quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Leve tudo Mestre!

Olá. Boa noite. Sejam bem-vindos a mais um encontro pelo Paltalk.

Vamos começar com estas palavras do Leo. Ele escreveu algo e vamos tornar isso público aqui.

Discípulo: Mestre, esse seu acolhimento, essa Liberdade que você é e essa não necessidade de nos "possuir", o que é algo vivencial em sua Presença e não uma ideia, estão evidenciando as prisões em que eu vivo e deixando muito claras as tentativas de manipulação daqueles que estão à minha volta; estão me mostrando que não há possibilidade de liberdade em ser "alguém". É somente em sua Presença que posso sentir uma liberdade real. Ali não sou um instrumento para a satisfação de alguém. Você me aceita e olha para mim como eu sou, sem interesse algum, e é o suficiente. Não consigo mais querer nada menos que isso; nada além dessa Liberdade. Isso criou um furacão nessa chamada minha vida, que parecia ter se acalmado, mas não, ele está bem vivo. Sei que é a Graça varrendo. Leve tudo, mestre, mas me ajude a ficar em paz, dentro do seu amor, nesses momentos em que a dor de ainda ser uma pessoa resolve bater.

Mestre: Eu queria começar dizendo para você uma coisa. Normalmente nós pensamos – e este pensar é somente uma crença, o pensamento sempre nos coloca neste mundo imaginário –, normalmente, nós pensamos que viver com este sentido de separação, viver este sentido como "alguém", é algo simples e fácil. Acreditamos que é algo simples, sem qualquer dificuldade, viver com este sentido de separatividade, carregando a ideia de ser "alguém", e que isto não requer nenhum trabalho, dificuldade ou esforço. Entretanto, acreditamos que este estado de Presença, de ausência de separatividade, é algo que requer muito esforço e trabalho. Então, perceba: nós acreditamos que não requer esforço ser alguém, mas é exatamente o contrário.

Nós temos uma grande dificuldade, um grande e árduo trabalho, para manter este sentido de ser "alguém", porque isso não é algo leve; é, na verdade, algo muito pesado; não é algo que não requer esforço, mas, na verdade, algo que requer muito esforço. Manter-se como "alguém" é muito complicado, requer esforço e trabalho, enquanto que se manter livre do peso de ser "alguém" não requer nenhum trabalho, ou seja, nenhum esforço e nenhuma dificuldade, como nós conhecemos.

Quando o Leo diz "(...) esta Liberdade que você é (...) esta não necessidade de possuir (...) é algo vivencial em sua presença (...)", está evidenciando a posição como eu vivo. Portanto, carregar o peso de ser "alguém" é algo que requer muito trabalho, muito esforço e não é nada simples.

Geralmente nós pensamos o contrário. Achamos que viver o Estado Natural, viver livre deste sentido do "eu", viver como esta Consciência, como este Vazio, requer esforço, quando, na verdade, Isto não requer nenhum esforço. Viver como entidade separada é que requer um esforço enorme de "alguém" sentindo, desejando, julgando, comparando, decidindo e agindo; é, então, um imaginar a si mesmo como o ser separado.

Isso é algo muito trabalhoso; se olharem, observarem com calma, irão perceber isto. Viver sem julgamentos, sem opiniões, sem comparações, sem pré-julgamentos, sem escolhas, sem buscas, sem desejos, sem expectativas, sem esperanças ou desesperanças, viver sem medo, não requer esforço. Viver como esta Presença, como esta Liberdade, como esta Graça, não requer esforço. Assim, estamos diante de algo Natural, Simples, Divino, Sagrado. Estamos diante Daquilo que somos.

Manter-se como ego é muito trabalhoso. O ego é muito estresse, é muita tensão e luta; é muito esforço; é muito desejo; é muito medo. Viver livre do ego, viver este instante, este momento, sem imaginação, sem o passado, sem o futuro, é algo muito natural. E é sobre isto que tratamos em Satsang: estamos mostrando para você como viver sem se imaginar, sem imaginar a si mesmo como um ser separado.

Nós achamos algo muito normal, natural, nos considerarmos como pessoas. Você na verdade é esta Presença Divina. Nós achamos uma blasfêmia ouvir isto, porque fomos educados e condicionados a pensar assim: que Deus é divino; que nós somos pessoas, humanos, mortais, pecadores; que somos pessoas separadas do todo – achamos isto normal.

Acreditamos ser uma blasfêmia dizer que só há Deus e a única realidade presente é Deus. Você é Deus. O corpo e a mente são irrelevantes, assim como as sensações, os pensamentos, as emoções e os sentimentos; o que acontece ou parece acontecer é algo irrelevante. Só há Deus, entretanto achamos isso uma heresia, inaceitável; achamos normal nos imaginarmos como entidades separadas. E aqui, na sua fala, o Leo diz: "Está me mostrando que não há possibilidade de liberdade em ser alguém. É só em sua Presença que posso sentir uma liberdade real. Ali não sou um instrumento para a satisfação de alguém. Você me aceita e olha para mim como eu sou, sem interesse algum, e é o suficiente. Não consigo mais querer nada menos que isso; nada além dessa Liberdade."

Estamos falando em Satsang que a Liberdade é a sua Natureza Real. Entretanto, a não liberdade requer esforço, trabalho árduo e a imaginação de ser alguém; isto não é a sua Natureza Real. Aqui estamos investigando a natureza da ilusão e isto é o fim dela. Podemos investigar a natureza da mente egoica, o sentido de separatividade, esta ilusão de ser alguém. Então, na verdade, imaginar a si mesmo como um ser separado é que é uma grande heresia, uma grande blasfêmia.

A heresia é esta: "Eu sou um ser separado, eu sou alguém. Eu aqui e Deus lá. Deus em algum lugar, eu aqui". Em Satsang, estou afirmando que a sua mente é uma única realidade: é esta Consciência, que é a Graça, que é Deus, que é você. Isto, sim, é natural, simples e não requer esforço. Este Vazio, que é o "não eu'', que é a Presença, não conhece esforço. Ego, pessoa, "eu" é estresse, é conflito, é não Liberdade, é medo.

Nós estamos dizendo para você que no profundo, no íntimo, aí mesmo, em seu coração, se encontra esta Suprema e Indescritível Liberdade, e isto é algo natural. Estamos dizendo que no íntimo, no fundo, no Silêncio do Coração se encontra a mais Perfeita e Indescritível Alegria, Amor e Paz.

Aí está a Eternidade, aí está o Supremo. Há algo que lhe traz ao Satsang: é esta memória da eternidade. Aquilo que é o anelo em cada coração. O seu único anseio real nesta vida é por Amor, Paz, Silêncio, Liberdade, Deus, Consciência. Você quer relaxar nesta beatitude, em Sat-Chit-Ananda, em Ser, Consciência e Felicidade. Agora mesmo, neste encontro, você está diante deste Silêncio, desta Graça, desta Presença. Quando nós compreendemos profundamente, além da mente – esta é uma compreensão não verbal, não lógica ou intelectual – que jamais encontraremos em qualquer objeto, relação, anseio, desejo do lado de fora, esta Verdade, esta Eternidade, esta Realidade, então podemos constatar a Presença Dela neste instante, além do corpo/mente/mundo. Isto é o que o seu coração anela. Seu único anelo real é por Deus, pela Verdade, que está dentro de você; que está além da mente e do corpo e de qualquer imaginação; que está além de qualquer coisa que a mente ainda possa produzir.

Como você se sente neste momento? O que significa ouvir isto?

Discípulo: Estar em casa, Mestre.

Mestre: Você é sempre esta Alegria, esta Liberdade, esta Graça, este Silêncio.

Discípulo: Isso é o verdadeiro grande livramento de Deus.

Discípulo: Só você parece que me vê, Mestre.

Mestre: Vocês são lindos. Estamos diante deste Silêncio, desta Liberdade, desta Verdade Divina que somos.

Ok. Vamos ficar por aqui. Valeu pelo encontro. Namastê.

*Transcrição de uma fala em um encontro online, na noite do dia 03 de Dezembro de 2014 – Para informações sobre os encontros online e instruções de como participar, clique aqui.

domingo, 23 de novembro de 2014

A Liberdade de Sua Verdadeira Natureza

Satsang é o momento de constatação da Realidade. Nós tratamos em Satsang desta Base; estamos apontando em Satsang para esta Verdade Presente. A pergunta é: podemos ver de forma clara, desobstruída, livre dos conceitos que o pensamento sobrepõe a toda e qualquer experiência? É disso que tratamos em Satsang. Estamos falando da Liberdade de Ser, desta Liberdade da Consciência, da Liberdade de sua Natureza Real. Estamos tratando em Satsang desta Chave.

Na Verdade, a maioria de nós vive de uma forma inteiramente inconsciente. A nossa experiência de vida, a nossa experiência de viver, é algo acontecendo dentro desse filtro – é uma experiência filtrada através de uma malha fina de pensamentos; uma malha de pensamentos conceituais. Isso faz com que, em nossa experiência, a vida se apresente de uma forma completamente diferente de como ela realmente é. É assim que tem sido a nossa vida.

Estamos dizendo que essa fina malha de pensamentos, de ideias, crenças, conceitos, paradigmas, nos faz ter uma percepção diferente da realidade. O fato é que temos negligenciado a Realidade, e o que nós temos é uma visão ilusória da vida. Estamos vendo a vida através da ilusão da mente egoica, da ilusão desse sentido de separatividade, desse sentido de ser alguém experimentando, sentindo, pensando, vendo, ouvindo... Nós tratamos, em Satsang, da oportunidade dessa Liberdade: a Liberdade da Consciência; a Liberdade de sua Natureza Verdadeira – daquilo que você É; da visão, do sentir, do ouvir e do experimentar livres do ego, do sentido do "eu", de alguém nessa coisa.

Como soa isso para você? Algo absurdo? Algo possível? Algo irreal? Como é isso?

Algumas vezes, ouvimos a expressão "o mundo é uma ilusão". No entanto, a ilusão é apenas a leitura que a mente faz do mundo. Essa é a única ilusão: a suposta realidade de nossa experiência quando ela está baseada nesse filtro, quando ela está baseada no pensamento. Então, naturalmente, a nossa experiência é falsificada.

Eu tenho falado muito em Satsang sobre essa fraude que é você, e muitos não compreendem. Quando digo que você é uma fraude, estou dizendo que o mundo em que você vive é uma fraude, a vida é uma fraude. O mundo, em sua totalidade, é uma fraude. Estou dizendo: você é uma fraude, assim como sua vida e seu mundo, porque toda experiência que você tem, baseada no sentido de ser alguém, distorce a realidade. Então, essa sua realidade é a realidade da ilusão; é uma ilusória realidade.

Eu sei que, mais uma vez, pode soar estranho o que vou dizer: neste momento, você não está vendo coisa alguma. Quando você olha para alguém – e eu falo dessa visão sensorial mesmo – você não está diante daquele que está ali. O que você tem é uma interpretação acerca dele ou dela. Você está diante de uma projeção, de uma crença. É a sua mente criando essa "realidade", fazendo uma leitura disso, e você tem aí uma imagem de si mesmo, projetada naquilo que está diante de você. Ali está o seu ego. Essa é a visão de maya. Essa é a ilusão.

Nós aqui estamos investigando juntos, olhando juntos para isso, para a natureza ilusória da percepção, da experiência, da visão. Estamos olhando para essa leitura falsa.

Pergunta: O mundo fora de nós é só uma crença dentro desse sentido de separação?

Mestre: Não é o mundo fora de nós; é a ilusão do mundo fora de nós. Vocês fazem observações intelectuais fadadas ao fracasso. Fazer uso do intelecto para investigar isso é um erro. Não há um mundo fora de nós. Essa ilusão de um mundo a partir desse olhar de dentro é a natureza da mente.

Pergunta: Então não seria impossível explicar isso aqui em palavras? Por que Satsang?

Mestre: Satsang não são palavras; está além de palavras, e nossa intenção aqui não é explicar nada, porque isso não é possível. Mas é possível ver o Silêncio através destas palavras; essa é a chave. Palavras não interrompem o Silêncio, não afetam o Silêncio que é Satsang. Aqui há um equívoco muito comum: vocês acreditam que tem alguém falando e alguém ouvindo – é exatamente o que estamos dizendo – e estão fazendo isso o tempo todo, falsificando a experiência através de interpretações mentais.

