terça-feira, 24 de setembro de 2024

Como me livrar do sofrimento? Observador e coisa observada. Como me livrar da ansiedade? Dualidade.

A beleza desses encontros é que aqui estamos explorando com você o assunto do fim para essa identidade presente, que é o "mim", o "eu", o ego. Nós temos, sim, a resposta para essa questão. Quando isso termina, quando o ego termina, quando o "eu" não está, quando esse sentido de dualidade, de separação, esse sentimento de você e o outro, você e o mundo, você e a vida, quando isso não está mais presente, temos a resposta para a pergunta “Como me livrar do sofrimento?” É a mesma resposta para a pergunta “Como me livrar da ansiedade?” Isso é o fim para esse sentido de separação.

O que é o fim para o sentido de separação? Veja, aqui está a revelação do fim do sofrimento, do fim da ansiedade, do fim do medo, o fim desse observador, que observa alguma coisa, que vê algo. Esse observador é aquele que vê alguma coisa separada dele e quer fazer algo com aquilo. Vamos esclarecer isso aqui para você.

Nós estamos tão habituados a viver nesse sentido de separação que temos dificuldade de ter uma aproximação de algo tão básico, tão simples como isso que estamos tratando aqui. Quando você vê algo, tem você e aquilo que está sendo visto. Então, a princípio, a ideia em nós é de uma separação entre o observador e a coisa observada. Do ponto de vista físico, essa é a ideia que fazemos da experiência que está aqui, neste instante.

Vamos olhar isso de perto, já que estamos investigando a natureza do sofrimento. Porque é isso que estamos fazendo aqui, estamos investigando a natureza, a estrutura, a base dessa condição de sofrimento humano, pois só assim podemos ir além desse sofrimento, tendo uma aproximação de investigação do que isso representa.

Quando você se depara com uma flor, ao olhar para aquela flor, o que você tem presente nesse momento, nesse primeiro segundo de encontro com o olhar, nesses um ou dois segundos, é só um contato. É um contato sem a separação entre você, como observador, e aquilo que está sendo observado. Há um contato, há uma visão. Não há esse ver a flor, há só uma visão. Isso pode durar um segundo, dois ou três segundos. No quarto segundo, um pensamento surge sobre a flor.

Quando surge um pensamento sobre a flor, e o pensamento é, por exemplo, “que flor bonita”, “uma flor dessa ficaria muito bonita no meu jardim”, quando algum pensamento surge no momento desse olhar, nesse instante surge a separação. Nessa separação, tem esse ver. Então, nesse momento, você está vendo a flor.

Você tem um pensamento sobre a cor, sobre a forma, sobre a ideia de um objeto. Você tem um pensamento sobre como seria interessante essa flor no seu jardim. Você tem o nome dessa flor, se você tem algum conhecimento botânico. Se você tem algum conhecimento sobre aquela imagem, que é a flor, você tem o nome dela. Se tem essa memória, você tem o nome. Nesse momento, tem você e a flor, então há esse ver.

Podemos descobrir esse instante livre desse ver? Podemos estar nesse instante apenas nesse olhar? O olhar a experiência que quer que esteja surgindo nesse momento, estar com isso no olhar, sem esse ver, sem alguém nisso. Então nós temos, pela primeira vez, um contato livre desse observador.

Então, o que é o observador? É aquele que vê. Quando você vê, você tem o nome, você tem algo para fazer com aquilo, você gosta, você não gosta. Há esse observador e a coisa observada, então nós temos essa separação, nós temos essa dualidade.

Repare, é assim que estamos lidando com a experiência do momento presente. Quando o momento presente se mostra e esse sentido de alguém surge para gostar, não gostar, para avaliar, comparar, aceitar, rejeitar, julgar esse instante, esse momento, essa experiência, então nós temos a dualidade, temos o observador e a coisa observada.

Veja como é importante isso. É aqui que temos presente todo o problema do ser humano. Ao lidarmos com as experiências, estamos lidando com as experiências a partir do observador, que é o experimentador.

Então, a experiência não é a experiência, ela é a experiência para "mim". Então há o sentido de alguém presente na experiência. Esse sentido de alguém é o experimentador. Há alguém presente nesse olhar, então não é um olhar, é alguém vendo. É assim que nós temos funcionado na vida.

Então você tem uma pergunta: “Como me livrar do sofrimento?” Se aproximando do sofrimento sem o observador; se aproximando do sofrimento sem o sentido de um "eu" para não gostar, para querer se livrar, para querer fazer algo com isso. Quando isso está presente, esse elemento, que é o "eu", o observador, está sabendo classificar a experiência.

Então, qual é a forma real de uma aproximação com a experiência? É isso que estamos tratando aqui com você. A forma real dessa aproximação é a aproximação sem o experimentador. Então, qual é a maneira real para nos livrarmos do sofrimento? É tomarmos ciência de que a experiência, dela podemos ter uma aproximação direta, sem esse fundo de gostar e não gostar.

Só há uma forma real de nos aproximarmos da experiência: é sem esse centro, sem esse "mim", sem esse "eu", sem esse observador, sem esse experimentador. Essa é a maneira real para uma aproximação do fim para o sofrimento. Observe que é particular esse gostar e não gostar. Observe que é particular essa experiência representar sofrimento ou não, aqui.

Sempre estamos particularizando a experiência, e quando particularizamos, ficamos nesse gostar e não gostar. Se é o não gostar que prevalece nessa particular experiência, isso é um problema. Se é o gostar nessa particular experiência, isso não é um problema. Então, reparem como o nosso ego, o nosso "eu", esse observador, esse experimentador, se situa na experiência.

