terça-feira, 27 de julho de 2021

A loucura de ser "alguém"

A mente é a mãe de todos os problemas. Não condene nada, não rejeite nada. Condenando e rejeitando, você não pode ir além da mente. No momento em que você condena algo, você fica atado àquilo, só porque você quer se livrar.

O que você não pergunta é "quem quer se livrar?". A sua mente se torna fixa naquilo que você condena, prisioneira daquilo. Você quer se livrar de uma preocupação? O que acontece quando você quer parar de se preocupar? Nunca observou? Quem já tentou se livrar de um pensamento? Não é fácil se livrar de um pensamento? Quanto mais você se esforça, mais fraco o pensamento fica… é ou não é?

Você quer se livrar de um sentimento ruim… Quem quer se livrar disso? Essa é a pergunta! O fato é que quem quer se livrar é aquele que está criando esse sentimento. Você já se pegou com raiva? E com raiva da raiva? Nunca percebeu que, quando você está com raiva, chega uma hora em que você fica com raiva da raiva? Pois é, a cabeça é muito maluca! Esse é o mundo do ego. Se quiser continuar vivendo assim por mais trinta anos, ok, mas, se quiser investigar isso tudo e ir além disso agora, esse é o meu trabalho; eu sou especialista nisso!

Minha especialidade é livrar você da raiva da raiva, do medo do medo, então você descobre sua Natureza Divina, a Alegria que é permanecer livre do ego, desse senso egoico, de dualidade, de separação; livre de toda essa confusão de ser "alguém" ou de se sentir "alguém". Isso é uma confusão, uma confusão total!

Sua natureza é Amor, Paz, Liberdade, Alegria, Silêncio… Agora, se você transformar isso que eu digo em mais uma crença, quando você não estiver em paz, a mente vai dizer "a mente não me deixa em paz!", entende? O próprio pensamento vai dizer "xô pensamento, vá para longe de mim!". Isso porque você transformou o que você ouviu aqui em uma nova crença, em um novo modelo de pensamentos. Então, aquele que está com raiva fica com raiva da raiva! Que coisa doida! Isso nunca vai ter fim, nunca vai acabar, a menos que você consiga ver isso.

Um dia, já faz alguns anos, eu visitei um hospício, porque eu tinha um parente lá. Eu vi alguns loucos ali e tinha um que era muito interessante, porque era o único que falava com a parede, enquanto os outros estavam todos quietos. Eu vi que não tinha um retrato, não tinha nada ali, era só a parede, e ele estava conversando com ela. A parede falava com ele alguma coisa que a gente não conseguia ouvir, e ele respondia.

Essa recusa de ver a natureza da ilusão presente aí dentro da sua cabeça é como a situação desse louco. A não ser que esse louco consiga ver o processo do que se passa com ele, ele vai continuar ali, conversando com aquela parede, até o final dos seus dias. A parede não tem nada para dizer para ele, e a não ser que ele consiga ver isso, ele vai continuar dizendo coisas para ela.

Então, quando eu vejo pessoas se aproximando de Satsang, eu olho para elas e digo: "Será que ela vai conseguir enxergar que está conversando com a parede?". Porque é isso! Você entra aqui na sala e acha que está numa condição diferente daquele que eu encontrei lá no hospício, e isso não é verdade; você também está conversando com as suas "paredes".

Eu tomei uma grande lição naquele dia. Eu já estava trabalhando com meu Guru, com meu Mestre. Nessa hora, quando você tem um Mestre, alguém que está com você nisso, trabalhando com você, essas coisas começam a vir. Então, quando eu vi aquilo, eu disse: "Uau, é isso! Esse é o problema que eu tenho! Eu estou conversando com a parede! Eu estou apenas ouvindo uma parede, é uma parede que está falando comigo! Os parentes que eu tenho são paredes! Eu estou dando resposta para paredes e ouvindo paredes falar comigo!".

