quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Como ir além da prisão da mente?

Você nasce, passa uma vida de quarenta, sessenta, oitenta anos e morre. Esse é o problema! Você não sabe nada sobre si mesmo, sobre a vida, é um perdido. Um perdido é aquele que está na floresta, não sabe como e onde o “avião caiu”. Você está em uma floresta, andando em círculos, sem bússola, sem treinamento, sem recursos. Então, vem a tempestade, o sol, o calor, o frio, a fome, a sede... enquanto o corpo durar.
Se você não tem Consciência de Si mesmo, você é só alguém em uma floresta muito maior que você, muito mais severa, dura, impiedosa, com suas mudanças de clima, com os seus animais ferozes e insetos. Assim, você vive sem Realidade, sem Salvação, perdido.
É estranho ouvir isso, mas é real. Você não sabe que, na verdade, não está perdido, não está em uma floresta, não está passando por um pós-acidente aéreo; não sabe que está tudo no lugar. Até que saiba de verdade, você se sente assim: em uma floresta. Você, em sua Natureza Real, não está em uma floresta. Você é Deus, Inteligência, Consciência, Liberdade, Verdade. Mas, até que saiba, é assim que se sente: um ser humano. O amor, a paz, a liberdade e a felicidade que você encontra em objetos e pessoas são incompletos. Por quê? Porque você está se vendo fora de Si mesmo, está se vendo no mundo. Então, você está em um pós-acidente aéreo, está na floresta.
Participante: Nós encontramos muitos “mapas” falsos para chegar na paz, na liberdade. Nós o seguimos, mas não dá certo. Então, vivemos trocando de “mapa”.
Mestre: É porque são mapas imaginários. Você está em uma floresta com um mapa imaginário. A espiritualidade constrói mapas em suas diversas ramificações. Existem diversos caminhos dentro de mapas diferentes, todos indicando a “luz”: “Vá por aqui que você vai sair da ‘floresta’”. Mas, não é assim!
Como alguém que está dentro da floresta pode construir um mapa? Isso é como um prisioneiro, que está dentro da cela, falando sobre como sair da prisão. Ele está sonhando, imaginando, está em uma “viagem”; é um prisioneiro imaginando a liberdade. Para que ele saia dessa prisão, ele tem que ter ajuda externa, de alguém que já saiu de lá, alguém que conhece o caminho da fuga. Não é a imaginação da fuga, mas o caminho. Esse alguém está fora da prisão, então, pode ter um mapa. Ele tem autoridade para falar sobre como se livrar da prisão. Assim, só quem está fora da “floresta da mente” é que pode falar o que ela é, o que é a imaginação dessa “floresta”. Mas, precisa estar fora. Falar que a floresta é imaginária estando dentro dela, é como o preso, de dentro da cela, explicar como é lá fora e dizer: “Isso é só uma imaginação!”.
"Esse alguém está fora da prisão, então, pode ter um mapa. Ele tem autoridade para falar sobre como se livrar da prisão. Assim, só quem está fora da 'floresta da mente' é que pode falar o que ela é, o que é a imaginação dessa 'floresta'."
O seu momento é este! Há algo presente na Presença do Mestre, ou do Guru, como chamam na Índia. O Mestre é aquele que não está mais na “prisão”, na “floresta”. Isso é Real, não é imaginação. Existe, também, a imaginação de Mestre, de Guru, que é o “prisioneiro” falando sobre como sair da “prisão”. Se é um prisioneiro, não tem como falar sobre como sair da “prisão”. Você até pode, entre erros e acertos, aproximar-se de uma possível “fuga”, mas não é disso que estamos tratando.
Se você tiver a felicidade de se deparar com um Mestre vivo, com aquele que, de fato, saiu da “prisão”, aquele que, de fato, não está mais na “floresta”, na “mata”, perdido, então, você tem chance. Do contrário, está só em um looping, em uma “roda-gigante”.
Você sabe que a roda-gigante gira sem sair do lugar, não é? Lembra, quando você brincava no parque de diversões? Você pegava uma roda-gigante e parecia que sua cadeira passava sempre pelo mesmo lugar. Ela subia e descia... Você passava por uma árvore lá em cima, depois descia. Então, quando subia novamente: “Opa! A árvore voltou de novo”.
Então, estar nessa “viagem” da espiritualidade ou com um suposto “guru”, é algo perigoso: você pode estar só em um passeio de roda-gigante também. Mas, vamos supor que você tenha tido a felicidade de se encontrar com um Jivamukti (na Índia, eles chamam de “Jivamukti” aquele que está Livre em vida, ou seja, não está mais dentro da “floresta”, da “prisão”)... O meu Guru era um Jivamukti. Ele não me deu o “endereço”, ele me fez investigar, dizendo: “Olhe para dentro! Você tem que descobrir a Arte da Meditação!” Não é a prática da meditação, é a Arte da Meditação.
Hoje em dia, tem muita gente ensinando meditação. Mas, cada um ensina a meditação que desenhou dentro de sua “prisão”. Eu não estou falando de prática de meditação, estou falando da Arte da Meditação. Eu não vou dar uma técnica para você aprender a “pintar”, eu vou lhe mostrar como esse “artista” que “pinta” (e que está aí dentro) pode descobrir o seu caminho para criar as suas próprias obras. É assim que funciona. O Guru, o Mestre faz isso. Ele não lhe dá a “Coisa”, mas, curiosamente, lhe dá tudo. Ele lhe dá a facilidade para que você descubra Isso dentro de si. É a sua descoberta, então, não é falsa, não é a cópia da cópia da cópia... É Real! Você não está repetindo palavras de alguém, não está repetindo um livro que leu. Há tantos livros no mundo falando sobre Autorrealização! Você até deve ter lido alguns, mas não é disso que estamos falando aqui.
Todo esse conhecimento ainda é parte do “mapa” que se constrói ou que se desenha quando se está, ainda, perdido na “floresta”. Você tem que esquecer esses “mapas”. Você precisa esquecer tudo que já leu, estudou e aprendeu sobre Isso. Você precisa descobrir Isso aí dentro, como o Sábio fez. Então, assim como a flor, que na primavera se abre por si só, Isso floresce.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 04 de Julho de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Investigando a natureza da ilusão

O propósito, aqui, é ficarmos com uma base muito simples: não existe nenhuma “pessoa”. Tudo o que o meu Mestre me mostrou é o que eu compartilho com você dentro desses encontros. Ele me mostrou que todos os problemas de Marcos Gualberto eram imaginários e que buscar solução para eles era uma grande ilusão. É isso que nós tratamos com você, sempre, nesse espaço chamado Satsang.
