Existe algo aqui que eu gostaria de ver com você: é a ilusão que temos entre o início e o fim das coisas. Nós temos uma ilusão presente em nossas vidas, nessa particular vida, que é a vida que o pensamento em nós tem estabelecido como sendo real: é a distância entre a vida e a morte. Eu quero tratar com você aqui dessa questão, que é algo que gera muito problema, muito desconforto. É parte do sofrimento, no ser humano, a questão da morte.
Nós nos perguntamos como lidar com a morte, nós perguntamos para o outro como lidar com a morte, mas nós nunca nos importamos, realmente, com a verdade da morte. Nós ficamos sempre nas teorias, nas abstrações, nos conceitos, em uma mera aproximação intelectual desse assunto ou através dessas assim chamadas experiências psíquicas e espirituais, para tentar desvendar a verdade da morte. Mas a verdade da morte consiste na compreensão do mistério da vida.
Não existe tal coisa como uma distância real entre a vida e a morte, isso é uma crença nossa; isso está dentro daquilo que nós temos observado a partir dos sentidos e temos interpretado a partir do pensamento. Para nós, a vida é o início de tudo e a morte é o fim, então nós temos o fim e temos o início. Desde criança, nós temos visto pessoas morrerem. O nosso contato com os nossos animais de estimação - aquele gatinho, aquele cachorrinho -, com nossos parentes. Então, desde pequenos nós estamos em contato com a morte, e nós encaramos a morte como o fim.
Qual será a verdade da morte? O que há por detrás desse mistério chamado morte? Eu volto a dizer: só haverá uma compreensão clara disso quando compreendermos o que é a vida; e diferente do que nós pensamos, aquilo que nós chamamos de vida está a todo momento desaparecendo. Nós nunca somos os mesmos. A cada minuto, psicologicamente e biologicamente, há uma outra estrutura de corpo, assim como temos uma outra estrutura de mente. Tudo na vida está, a cada momento, passando por mudanças, se renovando a cada instante; e só se renova a cada instante porque morre a cada momento.
Você olha para um rio, e após dois segundos, ali é um novo rio; após um segundo, você está diante de um novo olhar. Veja, o rio é o mesmo, mas não é o mesmo. Você olha para o céu, um segundo depois, com o olhar fixo no céu, você não tem mais o mesmo céu. Uma câmera em gravação em slow motion irá lhe mostrar isso, que a vida é algo que carrega esse dinamismo. Então, a vida e a morte não se separam, o fim de algo é o início de alguma coisa; o fim daquela coisa é o início de uma nova coisa.
Assim, a cada momento a vida está acontecendo, de uma forma tão dinâmica e real que não existe qualquer separação entre o que foi e o que será. Essa ideia da separação consiste na nossa tentativa de, pelo pensamento, criar uma estrutura fixa. Então, quando as pessoas vêm e dizem que estão com medo da morte e querem descobrir como lidar com a morte, é porque há um elemento presente em nós que procura dar estruturas fixas à vida, e não há qualquer estrutura fixa na vida.
Uma pessoa com quem você lida há trinta anos, você acha que é a mesma pessoa. Acabamos de colocar isso aqui para você: a cada minuto ela é uma pessoa nova, a cada minuto você é alguém novo. Todo problema no ser humano consiste na ilusão de um pensamento, de um modelo de pensamento que está procurando trazer estruturas fixas para a vida como ela acontece.
Aqui, com você, nós estamos tratando do Despertar da Divino, do Despertar da Verdade, do Despertar Espiritual, o que envolve ter um contato com a vida. Esse contato com a vida representa a ciência da compreensão sobre a morte. Nós não aceitamos a vida como ela acontece, porque nós não nos permitimos estar livre do passado, uma vez que esse passado é a estrutura fixa do pensamento.
Repare que é o pensamento em você que, ao fotografar algo, se apega àquilo. É o pensamento em você que tenta fazer uma leitura da vida como ela acontece, a partir do passado. Então, não sabemos lidar com a morte porque não sabemos lidar com o que foi, e não sabemos lidar com o que foi porque estamos vivendo pelo pensamento. A beleza do Florescer de sua Natureza Divina é que nos encontramos com a Vida na morte, não há mais essa continuidade do passado.
Todo sofrimento em você, todo sofrimento psíquico presente - ansiedade, depressão, angústia, medo, raiva, tédio, a dor da solidão - tudo aquilo que permanece a nível de estrutura fixa em você, pelo pensamento, se transforma, invariavelmente, em algum nível de sofrimento. É aqui que temos a estrutura do "eu".
Essa estrutura do ego, essa estrutura psicológica da pessoa, é fixada no pensamento, abalizada no pensamento, estruturada pelo pensamento, e isso é algo que está dando continuidade a esse modelo do tempo; e é nesse modelo do tempo que o pensamento tem estruturado essa ilusão de distância, de separação entre aquilo que está aqui e aquilo que será, no futuro. Então a vida tem início agora e a morte é o término desta vida, no futuro; entre esse "agora" e o "futuro", nós temos o início da vida e o fim da vida, nós temos a vida e temos a morte.
