terça-feira, 31 de agosto de 2021

Há um pote de ouro no final do arco-íris?

Na mente só há imaginação. Nela, seu senso de realidade não existe, absolutamente. Consciência é Pura Inteligência e Ela não está na mente. Na mente não há Inteligência, só autolimitação imposta pelos pensamentos.

Tudo que você pensa é a partir de um centro falso, em defesa de uma identidade ilusória, que é o que você acredita ser – isso é loucura, não é Inteligência. Então, tudo que você faz ou acredita fazer, tudo que você pensa ou acredita pensar, fala ou acredita falar, a partir dessa falsa identidade, é algo completamente equivocado, está dentro desse "sonho", que em alguns momentos parece bom e, em muitos momentos, ruim; é um "sonho" que é agradável algumas vezes e, muitas das vezes, um verdadeiro pesadelo. Esse centro falso está vivendo nessa dualidade.

Isso não tem nada a ver com O que Você é, tem tudo a ver com a cultura, com o cultivo do pensamento dentro dessa cultura em que você é criado, em que todos nascem, crescem, envelhecem e morrem da mesmíssima forma. Seus pais viveram assim e seus avós também.

Quem tem pais vivos aqui sabe que eles ainda vivem sendo possessivos, ciumentos, avarentos, ainda estão com medo de morrer de Coronavírus… São pessoas, e pessoas são assim, vivem identificadas com o corpo, e você está seguindo o mesmo caminho. Seus filhos ou netos estão no mesmo caminho dos seus avós. Seus netos são a cópia dos seus tataravós, só que hoje eles estão com um celular na mão e fazendo uso de internet banda larga. Eles são invejosos, possessivos, ciumentos, medrosos, estressados… Eles estão procurando a felicidade amanhã, em realizações que, para eles, só acontecerão depois que concluírem a faculdade. Só que tem alguns aqui que já vivem esse "amanhã", concluíram a faculdade, uma pós-graduação, um doutorado, mas ainda não encontraram a felicidade.

O ponto é que a Felicidade não está em nossa cultura, em nossa sociedade, em nosso mundo, mas no Mundo Divino, na Consciência, na Realização de sua Natureza Real, que é a Natureza de Deus. Alguns chamam isso de Despertar. Despertar é viver a vida como ela é, sem futuro e sem passado, como ela é agora aqui, neste momento.

Sabe o que eu descobri? As pessoas estão interessadas no futuro porque aquilo que está presente agora, na cabeça delas, não as satisfaz, não pode lhes dar felicidade. Elas não estão satisfeitas com a vida que têm, então estão sempre projetando uma vida que não têm. Elas não apreciam o que está presente, então idealizam o que não está presente, só que é o pensamento idealizando! Assim, o ego está sempre empurrando para amanhã a felicidade, através desses projetos que o pensamento formula.

Aquele que permanece cônscio de Si, que trabalha essa Autorrealização, não está se ocupando com o futuro. Para quê? Ser feliz? Não. No ego, nesse movimento de pensamento, o que importa é o que você vai alcançar, que, por sua vez, não chega nunca. Por isso, todos que querem ser felizes jamais serão. Isso é uma promessa que jamais se cumpre, como o pote de ouro no final do arco-íris. Sabe? Não se diz que tem um pote de ouro no final do arco-íris? Aí, você vai acompanhando o arco-íris para ver se encontra esse pote de ouro.

A mente produz promessas assim porque ela não está satisfeita com o que está aqui e agora. Ela está procurando algo "lá": um marido mais bonito, uma mulher mais bonita, uma família mais bonita, um emprego… É sempre alguma coisa "lá", só que não tem nada "lá" – é o tal do pote de ouro no final do arco-íris.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 23 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

A loucura de confiar em um pensador

Participante: Como valorizar este encontro da forma correta?

Marcos Gualberto: Eu diria que a forma correta está em, honestamente, apreciar não sofrer mais, não mais viver na ilusão.

Se você ainda aprecia crenças de algum tipo, opiniões, conclusões e ideias, qualquer imagem que tenha de si mesmo, você não está conseguindo considerar o valor deste encontro, porque o propósito dele é ajudá-lo a Ser, a abandonar esse falso centro, esse "sentido de pessoa" que você carrega, e todo ele está assentado em crenças, opiniões, conclusões, ideias – essa é a base de sua autoimagem.

Participante: Pensamentos são loucos.