Não há “pessoa”, então, não há problema. Assim, quando eu escuto a questão que você me traz, a “sua questão”, escuto a resposta também. A resposta para todas as questões está além da mente, porque é onde está o fim da ilusão da “pessoa”; onde não há “pessoa”, não há problema.
Certas questões estão na sua vida apenas como acontecimentos dentro dessa Divina Vontade. Tudo é somente a Vontade de Deus e não existe nenhuma “pessoa” envolvida nisso. Quando há a compreensão de que a resposta para todos os problemas está no fim da ilusão da “pessoa”, você não se preocupa mais em resolver nada, ou seja, não vai mais se preocupar em consertar o mundo. Então, tudo o que meu Mestre me mostrou foi que não havia nenhum Marcos Gualberto, com os seus imaginários problemas, e tive que entrar fundo nisso para me certificar dessa Verdade.
Portanto, o que você faz nesses encontros é descobrir que “você” não está aí! Isso é algo que, a princípio, soa muito louco, muito doido.
Meu Mestre me mostrou que a vida inteira acontece como um misterioso movimento de Deus. Há uma Realidade presente, que é essa Consciência impessoal. Ela permeia e está presente em tudo: na chamada “vida animada” e na matéria sem vida. Essa Consciência é a única Realidade presente em toda manifestação. Eu tinha que descobrir por mim mesmo a verdade Disso, além do corpo e da mente e das experiências de um “sujeito” chamado Marcos Gualberto.
Hoje, eu só apareço como um Mestre para aquele que quer investigar profundamente essa questão ‒ de que ele, ou ela, já é essa Consciência, essa Realidade, a Suprema Verdade. Na Índia, eles têm uma palavra para Isso, que está nas escrituras indianas: advaita ‒ a não separação, a não dualidade; há somente Um.
Estou citando isso, mas, no meu caso particular, eu nunca tinha ouvido tal palavra quando esta Compreensão chegou. Então, você não precisa ir aos livros, nem estudar a tradição, a cultura indiana. Essa é a Natureza do Ser e a constatação Disso é resultado de uma investigação e de uma rendição à Verdade. Nesse sentido, o que o Guru faz é apenas dizer: “Olhe para você. Vá além dessa identificação com o corpo, a mente e as experiências”. Então, vá além dessa ilusão da “pessoa” com os “seus problemas”.
"Nesse sentido, o que o Guru faz é apenas dizer: 'Olhe para você. Vá além dessa identificação com o corpo, a mente e as experiências'. Então, vá além dessa ilusão da 'pessoa' com os 'seus problemas'."
O Guru diz: “Você é essa Consciência, essa Realidade e a Vida é Isso”. Ele diz que você não é os pensamentos, os sentimentos, as emoções, as sensações, as percepções, a história; que suas relações estão todas baseadas em imagens criadas pelo pensamento. Você faz uma imagem de si mesmo e a imagem que você tem da vida está baseada nessa autoimagem. Assim, o que eu tenho para lhe dizer é que toda sua relação com o mundo está baseada na ilusão, na crença, nessa ideia de que “você” está aí como uma entidade separada.
Assusta ouvir isso?
Entre dois pensamentos, duas sensações, duas percepções sensoriais, essa Consciência permanece sem movimento, sem mudança. Há alguns momentos, na sua vida, em que o pensamento desaparece por completo; não há nenhum pensamento, no entanto, há uma Consciência presente que não tem história.
Eu gosto muito de exemplificar isso quando pergunto qual é a sua idade. Antes de perguntar isso, você não tinha nenhuma idade, não havia nenhuma identificação com o corpo. Mas, quando eu pergunto a sua idade, você acredita que está no corpo e vai buscar na memória quantos anos tem esse corpo. Nesse momento, você já entrou nessa contração da ilusão de uma entidade presente na experiência “eu sou o corpo”. Então, essa Consciência, que é sem cor, sem idade, sem nome, sem tempo, se contrai e se identifica dessa forma.
Ficou claro o exemplo?
Eu pergunto se você é mãe e lá vai você buscar uma criança. Porém, antes da pergunta, não havia nenhuma ideia de ser “mãe”. Essa Consciência está presente, sempre esteve, então, você permanece sem ser o nome, a história, o corpo, a “pessoa”, esse personagem; permanece como essa suprema e indefinível Consciência. Quando você toma a si mesmo como sendo “alguém”, todos os seus relacionamentos passam a ser de um objeto para outro. Assim, você é um homem para uma mulher, uma mãe para o filho, uma personalidade para outra, e, dessa forma, não há nenhuma possibilidade de Amor, de verdadeira comunicação, pois não há Deus, não há Verdade. Esse mundo de nomes e formas é somente o resultado de atividades mentais, que, na Índia, chamam de avidia.
Você está se identificando com aquilo que a mente, o pensamento, as crenças estão produzindo ‒ isso é imaginação. Aí está a “pessoa” e o seu problema, o ego, o senso de um “eu”, que acredita que nasceu e vai morrer, que deixará uma viúva para outro namorar, uma casa para o próximo marido da esposa, então, o sofrimento acontece. Quando o ego se lembra de tudo o que construiu e que vai deixar para outro, ele sofre. Isso é apego à imaginação de ser “alguém” possuindo coisas. Percebam como é simples essa coisa toda. Não existe fim para o sofrimento, enquanto a ilusão do “eu”, com a ideia do “meu”, estiver presente.
E agora? O que vocês vão fazer com isso?
Ou você investiga a natureza da ilusão (toda ilusão consiste nesse conjunto de pensamentos, que aparecem o tempo todo dentro da sua cabeça), a descarta completamente e descobre, assim, a verdade sobre esse fundo de condicionamento, ou você morre desse jeito. Então, se você descobre a verdade sobre a ilusão, a ilusão termina. Quando o falso é visto como falso, ele desaparece, não está mais lá, e, quando isso acontece, o apego e o medo desaparecem, e o personagem, com um nome e uma história, já não tem mais importância. Assim, não existe mais ignorância, avidia, e aí está a Sabedoria, a Verdade.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 04 de Julho de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A Verdade não pode ser ensinada

O que eu considero mais importante, dentro desses encontros, é essa abertura, essa receptividade à Verdade. Hoje em dia, fala-se muito da questão guru-discípulo, se existe a necessidade ou não do guru. Esse é um assunto que tem causado perturbação a muitos. Falando do ponto de vista último, absoluto, não existe guru, discípulo e nem ensinamento, até porque a Verdade não pode ser ensinada. Então, do ponto de vista absoluto, essa não é uma questão que aparece para o Sábio.
