quarta-feira, 30 de maio de 2018

Toda a Beleza já está presente!

Essa Realização não é algo novo que deva ser acrescentado a você. É como um palácio abandonado, que há centenas de anos está sem nenhum morador. Ele está esquecido, perdido, como um tesouro escondido em algum recanto do mundo. Esse palácio está sendo a moradia de baratas, ratos, morcegos e aranhas. O piso, as paredes, os móveis, os espelhos e toda a mobília, nesse palácio, estão cobertos de poeira. Nele, os ratos e as baratas se multiplicam.
Esse palácio está lá há milhares de anos e, por detrás de toda aquela poeira, há mobílias feitas da madeira mais forte e bela que se pode encontrar na Terra. As molduras dos espelhos — que são muitos — são do material mais requintado, mais fino, mais delicado. Há amplas salas, amplos quartos, e o assoalho, como tudo ali, foi colocado com muito cuidado. Há muitos detalhes de grande encanto aos olhos, de grande beleza, mas tudo está coberto de poeira. A quantidade de insetos é enorme! A não ser que esse palácio seja encontrado, descoberto, e toda aquela poeira dos móveis, aquela sujeira e os insetos sejam retirados, a sua beleza continuará oculta. Realização é algo assim: já está aí, mas há muita coisa encobrindo Isso!
O palácio não foi construído para a morada de ratos, baratas e aranhas. O propósito da construção desse palácio foi muito mais nobre. São os reis, os príncipes, os monarcas, que moram em palácios.
O propósito dessas falas é sempre o mesmo. Elas não têm o propósito de lhe ensinar algo novo, mas de fazer você descobrir o antigo, perceber Aquilo que já está presente. Você é um palácio, mas está ocupado com muita poeira, ratos, baratas, aranhas e diversos outros insetos. Você é um palácio com amplos e belos espaços, belas mobílias, mas muito ocupado.
Você é como um imenso oceano se confundindo com uma pequena onda, uma pequena marola, vivendo em um estreito pedaço do mar, se chocando contra as rochas a toda hora. Com pequenas variações, a mesma onda se repete. Vez após vez, ela bate na rocha, se desmancha, volta e se desmancha novamente. Ela “nasce” em um determinado ponto e “morre” quando bate contra a rocha, e, depois, retorna com uma pequena diferença de formato. Assim, passam-se meses, anos, séculos, milênios, e você, que é toda essa imensidão do oceano, inexplicável, indescritível, permanece se confundindo com uma pequena marola, uma pequena onda.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em Fevereiro de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

sábado, 26 de maio de 2018

A minha técnica é:

Felicidade não é uma negação da vida, mas também não é uma afirmação, como a mente egoica deseja que seja. A mente egoica deseja uma afirmação da vida que a Felicidade não conhece.
Qual é o problema, então?
O problema está em viver viciado nas diretrizes que o pensamento tem para você, todas programadas pela cultura, pela sociedade, pelo modelo implantado no mundo. Em cima desse modelo, você foi educado, cresceu, e agora está aí, permitindo-se ser direcionado pelo pensamento para se mover nessa ou naquela direção, agindo de uma forma programada, cultivada pelo medo e pelo desejo.
Então, os seus objetivos, com esse seu modelo de existência, estão fadados ao fracasso, a produzir mais e mais sofrimento, mais e mais mentira, mais e mais confusão, mais e mais miséria.
Haja vista esse absurdo do pensamento descontrolado dentro da sua cabeça, não há Consciência, não há Inteligência, há somente esse caótico, confuso e desordenado movimento.
Basicamente, você pensa; esse é o problema! Você só pensa porque aceita essa tagarelice interna como verdade, como parte de sua realidade. Acontece aí um pensamento objetivo e essencial para o corpo, como: “Tenho sede, quero água”, no meio de um bilhão de pensamentos como: “Está horrível isso”, “Não gosto dela”, “Não gosto dele”, “Estão mentindo para mim”, “Eu vou conseguir”, “Eu posso”, “Eu faço”… Ou seja, um bilhão de pensamentos envolvidos com o autopreenchimento de uma suposta entidade presente, vivendo dentro do corpo.
Como não vai haver miséria, sofrimento, dessa forma, se o que você chama de “vida” é a mentira, a programação de mentir? Não é a Vida! Como haverá Deus, Verdade, Inteligência, Felicidade? Não é possível! Como haverá Realização, completude de Ser, agora, nesse instante?
Dentro desse movimento caótico do pensamento, também cria-se a ideia de evolução: “Hoje não sou, mas amanhã serei”, “Hoje não tenho, mas amanha terei”, “Hoje não estou iluminado, mas amanhã estarei”.
Os sábios dizem que para estar aqui com a única Verdade não é necessário tempo nem esforço. Aí o pensamento faz uma filosofia em cima disso, começa a explicar o que ele tem visto sobre isso e distorce tudo. Então, a mente começa a treinar a “ficar aqui e agora”, e também a ensinar isso: “Fique aqui e agora”; “É só estar aqui e agora”; “Faça esse ou aquele exercício para alcançar isso”. E lá está o movimento do velho “eu”, ainda se ocupando com alguma forma de prática, com alguma técnica de meditação. Vocês todos já praticaram técnicas diversas de meditações para tentar chegar a algum lugar.
O que eu chamo de Meditação é olhar para isso que está neste instante, sem saltar sobre isso, sem dar credibilidade a isso, sem confiar nisso, sem se agarrar nisso. Você faz isso exatamente nesse segundo e, daqui a três dias, faz isso neste mesmo segundo e, daqui a três anos, no mesmo segundo. Você só tem um segundo para fazer isso, e é agora, aqui! Então, repare que não tem nada a ver com prática, mas com Atenção, com Presença, com Verdade… A Verdade para não confiar nessa voz interna, para não confiar nesse sentimento interno, nessa disposição interna, que diz que você é isso ou aquilo, que precisa disso ou daquilo. Por isso que eu nunca coloco vocês em práticas; eu coloco vocês na arte da Meditação, mas não na prática da meditação.
Olhar com atenção, ouvir com atenção, sentir com atenção... Quando o pensamento surgir, mantenha a atenção sobre essa loucura interna, para não ser um pensador. O pensador é, também, só um pensamento. Não tem pensador, só pensamento, repetitivo, continuado, programado, invasor. Todo pensamento é invasor! Você não tem um só pensamento original; nenhum pensamento é!
Pensamento não é a sua natureza, não é real em seu Ser, é só real como um fenômeno, assim como esse sofá. Você nunca nasceu! Como isso também é um fenômeno, não é real em seu Ser.
Seu Ser não é o que você pensa ser! Ele está fora do pensamento! O pensamento não é o seu Ser! Então, você diz apenas isso: “Não é”. O seu trabalho é: “Não é.” Você quer uma técnica? As pessoas vêm a mim e pedem uma técnica. A minha técnica é: “Não é”. Esse sentimento? Não é! Esse pensamento? Não é! Essa sensação? Não é! Essa certeza? Não é! “Mas, Mestre, o Silêncio chegou!” Aí eu digo: “Não é”! No Zen tem muito isso. O monge escuta o Mestre durante um tempo e depois fala: “Mestre, alcancei o Silêncio”. Aí o Mestre diz: “Não é. Jogue fora!”
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de João Pessoa, em Março de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Não há como realizar isso identificado com a mente