Marcos Gualberto: Pensamentos, em si mesmos, são inofensivos. Loucura é a confiança numa identidade na experiência do pensamento, como se houvesse um pensador por detrás dos pensamentos. Aqui é que está a loucura!

No dia que vocês deixarem essa paixão pela autoimagem, por esse senso pessoal de identidade, esse senso que julga, compara, avalia, aceita, rejeita, os pensamentos não serão mais um problema.

Esse "sentido de identidade" de um centro ilusório, que você chama de "eu", é como o néctar da flor para as abelhas do pensamento. Você sabe que as abelhas se sentem atraídas pelo néctar da flor. O seu "senso de identidade separada" é como o néctar da flor para as abelhas dos pensamentos. Os pensamentos se sentem muito atraídos por alguém que acredita neles.

Pensamentos não perturbam aquele que está Realizado, aquele que está em seu Ser, porque ele não tem apreciação pela falsa identidade; ele aprecia o Silêncio.

Noventa e nove por cento das pessoas não conseguem apreciar ficar cinco minutos psicologicamente desocupadas. Eu vejo alguns de vocês sempre com fones de ouvido, por exemplo, psicologicamente ocupados. Essa sede por estar ocupado psicologicamente está sempre jogando pensamentos em cima de pensamentos, retroalimentando pensamentos o tempo todo, a todo minuto. Vocês não se pegam fazendo isso, mas fazem – aí está a loucura! A loucura não está nos pensamentos, mas no "sentido de alguém" que aprecia essa ocupação psicológica.

Vocês conseguem ver o que eu estou dizendo? Alguém consegue perceber isso em si mesmo? Vocês conseguem ver que estão o tempo inteiro cantarolando, se ocupando psicologicamente com uma musiquinha, com uma ideia, com um pensamento?

Não conseguiram ver ainda a Beleza do Silêncio, da ausência desse "sentido do eu". Isso é um vício existente em toda humanidade, em especial nos ocidentais. Em razão da cultura que nós aqui recebemos, nós somos muito, mas muito extrovertidos. Mesmo essa "introversão" que alguns dizem ter é toda baseada em devaneio, em imaginação, então é uma outra forma de extroversão: a "extroversão interna". Todos estão viciados na droga chamada "pensamento", por isso sofrem, por isso têm conflito.

Então, é o pensamento, em si, o problema? Não. O problema está no "sentido do pensador", na ideia de um pensador, na crença de um pensador. Não tem pensador! Isso é só uma maluquice, um processo de loucura produzindo desejo, medo, antecipação negativa, preocupação, algo que está jogando você o tempo todo para o futuro e para o passado, os quais não são reais, porque agora não tem nada disso acontecendo. Se não há Silêncio, não existe energia; se não há Espaço, não há Inteligência.

Então, não são os pensamentos que são loucos; o sentido de uma identidade presente nisso é a loucura.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 23 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

A Real Meditação é momento a momento

Participante: Mestre, eu sempre adormeço ao tentar fazer meditação, fica desconfortável pensar nos assuntos. Eu nem percebo e já adormeci.

Mestre Gualberto: Porque Meditação não é isso! Meditação é apenas trazer consciência para o que está acontecendo aqui e agora. É não reagir, é não se embolar com os pensamentos, com as sensações, com as emoções, com as percepções.

É que você se senta ou procura uma posição confortável para o corpo, mas a mente continua da mesma forma! Aqui, não se trata de uma postura para o corpo, mas de uma atenção plena, completa, a todo movimento do pensamento, ou a um sentimento que surja, ou a uma emoção.

Eu recomendo que você descubra o que é Meditação lavando a louça, cuidando de alguma atividade, já que Meditação é não se separar da experiência presente, não se confundir com o que o pensamento diz sobre o que está acontecendo. Meditação é algo que você descobre se dispondo a trabalhar essa atenção no seu dia a dia, no seu viver, momento a momento, independentemente de uma hora específica para isso.

A mente egoica é muita trapaceira, ela vai sempre saber transformar a "meditação" – aquela meditação com hora, lugar, assento e postura específicos – numa oportunidade para devanear, para sonhar e, finalmente, dormir. Então, é melhor que seja no dia a dia, momento a momento, agora, aqui! Permaneça aqui! O pensamento surge, você observa. Ele se desdobra, mas não carrega você. Então, esse pensamento desaparece e logo a seguir surge um outro, que é só mais uma impressão psicológica querendo de novo girar em torno de um centro falso, que é a personalidade. Aí, você olha, dá plena atenção a isso, sem esforço, então esse pensamento não cola, não fortalece esse falso centro.

