente não existe sem pensamento, nem há pensamento sem memória, e sem esta não há nenhum “depósito”. A memória, nesse sentido, é condicionada, algo aprisionado no passado, na lembrança; memória é lembrança, que é passado. A estrutura disso tudo, que é a estrutura da mente, está baseada em prazer e dor. Então, toda técnica, método ou sistema que a mente possa criar, será algo dentro disso, algo circunscrito a esse movimento. Dessa forma, não pode haver Liberdade, Amor, Paz, Felicidade. Tudo que você vai encontrar na mente é conhecimento, experiência, memória e passado, prazer e dor. Isso é simples ou não é?
Então, se você prestar atenção ao que estamos falando e tiver real empenho e interesse em trabalhar isso, descobrirá por si mesmo que a mente não pode alcançar nada além dela. Ela pode se expandir, que é como ter acesso a outros departamentos e níveis dentro de uma mesma loja, de um mesmo depósito. Hoje em dia, alguns chamam isso de “expansão da consciência”, entretanto a palavra “consciência” está sendo usada de uma forma bastante equivocada. Eles falam em alcançar uma “consciência cósmica”, uma “consciência expandida”, mas tudo isso está dentro da mente ainda; faz parte desse movimento, dessa energia em movimento. Você pode ter diversas experiências de “suprema consciência”, como são chamadas, ou experiências místicas, espirituais, e alguns até acreditam que isso seja a Realização final. Você pode ter acesso ao passado ou ao futuro, acessar outras dimensões, as quais são chamadas de quarta, quinta, sexta, e assim por diante. Contudo, tudo isso ainda está dentro da dimensão da mente.
"Tudo que você precisa é estar além da mente, somente então você poderá reconhecer sua Real Natureza."
Portanto, é isso que um sistema, uma prática, uma técnica, pode lhe dar, mas “você” continuará aí. Agora, “você” é um ser espiritual, em contato com a quinta dimensão, consegue acessar outros mundos, pois sua “consciência se expandiu”; é realmente um “ser extraordinário”!
Tem alguém na sala assim?
Tudo isso está dentro desse círculo, que lhe parece muito amplo, profundo, mágico e misterioso, mas ainda faz parte da limitação da mente. Você ainda está dentro do velho jogo, do velho círculo vicioso, permanece na rede. Você tem a impressão de ter sofrido uma grande transformação, mas continua em apuros, com problemas. Então, todo esse esforço resultou na continuidade do ego (agora, um ego divino, espiritualizado; um ego “iluminado”). Isso é a mente, ainda, se perpetuando; é o velho jogo. Isso não tem nada a ver com o que estamos tratando aqui neste encontro.
Estamos falando de Liberdade, Paz, Amor, Felicidade, algo que a mente não pode alcançar, porque Isso está fora dela. Silêncio, Verdade, Realidade, é algo fora da mente, fora do conhecimento, da experiência, da memória, do pensamento, do passado, e dessa, assim chamada, “consciência que se expande”. Isso que tratamos aqui com você não é uma realização, não é uma conquista, nem o resultado de uma técnica, de um método ou sistema. Esses seus esforços apenas perpetuarão e valorizarão esse ego, esse “eu”, em sua autoimportância. Quanto mais você se especializa, quanto mais hábil e prático você se torna, mais estreito, limitado e imaginativo você fica, vivendo todas as experiências dentro do campo da mente e chamando isso de “consciência transcendental”, “consciência cósmica”, “consciência iluminada”. Talvez isso o decepcione um pouco, porque você acreditava que estava indo tão bem, que já estava pertinho de alcançar Isso... Nada disso pode pôr fim a todo esse “programa”, esse condicionamento, a toda esse “depósito”.