A aproximação que você tem, nesse espaço chamado Satsang, tem o propósito de lhe mostrar essa grande ilusão na qual a mente tem vivido. Como você sempre esteve identificado com a mente, você a toma como a sua realidade, como a realidade da sua vida.
Se você descobrir como explorar a Natureza Real da Consciência, você vai descobrir que Ela não possui essas qualificações objetivas. Em outras palavras, todo modo de conceituar a vida à sua volta é um modo que a mente conhece, dando qualificação a tudo em volta dela. Em Satsang, você está dentro de uma aproximação da Sabedoria, de um encontro com a Verdade. Esse é o significado da própria palavra Satsang.
Na mente, você carrega vários conceitos, crenças, opiniões e conclusões, e você considera que isso é real para si mesmo. No entanto, aí está a ilusão desse falso “eu”, dessa “pessoa” que, por exemplo, neste momento, parece estar ouvindo alguém – alguém ouvindo alguém. Essas são as qualificações objetivas da mente. A mente, em sua ilusão, torna tudo objetivo à sua volta, sendo ela o sujeito. Então, ela é o sujeito, o “eu”, e tudo à sua volta é o não “eu”. Esse é o conceito, a crença, a ilusão da separação. Essa Consciência é a Natureza do Ser, é a sua Natureza Real. Ela não possui essas qualificações objetivas. Isso é pura criação da mente!
Então, a forma como você está vivendo na mente é totalmente equivocada; é uma vida totalmente ilusória! Isso que é conhecido como “vida humana”, “vida pessoal” é algo semelhante ao sonho que você tem à noite. Quando você acorda pela manhã, percebe que não havia nenhuma realidade, era apenas a mente fabricando imagens, produzindo experiências, e tudo isso estava dentro dela. Aquele mundo do sonho não era uma realidade objetiva. Aquela experiência do som, das imagens, as pessoas presentes no seu sonho, tudo era tão irreal como você dentro daquela experiência. Tudo no seu sonho foi construído por conceitos e crenças. Então, os objetos, as pessoas, as sensações, toda essas experiências, estavam somente dentro da própria mente. Tudo foi pura imaginação.
Esse seu mundo, que é o mundo da mente, é o mesmo mundo do sonho que você tem à noite, enquanto que a Verdade de sua Consciência, de sua Natureza Real, está além disso. O propósito desse encontro é que você descubra a Realidade, a Verdade sobre si mesmo. Se isso fica claro, não há mais ilusão; a mente entra em colapso!
Não há nome adequado para essa Realização. Alguns chamam isso de Despertar. Essa Realidade é a Realidade do Silêncio. Tudo que a mente conhece são nomes e formas, são experiências que ela mesma produz, mas estamos apontando para “algo” além da mente, “algo” além dessa ilusão do “eu”. A mente não pode apreender a Realidade, não pode alcançar Isso.
A mente sempre fica no campo da dualidade, que é o campo de sua própria experiência – sujeito e objeto. Tudo o que a mente conhece está dentro dessa dualidade. Ela mesma se separa entre mente e corpo, mente e mundo. Entretanto, não existe nenhum sujeito e objeto, não existe nenhum pensamento e seu pensador. O pensador é só um pensamento criando a ilusão de uma entidade responsável pelo pensamento. Não existe pensador e pensamento; isso é uma crença do pensamento. Não existe mente, corpo e mundo. Não existe vigília, sonho, sono profundo e morte, nem um estado pós-morte. Tudo isso é só a mente produzindo.
Todo dia você tem a experiência de conversar com outras pessoas, de ter pensamentos, sentimentos e emoções, mas isso não é verdade. Isso é só a mente nela mesma, por ela mesma, experimentando ela própria. Mesmo que você tenha um contato de 3º grau, um contato com extraterrestres, isso também estará dentro da experiência da mente. Não existe nada fora da mente e sua experiência. O ego é ávido por experiências místicas, esotéricas, espirituais, extrafísicas. É a busca da mente por sensações extraordinárias. O ego adora esse tipo de viagem.
A Verdade é o fim da mente e sua experiência; é quando a mente entra em colapso, cai, desaparece. A própria mente é feita de conceitos, aparências, nomes, crenças. Então, todas as experiências são projeções da própria mente. Na verdade, ela própria é construída por essas projeções, que não estão separadas dela; essas projeções são a própria mente.
Quando a sua história termina, a mente, o ego, que é a ilusão desse sentido de um “eu” separado, também termina. Então, não há mente, não há corpo e não há mundo. O seu Estado Natural é Ser! Isso é Meditação, Consciência, Liberdade!
Tenho só mais uma coisa para lhe dizer: todo esse movimento, esse sonho, é apenas uma dança da Consciência. O problema não está nessa dança, não está no movimento. O problema surge quando você tenta assumir o lugar da Realidade. Portanto, você está — e sempre estará— diante de um paradoxo. A Verdade não pode ser alcançada por você. Não há como realizar isso identificado com a mente, tendo a mente como real.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 29 de Janeiro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