Mas, se você estiver sendo seletivo e dizendo "este pensamento é do Divino", "este aqui é profano", "aquele era mundano, mas este é de Deus", será o ego fazendo isso. Parta sempre de um princípio: todo pensamento aí é lixo! Não existe nada que sirva para o propósito de Ser. Ser é Ser, e Isso não utiliza nada, não seleciona nada, não separa nada, não precisa de nenhuma ajuda. O que quer que você faça, qualquer recurso a que você recorra, será esse falso centro que estará lá investindo nesse empreendimento.

Aqui é só olhar o que se passa. Vou usar uma palavra: "despersonalize". "Despersonalize a pessoa", ou seja, pare de dar personalidade ao pensamento, ao sentimento, à emoção, à sensação. A Meditação não é um esforço, então a postura tem uma certa importância, mas somente na medida que permite que o corpo fique relaxado, e não preguiçoso. Se o corpo ficar preguiçoso, pode ter certeza, a mente egoica vai tomar posse dele. Então, tanto quanto possível, fique relaxado, mas não fique gravitando em torno da identidade do corpo.

O bebê não faz nada. Ele fica jogado no colo da mãe, mas não coloca uma identidade nisso. Até uma certa idade, que resistência ele tem? A mãe atende às necessidades dele. Se ela deixá-lo sem comer, ele vai gritar. Ela o coloca no banho, o pega no colo, troca sua roupa, lhe dá comida, mas ele não entra em briga com ela. Ao menos naquele momento ali, ele não tem conflito. As necessidades básicas dele estão sendo atendidas, então ele não está criando dor psicológica, não está criando conflito com o que acontece.

Então veja, a Meditação é algo muito simples, significa entregar a mente, o corpo e o mundo a esta Presença silenciosa. E como fazemos isso? Com certeza, fazendo alguma coisa não dá! Como render a mente, o corpo e o mundo? Desistindo! Renda aquele que faz, que tem medo, que deseja, que tem conclusões, que tem certeza, que tem ideias...

Aqui, esse bebê é você! Quando o mundo, o corpo e a mente ficam rendidos ao Silêncio, nada precisa ser feito! Aparentemente, você perdeu esse Estado de Realização. Você O perde todas as vezes, mas Ele é algo presente. Veja, Realização não é um estado que você alcança, mas a insciência da Realização é algo que, vez após vez, toma posse de você.

É exatamente quando você faz alguma coisa que você sai da Meditação, desse Estado Natural, sem desejo, sem medo, sem autoimagem, para se agarrar de novo a uma imagem que está pedindo, exigindo, cobrando alguma coisa, reclamando de alguma coisa. Então veja: Meditação é sem esforço, porque é o seu Estado Natural.

Há um esforço grande para ser miserável e zero esforço para estar leve, relaxado e em Felicidade. O esforço para ser miserável é o esforço da autoimagem, de pensar, de desejar, de querer, de rejeitar, de brigar, de se confundir com uma ideia, de agarrar um pensamento e ficar ali, igual a um cachorrinho que agarra um brinquedo e não larga. Você tenta tirar aquilo da boca do cachorro, mas ele segura. Quando você puxa, ele puxa ainda com mais força!

O ego é assim, ele pega uma coisinha e fica ali, agarrado naquilo. Então, tem um esforço aí. Aquele cachorrinho está fazendo um esforço enorme para segurar o brinquedo. É um gasto de energia incrível! No entanto, sem esse gasto de energia, não tem ego, não tem "pessoa", entende? Isso porque, no fundo, a "pessoa" aprecia muito isso, assim como o cachorrinho aprecia muito aquela coisa. Você acha até que ele está brincando, mas aquilo é muito sério para ele; você está tentando tirar algo dele!

Então, só muda o tipo de brinquedinho, mas ele está sempre lá, numa fixação, numa crença, numa conclusão, numa certeza... Você sabe que o ego tem muita certeza, né? Ele faz isso para ser "alguém", para se sustentar. Isso é pura autoimagem, e esse é o único momento em que você, aparentemente, não está no seu Estado Natural. É quando você deseja ou rejeita, quer ou não quer. Nesses momentos, você está possuído pela desordem psicológica, está em conflito.