Tudo que você precisa é estar além da mente, somente então você poderá reconhecer sua Real Natureza, a Verdade sobre Si mesmo; somente assim a Real Inteligência estará presente. Costumo dizer que essa Inteligência não é a do “inteligente”, mas do Sábio. É isso que, de fato, pode ser considerado ou chamado de Iluminação, que é a Constatação de que não existe nenhuma pessoa, nenhum peso de condicionamento, de imagem, aí dentro, porque não há mente, não há mais essa “loja” ou esse “depósito”; não há mais nenhuma imagem de si mesmo, do outro ou do mundo. Essa Realização é o fim da ilusão, assim como da ignorância e do conhecimento. Isso somente é possível quando você se torna completamente consciente de que toda ideia que tem sobre si mesmo, toda imagem que você faz de si próprio, é uma ilusão que sustenta prazer e dor.
Essa Inteligência é Real Consciência e Isso é Realização, o fim para esse sentido de “eu”, “meu”, corpo, mente, mundo e todas as implicações disso. Isso é algo possível quando a Meditação assume o lugar dela, através da autoinvestigação e da entrega. Portanto, repito: isso não tem nada a ver com técnicas, sistemas e práticas. A Realidade se revela por Si mesma e, então, o Coração alcança esse Estado inocente de rendição e acolhimento, esse pleno reconhecimento de que a Vida é como Ela é. Assim, a Liberdade, a Paz, o Amor, a Felicidade, que é o seu Ser, se mostra como Silêncio, Verdade e Real Consciência.
Trabalhar Isso é estar em Satsang. Aguardo vocês nessa proximidade.
Namastê.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 14 de Novembro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Como ser livre?

Participante: Como posso me libertar desse peso de estar de um lado ou de outro, levantando bandeiras, defendendo causas e brigando por elas?
Mestre Gualberto: O mundo surge a partir do “eu”, mas onde está esse “eu”? A Realidade do mundo está oculta por essa ilusão do “eu”, que cria o “seu mundo”, no qual tem que haver divisões. No “seu mundo” as ideias são importantes, são a base dos projetos, das ideologias, das crenças ‒ aí está o mundo que o “eu” conhece. A confiança no “eu” dá a você uma falsa visão da Verdade. A Verdade é o que aparece, porém, a visão falsa é a interpretação disso que está aparecendo. Essa interpretação, visão falsa, é criada por pensamentos, que lhe dão uma distorcida visão da Realidade; e quem tem essa visão é o falso “eu”.
Como se livrar disso? Encontrando a Fonte do “eu”, investigando a natureza do “eu”. Se a sua pergunta é “como ser livre?”, você só tem uma coisa a fazer: investigar a ilusão, olhá-la de perto. Você não vai construir o Ser, então, não tem como “ser algo”; não vai construir a Liberdade, então, não tem como “ser livre”. Ou seja, há somente como investigar a ilusão. Você tem que investigar a ilusão do “eu”, a qual é sustentada por conceitos, ideias, crenças.
Então, a partir de agora, não confie mais em nenhuma ideia, em nenhum pensamento, em nenhuma crença. Nenhuma! Sem pensamentos, será impossível você ter uma ideologia, uma opinião, julgamentos, comparações, ideias... Se você enxerga a ilusão, ela deixa de ser ilusão, porque ela para de enganar você.
Em outras palavras, seja inocente! Permaneça no “não saber”, pois é o saber que tem sustentado as ideologias. Somente o conhecido pode ser sustentado por argumentação, conclusões, ideias, crenças. O “não saber”, o desconhecido, não pode ter opiniões, ideias e crenças; não pode levantar bandeiras, porque não sabe o que é isso. Assim é o Sábio. Sua Real Natureza é esse Espaço imensurável do “não saber”; é esse Espaço do desconhecido, sem medidas.
“O que você defende?” Não sei. “Com o que você concorda?” Não sei. “Qual o clube que você mais ama?” Não consigo pensar sobre isso... Não sei. “Quem será o melhor?” Não faço a menor ideia.
O que há de complicado no “não sei”? Repare que toda complicação está exatamente em saber alguma coisa.