A Comunicação do Silêncio

As pessoas dizem que Ramana estava em silêncio… Sua Upadesa, seu ensino, foi sempre através do Silêncio. Mas, você não deve confundir o Silêncio de Ramana com o silêncio da não fala. Ele estava no Silêncio e comunicava em silêncio. Para nós, comunicação é fala; para o Sábio, comunicação é comunicação. Ele estava dando um recado em silêncio, mas ele não estava no silêncio da não comunicação. Até em nossa experiência ordinária, nós sabemos que comunicação não depende de fala.
O som da voz, a fala, é apenas uma forma de comunicação, mas não é a mais importante. Para o Sábio, a maior forma de comunicação é o Silêncio, mas o Silêncio não implica ausência de voz, de fala… Ramana também falava!
O que vemos, na mente, é uma fala que não comunica e um som que não diz nada. Em nossa experiência comum do dia a dia, percebemos que basta um olhar, um gesto ou uma expressão facial para que algo seja comunicado. Quando é direcionada a você uma expressão facial de raiva, você sabe que o outro está com raiva. Quando ele abre um sorriso, você sabe que ele está feliz em vê-lo, que você está deixando-o bem.
Vocês estão em Satsang para receber a comunicação, para saber o que está sendo pedido a você. Você vem a Satsang para descobrir como Realizar o que Você É e a premissa primária é que você está diante de um Buda, ou assim deveria ser. Você está aqui para descobrir como não sofrer mais, como não se equivocar mais, como não ser infeliz. Então, se esse é o propósito em Satsang, você precisa descobrir o que deve pegar e o que deve largar; o que é relevante e o que não é relevante para você.
A questão para você formular, em Satsang, é: “Quem sou eu?”. Então, você aguarda a comunicação, que pode vir pela fala, pelo gesto, pelo olhar, pelo silêncio... Se a sua disposição estiver em receber, em descobrir o que tem que pegar e o que tem que largar, a comunicação virá.
Essa foto para mim [Mestre aponta para a foto de Sri Ramana Maharshi], durante todos esses anos, não foi apenas uma imagem parada, uma expressão facial. Através dessa foto, o meu Guru, o Mestre, estava dizendo o que era falso e o que não era; o que era ilusão e o que era real; o que eu tinha que pegar e o que eu tinha que largar para realizar a Felicidade. Então, essa imagem nunca foi a mesma, ela estava sempre comunicando essa investigação.
Isso não é de se admirar, porque a vida está o tempo todo lhe dando sinais do que são meras repetições, hábitos e práticas que não significam absolutamente nada para você, para sua Felicidade, para sua Realização, e que você deve soltar. Da mesma forma, a vida está lhe indicando aquilo que você deve pegar; o que é relevante e o que não é relevante; o que é importante e o que não é importante.
Em geral, a pessoa não consegue ver esses sinais da vida, não consegue ver essas expressões no “rosto” da vida. Então, ela precisa de um Mestre vivo, de um Guru, para ver, na expressão de um rosto humano, o que é Real e o que não é real; o que vale a pena sustentar e o que não vale. Então, o Guru sempre será importante.
O Guru não precisa, necessariamente, ter uma forma humana, mas precisa ter um rosto. Se ele tem um rosto, ele é o Satguru, e se você pode olhar em seu rosto, ele é o seu Mestre. Mas, se você não pode olhar em seu rosto, você continua cego. A capacidade de olhar em seu rosto é a capacitação da Graça, desse poder misterioso que lhe dá abertura, inteligência e fervor… Uma Real Paixão por Isso! Eu chamo Isso de Graça, que é o que lhe dá a possibilidade dessa aproximação, para que você consiga Ver.
Eu era cego, mas agora vejo! Você vê, a face comunica e, então, você tem a inteligência, o fervor e a capacidade de “aprender”. Você “aprende” quando desaprende! Quando desaprende seu modelo, você “aprende” o que é Real. Em certo momento, essa “face” estará sorrindo para você e, no momento seguinte, ela dirá: “Você está segurando o que não deve segurar, está sustentando um equívoco, um engano, uma mentira. Solte isso!”. Na verdade, essa “face” não é a comunicação natalina do Papai Noel – “Ho, Ho, Ho! Feliz Natal para todos!”. O Papai Noel é uma ilusão e o seu saco de presentes também.
O que você está sustentando que, basicamente, o impede de Realizar a Felicidade? Qual é o seu real impedimento?
Participante I: Eu mesmo!
Mestre Gualberto: O que acontece com esse “eu mesmo”, que é o impedimento real? Se esse “eu mesmo” é uma ficção, como ele pode se constituir em um impedimento real? Como é configurado esse “eu”? Do que ele é feito?
Participante II: É feito da valorização! Quando eu valorizo os pensamentos que aparecem, quando dou importância a isso.
Mestre Gualberto: Quando você valoriza os pensamentos, o que, basicamente, você está valorizando?
Participante I: A ilusão de alguém separado, com uma vida própria, que deve ter as coisas do jeito que quer, que deve ter os desejos alcançados… É conflito! É ficar em contraposição à vida!
Mestre Gualberto: É bem isso! Saber o que quer e o que não quer; o certo e o errado; o que deve ser e o que não deve ser. Esse é o impedimento!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de João Pessoa, em Dezembro de 2017. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

O que impede a Real Felicidade?