Sempre pergunte a si mesmo: há conflito aqui? Se houver conflito, a desordem está presente. O que quer que você faça a partir desse estado, não será real, será uma ação reativa desse "senso de pessoa". Então, dizer "eu não quero esse sentimento, esse pensamento, essa sensação", é como dizer "estou gostando muito disso, isso me dá muita força, muita energia!". Seja um pensamento ou outro, não resolve!

Nesse sentido, todo estado, no ego, é muito prazeroso. É isso mesmo que você acabou de ouvir! Você acha que o conflito para o ego é encarado como algo doloroso? Não! Conflito para o ego é encarado como algo prazeroso, porque isso dá a ele o "senso de pessoa", essa autoimagem, uma energia para fazer alguma coisa.

A mente egoica até reclama quando se sente fragilizada, incapaz de agir, porque ela precisa de um frisson, de uma aflição, de um conflito. Isso lhe dá prazer para reagir. Eu disse "reagir", porque é só o que o ego faz, e ele repete vez após vez toda essa desordem, toda essa confusão em que ele se encontra. Com isso, você está sempre caindo do Estado Natural, de leveza, de simplicidade, de não conflito, que é o Estado de Iluminação.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 09 de maio de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

O fim da dualidade

Você sabe o significado da expressão "fim da dualidade"? Significa o fim da ilusão de que há duas coisas, de que tem você de um lado e a Vida do outro, você de um lado e Deus do outro. Então, o fim da dualidade é o fim dessa ilusória separação entre você e Deus, entre você e a Vida, entre você e a Inteligência, entre você e a Paz.

A mente está produzindo um imenso número de coisas para destruir essa separação, mas ela não consegue. Ela tenta pela arte, pela música, pela dança, por representações artísticas, através de obras de arte, de relações com pessoas, relações afetivas, sentimentais, amorosas… A mente está tentando, de diversas formas, quebrar essa condição de dualidade, essa condição de separação, entre você e a Realidade, entre você e a Consciência, entre você e Deus.

Mas isso não tem funcionado e jamais irá funcionar, porque não existe essa separação. A mente produziu essa ilusória separação e está tentando destruí-la com seus mecanismos, em uma viagem pelo mundo das experiências, das sensações, inclusive psicodélicas, como acontece com o uso das drogas. No entanto, tudo continua, a separação continua, a dualidade permanece: "eu e Deus", "eu e a vida", "eu e o outro", "eu e o mundo".

Você precisa deixar as distrações externas e se abismar no seu mundo interno, então vai descobrir que não há separação. Nossa Real Natureza é a Natureza Divina, e essa é a única "Coisa". Vou repetir: essa é a única "Coisa"! Ela é sem forma, sem nome, sem corpo, está fora do tempo, tem um brilho próprio, é imutável, não é dependente de nada e a morte não pode tocá-La. Aquilo que você é não pode ser tocado pela morte, mas se você se identifica com o corpo e se vê como uma entidade presente nessa experiência ligada a ele, que é a experiência comum, você vai ter medo.

Aquilo que você é não pode ser tocado. Nossa Real Natureza é a Natureza de Deus. Realize Deus e coloque um ponto final nisso! Sabe quando você vem escrevendo uma carta e aí coloca um ponto final? Acabou! Você não precisa realizar nenhuma dessas coisas que a sua mente está buscando. Deus é a perfeita e absoluta Felicidade! A melhor notícia aqui é saber que Isso não está do lado de fora. Mas essa melhor notícia é também muito radical, porque ela vai colocar você na contramão da experiência humana comum, já que todos estão buscando Isso do lado de fora.

Então, você está fazendo o que está fazendo, buscando o que está buscando, se envolvendo com o que está se envolvendo, dando uma volta enorme, para depois ter que voltar para casa. Você vai a Orlando para ver o Mickey Mouse e, depois que você encontra aquele orelhudo, você tem que voltar para casa. As pessoas vão aos maiores espetáculos, a uma representação teatral, de dança, de música, elas vibram com aquilo, mas, quando tudo acaba, elas são as mesmas. Naquele momento há um esquecimento temporário de toda a confusão que a mente tem produzido dentro de suas cabeças, diante de um espetáculo tão grandioso. Mas é só um espetáculo, algo que lhes dá uma experiência incomum por cerca de uma hora e meia. Depois, aquelas pessoas têm que voltar para casa e tudo volta a ser como sempre foi.