Você é como um panelão de sopa, e tem muita coisa sendo cozinhada dentro de você. Por maior que seja esse “panelão”, ele ainda é limitado, não é? Ele tem as suas dimensões, o seu conteúdo... Quando não há nenhum “panelão”, não há conteúdo, nem dimensão, e, então, Você é uma “coisa” imensurável, inalcançável, indizível, inominável... Você é Liberdade! Os seus olhos e ouvidos estão abertos, sua fala está solta, qualquer ideia que chega não pode capturá-lo, não vai aprisioná-lo; nenhuma imagem, som ou ideia aprisionarão você; nenhum pensamento, crença, conclusão, opinião, “bandeira”, comparação e julgamento irão aprisioná-lo.
Nesse Estado há uma receptividade; é um Estado de sensibilidade e de vulnerabilidade ao Divino, ao Imensurável, ao Desconhecido, a Deus. Assim, quem é o único? Deus! Quem é o primeiro? Deus! Quem é o último? Deus! Quem é? Deus! Quem não é? Deus! Há somente Ele e isso não é uma ideia. Aliás, Deus se mostra quando todas as ideias já não estão mais presentes.
"Deus se mostra quando todas as ideias já não estão mais presentes."
Foi dada a resposta, e agora? Você ainda vai “saltar” para capturar o próximo pensamento que surgir? A tentação será grande, porque você está viciado nisso, em dar existência a esse “panelão de sopa”, onde há uma confusão de coisas fervendo. Essas ideologias e “bandeiras” que você carrega são coisas tão volúveis, estreitas, medíocres, que a qualquer momento elas mudarão. Mesmo que leve anos, você acaba saindo de um lado e indo para um outro. Você pode até jurar convicção, mas isso se sustentará até a “barriga começar a doer”, até algo acontecer e “mudar a chave”.
Isso não é real, não há realidade em crenças, pois você vai mudar com elas e elas mudarão com você, que está perdido, “cozinhando” todas essas coisas dentro de si. Lembre-se de que eu disse que você é um “panelão”, o qual está assentado em cima do fogo da ilusão, que, por sua vez, cozinha toda essa confusão aí dentro. Então, você tem que investigar esse “fogo”, essa ilusão, e deixá-la cair por meio da observação.
Compreendem isso?
Assim, você nunca mais saltará sobre ideias e pensamentos, porque agora você está vendo que não vale a pena confiar neles.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Fortaleza em Agosto de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Quando você descobre o que é meditação

Este é um momento único. Nós estamos investigando a natureza ilusória do pensador, do “eu”, dessa egoidentidade, dessa “pessoa”. Temos aqui um momento de observação disso verbalmente. Além disso, temos a oportunidade de estar presencialmente nessa atmosfera de pura e real Presença Divina, que é onde o trabalho se torna possível.
A ideia central é de que o pensamento é algo que pertence a “alguém”, assim como a experiência, sempre com uma referência no passado, na memória, no que é conhecido. Todos os seus pensamentos e experiências têm sempre a ideia de um “eu” presente, tendo o passado como referência.
Vamos investigar a ilusão disso, desse experimentador, pensador...
Você nunca fala de uma experiência acontecendo neste momento, mas somente de experiências do passado; nunca fala de pensamentos deste momento, porque todos eles têm como referência, sempre, o passado, ou seja, são memórias, lembranças. Você sempre fala do que aconteceu, seja há um minuto, uma hora ou dez anos. Então, toda a sua experiência é ligada a um suposto “eu” que viveu algo, do qual acredita estar se recordando neste instante. Não é isso mesmo? Assim sendo, a referência é sempre o passado. Pensamento é memória, experiência é memória, e esse “eu” é uma ideia “linkada” a pensamentos e experiências. Acompanham isso?
"Pensamento é memória, experiência é memória, e esse “eu” é uma ideia “linkada” a pensamentos e experiências."
