quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Meditação: um completo esvaziamento

Meditação é um completo esvaziamento de todo peso, de todo esse grande conteúdo de coisas que a pessoa precisa ter para “ser alguém”, do acúmulo de tudo que você já leu, ouviu, estudou e viveu, de tudo aquilo que está na memória desse mecanismo, nas próprias células do cérebro, que faz você dizer “eu sou fulano”, “eu sou Carlos”, “eu sou José”, “eu sou Maria”, “eu sou Pedro”, “eu sou o Marcos”, algo do qual você nunca se desliga. A Meditação é o varrer de tudo isso, é o esvaziamento de todo esse conteúdo! Ela chega nesse “eu” e vai além dele.
Meditação não é uma prática de dez dias, ou uma prática diária de duas horas pela manhã e à noite. A Real Meditação encontra esse espaço de investigação da natureza ilusória desse “eu sou fulano”. Ela tem que encontrar esse espaço completamente livre desse “eu sou fulano de tal”, “eu sou vascaíno”, “eu sou palmeirense”, “eu sou petista”, “eu sou...” Então, a autoinvestigação está presente quando o espaço está inteiramente livre. A autoinvestigação não é acompanhar uma fala como esta e acreditar que está investigando isso, pois esta é somente mais uma fala.
Depois de escutar muitas falas como esta, ler muitos livros sobre o assunto, você pode até fazer uma bela fala, se for um bom orador. Você pode conhecer isso tecnicamente, de uma forma perfeita, movimentar isso com uma precisão extraordinária, mas ouvir falas sobre isso não é autoinvestigação.
A autoinvestigação é observação, a observação do movimento do “eu sou fulano”, e isso não é para dez dias ou para um final de semana, ou para duas horas pela manhã e à noite. Ela está presente a cada momento! É como você escuta o som à sua volta, qualquer que seja ele. Pode ser o canto de pássaros em meio à natureza (algo que a mente adora) ou o grito de um marido machista, mandatário, opressor, gritando no ouvido da mulher, ou uma mulher gritando no ouvido do marido. Meditação é ouvir isso e não fugir! Saber ouvir isso, estar diante do desagradável sem internalizar isso, sem se confundir com “alguém” presente dentro dessa experiência, sentindo-se ferido, magoado, triste, com raiva ou medo, isso é Meditação! Ao ouvir, ver, assentar-se, caminhar, na hora de comer, ir ao banheiro, momento a momento... Isso é trazer atenção para Aquilo que é anterior mesmo ao sentimento “eu sou”.
Assim, é possível a Constatação da Realidade Última, desta Verdade que não tem nome, forma, cor, sabor, cheiro; que nunca nasceu e, portanto, não conhece dia de nascimento nem festa de aniversário. Você não pode continuar se segurando “nesse lado”. Sabe do que eu estou falando? Do lado onde a aparição é tudo que você conhece. Haverá a interrupção disso, num dia chamado “dia da morte”, mas não há por que ter medo. Claro, não há como conhecer o Desconhecido. A Meditação é o Desconhecido e você não vai conhecê-La. A Meditação é a Presença sem forma, sem nome, sem cor, sem sabor. Quando a Meditação está, não tem o conhecido, não tem esse “eu sou fulano”, “eu sou José”. Você tem que estar disposto a deixar a história do personagem marido, filho, mãe, pai, e isso significa um rompimento completo com o conhecido. Repito: não é para saber o que é o Desconhecido, pois você jamais saberá o que Ele é! Você jamais conhecerá o Desconhecido! Esse Constatar é a ausência desse que constata; o Real Conhecer é a ausência do “conhecedor”; a Real Experiência é a ausência do “experimentador”. A Vida é o Desconhecido. A expressão “Jnana”, tão conhecida na Índia, nós traduzimos como “Conhecimento”, que é esse puro Conhecer sem o “conhecedor”. Assim, Meditação é se aproximar deste “Eu”. Agora, trazendo isso para mais perto, para o nosso viver, para o nosso dia a dia. Você diz: “Eu sou o Carlos”. Corte esse “Carlos”, corte esse nome com sua história, aí fica “eu sou”. Corte o sentimento “sou” agora, aqui, e, então, fica o “eu”. O que é esse “eu”? Esse “eu” desaparece... Pronto! É isso!
Ou você fica com isso ou fica agarrado aos seus problemas. Aqui cada um tem um drama. Pergunte ao vizinho aí do lado que ele vai dizer que tem. Em algum nível, tem. Ou você fica agarrado a esse drama ou você vai trabalhando isso. O ego vai ficar ressentido. Ele vai dizer: “Você não está sendo cuidadoso, não está dando a atenção devida a isso”. Isso porque o ego quer consertar as coisas. Você tem que perceber isso em você. Eu sei, porque eu vivi isso no passado, eu vi isso também. Houve um tempo em que também havia dramas aqui, os quais estavam no mesmo pé desses que você tem hoje. Você acredita que os dramas são seus e fica tentando consertá-los, mas isso não tem conserto, porque isso é cármico, é destino, já está traçado. A única coisa que você pode e precisa fazer é se desidentificar dessa coisa.
Compreendem? É isso! Qual é a diferença do Osho, Ramana ou Krishnamurti para você? Nenhuma! Eles apenas deixaram de se importar com a história em volta deles. Eles se importaram por tanto tempo que um dia perceberam que não tinham mais como ficar presos a isso, porque era ridículo! Numa fala de alguns minutos, estou resumindo para vocês aqui, diretamente. É isso mesmo que eu quis dizer o tempo todo com essas palavras tão bonitinhas, que não servem para nada também. A única coisa certa que vocês estão fazendo agora é estar aqui, e não tem mais nada que possam fazer a não ser ouvir isso.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro no Ramanashram Gualberto na cidade de Campos do Jordão – SP; em Março de 2019 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

sábado, 7 de dezembro de 2019

Você é anterior ao sentimento "eu sou"

Você traz consigo um sentimento, que é o do “eu sou”. Ele está presente sempre, 24 horas por dia, mas você precisa voltar a sua atenção para Aquilo que é anterior a ele. Se o seu interesse é descobrir a Verdade sobre você mesmo, precisa descobrir Aquilo que é anterior até ao próprio sentimento “eu sou”, que está presente e o acompanha o tempo todo, em todas as horas do dia.
Para você, “eu sou o João”, “ele é Pedro”, “ela é Maria”… Isso é uma nomeação desse “eu sou”, desse sentimento “eu sou”, é uma crença que o pensamento criou sobre Aquilo que nós somos. Você permanece anterior a esse sentimento e anterior a essa nomeação. Então, aqui temos duas coisas: a primeira é o sentimento “eu sou” presente, o qual todos carregam e é algo sempre presente aqui e agora. A segunda coisa é a história sobre esse “eu sou”, que recebe um nome quando o corpo aparece nesse cenário. Assim, são duas coisas das quais vocês precisam se livrar, porque não tem nenhuma verdade nisso, tem somente a relativa “verdade” de uma aparição, mas nada disso é Você.
Você precisa dar atenção Àquilo que é anterior a essas aparições. Esse “eu sou João”, “eu sou Maria”, é só um nome com uma forma no tempo e no espaço. Aquilo que é anterior a esse “eu sou” é anônimo, não tem nome, forma, cor, substância aparente, porque é anterior a tudo. Aqui, a questão é que você tem se confundido com “eu sou João”, ou “eu sou Pedro”, ou “eu sou Maria”. Você tem confundido uma aparição (com um nome, uma forma e uma cor) com Aquilo que não tem nome, forma ou cor, e que não é uma aparição.
Você precisa descobrir o que Você é. Antes desse “eu sou”, Você é! Isso não tem passado, presente e futuro, não tem história. Todo seu problema é esse: “eu sou Maria”, “eu sou João”, “eu sou Carlos”... A sua atenção está naquilo que é aparente. Assim, você tem um dia de nascimento, o qual comemora todos os anos — e faz muita questão disso —, porque isso confirma sua identidade no tempo. Você gosta de se lembrar do seu aniversário porque isso diz “eu sou José” e dá continuidade à sua história no tempo, à pessoa que você acredita ser, confundindo-se com o corpo.
Nós vivemos em um mundo onde isso é muito importante. A aparição é muito importante! Quando um nome, uma forma e uma história são importantes, a ideia da morte também se torna muito importante. Esse é um outro aspecto da ilusão desse sentido do “eu sou”. Repito: esse sentido do “eu sou” se vê confirmado pela presença do corpo, localizado em determinado espaço, vivendo em um determinado momento. Assim, há um espaço regional para essa identidade que supostamente você é e um tempo no qual essa identidade supostamente vive. Esse tempo é a história e esse espaço é o corpo no mundo, num determinado país, numa determinada cidade, cercado por um certo número de pessoas e objetos, que têm formas, nomes, cores, assim como você tem uma forma, um nome e uma cor. Esse é o sentimento “eu sou”.
Dá-se muita importância a esse “eu sou” no corpo. Você se lembra muito da morte quando se ocupa com a ideia de que nasceu um dia. Você está validando o tempo todo a ideia “eu sou” quando olha para o corpo e o coloca nesse espaço, que é o lugar onde você acredita que está vivendo (cidade, país, planeta), e no tempo, quando valoriza a história e aqueles que fazem parte dela (família, vizinhos, amigos). Assim, você permanece constantemente procurando uma confirmação de que está vivo — esse é um outro aspecto desse “eu sou”, na crença “sou alguém”. Não é possível a Verdade sobre Você, enquanto você sustentar essa ideia de estar vivo (“eu sou o corpo”).
A Realização, Despertar, Iluminação, representa essa anônima Presença, que é sem forma, nome, cor, cheiro, tempo (sem história), mundo (sem espaço). Enquanto você se sentir patriota, carioca, nordestino, americano, inglês, ou seja, sentir-se regional no espaço, no mundo, ou enquanto estiver se sentindo como homem ou mulher, atrelando esse “eu sou”, que é somente o sentimento de presença aqui e agora, à crença “estou no corpo”, você se sentirá sujeito ao nascimento e à morte.
Assim, qual é o seu trabalho aqui? Assumir a Verdade sobre sua Natureza! Em sua Natureza Verdadeira, Você não está na história, porque Você é anterior a esse “eu sou”, ao próprio sentimento que você carrega durante 24 horas por dia. “Eu sou”, reparem, não é a última Realidade, ainda não é a Verdade, a Realidade Absoluta, mas é o que você tem de mais próximo e prático para se aproximar dessa Realidade Absoluta.
"Assim, qual é o seu trabalho aqui? Assumir a Verdade sobre sua Natureza! Em sua Natureza Verdadeira, Você não está na história, porque Você é anterior a esse 'eu sou'."
Então, resuma! Pegue o “eu sou João” e corte a palavra “João”, e fique com o “eu sou”. Agora, corte o “sou” e fique com o “Eu” ‒ um “Eu” sem definição. Esse “Eu” não tem sexo, não tem corpo, não tem mente, não está no mundo… é somente “Eu”. Qual é a Natureza Real desse “Eu”? Esse “Eu” não tem definição, porque não é “eu sou João”, “eu estou aqui”, “eu sou alguém”, é somente “Eu”. Esse “Eu” não nasceu, não tem nome, não tem país. É o puro “Eu”! Esse “Eu” é o que ficou ainda mais próximo de nossa Natureza Real, dessa anônima e indefinível Presença.
Na Índia, eles chamam de “Parabrahman”, “Atman”, “Deus”, Aquilo que é anônimo, que não tem forma, não tem cor, não tem cheiro. A Última Realidade! “Eu” sem nenhum pensamento, sentimento, emoção e sensação associados. Esse “Eu sou” se resume a esse “Eu”, que também desaparece. Deus desaparece, Parabrahman desaparece, Atman desaparece. São somente nomes, tudo isso desaparece, assim como quando um filme que você está assistindo termina.
O que acontece? Você está no cinema assistindo a um filme, a luz do ambiente está apagada, toda luz que você tem é aquela projetada na tela, e nessa tela você tem as aparições. Quando o filme termina, com as aparições, que são os personagens do filme, as suas cenas de drama, terror, comédia ou ação se apagam na tela. A tela continua, mas não há luz sobre a tela, como se ela houvesse se apagado, mas tivesse uma luz própria. Quando a luz da tela se apaga, os personagens, as imagens, as ações amedrontadoras do terror desaparecem, assim como as ações românticas, as cenas amorosas e as ações dinâmicas da ação, de combate, luta. Quando você olha para a tela, é como se ela também tivesse desaparecido, toda luz que tornava isso possível desapareceu.
Despertar, Realização da Verdade, Iluminação, ou qualquer que seja o nome dado para Isso, é o fim da história. Essa história nunca teve início, mas ela pode aparentemente terminar, e ela precisa terminar. Assim, tudo aquilo que você tem feito para dar continuidade a esse movimento de imagens, para se confirmar, dia após dia, como “alguém”, com esse sentido de “eu sou fulano”, “eu sou João”, “eu sou pai”, “eu sou mãe”, “eu sou filho”, “eu sou”, está carregado de histórias, de apegos, desejos, vinculado a meras projeções do pensamento. Você afirma que nasceu numa determinada cultura, sob certo regime político e religioso, e passa a vida toda agarrado a isso: “Eu sou democrata”, “eu sou católico”, “eu sou protestante”, “eu sou do PT”, “eu sou do PMDB”, “eu sou socialista”, “eu sou ...”.
O que mais podemos dizer sobre isso? Quantos anos você tem? A que partido você pertence? Qual é a sua religião? Você é nordestino ou é sulista? Reparem como isso é forte, como o condicionamento do sentido do “eu sou” é forte. Observe o quanto você está saturado disso! Isso porque essas crenças criam todo tipo de preocupação, aflição e sofrimento. Você precisa de muita coisa para se estabilizar na crença “eu sou alguém”. Você precisa viver todos os seus dias, durante 24 horas de cada dia, ligado a esse sentimento “eu sou”, defendendo isso e brigando por isso. Puro condicionamento!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro no Ramanashram Gualberto na cidade de Campos do Jordão, em Março de 2018 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O que é a Vida Real?