Então, a não ser que você veja o processo, você vai continuar dessa forma, e isso em razão de uma recusa. Essa recusa é algo profundamente enraizado aí dentro. Não há um interesse para que isso se mostre, para que isso se revele de todas as formas. Seu ego sempre vai se proteger. Ele pode até ter um interesse superficial, sabe? Contudo, a não ser que você tenha um interesse profundo em ver todos os aspectos da sua egoidade, do seu estado egoico, você não vai parar de falar com a parede.

O que eu vejo é que as pessoas têm um interesse parcial nisso. Elas vêm e passam algum tempinho comigo, e é só um tempinho mesmo, uma coisa de dois, três, quatro anos; um tempinho que não significa nada. Isso porque elas não têm interesse. No fundo, elas continuam agarradas aos sistemas antigos delas. Eu digo: "Fulano, larga a política. Você não é deputado, não é senador, não tem poder público para fazer qualquer coisa, mas fica dando 'peruada', nesse blá-blá-blá. Volte-se e olhe para dentro de você! Você está gastando sua energia com uma coisa inútil!".

Isso é como cozinhar galo: o galo vai para a panela e demora… parece que não fica pronto nunca! Aí, você se aproxima, passa um tempo comigo aqui, mas, no fundo, nunca larga aquela coisinha lá, fica agarrado àquilo, em vez de se ocupar em olhar esses aspectos do ego, da vida egoica, da mentira que está produzindo. Então, você passa algum tempo aqui, mas não tem Isso. Ver Isso requer que você enxergue que está diante de uma parede e que o louco é você.

Você só deixa a loucura quando consegue ver o processo do que anda fazendo. Se conseguir ver que falar com parede não adianta, você larga a loucura, entende? Então, à medida que você se torna mais interessado nessa nova visão, nessa abordagem que eu tenho aqui, mais se revelam os diversos aspectos em que a sua mente egoica se encontra agarrada. Mas você tem que ser honesto quanto a isso, porque eu vejo que existe uma recusa, e isso é algo enraizado em você, nesse pensamento "eu".

*Transcrição de uma fala ocorrida em 17 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

domingo, 18 de julho de 2021

A arte de viver sem problemas

Participante: Como me manter em silêncio internamente? Ele aparece, mas dura pouco; a mente logo aparece para tumultuar.

Marcos Gualberto: Reparem: a pergunta já é a explicação. A mente quer um estado permanente, mas ela é a causa da ilusão de causa e efeito. Ela é um problema para ela mesma! Ela quer um estado permanente, porque diz que ele não existe, e, depois, explica porque o estado dela não é permanente. Então, ela faz a pergunta e ela mesma encontra a resposta; está no pacote. É assim que tudo funciona na mente, nessa dualidade.

"Como me manter em silêncio internamente?". Veja: primeiro ela quer o silêncio internamente. Depois, ela explica porque o silêncio não dura: "A mente logo aparece para tumultuar". Então, você faz a pergunta e você tem a resposta, e isso não se resolve nunca.

Nesse campo do conhecido, nesse pacote chamado "mente", tudo "se resolve" com explicações, mas nada se resolve de fato, tudo continua do mesmo jeito, ou seja, sem jeito. É o cachorro tentando pegar o próprio rabo: ele corre, corre, corre e uma hora ele pega, não é? É como quando as pessoas me perguntam: "O que faço para parar de me preocupar?" Impossível! É impossível você parar de se preocupar, porque você é a preocupação.

Quer conhecer a vida sem preocupação? Livre-se da ilusão de que você está aí para tentar resolver situações. Aí, não haverá preocupação, porque não terá "você". Mas, enquanto você acha que está aí e que pode resolver situações, você vai viver assim, dentro da dualidade. A dualidade é essa: "Ali está o problema e eu tenho que lidar com ele, tenho que resolvê-lo, estou aqui para dar solução para isso!". Aí, vem você depois e me pergunta: "Como faço para me livrar da preocupação?". Não tem jeito!

Viver sem preocupação é possível? Sim, se você não tiver problemas. Aí, eu pergunto: quem aqui não tem problema? Todos se candidatam? Pronto, então todos vivem preocupados, não tem jeito. Só há uma forma de se livrar disso: estando Livre.

Participante: O que é estar Livre?