Se não há pensamento, não há experiência, e, sem o “eu”, não há pensamento. Assim, nós temos três “aparições” que surgem sempre juntas: o pensamento, que é memória; a experiência, que é relatada pelo pensamento; e um suposto “eu”, o qual teria vivido isso. Agora mesmo você não duvidaria que está passando por uma experiência. Depois, o pensamento vai tratar desta experiência, como se, de fato, ela tivesse acontecido para “alguém”. Ou seja, o pensamento, que é memória, vai trazer essa imagem e dentro dela haverá a ideia de um “eu” que passou por isso.
Todos acompanham isso?
O que eu tenho para lhe dizer é que tudo isso tem somente uma referência baseada no pensamento, que é memória. Então, nós temos o “eu”, a experiência e quem “fala” sobre isso, que é o pensamento. O “eu” é o sujeito, a experiência é o objeto e o pensamento é aquele que conta a história dessa relação entre sujeito e objeto. Reparem como é interessante isso! O pensamento, imaginariamente, separa sujeito e objeto, o “eu” e a experiência. Então, você carrega sempre essa ilusão de que você é esse “eu”, que passa por experiências, que pensa e experimenta. Nós estamos diante de algo fascinantemente simples, mas, curiosamente, você não consegue ver isso sozinho.
O que estou dizendo é que você, fundamentalmente, não é sujeito nem objeto. Essa relação entre sujeito e objeto é uma imaginação do pensamento e, fundamentalmente, você está além de tudo isso. A questão é que você carrega um condicionamento muito profundo, uma coisa muito enraizada aí dentro, que é essa confiança de que você é o “experimentador”, o “pensador”, “alguém” dentro do corpo, na experiência do mundo. Até acredita que nasceu! Seu estado de sono, de sonho, de imaginação, tem raízes muito profundas. Fundamentalmente, você nunca nasceu, nunca experimentou.
Alguns dizem que você é um ser divino numa experiência humana, mas isso não é verdade! Não existe nenhum experimentador dentro desse sonho, pois o que nós temos é apenas o sonho. Se pode estar inteiramente cônscio disso, então, você não é o experimentador do sonho; está além dele. Se não pode, você está se confundindo com a experiência, portanto, preso dentro dessa crença, desse condicionamento de “ser uma pessoa”. Assim, a própria ideia de se alcançar algo ainda pertence à ilusão do experimentador. Não existe nada que você possa alcançar! Essa é uma ideia profundamente enraizada, e é por isso que as pessoas vivem buscando experiências.
Satsang é o fim da experiência, da ilusão do experimentador, da ilusão da separação entre sujeito e objeto, portanto, é o fim do pensamento. As pessoas passam por alguma experiência mística, esotérica, espiritual, e acreditam que alcançaram a Iluminação. A Iluminação não é um objeto, então não pode ser uma experiência para um sujeito; isso ainda faz parte do pensamento. Enquanto o sentido de dualidade (sujeito-objeto) está presente, não existe Real Despertar, Real Iluminação. Iluminação é o fim da experiência e do pensamento, do experimentador e do pensador, do sujeito e do objeto. Somente, então, existe Real Autorrealização.
"Iluminação é o fim da experiência e do pensamento, do experimentador e do pensador, do sujeito e do objeto. Somente, então, existe Real Autorrealização."
Acompanhe isso com cuidado... Consegue acompanhar?
O corpo, os sentidos, a mente, todos esses estados, experiências e pensamentos são coisas que vêm e vão. Fundamentalmente, você está além de tudo isso. Todo estado vem e vai, mas você é essa Presença atemporal, é essa Suprema Realidade, Alegria, Amor, Verdade, Silêncio e Paz. Você é Deus! Repare que estou colocando para você a importância dessa Realidade, além de sujeito e objeto, além dessa experiência-pensamento-eu.