Você pode passar uma vida inteira como todos têm passado: sem a mínima noção do significado real de estar aqui. Assim, sua vida termina dentro de uma condição de profunda miséria. Todo e qualquer resultado que você acredita ter alcançado se mostra, no final de sua vida, como algo que não valeu a pena. Tanta luta para se obter, tanto trabalho para se conquistar... Mas, você pode mudar isso Acordando, saindo dessa condição de vida puramente mental, que é completa inconsciência sobre si mesmo.
Então, a Autorrealização não é uma questão de escolha, mas uma ação de pura Inteligência. Escolha é confusão! Quando há Clareza, não há escolha! Escolha é para mentes medíocres. O Homem Inteligente não faz escolhas! Você não pode escolher ser feliz ou ser miserável. Se você tem essa escolha, é porque você já é miserável, já é infeliz, não carrega Inteligência. Quando há Inteligência, não há escolha entre ser feliz ou miserável, entre viver a Verdade ou a ilusão. A ilusão é um falso “eu” que você tem abraçado por todos esses anos. Esse tem sido o seu estilo de vida, de dependência, medo, desejo e sofrimento.
Se você é Real, porque é Inteligente, não faz nenhuma escolha, não decide sobre estar Realizado ou não. E, aqui, o sentido da palavra “Realização” implica Liberdade, Verdade, Amor e Consciência. Então, você precisa aprender a viver, precisa aprender o significado de estar vivo. Você só está vivo para a Felicidade, não para esse modelo tão comum que você vê à sua volta, onde há muita desordem e confusão. A guerra é o resultado disso! Toda a estupidez humana é o resultado disso, de mentes que escolhem, que estão inteiramente perturbadas.
Nas relações, você percebe todo esse conflito da escolha. Repare que tudo o que você escolhe é a partir de sua confusão. Isso não representa Paz na sua vida, nem Liberdade, Amor, Consciência. O que está em sua vida é a ilusão! É isso que você chama de “minha vida pessoal, particular”. “Eu não quero que ninguém se meta comigo, porque essa é a minha vida”. Você se orgulha de tudo isso, de todas as “suas” conquistas, mas nada disso representa Felicidade. Você não está neste presente momento, você não está vivendo a vida como ela está acontecendo aqui e agora.
Na mente, você vive uma projeção de existência. Não é a existência como ela é, não é a vida como ela é, é somente uma projeção, um cálculo criado pelo pensamento, o que estou chamando de “escolha”. Então, você é só um joguete dessa inconsciência. Vive em uma bela casa, tem uma família bonita, um bom marido ou uma boa esposa, filhos também muito bonitos... Você os coloca numa faculdade, dá uma formação profissional para eles, e eles mantêm o modelo, tornam-se pessoas respeitáveis mais tarde, por tudo que também alcançaram, por tudo o que realizaram, mas todos eles ainda se mantêm presos à infelicidade. Tudo porque eles, como você, nunca conheceram a Real Vida, nunca conheceram a Liberdade, nunca conheceram a Felicidade, porque nunca conheceram a Si mesmos. Realização é se conhecer, o que não significa conhecer esse falso “eu”.
Então, a palavra “autoconhecimento” não se aplica aqui. Não se trata de se autoconhecer. Eu estou usando a palavra “Realização”, neste momento, e não “autorrealização”. Realização de sua Verdadeira Natureza, de seu Verdadeiro Ser, de seu Verdadeiro Eu! Não esse falso “eu” que só conhece esse modelo já prefixado pela sociedade, pela cultura, pelo mundo à sua volta. Então, eu sempre volto a essa questão: a vida é algo que está acontecendo, mas você, no falso “eu”, não conhece isso. Tudo o que você está vivendo está dentro desse modelo da mente, dessa pseudorrealidade, que você chama de nascer, viver e morrer, e, nesse ínterim, conquistar, realizar, procriar, viver o que você chama de “amor”, “afetividade”, “realização de desejos”.
Então, a questão é saber o que está aqui, neste instante. O que é isso que aqui se expressa temporariamente em um corpo, em uma mente, através desse organismo? Se você não descobre isso, se você não conhece o significado real dessa Realização, você não está verdadeiramente vivo. Você nunca viveu! Isso significa apenas estar em um sonho… um sonho de inconsciência e miserabilidade. Então, você precisa Acordar!
Havia um imperador no Japão, que era um homem muito, muito, muito poderoso. Ele se tornou um imperador muito famoso, era conhecido no mundo inteiro, mas era infeliz. Ele tinha tudo, mas não conhecia a Felicidade. Ele era um desses que escolhe, que confunde seu ser com aparições, com realizações externas, com conquistas. Então, ele ouviu a respeito de um mestre que havia em seu país. Esse mestre se tornou também muito famoso no antigo Japão. Ele se chamava Nain.
Então, o imperador foi ver o mestre e, ao chegar diante dele, disse: “Gostaria de lhe fazer uma pergunta. Eu sou famoso, todos me conhecem, todos conhecem o poder e a riqueza que eu tenho. Isso me tornou famoso no mundo inteiro! E eu quero saber de você. O que o tornou famoso aqui no Japão? Todos falam de Nain, o Mestre Zen. O que fez de você alguém tão famoso? Você não tem o poder e a riqueza que eu tenho, e sou eu que estou vindo a você lhe fazer uma pergunta, e não o contrário. O que lhe deu tanta fama?”.
Nain olhou para o imperador e disse: “Quando vou à floresta, eu corto lenha e trago para casa.” Havia um pequeno poço e ele apontou para o poço e disse: “Quando eu preciso de água, eu vou àquele poço e tiro água dali, e coloco dentro de casa.” Naquele momento, o imperador, olhando para ele, disse: “E daí? E daí?” E Nain respondeu para o imperador: “Eu corto lenha e trago para casa. Eu tiro água do poço e coloco dentro de casa”. O imperador disse: “E é só isso?”. E Nain respondeu: “Sim”.
Naquele momento, o imperador ficou muito furioso! Ele disse: “Eu sou o imperador, eu viajei muitos dias para ouvir uma resposta como essa?” Nain continuou em silêncio. O imperador ficou mais furioso ainda! Ele voltou-se para Nain e gritou: “Eu sou o seu imperador! Eu vim aqui para um aconselhamento espiritual e é só isso o que você tem para me dizer?” Nain aguardou alguns segundos e respondeu para o imperador: “Esse é o conselho espiritual que dou a todos. É a única coisa que tenho a dizer. Quando alguns me procuram para descobrir a Paz, a Felicidade, a Liberdade, eu digo isso a eles.
"Eu levei anos para chegar nesse ponto, de apenas cortar lenha e trazer para casa, de ir ao poço e pegar água e colocar dentro de casa. Eu levei muitos anos porque, quando eu saía de casa, minha mente estava cheia de pensamentos. Durante todo o caminho até a floresta, muitos pensamentos se passavam dentro de mim, muitas preocupações, muitos desejos, muitos sentimentos, muitos conflitos havia aqui, até eu chegar aonde eu ia cortar lenha. Enquanto estava cortando lenha, os pensamentos estavam aqui, antecipando o futuro, preocupados com realizações futuras, com o que havia acontecido no passado… Havia uma multidão de pensamentos aqui! Então, eu voltava para casa. Enquanto carregava lenha, os pensamentos, as preocupações e os sentimentos ainda estavam aqui. Então, levei muitos anos para aprender a cortar lenha e trazer para casa. Quando eu ia ao poço pegar água, os pensamentos e os sentimentos estavam aqui. Em tudo o que eu me colocava para fazer, eu não estava presente. Os pensamentos estavam presentes, os sentimentos, as sensações, as percepções, e eu me confundia com isso o tempo inteiro. Eu acreditava que era isso tudo! Eu estava dormindo!
"Agora tudo está claro. Não há mais sonho, não há mais pensamentos, então, a única coisa que eu tenho para lhe dizer é que eu aprendi a cortar lenha, a tirar água do poço. Hoje, quando vou cortar lenha, eu apenas corto lenha; quando carrego lenha, apenas carrego a lenha; quando eu tiro água do poço, eu apenas tiro a água do poço; quando estou trazendo água do poço para casa, eu apenas estou trazendo água do poço para casa. Não há mais sonho, eu não estou mais dormindo! Então é isso o que digo para todos: ‘Aprenda a cortar lenha e a trazer água para casa’”.
Permaneça em seu Ser! Aqui a questão é essa! Isso é a Vida! Assim, ou você está na Vida, ou você está preso às identificações com a mente. Se você se identifica com a mente, com essa enorme quantidade de pensamentos, sentimentos, sensações, emoções, percepções, você vive num mundo de desejos, num mundo de medo, numa vida irreal, ilusória. Então, quando falamos de Realização, estamos falando da Constatação da Verdade sobre quem Você é. Isso é a Vida Real!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro na cidade de Campos do Jordão no Ramanashram Gualberto em Março de 2018 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