O que impede a Real Felicidade? Nosso objetivo, nesse encontro, é investigar a natureza desse impedimento. Nós não estamos investigando a Realidade, a Verdade ou a Felicidade, mas a natureza desse impedimento. O grande impedimento — talvez o maior impedimento de todos — é a crença não examinada acerca da verdade sobre si mesmo. Você não sabe quem é, mas tem muitas ideias sobre isso.
Estar disposto a viver a Verdade significa ter a disposição de abandonar todas as crenças, o que significa abandonar essa identidade pessoal (esse sentido de pessoalidade sustenta essas crenças e vice-versa). O seu grande impedimento está assentado exatamente nisso!
Os pensamentos que você tem sobre si mesmo sustentam os pensamentos que você tem sobre a vida. Basicamente, é assim que acontece. Na verdade, quem você pensa que é, é o que sustenta o seu mundo. Essas crenças inconscientes manifestam esse modelo e sustentam isso no corpo e na mente – essa é a base da falsa identidade.
Como você se sente neste momento? Quais sensações aparecem no seu corpo? Que tipos de pensamentos aparecem, agora, na sua mente? Como suas crenças estão aparecendo agora? Tudo que você está sentindo, neste momento, está dentro desse modelo programado por essas crenças. Se você sente tristeza, isso está sendo configurado por um modelo de pensamento presente. Se você sente alegria, outro modelo de pensamento está presente aí. Se está sentindo algumas coisas no corpo, algumas sensações, todas acompanham um certo modelo de pensamento, um modelo de crença.
Você está tão identificado com os pensamentos que nem mesmo toma ciência do que eles provocam nesse mecanismo, nesse corpo-mente. O seu conjunto de crenças sustenta esse modelo de uma identidade presente dentro do corpo. Isso é completamente falso, mas não é assim que esse corpo-mente sente, porque você está se confundindo com esse “aparato”, com essa condição de crença. Você se vê no corpo e com uma mente dentro desse corpo. Isso é um padrão de representação que você faz de si mesmo. Os Sábios chamam isso de “estado de sonho” ou “estado de inconsciência”. Isso não é Real! Do ponto de vista da Realidade, da Verdade presente, você está, literalmente, dormindo! Percebe o quanto isso é importante?
É evidente que isso não é facilmente aceito como real. O que é facilmente aceito é esse seu modelo de existência, e não o que estamos propondo aqui. Nosso convite é para que você descubra a estrutura, a base, que sustenta esse sofrimento, para que você possa compreender esse impedimento. Então, você se torna cada vez mais consciente da Realidade sobre si mesmo.
Você pode se mover além da crença, além dessa identidade presente no corpo e, assim, toda essa estrutura, nesse mecanismo, sofre uma alteração. É evidente que isso nem sempre soa de forma fácil, porque suas crenças estão profundamente sustentadas, ancoradas, nesse sentimento, nesse pensamento, nessa emoção, nessa sensação. Você está há muito tempo viciado nisso.
Eu tenho falado muito sobre isso, tenho usado palavras e ideias novas para falar Daquilo que está além delas. Então, deixe suas ideias, suas crenças, seus modelos, seus condicionamentos para trás. Você pode ter lido muitos livros, ter ouvido muitas falas, ter assistido a muitos vídeos, mas isso não resolveu e não resolverá. Agora, você está acreditando em outras coisas, mas isso ainda é um ato intelectual, ainda está dentro da mente e você ainda não foi além dela. Você tem crenças bastante específicas e eu estou aqui para lhe dizer que essas crenças são o seu impedimento.
Existem algumas crenças que são básicas e simples, as quais não constituem nenhum impedimento para a Realização. Por exemplo: você acredita que a Terra é redonda, que a fórmula da água é H²O e que há a Lei da Gravidade. Você não é um químico, não é um cientista, então, você acredita no que eles dizem. Mas, essas crenças ainda são intelectuais.
Assim, você tem milhares e milhares de crenças que não constituem nenhum tipo de impedimento para a sua Realização, para a sua Felicidade, para a constatação da Verdade sobre si mesmo. Contudo, existem outras crenças, das quais tratamos em Satsang, que precisam cair, desaparecer: a crença acerca de quem você é, acerca de uma existência separada, de uma identidade separada presente nesse momento – “Eu, o mundo e Deus.” Não há nenhum “eu”, não há nenhum “mundo” e Deus não é o que se imagina.
Então, isso não é sobre não ter crenças, porque algumas crenças são inofensivas. Quando você bebe um copo d’água, você não precisa conhecer a fórmula da água, nem ter a comprovação científica dessa fórmula, basta continuar acreditando que a fórmula da água é H²O. Mas, do ponto de vista da Consciência, da Natureza Real do Ser, essa crença sobre quem você é carrega o maior de todos os impedimentos e você precisa abandoná-la completamente.
A maioria das pessoas vive nessas crenças, as quais sustentam outras crenças. A verdadeira Felicidade, a verdadeira Liberdade, é algo muito maior do que qualquer crença; é algo além de qualquer ideia, de qualquer descrição.
Essa Realização requer uma abertura, que é a vulnerabilidade de viver sem essas crenças. Para uma flor desabrochar, ela precisa se abrir; para que você se torne liberto, você precisa estar aberto à Verdade sobre si mesmo, que é o fim da ilusão da crença desse falso “eu”. Então, como uma flor, quando você se abre, você floresce.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 16 de Fevereiro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