A única coisa que importa é encontrar Isso "dentro de casa". Apenas a Paz, o Amor e a Alegria de Deus são a Real Felicidade!

*Transcrição de uma fala ocorrida em 13 de março de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

O turismo da ilusão

É importante que você permaneça aqui. Para você aproveitar bem este encontro, é muito importante que você não se distraia com outras coisas. Um dos maiores impedimentos para o Despertar é estar distraído, é não estar ciente daquilo que está se passando neste instante, neste momento presente.

A mente tem uma facilidade muito grande de viver em distrações, ela vive dispersa, está sempre voltada para os seus próprios interesses, que não são interesses da Consciência. De alguma forma, a mente vive para o exterior, para os objetos, e a Consciência é o Espaço de tudo isso.

A mente vive para suas limitações e a Consciência é a presença da Realidade, onde essas limitações surgem. Compreenda: tudo que é objetivo, que faz parte da mente, é limitado, e se todo seu "link" é com a mente, você está dentro dessa limitação, está se confundindo com essa limitação. Você não é a mente nem as suas experiências, você não é o corpo nem o que ele vivencia, você é Consciência, e Ela é ilimitada!

Então, quando você permanece aqui comigo, você permanece nesse apontamento para Aquilo que não está dentro dessa limitação, para Aquilo que não faz parte do mundo da mente. Toda experiência da mente é limitada, a mente é limitada, ela vive em limitações, e se você se confunde com a mente e suas experiências, você se confunde com um centro falso, com uma ilusão.

Uma das coisas mais estranhas de se ouvir em Satsang, eu sei, é que você é uma fraude, que você, como "pessoa", não existe, é uma imaginação que o pensamento construiu. O próprio pensamento construiu esse pensamento e se estabeleceu nele.

A mente não é a mãe do pensamento, o pensamento é a mente. Na verdade, não existe mente. A gente usa essa expressão "mente" para se fazer entender, mas só há pensamentos. O pensamento se estabelece como uma ideia, a ideia chamada mente, e todas as experiências do pensamento estão dentro dessa limitação. Você não pode ser Feliz na limitação. Toda experiência humana que você tem é baseada no pensamento. Nenhuma experiência vai fazer você Feliz, vai lhe dar Amor, Paz, Liberdade, e Isso é tudo que você busca.

Você não está numa relação a não ser para ser Feliz. Tudo que você tem feito foi para ser Feliz, todo tipo de situação em que você se envolveu foi para encontrar Isso, só que não é possível. É preciso que você compreenda clara e profundamente isso, aí dentro de você: não há Felicidade em objetos. Eu tenho dito isso inúmeras vezes, para diversas pessoas, que o relacionamento com objetos ou com pessoas não irá resolver. Na verdade, não só não irá resolver como será uma distração.

Você é só um turista neste mundo, viajando pelo mundo das experiências. A mente ama ter experiências, o ego adora sensações! Por que será que as pessoas fazem uso de drogas? Porque as drogas trazem picos de experiências incomuns. Quando você não bebe e está sóbrio, é só uma pessoa comum. Quando você bebe, há uma alteração nessa chamada "consciência" – que é a mente. Essa alteração o torna especial. Quando você está alcoolizado, você é alguém especial, suas inibições são omitidas. O uso da maconha, da cocaína, de algum entorpecente ou algum tipo de droga, altera o seu estado comum, você está em picos de experiências incomuns, você é especial.

O seu sentido de ser é de ser alguém mais bonito, mais forte, mais rico. Toda pessoa alcoolizada se sente mais rica, mais bonita, mais forte, se sente melhor, mais poderosa que as outras. Tudo isso é a busca de picos de experiências incomuns. A mente adora isso, adora sensações novas, novas experiências.

Então, você se cansa do namorado e quer um novo. Tudo fica velho na mente e ela quer uma coisa nova, um novo pico de experiência, uma nova sensação. Isso porque a mente é uma coisa enfadonha e muito limitada, e você está à procura de algo fora dessa limitação, mas não sabe onde encontrar isso. Tudo que você conhece é a mente, então é dentro dela que você vai buscar.

Por isso que você está sempre trocando de experiências, em busca de novas experiências, de novas sensações. Aquilo que é novo parece muito excitante a princípio, mas depois você se cansa daquilo e lá está você de volta, vez após vez, ao mesmo velho padrão de procura de sensações.