A chave para a Liberação

O seu trabalho na direção do Despertar começa exatamente aqui: pare de imaginar, de configurar, aí dentro, imagens sobre como estão, foram ou serão as coisas. O segundo passo é: acolha o mundo externo, em suas aparições, como ele é! Se está chovendo, isso é um fato! Não quer se molhar? Use um guarda-chuva! A chuva está lá fora, você precisa sair... abra um guarda-chuva e saia! Não faça dessa situação, desse acontecimento, desse mero incidente, uma calamidade pessoal. Não transforme isso num drama pessoal. Não construa a sua história em torno de uma chuva.
O ego está fazendo isso o tempo todo! Se não faz com a chuva, faz com outras coisas que estão acontecendo. O seu marido não levou o prato da mesa para a cozinha, e você já pediu isso dez vezes... Não, cem vezes! Mas, ele nunca atende! Isso é um fato! Ou ele tem um problema de audição, ou ele não está disposto a estar nesse jogo com você, atendendo ao seu desejo. Não faça disso um drama!
O trabalho do Despertar precisa ser percebido por você nas coisas mais simples, onde o sentido de um “eu” está sendo construído e sustentado. Mantendo-se ciente de si mesmo, de forma zelosa, aplicada, dedicada, sem se perder em imaginações, em pensamentos sobre os fatos, sobre os acontecimentos, você começa a perceber esse movimento intrincado, malicioso, capcioso e imaginário de uma identidade presente aí, fazendo dramas, tempestades em copo d’água!
Despertar é permanecer aqui, agora, neste “Eu sou”, sabendo que o que está acontecendo externamente ou se apresentando internamente não possui nenhuma realidade fora deste “Eu sou” e, por isso, não pode roubar sua atenção, não pode capturá-lo.
Qual é o significado do Despertar? Permanecer em seu Ser, de forma completa, total e irreversível. Isso como um fato, não como uma teoria verbal, não como uma filosofia advaita, não como uma crença. A única certeza é Aquilo que é Real, que está além das crenças, das opiniões e conclusões.
"Qual é o significado do Despertar? Permanecer em seu Ser, de forma completa, total e irreversível."
Só há este instante! Não tem nada a ver com o mundo externo. Quando digo “este instante”, não estou falando do que está acontecendo, porque o que está acontecendo já aconteceu. Percebe? Você está respirando? Não! Ou respirou ou vai respirar. Respirou? Já foi! Vai respirar? Não está aqui! Então, não está acontecendo uma coisa nem outra. Alguém está respirando? A respiração acontece, mas, como tudo que acontece, já foi! Não é isso?
Estou falando Daquilo que é imutável. Isso não acontece, não aconteceu... Olhe para a sua cabeça, que coisa curiosa: o pensamento aconteceu ou vai acontecer; não é imutável. O sentimento aconteceu ou vai acontecer; não é imutável.
O futuro, que a mente ama criar em sua imaginação, não é um fato, é uma crença, é só um pensamento. Não é imutável! A Realidade é Imutável! A única certeza é: “Eu sou”. Permaneça nisso! Trabalhe nessa direção! Não importa se você fracassar muitas vezes. Você já está há milhões de anos sem tentar uma única vez e já quer acertar na primeira? Você tem uma vida pela frente. Esse “Eu sou” é atemporal. Ele não acontece, não aconteceu e não vai acontecer. Já a sua vida é uma fraude! Eu falo dessa “vida” que o pensamento projeta, posicionando-se no tempo e no espaço.
Agora, tocamos em um aspecto fundamental, que é a chave para essa Liberação, para essa Realização, para Aquilo que chamei de Despertar. Essa chave é a Meditação!
Agora vocês sabem o que é Meditação. O prato não foi levado para a cozinha? Quem se importa? A quem isso fere, atinge, magoa, ofende, entristece, aborrece, deprime, angustia? Você não recebeu presente de Natal? A quem isso importa? Lembraram do seu aniversário? Aniversário de quem? A quem isso importa? Quem se importa de se sentir amado?
Em seu Ser, Você é Deus! O que está faltando para Deus? Que alguém leve o prato para a cozinha para Ele se sentir bem? Isso só acontece nessa ilusão, nessa flutuação de tempo psicológico, criado pelo pensamento. Não há tempo, não há passado, não há futuro, não há presente, não há pensamento, não há alguém! Isso é Meditação!
Você não pode se livrar do mundo do lado de fora, nem pode dar ordem a ele para que tudo aconteça como você quer. Não adianta tentar mandar a chuva parar. Pega o guarda-chuva e sai com ele! Não adianta tentar mudar o outro para se sentir preenchido, feliz, satisfeito, realizado… Tudo isso está no velho fundamento da mente egoica.
Por que os consultórios psiquiátricos estão cheios de pacientes? Responda para mim. Numa escala menor ou de maior expressão, onde a sua loucura se posiciona? Essa loucura está só na ilusão de que tem alguém aí, fora esse “Eu sou”.
Despertar é permanecer aqui e agora! Descubra em você mesmo o que mantém esse sentido de uma identidade presente neste momento. Isso está ocultando a Realidade. Não está destruindo a Realidade, porque Ela é intocável. Por mais miserável que você se sinta, por mais infeliz e problemático, isso não muda o fato de que esse “Eu sou” permanece além do corpo e da mente.
Você tem toda a energia necessária para esse Despertar. A chave está disponível! Contudo, você está desperdiçando essa energia o tempo todo, devaneando, pensando, imaginando, identificando-se com o corpo e suas satisfações, com o ambiente externo e seus acontecimentos, seus episódios, como se isso fosse mais importante que Você! Então, isso se torna, de fato, mais importante que Você! Quando isso acontece, você é miserável. Quando o outro, o mundo, as formas, as coisas, os pensamentos, os sentimentos e as imaginações são mais importantes que permanecer nesse olhar, nesse ouvir, nesse sentir, nesse experimentar, nesse vivenciar, sem se identificar com isso, você é miserável.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro na cidade de Campos do Jordão no Ramanashram Gualberto em Março de 2018 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O que é o Despertar?

Todos têm uma constatação em comum: a de estar aqui. Onde quer que você se encontre, você está aqui. Essa é a única certeza de todos, o ponto comum, algo indiscutível, inquestionável, que não entra em debate, não depende de opiniões e de crenças. Ninguém pode concordar ou discordar disso! Qualquer coisa experienciável, percebida, constatada ou sentida está dentro desta Realidade indiscutível e inquestionável: você está aqui!
A única coisa real, certa, é: “Eu sou”. Tudo gira em torno deste “Eu sou”. Todas as experiências, em todos os níveis, em todas as suas formas e expressões, aparecem neste “Eu sou”. Todo seu “sono” está acontecendo pelo fato de você ignorar isso, de não assumir a verdade disso. “Eu sou” permanece aqui, e tudo mais gira em torno Dele — todas as experiências, incidentes, acontecimentos, eventos, toda a história desse personagem. Os personagens são muitos! Eles são diferentes, cada um tem a sua individualidade, particularidade, mas este “Eu sou” não tem isso. Essa é a certeza!
Estou colocando pra você agora, diante dos seus olhos, essa chave. O que é o Despertar? O que significa Isso para você? Despertar significa permanecer em sua Natureza Verdadeira, de uma forma completa, única, definitiva e irreversível. Em outras palavras, significa não mais se confundir com aquilo que aparece em torno deste “Eu sou”.
Não se pode falar de Despertar por ter uma compreensão intelectual desse assunto. Enquanto não for completa e irreversível essa desidentificação com a mente egoica, com a crença desse “mim”, desse “alguém presente” na experiência, não haverá Despertar.
Despertar, como eu coloco dentro desta fala, é o final do sentido de separatividade. Toda experiência está fora desse “Eu sou”. As experiências do corpo e da mente aparecem Nele, mas não são Ele! O “Eu sou” está aqui, agora, independentemente do estado do corpo, da mente, dos acontecimentos do lado de fora, do que quer que esteja aparecendo. Eu sou aqui e agora! Esse “Eu sou aqui e agora” permanece destacado, acima de toda a ideia de um “eu” presente que experimentou algo no passado e que pode experimentar algo no futuro.
A mente egoica, isso que carrega o sentido de um “eu” e suas experiências, está em contato com o mundo externo dos objetos, das pessoas, dos lugares... Esteve ontem, está aqui hoje e estará amanhã. A mente egoica configura seu mundo externo e interno. Seu mundo externo está cheio de objetos, com os quais ela busca se preencher. Ela busca preenchimento físico, através do corpo; emocional, através dos sentimentos; intelectual, através das ideias; sensorial, através dos sentidos. Já internamente, ela busca preenchimento na imaginação.
Esse é um assunto bastante interessante de se investigar. Boa parte da sua vida transcorre na imaginação. A imagem que você tem de si mesmo está na imaginação, bem como tudo que essa imagem pode obter. Boa parte da sua vida mental — movimento de pensamentos acontecendo dentro da sua cabeça — funciona mantendo esse sentido do “eu”, que eu acabei de chamar de “mente egoica”. Isso está assentado na imaginação. A mente egoica não tem interesse no que Você é. É a natureza dela ser cega e insciente do que Você é. Você está aqui e agora, mas ela não. Ela está no passado ou no futuro ou nesse presente buscando o futuro ou o passado. Isso é imaginação!
Você passa a maior parte da sua vida descuidado desse “Eu sou”, perdido nessa identificação com a imaginação, internamente, e com as experiências dos objetos externos, através do corpo. Então, os sentidos, atraídos pelas cores, ficam a serviço da mente egoica. Esse movimento o distancia deste instante, no qual o “Eu sou” permanece completamente desidentificado, livre, pleno. Você em seu Ser está pleno! Na mente, ou você está no mundo imaginário, ou está na ilusão de um experimentador na experiência de um mundo externo.
Enquanto houver alguma chance de você se perder de Si mesmo, desse “Eu sou”, identificando-se com o pensamento, com o corpo, com a ideia “eu sou o corpo” ou “eu sou a mente”, não haverá Despertar. Não importa a quantidade de palavras que você conheça sobre Isso, a maestria de suas falas, a beleza de seus escritos, o poder de sua influência carismática, os nomes que dê aos seus encontros, o poder que você tenha de influenciar outros com a sua “sabedoria”, tudo isso será apenas conhecimento emprestado, meras teorias, meros conceitos.
Se seu interesse é descobrir o real significado do Despertar — que não é seu significado lexiológico, verbal, filosófico, místico, esotérico, advaita ou neoadvaita —, o significado vivencial Disso, que só se encontra em Seu Ser, em Sua Natureza Verdadeira, vá além da mente, de uma forma completa, total e irreversível. Desidentifique-se desse mundo interno de imaginações. Pare de imaginar! Permaneça aqui e agora!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro na cidade de Campos do Jordão no Ramanashram Gualberto em Março de 2019 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

