quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Como ser livre?

Participante: Como posso me libertar desse peso de estar de um lado ou de outro, levantando bandeiras, defendendo causas e brigando por elas?
Mestre Gualberto: O mundo surge a partir do “eu”, mas onde está esse “eu”? A Realidade do mundo está oculta por essa ilusão do “eu”, que cria o “seu mundo”, no qual tem que haver divisões. No “seu mundo” as ideias são importantes, são a base dos projetos, das ideologias, das crenças ‒ aí está o mundo que o “eu” conhece. A confiança no “eu” dá a você uma falsa visão da Verdade. A Verdade é o que aparece, porém, a visão falsa é a interpretação disso que está aparecendo. Essa interpretação, visão falsa, é criada por pensamentos, que lhe dão uma distorcida visão da Realidade; e quem tem essa visão é o falso “eu”.
Como se livrar disso? Encontrando a Fonte do “eu”, investigando a natureza do “eu”. Se a sua pergunta é “como ser livre?”, você só tem uma coisa a fazer: investigar a ilusão, olhá-la de perto. Você não vai construir o Ser, então, não tem como “ser algo”; não vai construir a Liberdade, então, não tem como “ser livre”. Ou seja, há somente como investigar a ilusão. Você tem que investigar a ilusão do “eu”, a qual é sustentada por conceitos, ideias, crenças.
Então, a partir de agora, não confie mais em nenhuma ideia, em nenhum pensamento, em nenhuma crença. Nenhuma! Sem pensamentos, será impossível você ter uma ideologia, uma opinião, julgamentos, comparações, ideias... Se você enxerga a ilusão, ela deixa de ser ilusão, porque ela para de enganar você.
Em outras palavras, seja inocente! Permaneça no “não saber”, pois é o saber que tem sustentado as ideologias. Somente o conhecido pode ser sustentado por argumentação, conclusões, ideias, crenças. O “não saber”, o desconhecido, não pode ter opiniões, ideias e crenças; não pode levantar bandeiras, porque não sabe o que é isso. Assim é o Sábio. Sua Real Natureza é esse Espaço imensurável do “não saber”; é esse Espaço do desconhecido, sem medidas.
“O que você defende?” Não sei. “Com o que você concorda?” Não sei. “Qual o clube que você mais ama?” Não consigo pensar sobre isso... Não sei. “Quem será o melhor?” Não faço a menor ideia.
O que há de complicado no “não sei”? Repare que toda complicação está exatamente em saber alguma coisa.
Você é como um panelão de sopa, e tem muita coisa sendo cozinhada dentro de você. Por maior que seja esse “panelão”, ele ainda é limitado, não é? Ele tem as suas dimensões, o seu conteúdo... Quando não há nenhum “panelão”, não há conteúdo, nem dimensão, e, então, Você é uma “coisa” imensurável, inalcançável, indizível, inominável... Você é Liberdade! Os seus olhos e ouvidos estão abertos, sua fala está solta, qualquer ideia que chega não pode capturá-lo, não vai aprisioná-lo; nenhuma imagem, som ou ideia aprisionarão você; nenhum pensamento, crença, conclusão, opinião, “bandeira”, comparação e julgamento irão aprisioná-lo.
Nesse Estado há uma receptividade; é um Estado de sensibilidade e de vulnerabilidade ao Divino, ao Imensurável, ao Desconhecido, a Deus. Assim, quem é o único? Deus! Quem é o primeiro? Deus! Quem é o último? Deus! Quem é? Deus! Quem não é? Deus! Há somente Ele e isso não é uma ideia. Aliás, Deus se mostra quando todas as ideias já não estão mais presentes.
"Deus se mostra quando todas as ideias já não estão mais presentes."
Foi dada a resposta, e agora? Você ainda vai “saltar” para capturar o próximo pensamento que surgir? A tentação será grande, porque você está viciado nisso, em dar existência a esse “panelão de sopa”, onde há uma confusão de coisas fervendo. Essas ideologias e “bandeiras” que você carrega são coisas tão volúveis, estreitas, medíocres, que a qualquer momento elas mudarão. Mesmo que leve anos, você acaba saindo de um lado e indo para um outro. Você pode até jurar convicção, mas isso se sustentará até a “barriga começar a doer”, até algo acontecer e “mudar a chave”.
Isso não é real, não há realidade em crenças, pois você vai mudar com elas e elas mudarão com você, que está perdido, “cozinhando” todas essas coisas dentro de si. Lembre-se de que eu disse que você é um “panelão”, o qual está assentado em cima do fogo da ilusão, que, por sua vez, cozinha toda essa confusão aí dentro. Então, você tem que investigar esse “fogo”, essa ilusão, e deixá-la cair por meio da observação.
Compreendem isso?
Assim, você nunca mais saltará sobre ideias e pensamentos, porque agora você está vendo que não vale a pena confiar neles.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Fortaleza em Agosto de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

Um comentário:

  1. A pergunta que fica é: o que não é maya, o que não é ilusão? Tudo é maya, tudo é ilusão. Nada é maya, nada é ilusão. TUDO É VIDA!
    Quem sou? O iludido? Na identificação com o aparente, sim.

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