Contudo, paradoxalmente, para aquele que se vê como uma entidade separada, existe uma profunda necessidade de ser Um com a Verdade. Nesse sentido, ser um discípulo é estar preparado para a Verdade, portanto, é algo essencial, fundamental. Essa preparação para se confrontar com a Verdade, com a Realidade é, de fato, uma real necessidade. Agora, se o Guru vai assumir a forma humana ou não (e o Guru é essa Verdade), já é outra questão. Se isso não acontece, se a Verdade não se revela, a ilusão, que basicamente é miséria e sofrimento, estará presente.
Assim, o primeiro questionamento que surge no coração do discípulo, que é aquele que está se abrindo para a constatação da Verdade, é: “Qual é o significado de tudo isso? Afinal, o que significa estar vivo? O que significa a vida? A vida é só isso mesmo: nascer, crescer, envelhecer, adoecer e morrer?”. Se está pronto para olhar para essa questão, você é um discípulo da Verdade, um discípulo da Vida. É isso que eu considero essa “abertura”, essa “receptividade” à Verdade.
Quando você é um discípulo da Vida, da Verdade, e há uma grande inquietude interna, chega um momento em que a Verdade, ou o Guru, aparece. O Guru não é algo externo, você não pode encontrá-Lo. Essa é outra questão interessante.
De certa forma, o Guru é aquele que ensina alguma coisa, mas, como acabamos de colocar, a Verdade não pode ser ensinada. Então, se está procurando instruções espirituais, você encontra gurus que são apenas professores. Eles podem lhe dar algum tipo de conhecimento, mas não podem lhe dar a Verdade. Essa coisa de andar pelo mundo inteiro procurando por um Guru faz com que você encontre apenas professores.
Você não pode encontrar o verdadeiro Guru! É o real Guru que encontra você e não o contrário. Você não vai encontrar a Verdade, então, não pode encontrar o Guru. A Verdade, o Guru, o encontra. É disso que estamos tratando aqui. Quando você é um discípulo da Vida, um discípulo da Verdade, há um sentimento interno de orientação, algo profundamente misterioso acontecendo dentro de você. Acontece uma abertura e, nela, o Guru, a Verdade, o encontra. Não importa se o Guru tenha uma forma humana ou não.
Então, quando há esse “queimar” interno pela Verdade, você é um real discípulo. Para o real discípulo, a Verdade, o Guru, sempre estará disponível. A Verdade está além do ensinamento. Você só pode ser despertado para a Verdade pela própria Verdade. Nesse sentido, o Guru é essencial, mas somente quando o discípulo é real. Quando o discípulo não é real, ele permanece buscando ensinamentos para melhorar a si mesmo como pessoa, então, ele encontrará somente isso. Portanto, seu guru será apenas um professor que vai “ajudá-lo” de alguma forma; ele vai ensiná-lo sobre a Verdade. De fato, isso não será uma real ajuda, será uma grande atrapalhação. Com o tempo, ele poderá se tornar completamente imune à Verdade, como alguém que tomou uma vacina e se tornou imune a certos tipos de bactérias ou vírus. Quando a Verdade chega, é para Despertá-lo e não para ensiná-lo.
"Quando a Verdade chega, é para Despertá-lo e não para ensiná-lo."
Hoje, nós temos muita gente estudando Autorrealização ou ensinamentos Advaitas. Há mais de dois mil anos, as pessoas estudam as palavras de Jesus e, até agora, ninguém despertou fazendo isso. Assim, você também pode estudar os Vedas, as palavras de Ramana, de Buda ou Krishnamurti. O Guru real é a Verdade, e, quando Ela chega, Desperta! Ela não dá conhecimento, Ela traz a Revelação do Desconhecido, Aquilo que não tem nome, que não tem forma, que está além da mente.
Você pode passar a vida inteira estudando e, quanto mais estuda, mais se afasta da Verdade, porque Ela não é ensinável, você não pode aprendê-La. Somente quando encontra o Guru, você encontra a Si mesmo, encontra a Verdade. Mas, o problema é que você não pode encontrar o Guru, porque você não pode encontrar a Verdade. É Ela, é o Guru, que o encontra, e, para isso, você precisa estar aberto, em rendição, em entrega, uma grande simplicidade precisa nascer dentro de você. Outro aspecto da mesma questão é que o Guru não pode ser encontrado porque Ele não é algo do lado de fora. Portanto, Ele não pode ser buscado! Tudo o que o ego pode ver são objetos; tudo que ele pode encontrar é parte dele mesmo, nunca o Guru. Outra coisa é que, na grande maioria dos casos, o Guru, na forma humana, é a representação ideal dessa Verdade. Existem alguns casos em que a Presença da Verdade, do Guru, não assume uma forma humana, mas são casos muito raros.
Por que o discípulo precisa do Guru? Simplesmente, porque ele não está ainda estabelecido na Verdade. Se estivesse estabelecido na Verdade, ele saberia que não há discípulo nem Guru. Mas, para aquele que não sabe essa Verdade – e não adianta saber apenas teoricamente – o Guru, a Verdade, Deus, é essencial. Então, a menos que você esteja completamente aberto, em profunda rendição, você não saberá o significado da Presença do Guru, a importância e o valor dessa Graça.
A Verdade, o Guru, essa Presença, é algo além das palavras. Você não pode encontrá-Lo, mas Ele pode encontrar você, se estiver aberto, se essa simplicidade estiver aí dentro, se existir esse “queimar” pela Verdade. Deus, a Verdade, o Guru, nunca está ausente, mas, enquanto você não estiver maduro para reconhecer sua Presença (que está presente, mas você não pode desfrutar Disso), você não pode e não será encontrado, porque, na verdade, você não quer a Verdade, não está pronto para essa rendição. É por isso que alguns egos “se iluminam”, forjam uma “iluminação”, “viajam” em uma iluminação forjada.
Autorrealização, Iluminação, ou Verdade, só está presente quando não existe mais o sentido desse “eu”, quando não há mais ilusão, quando não há mais o sentido de separação. Toda sua busca não pode lhe dar Isso, só a maturidade pode lhe dar a Presença da Graça na forma do Guru. Então, você não vai encontrá-Lo.
Se você é desses que viaja pelo mundo procurando um Guru, tudo que você está procurando é um instrutor espiritual. Quando houver abertura, real maturidade e rendição interna, Deus irá até você, o Guru irá encontrá-lo. Você não irá até Ele, Ele vai encontrá-lo e vai o aproximar Dele. A Verdade, o Guru, o encontra, e não o contrário; a Liberação o alcança, e não o contrário.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 04 de Julho de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

O Supremo Conhecimento

Nesses encontros, estamos descobrindo como constatar e não perder de vista a Verdadeira Identidade de cada um de nós.
