sexta-feira, 24 de março de 2017

Meditação: A pura observação

Qual é a natureza da Realidade? Afinal, o que é Isso que permanece estável? Afinal, o que é Isso que permanece livre? Como podemos nos aproximar Disso?
A sugestão, na mente, é que duas coisas estão presentes: a primeira é a consciência e a segunda são as aparições, são os objetos. Então, na mente há essa divisão, há essa separação entre consciência e as aparições. Você se vê como uma pessoa que está consciente do mundo das formas.
Então, a ideia é a de um “eu” presente vendo o mundo do lado de fora. Há uma consciência – essa é a crença – e, do lado de fora, um mundo do qual essa consciência está consciente.
Dessa forma, nós temos a consciência e as aparições, o “eu” e os objetos. O “eu” como sujeito e os objetos como aparições. O sentido desse alguém presente é a ilusão de alguém que está consciente do mundo; alguém dentro do corpo consciente do mundo fora do corpo.
Deparamo-nos com essa ilusão da dualidade, a ilusão deste “eu” e deste “não-eu” – eu e o mundo, eu e Deus. Essa é a sugestão da mente para tudo isso. Essa consciência é descrita como uma testemunha das aparições. Ela é compreendida como aquele que vê os objetos. Assim, temos aquele que vê e temos os objetos; a testemunha e a coisa testemunhada. Aí está a dualidade!
Nessa base está o conflito, está toda essa problemática do “eu”, porque você se separa como uma entidade – aquele que pensa e os pensamentos; aquele que sente e os sentimentos; aquele que observa e aquilo que é observado. Quando você faz isso, fortalece o sentido de separação. Quando você acredita nisso, você está preso a mais uma crença criada pelo pensamento.
O pensamento é a base dessa divisão, dessa crença, dessa dualidade, desse sentido de separação, dessa ideia. Quero convidar você a observar sem o observador, o que significa uma observação onde não existe observador e coisa observada. Fica a experiência direta, mas não fica “alguém”. Na experiência da pura observação não há separação.
Quero convidá-lo a não se confundir com o pensamento e a não se separar dele. Quando você se separa do pensamento, é o próprio pensamento se separando dele mesmo. Quando você se confunde com o pensamento é o próprio pensamento se confundindo com ele mesmo. Chamaria isso de se desidentificar do observador, se desidentificar do pensador. O pensamento não acontece para você, nem em você; ele só acontece. A observação não acontece em você ou para você. Isso é a Real Meditação! A ação executada sem alguém fazendo; o “ver” sem alguém olhando; o pensamento sem alguém pensando. Então, o pensamento termina; a observação, com o sentido de alguém observando, termina; a ação, nesse sentido de alguém fazendo, também termina. Isso é Meditação!
Para vocês, tem sempre que haver alguém: alguém meditando, alguém pensando, alguém fazendo… Agora mesmo, nesse instante, só há o Silêncio, essa ausência do pensador, do fazedor, do observador, daquele que escuta… Não há alguém escutando e não há alguém falando. A fala acontece, o ouvir acontece, o pensamento acontece, a ação acontece, e isso é Meditação.
Você pode acompanhar isso, mas não pensar sobre isso. Se pensar sobre isso, você volta ao jogo de novo – o jogo de alguém analisando, de alguém procurando compreender, de alguém concordando ou discordando. Simples assim! É só ouvir e, nesse ouvir, há a clareza da Meditação. Essa clareza da Meditação é a compreensão sem alguém compreendendo, sem alguém acumulando, sem alguém concordando com isso ou discordando disso. Se você está ouvindo dessa forma, você está em Meditação. Se está tentando “pegar” isso para levar para o momento seguinte, esse é o próprio movimento da mente egoica. A mente quer capturar isso, mas não dá.
Acompanhar isso é possível, mas alguém acompanhando isso, não! A compreensão disso é possível, mas alguém compreendendo isso, não! É um hábito. A mente egoica tem esse hábito de adquirir, de acumular. Não há espaço nessa Consciência Real para isso. Isso é um espaço forjado pela mente egoica. A mente egoica forja um espaço, o espaço do conhecimento, o espaço da experiência, o espaço da memória, o espaço da informação, o espaço do experimentador.
Essa Consciência é essa amplitude, além de todo espaço, além de toda limitação. Espaço é limitação. Esse não-espaço, essa não-limitação é a Meditação. Essa é a Consciência! Isso é pura observação, sem observador e coisa observada. Isso é pura experiência, sem experimentador e coisa experimentada. Isso é essa realidade que não se separa de uma aparição. Então, essas aparições não estão separadas dessa Realidade. Como não estão separadas, não causam nenhum problema. O pensamento não causa problema, o sentimento não causa problema, a emoção não causa problema, o corpo não causa problema. Quando não há separação, não há sofrimento, então não há problema.
A mente criou essa ilusão de que o corpo é o problema, o pensamento é o problema, o mundo é o problema, a vida é o problema. Mas, na verdade, o problema é só essa ilusão que a própria mente criou, esse sentido de separação entre ela e o pensamento, entre ela e o corpo, entre ela e a vida. Ela quer que a vida seja diferente, que o pensamento seja diferente, que o corpo seja diferente, que tudo seja diferente! Ela se separa para exigir e, quando faz isso, produz sofrimento.
Vocês não precisam se livrar do corpo, da mente, do mundo, da vida, só precisam se livrar da ilusão de que tem “alguém” aí, que está vendo tudo errado, tudo fora do lugar; “alguém” com suas exigências, observando como o observador e julgando: “gosto e não gosto”; “alguém” nessa ilusão de ser um pensador, tentando controlar os pensamentos: “esse eu aprecio, esse não aprecio”; “desse eu gosto e desse eu não gosto”; “eu estou certo disso, não tenho muita certeza daquilo…” Essa é a ilusão! Tem a ilusão do fazedor também – esse “alguém” que está fazendo as coisas, esse “alguém” que faz, que se sente responsável pelas coisas acontecendo à sua volta, como se ele pudesse controlar o que acontece à sua volta. É sempre essa ideia de um “alguém”, que pensa, que faz, que sente.
Você aprende a se desidentificar dessa ilusão, desse “alguém”. É só isso! Assim, você percebe o pensamento, o sentimento, a ação, o mundo e o corpo indo para o seu devido lugar, e esse “você” desaparece. Você ainda está tentando pensar sobre isso? Isso é tão simples que você não precisa pensar sobre isso. Se pensar sobre isso, vai complicar, porque é uma fala fora da mente para a não-mente.
Esse momento de encontro, chamado Satsang, é um momento de Meditação. Na Meditação não tem “alguém”, não tem pensador. Ser é algo muito natural. A crença do pensador é algo aprendido. Nós aprendemos, adquirimos, essa crença de que somos pensadores e que os pensamentos somos nós quem fabricamos. Esse pensador não é Real! Não há nenhum pensador! Pensamento, sim; pensador, não!
Todos os problemas que você tem estão assentados nesse equívoco, nessa compreensão de que você está aí para mudar alguma coisa, para fazer alguma coisa, para consertar alguma coisa. Isso não é verdade! Você está aqui apenas para constatar que não tem ninguém aí, só a Vida! E na Vida não existe pensador, não existe observador, não existe juiz, não existe alguém para consertar ou ajustar. A Vida permanece como um mistério, um acontecimento inexplicável. Isso é Amor, isso é Liberdade, isso é Felicidade!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 16 de Janeiro de 2017, num encontro aberto online.
Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

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