A Verdade é este Silêncio onde as palavras estão acontecendo, assim como toda e qualquer experiência. O que quer que apareça, aparece sobre um fundo, ou uma base. Por exemplo: diante de um filme, você tem a tela, ou você olha para cima pela manhã e vê nuvens com o céu ao fundo. Quando você olha para uma cadeira, o lugar onde ela está apoiada também está ali. O que quer que esteja aparecendo está aparecendo sobre uma base. Assim, esse som, essa fala, ou qualquer experiência, está acontecendo sobre uma base ou em uma base. O problema conosco é que, quando focamos na experiência, perdemos a base. Focando no filme, perdemos a tela; na nuvem, perdemos o céu; na cadeira, perdemos o espaço.

Quando você vem a Satsang, quero lhe convidar a conhecer este espaço onde a fala está acontecendo. Estamos lhe convidando a viver a Realidade livre dos filtros da mente egoica, desse sentido de separação que aparece avaliando, interpretando, vivendo nesse gostar ou não-gostar. Esse é o ego, o sentido do "eu". Aí está a ilusão.

Estamos lhe convidando a viver sem ego, viver sem interpretações, sem conhecimento, sem certezas, sem convicções, sem crenças, sem opiniões. Viver em Liberdade! Aí está o Amor, a Paz, a Verdade, a Verdadeira Sabedoria. Não "alguém" sábio, não "alguém" em paz, mas apenas a Paz. Não "alguém" livre, mas a Liberdade. Então nós temos a base sobre a qual se apoiam todas as experiências. Por isso temos dito que sensações e experiências não são problemas, porque o filme não pode ser contra a tela, a nuvem não pode ser contra o céu, o pensamento não pode ser contra a Consciência. Os pensamentos e as emoções não podem ser contra a Consciência; eles surgem Nela. Tudo isso aparece nesta Base, e não é contra esta Base. Nada pode ser contra esta Base. É algo que surge Nela e que a tem como fundo. Aqui estamos trabalhando isso: o fim dessa identificação com aquilo que é visto, sentido e pensado.

Nossa experiência de mundo, de corpo, de mente tem um Fundo, o qual é imutável e jamais tocado por essa experiência. E aqui estamos interessados nesse Fundo, que é a Natureza de Deus, que é a sua Real Natureza, do estado livre do ego, do medo, desses amores e desamores, gostos e desgostos; livre dessas alegrias e tristezas, dessa moralidade e imoralidade. Em outras palavras, mente, corpo e mundo são aparições inofensivas, aparecendo e desaparecendo constantemente, e você não se confunde mais com isso.

Tudo que nós sabemos do mundo são essas aparições, sensações, percepções, que aparecem e desaparecem. No entanto, tudo isso tem que acontecer sobre uma base. E o que é esta Base? Na índia, eles chama de Sat-Chit-Ananda esta Imutável Base. Quando você se depara com um Acordado, você se depara com esta Presença: Sat-Chit-Ananda. Você está diante de Si Mesmo, desta Liberdade; diante desta Base, deste Fundo. Assim como a nuvem precisa do céu no fundo, sensações, percepções e pensamentos precisam deste Fundo, que é a Consciência.

Temos falado constantemente – tenho repassado isso muitas vezes – que Você não é uma pessoa. Uma pessoa é o sentido de uma identidade na experiência; isso é apenas uma crença, uma grande ilusão. Não confunda o corpo como sendo Você; não confunda a mente como sendo Você; não confunda pensamentos que aparecem aí como sendo a sua história; emoções que aparecem como sendo as suas emoções.

Talvez você ache interessante ouvir tudo isso aqui no Paltalk, mas não se engane: você está apenas diante de uma fala. Você só pode aprofundar esse Silêncio presente numa entrega, e parte disso é participar de Satsang presencial. É lá que a coisa começa para valer. O trabalho só acontece em encontros presenciais; aqui é apenas um perfume, uma amostra da fragrância, mas você não fica perfumado só porque sentiu a fragrância do perfume. O problema de vocês é que querem ficar perfumados sentindo a fragrância do perfume. Quando assistem a um vídeo de Eckhart Tolle, Mooji ou Marcos Gualberto, acham que isso será suficiente; mas não funciona. É necessário que você morra, mas você não vai morrer vendo um vídeo ou lendo um livro. Pode ler centenas deles, ver centenas de vídeos ou Paltalks, mas isso não vai funcionar; a mente de vocês é muito tagarela. Vocês precisam dar o coração a estas falas. Silenciar. Prestar atenção.

Pergunta: Como encerrar com todas as perguntas da mente?

Mestre: Venha ao Satsang; aqui está o segredo desta Realização de Marcos Gualberto. Satsang é o grande segredo. É aqui que a Graça pode trabalhar com o seu mecanismo.

Pergunta: Poderia falar sobre o campo de Presença que ocorre no Satsang presencial?

Mestre: É este campo de Presença em Satsang presencial que esmaga esse sentido de separação e arrogância da mente egoica. Isso esmaga e silencia a mente. É preciso que a mente mergulhe na Fonte. Quando a mente mergulha na Fonte, ela desaparece Nela, o que significa o sentido de separatividade esmagado pela Presença. Isso se chama Shaktipat na Índia, o que só é possível na presença de um Mestre vivo, e não em vídeos e livros.

Pergunta: Por que não me rendo?

Mestre: Porque você não pode. A mente não se rende, é um trabalho da Graça. Todo o seu trabalho é resistência, não-rendição. Você jamais vai se render; o ego não se rende nunca. É a natureza da mente (ego) se manter nisso que ela é, ou seja, resistência. O que vocês ainda não perceberam, e que estamos falando constantemente nestes encontros, é que isso é um trabalho da Graça, da Verdade, do Mestre, e não seu. O Mestre é essa Consciência, esta Verdade. O Guru externo é o Guru interno, mas você não tem acesso ao Guru interno sem o externo. A verdade está na Graça, nesse poder de Presença que acontece em Satsang presencial, quando a mente, em sua arrogância, cai. Então, a rendição é este trabalho desta Presença, da Graça. Venha ao Satsang presencial e você vai descobrir o que é rendição. Rendição não é algo que acontece em um único encontro.

Participante: Alguns estão sempre aqui, mas nunca foram a Satsang. A mente vai só acumular conceitos por aqui.

Mestre: Vocês acabam de ler algo de alguém que está sempre em Satsang presencial. É isso que descobrimos em Satsang presencial. Essa fala em vídeos e livros vai lhe encher de conceitos. Na verdade, vocês já estão cheios de conceitos. Venham ao Satsang presencial. Nós estamos nos unindo e em breve teremos um Ashram no Brasil. Teremos o nosso Ramanashram Brasil – este será o nome do nosso Ashram, em tributo ao meu Mestre e Guru Ramana Maharshi, aquele que encontrei quando tinha apenas 24 anos de idade. Hoje tenho 52 anos; compartilho com vocês a partir desta minha experiência, deste contato, desta realização aos pés do meu Mestre, aos pés do meu Guru. Teremos aqui no Brasil o nosso Ramanashram; a Graça está nos dando esse espaço e quero contar com todos vocês para fazer isso acontecer aqui no Brasil. Essa é a única coisa que vale a pena: realizar Deus, realizar a Verdade, a Paz, o Amor, a Consciência.

Ok? Vamos ficar por aqui. Namastê.

*Transcrição de uma fala ocorrida num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Consciência é a Real Meditação

Bem-vindos a mais um Satsang, a mais um momento, a mais um encontro. Esse momento é sempre o momento da Presença; e o momento da Presença é Consciência. Consciência é a Real Meditação. Nós temos sempre falado com vocês sobre a importância da Real Meditação; é importante compreendermos o que é Meditação. Na realidade, a compreensão do que é Meditação significa a compreensão do que a Meditação não é. Meditação não é algo restrito ao tempo, assim como essa formal meditação que conhecemos: essa coisa de estar sentado, respirando de uma certa forma, tendo uma atitude mental ou buscando uma atitude mental especial. Em Satsang nós falamos a respeito da Real Meditação, que é Consciência, que é Presença. Assim, nesses encontros, nós trabalhamos Isso. É preciso que isso fique muito claro para cada um de vocês.

A primeira coisa aqui é que não há direção, não há nenhum objetivo, não há qualquer resultado a ser alcançado fora deste instante que é Consciência, que é Presença. Assim, a Meditação Real é a Consciência deste instante, a clareza deste instante, essa pura rendição a esse momento, porque é nele que este Estado Natural se mostra, se apresenta, se revela. Esta rendição não carrega um significado, é o Puro Silêncio. Assim, não se encontra qualquer resultado, não há qualquer resultado, não há qualquer significado.

Todos esses métodos para se realizar um significado, para se dar um significado à vida, são procurados quando se busca a realização de estados internos. Na verdade, todos esses estados são puramente mentais e podemos chamá-los de "estados espirituais" ou "estados de consciência". Podemos chamar, ainda, de "estados elevados de consciência", mas, na verdade, todos são limitados, porque na mente estão condicionados.

Nós vivemos estes estados, fascinados por estes estados, à procura destes estados. Isso, na verdade, é sempre dependência, é sempre uma prisão; a mente em sua prisão. Na mente, não somos capazes de saber o que isso significa. Podemos encontrar estados maravilhosos, estados de quietude, de paz, de silêncio, de alegria, mas ainda são estados limitados, impermanentes e mutáveis. Ainda são estados condicionados, ainda são estados da mente.

Uma das coisas que considero fundamental, dentro destes encontros, é limparmos este terreno, tratarmos disso logo no começo. Alguns não continuam conosco, porque estão em busca de algum estado. E aqui, para nós, todos os estados são egoicos, apenas estados da mente. Eles não põem fim ao sentido do ego, ao sentido do "mim", do "eu", ao sentido de separatividade.

A Real Meditação é o estado de Pura Consciência; é algo espontâneo que aparece, naturalmente, quando esta Consciência, esta Presença, este Estado Natural, que é Meditação, não está carregado desse sentido de controle, de manipulação.

O que a mente faz é buscar o controle, é controlar, é dar um significado a essa ideia, a essa projeção, a esse conceito – o conceito que ela faz sobre isso. Isso não traz Real Libertação, isso não traz Real Liberação, isso não traz o fim da ilusão, porque, quando você medita, ali está você. Sua atenção é capturada por esse próprio sentido de "alguém" presente. Esta Presença, esta Consciência, fica aprisionada a esse sentido de "alguém" que vive presente na prática: alguém em paz, em silêncio, experimentando um certo estado de quietude, de alegria interior. Tudo isso ainda é mental, não há qualquer realidade nisso, não há qualquer verdade, a não ser essa "verdade", a "verdade" da mente, ou seja, a verdade de um estado induzido pela mente.

Não sei se minha fala de hoje soa clara para vocês. Geralmente não. Estas falas são muito estranhas, não estão dizendo nada.

E assim, quando somos capturados por esse sentido de ser alguém, ficamos presos dentro dessa própria sensação, desse estado que a mente produz. Além disso, a mente, compulsivamente, interpreta, naturalmente controlando tudo isso, como algo puramente mecânico. É uma forma distorcida, é só mais uma experiência da própria mente, essa assim chamada "meditação", que é só uma distorção.

Na verdade, a Real Meditação é aquela onde tudo, absolutamente tudo, todos os objetos (e aqui objetos são sentimentos, pensamentos, sensações, emoções, memórias), toda e qualquer experiência é deixada em sua função normal, em seu funcionamento natural. Isso significa que não há qualquer esforço, pois a mente não está em seu foco, manipulando, controlando, desejando, procurando um estado especial. Quando isso está presente, podemos nos deparar com Aquilo que É: a Graça, a Beleza, a Verdade do que É. Essa é a Real Meditação.

Nessa Real Meditação, a ênfase é Puro Ser. É esse Puro e Ilimitado Espaço, onde todas essas aparições (e aqui são esses objetos, pensamentos, sensações, emoções etc.), aparecem e depois vão embora. E aí continua Você, você em seu Estado Natural, livre do sentido de alguém, comendo, falando, trabalhando, caminhando, dirigindo seu carro, lidando com negócios, comprando, vendendo. Na Meditação, você não tenta mudar sua experiência. Na Meditação Real, a experiência está acontecendo sem esse "sentido de você" que você acredita ser. É só a Liberdade, a Fluidez, a Graça da experiência sem o experimentador.