Essa Realidade não pertence ao mundo das realizações, não faz parte do mundo das aquisições, dos desejos, ou seja, não faz parte desse mundo da mente. O que Você é não pode ser experimentado ou pensado, não pertence a essa relação de sujeito e objeto. Assim, é necessário deixar todo desejo por realizações, aquisições, por obter, alcançar alguma coisa. Você vê isso?
Então, quando você descobre o que é Meditação, pode descobrir O que, fundamentalmente, Você é ‒ essa Realidade que está além da mente.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 05 de Novembro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Investigue profundamente isso

Aquilo que ouvimos nesses encontros, em Satsang, são falas que apontam para uma Realidade desconhecida da mente. Estamos diante de um assunto bastante fascinante. Não tratamos de algo imaginário, mas de algo desconhecido da mente.
Estamos propondo para você assumir a Verdade de ser quem Você é, a Verdade sobre Si mesmo, descobrir a Realidade de sua Natureza Essencial. Estamos tratando de algo desconhecido para a mente e queremos que você investigue profundamente isso. Então, você terá a chance de não mais se identificar com mudanças.
Todas as experiências que você vivencia são mutáveis. Se você tem uma aproximação de observação, sem se confundir com essas experiências, você percebe que há um “elemento” presente, imutável, em meio a tudo isso. Esse “elemento” presente é uma testemunha das mudanças, a testemunha presente, a sempre Presença, o “elemento” imutável. Percebam como isso é básico dentro dessa investigação. Realização é algo perfeitamente possível, porque, quando falamos de Realização, estamos falando da Autorrealização, da Realização do Ser.
Neste momento, você acredita que está sentado ou deitado... Na verdade, apenas o corpo está presente. Quando você diz: “Estou sentado!”, na verdade, está se referindo ao corpo, porque Você não está sentado. Daqui a pouco, a posição desse corpo muda e você diz: “Estou deitado!”, mas Você não deita, é o corpo que deita. Essas são as mudanças daquilo que pode mudar — assim é o corpo. Sentado ou deitado, Você não muda, o que muda é a posição do corpo. Então, estou dando um exemplo de algo em você que não muda, que testemunha a mudança. A mudança acontece naquilo que pode mudar, como o corpo, mas Você é a testemunha.
Quando falamos de Autorrealização, estamos falando da constatação da Natureza Imutável do Ser, de sua Essencial Natureza, dessa única Verdade Imutável que Você é. Assim como o corpo muda de posição, a mente também “muda de posição”. Às vezes, ela está descansada, em outros momentos, está cansada, estressada, ansiosa, com medo, em confusão. Então, ela está mudando o tempo todo e você pode testemunhar isso. Você pode testemunhar a mudança do corpo e da mente. Você pode continuar se confundindo com o corpo ou com a mente, ou pode permanecer desidentificado deles. Se você permanece desidentificado, vê que não tem nada acontecendo em seu Ser, em sua Natureza Verdadeira.
"Quando falamos de Autorrealização, estamos falando da constatação da Natureza Imutável do Ser, de sua Essencial Natureza, dessa única Verdade Imutável, que Você é."
O que eu descobri é que, na razão em que você se desidentifica do corpo e da mente, esses estados perdem o poder de trazer confusão, sofrimento, desconforto psicológico, emocional. Aí está a chave da Liberação! Colocando de forma simples, com um exemplo bem prático: o corpo está sentado, de repente, ele sente calor e liga o ar-condicionado; ele sente calor e vai buscar uma ducha de água fria; ele sente frio e coloca uma jaqueta. Então, o objeto, que é o corpo, está procurando alguma coisa em razão da mudança que ele experimenta, e você observa isso sem se confundir com ele. Não é um problema seu, é um problema do corpo. Isso passa a ser seu problema quando você acredita que é o corpo. Fome, frio, calor, dor, prazer... nada disso tem a ver com você, tem a ver com o corpo. Você passou muito tempo acreditando que é o corpo, agora está em apuros, está com problemas e tem que se desconectar disso, precisa soltar essa crença. Na mente, acontece a mesma coisa. O pensamento diz: “Ele não gosta de mim!”, ou, “Ninguém gosta de mim!” e, imaginariamente, vai buscar um estado para confirmar sua crença. Então, ele cria um estado chamado “rejeição”, “tristeza”, “depressão”. Esses estados também estão sempre mudando. Você, habituado a referir-se a si mesmo como “eu”, diz: “Eu estou triste”. A tristeza é só um objeto, uma experiência da mente, mas a mente não é você.