terça-feira, 15 de maio de 2018

A cura para todas as doenças

O que acontece em Satsang? Em Satsang, você se depara com uma fogueira enorme, um calor intenso de Presença, de Consciência, de Atenção e Isso respinga em você; é Algo tão transbordante que vai para você. Você está aqui e recebe Isso.
Quando você dá valor a Isso, que é quando está aqui em silêncio, com todo o seu coração, com toda a sua disposição, você tem a oportunidade de ver a Verdade se revelando como o seu próprio Ser; porque Ela é o seu próprio Ser! Ela não está separada da própria fogueira, que é o Guru, que é a Consciência, que é o Real. Então, todo conteúdo egoico que está aí vem à tona e é consumido.
Na Índia, eles chamam essas tendências latentes da mente de vasanas, que são impressões do tempo na máquina (corpo-mente), a ilusão de uma história, de uma identidade que viveu algo há dez dias, há dez anos ou há dez milhões de anos.
Só existe uma “chave” para a Liberação e ela chama-se Meditação. Mas, Meditação não requer técnica, não é uma prática. Uma prática ou técnica estão sempre atreladas a corpo, mente, tempo e espaço. Meditação é Consciência atemporal, presente aí na máquina, sendo “acessada”, assumindo o lugar Dela – a melhor palavra é “assumindo”, porque Ela também não pode ser acessada. É como o sol que está brilhando lá fora. As janelas estão fechadas, e ainda tem as persianas, mas, quando você as abre, o sol que está lá fora entra. Você não vai trazer o sol, você vai apenas liberar os impedimentos.
Agora, entra a questão da Sadhana (que é o trabalho de entrega, sob a Upadesa, que é o ensino do Guru). Quando esse trabalho de entrega acontece, esses obstáculos desaparecem. Mas, o que está presente, já está presente! Como os obstáculos desapareceram, o que está presente se revela como Iluminação, como Despertar, como Realização de Deus!
Essa é a cura para todas as doenças! Ramana Maharshi dizia que o ego é a causa de todas as doenças, porque a doença não é natural. Quando você sente uma dor de dente, você vai ao médico, porque o natural é não sentir o dente na boca. Natural é o dente trabalhar sem você ter a mínima lembrança de que ele existe na sua boca. Quando sua boca está saudável, você não tem consciência dos dentes. Quando o seu rim está funcionando bem, você não tem consciência dele. Quando seu estômago está bem, você não tem estômago.
O natural é a saúde, que torna aquele órgão “invisível”. Quando o órgão sinaliza um mau funcionamento, surge a ideia da presença dele. Então ele diz: “Estou aqui!”, e a ideia do corpo aparece, assim como aparece a ideia de tratamento para esse corpo. Então, surgem as solicitações da mente para tratar dessa entidade presente, que tem que ficar boa, porque pode morrer… Toda uma história surge!
Entretanto, quando há saúde, não há ideia de corpo, como não há ideia de dente na boca, como não há ideia de rim. Por quê? Porque o corpo é uma ilusão. Ele só aparece quando reclama, dizendo: “Estou aqui!”.
Nessa Consciência presente, não há espaço para a ilusão da separatividade ou para essa “doença”, que é uma ilusão — a ilusão “Eu sou o corpo!”, “Eu estou aqui!”. Quando surge a ideia “Eu sou o corpo!”, “Eu estou aqui!”, e há uma doença, eu vou buscar a causa dessa doença. Se eu for buscar a causa dessa doença, é claro que vou encontrar, porque ela está atrelada a ideia de que “Eu estou aqui!”, “Eu sou o corpo!”. Portanto, é uma ilusão atrelada a outra ilusão, que é a de que “estou no tempo e no espaço e sou real como uma entidade presente”. Enquanto que, na realidade, só há Consciência, e a presença dessa Consciência é o fim de todas as doenças.
A doença primária é o sentido de separatividade; as doenças secundárias, vocês sabem: tédio, solidão, medo, ansiedade e muitas outras. Deu para acompanhar isso?
Assim, diagnosticamos e prescrevemos a medicação. A medicação para essa doença é o fim da ilusão de que existe alguém doente, é o fim do sentido de separatividade. Para isso, é necessária uma tomada de Consciência, o que costumo chamar de “assumir o que Você É”. Quando você assume o que Você É, o sofrimento termina. Quando você não assume o que Você É, você sofre, porque você quer consertar o mundo, quer consertar o corpo, e nada disso tem conserto.
O corpo, como qualquer outra aparição, está destinado a desaparecer no tempo e no espaço, porque o tempo e o espaço aparecem com ele, fazem parte de sua ilusão. Nesse sentido, toda doença e toda morte são bem-vindas a um corpo ilusório, destinado a desaparecer no tempo e no espaço. Assim, a doença e a morte são tão “reais” quanto o corpo é “real”. Todos partilham da mesma “realidade”: a “realidade” da ilusão.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em 16 de Setembro de 2017. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