Como soa isso pra você? Confuso, claro, estranho, maluco? Estamos dizendo que você não está em busca de mudar a experiência, que não tem "você". Não importa se a experiência de viver a vida se mostra agradável ou desagradável, aí está você – esse ilimitado espaço que é Presença, que é Consciência, que é você em seu Estado Natural, que é Meditação – acolhendo, abraçando.

Estamos diante dessa Real Meditação. Então, essa mente separada, essa mente com o sentido de separação, essa mente dual, essa mente em sua crença de ser alguém, desaparece. Você está suavemente, gentilmente, sem qualquer esforço, relaxado nessa Consciência. Você é Ela. Ela é você, sem esse "você", sem esse "mim", sem esse sentido de alguém – alguém espiritual, alguém que experimenta estados místicos, alguém que sente certas energias, certas vibrações. Não tem alguém nisso. Em Deus não tem alguém. Deus não é alguém. Você não é alguém, Você é Deus, Você não é uma pessoa.

Nessa direta e receptiva atitude, livre de objetivos, propósitos, sonhos, intenções e desejos, somente aqui pode se revelar essa Bem-Aventurança, essa Alegria Real, esse Amor Real, essa Paz Real, essa Liberdade de ser o que Você É. Essa Consciência retorna ao seu Estado Natural, à sua Condição Natural, Condição Natural de Ser, com todo o seu imanifesto e manifesto potencial de Graça e Verdade. Isso é Realização, isso é o Despertar, isso é Consciência de Deus.

Esse Silêncio é a única realidade, esse Silêncio é esse Vazio, este Abismo Insondável, Felicidade, Bem-aventurança e Amor. Então, nós precisamos reconhecer Isso, reconhecer o que somos e esse reconhecimento é o fim de alguém, de alguém experimentando alguma coisa, de alguém sentindo alguma coisa, de alguém fascinado com algum estado especial. Na verdade, todos esses estados especiais que podemos adquirir em qualquer prática, e aqui estamos falando de "meditação", são estados de fuga; enquanto eles estão presentes, você aparentemente não está, mas, na verdade, lá está você. Nenhum estado que se experimenta pode libertar, liberar essa Consciência, pode dar essa Real Liberação a esse Ser, a essa Presença, a esta Consciência, porque é sempre a mente nisso.

Faz sentido isso ou soa estranho demais? Alguém tem alguma pergunta sobre isso ou para você que está nessa sala conosco, em Satsang, já parece algo bem natural?

Tenho outra coisa a lhe dizer a respeito disso. Você não pode realizar esse estado, ele é uma ação da Graça. Somente a Graça pode realizar isso. Realização é uma ação da Graça, uma ação da Presença, é uma ação da Consciência. Essa ação da Presença, da Graça, da Consciência, é algo que acontece muito naturalmente em Satsang. É aqui que entra o Mestre, Presença. O Mestre, a Presença, a Graça, a Consciência é uma só, e é a mesma coisa. Realização é algo concedido pela Graça. Essa Consciência dentro é a Consciência do lado de fora, na figura do Mestre.

Compreendam, vocês que ainda não estiveram em Satsang presencial, a importância da Graça, da Graça do Mestre, da Graça que é Consciência, que é Ser. O Mestre nada mais é do que você do lado de fora, apenas uma aparição para os sentidos. Apenas os sentidos físicos dizem que Ele está do lado de fora, mas Ele é a mesma Presença, que não está dentro nem fora. Você precisa estar nesse campo de Graça, de Presença, chamado Satsang.

Não se pode obter isso com técnicas, com práticas, com estudos e leituras. Você vai assistir a milhares e milhares de vídeos, de todos os Mestres do passado e do presente... Você vai ler todos os livros que foram escritos sobre os Mestres, ou alguns que foram escritos pelos próprios Mestres, do passado e do presente... Você irá ouvir todas as falas, mas posso garantir que isso não funciona. Garanto com base na minha própria experiência, naquilo que eu poderia chamar de "minha" experiência. Realização é o despertar da Consciência. Só o "despertador" pode fazer isso. Só um "despertador" pode despertar essa Consciência.

A consciência interna e a consciência externa são uma única Consciência. Assim sendo, é só um trabalho, um único trabalho acontecendo nesse mecanismo corpo/mente. E esse é um trabalho da Graça nesse mecanismo; um trabalho do Guru, um trabalho do Mestre. Então, a Meditação é possível. Então, o Despertar é possível, essa Presença é possível. Então, essa Graça é possível. E agora, não estamos tratando mais de uma teoria, de uma crença, de um conceito. Nós estamos diante daquilo que se mostra.

Esta Realidade está no fim do experimentador, no fim de toda e qualquer experiência, no fim de todo e qualquer conhecimento, no fim de todo e qualquer fascinante estado. Na Índia eles chamam de Sat, Chit e Ananda. Não é um estado, não é um conhecimento, não é uma experiência.

Ok, pessoal? Vamos ficar por aqui? Valeu pelo encontro. Namastê...

*Transcrição de uma fala ocorrida em 13 de agosto de 2014, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sábado, 16 de agosto de 2014

O ego precisa se manter em conflito

Sejam bem-vindos a mais esse encontro aqui pelo Paltalk. Bom estarmos juntos olhando para isso, para a mesma direção, para este lugar.

Estamos falando para você sempre sobre esta identificação particular: com um nome, um corpo específico e uma mente específica. Aqui começa a criação dessa "pessoa" e é assim que se desenvolve esse sentido ilusório de ser alguém. O ego é uma ficção, é uma imaginação, mas uma ficção e uma imaginação bastante reais, em seus termos. Aquilo que acontece na mente, para a mente é muito verdadeiro. Então, este nome, corpo e mente particular cria este processo de uma suposta entidade separada, decidindo, escolhendo, agindo, falando, pensando, decidindo, enfim...

E aqui estamos diante de uma barreira. Toda barreira, nesse sentido, é imaginária, mas, mesmo assim, ainda é uma barreira. Essa barreira imaginária está impedindo a realização de nossa verdadeira identidade. Então, este falso centro, este falso ser, esta falsa entidade, assume o lugar daquilo que você verdadeiramente é. Aí falsifica tudo; falsifica a liberdade, a paz, o amor, a felicidade. Isso é essencialmente um psicológico processo ocorrendo na mente. Este processo está sempre organizando, traduzindo, sempre dando significado a tudo. Este sentido ilusório de ser toma por completo este mecanismo, este corpo/mente, e aí está você alienado de sua Natureza Divina, identificado com uma imaginação. O ego, o "sentido do eu", é basicamente isso.

O problema é que este "sentido do eu" é muito convincente, é um fantasma que assombra muito e vive sendo constantemente realimentado por conflitos. O conflito é, basicamente, a energia que mantém o sentido de separação. Escutem com calma isso, olhem e vocês vão ver o quanto isso é assim.

A mente se alimenta de conflito, o ego se alimenta de conflito. Se tem algo indigesto para a mente, que ela não consegue digerir bem, é o silêncio, é a paz; ela precisa da guerra. O ego precisa se manter em conflito, este é o alimento dele. A energia do conflito mantém o sentido de separação e nós estamos viciados nisso. Sem o conflito e sem o sentido de separação: sem ego! Você agora tem que desaprender isso. Você tem passado a vida inteira identificado com essa ideia de ser alguém, em guerra é claro, sempre se defendendo e atacando.

A resistência é a base do ego. Por isso que este convite, que você tem em Satsang, a grande maioria não aprecia, pois precisa continuar no seu caminho, no caminho de ser alguém, no caminho da guerra. Eu quero lhe convidar a soltar este sonho, eu lhe convido a essa Felicidade Suprema, que é a Realização da Verdade em você mesmo, que é a Realização de Deus. Eu convido você a sair dessa noite, a abandonar essa noite, a acordar deste sonho, a sair deste sonho, a deixar este pesadelo, o pesadelo de ser alguém que está sempre buscando alguma coisa. Nesta busca, você está sempre sentindo-se um guerreiro, um combatente, na procura de uma felicidade imaginária, na procura de uma paz imaginária; sendo uma entidade imaginária, sendo agressivo, possessivo, ambicioso, lutando por este sonho, que é um pesadelo, um pesadelo de vida de uma suposta pessoa.

A Verdade está além de tudo isso, acontecendo fora desta ilusão, onde a mente não está. Este é o nosso convite para você, em Satsang: que vá além da mente, além desse sentido de separação, além dessa imaginação de ser alguém, para essa Perfeita e Indescritível Liberdade. Eu chamo isso Despertar, Realização, o seu Estado Natural.

Você é Deus, mas se esqueceu disso, se esqueceu de sua Real Natureza, se esqueceu de quem, de fato, você É. E aqui estamos nós, olhando para isso juntos.

Alguma pergunta? É só soltar aí... mande aí...

A sala está silenciosa hoje, que legal! Todo mundo quieto, que bom. Todo mundo em silêncio... É... a mente de vocês está silenciando.

Participante: É porque não existe ninguém aqui.

Marcos Gualberto: É verdade, mas vocês se esquecem disso o tempo todo, de que não tem ninguém aí.

Participante: Poderia falar sobre o que é esse sentido de separação?

Marcos Gualberto: Sim, vamos lá... O sentido de separação é algo muito simples. Quem está pensando aí agora? Quem está fazendo esta pergunta? Quem quer saber alguma coisa sobre isso? Este é o sentido de separação. Alguém dentro do corpo e um mundo fora do corpo. Alguém pensando determinado pensamento, formulando determinada pergunta, porque quer saber alguma coisa; aí está o sentido de separação – isso é uma ilusão. Não tem ninguém pensando, não tem ninguém querendo saber nada, não tem alguém dentro do corpo, não tem o corpo, não tem o mundo. Este é o sentido de separação, a ilusão de estar vivo, de estar vivendo, de ser alguém.

Alguém vivo, vivendo, é sempre medo, medo de deixar de ser. Em sono profundo, não há este sentido de separação. Todos nós dormimos profundamente à noite e não tem qualquer sentido de separação; não há nenhuma ideia de que você está vivo, de que está morto, de que pode morrer ou que quer saber alguma coisa... Não há qualquer sentido de separação aqui, porque o sentido de "ser alguém" desaparece em sono profundo. O Seu Estado Natural é o estado de Plena Consciência, sem o sentido de separação, exatamente como acontece em sono profundo, só que agora em estado de vigília. Não há como imaginar isso, mas é possível viver isso.

"Eu" aqui e "o mundo" lá fora, eu experimentando essa experiência, seja a experiência de falar, de pensar, de viver – tudo isso é uma ilusão. Só existe a Consciência não-separada e Ela é essa experiência, sem qualquer ideia sobre isso, sem qualquer alguém nisso. Deu para pegar isso?

Participante: Somos todos um só então?

Marcos Gualberto: Não! Não somos todos um só. Não tem todos. "Todos" é uma ideia, é só um pensamento. É esse sentido de uma identidade presente traduzindo, interpretando a experiência de muitos, muitos presentes. Só há esta Consciência, ou Aquilo que presencia toda aparição, mas não está separado disso como uma testemunha observando algo fora de si mesmo. A dificuldade que nós temos aqui é de que onde a mente entra, ela entra separando, dividindo, testemunhando, e isso é real só para ela, não é a realidade de sua Natureza Real. Você em sua Natureza Real é esta Consciência, onde nada está separado Dela.

Por exemplo: você não está me ouvindo, você não está me vendo. Este ouvir e ver é só uma ideia de algo que parece estar acontecendo. Só há uma única Consciência, nesse movimento chamado vir e ir, e Ela não está separada desse movimento. Esta separação é meramente mental, intelectual, apenas uma crença. Vocês aqui da sala ouviram isso? (risos)

Participante: Existe um "eu", além do nosso ilusório?

Marcos Gualberto: Vocês estavam tão quietinhos, agora ficaram entusiasmados... Acabei de dar esta resposta, não foi? Não precisa voltar para ela...