Marcos Gualberto: É viver a Plenitude do Ser! Agora, lembre-se: viver a Plenitude do Ser é viver sem problemas e, para isso, você não pode estar aí tentando resolver alguma coisa. A vida é o que ela é, e você não tem importância nenhuma! Aí sim, não tem problema para você.

O cachorro amanheceu com tosse? Você pega o cachorro e leva para o veterinário. Simples assim. Você está há três dias com diarreia? Procure uma ajuda médica. Lidar com o que é, com o que se apresenta, sem se envolver psicologicamente com isso, é a arte de ser sem problema, e essa é a Verdade do seu Ser.

Então, repare que beleza representa Satsang, para onde Satsang aponta. Não existe nada neste planeta que aponte para esse "Lugar" que estamos apontando aqui para você. Nada! Porque todos estão tentando resolver, ajustar, melhorar, solucionar, salvar, proteger… não é assim?

Você vai ouvir um professor espiritualista… Ele vai sempre ajudá-lo a ser uma pessoa melhor, mais positiva, realizadora, invulnerável, tipo o Superman ou o Homem de Ferro, que não adoecem, são fortes, levam o mundo nas costas, resolvem toda situação, param o trem, param a bala de canhão… Em qualquer lugar que você for, vai encontrar algo para deixar você superpoderoso. As mulheres serão empoderadas, vão receber educação para ficarem empoderadas, cheias de poderes, o poder feminino vai aflorar e todo esse blá-blá-blá.

Aqui, você chega e eu digo "a vida é o que é". O cachorro está com tosse, leve-o no veterinário; você está há três dias com diarreia, procure um médico, tome uma medicação, senão a coisa vai complicar. Isso é lidar com a coisa de uma forma muito direta, muito objetiva, simples, não é nada dessa fantasia que vai por aí. Viver assim é viver sem sofrimento.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 17 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 13 de julho de 2021

Um ladrão investigando o assalto

O pensamento sempre se expressa em termos de causa e efeito, é assim que ele funciona. Se há uma inquietude, tem que haver uma razão, então ele busca a solução do problema.

No momento, a razão do problema é essa situação nova que surgiu em razão da pandemia, que afetou um percentual muito grande de trabalhadores e famílias. De fato, há dificuldades na área financeira de um percentual muito grande de pessoas, mas fora esse fato, existe a inquietude, e o pensamento sempre vai buscar uma causa direta para ela. Essa relação de causa e efeito é típica da mente, e agora a causa é essa questão da pandemia.

É como quando alguém diz "minha mulher me abandonou e, por isso, estou triste". A mente sempre vai pensar em termos de causa e efeito. "Sinto-me deprimido porque perdi o emprego" ou "estou triste porque estou com um problema de saúde". É assim que a mente funciona. Ela sempre procura uma razão para explicar uma dada situação, então ela sempre encontra uma justificativa para o seu estado.

Vamos com calma para você compreender. A causa da sua inquietude não é a questão da mudança do quadro financeiro que você está vivendo em razão dessa nova situação. A causa da tristeza daquele cidadão que foi abandonado pela mulher não é o fato de ele ter sido abandonado por ela. A tristeza ali é a do estado mental já presente. É típico da natureza da mente estar nessa gangorra, flutuando entre prazer e dor, tristeza e alegria, quietude e inquietude.

Repare que eu sempre trabalho com você fazendo-o perceber que suas crenças continuam sendo a base do fortalecimento desse estado, mas é um estado da mente, não é um estado de circunstância. Não é porque a pandemia chegou e a crise financeira bateu que você está inquieto. Você está inquieto porque o estado da mente é esse. Não é porque aquele cidadão foi abandonado pela namorada, pela esposa, que ele está triste. Ele está triste porque é o estado da mente viver nesse quadro de bipolaridade: uma hora está triste, outra hora está alegre; uma hora está quieta, outra hora está inquieta. A mente vive assim e você não tem como mudar isso mudando as situações.

Se as situações mudam, você fica relativamente quieto e tranquilo. Eu disse "relativamente", porque não existe uma quietude verdadeira para quem não está vivendo uma crise financeira. Mesmo aquele que está sem crise financeira tem problemas com essa questão, porque é um problema de inquietude interna, não é um problema de quadro externo, não é o que acontece externamente, é sempre aquilo que acontece dentro.