Nós queremos tudo que possa nos dar prazer. Para nós, isso não é um problema, para nós, isso não é um sofrimento. Nós rejeitamos, rechaçamos, queremos nos livrar de tudo o que nos provoca dor. Para nós, isso é sofrimento.

Então, quando as pessoas perguntam “Como me livrar do sofrimento?”, elas estão perguntando: “Como posso me livrar de tudo o que me causa dor?” É como se elas dissessem: “Eu não tenho nenhum problema com o prazer, mas tenho um grande problema com a dor. Então a dor para mim é um problema, o prazer para mim não é um problema”.

O que não percebemos aqui é que é a particular visão de um centro que se vê separado da experiência, que é o observador com essa sua coisa observada. Se ela é de prazer, esse observador quer mais. Se é de dor, quer menos ou quer se livrar por inteiro. Então, qual é a verdade do fim do problema? A verdade do fim do problema é a verdade do fim do "eu".

De uma forma prática, a maioria das pessoas, por não terem ciência da ilusão de ser uma pessoa dentro da experiência, o que elas têm feito ao longo de milênios de história da humanidade é procurar uma solução para o sofrimento ou procurar fugir do sofrimento.

A solução que buscamos é a solução temporária, paliativa daquela dor. E fugir do sofrimento representa também uma solução, naturalmente, paliativa e de tentativa de escapar da experiência também sem a compreensão do que a experiência representa.

Aqui nós temos que investigar isso. O fim para o sofrimento é também o fim para a ilusão do preenchimento, da satisfação que o prazer nos traz. Esse prazer nos traz preenchimento e satisfação nesse instante, mas, no momento seguinte, está esse prazer sendo negado. E quando esse prazer nos é negado, temos a dor. Então, aquilo que nós chamamos de prazer ainda carrega essa dor.

Assim, precisamos de uma compreensão do que é a experiência. Temos que ter uma visão do que é esse experimentador dentro da experiência, sustentando essa condição psicológica de separação, de dualidade entre o observador e a coisa observada.

Veja, tudo isso está acontecendo dentro de cada um de nós. Não tem nada lá fora nos causando sofrimento. Aquilo que nos causa sofrimento é esse sentido de dualidade presente dentro de cada um de nós, é esse sentido do observador tendo sua particular visão de mundo. Quando é de prazer, ele quer mais, quando é de dor, ele quer se livrar. Então, é exatamente assim que nós temos funcionado. Repare: tudo isso precisa ser compreendido.

“Como me livrar da ansiedade?” Reparem, queremos nos livrar da ansiedade, queremos nos livrar do medo, queremos nos livrar da depressão, queremos nos livrar do que nos causa dor, não percebemos o jogo interno de continuidade nesse modelo de dualidade presente em cada um de nós, de continuidade e busca do prazer. Essa busca do prazer, essa busca de continuidade no prazer ainda é uma forma de dor. Não percebemos que o elemento de dualidade e separação está presente.

O que nós vemos juntos aqui é o fim para esse modelo, o modelo da continuidade desse observador e dessa coisa que ele observa. Precisamos descobrir o que é esse Natural Estado de Ser, onde há uma ciência daquilo que está presente sem esse que observa. Esse que observa, que condena, compara, julga, quer mais ou busca mais, ou deseja mais. Assim, nós temos o fim para essa dualidade.

É no fim dessa dualidade, é no fim desse sentido de separação que temos o fim para todo problema, para toda confusão, para toda desordem emocional. É aqui que temos o fim para a ansiedade, o fim para a depressão, o fim para a angústia, o fim para esse sentido do "eu" presente, desse "mim", desse ego. Assim, temos um contato com a vida sem esse centro.

Então, como nos aproximamos disso? Tomando ciência desse movimento interno, de um pensador presente criando sobre a experiência uma ideia, uma avaliação, um julgamento, uma aceitação, uma rejeição. Então, é o pensamento que está sustentando esse modelo de separação.

É possível apenas olhar, tomar ciência da experiência, tomar ciência da experiência sem aceitar, sem rejeitar, sem buscar o prazer ou sem tentar fugir da dor; tomar ciência daquilo que está presente aqui, sem se separar. Notem, esse pensamento é algo que vem do passado, que avalia com base nas experiências passadas, de gostar, não gostar, de identificar isso como prazer ou como dor. Se nós temos o fim para o pensamento, temos o fim para o pensador, o fim para o observador.

Então, nesse contato se torna possível o fim para essa condição psicológica de sofrimento, de confusão, de desordem. A visão disso é a revelação do Autoconhecimento. O fim para essa condição psicológica, onde o sofrimento está presente nesse centro, que é o "eu", o esvaziamento disso é a Revelação do seu Natural Estado de Ser pura Consciência, pura Felicidade, Amor Real, que é Meditação.

Então, um contato com a vida como ela é, sem o sentido desse "eu", que é esse centro, que é esse observador, que é esse pensador, que é esse experimentador, a Verdade desta Revelação é a Verdade de Deus, é a Verdade do seu Natural Estado de Ser, que é a Consciência.

O que temos aqui é que a natureza do seu Ser é Felicidade, é Amor, é Paz, é a natureza da Verdade Divina. E não há sofrimento aí, porque não há essa ilusão, porque não há essa separação. Então, isso é a Verdade conhecida por Advaita, a Não separação, a Não dualidade. Temos a ciência d’Aquilo que é, quando o sentido desse "eu" que se separa não está mais presente.

Junho de 2024
Gravatá-PE
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