Participante: Existe uma constatação de acordado em sono profundo?

Marcos Gualberto: Eita! Este viajou mesmo. Deixe para lá... Esqueça isso menino, você já está com sono. Vai dar 23 horas, já... Vamos ver a outra pergunta, ver se faz mais sentido (risos).

Participante: Mestre, os objetos inanimados, há consciência neles, ou sobre eles, fora desse sentido de um "eu" presente?

Marcos Gualberto: Que salada! Deixe-me ler de novo... Olha só: quem é que está vendo estes objetos fora? Acabei de colocar isso. Já acabei de responder a mesma coisa... Não existem objetos fora, não existe nada fora. A ideia de que há algo fora é esse sentido de separatividade que cria, e isso é pura imaginação. O ego, esse sentido de um "eu", é essa imaginação de que ele está aqui e coisas estão lá; não tem ninguém aí, não tem nenhum "eu" aí.

Participante: A falsa noção de que o céu, as estrelas, seja o que for, estão separados de você.

Marcos Gualberto: É isso mesmo, mas tem que deixar a teoria sobre isso, tem que ver assim mesmo. É só ver assim, pronto! Está resolvido...

Vocês são tão lindinhos...

Recomendo a todos virem ao Satsang presencial, pois isto aqui é só um momento.

Ok, pessoal, vamos ficar por aqui? Acho que está todo mundo com sono, já. (risos)

Tchau, tchau. Namastê!

*Transcrição de uma fala ocorrida em 06 de agosto de 2014, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Não é possível alcançar aquilo que estamos buscando!

Sejam bem-vindos, sobretudo aqueles que estão conosco pela primeira vez, que bom estarmos juntos!

O Paltalk não substitui os encontros presenciais, mas nós temos aqui no Paltalk uma ferramenta, mais uma ferramenta que também nos facilita aquilo que eu tenho chamado de "estar focado nisso", pois passamos alguns minutos juntos nesse encontro.

Aqueles que têm estado conosco nos encontros presenciais sabem o que estou dizendo, que esses encontros aqui no Paltalk, de fato, não substituem os encontros presenciais.

Para alguns de vocês, são os primeiros contatos com este trabalho, para outros que já estão dentro deste trabalho, é uma oportunidade para se aprofundarem nisso, assim estamos nos abrindo mais e mais para este trabalho interno.

Este trabalho se processa num nível completamente diferente do conhecido e não pode ser descrito, pois só pode ser descrito aquilo que está dentro do conhecido. A Graça realiza um trabalho completamente desconhecido, algo fora da mente. Vamos à fala então, do encontro dessa noite.

O que nós precisamos, a princípio, é compreender juntos que não é possível alcançar Aquilo que estamos buscando, não é possível alcançar essa Libertação. Seu maior impedimento é a crença da pessoa presente nessa procura, de alguém capaz de realizar Isso.

Uma das primeiras coisas que debatemos e enfatizamos, e que assusta você quando chega nesse encontro chamado Satsang, é o fato de desconsiderarmos completamente essa ideia, que é a crença central que todos nós temos, carregamos: esse conceito de aqui estarmos, de estarmos presente, como uma entidade separada.

Assim sendo, a primeira coisa que precisamos compreender é que se você acredita que você é uma pessoa, nessa vida, nessa existência, nesse lugar, aqui nessa sala, por exemplo, que pode alcançar esta Libertação, então é exatamente essa crença, essa imaginação, esse conceito, esse pensamento que está impedindo a visão de sua Real Natureza.

Libertação é a Consciência de sua Verdadeira Natureza, daquilo que já está aqui presente, completo, perfeito, aquilo que não pode ser alterado, que é sempre presente.

Mas esse pensamento de alguém dentro do corpo, com um mundo fora do corpo, essa posição dual, separatista, isso é algo muito emocionante para a mente.

A mente alimenta isso constantemente, esse sentido de maravilhamento; isso lhe possibilita imaginar um universo dentro de outro universo, o microcosmo dentro do macrocosmo, o menor dentro do maior, e isso é algo bastante excitante para mente.

Essa possibilidade de investigar infinitamente o mundo externo, o mundo do lado de fora – é claro que tem sempre alguém nessa investigação e alguns chamam isso de "expansão da consciência", uma consciência que se expande infinitamente, uma possibilidade infinita de aprender, crescer, evoluir –, quando você se aproxima desses encontros, isso lhe é tirado, essa doce e extraordinária crença lhe é tirada. Aqui nós dizemos que você não existe. Só há esta Única Presença, que não é você, você como esse sentido de pessoa, de individualidade, de separatividade. Assim, a primeira coisa que precisa cair, desaparecer, é essa ilusão, a ilusão de estar presente, sendo alguém.

Este é o final deste jogo, não há nada fora de si mesmo. Esse "si mesmo" é só uma crença, tudo está no lugar, não há do que se libertar, porque nada está do lado de fora para ser mudado, alterado. Aquilo que consideramos a dor do sofrimento, a dor da miséria, a dor do conflito, do medo, nada mais é do que um pensamento, um pensamento que se mantém como um crença, que se sustenta nesse sentido de uma identidade presente.

Quando dizemos, por exemplo, "estou sofrendo", é um pensamento. Pode ser um pensamento poderoso, o sentido de forte identidade daquele que sofre, então a mente se agarra a isso, e ela mantém isso, esse sentido de autoimportância, e assim o sentido de separação se mantém.

Isso é uma tremenda ilusão, o ego é uma ilusão, este "mim", esta "pessoa", é uma ilusão. Não adianta falarmos de libertação para a pessoa – a pessoa jamais será livre. Não adianta falar de libertação para "mim". Este "mim", este "eu", jamais será livre.

Enquanto existir esse sentido do "mim", do "eu", da "pessoa", enquanto permanecer a ideia de alguém presente, que diz "estou sofrendo, preciso me livrar desse meu sofrimento", essa é a ideia de alcançar algo, alcançar a liberação, mas se você quer a Verdade, precisa ficar com aquilo que é como é, como se mostra, como se apresenta. Ou seja, não há alguém nessa coisa, não há alguém na decisão, na escolha, nesse encontro de solução de continuidade da dor, de sofrimento, da miséria, do medo.

A mente projeta uma liberdade. Para a mente, a liberdade é a ausência do sofrimento, enquanto a Real Liberdade não é a ausência de coisa alguma, é apenas o fim da ilusão do sentido de separatividade, é apenas o fim da ilusão de alguém presente em alguma experiência. Quando isso termina, o experimentador termina, e a experiência não tem mais importância. O sofrimento adquire importância com a presença do sofredor, o medo adquire importância com a presença do medroso.

Estamos dizendo que só há Liberdade na ausência dessa suposta entidade. É a Liberdade para ser o que é, é a Liberdade de ser nada, ou a Liberdade de não ser nada – não há qualquer diferença, quando não há o sentido de um experimentador dentro dessa coisa.

Na verdade, nós estamos tentando acabar com o sofrimento, o sofrimento no mundo. Para nós, identificados com a mente, tudo está do lado de fora, o problema está do lado de fora, o problema é o outro, o problema está no mundo, e assim queremos acabar com a dor, com o sofrimento, com a miséria, com a fome. O que não percebemos é que há sempre presente aí uma ideia central, a ideia de "alguém" que pode fazer isso, e esse "alguém" está profundamente incomodado com isso – na verdade, esse "alguém" mantém isso tudo.

É sempre o sentido de alguém presente vendo um mundo do lado de fora, defeituoso, conflituoso, problemático, difícil. Se essa ilusão cai, se esse sentido de uma identidade presente aí cai, não há mais o dentro e o fora, não há mais nenhum mundo para ser alterado, mudado, transformado. O problema não é o mundo, o problema é o sentido de um "eu" na experiência de um mundo, experenciando o mundo, sendo o experimentador do mundo, ou seja, o problema somos nós mesmos, este "eu mesmo", este "si mesmo"...

Sem esse sentido de separatividade, sem o sentido do "eu", do ego, do "mim", da pessoa, a vida é o que é. O Ser é isso. Não é ser alguém experimentando algo, é só o experimentar sem alguém: isso é Ser, isto é Liberação, isto é Libertação, ou Despertar, ou Realização de Deus – o nome que você queira dar para isso. É o fim da busca, porque é o fim daquele que busca. Você não pode realizar isso, mas pode se render, se entregar, desistir, parar de se movimentar, então a Graça pode realizar isso. Eu chamo isso de "estar focado", que é estar nessa entrega à Graça, à Presença, ao Ser.

Quando meu Guru me encontrou, ficou muito claro isso aqui: não precisava mais buscar alguma coisa do lado de fora, não precisava mais continuar procurando Deus. Eu fui criado numa família onde todos buscavam a Deus, queriam ter um encontro com Deus, me ensinaram isso. A crença comum ali era de que Deus podia ser encontrado, e quando Ramana apareceu, apareceu dizendo no silêncio: "Eu te encontrei".

Na realidade, é Deus que vem, é a Verdade que vem, é a Verdade que te encontra. É sempre a Verdade que faz o trabalho todo, você apenas relaxa, se entrega, se rende, de todo coração se entrega a essa Graça. No meu caso, eu me entreguei ao meu Mestre, com uma profunda confiança, e tudo começou a cair. Você não precisa do que você acredita que precisa, você só precisa do que de fato você precisa e não é você que sabe o que isso significa, somente Ele sabe, somente Deus sabe, somente essa Presença sabe. Esta Presença está além desse "você", com seus conceitos, teorias, crenças e desejos.

Participante: Quando se acaba essa sensação de separatividade e a ilusão cai, sente-se o quê?

Marcos Gualberto: Quem sabe? Quem fica para saber? Quem fica para responder? Eu diria que a única coisa que se sente é a Graça. Graça é a única coisa que a Graça sente. Sem o sentido de separação, sem o sentido de separatividade, só há Graça, não há alguém. Tudo é o que é. Tudo isso é Graça, sua Natureza Real é Amor, Paz, Liberdade, Felicidade. Não tem alguém sentindo isso, é o que fica; Amor é o que sempre esteve presente, é o que permanece; Paz é o que sempre esteve presente, é o que permanece; Liberdade é o que sempre este presente, permanece; Felicidade é o que sempre esteve presente, permanece.

Sem o sentido de separação, não há mais sofrimento, não há mais conflito, não há mais medo. O que fica é o que sempre esteve presente: Deus.

Vamos ficar por aqui?

Namastê!

*Transcrição de uma fala ocorrida em 23 de junho de 2014, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O Real Propósito em Satsang

Eu quero chamar sua atenção para uma coisa aqui. Nunca é demais a gente tocar em alguns aspectos, nesses encontros, e um deles é que nós não estamos aqui para obter uma melhora. Esta é a primeira coisa que precisa ficar clara para vocês: vocês não estão aqui para ter uma melhora de vida.

Há uma grande ilusão nessa procura do melhor. A procura do melhor geralmente está assentada no desejo de satisfação, no desejo de preenchimento, no desejo de alguma realização, e essa melhora é a melhora da pessoa.

A pessoa pode ser melhorada. Basta um novo conjunto de crenças e a quebra de antigos hábitos, e aí você tem a pessoa melhorada, melhorada dentro dos conformes dessas novas crenças e dentro desses princípios, com o fim de antigos hábitos. Ela adquire novos hábitos e se torna uma pessoa melhor.

Se você está em Satsang para que a sua vida possa melhorar e para que você possa crescer, você está na sala errada. Essa é a primeira coisa que precisa ficar clara aqui, por isso é preciso voltar sempre ao básico, mesmo que seja assustador de ouvir. Mas eu te desafio a ouvir isto aqui pela primeira vez: que você não tem qualquer importância aqui nessa sala, que não existe ninguém aqui para ser melhorado.

Você não está em Satsang para um novo conjunto de crenças, para adquirir uma nova ideologia, novos critérios para viver... Nós não temos qualquer interesse na pessoa – melhorar pessoas é coisa para educadores, professores, sacerdotes, doutores, professores, pais, mestres...

Aqui estamos interessados no fim dessa ilusão, da ilusão de alguém que tem a necessidade de crescer, evoluir, progredir, chegar em algum lugar diferente desse lugar em você se encontra. É exatamente isso que você ouviu: você já está no lugar do qual você não pode sair, e qualquer aparente movimento para fora desse lugar é só um movimento da mente, é essa suposta pessoa se movendo.