“Ninguém me ama”, “Ninguém gosta de mim”... Todos os pensamentos que passam na sua cabeça são estados da mente, que estão mudando. Esses pensamentos acompanham os sentimentos e você confia nisso. É uma questão de educação. Você foi educado, treinado, a confiar em pensamentos. Uma das primeiras coisas que eu digo para as pessoas, quando elas vêm, é: “Não confie em nenhum pensamento. Isso é só uma questão de condicionamento, de educação”.
Seus pais lhe deram um nome, uma forma e essa educação que você recebeu, atribuindo-lhe muitas qualidades, e você se identifica com isso. Assim, a sociedade lhe deu a ideia de que você é “alguém”, “alguém” no corpo, que tem uma mente. Essas qualificações, essas atribuições que você dá a si mesmo, são todas resultado de educação, de cultura, de crença social. Você se refere a si mesmo como sendo “alguém” dentro do corpo, tendo uma mente, mudando o tempo todo, porque o corpo e a mente mudam. Essa é a programação, a educação, o condicionamento, a ilusão. Você pensa em termos de “ser humano” mudando. Você viu o corpo mudar, então, acha que está mudando. Assim como, quando ele muda de posição (sentado, deitado, em pé), você acredita que é você que está mudando.
O menino era jovem e agora está mais velho... Os meninos, aos cinco anos de idade, não têm barba, mas, quando crescem, passam a ter. As meninas, que não tinham seios, agora têm. O fato é que o corpo muda, mas Você, dentro, não muda, porque você não é o corpo. A mente muda, mas você não muda, porque você também não é a mente.
Quando você pensa em si mesmo como sendo “alguém”, cria uma imagem sobre quem você é e acredita que tudo que acontece a essa imagem está acontecendo a você. A Autorrealização é o fim dessa ilusão. A Liberação, a Paz, a Felicidade, reside em sua Natureza Imutável de Ser, nessa Realidade sempre presente, além do corpo e da mente.
Meditação é não se confundir com isso, trabalhar a desidentificação dessa experiência de mudança acontecendo no corpo e na mente. Você não é essa imagem que tem de si mesmo. Na razão em que se torna consciente desse corpo, dessa mente, e não se confunde com essas mudanças, você se torna ciente, completamente, de que toda ideia que faz de si mesmo é falsa; que esse “eu” é apenas, ainda, um objeto, fruto da imaginação do pensamento.
Na razão em que você se torna consciente desse movimento de mudança do “corpo-mente”, fica ciente desse “eu”, que é apenas um objeto que você pode reconhecer. Você, agora, sabe que os seus desejos, medos, toda essa ansiedade, nada disso é você. Você está dentro desse processo de desidentificação da ilusão de uma identidade presente na experiência “corpo-mente”.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 12 de Novembro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Você é a Realidade Absoluta!

Estamos tratando, aqui, de uma Realidade absoluta, de uma Verdade que está além de todos os pontos de vista. Não é possível nos aproximarmos da Verdade Divina, da Verdade de Deus, a partir de pontos de vista, a partir de uma visão relativa, parcial, baseada em conceitos, ideias, crenças. Isso pela simples razão de que essa Realidade absoluta não carrega nenhum ponto de vista. Ela não vê objetos, situações, eventos, coisas, nem assiste a nada disso a partir de um ponto de vista particular. Essa visão da Realidade é a visão do Sábio, daquele que realizou seu Ser, que está assentado em seu Estado Natural.