Esses dias, alguém entrou nesta sala e começou a escrever. Se você tem esse hábito, largue isso aqui, não escreva nada, fique comigo, permaneça aqui, só olhe para mim, só me escute. Quero que você perceba algo fora da minha fala, algo para o qual eu estou apontando. Se você está escrevendo, é porque está muito sensorial. Você precisa muito do intelecto para escrever, precisa do cérebro bem ativo para ficar escrevendo, mas aqui é sentir o que estou dizendo e não guardar palavras, que é algo completamente inútil.

Estou dizendo algo muito evidente, muito claro! Sendo um turista, viajando pelo mundo, você não vai encontrar essa Liberdade, essa Paz, essa Felicidade. Isso não está lá! A Felicidade é algo que se realiza na Consciência de Deus. Deus é Felicidade!

Eu vivo a Felicidade porque eu sou a Felicidade, porque eu vivo em Deus! Isso é o encontro com a Felicidade! Viver em Deus significa viver livre desse falso centro, dessa "pessoa" encantada por experiências externas.

O assunto aqui é muito intrigante! Estou falando desse encontro com seu Ser, com a Felicidade do seu Ser, que é a Vida em Deus! Isso é fatal para o ego, para esse senso de controle e de medo.

Você veio aqui para descobrir como viver sem conflito, como viver com Amor em sua vida, com Paz em sua vida. Isso é algo diametralmente oposto a toda experiência comum. Tudo que você está buscando é algo fora desse "comum". Eu acabei de usar um exemplo do que as pessoas fazem para encontrarem algo fora do comum, porque esse "comum", na mente, é algo tedioso, é algo muito sofrido, conflituoso. Não há Verdade nisso!

Então, quando você vem a este encontro, eu quero que você coloque seu coração inteiro nessa compreensão de que você está neste mundo para ir além dele. Você precisa descobrir como ver este mundo sem os olhos da mente. Há uma forma de ver este mundo sem os olhos mentais, que é através do olhar direto dessa Consciência, que é Suprema Inteligência. Isso o coloca numa condição de pura Consciência. Essa não é uma experiência incomum, a qual a mente vive buscando; é só o fim da experiência comum.

Essa é uma busca interna de todos, eles só não sabem que estão buscando Isso. Em Satsang, você começa a descobrir que é assim. Todos estão buscando Isso, como turistas, nesse mundo externo, mas Isso não está em museus, em salões de arte, na Disney World, em grandes concertos musicais, em teatros… As pessoas estão buscando a Felicidade em uma experiência incomum, mas isso em nada significa um encontro com o seu próprio Ser, nem de longe representa um encontro com a sua Natureza Essencial, porque isso não desfaz esse "sentido de alguém" presente. Naquelas situações, você tem, apenas por alguns segundos, um alívio desse "sentido de pessoa".

Isso aqui é um encontro com Você, com Aquilo que está fora da mente, com aquilo que está fora do tempo psicológico, fora das experiências ordinárias. Este é o encontro com o fim do sofrimento. Uma vez que você tome ciência da ilusão de permanecer identificado com experiências do lado de fora, uma vez que você compreenda isso, a Felicidade se realiza.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 13 de março de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

O que é a autoimagem?

O que é aquilo, em você, que se magoa, se ofende, se vê diminuído, depreciado, rejeitado? Essa é a sua autoimagem, a imagem que você faz de si mesmo, uma imagem que não pode ser tocada e que vive sustentada pelo medo.

Consegue ver isso? Consegue ver que as ações que você toma são reativas porque nascem dessa autoimagem? Toda ação nascida da autoimagem é confusa, é desorientada, e vai produzir confusão e desordem.

Isso é algo presente e pode ser visto nas relações. As relações demonstram ser o real espelho para tomarmos ciência da ilusão sobre quem nós somos, sobre como reagimos, com base naquilo que estamos afirmando sobre nós mesmos.

Quem se deprime? Quem se angustia? Quem se preocupa? Quem se entristece?

É por isso que, quando traziam um problema para Ramana, ele colocava uma questão. Ele dizia: "A quem isso ocorre? Quem está sentindo isso?" Só há uma resposta para essa pergunta: "eu". Aí ele continuava: "Quem é esse 'eu'?".