Nós tratamos aqui da Liberação. Isso tem sido mal compreendido – a mente projeta isso. Para a mente, liberação é um esquema confortável, livre de seu estresse, de seus aborrecimentos, de sua ansiedade, de preocupações, de todas as formas de medo que ela conhece. Para a mente, a liberação é o fim disso. Assim, ela tem um ideal do que seja a liberação, ou seja, este ideal de liberação ainda é algo dentro do seu próprio projeto.

Liberação, como nós colocamos essa palavra aqui, significa algo completamente diferente disso. Liberação é o seu Estado Natural, não significa uma vida não tocada por nenhum problema, por nenhuma diversidade, por nenhum contratempo ou dificuldade – não significa isso, mas, sim, o fim da ilusão de que há "alguém" passando por isso, alguém que é vítima dessa coisa, alguém com falta de saúde, com falta de paz, falta de alegria, alguém com falta desse ou daquele preenchimento, alguém com falta de alguma satisfação, alguém com falta de alguma realização.

Quando falamos de Liberação, estamos falando desse Estado Natural, no qual tudo aquilo que está presente agora, nesse instante, não está separado de sua Natureza Verdadeira. Isso significa que a noção da falta, ou da suficiência, não tem mais qualquer importância, ela só tem importância para a "pessoa".

Todos os lugares, todos os espaços, todas as associações e reuniões onde se trata desse aprimoramento, desse crescimento, dessa evolução ou ampliação dessa suposta pessoa, são espaços, lugares bastante concorridos. Tudo o que a pessoa não quer, inclusive vocês dentro desta sala, é desaparecer.

Temos aqui vinte e três participantes, o que é um número consideravelmente grande dentro de uma sala do Paltalk. Em média, uma boa sala, bastante concorrida aqui, tem uns dez, onze participantes. Isto significa que, dentro de alguns minutos, nosso número pode reduzir drasticamente.

Não sei o que o traz aqui. Você está em maus lençóis se o que o traz aqui é o aperfeiçoamento, se você quer uma felicidade que tem projetado, uma espécie de padrão de vida onde você pode se autoafirmar, onde você troca de carro todo ano, ou qualquer outro tipo de projeto que você tenha...

Nós estamos aqui olhando para a natureza da Realidade, o que significa soltar os padrões de crenças acerca do que é esta Realidade, acerca do que deveria ser esta Realidade. Assim, as crenças não têm qualquer importância, as ideias sobre isso não têm qualquer importância. O que importa, de fato, é aquilo que aqui chamamos de "Despertar".

O Despertar é o fim da ilusão sobre a Realidade, e isso significa o fim daquilo que você conhece como sendo você, com todos esses projetos, todas essas invenções, motivos e desejos.

Reparem que uma fala como esta nos conduz a esse desesperador zero, nada. Não alimentamos os seus ideais, não alimentamos esperanças neste espaço. Este não é um espaço de conquistas. Esta fala pode soar muito negativa, mas, na verdade, ela aponta para algo além de toda negatividade, e aponta para algo além de toda positividade.

Aquilo que a sua mente jamais sonhou de positivo ou aquilo que a sua mente tem por mais negativo – isso não tem nada a ver com aquilo que a gente está colocando aqui. Estamos apontado para a sua Natureza Real.

Sua Natureza está além dos opostos, além do negativo e do positivo, além da conquista ou não conquista, além da vitória ou da derrota, além da riqueza ou pobreza, além do ter ou do não ter, além da ideia de ser ou da ideia de não ser. Estamos apontando para o seu Estado Natural, seu estado que vê este instante, este momento presente, sem qualquer separação nele. Não é bem um estado, é a Liberdade do funil de todos os estados.

É exatamente quando a mente estabiliza num determinado estado, quando ela estanca ali, que nós temos a falsa sensação de que há uma identidade presente, naquele estado. Nesse estado, não há essa Fluidez, não há essa Liberdade, e é Dela que estamos falando neste encontro – não é a liberação de alguém.

A liberação de alguém seria o fim de um estado conhecido, como o estado de depressão, ansiedade ou medo, por exemplo. A pessoa quer se livrar de estados que ela considera negativos, mas ela busca estados que considera positivos – estados de euforia, de satisfação, de alegria, de prazer. Quando nós chegamos aqui e dizemos para você que essa Liberação é o fim de todos os estados, não estamos dizendo que os estados precisam desaparecer, estamos dizendo simplesmente que todos os estados, aparecendo ou não, não fazem qualquer diferença para Aquilo que é a sua Real Natureza, para o seu Estado Natural que é livre de todos os estados, que não detém nada que esteja aparecendo, não detém sensações, pensamentos, sentimentos, emoções, não segura nada.

Nesses encontros, tratamos fervorosamente, "apaixonadamente" dessa coisa que chamamos de "Liberação". Estamos apontando para a sua Natureza Real, sua Natureza Livre, sua Natureza em liberdade, na qual você não mais aparece como um entidade importante, esta entidade que sempre está se defendendo e nessa defesa sempre resistindo, e nessa defesa sempre se mantendo no medo. Liberação é ausência do medo. Ausência do medo está nessa ausência de resistência: abraçar, acolher, sem segurar, o que se levanta e o que cai, o que vem e vai, o que chega e depois parte. Isso significa desconsiderar esse centro, essa autoimportância na experiência.

Complicado isso? Vocês não estão aqui para descobrir o que significa uma vida livre do ego? Pois estou falando o que é uma vida livre do ego, que é uma vida livre da ideia de que você está vivo, de que a vida é sua, de que você é importante dentro dessa sua vida.

Nós fomos educados para acreditar nisso, que aquele que chupa a laranja é superior à laranja chupada, que aquele que come a banana é superior à banana que é comida. Na verdade, é só um movimento chamado "Vida": aquele que come e aquilo que é comido desaparecem no mastigar, no engolir. Não há alguém nesse processo, nesse processo único chamado Vida. Eu sei que bate um desespero (risos), ou é um grande alívio ouvir isso.

Participante: Como enxergar dessa forma?

Marcos Gualberto: Não há uma fórmula para isso. Eu diria que há um exercício do coração que lhe capacita aprofundar isso, mas você precisa estar bem atento a esse coração em exercício, porque a mente vai continuar o tempo todo, procurando dar um significado especial dentro do contexto dela, de algo particular dela, e aí você termina sendo capturado. É muito rápido deslizar com a mente para dentro do significado que ela dá à vida acontecendo.

Por que estamos sempre lhe aconselhando a vir ao Satsang? É que aqui há de fato um perfume daquilo que estamos falando, não é só uma fala sendo ouvida. Há algo que acontece nessa proximidade que lhe favorece a desistência desse separar-se, como experimentador, da experiência: é quando esse "enxergar" sem separação acontece. Seu Estado Natural é simples depois que assenta. É preciso uma harmonização do corpo-mente a essa Presença, a essa Consciência, para que isso seja bem natural, sem qualquer esforço, sem qualquer trabalho.

A princípio, esse "exercício" é fundamental. Esse exercício, eu chamo de Satsang, autoinvestigação, meditação e entrega. Entrega à sua Real Natureza – que é Meditação – só é possível na real autoinvestigação, que poderíamos chamar de "investigação pura", quando se percebe a falsidade, a ilusão, desse movimento separatista que a mente produz, pelo poder do hábito, a cada segundo. Quando começamos a ver isso, isso começa a desaparecer...

O ego é um movimento de hábito. O sentido de separatividade é só um hábito no qual o mecanismo está estabilizado; no organismo, há alguns decênios, mas na humanidade, há milênios – então um trabalho se faz necessário.

(O mesmo participante escreve várias perguntas de uma só vez na tela do aplicativo do Paltalk).

Menino, você escuta pouco. Sua primeira lição em Satsang é: aprenda a ouvir. Tudo o que você precisa é aprender a ouvir, sua mente é muito tagarela. Venha a um Satsang presencial, urgentemente, seu caso requer isso. Suas perguntas são perguntas de busca de conclusões. Conclusões não servem para nada, só o tornam mais intelectual do que você já é, e isto é lixo dentro de Satsang. Repare quantas perguntas você faz. Você não escuta uma única resposta, mas faz centena de perguntas.

Lá vem você com mais uma pergunta, vou ler só a última, "Pelo que li no seu blog, parece que você passou por isto também, faz parte do processo?.

Menino, tudo faz parte do processo, mas é só um processo, nada mais. O que eu considero importante, estou compartilhando aqui nesta fala. Se você aprende a ouvir esta fala, você tem todas as respostas às suas perguntas, não na fala, mas naquilo que está além da fala, nesse Silêncio presente agora, neste momento...

Permita-se trazer todas essas perguntas presencialmente, você irá perceber uma mudança em seu estado mental, aí depois fica muito fácil você entrar aqui no Paltalk e descobrir em minhas falas, nesse Espaço de Silêncio, a Verdade sendo revelada a você, porque Ela já é Você

Por exemplo, você escreve: (leitura das várias perguntas escritas anteriormente): "A liberação é uma espécie de eureka, então é isso? A completude e a paz foram logo passando e percebi que logo fui perdendo... você falou que os sonhos têm importância nessa busca, há algumas semanas. Os sonhos têm alguma significância nesta busca? Sendo mais específico: há algumas semanas, sonhei que alguém me apontou uma espécie de janela e logo me dei conta de que o que eu assistia era eu mesmo, no dia a dia; naquele momento me senti preenchido de uma sensação de completude, liberação e também uma espécie de 'eureka': então é isto?! Ao mesmo tempo, fui percebendo que eu ia me perdendo e me tornando aquilo que eu assistia. Daí acordei confuso (de verdade acordei) e aquela sensação de completude e paz foi logo passando. Isto é apenas um sonho, mais uma 'jogada' da mente? Por que pergunto isto? Porque sempre que ouço falar de ilusão, mente, este sonho que tive vem na memória, mas a sensação de entendimento não. Isto pode ter a ver com a ilusão desta suposta pessoa se movendo?".

Se você estivesse presencialmente, eu te diria: Você é tão bonitinho... (risos). Esqueça tudo isso, abandone tudo isso, são só experiências, experiências passando. Todos nós aqui nesta sala já passamos por inúmeras experiências, mas são só experiências...

Vamos ficar por aqui.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 05 de maio de 2014, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Todo o seu sofrimento é a vã tentativa de mudar o que é!

Aqui estamos em mais um encontro pelo Paltalk. É uma alegria estarmos juntos.

É um momento de silêncio, é um momento de abandonarmos todos os conceitos que temos, para podermos ver tudo e todos como esta Presença, ver tudo e todos nessa luz da Consciência.

A expressão "iluminação" parece querer apontar para isso, parece que aponta para essa visão clara, desanuviada, uma visão que nos mostra que nada precisa ser feito, uma visão não-dual. A visão dual seria a experiência desse instante e a ideia sobre a experiência desse instante. A ideia sobre a experiência é o conceito, são os diversos conceitos.

A Realidade é não-dual, não porque a dualidade não apareça – a dualidade aparece, o que não aparece é esse sentido de separação entre a experiência e o experimentador, entre a experiência nela mesma e a ideia sobre a experiência. Quando eu digo que o dual aparece nessa não dualidade, estou falando sobre o positivo e o negativo, o bem e o mal, a saúde e a doença, a totalidade e a vacuidade. Agora, fora isso nós temos o conceito. Os conceitos sãos as crenças a respeito Disso, as opiniões, as conclusões, as deduções, e assim nós ficamos com o experimentador.

O experimentador é uma crença, uma crença dentro da experiência. Nós estamos nesse encontro, nessa noite, investigando a ilusão, não a Realidade. Estamos investigando a ilusão sobre a Realidade, a ignorância sobre a Realidade – que é a ilusão. Quando isso é visto, isso desaparece.

A visão aqui é baseada no fato, na realidade da não separação, da não-dualidade. Aquilo que eu chamo de não-dual – isso é Iluminação. Tudo sendo visto sob a luz dessa Presença, dessa Consciência, dessa Realidade.