O Show da Vida

Neste trabalho, estamos investigando o que sempre tem prevalecido: a noção de uma pessoa vivendo sua vida. São poucos que, nesse mundo, já conseguiram perceber o “grande show” e que, nele, a vida da pessoa é uma ilusão. Aquele que sabe isso está livre da ilusão, dessa escravidão, porque está livre da ignorância sobre o “show”. A pessoa ignorante toma o “show” como algo real e, assim, permanece escrava do corpo e da mente, vendo sempre um mundo bom ou mau.
Aqui, estamos dizendo a você que isso é completamente falso. A vida não é boa nem ruim, é apenas um “show”. Quando você se identifica com o “show”, porque se mantém ignorante sobre ele, essa noção do bem e do mal, do bom e do ruim, fica presente. Todos esses conceitos são imaginários. Na verdade, nessa pureza da Sacralidade, da Consciência, não existe dualidade, não há qualquer ilusão sobre o “show”, porque não existem conceitos. Na mente, você não tem o toque da Realidade, a sua experiência é do bem e do mal, da dualidade, da ilusão do “show”. É isso que acontece na mente, na ignorância.
A ignorância é uma ilusão da mente, a qual não conhece outra coisa a não ser essa ilusão. É a natureza dela! Enquanto a ilusão permanece, a dualidade e a ignorância sobre o “show” permanecem, então, a mente continua assumindo o lugar da Realidade. É o que acontece a você nessa visão particular do mundo. É como quando você olha para um lago calmo e vê refletido nele alguma imagem. Sobre a água calma, sem ondas, você vê uma imagem: o céu, uma árvore... Esse reflexo não pode ser a realidade.
O mundo que você vê não é real, é apenas um reflexo, assim como a imagem que você vê no lago. O Real está além, está fora dessa imagem. O real não está naquela água! Portanto, o real não está na mente, mas esse é o seu modo de ver o mundo, de ver a vida.
A Realidade é pura Consciência, fora da dualidade, além do “show”. O que estou dizendo é que o reflexo não tem existência alguma separado da realidade, ele não se separa da realidade para ter uma existência real. Assim, o mundo que você vê, percebe, sente, reflete, pensa, analisa, não é Real. O mundo que você conhece aparece dentro da dualidade, do bem e mal, do certo e errado e, nessa luta constante, nesse “contrastar”, temos o “show”.
Sua Natureza Verdadeira está além do mundo, então, a pessoa e o seu mundo não são reais. A mente tem se voltado para o “reflexo”, para o “show”, para a aparência, para a dualidade, e essa é a sua natureza: sustentar o “reflexo”. Com isso, você não pode ter lembrança do que é Real, porque tudo que se conhece, na mente, ainda é parte desse “show”, dessa dualidade. Essa é a razão do esquecimento do seu Verdadeiro Ser. Você lembra de si mesmo como a mente lembra de si própria, e ela faz isso com imagens. Você se lembra de si mesmo como sendo o corpo, com o sentido de um “eu” presente… Você se vê como uma pessoa.
"Sua Natureza Verdadeira está além do mundo, então, a pessoa e o seu mundo não são reais."
Assim, você está perdido! Quando se esquece de sua Natureza Essencial, você está perdido na imaginação, no “reflexo”, na aparição, na ilusão. Você se esqueceu de Si mesmo, não sabe quem é. Você está perdido e não compreende que esse “reflexo” não está separado do Ser e é apenas uma aparição. Enquanto isso se mantém, não há possibilidade da Felicidade. A ilusão é a sustentação da mentira e, nela, não há Deus. Sem Deus, não há Verdade e, então, não há Felicidade.
Quando você usa a expressão “eu estou aqui”, isso sustenta a dualidade, o sentido de separação, porque se “eu estou aqui”, o “mundo está do outro lado”. Se “eu estou aqui”, então “ele está lá” – aí está a separação. Você faz isso de uma forma muito mecânica, inconsciente e automática. É assim que a dualidade acontece.
Quando você pensa em si como pessoa, está tratando a si mesmo como um objeto, como mais um objeto de aparição no mundo. Dessa forma, você é um e o mundo é outro. Tudo que está fora do que você é, não pode ser o que você é, então, você se vê como um e o mundo como outro, você é um e tudo mais é outra coisa – aí está a dualidade. Nessa separação é que toda confusão e toda inconsciência sobre o “show” acontecem. Nela, a roda gira, a roda do sofrimento, da decepção, da frustração, do medo, do desejo, de toda confusão desse “nascer” e “morrer”. Não há Verdade, não há Liberdade, não há Sabedoria, não há Felicidade.
Portanto, esse sofrimento da separação, da dualidade, está presente porque você aceita esse conceito do “eu”. O “eu” sustenta a ilusão do mundo como um objeto separado e você nunca relaxa em seu Ser, está sempre no movimento da mente, que é essa confusão toda: contradição, conflito, dilemas, intermináveis problemas… Essa é sua ilusória vida, a vida da ilusória pessoa, em um mundo de dualidade, uma vida baseada na noção “eu estou aqui e o mundo está lá fora”.
Agora você sabe de onde vem o sentido de separação e que isso é o que sustenta esse “eu”, aquilo que você acredita ser. Isso é dualidade! Enquanto a dualidade estiver presente, o medo estará presente.
Autoinvestigação, Meditação e entrega: esse é o caminho direto e único para ir além dessa ilusão, além do sentido de dualidade, de separação, além da ilusão “eu estou aqui e o mundo está lá fora”. Por isso que a apreciação de Satsang é a única coisa inteligente. Ir além da história, do mundo, desse esquecimento, é a única coisa que importa. Só há Satsang para você! Tudo o mais é só mais uma coisa, enquanto você é uma outra.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 26 de Agosto de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas as 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

O Real Discernimento

Aqui, você está sempre ouvindo coisas que, a princípio, são desafiadoras para o modelo de pensamento ordinário. Estamos tratando de uma espécie de conhecimento que está fora do conceito comum, que é o Real Conhecimento, em que há o discernimento do Real Conhecedor. O conhecimento com o qual estamos envolvidos desde a infância é aquele que depende da memória. Em Satsang, tratamos de outro tipo de conhecimento, que é aquele que discerne o próprio Conhecedor — é o Conhecimento do discernimento da Natureza do Ser. Esse é o Conhecimento Real! Não é o conhecimento da memória, daquilo que é conhecido. Assim sendo, esse Conhecimento é a própria Substância do Conhecedor. Ramana dizia: “Conhecer Deus é ser Deus”.
Então, Autoconhecimento tem esse sentido: o próprio Conhecimento, que é o Discernimento Verdadeiro da Natureza do Eu, dessa Verdade sobre nós mesmos. A certeza da Autorrealização, ou do Autoconhecimento, é encontrada no fim da ilusão da identidade separada. Isso é a própria Substância desse Conhecimento, a Natureza desse Conhecimento Real. Assim, somente o Conhecimento Puro da Natureza da Consciência é o Real Autoconhecimento.
Essa Visão, que eu chamo de Visão da Realidade, está completamente além da ideia “eu sei” ou “eu não sei”, além do saber e do não saber. Estamos falando de algo que está além desse conhecimento ordinário. A Verdade sobre nós mesmos é inteiramente não objetiva e não subjetiva. Não existe nenhum conhecedor individual e nem nenhum objeto de conhecimento. Assim, Ela não é subjetiva nem objetiva.
Isso não é nada conceitual, embora esse uso de palavras possa parecer um jogo, como esses que os filósofos fazem. O que estamos colocando aqui não é nada filosófico, no sentido em que o intelecto emprega a palavra “filosofia”.
A Sabedoria não é determinada por nenhum estado psicológico ou sensorial, assim, não é determinada por nenhum estado corporal nem mental. A Natureza da Verdade, desse Real Conhecedor, é o próprio Conhecimento. Por isso eu tenho dito que você não pode estudar Isso. Isso não é um tópico, não é um tema, uma matéria para ser estudada. É algo de uma vivência direta e atemporal, que está fora do corpo e da mente. Isso pode ser profunda e solidamente realizado dentro desse processo chamado Satsang; é o que torna Isso possível.
A base do Satsang é a Autoinvestigação, que é Meditação. Portanto, Isso não pode ser estudado, mas pode ser investigado, e essa investigação é o que acontece nesse processo chamado Satsang, onde você se pergunta: “Para quem é o conhecimento ou a ignorância?”. O seu trabalho comigo é para que você encontre esse Discernimento – o Discernimento sobre a Verdade do Eu, a Verdadeira Natureza do Eu. Esse Conhecimento é capaz de discernir e apreender o significado do Próprio Conhecedor. É o Ser conhecendo a Si Mesmo.
"A base do Satsang é a Autoinvestigação, que é Meditação. Portanto, Isso não pode ser estudado, mas pode ser investigado, e essa investigação é o que acontece nesse processo chamado Satsang"
Então, quem poderia duvidar Disso? Ou quem poderia ter a certeza Disso? Para quem é a ignorância ou o conhecimento? Quem é aquele que poderia se destacar e dizer “eu sei”? Ou quem é aquele que poderia duvidar e dizer “eu não sei”? Haveria essa Consciência, que é esse Conhecedor, e outro, assim chamado “ego” ou “eu” individual?
Se aquele que hoje parece ser ignorante a respeito de seu próprio Ser investigar a natureza dessa ignorância, ele vai terminar descobrindo que não existe nenhuma ignorância e nenhum ignorante. Se ele se indagar sobre sua própria natureza, ele encontrará apenas uma coisa: a Verdade, que é o Puro Conhecimento, o final dessa ilusão do ignorante e da ignorância.
Aquilo que é chamado de Verdade, Deus ou Senhor é essa Realidade Misteriosa, que é conhecida diretamente como a Realidade do próprio Ser, do próprio Coração, por aqueles que mergulham profundamente na Autoinvestigação e Meditação. Esse é o testemunho de todos!
Para aquele que investiga a natureza da Verdade — o que significa examinar a questão: “Para quem é a ignorância? Quem sou eu?” —, Deus se revela como seu próprio Ser, como sua Própria Natureza não nascida, não criada, além de nascimento e morte.
Tal Conhecimento não nasce de palavras, nem de informações, nem de alguma forma de entendimento intelectual. Isso é realizado dentro do seu Ser, nessa investigação profunda. Como não existe um “segundo ser”, um “segundo eu”, um “ego”, uma “mente”, a única Verdade encontrada é esta presente aqui e agora. Percebam a beleza disso!
Esse Conhecimento não é posse de ninguém! Não há alguém para conhecer Isso, nem possuir. Curiosamente, não há ignorante, nem ignorância para um ignorante. Eu quero repetir isso: se aquele que parece ignorar sua própria Natureza, a Verdade sobre Si mesmo, investigar profundamente, descobrirá que a única Verdade é a Realidade Divina de seu Ser, Aquilo que Ele é! A isso os Sábios chamam de Liberação.
Liberação é o Conhecimento Puro, é a Verdade, é Deus, é o Senhor. Isso é também chamado de Presença ou Consciência. Isso é algo sempre presente, sempre presente... Essa Revelação, essa Compreensão ou esse Conhecimento está realmente sempre presente, sempre existente.
Talvez, você pergunte: “Mas por que isso é tão instável? Por que toda essa instabilidade da Verdade?”. Isso acontece em razão desses hábitos da mente, por ela estar sempre voltada para fora. São essas vasanas, essas tendências. A mente está sempre recorrendo ao seu mundo conhecido. As suas tendências estão nessa identificação com a ilusão, com a separação, com o medo, com o desejo... Isso representa toda essa instabilidade.
O Verdadeiro Conhecimento, a Verdade, é Algo que está além disso, bem além de tudo isso. A Verdade é de natureza atemporal, não faz parte desse mundo do medo, do desejo e da mente.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 25 de Setembro de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas as 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Você precisa descobrir por si mesmo