domingo, 13 de maio de 2018

Nada está oculto dessa Real Consciência

Não há nada fora dessa Consciência. Essa divisão criada entre mente consciente e inconsciente é totalmente arbitrária. A própria mente cria uma divisão arbitrária acerca dela mesma. Ela é conteúdo, que pode ser de dez anos ou de dez milhões de anos, mas é um único conteúdo. Assim, quer a mente esteja aparente na superfície ou submersa em profundidade, oculta, trata-se do mesmo fenômeno.
Não há divisão entre “consciente” e “inconsciente”. O que chamamos de “inconsciente” é a não ciência do que está submerso, e “consciente”, aquilo que está na superfície, do qual há ciência. Mas, quando “olhamos” para a mente, observamos um conteúdo único, que não está oculto dessa Real Consciência.
O que se oculta e o que se mostra é aquilo que a mente oculta e mostra para ela mesma. O que ela oculta dela mesma, ela chama de “inconsciente”; o que ela mostra para ela mesma, ela chama de “consciente”. Entretanto, não há tal coisa como “mente inconsciente”, “subconsciente” e esse “blá-blá-blá” todo. Essas divisões todas são criadas pela mente. Na verdade, não há nada, na mente, que esteja oculto dessa Real Consciência. A Consciência é autofulgente!
Assim como a lua não pode se ocultar do sol, a mente e seu conteúdo não podem se ocultar da Consciência. Isso porque a Consciência é Aquilo onde tudo aparece e desaparece. O conteúdo da mente é apenas imaginário, ligado ao tempo, não tem qualquer realidade substancial, material. Esse conteúdo da mente, seja ele de dez anos ou de dez milhões de anos atrás, é todo um conteúdo imaginário, conhecido dessa Consciência, que, por sinal, o ignora, porque não é Real.
Compreendendo isso, você pode fazer a pergunta adequada. A pergunta que você tem é: “Como posso me livrar desse conteúdo oculto que se mostra como um trauma ou uma doença?”. Trauma e doença, assim como o corpo, são apenas aparições imaginárias no tempo. Então, a primeira coisa a ser compreendida é isso: não dê realidade ao que não tem realidade. Trauma e doença são aparições ligadas a outra aparição (corpo), e ambas são ilusórias.
A outra coisa é que não há nada disso oculto dessa Consciência e, se é assim, isso está presente agora. Então, o que impede isso de vir à luz e desaparecer? A forte identificação com essa ilusão chamada “realidade da mente”. Quando se confia que o sentido do “eu” é real, quando isso recebe validação, isso se mantém sem alteração. Somente isso impede que todo esse conteúdo seja volatizado à luz da Consciência. O diagnóstico é esse e o tratamento é a Meditação; mas a Meditação Real! Esse presente momento é importante, porque ele pode abrir uma porta para esse instante atemporal, que é Consciência.
Então, qual é o tratamento? É essa observação desapegada, não intencionada, não envolvida com aquilo que acontece agora. Quando isso acontece, não há como o experimentador, que é a própria mente egoica, se estruturar e se manter oculto. Então, todo esse conteúdo egoico se revela nesse presente momento.
Não há nada que você carregue dessa ou de outras vidas. Quando tratamos dessa questão do tempo, estamos tratando de uma questão ilusória, porque não há tempo. Para a Consciência, tudo está presente agora. Então, a única coisa que se faz necessária é, aqui e agora, não se identificar com a experiência. Isso eu chamo de Meditação!
Todo esse conteúdo pode se revelar e ser volatizado, ser queimado e desaparecer, porque ele não tem nenhuma realidade, a não ser essa “realidade” que a própria ilusão da mente egoica sustenta, na ideia de que existe um experimentador na experiência. Isso requer um pouco de Atenção!
Vocês estão compreendendo? O diagnóstico foi dado e agora o tratamento está sendo dado, que é: aqui e agora não há experimentador! O que quer que esteja aparecendo na máquina (corpo-mente) não é para um experimentador. Quando isso é assumido, há liberdade para que aquilo que está oculto apareça.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em 16 de Setembro de 2017. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