Se examinar bem, você vai descobrir que isso, basicamente, é Meditação. Não perder de vista sua Verdadeira Natureza é Meditação. O único equívoco é você ter essa identidade física e mental como sendo sua realidade, sua naturalidade, sua natureza verdadeira. Essa identidade física e mental não deve ter lugar aí, porque ela não é real. Você se confunde com a mente e com o corpo, então, tem medo da doença, da velhice e, naturalmente, da morte. A morte fica mais próxima com a velhice, mas ela alcança a todos, inclusive os mais novos e mais saudáveis.
Identificado com o corpo, você tem muito medo da vida, porque, para você, “vida” representa toda forma de preenchimento e sustentação dessa identidade no corpo. As pessoas não amam a vida, elas amam a continuidade da forma, dessa forma física e mental. Quando eu digo que elas “amam”, quero dizer, na verdade, que estão apegadas a esse modelo de existência, cheio de desejos e medos, em que o apego é muito forte. Isso acontece porque o ser humano não tem a visão da Verdade sobre si mesmo. Quando você percebe sua Consciência, sua Verdadeira Natureza como Deus, o apego a esse modelo de existência, a essa chamada “vida”, termina. Essa sua Consciência, que é a sua Natureza Real, é a prova de que Deus É. Essa Consciência lhe dá a visão dessa grandiosidade. Isso é algo possível quando você está fora dessa identificação “eu sou o corpo”.
Então, não esqueça isso: seu trabalho é assumir essa "Lembrança". Aquele que reconhece a sua Natureza Real, que não perde de vista a sua Identidade Verdadeira, não tem medo da morte. Assim, ele pode deixar a forma de uma maneira beatífica e em Felicidade, não importa como o corpo esteja sendo abandonado.
A madeira de uma árvore pode se transformar em um belo móvel, em uma bela mobília, ou apenas em lenha seca queimar numa lareira. Assim é o corpo daquele que realizou a Verdade, pois não importa como ele vai perecer, como vai desaparecer. Um homem como Ramana Maharshi ou Nisargadatta Maharaj pode ter o seu corpo sendo destruído, “comido”, por células cancerígenas. Para o Sábio, não importa se o seu corpo é destruído por um câncer.
O que estou dizendo é que os Sábios abandonam a forma em um Estado Beatífico, em Estado de Suprema Felicidade, sem qualquer peso, apego e medo. O homem comum não é assim, mesmo que ele morra dormindo. A diferença é que o Sábio já está “morto” e o, assim chamado, “morto” ainda permanece vivo ‒ vivo para os seus desejos, medos e apegos.
Assim, percebam a beleza desse encontro onde estamos descobrindo a verdadeira Felicidade, que não está nesse mundo, que é o mundo da mente, dos desejos, medos e apegos, e que não está na ilusão dessa identidade física/mental. Nesse mundo, temos o prazer de realizar coisas, há uma profunda satisfação egoica nisso, mas o fato é que o risco do fracasso e o medo acompanham isso o tempo todo. Então, o prazer de realizar é permeado de medo ‒ medo do fracasso, depois o medo de perder tudo que conquistou e o maior medo, que é o da morte, porque na morte fica tudo.
Os egípcios, quando seus faraós morriam, colocavam junto deles suas riquezas, para que estas os acompanhassem para o outro lado da morte, e, assim, pudessem desfrutá-las de alguma forma. Hoje em dia, as pessoas não fazem isso porque o caixão é muito pequeno, não dá para colocar o carro, a esposa, o marido, os filhos, o apartamento, a casa de praia, as joias, os brincos, os sapatos, e assim por diante.
Aqui, você tem que descobrir o que é isso que nós chamamos de vida. É necessário descobrir que você é essa Consciência, sem forma, sem nome, sem história, sem corpo, sem mente. Você não é um homem nem uma mulher, portanto, não é pai, não é mãe, não é filho, não tem carro, não tem casa, não tem joias, não tem crédito e, também, não tem dívidas. Não é isso? Tudo isso é maya [palavra sânscrita que significa “ilusão”]. Maya lhe deu isso tudo.
Quando você encontra o seu Mestre, o Satguru, que é o Ser, a Consciência na forma, ele lhe dá esse Despertar; ele lhe mostra sua Consciência Real, sua Natureza Verdadeira. Antes, você era o “conhecedor” do mundo, da história, do nome, da forma, das experiências e, agora, com o Despertar, tudo isso desaparece, porque nada disso tem mais valor. Percebam a beleza disso! Antes você era “conhecedor” disso tudo, agora você não está mais interessado em nada disso, porque lhe foi revelado, por essa Consciência, sua Natureza, que é a própria Consciência.
"Quando você encontra o seu Mestre, o Satguru, que é o Ser, a Consciência na forma, ele lhe dá esse Despertar; ele lhe mostra sua Consciência Real, sua Natureza Verdadeira."
Então, a Consciência, na forma do Satguru, revela para você sua Consciência Verdadeira. Na Índia, eles chamam Isso de Parabrahma, que significa “além de Deus”, “além de Brahma”, além do fenomênico, da manifestação. Parabrahma, sua Realidade Divina, é o que torna Deus real. Deus é real porque Você está aí; o mundo é real porque Você está aí; a existência se manifesta porque Você está aí! Você é anterior a toda manifestação! Você é Parabrahma ‒ esta é a Revelação! Você está além de maya.
Maya está presente em razão dos cinco sentidos: visão, tato, audição, paladar e olfato. Os cinco sentidos estão presentes, então, maya se apresenta como toda essa manifestação, que é a própria Consciência assumindo aparentes nomes e formas. Contudo, você é anterior a essa aparição. Você é Parabrahma! Esse é o supremo Conhecimento do Jnani, do Sábio, por isso, para ele, não há morte nem apego. O devoto é aquele que vê o Guru como sendo essa Realidade infinita. Assim, quando ele percebe, na forma do Guru, Aquilo que está além da forma do Guru, que é Parabrahma, essa Realidade, ele percebe a Si próprio e Realiza o Ser, a Verdade, sua Natureza Real.
Então, o verdadeiro Conhecimento, a verdadeira Revelação é essa Constatação. Estados como vigília, sonho, sono profundo e o que aparece neles não têm a menor importância para o Ser realizado. Isso porque ele não tem mais nome nem forma, embora ainda apareça tendo uma forma, que pode estar sendo destruída por células do câncer ou por alguma outra enfermidade ou situação, como um acidente ou mesmo uma crucificação.
Então, nós temos que perceber o que está além do corpo, além da própria experiência de consciência objetiva, que ocorre através da percepção dos sentidos (visão, tato, olfato, paladar, audição). O que estou dizendo é que Você está além dessa identidade que todos reconhecem com um nome, uma forma e uma história.