Aqui, o importante é você fazer suas descobertas. O que eu posso fazer é lhe dar algumas dicas do que, com certeza, você irá descobrir dentro desse processo de investigação. Essas dicas são, na verdade, revelações, e, quando você descobre por si mesmo, vê presente a confirmação dessa Realidade.
Uma coisa importante que eu posso lhe adiantar, dentro desse trabalho de descoberta, é que o pensamento não é o instrumento que você precisa. Ele não é o instrumento que vai poder ajudar você a viver em harmonia com a vida, porque, na verdade, o pensamento dentro de você é completamente caótico, contraditório e imaginativo.
Até agora você tem confiado muito no pensamento, de tal forma que sua vida se baseia quase totalmente nele. Sua confiança no pensamento é muito grande, o que explica porque todos esses problemas estão presentes em sua vida e, curiosamente, presentes no planeta. Então, você termina acreditando (e esse também é só um pensamento) que colocou o planeta em perigo. O planeta não está em perigo. Embora se tenha criado toda essa confusão, não é o planeta que está em perigo. Você está em perigo!
O pensamento é algo morto e ele não pode tocar a Realidade. Ele fala de um “eu”, de um espírito, de uma alma, de uma mente, de uma criação, de um Deus... O pensamento diz muitas coisas. Ele cria os problemas e depois vai em busca da solução para eles. As ideias que você tem sobre si mesmo, sobre o outro, o mundo, o planeta e a vida são apenas pensamentos contraditórios, imaginativos e problemáticos. Então, essa é uma descoberta que você precisa fazer: confiar em pensamentos é uma ilusão.
Por isso que continuo dizendo para você que o pensamento não é o instrumento que vai poder ajudá-lo. É ele que tem criado nossa cultura e sustenta essa velha estrutura filosófica, espiritual, política e tudo o mais. O que quero dizer é que o pensamento não pode tocar a Realidade, porque ele é o próprio afastamento Dela. Se você quer descobrir a Verdade, precisa estar fora do pensamento, além dele, e, assim, você estará além da imaginação, da contradição, das crenças, das ideias. Então, acontece o toque da Realidade Presente, que se mantém livre do pensamento.
Nós fomos ensinados que Deus criou o Universo. Se você admite a existência de Deus, o Ser que criou o Universo, então, não pode negar que Ele é algo anterior ao Universo, além do Universo, algo além do tempo e do espaço. Toda percepção que você tem de si mesmo e do mundo, baseada no pensamento, está dentro do tempo e do espaço, e, sendo assim, ela é incapaz de alcançar Aquilo que está além do tempo e do espaço. Se Deus é uma Realidade anterior a toda essa manifestação, tem que haver uma faculdade em você capaz de reconhecê-La, faculdade essa que precisa estar necessariamente fora do tempo e do espaço.
Há Algo em você além do tempo e do espaço, anterior à criação, e somente Isso pode visualizar a Verdade de Deus, a Verdade Divina. Somente essa Consciência, que é atemporal, não espacial, que está além do pensamento, do corpo, da mente e do mundo, pode visualizar a Verdade Divina, pode constatar a Verdade de Deus.
"Há Algo em você além do tempo e do espaço, anterior à criação, e somente Isso pode visualizar a Verdade de Deus, a Verdade Divina."
Então, nós temos que fazer uso dessa faculdade, dessa habilidade, dessa capacidade da Consciência. A Consciência é essa imutável Verdade que somos e esse é o Real Princípio do Ser, da Vida. Sem Isso, é impossível falarmos sobre Felicidade, Amor, Paz, Liberdade... é impossível falarmos sobre Compaixão e Sabedoria. Então, Satsang é um momento de constatação, de uma revelação. Estou lhe trazendo uma revelação, uma dica, uma informação que assume uma posição de Real Constatação, quando você Realiza Isso.
Portanto, antes dessa Compreensão da Verdade sobre Si Mesmo, da Realização, falar sobre Felicidade, Verdade, Amor, Deus, não tem realidade, são somente palavras, mais ideias, mais crenças, mais pensamentos. Quando você tenta visualizar a absoluta Realidade, Aquilo que é atemporal, através de conceitos, crenças, práticas espirituais e toda forma de estudo, você está apenas em mais uma ilusão. Mas, quando alcança ou constata essa Consciência, a Natureza do seu Ser, você tem essa visualização Daquilo que é atemporal, que é anterior a nomes e formas, anterior a toda manifestação, a todo o Universo.
Na Índia, eles chamam de “Realização de Deus” essa Realização da Verdade sobre Si mesmo. É quando todo senso de dualidade, de separação, é perdido, e fica claro que Você é esse Princípio, que há somente esse Princípio – Ele é a Única Realidade! É nessa Realidade que toda manifestação surge, todo o Universo surge, bem como toda a noção de tempo e espaço, com os pensamentos e ideias.
Porém, enquanto você estiver absorvido pela crença de ser o protagonista de seu mundo de história, por essa ideia de ser o personagem principal, essa pessoa importante em torno da qual toda história acontece, nada do que você acabou de ouvir aqui será possível. Esse é o antigo e velho modelo do sentido do “eu”, em dualidade, em separação, com seus desejos e medos, dilemas, conflitos, problemas.
Satsang é o final disso tudo! Essa Realidade que Você é, está além dessa história, desse conhecido e do desconhecido, além do passado, do futuro e do que você chama de presente momento. Ela é algo inominável, indescritível. Essa Consciência é a própria Verdade Nela mesma.
O que estou dizendo aqui para você pode parecer bastante estranho, porque você está condicionado a aceitar como sendo real toda essa história – a história desse personagem, desse “alguém”. No entanto, não existe “alguém” sem essa história. Sem ela, tudo que você conhece sobre si mesmo desaparece. Aquele que acredita em si mesmo como sendo uma “pessoa”, acredita em si mesmo como sendo o corpo e a mente, e faz isso porque ignora completamente o fator mais importante de sua existência, que é essa Consciência.
A experiência do Sábio nessa relação com o mundo, com o corpo, é completamente diferente. Ele vê tudo isso não como um objeto, mas como a própria Consciência, assumindo uma forma temporária, momentânea, que logo irá desaparecer. Então, enquanto o homem comum enfatiza os objetos, o Sábio enfatiza a Consciência. Assim, os pensamentos, bem como os sentimentos, não são problemas, porque a ênfase está na Consciência. Também, não são problemas as sensações, os sentidos, as percepções, os objetos, o mundo, o corpo… A ênfase sempre está na Consciência.
Os Sábios sabem que tudo é Consciência, então, não há nenhum problema. Não tem nada que se separe dessa Consciência! Não há espaço para medo, desejo, conflito, frustração. Não há espaço para isso tudo, porque não há divisão, separação, dualidade, e não há diferença entre a manifestação e a Consciência.
No entanto, o que você acabou de ouvir é algo que precisa ser constatado. Por isso eu disse no início que estou lhe dando uma dica de algo que você precisa descobrir por si mesmo. Somente então Isso será Real, Verdadeiro. Sem essa Verdade, você está apenas diante de palavras, novas crenças, novos conceitos, o que não serve para nada. Isso logo irá se tornar uma mundana interpretação da Verdade (e todos têm feito assim). Essa mundana interpretação da Verdade é o que as pessoas têm chamado de espiritualidade, que é uma forma de ignorância perfumada, bonita, louvável e prazerosa de se ouvir, mas que ainda continua sendo ignorância, uma ilusão.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 04 de Setembro de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas as 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Consciência é tudo

