Uma coisa muito comum na vida é esse movimento de escapar da dor, de estar sempre procurando algo que nos preencha sentimentalmente, emocionalmente, psicologicamente, e que ocupe o lugar dessa dor. Observe que é inegável o fato de que, psicologicamente, como seres humanos, nós vivemos de uma forma confusa, desorientada; nós temos problemas de diversos tipos, e há em nós esse movimento de fuga.
Aqui nós temos colocado para você a diferença entre uma aproximação de si mesmo para o Autoconhecimento e esse movimento de fuga. Então, fuga e Autoconhecimento é algo para ser compreendido, investigado. Nós precisamos, na vida, da Verdade da Felicidade presente nela, da Liberdade que está presente nela, do Amor que está presente nela. Nós não temos olhos para isso, porque estamos sempre olhando para a vida a partir do modelo do pensamento; e nesse modelo do pensamento, nós estamos procurando alguma coisa.
Eu quero tocar com você aqui nessa não necessidade da busca. Nós temos duas formas de fazer isso: a primeira é buscando no mundo, no ambiente material; a segunda é buscando fora do mundo, no assim chamado mundo espiritual ou no ambiente espiritual. Ou nós estamos em busca de realizações materiais ou realizações espirituais. Esse movimento de busca é, na verdade, um movimento de procura de experiências.
Essa procura de experiências são projeções que temos daquilo que seria ideal para cada um de nós. Onde ocorrem essas projeções? Na mente. A mente em nós é a presença do mecanismo de projeção. Aquilo que nós chamamos de mente é esse movimento presente de consciência em nós; esse movimento é um movimento de pensamentos.
Nós fomos educados para vivermos dentro de um contexto de cultura, onde todos estão em algum nível de insatisfação interna, em algum nível de condição interna psicológica de sofrimento, orientando suas vidas nessa busca, nessa procura. Nós temos aprendido isso, e nós estamos constantemente projetando, de dentro de nós, a partir dessa mente condicionada, desse modelo de cultura que recebemos do mundo, também os nossos ideais, os nossos projetos, os nossos sonhos, aquilo que irá nos fazer feliz. É assim que estamos nos movimentando na vida, nessa busca.
Essa busca é a tentativa, nessa projeção de ideal para ser alcançado, nessa realização de uma experiência, de escaparmos daquilo que está aqui presente, que se apresenta como uma insatisfação. Aqui eu quero tocar com você na beleza desse encontro com o que está aqui neste momento, sem fugir.
As pessoas estão em busca de um alívio da dor, de um refúgio, de um lugar onde elas possam se ocultar, se esconder, para não serem alcançadas pelo sofrimento, por algum nível de desconforto. Daí essas duas alternativas - essa assim chamada busca material ou busca espiritual - são alternativas aprendidas, são alternativas do pensamento, desse padrão de condicionamento de cultura.
O que será que é se deparar com a dor sem fugir? Não nos mostram a importância disso. Você jamais tomará ciência do fim dessa dor enquanto estiver escapando dela. Esse movimento de escapar da dor é um movimento que não termina.
Assim, toda forma de busca não termina. Ela não termina porque esse elemento na busca, como esse elemento na dor, continua vivo. E quem é esse elemento? É o elemento que procura se separar, se preservar, se afastar da vida como ela é, da vida como ela acontece. Esse elemento é o "eu", esse elemento é o ego, esse sentimento de pessoa que você tem, de alguém, desse "mim".
Quando você, por exemplo, está com raiva de alguém, ao invés de lidar com a dor da raiva, o movimento interno em você é de justificar a raiva, explicar a raiva, ou se vingar, porque há em nós a imaginação de que ao fazer isso, essa dor termina, ou diminui. Esse é o movimento de fugir da dor, de escapar da dor.
Nós não sabemos lidar com a raiva, mas não sabemos lidar também com o medo, com a ansiedade. Não sabemos lidar com a dor que o ciúme está causando em cada um de nós. O movimento é de se vingar, é de justificar, é de explicar, é de procurar alguma nova experiência; essa procura de uma nova experiência é para escapar desse contato com a dor.
A Verdade da Revelação da Felicidade, do Amor, da Paz da Liberdade, reside na ciência da Verdade sobre Você, e você não tem essa ciência enquanto foge. Assim, essa busca é um afastamento de si mesmo - essa busca de uma nova experiência. Essa fuga é um afastamento de si mesmo. Tudo isso na tentativa de não lidar com a experiência e de não contactar a experiência, de não entrar em confronto com ela, em contato direto com ela. Isso preserva esse sentido do ego, esse sentido do "eu".
Nessa autopreservação está presente, constantemente, a dor, a insatisfação, a raiva, o medo, o ciúme, a inveja. Os diversos problemas que você tem na vida só existem porque você, como alguém, está se vendo nesse contexto, nesse modelo de busca de novas experiências ou de fuga dessa condição. Aqui a presença do Autoconhecimento nos dá a base para o fim dessa psicológica condição, que é a condição desse alguém, desse "mim", desse ego.
Assim, o que é Autoconhecimento? Autoconhecimento é a ciência do que é. Não importa o que está presente; o que está presente é o que precisa ser visto. O que está presente é o que está se revelando, o que está presente é o que estava dentro e está vindo à tona; estava oculto e está vindo à superfície; estava no profundo e está se mostrando nesse instante.