A Verdade é, necessariamente, Absoluta, porque não carrega nenhuma relatividade, nenhum ponto de vista. Você vê pessoas, coisas, lugares e situações dentro de um ponto de vista ilusório. Por isso você se preocupa com eventos, acontecimentos, incidentes, acidentes, com pessoas e consigo mesmo. Esse é o ponto de vista desse falso “eu”. Na visão do Sábio, nada disso é real. Isso não é um ponto de vista, é a visão da Realidade, a constatação do Absoluto.
A visão da mente é sempre limitada, a partir de um centro imaginário, o falso “eu”. É nele que aparecem pessoas, lugares, situações, eventos, incidentes e assim por diante. A mente inclui, dentro de todo esse conjunto, uma “entidade” presente experimentando tudo isso. Pura imaginação!
Você, como Consciência, como essa Verdade Absoluta, não está preso dentro desse ponto de vista relativo, através do qual você vê um mundo produzido pelo pensamento e se relaciona com ele. É nesse mundo que existem amigos, inimigos, os bons e os ruins, os parentes, a família, os lugares, os objetos, a natureza, tudo aquilo que a mente quer preservar e com o qual se preocupa o tempo todo. Tudo isso é visto a partir desse “eu” imaginário, um “eu” que você imagina existir dentro do corpo.
Essa Verdade Absoluta, que é a Verdade do Ser, que é Você em seu Ser, é indescritível Liberdade. Em sua Natureza Real, você está completamente livre desse mundo imaginário criado pelo pensamento. Parece-me que a palavra mais próxima desse Natural Estado Absoluto é Felicidade, que é incondicional Liberdade, onde não há objetos, pessoas, crenças, ideologias, ciência, política, tecnologia... Na Índia, esse Estado Absoluto de Ser é chamado de Samadhi ‒ a Verdade completamente livre do imaginário, do sonho!
"Na Índia, esse Estado Absoluto de Ser é chamado de Samadhi ‒ a Verdade completamente livre do imaginário, do sonho!"
Então, toda essa preocupação que você tem com a natureza, com a política, com a família e com o mundo à sua volta está dentro dessa prisão, desse condicionamento do mundo mental. A mente conhece vigília, sonho e sono profundo, onde toda experiência é puramente mental. Esse mundo de nomes e formas é apenas resultado de uma atividade mental, e a confiança que se dá a isso é pura ignorância. No momento em que a mente assume esses nomes e formas, inicia-se a ilusão da separação, da separatividade, de “realidades separadas”.
Contudo, não existem “realidades”, há somente uma única Realidade, a qual está além de vigília, sonho, sono profundo, nomes, formas, ou seja, além de toda atividade da mente. Quando você se perde nessas atividades mentais, você se identifica com o corpo, com a mente e com a experiência do mundo, e é isso que sustenta esse falso “eu”. Quando você vive nessa identificação, toda a sua relação com a vida é tremendamente miserável, pois ela se encontra assentada no medo, na ignorância, na ilusão.
Nessa Realidade Absoluta, não há sujeito e objeto, não há corpo, não há mente, não há mundo, não há coisas separadas e reais em si mesmas. A Realidade está além disso tudo! Tenho frisado muito que é necessário verificar isso de uma forma direta, então, você se reconhece como essa Realidade Absoluta. Para isso, é necessário ir além da mente, além desse jogo, desse sonho. Todo o seu medo, o medo de viver e de morrer, é o medo de uma “entidade” imaginária, de uma falsa “entidade” presente, dessa “pessoa” que o pensamento, imaginariamente, produziu. Você não existe nesse formato!
Você é a Realidade Absoluta! Você é a Realidade Divina! Você é a Realidade de Deus! Há somente Ele! A constatação direta Disso é essa Liberação, essa Felicidade, essa Paz, esse Amor Real, essa Verdade!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 10 de Outubro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

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