Sua visão do mundo não é a visão da Realidade, e isso é bastante interessante de se dizer, porque Você, em Si mesmo, é a própria Realidade. No entanto, a visão que você tem da vida e do mundo não é real. Esse assim chamado “mundo objetivo”, no qual aparentes objetos estão presentes e todos separados uns dos outros, é de fato apenas uma ilusão.
Estamos diante de uma projeção, mas a mente não é a causa disso, pois ela é apenas um fenômeno divino de percepção desse mundo, onde objetos com nomes e formas aparecem. Aquilo que sustenta isso tudo é a Realidade, que é essa Consciência, que é Você, mas não o que você entende como sendo “você” – isso é somente uma imaginação, mais uma criação da fantasia do pensamento. Observe como isso é bastante interessante, um material de autoinvestigação, averiguação, observação direta. É isso que fazemos em Satsang.
Do ponto de vista da Realidade, que é o ponto de vista do Sábio, não existe nada separado dessa Consciência. É Nela que tudo está, que tudo surge e, também, desaparece. Então, o seu desafio, dentro de um espaço de investigação como este, é abandonar suas conclusões, crenças, ideias.
Seus desejos, medos e sonhos, as suas frustrações, seus prazeres e dores estão dentro desse imaginário mundo que esse falso “eu” construiu. Quem é você, além de toda crença, certeza e incerteza, além de todo medo e desejo? Quem é você, além de qualquer dúvida, além do medo da morte? Há uma clara indicação de que você ainda pode encontrar a resposta para essa pergunta, e você está aqui para isso. Quem é você?
A beleza da Realização da Verdade sobre Si Mesmo é a Constatação de que não há nenhuma ilusão, ficção, equívoco ou erro. Essa é a única Realidade! Essa é a descoberta da Verdade de quem Você é! A perfeita Compreensão ou o direto Conhecimento de que nada está separado dessa Consciência é uma descoberta da Meditação, a única descoberta nessa Realização.
O seu mundo é uma ilusão! A Consciência é a única Realidade! Então, dentro da visão da Realidade de um Ser que se vê como Consciência, de um Ser Realizado, não existe nada separado Dele; não existe essa ilusão de “indivíduos” ou de “pessoas”. Esse foi o trabalho do meu Mestre... Ele me mostrou Isso.
Você toma o corpo como sendo você, a mente como sendo sua e o mundo como sendo real. Então, tudo isso parece ter uma existência separada, mas não é real. Essa não é a Verdade! Todos os problemas que você tem surgem dentro dessa perspectiva ilusória. Repare que o corpo aparece por um tempo e desaparece, e o que você chama de mente, ou percepção do mundo, é esse mecanismo que, também, aparece e desaparece. O mesmo acontece com o mundo que é percebido. Na verdade, isso acontece toda noite, que é quando você fica sem corpo, sem mente e sem mundo, pois, quando está em sono profundo, não há nada disso.
Os problemas surgem quando você se identifica com o corpo, com esse mecanismo que percebe o mundo, e você atribui isso a uma percepção pessoal, particular, a “sua” percepção. O problema surge quando o mundo passa a ser real, que é quando alguns objetos presentes nele são seus e outros não; alguns você tem e outros não; de alguns você quer se livrar e outros quer adquirir. Então, todos os problemas surgem quando a percepção do mundo, da mente e do corpo aparecem. Mas, se você vir essa ilusão, poderá permanecer em seu Ser, em sua Natureza Verdadeira, sem qualquer problema.
O fundamental problema é a ilusão de que você é o fazedor, o realizador, aquele que está no controle. Isso não é verdade! Você é um absoluto Nada! Mas, quando acredita que é alguma coisa, você está preso a esse problema fundamental, que é a autoignorância. Isso somente pode se dissolver pelo Autoconhecimento.
O que estou dizendo é que tudo, absolutamente tudo, inclusive você, sua percepção do mundo, da vida, é Nada! Que espécie de lógica é essa, não é? Tudo é Nada! Tudo o que você vê nessa aparente existência, para esse aparente “eu”, com essa aparente história importante, cheia de realizações, em que há um debate sem fim entre o bem e o mal, o certo e o errado, o que é e o que não é, uma luta constante, é apenas Nada!
Isso é como as ondas no oceano: elas são absolutamente nada! Não tem ondas, tem somente água! Não sei porque chamamos de ondas, pois aquilo é tudo água, não tem ondas ali! A percepção que você faz de si mesmo, do mundo, da vida, é Nada! Tudo isso é Pura Consciência, Pura Realidade, onde o ponto de vista de um mundo de objetos, de separação, de coisas, é um Nada. Então, as ondas não são ondas, são água. Elas não existem por si mesmas, nelas mesmas.
Assim, ondas e oceano não existem; existe somente água! Tudo é o Nada, que é a Consciência! A única Realidade é esse Nada, é essa Consciência. Tudo é Nada! Então, nada acontece, nada aconteceu e nada acontecerá. Nada é real ou irreal. Tudo está além da mente! O que você está ouvindo aqui está fora do contexto do pensamento, da imaginação, das ideias, das crenças. É algo que parece louco para você, não é? Você quer uma descrição da Suprema Realidade, da Verdade, Daquilo que está além da mente, mas tudo que a mente fabrica é parte da ilusão.
Quando você acorda pela manhã e se lembra do sonho que teve à noite, você não diz que aquilo era real. Você sabe que não era real! Quando acorda de manhã, você diz: “Aquilo era nada!” Quando está sonhando, você vê todo aquele cenário, todas aquelas pessoas, incluindo a si mesmo, naquela experiência do sonho. Enquanto o sonho está acontecendo, aquilo é tão real que, se um personagem do sonho chegar até você e disser “isso é um sonho”, você vai rir da cara dele, porque aquilo é muito real! Você não vai acreditar em alguém no seu sonho dizendo “isso aqui é um sonho”. Você vai achar que ele está louco, com algum problema.
Você acredita piamente na realidade do seu mundo enquanto o sonho está acontecendo. Você acredita nas pessoas ali, nas situações, naquelas experiências... Aquilo é tudo real! Se o sonho continua, tudo aquilo continua sendo real. Se você acorda, diz: “Era somente um sonho”.
A Realização é algo assim. Do ponto de vista daquele que está em seu Ser, vivendo em sua Natureza Essencial, o “seu mundo” não tem nenhuma realidade, porque ele está Acordado, enquanto você está sonhando. Dentro do seu sonho, isso é muito real – a sua esposa morreu, o seu filho fugiu de casa, a sua filha foi embora com o namorado, você tem 5 netos... As coisas não são, nunca, o que parecem ser! Essa noção de que você é alguém vivendo essa vida, sendo casado, solteiro, viúvo, e assim por diante, toda essa noção de vida é uma ilusão, porque as coisas não são o que parecem ser.
O que É não parece, nunca, ser qualquer coisa, pois O que É permanece sem aparência. Aquele que sabe Isso é um Soberano, um Rei. Ramana viveu sua vida numa montanha, na montanha de Arunachala. Ali estava um Rei vivendo em cavernas. Ele não estava em um palácio, não tinha uma sala real e um trono, não tinha súditos, nem tinha um grande exército e um grande reino. Ele era somente um Rei vivendo em uma montanha, em cavernas.
Aquele que não sabe Isso permanece como um escravo, mas Aquele que sabe é um Rei! Você pode ser um escravo vivendo em um palácio, com todo tipo de riqueza, conforto, prestígio, fama, nome, reconhecimento público, ou você pode ser um Rei vivendo em uma caverna. Aquele que se confunde com o corpo e com as histórias que a mente constrói (e ela constrói muita história), que se identifica com esse sonho da vida, do mundo, e o vê como sendo sua realidade, é um escravo.
Para o Sábio, não existe uma vida ruim ou uma vida boa, um mundo ruim ou um mundo bom. Para o Sábio não há mundo! Ele é um Rei e, onde quer que ele se encontre, o seu Reino está. Consciência é Tudo, é a única Realidade, e esse Tudo é o Nada. Então, esses conceitos de bem e mal não são nada além de imaginações. Do ponto de vista da Realidade, está tudo no lugar. A mente sempre toma tudo que parece acontecer como sendo a realidade, mas, quando você Realiza o Ser, Acorda, o “seu mundo” se vai, “sua história” se vai, a “pessoa” se vai. Tudo é Nada!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 23 de Agosto de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas as 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

A arte da meditação é a arte da Inteligência

Satsang é um convite à Vida Consciente, à Vida Inteligente, livre de toda confusão. Na mente, a experiência de vida que você conhece é de confusão. Em algum aspecto de sua vida, em alguma área, você está em confusão, que é fruto da não claridade. Quando não há claridade, a árvore presente produz confusão — essa é a árvore da inconsciência. O real Reconhecimento de sua Natureza Verdadeira, de sua Natureza Divina, é o Despertar dessa Inteligência, dessa Vida Inteligente, e é sobre isso que tratamos em Satsang. Alguns chamam essa Vida Inteligente, que está livre da confusão e do sofrimento, de Iluminação ou Despertar.
As palavras sobre Isso não têm muita importância, mas a vivência direta, sim! Saber diretamente do que Isso se trata, isso sim é importante! Você pode aprender muito sobre a teoria e, de forma prática, estar bem longe da vivência. Então, a confusão, a ilusão e a ignorância continuam. Não há Inteligência!
A Inteligência é resultado do Estado Natural de Meditação. Não é uma coisa que você aprende com seus pais quando nasce. Os pais podem ensinar muitas coisas, inclusive o modelo de vida deles, mas não podem ensinar a Arte da Meditação, que é a Arte da Inteligência. Quando a Meditação floresce, a Inteligência assume todo o espaço. Quando há Inteligência, não há confusão, não há desordem, não há sofrimento.
A Inteligência é o florescer da Consciência, que é a Fonte de toda manifestação, de todas as aparições. Assim, fica muito simples e natural lidar com qualquer expressão da Vida. Aqui, eu não uso a palavra “desafio”, mas sim o termo “expressão da Vida”. Aquele que respira essa atmosfera natural da Arte da Meditação vive nessa Inteligência, que é Consciência, e para ele não há problema. Os problemas desaparecem, porque os desafios desaparecem. A vida não é desafiadora, ela é misteriosa – essa é a visão do Sábio, do homem Inteligente.
O homem Inteligente não é um homem de inteligência, mas aquele que está livre do sentido de separação. Então, esse é o homem da Consciência, é a própria Consciência em expressão nessa forma de homem. Sua Real Natureza é Consciência e isso é pura Inteligência. Portanto, não falo do homem comum e inteligente, mas daquele que está livre da mente: o Sábio. Essa é a Consciência em sua expressão de Inteligência e isso só é possível no Estado Natural de Meditação.
Você não aprende isso com seus pais, com a sociedade ou acompanhando a política nacional. Essa Consciência, que é a Real Inteligência, está fora dessa cultura, dessa sociedade, desse modelo de mundo que você conhece. O que estou dizendo é que você, em seu Ser, em seu Natural Estado de Pura Consciência, é Inteligência e nenhuma sociedade, nenhuma cultura ou educação pode lhe dar Isso. Essa Arte é algo que você descobre dentro de si mesmo.
Esse espaço chama-se Satsang: o encontro com a Verdade. Nele, é possível esse florescer, esse descobrimento, essa visão clara da Vida como Ela se mostra, como Ela se apresenta. Então, Ela aparece como um grande jogo. Quando há esse reconhecimento de sua Verdadeira Natureza Divina, a Vida é esse Mistério e não esse “desafio” que a mente conhece. Um Mistério de grande Beleza, Silêncio, Graça, algo indescritível! Mas, quando você não sabe que o jogo é assim, é muito complicado, muito difícil, porque você acredita poder jogá-lo, você acredita que está no controle. Então, você toma todos os papéis que se apresentam, todas as demonstrações da Vida, dessa Manifestação Misteriosa, de uma forma muito séria. É quando surgem os dramas, as perplexidades, as adversidades, as dificuldades, a confusão.
Estar em Satsang significa estar vulnerável, aberto ao florescer dessa Arte da Inteligência, que é Meditação, Consciência. Apenas Isso pode lhe mostrar todo esse jogo. Então, você descobre que Você é o próprio jogo, que ele não é algo separado do que Você é. Você é a pura Consciência se expressando em toda manifestação! Não há nenhuma existência separada de Você!
Quando você descobre que a sua Real Natureza está além do próprio jogo e que ele é Você, sem qualquer separação, você vai além do pensamento, de toda essa história conceitual, imaginária, que acontece ao corpo – uma história que fala de nascimento, família, profissão e tudo mais. Agora, você não encara isso de uma forma tão séria, está profundamente relaxado em sua Natureza Essencial, porque o jogo é seu, não há o que temer.
Essa identificação com o “eu” ou esse “psicológico senso de ser” é meramente uma aparência nessa Consciência, somente uma imagem. Perceba a beleza da Verdade implícita nessas palavras, a beleza de uma fala tão simples e direta a respeito do que é todo esse jogo. Isso é Iluminação: descansar na Vida como Ela é, sem resistência, sem luta, sem briga, sem confusão, sem desejos. Lembre-se disso: Você é Consciência!
Você está identificado com a história de um personagem chamado João, Maria, José... Isso é só um nome! Uma particular identidade imaginária! Isso não é você! Mesmo a vida espiritual está baseada na presunção de que você está aí, de que há uma individualidade dentro de você. Um corpo e um rosto aparecem, você os vê todos os dias pela manhã no espelho, e, então, acha que eles são seus, que isso é você. Você acha que é uma pessoa atrás dos olhos que olham para o espelho. Isso não é verdade, não é real!
Toda a busca, todos os métodos e práticas que vocês aprenderam, tudo que andaram fazendo, até hoje, nessa procura da espiritualidade, ainda fazem parte dessa ilusão. Você é o Senhor, o jogo é seu! Quando eu digo que o jogo é seu, estou dizendo que você está além do jogo. Mas, você está confiando demais nele, está tentando mudar, alterar, consertar, aperfeiçoar, através dessa busca pela espiritualidade. Você tenta se qualificar, se preparar tecnicamente para encontrar isso através de práticas espirituais.
Contudo, Meditação não é uma prática! Meditação é a descoberta de algo presente como Consciência, Isso que Você já é! Ninguém pode lhe ensinar o que é Meditação, mas, em Satsang, é possível o Despertar desse já Natural Estado de Consciência, que é Meditação. Essa é uma ação da Graça, essa foi uma ação do meu Mestre, do meu Guru. Eu não fiz nada! Eu só atrapalhei por um tempo. Todos vocês são muito bons nisso, em atrapalhar, só porque acreditam que estão aí para fazer alguma coisa.
"Meditação não é uma prática! Meditação é a descoberta de algo presente como Consciência, Isso que Você já é! Ninguém pode lhe ensinar o que é Meditação, mas, em Satsang, é possível o Despertar desse já Natural Estado de Consciência, que é Meditação."
Então, a pessoa se senta na posição de lótus, visualiza uma bola azul, cheia de luz, respira, imagina um sol no peito, ou uma flor de lótus no alto da cabeça, com milhares de pétalas se abrindo... É tão engraçado isso! É o que a vida espiritual impõe para você alcançar o Divino.
Assim, você começa a praticar cerimônias, dietas alimentares, especial conduta sexual, uma briga para conseguir destruir, massacrar o ego, todo esse tipo de coisa. Você tem que se tornar vegetariano, celibatário, tem que praticar sexualidade tântrica, tem que fazer meditação transcendental, cantar muitos mantras, comer muitos legumes... Você tem o dia da união com a lua cheia, o dia da chama violeta, e por aí vai. Eu não consigo enumerar, porque são muitos sistemas, muitos métodos, muitas coisas. O ego adora praticar tudo isso, pois tem a sensação de que está indo para algum lugar, de que está progredindo, evoluindo, chegando perto de ver essa luz no alto da cabeça em forma de uma flor de mil pétalas… Tudo bobagem!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 29 de Julho de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas as 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Você já é isso