É típico da mente estar quieta e inquieta, alegre e triste. Ela vive no medo, o medo é a natureza dela, e não há como mudar isso. Você vai ao terapeuta, ao psicanalista, ao psiquiatra, vai procurar uma ajuda e a recebe, mas a situação não é resolvida. Em razão da crise, o governo também vem e lhe dá uma ajuda, ou sua situação financeira muda porque você tirou a sorte grande e ganhou na loteria federal. Isso também é uma ajuda, mas não vai tirar você da pobreza. Você encontrou o amor da sua vida – assim a mente diz –, mas isso é só uma ajuda, não resolve.

Então, compreenda o que estamos colocando aqui. Não existe nada externamente criando inquietude ou sendo a causa de sua paz. A mente é seu próprio problema, porque ela, de forma imaginária, vê essa questão de causa e efeito como algo real. Ela inventa isso.

A mente não se vê, então não pode lidar com isso. É como se você contratasse um ladrão para investigar um assalto. Você acha que daria certo? Quem fez o assalto foi ele, aí você o contrata. Então, a mente é um problema dela, para ela, com ela e do ponto de vista dela. Não tem jeito, não… E tudo o que você conhece está dentro do campo da mente.

Levará ainda um certo tempo para você conseguir apreciar essa abordagem que eu tenho aqui, porque você escuta isso tudo com muitas reservas, porque no fundo você ainda quer salvar alguma coisa, ainda acha que tem esperança para si. Não tem esperança para você. Na mente, você é uma criatura muito ingênua, irresponsável, inconsequente, só porque você confia no conhecido, nas diretrizes do pensamento.

A minha fala não vem dessas diretrizes. Quando você me faz uma pergunta, a resposta vem, mas ela não vem da mente, porque esse não é um assunto que a mente domina, não faz parte do conhecido. Então, pode ser que leve algum tempo até você perceber para onde estamos apontando aqui.

Assim, a inquietude não é da situação, é da mente. A mente é a inquietude, o conflito, porque ela é a divisão. Onde há divisão, há conflito. Ela busca o problema e depois quer resolvê-lo, mas ela é a razão do problema.

Dá para administrar essa questão da falta de saúde, de estar com pouco dinheiro, do namorado ter ido embora… Dá para administrar qualquer situação externa, mas não dá para administrar o estado mental, por isso existe o sofrimento. O sofrimento não é porque a situação externa não se mostra 100% satisfatória, mas porque o estado da mente é 100% resistência ao que acontece. Ou seja, sem a mente, o seu problema não é real, porque o seu problema é o problema da mente, então a mente é o seu problema.

Você permanece sem ser tocado pelo que quer que esteja acontecendo. Isso não tem nada a ver com Você. Tudo o que está acontecendo externamente, para a mente, tem a ver com ela, e é por isso que tudo a incomoda. Se você olhar de perto, vai ver que não tem só o problema da inquietude em relação à crise financeira ou em relação ao fato de a namorada ter abandonado você; vai ver que está inquieto por qualquer coisa, por tudo! Tudo inquieta você! Tudo!

Se falta luz na sua casa e demora três horas para voltar, você fica completamente perturbado. Como algo assim pode mudar você internamente? Mas esse é o estado da mente, essa relação de causa e efeito é típica dela, por isso ela inventou toda essa parafernália espiritualista, filosófica, política; ela tem uma explicação para tudo.

No fundo, a mente não explica nada, está tudo sem se resolver. Ela resolve tudo e ela sabe tudo, mas, se você olhar de perto, vai ver que não tem nada resolvido, está tudo do mesmo jeito, tudo como sempre foi em todos os aspectos da vida, em todas as áreas. Você compreende isso? Existe solução para tudo, porque a mente encontrou as soluções. Aí, você olha e diz "mas o problema ainda está aqui". Claro, porque ela criou o problema e está trazendo a solução, só que ela é o problema! Então, como ela poderia resolvê-lo? É um ladrão investigando o roubo, o assalto.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 17 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

domingo, 11 de julho de 2021

Compreensão não é entendimento

Satsang é uma coisa muito diferente de uma escola. Aqui não é para se alcançar entendimento – “Ah, eu entendi o que ele disse”. Não é isso! Aqui você é alcançado pela Compreensão.