O Amor é a sua Natureza Real

Primeiro, você acredita em Deus, mas, uma vez que esta Realização esteja aí, é impossível continuar acreditando. Deus é uma realidade inacreditável! Aquele que acredita na Verdade, não conhece a Verdade. A crença é ainda uma necessidade da mente, que tenta se apoiar em alguma coisa.
Deus é um mistério, e permanecerá sempre assim. Antes dessa Realização, você não O conhece, e agora, dentro dessa Realização, Ele permanece desconhecido. As pessoas querem conhecer Deus, porém elas só podem, na verdade, saber o que elas não são. Você não vai saber quem você é, nem vai saber quem é Deus, dentro dessa Realização. Não vai saber quem você é, porque você não é um objeto fora para ser conhecido ou reconhecido por um sujeito dentro; não vai saber quem é Deus, porque Deus permanecerá sempre um mistério.
Portanto, essa Realização não lhe dá o conhecimento de quem é Deus, nem o conhecimento de quem você é. Essa Realização lhe dá a visão do que você não é, e o mistério permanece. Liberação, Felicidade, Sabedoria… Esse é o Mistério inominável, indescritível. Então, o Sábio não é “alguém”; Ele é um mistério, como Deus. Isso é algo maior do que esse “você”. Você pode se dissolver Nisso, mas não conhecer Isso.
Existem muitos que estão dando explicações sobre o que Deus é e faz, mas isso é uma engenharia da mente. Você tem que abandonar a mente para ela se dissolver Nisso, que é o Mistério. Você não pode resolver esse Mistério, mas pode se dissolver Nele. Então, você não pode explicar Isso. A mente humana, o ego, é algo tão estúpido que, atualmente, você pode ir a uma faculdade “estudar sobre Deus” e obter um diploma de “doutor em divindade”. Isso é completamente estúpido! Você pode se tornar especialista em uma determinada área do conhecimento, mas esse conhecimento estará sempre dentro do campo do pensamento. Entretanto, Deus é algo fora do pensamento!
Não posso, aqui, ajudá-lo a encontrar Deus, a Verdade sobre quem Você É… Não posso e isso não é necessário. O que eu posso é ajudá-lo a descobrir o que você não é. Você não é isso que se passa dentro de sua cabeça, ou seja, não é esse conjunto de ideias, pensamentos, sentimentos e crenças; você não é esse conjunto de sensações, de experiências. Então, eu posso lhe mostrar como ver O que É, a Vida como Ela É, sem esse conjunto de crenças que estão aí dentro de você. Se você conseguir enxergar a Vida como Ela É, estará livre da ilusão de ser “alguém”. Esse é o mistério de Deus, da Verdade sobre quem Você É.
Esse é o meu trabalho, em que nada pode e nem precisa ser feito. Tudo o que posso lhe mostrar é a Verdade Daquilo que está aí quando “você” não está, e essa é a Verdade de Deus. Assim, pela primeira vez, você pode ver a Vida como Ela É, e, então, o Mistério chamado Deus, o “Eu Sou”, se revela. Os filósofos tentam explicar Isso, enquanto os Sábios apenas sinalizam. O Sábio sabe que não pode explicar essa “Coisa”, que não é necessário dar explicações sobre Isso. Tudo que o Sábio sabe é que não precisa saber, só precisa viver – a Vida é somente Isso! Nada precisa ser explicado sobre a Vida, sobre Deus, sobre a Verdade. Eu não posso explicar isso, absolutamente!
O céu é muito amplo. Você não pode acreditar que está vendo o céu olhando da sua janela, pois através dela você pode alcançar somente uma parte do céu; ele é muito mais amplo do que é visto da sua janela. Posso ajudá-lo a adentrar à beleza da Realidade, da Verdade Divina, mas somente se você aceitar deixar a “sua janela”, sair de dentro da “sua casa”, dar um salto para fora e parar de olhar o céu através da “sua janela”.
O que posso fazer é lhe mostrar a Vida como Ela É. Posso fazer isso a partir do momento em que você abandona a ilusão, as suas crenças. A Verdade não pode ser explicada. Ela é a sua Natureza Verdadeira, a Natureza de Deus, o Mistério inexplicável; a Verdade É em ação, não em palavras. Realização é a ação dessa manifestação Divina, não é esse blá-blá-blá que está por aí, que são somente pensamentos, novas crenças.
Não se preocupe em tentar compreender Isso; você não pode. Há mais de dois mil anos a teologia cristã está tentando compreender Cristo, assim como a teologia budista está tentando compreender Buda, e os estudiosos estão tentando compreender os Upanishads, as escrituras dos Vedas, as palavras dos Sábios… Ou seja, não é somente você que está procurando a Verdade. Na realidade, a Verdade também está procurando você. Não é só você que está procurando Deus; Ele também está à sua procura. Você é como aquele filho pródigo, da parábola de Jesus, que se afastou da casa do Pai.
A imagem de Krishna é com uma flauta, a de Buda é ele assentado em silêncio e a imagem de Jesus é de braços abertos, com suas duas mãos cravadas em um madeiro, mas é a imagem do Pai esperando por seu filho. Buda está aguardando no silêncio, Krishna está tocando flauta e Jesus Cristo está de braços abertos. Não é somente você que está procurando Deus; Ele, também, está procurando você… Isso é Deus à procura de Si mesmo, encontrando-se Consigo próprio! É Deus se encontrando! O Mistério continua um mistério, mas a ilusão, o sofrimento e o medo terminam, assim como toda a sua vaidade, arrogância, presunção, orgulho, desejo, aflição, confusão e desordem.
O Amor é a sua Natureza Real, a Natureza da Verdade, do Ser, de Deus. O que quer que eu esteja dizendo sinaliza a Verdade, mas não é a Verdade, porque Ela não pode ser dita, nem explicada. Minhas falas funcionam como um martelo em uma mão, batendo numa porta: ou a porta se abre ou algo se quebra com a força das marteladas. Essa “porta” tem que se abrir ou essa “coisa” precisa ser quebrada. Algo tem que ser rompido, desfeito; “sua casa” tem que ser explodida, assim como “sua janela”. O céu é muito maior que você! Daqui, eu posso ver que você está perdendo Isso há muito tempo. Tenho que ajudar você a romper com esse hábito de ficar dentro dessa “casa”, detrás dessa “porta” que nunca se abre.
As pessoas vivem lutando, mas você não nasceu para lutar, nasceu para festejar. Mas, olhe para você! Envolveu-se em toda enrascada possível, abarrotou-se de deveres e obrigações e tem que justificar isso para o mundo à sua volta, para pessoas que estão lutando como você.
Esse é o modelo que você segue. Assim, as obrigações logo chegam e fica muito pesado ser “alguém”. Você cresce e, então, tem que casar, ter filhos, sustentar a família, ter uma casa ou pagar aluguel, e, consequentemente, tem que trabalhar para pagar tudo isso. Tudo isso é tão difícil! Depois, os seus filhos têm filhos, que, também, têm que ser “bancados”, e tudo continua. Além disso, olhe para o mundo à sua volta! Todos têm que comprar roupas bonitas no Shopping Center, ou têm que comprar e dirigir um carro bonito, mas é preciso ter dinheiro para fazer tudo isso e ser igual a todo mundo.
Você tem que cumprir muitos deveres, muitas obrigações e papéis sociais… Tem que mostrar para a família que está bem-sucedido, com filhos, igual a todo mundo, ou justificar porque não teve filhos ainda, ou porque só teve um e não tem mais, ou porque não se casou ainda… Todas essas coisas, deveres, obrigações e invenções são tão estúpidas, medíocres!
O que está faltando na sua vida é o Mistério de Deus, é a Verdade, é a Felicidade do seu Ser. Você vive tudo isso, que é o que todos esperam que você viva, e também acredita que é só isso que tem que viver, mas continua infeliz, estúpido, cheio de medos, desejos, apegos, conflitos e preocupações. Você paga um preço tão alto para ser o que todos esperam que você seja, para ser tudo o que você deseja ser, mas, depois que você “se torna” tudo isso, descobre que ainda não é o que deseja ser, que nada foi resolvido, que ainda é infeliz e continua tendo problemas.
Diante disso, você dá um grito e diz: “Será que pode parar para eu descer? Quero descer daqui!” É isso que o Sábio faz: ele desce. Ele não vai; ele desce. Ele diz: “Quero sair de todas essas ‘ligaduras’, sair dessa prisão. Tenho que sair disso, das historinhas. Quero descer desse mundo. Fique aí você com seu adorável mundo, que eu quero descer dele e cair fora dessa prisão”. Por isso que, na Índia, eles chamam de Moksha, palavra que significa Liberação, porque é a liberação mesmo!
Essa Liberação, que não é um conceito, é uma realidade na vida do Sábio, daquele que realizou a Verdade sobre si mesmo. A Liberação implica o fim do trabalho, do conhecimento, da experiência, dos desejos, do medo. De repente, o céu se torna claro, aberto, não há mais casa, não há mais janela, não há mais nada inteiro, porque tudo foi quebrado. Depois, você descobre que, na verdade, não há nada quebrado… e nem mais céu tem! Não tem mais nada!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 02 de Fevereiro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Autoinvestigação