As nossas relações, quando se assentam nessa ignorância a respeito desse "mim", desse "eu", desse ego, estão constantemente produzindo sofrimento, produzindo desconforto, produzindo problemas. Isso está presente em razão da presença da ignorância. Você se vê como um elemento separado dele ou dela; essa separação é sustentada por uma construção de pensamentos que você tem a respeito de quem você é, a respeito de quem ela é. Assim são todas as nossas relações; elas estão produzindo confusão, produzindo distúrbio, produzindo perturbações para ambos, para esse "mim" e para o outro, para esse alguém e para o outro. Essa é a vida do "eu", essa é a vida do ego.
Então, o que é a presença do Autoconhecimento? É a presença da ciência de como você está acontecendo nesse instante, de como você se sente, de como você pensa, quais são suas emoções, qual é a sua visão dele ou dela, qual é a sua visão de si mesmo. A ciência disso é a presença do Autoconhecimento.
Se compreender, tomar ciência de si mesmo, e descobrir o que é esse "mim", o que é esse alguém. Isso só é possível quando você não está mais na busca, ou da experiência, ou da fuga. Na busca de uma experiência de gratificação, de maior preenchimento, de maior satisfação, de maior realização externa, ou na busca, nesse sentido de uma fuga, a busca de fugir desse estado em que você se encontra.
Se há medo presente, é o medo para ser visto. Se é frustração, se é decepção, se é raiva, é isso que você tem aqui, é isso que você é. Se aproximar de si mesmo é se dar conta de como você acontece, do que são esses processos internos nessa consciência, que é a consciência do "eu", que é a consciência desse "mim". E quando não há essa separação, esse contato consigo mesmo nos aproxima da Revelação de como esse "eu", esse pensador, esse elemento no sentir, esse elemento na ação responde a esse momento.
Ao nos depararmos com essa compreensão de nós mesmos, uma qualidade nova de ação surge; esta ação é o fim dessa resposta de reação, que vem desse movimento passado. Você sempre respondeu com estados de tristeza a pensamentos de tristeza; sempre respondeu com raiva a pensamentos de contrariedade - de contrariedade dos seus desejos -, e agora você está se dando conta disso.
Essa sua relação com ele ou ela sempre se mostrou, dentro de você, com suspeitas, com insegurança, com medo; isso acaba de lhe revelar a presença do ciúme, da dependência emocional. Repare, a ciência de si mesmo, não é para fazer algo contra isso ou fazer algo com isso, mas é apenas para se dar conta. O simples e direto olhar, sem esse elemento que vem do passado para interferir com isso, é a eliminação do ego, é a eliminação do "eu".
Assim, o que faço para me libertar do ciúme, da inveja, do medo, da raiva, das preocupações? Observe! Apenas observe o modelo do pensamento, o modelo das reações, que sempre se repetiram aí nessa estrutura, nesse corpo e mente, quando apareciam, quando aparecem. Se dê conta disso, nesse instante. Você está no contato com o momento presente sem esse elemento que se separa, que é o observador, que é o pensador, que é o experimentador, que é esse "mim", esse "eu". Isso é a presença do Autoconhecimento.
Então, o que é o Autoconhecimento? É se dar conta, é se tornar ciente, é trazer para esse momento a compreensão do próprio movimento desse "eu", que se separa em observador e coisa observada, em pensador e pensamento, em experimentador e experiência, nesse "eu" e no "não "eu". Quando você toma ciência de que uma imagem foi construída, e a partir dessa imagem esse movimento de reação mantém sua continuidade, em razão da desatenção, apenas olhar para isso é presença da Atenção, é a presença da Consciência, e a presença dessa vigilância passiva, real. Assim, uma qualidade de ação nova surge.
É isso que aqui eu poderia chamar de visão prática do Autoconhecimento. Alguns aí fora chamam de prática do autoconhecimento algo inteiramente diferente do que estamos colocando aqui, porque não se trata desse alguém se conhecendo para se ajustar, para mudar, para se comportar de uma forma diferente. Aqui, a presença da Verdade, da ciência do Autoconhecimento, desse praticando o Autoconhecimento, não é alguém envolvido em uma prática, mas é a pura ciência da revelação desse "mim". Isso é praticando o Autoconhecimento! Não é alguém praticando o Autoconhecimento, é a Verdade da ciência de si mesmo se revelando.
A própria Revelação é o fim dessa psicológica condição de dualidade, de "eu" e "não eu", de observador e coisa observada, de experimentador e experiência. Então, a verdade dessa autoinquirição é a ciência desse olhar, sem o passado. É apenas o olhar, o escutar, o perceber; é tomar ciência de si mesmo, nesse instante. Isso é o fim do "eu", isso é o fim desse "mim", isso é o fim do ego. Isso termina com a busca de experiências, isso termina com a fuga para esses estados. Isso é o fim do "eu" na busca ou na fuga, isso é o fim do ego.
Um contato com a Realidade deste Ser é um contato com a Realidade d'Aquilo que está além desse "mim", desse sentido de alguém presente. Então há uma mudança profunda, há uma profunda transformação. Algo novo surge, e esse Algo novo é a presença do Amor, é a presença da Liberdade, é a presença da Felicidade, quando o "eu" não está, quando o ego não está, quando toda essa desordem psicológica, que o pensamento sustenta nessa consciência egóica, já não está mais presente. Isso é o Florescer do seu Natural Estado de Ser, que é a Real Consciência, que é a Real Felicidade. É a presença de Deus, é a presença da Verdade.
É isso que estamos aqui com você aprofundando nesses finais de semana. São dois dias juntos, onde estamos sábado e domingo trabalhando isso com você: como ter da vida, na vida, essa aproximação de si mesmo para o fim desse "eu". Além disso, temos encontros presenciais e, também, retiros. Se isso é algo que faz algum sentido para você, já fica aqui um convite.
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