Nós fazemos um escarcéu enorme, uma confusão grande a respeito dessa falsa identidade, temos um milhão de explicações sobre isso, e isso é tão simples! O que quer que você sinta, pense, veja, particularizando, trazendo para si essa experiência, aí está o ego, a autoimagem. A gente não precisa de longas explicações sobre o que é a autoimagem, sobre o que é o ego, basta perceber em si mesmo esse "si mesmo" afetado. É um assunto para se investigar em si mesmo, para olhar em si próprio o tempo todo.

Vou colocar de novo: esse centro que particulariza toda ideia que passa na sua cabeça é completamente falso, e essa particularização está dentro dessa autoimagem. Toda experiência é só uma experiência. Quando você particulariza a experiência, você fica autocentrado, coloca uma identidade naquilo e, assim, separa a experiência, divide a experiência.

Nenhuma experiência é maior que a outra. Esse falso centro é que, através do pensamento, se separa da experiência e dá maior ou menor valor àquilo. Nenhuma experiência é maior que a outra quando não se tem esse falso centro. Toda experiência, quer seja da pele para dentro ou da pele para fora, é somente uma experiência da vida, da existência. Não há uma "entidade" nisso, uma "pessoa" nisso.

Aqui está a autoimagem: uma criatura completamente imaginária, produzida pelo pensamento, se ofendendo, se magoando, se entristecendo, se aborrecendo, se contrariando, se depreciando, se valorizando...

É muito fácil ver isso no outro, e essa é uma forma do ego se proteger, dessa autoimagem se proteger, porque quando ela vê isso no outro, acredita que não tem isso. Ela se sente confortável por não ter aquilo, mas só está vendo no outro porque é algo que está nela. Ela sofre do mesmo mal; ela é esse mal.

Eu estou falando algo aqui de outro planeta, não é? Ninguém sabe do que estou falando.

Você está sentado num lugar, sai para ir ao banheiro e, quando volta, tem uma outra pessoa sentada no lugar onde você estava. Já surge uma irritação, uma perturbação, um conflito. Sim ou não? Onde surgiu esse conflito? Na autoimagem. Alguém tomou o seu lugar, desrespeitou você, não o considerou.

Quando você é um bebê, a mamãe pega você, troca sua fralda, dá banho em você, lhe dá mamadeira, coloca você para dormir… O fato é que o bebê não briga. Até uma certa idade, ele não briga. Quando é bem pequeno, ele está entregue, não está discutindo. Ele não discute com a vida, ele ainda não tem a apreciação de si mesmo, não tem autoimagem. O bebê não se importa com nada, desde que ele tenha as suas necessidades supridas, e são necessidades físicas básicas: a fraldinha trocada, a barriguinha cheia de leite e o calorzinho do colo da mãe ou de um cobertor. Uma vez que essas necessidades estejam supridas, ele está em paz, não há conflito. Por quê? Porque não há autoapreciação.

Se você se perguntar "a quem isso acontece?", vai ver que há uma autolimitação na resposta. Se a resposta é "a mim", isso é uma limitação. Então, você está sempre se apoiando nessa particularização de uma identidade presente nessa ou naquela experiência, ou seja, você está sempre se situando no tempo e no espaço como "alguém" – esse é o condicionamento, essa é a programação.

A minha ênfase é na Meditação. Por quê? Porque a Meditação é a oportunidade que você tem de voltar para a Fonte, de soltar a autoimagem. Meditação é simplesmente deixar que os pensamentos, os sentimentos, todas as experiências evoluam sem uma identidade nisso. Elas se desdobram sem um centro particularizando isso. Essa é uma forma diferente de colocarmos o que é Meditação. Então os pensamentos, os sentimentos, as sensações, qualquer que seja a experiência ocorrendo, não tem importância, porque ela não tem um centro para particularizar isso.

A minha recomendação é que você se torne um expert na arte de Ser. É por isso que a Realização é um luxo! Realização é se estabelecer na Fonte. Se tem alguma coisa em que vale a pena ficar bom, se tornar especialista, é a arte de Ser, puramente Ser, sem corpo, sem mente, sem mundo, sem particularizar o que quer que esteja surgindo neste momento. Não é algo para "mim", para o "eu"; não é algo contra "mim", contra o "eu".

Se você fica bom nisso, você é o Senhor do universo, você é Purusha, como se diz na Índia. Compreendem a beleza disso? Você é maior do que todo o universo! Essa já é sua Natureza Verdadeira, é só assumi-La.

Você está voltando para o seu lugar. Você fez uma viagem longa e agora está voltando para casa.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 09 de maio de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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