Nesses encontros, nós investigamos a verdade da ilusão, a verdade da ilusão está na constatação do ilusório sentido de separação, que é pura ignorância. A mente faz uma aproximação da realidade baseada na separação – essa não é a visão da Iluminação.

Em sua experiência, há sempre um experimentador, alguém que interpreta o que acontece. O que acontece não requer qualquer interpretação, qualquer interpretação requer o sentido de separatividade, a presença desse experimentador. Então há essa guerra, essa constante guerra, essa guerra que a mente produz, a guerra da tentativa de criar um ajustamento, de colocar aquilo que se apresenta dentro do seu conceito de realidade. É aí que aparece o conflito, a luta, a guerra, o sofrimento.

Todo o seu sofrimento é a vã tentativa de mudar o que é, a ilusória tentativa de alterar aquilo que se apresenta, então há sempre um choque, há sempre um bater em uma porta fechada, há sempre um conflito presente nessa resistência ao que é. Isso significa não estar solto, é estar batendo constantemente contra a realidade. É isso que a mente faz quando ela se separa da experiência como um experimentador. Isso é o ego, isso é o "eu", o "mim", a pessoa – é esse conflito. Pessoa é essa luta, é essa guerra, é esse sentido de separação.

Realização, Despertar, Iluminação é a não resistência à vida como ela se apresenta, significa dançar conforme a música. A habilidade da não resistência é a arte da dança de ser Pura Consciência, Pura Realidade, Pura Verdade, de Ser Deus. Isso não pode ser apanhado pelo pensamento, capturado pelas ideias. Agora percebam que, neste estado de visão clara, que não é pessoal, que está presente exatamente quando há esta liberdade do experimentador – é isso que nós chamamos de visão da realidade –, não há qualquer nível. Não há níveis nessa "Coisa", não é um estado em que se possa chegar, é exatamente o fim de todos os estados, é o fim de todos os estados desse experimentador, dessa ilusória identidade.

A Iluminação, o Despertar, não é uma espécie de objeto desejável, não é uma aquisição, é o seu Estado Natural livre do desejo de objetos, do desejo de estados; é o seu Estado Natural livre dessa separação de um experimentador no desejo, de um experimentador na busca, tentando encontrar algo do lado de fora, em objetos.

Abandone a sua resistência ao que é, abandone o sentido do esforço, do controle, o sentido de partir ou de chegar, o sentido de perder ou de ganhar, esse sentido de controlar, de traduzir, de interpretar aquilo que se mostra, aquilo que se apresenta. Abandone suas conclusões, suas avaliações, suas crenças, toda e qualquer opinião, sobre todo e qualquer assunto.

Nós temos falado muito do fim desse sentido de ser importante. Quando se é importante, se defende, se defende de ideias, com conclusões, com opiniões, com ações; se defende de sentimentos, e assim vivemos a visão dual. Repito: essa visão dual é aquela na qual a experiência tem sempre um sensor presente, para medir, para comparar, para julgar, para avaliar e assim por diante – sempre a importância de alguém.

Não tem alguém aí. É importante que você escute isso, vez após vez, após vez, após vez, até desistir dessa crença. Quando você desiste dessa crença, percebe por si mesmo, sem ter que ouvir isso de novo, sem qualquer necessidade de ouvir isso de novo e, curiosamente, a partir de então você não fica mais cansado em ouvir isso, isso passa a ser uma música agradável, porque confirma esse Estado Natural presente, não o estado de alguém, mas exatamente o estado desse não alguém, que não é um estado, como acabei de colocar; é o fim de todos os estados.

Essa fala requer algo presente, algo presente fora de suas crenças, de suas conhecidas experiências, de suas conclusões, de suas opiniões. É por isso que temos dito sempre que não tratamos daquilo que é "espiritual".

Aquilo que consideramos "espiritual" nos remete a estados, nos remete a experiências, com um experimentador presente. Não estamos interessados nisso. Toda experiência, por mais sublime que seja, por mais divina que seja, por mais espiritual que seja, é algo transitório, da mesma forma que ela vem, ela também vai embora, então ela não é real. Nenhuma experiência espiritual é real.

A mente adora a busca de experiências. Experiências sublimes, visões, audições – essas coisas e as demais pelas quais vocês já passaram e muitos estão passando – não têm qualquer valor, não têm qualquer importância, são mais uma fantasia, mais uma viagem de alguém.

Vamos ficar por aqui? Grato a todos pela presença! Até nosso próximo encontro na sexta-feira.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 30 de abril de 2014, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Um Esvaziar-se por Completo

Aqui estamos mais uma vez nesse encontro.

Podemos tocar, com vocês aqui, naquilo que eu acho muito importante vocês compreenderem: este trabalho, que é o trabalho do despertar, é algo que requer, de cada um, um profundo envolvimento. Este profundo envolvimento é o que nós chamamos de entrega.

Nós estamos sempre diante de paradoxos dentro deste trabalho, e há algo sobre isso, sobre este trabalho, que precisa ficar muito claro para cada um de vocês. Nós estamos falando desse Estado Natural. Este Estado Natural é florescer desta Graça, dessa Presença, dessa Realidade Divina, no entanto – é aqui que nós nos deparamos com algo bastante paradoxal, pois estamos falando de algo que já está presente –, qualquer movimento para chegarmos a Isso ainda é um movimento que nos afasta. Nessa tentativa de nos aproximarmos dessa Verdade, dessa Paz, dessa Liberdade, dessa Felicidade, nós temos nos afastado Disso. Nós nos afastamos Disso porque estamos exatamente em busca Disso. Essa busca nos afasta Daquilo que já está presente. Parece que o maior impedimento para todos nós é estarmos caminhando, é estarmos em movimento.

É muito amplo esse "mercado", esse mercado onde podemos procurar, onde podemos tentar encontrar. Quando nos metemos nesse mercado, no mercado da busca, nós nos perdemos. Reparem que a natureza da mente é o movimento da busca. A mente em sua insatisfação, em seu tédio, solidão, desejo e medo sempre se move, se move nessa busca, e essa busca é aquilo que na verdade lhe afasta dessa constatação, desse florescer. Essa Liberação, essa Libertação, essa Realização – essas são as palavras que usamos – só é possível quando não há mais nenhuma caminhada, quando há uma parada, quando não há mais nenhum movimento.

Mas como ficar livre do movimento? Em seu desespero, em sua aflição, em sua dor, a mente está sempre em busca de alívio, sempre na busca. Então a dificuldade que nós temos para esse Florescer, para essa Liberação, para esse Despertar, é essa, estamos identificados com a mente, e a mente no controle dessa coisa, a mente nesse movimento. Identificados com a mente, nós somos este movimento, e assim estamos perdidos.

Esse mercado se chama "o mercado da busca", onde há todo tipo de misticismo, práticas religiosas, seitas, religiões, filosofias, algo inumerável. Na mente, temos toda essa oportunidade de movimento, de nos mantermos nessa caminhada.

Nosso convite, em Satsang, é para esse instante, para essa parada, para esse não-movimento, para o término da busca.

A busca mantém essa identidade, a busca mantém esse sentido de ser, esse sentido de ser é a crença em uma sensação, a sensação de estarmos indo para algum lugar, de estar prestes a encontrar. Você já é agora, aqui, neste instante; sua Natureza Verdadeira é a Verdade, a Verdade é a sua Natureza Verdadeira, é a sua Natureza Real. Falo da Natureza Real porque nós temos a natureza da mente como sendo real, como sendo a verdade, como sendo a nossa verdade. Que fique claro que a sua Verdadeira Natureza é a Verdade fora da mente. Na mente temos sempre esse movimento, o movimento da busca, e esse movimento da busca é aquilo que se passa por nossa Natureza Real.

A vontade, o querer, o desejo, a procura, a busca – isso nasce dessa insatisfação, desse estado de conflito e contradição. Nesse estado de medo e solidão, nesse estado de incompletude que é a mente – e essa não é a sua Real Natureza Verdadeira, não é Você, não é a Verdade –, todo esse movimento é só o movimento do afastamento.

É preciso soltar absolutamente tudo. O que estamos dizendo é que você não pode encontrar a Verdade, mas pode constatar a Verdade presente nesse instante – esta é sua Natureza Verdadeira. Todo o seu trabalho aqui é de descartar aquilo que se passa por você, aquilo que procura tomar o lugar, que é o seu verdadeiro lugar, aquilo que procura substituir você, essa sua Natureza Real, Inata.

Então não se trata de ganhar algo, de alcançar algo, de chegar em algum lugar, aqui se trata de investigar aquilo que se passa por você, investigar essas crenças mentais, esses conceitos mentais, essas imaginações, esses interesses, motivos, conceitos, etc... Se trata de soltarmos por completo tudo o que nos foi ensinado.

Você, em seu Ser não aprende, não cresce, não evolui, não alcança, não chega, não se move. Essa é toda a nossa dificuldade, porque de uma forma sutil, permanece sempre esse desejo de chegar, de alcançar, de ser. O convite em Satsang é: esteja aberto à constatação de sua Real Natureza, aberto ao trabalho de descartar tudo isso, inclusive a própria imaginação do que seja iluminação, realização ou liberação, porque isso também é só uma imagem na mente. Você não precisa da mente aqui; você está investigando justamente aquilo que a mente tem feito para se manter no lugar de sua Real Natureza, está claro isso?

Aqui se trata de um esvaziar-se por completo. Realização não é, repito, uma aquisição, Realização não é uma realização, Realização é uma constatação desse Vazio, então Ser é não ser, Realização é o fim de todas as realizações.

Sua natureza real é o fim de tudo isso, é o fim de todas as imagens, todas as ideias e crenças, tudo aquilo que está limitado à mente, tudo aquilo que é a mente em sua limitação e isso significa esta Presença, esta Consciência daquilo que está agora nesse instante como a Única Verdade.

Estamos falando do fim dessa ilusão, a ilusão de ser, de fazer, de poder, de se mover, de ter algum lugar para chegar. Ok, vamos ficar por aqui? Está aí o nosso encontro!

Namastê!

*Transcrição de uma fala ocorrida em 02 de abril de 2014, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Você não é confiável, a Graça sim!

Mais uma vez em mais um encontro em Satsang. Satsang é um encontro com esse desafio. O desafio que você tem em Satsang é se encontrar. Se encontrar significa ir além de suas crenças, além de seus padrões, além desse gostar e não gostar, além dessa postura individual, pessoal, essa coisa da preferência. Quando nós falamos sobre o sentido de uma identidade separada, isso fica muito vago. Isso só começa realmente a ser visto nesse incômodo. Na verdade, você está cheio disso, e você não tem a mínima consciência. Você está permanentemente num estado de autodefesa. Nesse estado de autodefesa, você não quer ser tocado, não quer ser invadido, você não quer ser ferido, magoado, ofendido. O desafio para você é algo muito doloroso.

E o desafio aqui é o desmascaramento desse sentido de identidade presente. É por isso que Satsang é mortal. Essas falas em Satsang estão apontando exatamente para isso. É muito fácil ouvir uma fala como essa, e a mente logo racionaliza acerca disso, cria ideias sobre isso, tira conclusões acerca disso, dessa coisa que está sendo dita. No entanto, isso é inofensivo assim. Mas, na verdade, isso não é Satsang. Satsang é estar diante deste desafio que é a Graça, que é esse desmascaramento, que é poder constatar a possibilidade do fim dessa ilusão, da ilusão dessa identidade – essa que gosta, não gosta, controla, essa que não quer ser ferida.

Então, nós ficamos com aquilo que é prático quanto a isso. Já não estamos mais diante da teoria. É nesse sentido que Satsang funciona, é o espelho dessa Presença na figura do Mestre, daquele que está desperto, que não está inconsciente quanto a isso. Só esse é um espelho ideal. É isso que eu chamo de real investigação, é permitir-se olhar para isso, permitir-se não ser poupado. A sua mente está cheia de razões, cheia de projeções, cheia de crenças, ideias. Você até mesmo sabe como o Mestre deve agir. Você sabe até mesmo escolher o "mestre ideal". O mestre ideal para você é como aquele espelho que não pode refletir. O mestre ideal para você é aquele que ama você. Esse "você" é a ilusão. Esse "você" é esse suposto "eu", essa suposta identidade separada – caprichosa, vaidosa, ocupada com ela própria, que sabe tudo.