Quando algo é dito aqui e toca você no nível da Compreensão, isso já é seu. Então, não precisa anotar isso, porque já é seu. Se você escrever e só entender, você vai esquecer e não vai colocar isso em evidência na hora da prática. Aprendizado intelectual não serve para nada!

Você precisa aprender a estar aqui. Satsang comunica esse Poder de Compreensão num nível que o atinge de uma forma tal que, ao se deparar com uma situação, tudo fica muito claro. Você mesmo estranha por não reagir como antes.

Sabedoria é Despertamento, não é entendimento. Quando você percebe Aquilo que Você é, o conflito termina. Uma vez que essa Consciência vai se assentando aí, tudo o que é ilusório dessa falsa identidade, todas essas fixações da mente egoica vão desabando, caindo, desaparecendo, de uma forma bem natural, porque a Compreensão tem o poder de quebrar isso, esses padrões antigos de crenças, essas motivações baseadas em histórias que o pensamento tem construído.

Por exemplo, eu vejo as pessoas de algumas religiões falando que a morte não existe e outras, ligadas a religiões diversas, tentando consultar os que já morreram, lembrando que eles estão no céu. Existe um medo muito grande da morte, apesar de todo mundo dizer que a morte não existe. Isso é baseado em quê? Em crenças. As pessoas têm crenças sobre a morte, dizem que ela não existe, mas, no fundo, está todo mundo com medo, tentando se consolar, confortarem-se uns aos outros. Isso porque são só crenças, não há Compreensão; isso não as atingiu num nível de pura Consciência.

Aqui é Despertar, ir além da limitação do pensamento, de todos os aspectos que o pensamento tem: filosófico, espiritualista, religioso, etc. Toda sua educação, até hoje, foi para viver com base em crenças e não com base em Inteligência, em Consciência, na Visão Real Daquilo que Você é, que é a Visão da Verdade, a Visão Divina. E, aqui, a proposta é essa: assumir essa Visão da Verdade Divina que Você é, e não viver mais em crenças, ideologias, conceitos; é descobrir a Verdade sobre Si mesmo e ir além dessas “abobrinhas” todas que andam criando por aí, desses conflitos que o ser humano tem vivido.

Na verdade, a Vida é extremamente generosa. Os aspectos das aparentes limitações que a gente vê acontecendo à nossa volta são parte do grande jogo Cósmico, do grande jogo de Deus, e isso é assim porque é assim. Olhar para isso sem conflito, sem sofrimento, tendo uma visão clara de que está tudo certo, no lugar, não tem preço. Despertar é ter essa Visão da vida, é viver nessa Compreensão clara de que a vida é isso, deixando toda a imaginação.

Se conseguir dar uma resposta apropriada a cada situação de uma forma Inteligente, como só essa Consciência é capaz de dar, você viverá sem conflito, sem sofrimento, e é claro que, se você está sem sofrimento dentro de si, não vai provocar sofrimento no mundo à sua volta, muito pelo contrário: você será, para aqueles que estão à sua volta, um modelo de serenidade, equilíbrio e bom senso.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 07 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 6 de julho de 2021

Não brigue com a mente e o corpo

Participante: Como lidar com os desejos da mente e do corpo?

Marcos Gualberto: Se tentar brigar com a mente e o corpo em razão dos desejos, você vai entrar numa luta muito complicada. Ao longo da vida, alguns de nós adquirimos fixações psicológicas, as quais, de certa forma, ficam ligadas ao corpo, e é isso que, talvez, você acaba de chamar de "desejo", não é?

Compreenda uma coisa: o corpo e a mente podem adquirir, ao longo da vida, hábitos, que depois passam a se tornar desejos psicológicos com fixações físicas, mas a sua Natureza Verdadeira não é o corpo, não é a mente. Você pode partir para uma luta contra o corpo e a mente, mas ela ainda será dessa egoidentidade, então será uma luta muito séria, muito complicada.