Tudo que nós precisamos já se encontra presente aqui. Não há nada que possamos construir ou realizar além Disso que já está presente.
O que, de fato, você precisa é olhar para Isso que Você é agora, para essa Verdade presente que Você traz, essa Verdade Divina que Você é.
Eu quero convidá-los a olhar para Isso. É algo muito simples, não requer nenhum esforço ou habilidade especial, porque é a Verdade que Você já é, agora mesmo, aqui, neste instante. Então, apenas relaxe em seu Ser. Observe os movimentos internos sem se confundir com eles. É algo tão simples assim...
Isso lhe permite a constatação dessa Verdade que Você é. Você já é Isso! Todo seu trabalho aqui é olhar para Isso que Você já é! A sua dificuldade é pelo fato de que você pensa em construir algo e não em constatar algo.
Você é Isso! Não esqueça! Olhe para Isso com atenção, dê seu coração a Isso, tudo por Isso! Isso é sua Real Vida, sua Real Liberdade, sua Real Felicidade. O único Amor Real da sua vida é a própria Vida Real.
Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial em Março de de 2012 – Acesse a nossa agenda e se programe para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

A Vida é um grande filme

A minha mensagem, em si, não é complicada, mas para a mente parece loucura. Estou dando àquilo que você considera “vida real” somente o crédito de uma aparição, uma ideia, um conceito, uma crença, um sonho. Isso pode parecer loucura para você.
Eu quero que você descubra uma verdadeira gratidão em vivenciar essa Realidade, sem todo esse peso que, na mente, você conhece. O estado da mente é muito confuso. Você precisa descobrir o que é a Real Vida! Quando eu falo “descobrir”, estou dizendo “maravilhar-se com Isso”, pois é impossível uma aproximação intelectual Disso.
Tudo tem sido complicado apenas porque você está vivendo o sonho da separação, no qual você é um indivíduo, que, aparentemente, está tomando decisões (vai ao shopping, decide o que comprar, com quem casar, onde morar, etc.). Nesse sonho de separação, como um indivíduo, você está fazendo escolhas todos os dias e decidindo quanto ao futuro. Você acredita, por exemplo, que escolheu entrar nessa sala hoje. Então, nesse sonho, você acredita que está escolhendo o seu caminho, fazendo tudo acontecer. Nessa sua história, você se vê como uma pessoa separada da Vida.
O que estou dizendo é que não há Compreensão Verdadeira. Enquanto essa crença de que você está criando tudo à sua volta estiver presente, não terá nenhuma maneira de você reconhecer a Verdade sobre Si mesmo, porque estará se confundindo com uma história imaginária, sustentada pelo pensamento, e, assim, não haverá Gratidão, Beleza, Paz... O que eu estou dizendo é que a Vida não é, realmente, como você acredita que Ela seja. Por isso eu comecei dizendo que, para a mente, o que eu digo é uma completa loucura. Você acredita que foi ali, buscou uma cadeira, sentou-se nela e, agora, diz: “Isso aconteceu naturalmente… Eu a coloquei ali”. Da mesma forma, você acredita que escolheu os seus filhos, seu marido, sua família... Pura ilusão! Mas, a mente nunca poderá ver isso, porque ela nunca se pergunta se isso é real.
Estou dizendo que a Vida é somente uma grande e extraordinária oferta, um oferecimento da Verdade! A respiração está acontecendo, o coração está batendo, o corpo está se movimentando, as decisões estão sendo tomadas, como essa de pegar a cadeira e se sentar nela, entrar nessa sala e ouvir essa fala. Essas decisões são tomadas da mesma forma que a respiração acontece e o coração bate, mas você não tem nenhum controle sobre isso. Do mesmo modo, os pensamentos aparecem em um determinado momento e depois desaparecem para dar lugar a novos pensamentos. Um dia, o coração e a respiração irão parar e esse corpo não estará mais aí, sobre essa cadeira. Isso, simplesmente, porque esse acontecimento não está sob o seu controle.
A Vida, como esse grande oferecimento, é soberana, não obedece regras. Eu vou repetir isso para você: um dia o coração irá parar, o sangue irá parar de circular no corpo, porque o coração parou de bater, e, depois, nenhum outro dia a mais lhe será garantido. As sensações no corpo, como o som que você escuta, o calor, o frio, os pensamentos chegando e desaparecendo, tudo isso é a manifestação dessa oferta Divina, é pura Graça, nessa não separação, nessa Verdade única.
Este trabalho, em Satsang, lhe apresenta a possibilidade dessa Liberação, ou qualquer nome que você queira dar para Isso, que é a Compreensão do óbvio, a Compreensão direta do Natural. Toda essa sua luta, conflitos e problemas estão dentro dessa imaginação da não aceitação Daquilo que é óbvio, simples, claro e extraordinariamente maravilhoso. Eu falo da Vida nessa Clareza, nessa Compreensão Inteligente. Percebam que, naturalmente, a mente irá rejeitar Isso, porque Isso é o fim da história, do controle e do futuro dela; é o fim da busca, ou seja, é o fim dela, portanto, é algo semelhante a uma morte. Vocês aqui na sala estão atraídos profundamente por Isso, mas há algo dentro de vocês resistindo. A mente estará sempre dizendo: “Não! Não pode ser isso! Eu quero mais! Eu coloquei essa cadeira aqui! Eu construí tudo isso, tenho feito tudo isso! Eu estou construindo o meu futuro!”.
Quando eu falo da extraordinária e maravilhosa Vida, estou dizendo que Ela é Natural. O problema com a busca, seja material ou espiritual, é que ela está sempre rejeitando a Verdade dessa maravilha, daquilo que está presente, porque a mente está sempre construindo uma história imaginária sobre Aquilo que é tão simples e verdadeiro, tão simples e real.
Seu interesse está nas histórias que a mente pode construir, não na Vida como Ela se apresenta aqui e agora, então, há esse constante medo, esse incessante investimento em idealismos, em imaginações. Parece que os adultos se movem de forma mais dogmática nesse terreno, mais do que as crianças, pois estas parecem estar aprendendo, ainda, a serem miseráveis, ao passo que os adultos já têm bastante prática nisso. Quanto mais nova a criança, mais inocente é, maior é a sua simplicidade. Quando você olha para os olhos de uma criança bem pequena, ainda pode ver a beleza do senso de percepção dessa Maravilha, da aceitação da Vida como Ela é, mas logo ela aprende todo o truque e fica tão prática quanto os adultos, tão dogmáticas quanto os mais velhos.
Satsang é o encontro com essa Simplicidade, essa Naturalidade, com a Maravilha dessa grande Oferta, que é a Vida. Então, Isso aqui não se trata de uma aquisição, do alcance de um objetivo por meio de alguma forma de prática espiritual, mas, sim, do fim da ilusão desse sonho, dessa imaginação, desse sentido de separação.
Existem muitos livros espirituais que tratam sobre como mudar a sua vida. Eles dizem: “Mude sua atitude! Mude seus procedimentos! Mude seus pensamentos! Organize-se e faça um programa de realização para os próximos 5 anos!” Esses livros ensinam você a lidar melhor com as pessoas com quem se relaciona, com a família, com os filhos, com o mundo à sua volta, mas, na verdade, não tem nada acontecendo. Imagine que você vai dormir essa noite e, de repente, tem um sonho, no qual todo tipo de coisa acontece, e logo pela manhã você acorda e vê que nada daquilo foi real ─ aqui é a mesma coisa!
É como assistir a um filme tentando mudar a história, o desenrolar da trama. O fato é que você está apenas assistindo a um filme, enquanto a mente está tentando mudar o curso daquilo que foi traçado para ele, que já está determinado. Assim, você esquece que é somente um espectador e passa a acreditar que está controlando alguma coisa, mas, de fato, está apenas assistindo. Então, quando você se torna cônscio da Verdade sobre Si mesmo, o seu passado e o seu futuro desaparecem, exatamente como desaparece a importância da conclusão do filme. Nessa Consciência, qualquer conclusão está perfeita, porque tudo é apenas um filme. Eu gosto de assistir a filmes... Eles são iguais ao que você chama de “vida real”. É apenas isso: a Vida é um grande filme, o maior e mais espetacular de todos os filmes!
O filme, em si, não é o problema, é somente uma brincadeira, uma diversão, uma forma de apresentação dessa Oferta, desse Presente, uma manifestação Divina. Quando você sabe que isso aqui e agora, nesse formato, é somente uma forma de manifestação dessa Consciência, nada mais pode feri-lo! Tanto as cenas terríveis quanto às pacíficas não podem mais afetar você! Então, toda essa noção de tempo e espaço perde a importância.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 21 de Junho de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas as 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