A mente se repete… Ela é uma repetição. Quando não há mente, não há repetição, então tudo é sempre novo, fresco. Deus é isso tudo que está acontecendo! Você não deve fugir de nada, mas, também, não deve procurar nada. Quando você foge ou procura, você está dizendo que a vida neste momento não é boa como ela é. Esse é o movimento da mente dual, separatista, egoica. Fugindo ou buscando, você não permanece aí, que é onde a Graça pode encontrá-lo, você “vai” com a mente, mantendo-se nesse antigo modelo de ignorância, de sofrimento, de afastamento de Deus, de afastamento Daquilo que É, Do que se apresenta, que é a Verdade deste instante.
Você introduz o pensamento e o sentimento como elementos norteadores dessa falsa vida egoica. Você não faz autoinvestigação para ser alguém nesse “fazer”, mas para descobrir que não há alguém fazendo, pois ela, em si, é um acontecimento de Deus, da Graça. A autoinvestigação é Deus à procura de Si mesmo; é Deus olhando para um “espectro de fantasma”. Quando Deus vê o espectro, esse fantasma não O assusta, e some. Quando não tem susto, não tem fantasma; quando tem fantasma, o susto está presente. Porém, se o fantasma não assusta, ele deixa de ser um fantasma e desaparece. Assim é o sentido do ego, quando ele é visto por essa Presença ‒ Ela vê que não existe nenhum ego.
Então, repito: a autoinvestigação não é para se dizer que há alguém vendo, é para se perceber que não há ninguém vendo, nem nada para ser visto; é uma “ferramenta” para lhe mostrar que não há nenhuma ferramenta para que este trabalho seja feito. Usa-se uma “ferramenta” para descobrir que não tem ferramenta; seu uso é para saber que não tem alguém usando uma ferramenta. A autoinvestigação é uma “tecnologia”, uma “técnica”, uma “prática”, para se descobrir que não tem nenhuma tecnologia, técnica ou prática… É somente para descobrir que não há realidade nisso.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em Junho de 2017. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Um espaço sem limites de profundo silêncio

O seu mundo, que é a sua história, que é você como uma entidade presente na experiência, seja ela qual for, é só o conteúdo mental. Vou dar um exemplo para você do que é esse conteúdo mental. Você sabe o seu nome do meio?
Participante: Sei!
Mestre: Qual é o segundo nome, o do meio dele?
Participante: Não sei!
Mestre: Esse “sei” é conteúdo, e esse conteúdo é o seu mundo, o qual só é real para você. Esse “não sei” é real para todos; é a ausência de conteúdo. O Sábio não tem conteúdo, ele tem o “não sei”. Quando há esse “não sei”, fica esse imenso Espaço. Quando eu perguntei a você o nome do meio dele e você disse “não sei”, foi possível ver que um imenso Espaço se abriu. Quando eu perguntei o seu nome do meio, então, você saiu do Espaço Indefinível e entrou num espaço e tempo definíveis. Esse é o ego!
O seu Estado Natural é esse Espaço Indefinível e Indescritível do “não sei”. Isso é Sabedoria, é a ausência da história. Você não sabe o seu nome do meio; você passa a saber apenas quando eu lhe pergunto. Então, você vê que isso não é real, porque é uma coisa que aparece com a memória. Diante da pergunta, você vai buscar a resposta na memória. Até então você não sabia o que eu iria perguntar, portanto, você estava nesse “não sei”. Nesse “não sei” há um profundo relaxamento, mas no “sei” há tensão. Quer ver? Você é um menino ou uma menina? Uma mulher ou um homem? Não existe uma tensão?
Participante: Sim! Eu senti dificuldade quando perguntou o meu nome. Senti dificuldade de ir buscar isso. Pensei: “Nossa, para quê isso?”.
Mestre: Lindo! Exatamente! Você precisa buscar na memória, ou seja, você não tem nome. Então, quando eu pergunto a você se é uma mulher ou um homem… Que coisa mais insignificante! Você precisa buscar e dizer: “Eu sou uma mulher!”. Mas, quando você está no “não sei”, você está num Espaço sem limites, de profundo Silêncio. É um mundo que se estende, que se abre, e esse Instante, esse Momento, esse Espaço, que é onde essa Felicidade se revela em Ser, (que não é ser algo, nem ser alguém) fica perdido.
O “ouvir”, o “sentir”, o pensamento aparecendo, devem ser tratados da mesma forma, nesse Espaço. Você não agarra o vento — você sente e escuta, mas não está interessado em agarrá-lo. Mas, quando surge um pensamento em sua cabeça, você “pega” isso e traz para a “pessoa”. Quando você faz isso, a “pessoa” aparece e, então, surgem os problemas. Isso é o que eu chamo de “contração”.
Quando surge a entidade presente na experiência do pensamento, surge o pensador. O pensador tem uma história para contar; primeiro, para ele mesmo e, depois, para o mundo. Ele tem que ficar confirmando essa história o tempo todo, senão ele deixa de ser alguém.
Isso é muito doloroso, será? Para mim, isso é libertador — não ser o pensador e não ter uma história para contar, nem pra si mesmo, nem para ninguém. Isso é Iluminação!
A expressão “Iluminação” não é um espaço cheio de luz, mas a ausência da ilusão do espaço e do tempo. Isso é Amor, Isso é Felicidade!
Agora mesmo, nesse Ilimitado e Indescritível Espaço, não há falta, mas basta o desejo surgir, que surge uma “viagem”: “Puxa, eu queria estar agora…”. Sua intenção em estar nessa “viagem” é relaxar em seu Ser, mas você só pode relaxar em seu Ser aqui e agora. Então, você chega ao lugar desejado e diz: “Uau! Que lugar lindo, maravilhoso!”. Mas, bastam três segundos de relaxamento para você dizer: “O que eu estou fazendo aqui? Eu tinha que estar…”.
A mente continua nesse truque, levando você para o tempo e para o espaço, na tentativa de fazer você sentir a completude de ser Aquilo que Você já É, aqui e agora. Contudo, isso nunca acontece, porque você está sempre “viajando” com ela. Você vai de um prazer para outro, e outro… A mente tem que estar sempre buscando isso para se sentir completa, o que nunca acontece. Ela fica excitada em buscar sensações. Ela precisa disso, porque sem isso ela desaparece… Então, só fica Você em sua Natureza Real.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de João Pessoa, em de Agosto de 2016. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

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