Esse mundo mental acontece assim: quando você nasce, o seu nascimento é comemorado pelos seus pais e, quando esse corpo morre, sua morte é lamentada pelos que ainda estão, aparentemente, vivos, mas nada disso é real. Esse nascimento aconteceu num sonho e sua morte vai acontecer num sonho, enquanto que sua Natureza Divina, Real, é anterior a toda experiência dos sentidos, da mente, do corpo e do mundo. Sua Natureza Real não dorme, não acorda, não nasce, não morre. Aquele que sabe isso está liberto em vida!
Não existem tais coisas como esse aparecimento, desaparecimento e a percepção dos sentidos, que é a percepção de maya. Nós, de fato, não experimentamos o nascimento e a morte. A essencial Substância dessas percepções nunca aparece e desaparece; todas essas percepções estão presentes em nosso Ser.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 12 de Setembro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A Existência Pura

Esta é, de fato, uma bela oportunidade. Estamos diante de uma nova espécie de conhecimento, de experiência. Na verdade, a palavra “conhecimento” e “experiência” não são as mais adequadas. Aquilo que nós temos por conhecimento ou experiência é algo sempre atrelado a alguém ou a algo que percebe, que conhece ou que experimenta, enquanto que, nesse contato que temos aqui, nesse espaço de investigação, estamos descobrindo uma qualidade nova de Conhecimento, de Experiência, sem a existência de qualquer sujeito. Assim, trata-se do Conhecimento Puro ou Experiência Pura, sem um conhecedor ou experienciador.
Estamos tratando da Natureza Primordial de todas as coisas. Os Sábios chamam Isso de Brahman, “algo” que está além do conhecimento e da ignorância, além da experiência e da não experiência, do experimentador e sua experiência. Hoje em dia, temos muitos livros trazendo uma aproximação dessa Realidade Última, de Brahman, Deus, Consciência ou Suprema Realidade. Mas, tudo que você pode fazer com esses livros é abarrotar a memória de informações e o intelecto de certa habilidade para lidar com palavras sobre esse assunto. Aqui, não temos interesse nisso.
A primeira coisa, aqui, é limpar esse “terreno”, porque a natureza desse Conhecimento ou dessa Experiência de Brahman, de Deus, dessa Realidade, não é objeto de estudo, não é um tópico para ser estudado, você não pode estudar e aprender algo sobre Isso. É possível mergulhar, desaparecer Nisso, assumir esse Conhecimento ou essa Experiência. Reparem que estamos falando de uma Experiência e de um Conhecimento de qualidade totalmente diferente daquela que a mente conhece.
Meu Mestre dizia que apenas Deus pode conhecer e revelar Deus. Então, o conhecedor de Brahman, o conhecedor de Deus, é Deus. A Experiência de Brahman, de Deus, é uma Experiência de Deus, em Deus e para Deus. Compreendam a beleza disso: não é para o intelecto, não é para o observador, não é para o pensador, não é para o experimentador. O pensador carrega a ilusão de que o pensamento é algo separado dele – ele é o sujeito e o pensamento o objeto. O experimentador carrega a ilusão de ser aquele que experimenta, e a experiência é o seu objeto. O observador faz o mesmo: ele tem a ilusão de estar separado daquilo que é observado. Essa separação é apenas um conceito, uma crença, ainda do pensamento.
Em outras palavras: tudo que você vive como uma entidade separada, uma pessoa, que é o que você acredita ser, é uma ilusão. Aquele que acredita ser uma pessoa foi apanhado pela imaginação. Ele é a própria imaginação produzindo uma fantasia – a fantasia de ser uma entidade separada. Toda a sua vida está assentada nessa ilusão. É necessário discernir a Verdade da ilusão desse falso pensador, desse falso observador, desse falso experimentador, desse falso “eu”. Essa ilusão criou a ideia (que também é uma crença) de estar vivendo uma experiência particular, pessoal, humana, dentro do corpo. Isso tudo é um pacote de pensamentos, um pacote de imagens criadas pelo pensamento, pura imaginação.
"Tudo que você vive como uma entidade separada, uma pessoa, que é o que você acredita ser, é uma ilusão. Aquele que acredita ser uma pessoa foi apanhado pela imaginação. Ele é a própria imaginação produzindo uma fantasia – a fantasia de ser uma entidade separada."
Agora mesmo, você imagina que está ouvindo [ou lendo] essa fala e que há alguém lhe dizendo algo, mas isso não é verdade. Não tem ninguém ouvindo coisa alguma, isso é só um jogo, uma dança de palavras sem qualquer significado real. Você acompanha isso? É muito estranho?
A mente tem projetado todo esse pacote de pensamentos, essa multiplicidade de formas, nomes, imagens, experiências. Então, parece que há muita coisa acontecendo para uma multidão. Nós falamos de sete bilhões de pessoas em um planeta, cada uma com uma alma, cada uma mantendo “consciência” de si mesma como uma entidade separada. Tudo isso é só fantasia, é uma ficção!
Sua Natureza Real é Brahman, essa Pura Experiência ou esse Puro Conhecimento, como começamos falando. Essa qualidade nova de conhecimento, de experiência, é algo que transcende todas as definições, todas as palavras, todos os conceitos, todas as imagens e pensamentos. É “algo” que se revela em seu Estado Natural, que é Meditação, quando a mente não se move mais em seu mundo de imaginações, pensamentos, crenças, ideias. Nossa Identidade Real, nosso Ser Real, não é algo que está preso nessa dimensão de imagens, de imaginações; é algo que pode ser realizado a partir de uma profunda autoinvestigação acerca da natureza ilusória do corpo, da mente e do mundo. Daí a importância da autoinvestigação.
Tudo precisa ser deixado, absolutamente tudo! Se você segurar alguma coisa, isso ainda vai lhe dar um significado nessa dimensão imaginária – o significado dessa falsa identidade. Qualquer coisa que você segure vai mantê-lo nessa ilusória identidade. Tudo que a mente mais deseja é manter-se nessa continuidade, e isso ela faz segurando-se em alguma coisa. Então, todos os apegos, ligações, desejos, tudo precisa desaparecer!
Quando, dentro de você, algo está queimando por Isso e você é capaz de ir até as últimas consequências dessa autoinvestigação, torna-se possível o final da história desse personagem aí, o qual parece que nasceu, que tem um nome, uma história, um passado, que está tendo um presente e terá um futuro. É quando você se encontra diante da perfeita Ignorância.
Alguns, quando vem à Satsang, dizem que não sabem, mas, logo, revelam-se como alguém que quer saber. Essa não é a perfeita Ignorância. Eu estou falando da Ignorância que está além da ignorância e do conhecimento. Então, quando você está nessa perfeita Ignorância, você está na qualidade desse Conhecimento ou dessa Experiência de que falei logo no princípio. Eu chamei de perfeita Ignorância porque é uma Ignorância completa.