E é exatamente isso que tem que ser visto por você: a crença que você faz acerca de si mesmo. Um espelho real, um espelho ideal, é a Presença viva de pura Consciência, essa chama que devora a ilusão. Aí está o Mestre. É desconfortável, doloroso, difícil de lidar, difícil de aceitar, mas é assim. Seu ego vai querer fugir, mas ele jamais vai dizer para você que ele é o ego. Mais uma vez, ele vai se passar por você nessa "inteligência" de resolução, nessa "inteligência" de não ser manipulado, nessa "inteligência" de ter o perfeito discernimento. Na verdade, você quer essa libertação, mas do modo que você pode querer essa libertação – ainda se mantendo sendo "você". É "você" liberto, do seu jeito.

Tudo isso são truques, truques de continuidade dessa falsa identidade. O que estamos dizendo nesta fala, neste encontro, nesta noite, é que esse ego, esse "eu", esse "mim", essa falsa identidade, esse sentido de "alguém", não vai se render, não vai se entregar. Ele vai continuar fugindo. Ele vai sobreviver a todas as bombas, ataques terrestres ou aéreos, a toda e qualquer investida da Graça. Ele vai se disfarçar, ele vai se esconder, ele vai escapar. Ele não diz que é você, você não sente que é ele, mas é assim que ele consegue. É por isso que nós temos insistido nessa coisa, na importância de Satsang, quando esse "você" fica exposto e a dor aparece, o medo aparece.

Alguns de vocês já decidiram ir embora. Tem a dor em algum lugar aí acontecendo. Alguns já foram embora, e outros mantêm uma certa distância para não doer muito. Mas eu tenho que dizer para vocês uma coisa: isso não funciona. Realizar isso é atravessar essa dor, é descobrir que isso tudo é uma ilusão, que não há qualquer desafio mesmo – apenas essa suposta identidade sente isso como algo desafiador, está disposta a fazer qualquer coisa para escapar disso.

P: A maior dor é se achar um "eu".

M: Sim, é isso mesmo. A maior dor é o sentido de separatividade. A maior dor é o sentido de uma identidade separada. A maior dor é o medo. O que estamos apontando para você em Satsang é o fim do medo, o fim desse sentido de separação. Estamos apontando a você, em Satsang, para a bem aventurança, para a felicidade, para a liberdade, para o amor, para a paz. Estamos apontando em Satsang para a sua Real Natureza, para a Real Vida. Você não é confiável, a Graça sim. Essa Presença é confiável. Deus é confiável. É por isso que Ele toma forma. Se você não pode encontra-Lo na forma, você não pode encontra-Lo fora da forma. É na forma que você se vê, é na forma que você tem que econtra-Lo.

Quando você O encontra na forma, você está além da forma. Se você não poder encontrá-Lo no Mestre, não pode encontrá-Lo em si mesmo. Esse "si mesmo" é só uma teoria, é só um conceito mental, é só uma crença, é só a "não forma", é só o conceito de algo dentro. Isso porque, na verdade, você se vê no corpo, você se vê na forma. Existem alguns pontos aí que podem ser investigados. Podemos falar um bom tempo sobre isso. O problema é que a sua mente vai editar essa coisa, ela vai fazer recortes. Ela sabe habilmente escolher o que lhe convém. Assim, não adianta nós falarmos sobre isso fora desse encontro presencial. Então venha ao Satsang presencial olhar em meus olhos, e me permita olhar em seus olhos.

Permita-se ter raiva de mim, ver inveja em mim, ambição em mim, desejos e medos em mim; permita-se ver arrogância em mim, prepotência, personalidade forte, um ego muito grande. Tudo o que você está vendo é você mesmo, a coisa está toda aí. Na verdade, você está vendo qualquer coisa fora de si mesmo. Mas o que você está vendo fora de si mesmo é parte da crença que você tem acerca do mundo, e isso está assentado nessa base, na base dessa falsa identidade, se passando por você. Isso significa pura inconsciência, isso significa medo. Ego é medo. A pessoa é medo. Enquanto a pessoa estiver aí, o medo está aí. A pessoa aí é a ilusão de alguém vendo coisas do lado de fora.

O que estamos dizendo para você sempre em Satsang é que não tem jeito, você não tem salvação. Você não tem conserto, não há tratamento para você. Tem mesmo é que desaparecer. Isso é algo simples, mas não é algo fácil. Isso é o fim da inconsciência. Isso é o seu fim. É o fim da pessoa.

P: Eu realmente estou cansado do sofrimento psicológico, mental, da mente tagarela. Me parece que o simples conhecimento das coisas espirituais, filosofias, não está me ajudando a me tornar uma pessoa melhor.

M: E agora? O que você acha que pode fazer ainda?

P: Realmente não sei. O que sei é que não tem funcionado.

M: É muito bom isso. Você chegou num ponto excelente. Espero que tenha chegado mesmo nesse ponto. Provavelmente você já parou de ler todos os livros, já parou de praticar, já parou de frequentar sebos esotéricos, místicos, religiosos, filosóficos.

P: Sim. E junto com isso me dá um vazio por não ter chegado lá.

M: Aí está o ponto. Despertar, realizar Deus, Realização, Iluminação – qualquer que seja o nome para Isso – não é chegar lá. Esse chegar lá é só uma projeção ainda da mente. Essa é a primeira coisa a ser compreendida: não há como chegar lá, porque não tem lá, não tem alguém aí para chegar. Despertar, Iluminação ou Realização é o fim da ideia de alguém para chegar em algum lugar. De forma objetiva, prática, o que posso lhe dizer é que um trabalho se faz necessário. Mas não é um trabalho no sentido de uma procura, de uma prática, de uma dedicação à espiritualidade ou à filosofia. É um trabalho no sentido da investigação daquilo que se passa por você e que não é você, não é a sua Real Natureza.

Então, isso termina com essa ilusão – a ilusão do ego, a ilusão do "eu", a ilusão do sentido de alguém. Quando isso termina, o Despertar está presente, a Iluminação está presente. Isso é o fim da insatisfação, isso é o fim do sofrimento. Na Índia eles chamam isso de Sat-Chit-Ananda, Ser-Consciência-Felicidade. Satsang significa estar diante disso diretamente, estar diante dessa autoinvestigação, ou dessa investigação de si mesmo, que é meditação, que é essa entrega à sua Real Natureza. Eu lhe recomendo, e a todos presentes: venha ao Satsang. Você não pode realizar isso, mas pode estar vulnerável, se permitir essa realização em Satsang. Não é você que realiza, é Deus que realiza, é a Graça que realiza, é o Mestre que realiza, é essa Presença que realiza, é a sua Natureza Real tomando ciência dela própria. Isso é o fim desses padrões mentais. Isso é tudo o que a mente não quer fazer

P: Já li de uns 8 a 9 acordados a mesma ladainha: o "eu" não é real, é uma ilusão, mas e daí? De que me serve entender e compreender isso?

M: É exatamente isso. Isso não serve para nada. É só mais uma crença. Ler o que os acordados dizem ou disseram, ouvir o que eles dizem ou disseram, nada disso funciona. O que funciona é essa entrega a essa Presença. O que funciona é a ação dessa Graça, é estar diante desta Graça, a Graça em forma. O Mestre em forma, o Acordado em forma. Ele não é suas palavras, Ele não é suas falas, Ele é Você, Ele é a sua Natureza Real, é esse espelho real. É onde o trabalho acontece. Ele vai lhe provocar, Ele vai lhe contrariar, Ele vai lhe aborrecer, Ele vai lhe chatear. Ele será tudo o que você precisa ver em si mesmo. O seu anjo mau e o seu anjo bom, o seu próprio satanás e o seu próprio Deus. E é só você que vai ver isso, não tem ninguém mais para ver isso em seu lugar. Isso funciona, o mais são só teorias, conceitos, crenças, palavras, blá blá blá. É isso aí.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 12 de fevereiro de 2014, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O Real Sentido da Oração

P: Qual é a diferença entre acreditar que não existe, que não se é nada, e a baixa autoestima?

Mestre: Onde houver qualquer crença, em cima dessa crença, uma conclusão aparece, e essa conclusão é mental. "Eu não sou importante nem necessário, eu não existo" e a baixa autoestima, na verdade, são a mesma coisa, do ponto de vista da crença. A crença de que não se é importante, ou de que não se existe e a baixa autoestima são só uma crença, e não tem nada de real nisso. Se você acreditar que não existe, se você acreditar que não é importante, ou qualquer outro tipo de crença desse tipo, é a mesma coisa. Aqui não se trata de acreditar em alguma coisa. Qualquer forma de crença, positiva ou negativa, é só uma crença.

P: A autoinvestigação é o melhor meio de derrubar o ego? Como posso fazê-la?

M: Você não pode derrubar o ego. Não há nenhum ego para ser derrubado. A ideia de derrubar o ego ainda é do ego – desse ego que não é real, mas que se apresenta real tentando fazer alguma coisa, como essa coisa da autoinvestigação, como essa coisa de derrubar o ego. Esse trabalho de autoinvestigação não é seu, é um trabalho da Presença, é um trabalho da Graça, é um trabalho de Satsang.

Não há qualquer esforço que você possa fazer para realizar isso, embora o trabalho seja importante, seja necessário. Esse trabalho de autoinvestigação – que não é ego-investigação, que não é mente-investigação – é Graça-investigação, é Presença-investigação, é Satsang-investigação.

Não há como deixar de atrelar o Despertar a uma ação da Graça, a um trabalho da Graça, a um trabalho dessa Presença. Aqui, só lhe resta um "fazer", e esse "fazer" é deixar de fazer, é ficar quieto, é se entregar a Deus, que é a Graça, que é a Presença. Isso é Satsang. Há um poder que faz isso. O seu trabalho não é seu trabalho. Você não pode encontrar esse caminho – esse é o ponto. Você não pode dar o seu jeito. Isso é algo que vem até você, mas você não pode ir até Isso. É o Mestre que encontra você... Não é você que encontra o Mestre. É a Graça que alcança você... Não é você que alcança a Graça. Coloque o seu coração na Graça, na Presença. Fique ligado, no coração, com essa Presença, porque somente assim você fica quieto, e a Graça faz o trabalho.

O seu trabalho é ter essa disposição. Você faz o seu trabalho e a Presença faz o trabalho dela, e tudo isso é o próprio trabalho da Presença, é o próprio trabalho da Graça; só tem ela mesmo. Este é o real sentido da oração: essa disposição de não questionar, não discutir, não se proteger, não se defender. Isso é real rendição, real entrega. O grande momento em Satsang é o momento do silêncio, da entrega. Esse é o momento do coração, nessa disposição de deixar tudo, de soltar tudo, de colocar tudo diante dessa Presença; é o sentido de tocar os pés do Guru. O Guru não é outro senão você mesmo, sua Natureza Real... É o divino aí, em seu próprio coração.

Essa é a única coisa que você pode fazer. E isso é o fim dessa ilusão, a ilusão do ego, a ilusão desse "mim". Ramana dizia que a porta de Deus está sempre aberta, mas a verga da porta é muito baixa, e para atravessar essa porta, só de joelhos. E ele dizia: são muito poucos os que conseguem.

Vocês querem ouvir o meu segredo?

P: Não tem ninguém aqui para querer saber coisa alguma.

M: Isso é verdade? Perguntem a si mesmos se isso é verdade. Eu não sei porque a sala está tão cheia se isso é verdade... Quando quiserem saber o segredo para alcançar Deus, perguntem. Vocês fazem perguntas muito inocentes, que não atingem nada, como flecha sem ponta; flecha sem ponta não penetra, não atinge o alvo.

P: Qual é o segredo?

M: Só um teve a coragem de perguntar qual é o segredo. E qual é o segredo para realizar Deus? Eu vou dizer para você: dê tudo ao Guru. Tudo o que ele lhe pedir, você dá a ele. Dê a ele, quando você encontrar o Guru, puder reconhecer o Guru – isso é quando você só vê Deus... Foi o que eu vi em Ramana. Ele era o Cristo a quem eu orava, diante de quem eu jejuava, e ele apareceu a mim. Pediu todas as minhas crenças, minhas defesas, meus desejos, todas as minhas seguranças, todos os meus medos.