A Realidade Essencial

É sempre uma alegria estarmos juntos. O que eu considero importante aqui não são as palavras, mas o fato de sua Própria Presença. Não é a presença de uma pessoa, de um participante, em uma sala onde pessoas se encontram, mas é a própria Presença da Realidade.
Agora mesmo você existe e está consciente. Essa é a coisa importante! Sem ter qualquer pensamento você está absolutamente certo do seu Ser. Você está certo de estar consciente. Essa é a essencial Realidade para qual nós estamos apontando nesses encontros. Apenas isso! Essa é a Realidade Essencial: Consciência. Todos os Sábios de todos os tempos, todos os Budas trataram exatamente disso, apenas disso. Esse é o centro, a essência da mensagem de Buda, de Ramana, Jesus, de todos eles.
Em Satsang, nós estamos tratando dessa Consciência, que é Presença. Essa é a única Realidade, assim sendo é a única “coisa” que importa. Você não pode obter nem pode perder Isso! Essa Consciência não é um objeto, não é um pensamento, não é uma ideia. Talvez eu diga agora uma coisa que, intelectualmente, pode parecer difícil de acompanhar, mas essa Consciência é real apesar de você. Não importa se seu estado é de “sono”, de “sonho”, de imaginação, de identificação com pensamentos, Ela continua sendo a única Realidade, Aquilo que Você é em seu Ser.
O estado comum do ser humano é o de “sono”. Ele nasce, cresce, casa, constitui família, fica velho, adoece e morre. Tudo isso acontece enquanto ele está “dormindo”, mas, mesmo assim, essa Realidade permanece sempre presente. Então, o que você chama de “vida” é apenas um estado de “sonho” da mente, com o qual você se identifica e experiencia o mundo. Na realidade, esse seu mundo, o mundo de quem sonha, está dentro da sua própria mente. Entretanto, essa Consciência que Você é, está além de tudo isso, e Ela é íntegra, total, completa, agora, aqui mesmo. Você é anterior à mente. Sua Natureza Verdadeira é a única Realidade e a única “coisa” que importa.
"Você existe anterior à mente. Sua Natureza Verdadeira é a única Realidade e a única 'coisa' que importa."
As pessoas se envolvem com todo tipo de práticas espirituais e exercícios religiosos, e, assim, adquirem habilidades fantásticas nesse assim chamado “mundo espiritual”. Isso dá a elas bastante poder. Elas se tornam pessoas “diferenciadas”, “especiais”, mas o que está por trás disso tudo ainda é o movimento do “sonho”, o movimento da mente egoica. Isso não tem absolutamente nada a ver com a proposta do Sábio, Daquele que está livre, vivendo em Sua Natureza Verdadeira. Eu sei que ouvir isso choca alguns de vocês que estão aqui na sala, pois, há muitos anos, vêm adquirindo habilidades nesse chamado “mundo espiritual”.
Satsang é uma proposta inteiramente diferente disso tudo, não tem nada a ver com o resultado de fantásticas habilidades no mundo da espiritualidade. Um homem Realizado não é um ser espiritual, ele é apenas um Ser Natural. As pessoas acreditam que o contato com o Divino é o contato com a espiritualidade, mas o contato com o Divino é o contato com a Realidade. A Realidade é o natural, não torna ninguém especial. O Estado Natural é o fim do sentido de uma identidade presente nessa experiência chamada “vida humana”, é o fim do ego, e por isso não pode fazer de você um ser especial.
A mais profunda compreensão é a simplicidade de sua Natureza Verdadeira, é o reconhecimento dessa Presença-Consciência que Você é. Não se trata de encontrar algo, através de habilidades fantásticas, no chamado “mundo espiritual”, mas, sim, de reconhecer apenas a Realidade do seu próprio Lar, a sua própria Natureza Verdadeira. Quando Isso está presente, a imaginação desaparece, e, então, a imaginada “pessoa” desaparece do “filme”, do “sonho”, dessa “vida”. Repare: eu não disse que o “sonho” ou o “filme” desaparecem; o “filme” continua, mas não há mais a “pessoa”. Assim, existem pensamentos, mas não há mais o “pensador”; ações, mas não o “autor”; escolhas, mas não “aquele que escolhe”.
Então, basicamente não existe nenhuma diferença, exceto essa: não há mais o sentido da “pessoa”, do “personagem no filme”. Não há mais o sentido de separação, isso se foi, e é claro que, quando isso se vai, não fica “alguém” para, psicologicamente, sofrer, temer, invejar, controlar e assim por diante. Repare que isso não faz de você alguém especial; é apenas a constatação de que Você está Livre, vivendo em sua Natureza Real, sem conflito, sofrimento, medo, e sem a ilusão de estar controlando, fazendo. Você é Pura Consciência!
Quando você olha para o mar, não dá para imaginar que ele se preocupa com as suas ondas. Alguém dentro de um pequeno barco com o leme quebrado, ou com o motor de popa em pane, perdido no meio do mar, ao sabor do vento e da forte tempestade, com ondas enormes subindo e descendo, se preocupa com as ondas, mas o mar não se preocupa com as suas próprias ondas.
Você como Consciência, ciente de Si Mesmo, de sua Natureza Verdadeira, é o Mar Real. Na ilusão do sentido de separação, você é apenas um barco quebrado no meio do oceano, debaixo de uma forte tempestade, sob fortes ventos, chuva e diante de um mar revolto. Essa é a ilusão do seu “sonho”! Nesse mar, que é a existência, “você”, como uma entidade separada, se sente assim: com medo, perdido. Esse mar, no qual você está perdido, está dentro de sua imaginação. No Mar Real, Você não está separado das ondas; Você é essas ondas e elas são o Mar. Portanto, o Mar é Você! Na Consciência, não existe o sentido de separação, e, portanto, não existe nada como um “pequeno barco perdido”.
No seu mundo imaginário, sua vida gira em torno de crenças, conceitos, ideias, pensamentos, histórias, de um passado que você acredita ter vivido e de um futuro que acredita que viverá ou teme que ele não aconteça ou, ainda, que ele aconteça de forma diferente do imaginado. Tudo isso está dentro do seu imaginário mundo mental, no qual você é um pequeno barquinho perdido nesse oceano da existência – uma existência imaginária, para um pequeno barco imaginário. Esse é o sentido de separação, a ilusão de um falso “eu”.
Você não pode resolver isso! Eu tenho dito que é um labirinto no qual você não entrou, porque não tem porta, e, portanto, também não tem saída. Os Sábios chineses e japoneses, no Zen, usam Koans, que são perguntas ou enigmas impossíveis de serem respondidos ou desvendados. Então, repare: eu falei com você agora, aqui, que essa Realização não é algo especial, é algo Natural, mas em nenhum momento disse que é algo comum, ordinário, algo que a mente possa acessar. Isso é “algo” além da mente, além das práticas religiosas, espirituais, além de toda forma de “ginástica”.
Você não pode encontrar, na mente, nenhuma resposta para Isso de que estamos falando aqui, que é “algo” Natural, simples, mas não é ordinário, nem fácil. Você pode juntar uma grande quantidade de informações, ler todos os livros que já foram escritos sobre a Autorrealização, o Despertar, a Iluminação, o Acordar, pode assistir a todos os vídeos atuais dos, assim chamados, “gurus”, falando sobre Isso, pode ouvir todas as falas, inclusive essa aqui e outras parecidas, porém, nada disso o tornará Livre. Também, nenhuma técnica, prática, disciplina ou exercício poderá ajudar.
Há somente uma forma, um caminho direto, que não é um caminho fácil, mas é o mais natural e simples: Consciência. É preciso ter atenção ao movimento desse seu mundo subjetivo, psicológico. Momento a momento, você precisa ver a si mesmo, tomar ciência de si mesmo, daquilo que se passa aí dentro, de quais são os seus pensamentos, suas sensações, percepções, emoções, imaginações, crenças, medos, desejos… Você precisa ficar ciente de sua história e se desidentificar dela. Em outras palavras, você tem que ter consciência desse personagem com o qual você está se identificando, mas que não é Você.
Então, o único caminho direto é essa investigação de si próprio nessa Consciência, que é Meditação, e nessa entrega, que é soltar tudo isso. Você só acorda do sonho quando toma ciência de que não vale a pena continuar dormindo. Para a grande maioria, as coisas estão bem, confortáveis. Se você está aqui em Satsang, algo já o está incomodando nesse modelo de “sonho” ou, de outra forma, você não estaria aqui, porque a grande maioria tem bons amigos, uma bela família, um futuro brilhante pela frente, já realizou seus objetivos ou acredita que poderá realizá-los no futuro.
Na verdade, o sonho não é bem o problema, mas não estar ciente de que é apenas um sonho, sim. Então, o que falta é Consciência, e Ela vem da autoinvestigação. O que estamos fazendo juntos é vendo a ilusão desse personagem que tem um nome, uma forma, uma história e um mundo de relações. Essa autoinvestigação reforça em você essa sensação de inadequação, fazendo-o suspeitar dessa condição de estado de “sonho”, no qual você vive. Quando isso se define, o trabalho real do Despertar tem início; é o que estamos fazendo em todos os nossos encontros.
Sua família, seus amigos e toda a sociedade estão “dormindo”. Quando você começa a desconfiar desse “sonho”, está se aproximando da possibilidade de parar de sonhar. Se você para de sonhar, o “sonho” continua, mas não mais para você. Assim, em seu Estado Natural, o mundo é visto como um filme em 3D, um grande filme de ideias, de pensamentos, o qual, agora, já não pode mais capturar você.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 22 de Julho de 2019 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas as 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar acesse o link: http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online

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