Em geral, a ignorância está “insatisfeita”, ela quer deixar de ser ignorante, quer saber algo – essa não é a Ignorância perfeita. Eu falo de uma Ignorância completa, que é aquela que não se preocupa com a ignorância nem com o conhecimento, é um simples “não saber”. É dessa qualidade de Conhecimento e Experiência que estamos falando. Quando Isso está presente, a Realidade dessa Libertação está presente, você está em seu Ser, em sua Natureza Primordial. Essa Natureza Primordial é Brahman, é Deus, Pura Consciência, Pura e Suprema Realidade. Na Índia, eles chamam de Sat-Chit-Ananda, Ser-Consciência-Felicidade.
Isso é algo que está presente como sua Natureza Verdadeira, não tem nada a ver com o corpo e o estado em que ele se encontra neste momento. Esse corpo, talvez, tenha vinte, trinta e cinco, cinquenta, setenta e cinco, noventa anos; talvez, já tenha problemas de sangue, de rins, de ossos, ou qualquer outro. Isso, também, não tem nada a ver com esse aparato intelectual ou toda essa memória guardada em alguma parte da massa cinzenta do cérebro. Todo conhecimento adquirido, que hoje pode ser lembrado ou esquecido em razão do estado desse mecanismo, desse corpo-mente, não é você. Você é Sat-Chit-Ananda, você é Brahman, a Suprema Realidade, essa qualidade de Conhecimento e de Experiência.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 15 de Outubro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

sábado, 10 de novembro de 2018

A meditação como um analgésico

Alguns perguntam do que tratamos em Satsang... Nós tratamos Daquilo que é essencial, da única “Coisa” para a qual você nasceu. Você está aqui para conhecer sua Real Identidade e, se você está aberto a isso, esse descobrimento adquire uma grande importância.
Você tem lidado com a vida a partir de uma posição estreita e muito, muito limitada, porque sua visão de “si mesmo” é somente uma imagem, uma crença, uma imaginação, uma ideia. Dessa mesma forma, você vê o mundo, pois todo seu contato com o ambiente externo, com acontecimentos, eventos, situações, está dentro desse ponto de vista estreito e limitado, ou seja, dessa falsa percepção que você tem de si mesmo.
Então, tudo que você tem é uma crença de como o mundo é, que é baseada naquilo que você acredita ser. Falta-lhe a verdadeira Meditação. Não a meditação como uma prática, que a grande maioria conhece, mas a Meditação como a manifestação da Verdade sobre Si mesmo, que é o Silêncio dessa Presença, dessa Verdade, que nós chamamos de Consciência. Essa é a Real Meditação! A mente, na produção dessa autoimagem, é muito habilidosa em se colocar contra o misterioso movimento da Existência. Todo o seu treinamento é nessa direção; tudo que você tem feito e vem fazendo, ao longo de todos esses anos, é exatamente isso. Você não sabe a Verdade sobre si mesmo, nem conhece a Realidade da Vida.
Para você, a vida é conflito, luta, problemas. A primeira coisa é que todo esse desespero e sofrimento, que, na realidade, é somente algo que a mente tem construído, não retrata a Existência, a Vida, mas apenas aquilo que você chama de “vida”. Estamos apresentando, nestes encontros, o velho problema que a mente tem, em sua imaginação. Assim, sua vida é uma completa resistência, uma completa distorção da Realidade presente. Quem tem feito tudo isso? Essa mente egoica, essa “pessoa” que você acredita ser. Ela mantém esse jogo de resistência, toda essa luta, todo esse desespero e conflito.
Você se torna consciente de que isso está aí quando o processo de desidentificação dessa imaginação começa a acontecer. Isso se dá quando todo esse jogo de padrões de comportamento, com todo o peso de antigas lembranças, memórias, conceitos, ideologias, crenças, medos e desejos, baseado nessa confusão da imaginação, é rompido, quebrado. Esse rompimento é algo que acontece através dessa autoinvestigação e, então, o sentido ilusório desse “eu” presente perde completamente o seu aparente poder, que é convincente e hipnótico.
A autoinvestigação abre espaço para a Real Meditação, que é a revelação de sua Real Natureza Divina, sua Real Identidade. Então, essa primeira coisa é a única que importa. Quando você pode olhar diretamente para esse sentido de “pessoa”, essa valorização da autoimagem, essa autoimportância, que se baseia em memórias, crenças, conceitos, e não mais se confundir com tudo isso, a Meditação naturalmente começa a tomar o espaço que é Dela. Isso acontece no seu dia a dia e não através de práticas de meditação em momentos específicos. Acontece com você caminhando, falando, comendo, dirigindo o carro, está presente no seu trabalho, em todo lugar, em toda parte. Dessa forma, você está tirando todo o aparente poder que essa falsa identidade, o ego, tem.
Compreenda o que estou colocando aqui para você. As pessoas entram em determinadas práticas espirituais, indicando certas técnicas para aquietar a mente, o que elas chamam de meditação, no entanto, isso é algo que funciona apenas como um comprimido analgésico quando você tem alguma dor. Ou seja, quando tem alguma dor, você toma um analgésico e temporariamente a dor desaparece, mas é necessário encontrar a causa dela, como uma inflamação, uma infecção, alguma coisa mais grave que provoca essa dor. Assim, um analgésico vai apenas, temporariamente, criar uma ilusão de que está tudo bem, mas a dor vai voltar. Então, todas as práticas que você conhece, todas as técnicas de meditação que você aplica, funcionam exatamente assim. Por isso, o mal ainda não foi extirpado, a causa da dor, em si, não foi eliminada. A Real Meditação (uso essa expressão, exatamente, para diferenciá-La dessas técnicas que você conhece por meditação) não tem este propósito .
"Na realidade, você tem se afastado de sua Real Natureza. Você está constantemente se confundindo com a mente egoica, com essa imaginação de ser 'alguém' na experiência do dia a dia. Assim sendo, é nesse dia a dia que isso tem que ser compreendido."
Na realidade, você tem se afastado de sua Real Natureza. Você está constantemente se confundindo com a mente egoica, com essa imaginação de ser “alguém” na experiência do dia a dia. Assim sendo, é nesse dia a dia que isso tem que ser compreendido. Essa é a forma de extirpar, de radicalmente acontecer essa cura. Você aprende a observar de forma desidentificada toda a experiência acontecendo neste instante, neste presente momento. Isso não é o uso de um analgésico. Essa observação, essa investigação, é a base da Meditação Real. É necessária uma Presença capaz de criar uma facilitação, para que esse processo aconteça. Essa é a Presença da Graça; não é uma questão de esforço pessoal.