P: Entregou orando?

M: Sim. Oração é entrega. A oração abre a porta para essa entrega. Assim você não pode mais desconfiar de Deus e reivindicar nada para si mesmo. Então, essa falsa identidade cai, porque ela não pode resistir a essa amorosa Presença.

P: Expor os problemas para si mesmo e admitir os erros é um começo?

M: Não; nada disso. Nem mesmo o direito de ter problemas você tem, porém, admitir os erros você pode, quando você entrega tudo a Deus. Você não tem mais o direito de sentir-se um pecador, nem de buscar ser um santo. Acontece quando seu coração queimar diante da sua Presença, e Ele é o bem amado, porque somente Ele é confiável. Você não existe mais para admitir nada, para errar novamente. Se você não pode chorar por isso, essa deve ser a sua primeira oração, a sua primeira entrega. Seja honesto quanto a isso, e diga a Ele que você não pode chorar por isso, que você não pode confiar.

P: É bom isso, sinceridade absoluta.

M: Sim, criança, é isso. Você não pode mentir para si mesmo. Você não pode ser desonesto consigo próprio. Isso é real. Expor problemas e admitir erros não é Isso. Não se trata de querer alguma solução, que é querer melhorar; aqui não se trata disso. Não pode ter você e Deus. Deus não aceita concorrência, ninguém ao lado dele. Não é possível a Verdade e você. Então, que seja só a Verdade, que seja só Deus, e que você desapareça. Que esse "você" possa se dissolver nessas lágrimas sinceras. Isso significa explodir as pontes... elas ficam para trás, e não há mais como voltar.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 10 de fevereiro de 2014, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O Trabalho acontece apenas em estar na Presença

Mais uma vez juntos no único lugar, e esse lugar é agora mesmo, aqui, onde tudo pode ser encontrado. Sejam bem-vindos a mais esse encontro com esse vazio, esse espaço no qual a realidade do mundo aparece. Esse espaço é aquele no qual a realidade da mente, do corpo e do mundo estão aparecendo. Nós estamos mais uma vez nesse espaço, mais uma vez sempre nesse espaço, o espaço do qual nunca saímos, onde não existe separação, onde sempre nos encontramos. É nesse vazio onde tudo se levanta, onde tudo aparece, esse é o único lugar, aqui e agora, o lugar da Paz, da Liberdade, do Silêncio, onde a Verdade aparece e essa assim chamada "ilusão" também aparece.

Não há nada separado desse espaço, desse vazio. Ele engloba tudo. E de fato é maravilhoso estarmos aqui, de onde nunca saímos. Na Presença da qual nunca estivemos ausentes. Essa Presença que segura todo esse jogo divino, esse jogo dessa assim conhecida ilusão. Tudo é transparente nesse vazio, nesse espaço, nesse lugar. Nós estamos vendo o pensador, o "eu", o "mim", a "pessoa", e isso tudo é só uma crença do próprio pensamento. Nada disso destrói a realidade dessa Presença sempre presente. É somente o pensamento surgindo, aparecendo, separando corpo, mente, mundo, inconsciência, consciência, ilusão, verdade. Nada disso pode destruir essa Realidade da Paz, da Liberdade, da Felicidade, do Amor presente.

Tudo que vocês de fato precisam aqui é constatarem Aquilo que está presente, e que nunca deixa de estar presente em meio a todas essas aparições. As aparições são só aparições. Isso que está sempre presente é esse vazio, é essa realidade divina, é a sua Natureza Verdadeira, que é Deus.

P: Se a coisa é aquietar-se, silenciar, ser presente, então não vale mais rezar, orar, mentalizar, praguejar para mudar uma situação de vida desagradável ou intolerável?

M: Aqui se trata de acolher, de abraçar, de não se separar daquilo que se apresenta. Agradável e desagradável é só uma aparição já indo embora. Tudo está indo embora, tudo está passando. Já esse Vazio, essa Presença, esse Espaço, esse Lugar, essa Consciência permanece como Pura Bem-aventurança, Pura Alegria, em Pura Liberdade. A situação é que vocês dão muita credibilidade ao intelecto, e aí ele confirma estados emocionais, sentimentais, estados que aparecem aí nesse mecanismo. Então o intelecto confirma como sendo algo de alguém. Não tem alguém aí não. Isso é uma crença muito forte.

É só o Vazio mesmo, é só esse Lugar, esse Espaço. O corpo aparecendo aí, e toda e qualquer sensação, qualquer sentimento, qualquer estado agradável ou desagradável, qualquer reza, qualquer mentalização, qualquer praguejar, qualquer não silenciar ou silenciar, qualquer aquietar-se ou não se aquietar. Tudo está passando mesmo. Quando lhe convido a Satsang, eu lhe convido e lhe dou esse "bem-vindo". Eu digo para você: bem-vindo a esse espaço de seu próprio Ser, o único lugar do qual você jamais saiu, onde aparece a ideia de um mundo do lado de fora, de uma mente do lado de dentro. E você não está separado dessa ideia nem daquela. Você não é o pensador desse pensamento. Não existe essa verdade aí, a verdade da crença de um pensador. Isso é só mais um pensamento também. A crença de um pensador é só mais um pensamento.

E o mundo inteiro aparece, o universo inteiro se desdobra, surge. Você, como esse Espaço, esse Vazio, essa Presença, essa Consciência, está além de toda essa aparição.

P: Marcos, você tem afirmado que o único modo de acordar, despertar, é ficar perto de um Mestre em Satsang, ou seja, nenhuma prática, nenhum exercício, só isso, que tudo é muito simples. Mas então para que tantos textos advaitas, tantas explicações dadas por tantos Mestres como Ramana, Papaji, Mooji, Bidi, e muitos outros, inclusive você?

M: É simples. Todas essas explicações dadas por esses Mestres são para o intelecto curioso enquanto ele está fazendo muito ruído. Quando o intelecto desaparece, as perguntas desaparecem. Essas explicações nascem das perguntas desses intelectos. A ênfase de Ramana era o silêncio. A de Papaji era ficar quieto. A do Mooji é dar respostas a perguntas – mas são perguntas do intelecto.

P: Então tirando esse valor referido por você não há mais nenhum? Eles não tem mais nenhuma utilidade?

M: Eles quem? Os ensinamentos? Não. Os ensinamentos são não-ensinamentos. Esses ensinamentos têm o propósito de lhe mostrar a não necessidade de aprender. O propósito deles é descartar qualquer ideia da necessidade de novos ensinamentos.

P: Mas então ensinar a não ensinar é um ensinamento ou não?

M: Tudo o que posso lhe dizer é que Despertar é Ser, e Ser não sabe, não se interessa em saber nem tem o que aprender. Ou seja, tudo aqui se trata em desaprender tudo o que a mente acredita que aprendeu. Não serve para Aquilo que você já É. O Trabalho acontece apenas em estar na Presença. É um trabalho nesse mecanismo, nesse corpo-mente, é um trabalho de desprogramação nessa máquina, nesse organismo, de todo o condicionamento mental presente. Nenhum ensino pode fazer isso, só o desaprender pode abrir espaço nesse mecanismo para a coisa assentar aí, para esse Estado que já é você fora de qualquer construção intelectual.

P: A minha pergunta não é nesse sentido.

M: Tudo o que estou dizendo é que Ser não depende de ensino. Ser você já é. Todo ensino só acrescenta algo mais a essa formação meramente intelectual da personalidade. E personalidade aqui é sentido de separatividade.

P: Não há nada a fazer para desaprender?

M: Claro que há: estar em Satsang. Alguns passaram 30 anos próximos a Ramana, outros 40, e outros a vida inteira. Há casos de alguns que despertaram em 6 anos com Ramana. Teve um cara da América chamado Robert Adams. Ele esteve um dia com Ramana e foi suficiente. Apenas uma vez, e foi suficiente. Tem a história de um camarada que esteve com Nisargadatta, assistiu dois Satsangs, um pela manhã e um à noite, e também despertou. Já foi o suficiente. Mas foi ali. Despertar é uma ação dessa Presença nesse mecanismo. Não tem nada a ver com ensino, com prática, com métodos, com exercícios. Tem a ver com uma ação dessa Presença, dessa Graça, que acontece.

P: Como então ficar quieto, aquietar a mente?

M: Você não pode. Isso não é trabalho seu. Todo o trabalho do Despertar é dessa Presença, dessa Graça, dessa Consciência, que é o que temos em Satsang. Não há como aquietar a mente. Quem aquietaria? Que mente pode ser aquietada?

P: Então como ele nos dá essa Graça?

M: Ele não nos dá essa Graça. A Graça já está presente. Você não pode receber essa Graça, você não existe para receber essa Graça. A disposição de estar em Satsang já é uma disposição da Graça trabalhando aí. Não tem alguém para receber essa Graça, não tem alguém para lhe dar essa Graça. Apenas esteja em Satsang e receba, estando ausente. Em Satsang o sentido de separatividade vai embora, e isso é Graça, isso é Presença. Não acabei de falar que não há ensino? Não tem o que aprender, não tem o que ser ensinado. A recomendação que eu dou para todos é a recomendação de todos os acordados.

P: Tenho que estar ausente em Satsang para estar presente?

M: Sim, totalmente ausente. Se o seu ego estiver presente em Satsang, não vai acontecer nada. Você só está presente em Satsang quando seu ego está ausente. Não adianta estar presente. Tem que estar ausente.

P: Como deixar o ego ausente então?

M: É o que estou tentando lhe mostrar desde o início. Você não pode fazer isso. Isso é um trabalho da Graça, do Mestre. Você só tem que trazer o corpo e relaxar. Se você não ficar quieto, você continua presente. Quando você está presente, você está ausente do Satsang.

P: O corpo vale alguma coisa?

M: Desperte sem corpo e depois me responda. Como você pode despertar sem corpo? O corpo é tudo o que você precisa neste momento para despertar. Mas é o corpo presente em Satsang, e não a mente egoica, e não o sentido de separatividade.

P: Então o espírito precisa do corpo?

M: Que espírito?

P: A Presença?

M: Todas as suas colocações são meramente intelectuais. Solte isso. Você só vai poder soltar isso quando estiver em Satsang, aí poderá estar ausente, estando presente.

P: Para isso estou aqui, para você me ensinar a soltar.

M: Estou lhe ensinando.

P: É um ensinamento.

M: Não, é um não-ensinamento. Porque o que eu digo é: a única coisa a fazer é ficar quieto. Toda essa intelectualidade desaparece em Satsang, quando o sentido do perguntador desaparece. É por isso que o ensino desaparece. A resposta dos Mestres, dos acordados, são dadas para o intelecto. Mas não servem para nada.

P: Podemos jogar todos os livros fora? Rasgar, queimar?

M: Para você ser o que você é, pode jogar tudo fora. Nenhum deles pode lhe ajudar a ser o que você já é. Eles não podem lhe dar o que você já tem. Não podem fazer de você o que você já é.

P: Um ego reage a situações baseada nos condicionamentos e memórias, e um acordado não reage, apenas responde a partir da Presença da não separatividade. Qual a diferença entre responder e reagir?

M: Nenhuma ação direta é uma resposta no sentido de algo vindo de uma reatividade. Então, aquilo que podemos chamar de resposta da Presença é ação. Na ação não há reatividade. Por outro lado, tudo o que a mente conhece é reatividade, é resposta reativa. A ação nasce neste instante sem qualquer compromisso com qualquer resultado. Não há medo nela. Essa é a diferença. Enquanto essa assim resposta reativa, que é a resposta da mente, nasce da busca de um resultado, o que na verdade é medo. Não há qualquer planejamento. As coisas vão acontecendo.

Na verdade, toda ação é essa ação, a ação natural, a ação dessa Presença, a ação dessa Consciência. Não há alguém nisso sendo recompensado ou punido. As coisas simplesmente acontecem por uma ação dessa Presença. Tudo o que vocês precisam é dessa naturalidade de Ser. Por isso eu recomendo Satsang. Isso acontece por ressonância. O Trabalho é por ressonância. Na Índia eles chamam de uma ação da Graça do Guru, da Graça do Mestre, da Graça da Presença, da Graça Divina, que é a mesma coisa.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 10 de Janeiro de 2014, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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