Na razão em que você se aproxima do trabalho de autoconhecimento, de observação desse movimento da mente e do corpo para os chamados "desejos", você começa a descobrir algo dentro de si muito maior que essa sensação de desejo que a mente e o corpo provocam.

Essa é a forma legítima de lidar com o corpo e com a mente. Então, não é brigando com eles, mas tomando consciência do que está por trás dessas fixações, desses desejos psicológicos e dessas motivações físicas. Quando faz isso, você coloca a Consciência como uma testemunha desse comportamento egoico, desse comportamento indisciplinado do corpo e da mente. Essa é a forma correta de lidar com os caprichos do ego ligados a desejos do corpo e da mente.

Você não tenta amarrar um animal selvagem, você conquista a amizade e simpatia dele. Você oferece um pouquinho de comida para ele, se aproxima dele amigavelmente e não luta contra ele, porque assim não funciona.

As pessoas tentam se livrar de dependências psicológicas brigando com elas. Você precisa de um poder maior do que esse desejo para ir além do desejo. O desejo de se livrar do desejo ainda é o conflito se reforçando, se restabelecendo, se fortalecendo.

Então, aqui a minha recomendação é que você primeiro relaxe e descubra o que significa a motivação por detrás disso. Não é analisar, é tomar ciência da presença do que o motiva psicologicamente, fisicamente, a fazer o que faz; é descobrir o Poder do Silêncio, da Consciência, por detrás do corpo e da mente.

A Consciência pode trazer ordem ao corpo e à mente, mas a mente egoica não vai fazer isso, assim como você não vai domar o cavalo amarrando-o na estaca. Você pode até amarrá-lo num poste, mas ele não estará domado. Você tem que conquistar o animal, tem que dominá-lo e, para isso, tem que se aproximar dele, não pode ser agressivo com ele, porque ele não vai ser domado assim, não é assim que o domador faz com os animais.

O corpo e a mente estão aí há milênios, e tudo o que eles fazem é criar confusão. Olhar de perto como a mente e o corpo funcionam é a maneira de descobrir como quebrar essas motivações do ego.

Isso não vale só para o desejo, isso vale para o medo também. Como você lida com o medo dentro de você? Da mesma forma que você deve aprender a lidar com o desejo. Você tem que se aproximar disso, tomar consciência da presença desse estado e ver o que a mente está criando. Você vai olhar de perto e vai descobrir que tem muita imaginação flutuando aí, muita imaginação!

Então, como a gente se aproxima do medo? Observando. Você se aproxima observando e, assim, quebra o poder do medo, porque se desidentifica dele, se desidentifica do desejo, se desidentifica do corpo quando toma ciência da presença do que está aí.

Sabe o que o leva ao desejo? A não alegria de ser. Você não está na Alegria de Ser. Se você estivesse na Alegria do próprio Ser, não estaria queimando por um desejo. Quando você está Feliz em Si, em seu próprio Ser, não tem nada que supere Isso, não tem nenhum desejo que o arraste. Se você está cônscio da Realidade do seu próprio Ser, não existe medo que seja real.

Você está sempre sendo arrastado pela mente egoica, pela imaginação, pela busca de sensações, pela insatisfação, pela dor, pela tristeza, por um fundo de angústia. Quando existe uma Satisfação interna aí, real, não há desejo. Então, você tem que observar as histórias que o medo está produzindo, que o desejo está produzindo; as histórias ligadas a esse desejo e esse medo. Está tudo dentro da sua cabeça!

Quando falamos de inclinações de desejo ou de medo, estamos falando de identificação com o corpo. Desidentifique-se do corpo, desidentifique-se da mente, descubra a Alegria de Ser, de puramente Ser; descubra a Alegria da Meditação, de permanecer como Consciência, de permanecer em sua Natureza Essencial, e, assim, o desejo e o medo desaparecem, eles terminam sendo consumidos, porque eles têm base e fixação numa identidade falsa, que está infeliz, em conflito, em sofrimento, perturbada, em angústia.