Será possível a vida livre dessa ideia de tempo, de continuidade? Para nós, a vida é a continuidade. Não existe tal coisa como a continuidade da vida. A vida é algo que está presente numa constante mudança, numa constante transformação, numa constante modificação de como ela acontece, momento a momento. Não existe tal coisa como a morte. É a ideia, é o pensamento, é essa estrutura do "eu", desse "mim", desse ego, algo que é apenas um condicionamento, um modelo de pensar, de sentir sobre a vida, que tem nos dado essa ilusão, a ilusão da morte.
Todo sofrimento em nós é psíquico. Quando você tem uma dor física, essa dor é localizada, ela está no corpo, em uma parte do corpo, mas o corpo não é a realidade sobre você. Você não é o corpo, a sua mão não é você, a sua perna não é você, o seu cérebro não é você. Qual é a realidade sobre você? Você desconhece! Você se confunde com o corpo, se localiza em uma parte do corpo, e essa dor você transforma em um sofrimento psicológico, em razão da presença do pensamento.
É o pensamento em nós que cria a ilusão da separação, da distância entre você e a vida, entre você e o corpo. O corpo é aquilo que acontece, a vida é aquilo que acontece, e isso é você. Quando você se vê separado do corpo, dizendo "eu e a minha mão", nessa separação existe uma ilusão. Repare, quando eu disse "você não é o corpo", o resto dessa fala pareceu para você contraditória, mas repare o que eu quero dizer com isso: eu estou dizendo que você não é só o corpo, você é a vida, e a vida contém tudo. A vida é tudo que aparece, não existe qualquer separação entre a vida, o corpo e você.
Nós acreditamos em particularidades, então, nós particularizamos essa mão e dizemos "minha mão". Nós particularizamos a pessoa em nosso relacionamento e dizemos "minha esposa", "meus filhos", "minha casa". Então, esse sentido do "eu" acredita ter um corpo, acredita ter uma família, acredita ter uma casa, acredita ter uma história. E eu continuo dizendo: você não é o corpo, não é a casa, não é a família. A Realidade do seu Ser é a Realidade da Vida. Não há qualquer separação entre você e a vida como ela acontece, mas ela acontece nessa mudança, ela está mudando a cada instante, passando por transformações.
Nós precisamos da ciência da Verdade sobre o Autoconhecimento. Então, Autoconhecimento nos dá a visão real da vida, que comporta a presença do aparecer e do desaparecer, que comporta o prazer e a dor, que comporta a alegria e a tristeza, mas não temos a presença de alguém que se vê separado, como uma entidade à parte, querendo sustentar, pelo pensamento, todas essas mudanças. A visão da Realidade Divina é a visão da Realidade do seu Ser, isso é a Realidade da Vida. Isso se revela quando acolhemos o fim do "eu", o fim dessa ilusão, desse sentido de separação, desse "eu e o corpo", desse "eu e o outro", desse "eu e a vida", desse "eu e Deus".
Aqui, a Verdade dessa Revelação da Vida, da Real Vida, dessa Vida onde tudo é o que é e está, a cada momento, se revelando novo, a visão desse Novo, dessa Vida, dessa Realidade, que é a Realidade Divina, é Aquilo que se mostra presente quando temos em nós o fim para essa condição psicológica de pensamento, onde temos a ilusão dessa separação. Esse é o sentido do "eu", esse é o sentido do ego.
Todo problema do ser humano consiste na ilusão de uma identidade presente, que é essa identidade do "eu". O fim para isso é o fim do sofrimento psíquico, é o fim do sofrimento psicológico, é o fim dessa ilusão de continuidade, que é a continuidade do ego, que é a continuidade do "eu". É a presença desse ego, é a presença dessa ilusão, que sustenta o medo; o medo de se desligar das coisas, o medo de perder as coisas, o medo da morte, o medo da vida.
Esse contato com a Realidade, aquilo que estamos propondo aqui para você, consiste em uma base, e essa base é a real visão da Realidade presente aqui e agora. Esta real visão traz essa clareza, essa lucidez, essa percepção da Realidade. Não é alguém tomando ciência disso, é a ciência disso presente, e essa ilusão desse "mim", desse "eu", desse "alguém", se dissolvendo, desaparecendo.
Portanto, o real encontro com a Vida Divina consiste na compreensão do fim dessa ilusão, que é a ilusão do "eu", que sustenta a crença nessa, assim chamada, morte. Isso termina quando essa clareza, essa lucidez está presente. É isso que alguns chamam de o Despertar Espiritual ou Iluminação Espiritual; é a ciência da vida, sem esse sentido de separação, portanto, sem essa ilusão da dualidade, dentro desse aspecto psicológico, nessa separação entre vida e morte. O fim dessa ilusão da separação, o fim dessa ilusão da dualidade é a ciência do Amor, da Felicidade, da Liberdade. É isso que estamos trabalhando aqui com você.
Uma nova visão de si mesmo é a real visão da vida como ela acontece, sem o pensamento, sem esse modelo dessa egoidentidade. Nós temos encontros online aqui nos finais de semana, onde estamos, sábado e domingo, aprofundando isso com você. São dois dias juntos. Se isso que você acaba de ouvir é algo que faz algum sentido para você, já fica aqui um convite. Fora esses encontros, nós temos encontros presenciais e, também, retiros. Então, esse é o nosso recado aqui para você.