A Verdade é sua Natureza Divina, sua Real Identidade. Enquanto você permanece se confundindo com a mente — que nada mais é do que esse conjunto de memórias, lembranças, crenças, imagens, que o pensamento produz — e isso não é verdadeiramente quebrado, não há Real Meditação. Por isso que Autorrealização, Iluminação, como se queira chamar Isso, é algo que soa muito simples na teoria. Você lê um pouco ou escuta algo sobre Isso, aprende e, depois, já está “sabendo” o que é meditação, o que é iluminação. No entanto, isso não resolve nada, é somente mais um conjunto de ideias, de crenças. Aqui, estamos interessados na vivência dessa Realização, desse Estado Natural, que alguns chamam de Iluminação. Por isso essa Graça é fundamental.
Assim, é essencial estar em Satsang, diante Daquele que está livre dessas restrições, limitações, imaginações, desse estado ignorante acerca do seu próprio Ser. Minha recomendação é: coloque-se diante do Sábio. O verdadeiro Sábio é aquele que não carrega mais a ilusão do sentido de separação e não aquele que estudou, aprendeu e praticou, ou ainda vive dentro de uma prática. O Sábio é aquele que descobriu que esse Silêncio não é algo que possa ser encontrado, porque, de fato, não é algo que está perdido. Essa Presença, Felicidade, Liberdade, não é algo assim. Para Ele, não há mais essa ilusão, porque Isso é uma realidade, um fato, não uma teoria, uma crença. Na Índia, chamam de shakti essa energia de Presença que você tem diante do verdadeiro Sábio, do Satguru.
O que estou lhe dizendo se baseia em minha própria vivência com o meu Guru. O Guru é aquele que lhe transmite essa Graça, essa shakti, esse poder de Presença, e, assim, essa Real Meditação se torna possível. Dessa forma, você tem a Sua Graça apontando para Algo que está completamente livre da mente. Percebam o quanto é importante essa verdadeira Compreensão não verbal que acontece no Coração. Assim, o trabalho real se torna muito claro e a Real Meditação começa a acontecer.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 08 de Outubro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Na Autoinvestigação, a Real Meditação se revela

A Realização não é algo que possa ser alcançado. Chamamos de “Realização”, mas, na verdade, é uma questão, antes de tudo, de constatação, porque não é uma conquista. Essa Realização é algo possível através de um trabalho real.
Na vida, tudo que você consegue decorre de uma conquista sua, mas, aqui, não estamos tratando de algo assim. A mente tem tentado transformar essa Constatação em um ato de conquista, em um ato de realização (no sentido comum da palavra), mas isso não é possível. As pessoas têm criado técnicas para aquietar e silenciar a mente. Hoje, “meditação” é uma palavra da moda.
A própria mente cria diversas técnicas para aquietar a mente, com o objetivo dessa “conquista” do Despertar, da Iluminação, que é a Realização de Deus. No entanto, a Real Meditação não é um trabalho para conquistar Isso; é algo que pertence ao incognoscível, ao desconhecido. Assim sendo, a própria Meditação é a chave dessa Constatação.
A Real Meditação acontece sem um objetivo. Toda técnica está sempre dentro de um objetivo, como o de silenciar a mente, então, ela perde sua agilidade, sua naturalidade, sua sutileza, permanecendo presa a um modelo, a algum tipo de objeto.
As pessoas se assentam e acreditam que existe um meditador ali. O objetivo delas, agora, é livrar-se da mente. Isso não pode ser a Natural Meditação, a Real Meditação, porque a mente perde a sua agilidade, sua sutileza natural e deixa de estar aberta, o que torna impossível a observação do seu movimento. É por isso que tenho dito que Meditação é algo que pertence ao desconhecido, algo que não está preso a um modelo para o alcance de objetivos.
Meditação é uma arte extraordinária, algo fora do ordinário, do comum, da mente e seus projetos, algo completamente diferente da ideia de um meditador buscando livrar-se dos pensamentos. Essa direta e pura observação não é a fixação em um objetivo. Quando essa energia, essa natural sutileza da observação, está presente, há uma grande agilidade natural de Presença, e isso traz essa Consciência.
Portanto, não é uma técnica, uma prática ou um exercício, nem há um objetivo — não se pretende silenciar ou aquietar a mente, porque, na verdade, não existe esse “meditador”. Quanto mais você olha, mais fica claro que não existe alguém presente como meditador. O que estou dizendo é que você, fundamentalmente, não é nada, não é real como uma entidade presente, capaz de aquietar ou silenciar a mente. A mente silenciada ou aquietada é uma ilusão semelhante à ideia de um meditador fazendo isso, porque, essencialmente, você não é nada. Acontece que você não está ciente disto, então, projeta uma energia nessa busca. É aqui que parte dessa Meditação acontece com uma clara Autoinvestigação.
Eu nunca separo Meditação de Autoinvestigação. Isso é impossível! Se há Real Meditação, a Autoinvestigação está presente, e quando há Autoinvestigação, você descobre que o meditador não existe e que toda atividade na direção do Despertar é completamente sem sentido. Isso não é um estado para se alcançar e não tem alguém que possa alcançar Isso, porque é algo incognoscível, é o Desconhecido, é o Inominável. Autoinvestigação é algo acontecendo aqui e agora, e Nela está essa Observação que se desidentifica dos pensamentos.
"Eu nunca separo Meditação de Autoinvestigação — isso é impossível. Se há Real Meditação, a Autoinvestigação está presente, e quando há Autoinvestigação, você descobre que o meditador não existe e que toda atividade, nessa direção, é completamente sem sentido."
Essa agilidade natural é Meditação, em que não existe o sujeito, o meditador, tentando se livrar dos pensamentos (que são os objetos). Não existe essa separação! O sujeito é nada, o pensamento é nada. Há apenas essa Consciência, essa Unicidade, essa não separação, essa não dualidade. Não há meditador, então, não existe nenhuma verdade para ser encontrada. A Verdade é algo presente sendo constatado; não é algo sendo encontrado por ele ou ela, por aquele que exercita uma prática.
Toda prática, aqui, é completamente sem sentido, é algo mecânico, ainda dentro do campo da ilusão, ainda é parte da autoprojeção do falso “eu”, dessa energia da busca. É exatamente isso que, nestes encontros, eu tento comunicar a você. Ninguém, aqui, encontrará a Verdade, porque, fundamentalmente, você não é nada. A Verdade está presente, mas você não está. O meditador, o buscador, não existe, portanto, esse sentido de procura e de busca é uma ilusão.