Se você está em profunda Paz, livre de pensamentos, que espécie de pensamento vai surgir como um desejo? Se você está livre de pensamentos, que pensamento vai surgir causando-lhe medo? Isso tudo é imaginação! Então, você se livra do desejo e do medo livrando-se de si mesmo.

Todo esse comportamento é da mente; é ela que está produzindo isso. Ela está produzindo o seu mundo, criando estados em você de tristeza, de angústia, de insatisfação, de desejo, falando da necessidade de ter isso, ter aquilo, ter aquele…

Você tem que se lembrar de si mesmo como Consciência e não como corpo. Se continuar se vendo como o corpo, você terá muitos problemas, e eles jamais terminarão, porque tudo o que a mente sabe fazer é criar problemas, e o corpo está dentro dessas limitações do que a mente representa. Então, enquanto houver essa identificação com o corpo e a mente, você jamais estará livre do medo e do desejo.

As coisas são importantes enquanto são importantes. Quando valoriza muito uma coisa é porque você é muito carente daquilo, e essa valorização é uma fixação, um apego, um conflito. Você precisa encontrar a Liberdade de Ser, de viver sem coisas.

Quando eu digo "coisas", eu incluo "pessoas". Pessoas são as coisas mais preciosas que o ego tem. Percebe o que eu estou dizendo? Você tem um carro, mas ele não é tão precioso quanto o seu filho. Você não gosta de ouvir isso, mas é assim. Só que do ponto de vista da Consciência, da Realidade, o carro e o filho estão na mesma categoria – nenhum dos dois é seu e você não tem controle sobre nenhum deles. Eu só dei dois exemplos, mas você pode estender muito isso.

A única coisa que importa é a consciência da Verdade sobre quem Você é. Isso não exclui o carro e o filho, não exclui a família, não exclui nada à sua volta, muito pelo contrário: isso é algo profundamente inclusivo. Mas não é inclusivo no sentido de uma entidade pessoal, particular, carente e necessitada daquele objeto para ser feliz, para se preencher, para se satisfazer, para se realizar.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 07 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

A vida é o que é

São muitas situações criando conflitos, mas elas nunca estão fora, estão dentro de você, porque você não sabe estar com o que é. Não se trata de aceitar. A palavra não é "aceitar", a palavra é "compreender", compreender que a vida é o que é. É só o ego atrevido que quer mudar as coisas, e esse desejo de mudar as coisas é pura resistência.

Pergunte a si mesmo o que você controla, para ver se realmente você tem qualquer poder de reivindicar direitos. Você não controla as batidas do seu coração, não controla o que está acontecendo dentro do seu cérebro, não controla a pressão sanguínea, a pressão no cérebro… Basta mudar a pressão aí para acontecer um desastre, como um AVC.

Ninguém controla absolutamente nada! Você sai de carro de casa e dirige com toda a atenção possível – coisa que nem sempre acontece –, aí vem um camarada embriagado na contramão. E agora? Se tiver mato para você entrar, você entra; e se não tiver uma saída? Então, o que a gente controla de verdade? Vamos só brincar. A vida deve ser vista dessa forma: como uma brincadeira. Vamos brincar de controle, mas não vamos levar isso a sério.

Ninguém controla absolutamente nada, mas a mente egoica tem um desejo arrogante de criar culpados para o que acontece. A vida é o que é! Aqui, o que cabe a você é se desidentificar desse personagem que se vê como o autor, criador e controlador do seu mundo. A única coisa que compete a você é se desidentificar da ilusão do sentido de um "eu" no controle. Isso, em outras palavras, significa se render ao Divino, se render à Vida, viver da forma mais inteligente possível, sem o sentido de dualidade, de separação, de medo.

Você não resolveu nascer e acredita que pode controlar sua saída desse mundo. É sempre a ideia de estar presente fazendo ou não fazendo algo. Aqui está toda a problemática: a ideia de ser uma entidade presente nessa experiência chamada vida.

*Transcrição de uma fala ocorrida em 07 de abril de 2021, num encontro online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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