O Satguru é aquele que incorpora a qualidade do fim da busca. Por isso a presença do Satguru, de um Mestre vivo, é tão importante. O que ele faz? Como a Verdade não pode ser dada, nem transmitida, porque é a sua Verdadeira Natureza, o Satguru ajuda o buscador a parar com a busca. Como o Satguru incorpora essa qualidade, que é a Verdade que o buscador está procurando de uma forma equivocada, ele quebra, desfaz esse movimento. Só quando a busca termina, quando não há mais esse movimento da mente, quando, em razão da Presença da Graça, da Verdade, que é a qualidade do Ser existente no Mestre, o devoto, de uma forma direta, se depara com ele mesmo, com seu próprio Ser. Então, esse movimento de conquista, também termina.
A Autoinvestigação é a própria Meditação; na Autoinvestigação, a Real Meditação se revela. Então, revela-se o Incognoscível, o Desconhecido, Aquilo que está além da mente, além da ilusão do meditador, é quando termina a separação entre o discípulo e o seu Guru, entre o devoto e Deus. Quando há a rendição e a entrega dessa ilusão, Aquilo que está presente é constatado como a única Realidade, a única Verdade.
Portanto, compreendam que Realização de Deus não é uma conquista, mas uma rendição à Verdade presente… à Verdade de que, fundamentalmente, você é nada!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 24 de Outubro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

domingo, 4 de novembro de 2018

Você tem problemas porque os inventa

A diferença entre um Mestre e um professor é que um professor fala com você sobre conhecimento, enquanto que a comunicação de um Mestre é somente esta Presença. Um professor tem um enorme conhecimento, enquanto que um Mestre não tem nenhum. Contudo, um professor não tem o Conhecimento sobre o seu Ser, mas um Mestre tem esse Conhecimento, porque ele conhece a Si mesmo.
Quando você vai a um Mestre, ele olha em seus olhos e diz: “Eu não sei nada, mas eu sei quem Você é, porque eu sei O que Eu sou”. Já o professor, não! Um professor lhe passa uma enorme quantidade de conhecimento. Ele fala com você sobre Jesus Cristo, sobre Buda, sobre Ramana e por aí vai. Um Mestre não tem nenhum interesse nisso. Ele somente fala com você sobre você mesmo, sobre suas dúvidas, medos, aflições, anseios, preocupações, apegos, porque você não precisa de conhecimento.
A única necessidade que você tem é a de conhecer a Si mesmo, a sua Paz, a sua Felicidade, o seu Silêncio, a sua Liberdade. Esta é a minha ciência — eu sou um cientista sobre mim mesmo. Eu não sei nada, mas sei o que é importante sobre mim mesmo e sobre você, porque Você É o que Eu Sou. Vocês veem a diferença entre um Mestre e um professor?
Por ser O que sou, eu sei O que a Vida é. A Vida é O que Eu sou e a Vida é O que Você é: um Mistério. Eu não tenho mais questões. Se a Vida é um Mistério, onde está o espaço para as perguntas?
"Eu não tenho mais questões. Se a Vida é um Mistério, onde está o espaço para as perguntas?"
Você tem problemas porque os inventa. Se você ficar com o básico, não terá nenhum problema. O básico é: a Vida é o que é, e este é o Mistério. Tudo na vida é determinado por este Mistério.
Por que você tem problemas? Porque você não acolhe o Mistério, não aceita que tudo é determinado por esse Mistério e que você não tem nenhuma importância. Quando você tem importância, você não aceita o que é, não aceita perder.
Agora, você está com saúde, então, está “ganhando”. Mas, daqui a pouco, o corpo adoece e você cria a ilusão de que está “perdendo”. Portanto, quando tudo vai bem, a sensação é de que você está ganhando, mas, quando as coisas não estão tão bem, a sensação é de que está perdendo. Você não aceita o simples: a vida não está acontecendo para você, ela só está acontecendo. Você não tem importância, você não existe!
Vivemos em um planeta onde existem bilhões de seres vivos, mas você só se lembra de você e, talvez, de mais meia dúzia de pessoas a quem diz amar e com as quais acredita se preocupar. Então, você só se preocupa com seis pessoas num planeta onde existem bilhões de seres vivos.
Isso é verdade? Não. Sua única preocupação é “ganhar”. Se alguém lhe der um prejuízo, este “alguém” o preocupa. Você não está preocupado com ele, mas com o prejuízo que ele está lhe dando. A verdade é que a única pessoa com quem você se preocupa, em todo este planeta, é você mesmo. Quando você está sofrendo por causa de alguém, não é por causa de alguém, é porque você está tendo prejuízo: seu prazer está sendo negado, sua paz está sendo tirada, sua tranquilidade está sendo roubada. Então, você não dorme, nem come direito, e diz: “Eu estou sofrendo por alguém!”. Não é verdade! Você está sofrendo por si mesmo, porque ignora sua Real Natureza. Você está identificado com o corpo e ele tem meia dúzia de pessoas às quais ele está apegado. Mesmo dentre essas seis, tem uma especial, que é aquela que lhe dá mais ganho, que é a que mais o preocupa.
Sua preocupação é apego, é uma imagem que você quer proteger para não ser magoado, para não ser ferido, para não sofrer perdas. Tudo isso acontece porque você está lutando contra O que É, está se separando da Vida como Ela é, está revoltado contra o Mistério. O Mistério “diz”: “Uma hora você ganha e outra você perde, mas, na verdade, não tem ‘você’! As coisas só acontecem porque acontecem, misteriosamente. Você não está sendo punido, nem está sendo recompensado, porque você não é importante!”.
Então, no fundo, não tem ninguém ganhando, não tem ninguém perdendo. No fundo, não tem ninguém sofrendo. Quando um de vocês vem a mim com um problema, o meu trabalho é duvidar até o fim, até você ficar desconfiado de que está projetando alguma coisa sobre a Realidade, criando uma sobreposição à Realidade. Eu tenho que discutir com você até você ficar desconfiado, até duvidar da sua própria dor.
Meu trabalho é fazer você duvidar do que vê, do que pensa, do que sente. E por que eu faço isso? Porque eu sei que, ao chegar nesse ponto, de forma muito séria, você vai desistir de ser uma pessoa, vai desistir de olhar a vida dessa forma. Quando isso acontece, um sentido profundo de Alegria, de Liberdade e de Paz se manifesta. Você começa a rir desse jogo de “ganhar e perder”, porque, quando você percebe que não existe e que o Mistério é Real, Ele fica e Ele é Você, Sua Real Natureza. Tudo fica no lugar!
Algumas coisas acontecerão dessa ou daquela forma, mas, agora, você sabe que não sabe nada e é por isso que você sabe que, agora, está tudo certo.
Não é simples isso?
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Fortaleza, em Julho de 2018. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

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